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VII.

A – RADIAÇÃO ELETROMAGNÉTICA

7.1. INTRODUÇÃO

No começo do século XX pesquisadores formularam novas hipóteses que culminaram com


a elaboração de uma física capaz de descrever novos fenômenos que ocorriam na escala atômica:
a mecânica quântica. Esta teoria, com a sua nova conceituação sobre a matéria e os seus intrigantes
postulados, têm gerado debates não só no âmbito das ciências exatas, mas também, da medicina,
ambiental, da filosofia e da espiritualidade, provocando assim uma grande revolução intelectual
ainda não compreendida no começo do século XXI.
Na mecânica clássica o estado de uma partícula de massa m é representado por conjunto de
seis números que especificam sua posição e velocidade. Em função desses números a teoria indica
como calcular os valores de grandezas físicas como a energia cinética, o momento angular, etc. Já
na mecânica quântica os estados dos objetos são definidos de modo inteiramente diverso, por meio
das chamadas funções de onda. É justamente dessa nova (e complexa) forma de representação dos
estados, surgem problemas de interpretação da teoria.
Qual a sua relevância para o nosso cotidiano?
Sem a mecânica quântica não conheceríamos inúmeros objetos com os quais lidamos
corriqueiramente hoje em dia como, por exemplo, o aparelho de CD, o controle remoto das TVs,
os aparelhos de ressonância magnética em hospitais e até mesmo o micro-computador. Todos os
dispositivos eletrônicos usados nos equipamentos da chamada alta tecnologia (high-tech) só
puderam ser projetados por causa da mecânica quântica.
O que é a mecânica quântica?
A mecânica quântica é a teoria que descreve o comportamento da matéria na escala do
"muito pequeno", e o comportamento da energia na forma de onda, ou seja, é a física dos
componentes da matéria, moléculas, átomos e núcleos, que por sua vez são compostos pelas
partículas elementares.
É importante dizer que mesmo a nossa mais poderosa e bem-sucedida teoria física não está
isenta de dificuldades teóricas, conceituais e filosóficas. Apesar das dificuldades não se oporem à
aplicação prática da teoria, revelam, entretanto, as limitações do intelecto humano na compreensão
mais profunda da realidade que nos cerca. O desenvolvimento dos estudos da mecânica quântica

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tem contribuído de forma expressiva para a descoberta de intrigantes características da realidade,
alargando, ao mesmo tempo, nossos horizontes de investigação.

7.2. MODELO ATÔMICO

O modelo atômico aceito atualmente é baseado na teoria de Plank, anunciada em 1900, no


qual a energia radiante não é emitida nem absorvida continuamente, mas na forma de diminutas
porções discretas chamadas quantas ou fótons e de grandeza proporcional à freqüência da radiação.
Assim sendo a energia de um quantum é dada por:
E = h
Onde: E é a energia de um quantum, h é a constante de Plank e  é a frequência

Em 1905 Einstein, fez uso da hipótese de Planck no artigo sobre efeito fotoelétrico que lhe
deu o Prêmio Nobel de Física em 1921:

“O efeito fotoelétrico é obtido quando uma luz de frequência suficientemente alta atinge uma amostra
metálica, arrancando elétrons superficiais, fazendo com que o metal adquira carga total positiva.”

Posteriormente, em 1913, Niels Bohr, usou a teoria quântica para desenvolver um modelo
matemático do átomo de hidrogênio. Portanto, a teoria quântica é uma teoria geral que se aplica a
todas as interações da matéria com a energia.

7.2.1. O Elétron Partícula


No final do século XIX não havia ideia definida sobre a estrutura atômica. A produção de
elétrons, nos tubos de raios catódicos, mostrou serem aquelas partículas constituintes essenciais da
matéria. Para Thomson os elétrons se encontravam na massa global do átomo e estavam acomodados
dentro de uma esfera uniforme de eletricidade positiva, resultando em um conjunto eletricamente neutro.
Em 1910, Rutherford propôs um modelo atômico coerente, partindo de observações sobre a
deflexão de partículas  em alvos de ouro . A pequena quantidade de partículas  (núcleo 42 He )
4 1 4 2+

refletidas em grandes ângulos fez Rutherford concluir que a carga positiva e a maior parte da massa
de um átomo ficam concentradas em um volume muito pequeno que ele chamou de núcleo (Figura 1).

1
Para melhor compreender esse experimento de Rutherford assista ao vídeo no Youtube
https://www.youtube.com/watch?v=AHXD9pgmkPQ&list=TLPQMTIwNDIwMjG6vIkuozVodw&index=2

2
Figura 1: Modelo Planetário do Átomo.
Fonte: http://www.comciencia.br/reportagens/fisica/fisica07.htm

Segundo esse modelo o elétron orbitaria o núcleo de forma semelhante a um planeta em torno
do sol. Porém, como a força principal de atração do núcleo é elétrica, ela é muito mais forte que a
gravitacional. O átomo seria constituído de um núcleo central positivo circundado por elétrons, tantos
quantos necessários para neutralizar sua carga. Os elétrons girariam com velocidade suficiente para
que a força centrífuga compensasse a atração eletrostática exercida pelo núcleo de cargas positivas.
Esse modelo era inconsistente porque, segundo a teoria de Maxwell, qualquer alteração de velocidade
ou direção de movimento de uma partícula eletricamente carregada é acompanhada da emissão de
energia radiante.
Verifica-se que quando cargas são aceleradas, acabam perdendo energia por emissão de
radiação eletromagnética. Como um elétron em órbita de um núcleo está sempre sob aceleração, deve
emitir energia também, diminuindo assim o raio de sua órbita. Fazendo os cálculos desta perda de
energia os cientistas verificaram que os elétrons colapsariam no núcleo em um intervalo de tempo
extremamente pequeno. Se isso acontecesse, o universo teria deixado de existir logo após sua criação.
James Clerk Maxwell (1831-1879) desenvolveu a teoria que todas as formas de radiação
são propagadas no espaço vibrando um campo elétrico e outro magnético, perpendiculares entre
si. Com as equações de Maxwell, foi demonstrado que o átomo do modelo de Rutherford duraria
-11
apenas 10 segundos. O mundo terminaria em um festival de cores com a emissão de uma série
contínua de comprimentos de onda.
Outro complicador do modelo planetário é o fenômeno que aparece quando se estuda a luz
emitida ou absorvida pelo átomo. Os estudos sugeriam que o elétron não poderia estar em qualquer órbita
em torno do núcleo. Em 1913, Bohr resolveu o impasse. Como para cada órbita existe uma energia
associada, Bohr verificou que as energias da luz emitida nas mudanças de órbitas seriam discretas (não
contínuas). Ou seja, as energias da luz emitida seriam "quantizadas". Este modelo está inspirado na
proposta feita em 1900 por Max Planck, que sugeriu que partículas oscilando em um sistema chamado
corpo negro emitiriam quantidades discretas de energia, fato sem explicação pelas teorias clássicas.

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Niels Henrik David Bohr (1885 - 1962) aplicou a teoria de Planck e acrescentou três
postulados ao modelo atômico de Rutherford (Figura 2).

Figura 2: Modelo Atômico de Bohr


Fonte: http://www.comciencia.br/reportagens/fisica/fisica07.htm

O primeiro postulado de Bohr estabelece que um elétron, enquanto permanece em


movimento em uma órbita fechada, não absorve nem emite radiação. Bohr admitiu que para cada
elétron existe mais de uma órbita estável correspondente a um nível energético diferente. O
segundo postulado estabelece que somente sejam permissíveis as órbitas eletrônicas para as quais
o momento angular do elétron é um múltiplo inteiro de h/2, em que h é a constante de Planck.
O segundo postulado requer que as órbitas estacionárias satisfaçam a condição mvr = nh /
2, ou seja, o momento angular de uma partícula movendo-se em órbita circular é dado por mvr,
em que m é a massa, v a velocidade e r o raio do círculo.
O terceiro postulado estabelece que o elétron pode saltar de uma órbita para outra, desde
que a passagem seja acompanhada da emissão ou absorção de um quantum de energia radiante,
cuja frequência é determinada pela relação:
h = Ei – Ef
Onde:  é a frequência; Ei - Ef representam os valores da energia do átomo no estado inicial e
final, respectivamente.

No caso do átomo mais simples, o do hidrogênio, com apenas um elétron ligado ao núcleo, o
modelo de Bohr previa que o raio da próxima órbita após a órbita fundamental teria um raio quatro vezes
maior. A terceira órbita com raio nove vezes maior, e assim em diante. Para este átomo o elétron só pode
mudar de uma órbita para outra. Assim, se uma partícula atingisse o elétron a órbita não seria alterada, a
menos que a partícula transferisse ao elétron energia suficiente para passar à próxima órbita ou outra
órbita permitida. Se a teoria clássica fosse válida, qualquer órbita seria permitida.
Uma das vantagens do modelo atômico de Bohr foi a possibilidade de explicar porque somente
certas frequências de luz eram irradiadas por átomos e, em alguns casos, predizer estes valores. A
emissão de luz, ou espectro do átomo, era obtida com uma descarga elétrica através da amostra gasosa
investigada. O gás excitado emitia radiação sob a forma de luz visível, ultravioleta e infravermelha.
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Bohr usou seu modelo teórico para calcular o comprimento de onda de várias linhas no espectro
de hidrogênio, encontrado excelentes resultados em acordo com os resultados práticos. Sua teoria
atômica para o hidrogênio foi altamente satisfatória. Essa teoria auxiliou outros cientistas a predizerem
os níveis de energia permitida de todos os átomos. Entretanto, a extensão das idéias de Bohr, para
átomos com dois ou mais elétrons ficou apenas em conformidade qualitativa com as experiências.
Existe um problema fundamental com o modelo de Bohr. A idéia de um elétron movendo ao redor do
núcleo em uma órbita a uma distância fixa do núcleo tem sido abandonada.

7.2.2. O Elétron Onda


Antes de 1900, se suponha que a natureza da luz era como de uma onda. Entretanto, os
trabalhos de Planck e Einstein sugeriram que, em muitos processos, a luz comporta-se como
partícula, chamadas fótons. Em 1924, Luis de Broglie revolucionou a ideia sobre a natureza da
matéria. Em seu trabalho sobre efeito fotoelétrico, adaptando as equações de Maxwell e usando o
mesmo raciocínio de Einstein (no trabalho sobre efeito fotoelétrico), propôs que qualquer partícula
em movimento fosse tratada como uma onda eletromagnética. A tese de De Broglie possibilitou
somar as propriedades de partículas com possíveis propriedades de onda.
De Broglie sugeriu que as partículas podem exibir comportamento de onda. Ele demonstrou
que o comprimento de onda (), associado com uma partícula de massa (m), movimentando-se
com velocidade (v) pode ser:  = h/mv, onde h é a constante de plank.
Se um elétron se comporta como uma onda, existe um problema fundamental com o átomo
de Bohr. Como especificar a “posição” de uma onda em um instante particular? Nós podemos
esperar determinar seu comprimento de onda, sua energia e também sua amplitude, porém não existe
um caminho obvio para dizer precisamente onde o elétron está. Após 1920, vários cientistas
especulando o problema, convenceram-se que o modelo de Bohr deveria ser abandonado. A ideia
de um elétron dando voltas ao redor de um núcleo em uma órbita fixa raio definido, simplesmente
não corresponde à realidade. Um enfoque completamente novo foi requerido para tratar elétrons em
átomos e moléculas. Uma nova disciplina chamada “mecânica quântica” foi desenvolvida para tratar
do assunto.
Em um átomo mecânico quântico, não é intenção especificar a posição de um elétron em
um dado instante; nem concerne à mecânica quântica descrever o caminho que um elétron percorre
ao redor de um núcleo. Dessa forma, se não podemos dizer onde o elétron está, certamente não se

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pode dizer como ele permanece ali. Em vez disso, a mecânica quântica trabalha apenas com a
probabilidade de encontrar uma partícula dentro de uma dada região do espaço.
Em 1926, Erwin Rudolf Josef Alexander Schrödinger (1887 - 1961) demonstrou que a
expressão de De Broglie podia ser generalizada para abranger partículas ligadas, tais como os
elétrons nos átomos. Uma vez que a equação de Schrödinger tem sido solucionada permitindo a
criação de um modelo completo para o átomo, isso tornou possível determinar a probabilidade de
encontrar uma partícula em uma dada região do espaço. Diferente do modelo de Bohr, a equação
de Schrödinger pode ser aplicada para outros átomos e moléculas além do hidrogênio. A partir das
equações de Schrödinger não é possível determinar a trajetória do elétron em torno do núcleo, mas,
a uma dada energia do sistema, obtém-se a região mais provável de encontrá-lo.
Em 1927, Werner Karl Heisenberg (1901-1976) assumindo que os elétrons tinham
propriedades de onda, concluiu ser impossível fixar ao mesmo tempo a sua posição e a sua energia.
Baseado nessa idéia chamada de Princípio da Incerteza, os resultados foram interpretados como: se
escolhermos conhecer com pouca incerteza a energia de um elétron em um átomo, então, temos que
aceitar a correspondente grande incerteza sobre a sua posição no espaço em relação ao núcleo do
átomo. A contribuição da estatística pode ser melhor compreendida no conceito formulado para orbital
como sendo: a região do espaço, mais provável, onde pode ser encontrado o elétron (Figura 4).

Figura 3: Modelo atômico de Schrödinger.


Fonte: http://www.comciencia.br/reportagens/fisica/fisica07.htm

A mecânica clássica dispunha das leis formuladas por Charles Augustin de Coulumb, em que
a atração eletrostática variava em função do valor das cargas e do quadrado das distâncias, com elas
era possível explicar as ligações iônicas. A introdução dos conceitos de orbitais e emparelhamento
de elétrons pela mecânica quântica, possibilitou a explicação das ligações covalentes.

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Podemos definir orbitais como sendo uma região do átomo descrita por uma função de
onda, ou seja, expressões matemáticas, “obtidas a partir da resolução da equação de Schrödinger”,
que “descrevem o estado de energia de um ou mais elétrons no espaço, bem como a possibilidade
de encontra-los” (https://maestrovirtuale.com/orbitais-atomicos-em-que-consistem-e-tipos/)
Uma vez que muitos átomos apresentavam massas maiores do que poderia explicar um modelo
contendo apenas elétrons e prótons, deveria existir um terceiro tipo de partícula sem carga, e com
massa aproximadamente igual à do próton. Em 1932, James Chadwick (1891 – 1974), anunciou a
descoberta do nêutron, partícula eletricamente neutra. O modelo próton-elétron cedeu lugar ao modelo
próton-nêutron-elétron que é usado até hoje. Neste modelo o átomo é considerado como possuindo
certo número de prótons, igual ao número atômico (Z), elétrons suficientes para neutralizar sua carga,
e tantos nêutrons (A-Z) quantos necessários para completar o número de massa (A).

7.2.2.1. O Princípio da incerteza


Na Física Clássica (Newtoniana) as grandezas do movimento de uma partícula são descritas
e medidas de modo exato. Assim, pode-se medir simultaneamente a posição e a velocidade de uma
partícula sem perturbar o seu movimento. Já na Física Quântica, o ato de medir interfere na
partícula modificando seu movimento.
Vamos analisar o porquê dessa interferência, verificando possibilidade de fotografar um
elétron em órbita num átomo de hidrogênio. Devido ao fenômeno de difração, dois pontos
separados por uma distância D podem ser observados como distintos, se essa observação for
efetuada com RE de  menor, ou da ordem da distância D. Uma vez que o raio da órbita do elétron
no átomo de hidrogênio é da ordem de um angström (10  m), para fotografá-lo é necessário,
10

portanto, radiação eletromagnética com comprimento de onda   10 m. Calculando a energia


10

que essa radiação eletromagnética teria, tem-se:

E = h

considerando-se que  = c / , temos:

 = c /  = 3,00 x 10 (m/s)/10 (m) = 3 x 10 s


8 10 18 -1

Onde: c = 3,00 x 10 m/s e h = 4,14 x 10 eVs e considerando-se que  = c / , a radiação


8 15

eletromagnética em questão deve ter uma energia igual a


E = 4,14 x 10 (eVs) x 3 x 10 (s )  E  1,242 x 10 eV
15 18 -1 4

7
4
Como a energia de ligação do elétron no átomo de hidrogênio é da ordem de 10 eV, ao
4
bombardearmos esse elétron com radiação eletromagnética de energia da ordem de 10 eV para
medir sua posição, estaríamos perturbando completamente sua velocidade. Uma vez que, quanto
maior a precisão com que se quer determinar a posição do elétron, menor deve ser o comprimento
de onda da radiação eletromagnética a ser empregada e maior a sua energia, pode-se concluir que
será maior a perturbação na velocidade do elétron. Portanto, maior será a incerteza na velocidade
medida para esse elétron. Temos assim um exemplo particular de aplicação do princípio de
incerteza de Heisenberg.

7.2.2.2. Parâmetros de Onda


As ondas eletromagnéticas resultam de vibrações de cargas elétricas. Somente ondas
eletromagnéticas conseguem se propagar no vácuo. A função de uma onda (função de uma
perturbação) que se propaga em um meio, apresenta duas variáveis: posição e tempo.

Frequência (): é o número de oscilações do campo eletromagnético que ocorrem por segundo. A
-1
unidade comum de frequência é o segundo recíproco (s ) ou herstz (Hz), corresponde a ciclos por
segundo.
-1
Número de onda ( ): é o recíproco do comprimento de onda em centímetros (cm ). É muito usado
na espectrometria na região do infravermelho, sendo uma unidade útil por ser diretamente
proporcional à frequência e consequentemente à energia de radiação.
Comprimento de onda (): é a distância linear entre dois pontos equivalentes em ondas sucessivas
(Figura 4)
Figura 4: Demonstração gráfica de uma onda com
a medida de seu comprimento de onda dado por
seus máximos ou mínimos sucessivos.
Fonte:
https://m.mundoeducacao.uol.com.br/upload/cont
eudo/images/crista-e-vale-de-uma-onda.jpg

Deve-se compreender que a frequência de um feixe de radiação é determinada pela fonte e


permanece invariante, por outro lado, a velocidade da radiação depende da composição do meio
através do qual ela se propaga.

8
No vácuo, a velocidade da radiação (c) independe de “”, apresentando seu valor máximo
8
(c = 2,99792 x 10 ). No ar essa velocidade difere muito pouco (aproximadamente 0,03% menor).
Portanto, tanto no ar como vácuo pode-se considerar o mesmo valor. Entretanto, a propagação da
radiação é diminuída pela interação entre o campo eletromagnético da radiação e os elétrons
ligados à matéria, em alguns meios contendo matéria. Assim sendo, quando um feixe de onda
eletromagnético passa do vácuo para outro meio, como a frequência de radiação é invariante e
fixada pela fonte, o comprimento de onda deve decrescer.

7.3. CARACTERÍSTICAS DA ENERGIA RADIANTE

Para que possamos compreender as características da energia radiante vamos estabelecer


alguns conceitos:
Partícula: objeto que possui massa e é extremamente pequeno, como um minúsculo grão de areia.
Pode-se imaginar que os corpos grandes sejam compostos de um número imenso destas unidades
denominadas partículas. Este é um conceito com o qual estamos bem acostumados porque lidamos
diariamente com objetos dotados de massa e que ocupam certa região do espaço.
Onda: apesar de ser observado no nosso dia a dia, escapa à atenção de muitas pessoas. Um exemplo
bem simples do movimento ondulatório é o das oscilações da superfície da água de uma piscina. Se
mexermos sistematicamente a nossa mão sobre esta superfície, observaremos uma ondulação se
afastando, igualmente em todas as direções, do ponto onde a superfície foi perturbada. A energia
emitida por cargas elétricas aceleradas se propaga no espaço como as ondas na superfície da piscina.
Apesar da sua origem mais sutil, a radiação eletromagnética está também presente na
experiência diária. Dependendo da sua frequência ela é conhecida como: onda de rádio, FM,
radiação infravermelha, luz visível, raios-X, ondas de micro-ondas, ondas de sinal de celular,
ondas de controle remoto e muito mais (Figura 5).

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Figura 5: Espectro eletromagnético com alguns equipamentos utilizados no cotidiano e suas
respectivas frequências.
Fonte: https://static.mundoeducacao.uol.com.br/mundoeducacao/2020/05/espectro-eletromagnetico.jpg

Até o final do século XIX tudo o que era partícula tinha o seu movimento descrito pela
mecânica newtoniana enquanto que a radiação eletromagnética era descrita pelas equações de
Maxwell do eletromagnetismo.
A radiação eletromagnética (RE) é uma forma de energia que é transmitida com uma
10
velocidade de propagação de 3x10 cm/s, podendo ser detectada como luz, ou com mais
dificuldade, como raios X, ultravioleta e micro-ondas.
No primeiro quarto do século XX um determinado conjunto de experiências apresentou
resultados conflitantes com essa distinção entre os comportamentos de onda e de partícula, o que
culminou no estabelecimento da radiação eletromagnética sendo constituída de campos
eletromagnéticos oscilantes, propagando-se no vácuo na forma de “pulsos” de energia
denominados “quanta” ou “fótons”. Assim sendo, a RE apresenta as seguintes características:

a) Dualidade – a RE possui propriedades ondulatória e corpuscular


A RE exibe um dualismo de propriedades: ora apresenta comportamento tipicamente
ondulatório, detectado por fenômenos tais como: polarização, interferência e difração da luz; ora
apresenta característica de partícula (caráter corpuscular) detectada pelos fenômenos fotoelétricos
e de Compton.

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Visualize uma onda, material ou não, incidindo sobre um anteparo opaco possuindo duas
fendas (Figura 6). Cada uma das fendas atua como uma fonte de um novo movimento ondulatório.
Este movimento apresenta uma característica fundamental que é o fenômeno de interferência. Tal
fenômeno reflete o fato das oscilações provenientes de cada uma das fendas poderem ser somadas
ou subtraídas uma da outra. Utilizando-se um segundo anteparo, distante do primeiro, para detectar
a intensidade da onda que passa pelo anteparo com fendas, observa-se como resultado uma figura
que alterna máximos e mínimos da intensidade da onda, chamada figura de interferência.

. A B
Figura 6: Figura de interferência. A: arranjo experimental; B: visão frontal do segundo anteparo.
Fonte: http://www.comciencia.br/reportagens/fisica/fisica02.htm

Repetindo a mesma experiência, porém ao invés de ondas, incidimos partículas sobre o


primeiro anteparo. O que ocorre nesta nova situação é a presença de duas concentrações distintas de
partículas atingindo o segundo anteparo. Aquelas que passam por uma ou outra fenda, como mostra
a Figura 7.

Figura 7: Arranjo experimental utilizando partículas ao invés de ondas.


Fonte: http://www.comciencia.br/reportagens/fisica/fisica02.htm
Este seria, portanto, o resultado esperado pela física clássica. Entretanto, quando esta
experiência é feita com partículas como elétrons ou nêutrons, ocorre o inesperado: forma-se no
segundo anteparo uma figura de interferência na concentração de partículas que a atingem, como
mostra a Figura 8.
11
Figura 8: Arranjo experimental utilizando partículas como elétrons ou nêutrons visão frontal do
segundo anteparo (figura de interferência).
Fonte: http://www.comciencia.br/reportagens/fisica/fisica02.htm

Ao repetir esta mesma experiência com apenas uma partícula, ocorre algo estranho. Ela
passa pelo primeiro anteparo e atinge o segundo em apenas um ponto, mesmo o primeiro anteparo
apresentando dois orifícios. Repetindo esta experiência um número enorme de vezes, o resultado
é que em cada experimento o ponto de detecção no segundo anteparo é diferente. Entretanto,
sobrepondo todos os resultados obtidos no segundo anteparo de cada experiência obtêm-se,
novamente, a mesma figura de interferência da Figura 8.
Portanto, mesmo falando de apenas uma partícula, somos obrigados a associá-la a uma
onda para que possamos dar conta da característica ondulatória presente nos exemplos
apresentados. Devemos ainda, relacionar esta onda à probabilidade de se encontrar a partícula em
um determinado ponto do espaço para podermos entender os resultados de uma única experiência
de apenas uma partícula, obtendo-se assim o princípio da dualidade onda-partícula.
Quando tentamos determinar por qual fenda a partícula passou procede-se fechando uma
das fendas para ter certeza que ela passou pela outra fenda. Novamente a figura de interferência é
destruída dando lugar a apenas uma concentração bem localizada de partículas. Portanto, ao
montarmos um experimento que evidencia o caráter corpuscular da matéria, destruímos
completamente o seu caráter ondulatório, ou seja, o oposto ao caso com as duas fendas abertas.
Este é o Princípio da Complementaridade.
A aplicação desta teoria a problemas nas escalas atômicas e subatômicas apresenta
resultados como a quantização da energia. O mais interessante é que a mecânica quântica descreve,
com sucesso, o comportamento da matéria desde altíssimas energias (física das partículas
elementares) até a escala de energia das reações químicas ou, ainda de sistemas biológicos. O

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comportamento termodinâmico dos corpos macroscópicos, em determinadas condições, requer
também o uso da mecânica quântica.
Por que não observamos estes fenômenos no nosso cotidiano, ou seja, com objetos
macroscópicos? Há duas razões para isso. A primeira é que a constante de Planck é extremamente
pequena comparada com as grandezas macroscópicas que têm a sua mesma dimensão. Baseado neste
fato pode-se inferir que os efeitos devidos ao seu valor não nulo, ficarão cada vez mais
imperceptíveis à medida que aumentamos o tamanho dos sistemas. Em segundo lugar, há o chamado
efeito de descoerência. Este efeito só recentemente começou a ser estudado e trata do fato de não
podermos separar um corpo macroscópico do meio onde ele se encontra. Assim, o meio terá uma
influência decisiva na dinâmica do sistema fazendo com que as condições necessárias para a
manutenção dos efeitos quânticos desapareçam em uma escala de tempo extremamente curta.
Entretanto, as novas tecnologias de manipulação dos sistemas físicos nas escalas micro ou
até mesmo nanoscópicas nos permitem fabricar dispositivos que apresentam efeitos quânticos
envolvendo, coletivamente, um enorme número de partículas. Nestes sistemas a descoerência,
apesar de ainda existir, tem a sua influência um pouco reduzida, o que permite observar os efeitos
quânticos durante algum tempo.
Portanto, tudo indica que a mecânica quântica seja a teoria correta para descrever os fenômenos
físicos em qualquer escala de energia. O universo macroscópico só seria um caso particular para o
qual, até o presente momento, só conseguimos entender de forma racional, sua descrição por meio da
mecânica newtoniana. Esta pode ser obtida como um caso particular da mecânica quântica, mas a
recíproca não é verdadeira. Entretanto, recentemente cientista estão conseguindo provar que o elo que
faltava para a descrição do mundo macroscópico por meio da física quântica é a Consciência. A física
quântica tem demonstrado que a Consciência cria nossa realidade. Por isso, a nossa intenção naquilo
que queremos determinar no experimento leva a obtermos determinados resultados.

b) Descontinuidade – a energia é liberada ou absorvida em quantidades discretas (pacotes):


“quanta” (Max Planck) ou “fótons” (Einstein).
Em 1924, Broglie propôs uma teoria segundo a qual os elétrons possuem uma onda associada,
que influenciaria nas características de seu movimento. A tese de De Broglie foi aperfeiçoada por
Schrödinger, que a usou para chegar ao que é hoje a mais usada formulação matemática da Mecânica
Quântica (a equação de Schrödinger). A teoria ondulatória conseguiu explicar como os elétrons dos
átomos não podem possuir qualquer energia, e, consequentemente, não podem ocupar qualquer
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órbita ao redor do núcleo, mas apenas algumas pré-determinadas - um caso particular do fenômeno
da quantização da energia (Figura 9). A existência de apenas algumas frequências permitidas em
vibrações de estruturas circulares (no caso dos elétrons, as frequências de suas "ondas de De Broglie"
correspondem às suas energias) é um efeito natural que ocorre com qualquer tipo de onda.

Figura 9: Modelo dos orbitais calculados a partir da equação de Schrödinger.


Fonte: Por haade [GFDL (http://www.gnu.org/copyleft/fdl.html) ou CC-BY-SA-3.0
(http://creativecommons.org/licenses/by-sa/3.0/)] , via Wikimedia Commons, In:
https://maestrovirtuale.com/orbitais-atomicos-em-que-consistem-e-tipos/

No entanto, a verdadeira estrutura atômica é complexa demais para se ter uma imagem
aproximada dela. A energia desses fótons de radiação varia com a frequência da radiação segundo
a equação abaixo:
c
E  h  E  h

Onde: E = energia, em Joule; h = constante de Plank (6,626 x 10 J.s);  = frequência da radiação
-34

em ciclos/segundo; c = velocidade da Luz em metro/segundos e  = comprimento de onda em


metros (m).

A energia radiante é formada por ondas eletromagnéticas de diferentes comprimentos de


onda que, juntas, constituem o espectro eletromagnético (Tabela 1). A interação energia radiante
com a matéria ocasiona as seguintes transições:
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- Transição magnética: é extremamente fraca; a energia dos fótons é tão baixa que apenas interfere
com as propriedades magnéticas do núcleo.

- Transição rotacional: causada por radiação de baixa energia, aumenta a energia rotacional das
moléculas.

- Transição vibracional: resulta em um aumento na energia de vibração das moléculas.

- Transição eletrônica: verificam-se excitações de um ou mais elétrons a níveis energéticos mais


elevados.

Tabela 1: Espectro Eletromagnético

Tipo de Radiação Interações com a matéria Limites aproximados do


comprimento de onda (λ)
Raios γ Transições nucleares λ<1A
Raios X Transições eletrônicas da camada 1ª < λ < 10 A (1 nm)
interna (K e L)
Ultravioleta de vácuo Transições eletrônicas da camada 1 nm < λ < 200 nm
Ultravioleta próximo externa (elétrons de valência) 200 nm < λ < 400 nm
Visível 400 nm < λ < 750 nm
Infravermelho Transição vibracional 750 nm (0,75 μ) < λ < 2,5 μm
próximo (Vibrações moleculares)
Infravermelho médio 2,5 μm < λ < 50 μm
Infravermelho Transição rotacional 50 μm < λ < 1000 μm
distante (Rotações moleculares)
Micro-ondas 1,0 μm < λ < 25 cm
Ondas de rádio Transição magnética (orientações do spin) λ < 25 cm
Fonte: modificado de Ewing (1972).

OBS:

1) Fótons de energia muito elevada podem causar a ionização dos compostos.


2) Sempre uma transição vibracional está associada à rotacional e à eletrônica associam-se a
vibracional e a rotacional.

A espectrofotometria utiliza a radiação compreendida entre o ultravioleta e o


infravermelho. A chamada radiação luminosa corresponde a uma gama de comprimentos de onda
que vai desde o ultravioleta ao infravermelho no espectro da radiação eletromagnética.
Dentro da zona do visível pode-se ter uma ideia do comprimento de onda de absorção
máxima de um composto, através de sua cor, visto que se detecta a cor complementar (Tabela 2).
Abaixo de 400 nm os compostos não são corados.

15
Tabela 2: Cores da radiação do visível
Comprimento de onda – λ (nm) Cor Cor complementar
(Radiação de absorção) (Radiação transmitida)
400 – 465 Violeta Verde – amarelada
465 – 482 Azul Amarelo
482 – 487 Azul – esverdeado Alaranjado
487 – 493 Turquesa Vermelho – alaranjado
493 – 498 Verde – azulado Vermelho
498 – 530 Verde Vermelho – púrpuro
530 – 559 Verde – amarelado Púrpura – avermelhada
559 – 571 Amarelo – esverdeado Púrpura
571 – 576 Amarelo – esverdeado Violeta
576 – 580 Amarelo Azul
580 – 587 Laranja – amarelado Azul
587 – 597 Alaranjado Azul – esverdeado
597 – 617 Laranja – avermelhado Turquesa
617 – 780 Vermelho Turquesa
Fonte: Ewing (1972)

OBS:
1) Uma solução colorida apresenta máxima absorção para sua cor complementar.
2) Nas análises colorimétricas a radiação que incide sobre a solução sempre corresponde à cor
complementar da solução. Exemplo: Solução de KMnO4 (violácea) a radiação incidente
deve ser amarelo-esverdeado.

Em princípio, qualquer unidade de comprimento de onda é apropriada para caracterizar a


energia radiante respectiva e sua escolha depende fundamentalmente dos valores dos comprimentos
de onda a serem medidos. As relações entre as unidades podem ser observadas na Tabela 3.

Tabela 3: Relação entre unidades de comprimento

Um Um Um Um Um
Angstron Nanômetro Micrometro Centímetro Metro
Angstron (A) 1 10 10.000 100.000.000 10.000.000.000
Nanômetro (nm) 10-1 1 1.000 10.000.000 1.000.000.000
-4 -3
Micrometro (μm) 10 10 1 10.000 1.000.000
-8 -7 -4
Centímetro (cm) 10 10 10 1 100
-10 -9 -6 -2
Metro (m) 10 10 10 10 1

16
7.4. Propriedades da Radiação Eletromagnética

a) Difração da Radiação
A radiação eletromagnética apresenta difração que é um processo no qual um feixe paralelo
de radiação é deformado ao passar por uma barreira de borda definida ou através de uma abertura
estreita, sendo uma propriedade da onda, tanto eletromagnética quanto acústica. Portanto a
difração é uma consequência de interferência (Figura 12).

Figura 12: Feixe paralelo de radiação deformado ao passar por uma abertura estreita.
Fonte: TORRES (2005)

b) Transmissão da Radiação
A velocidade com a qual a radiação se propaga através de uma substância transparente é
menor que a sua velocidade no vácuo e depende do tipo e da concentração de átomos, íons ou
moléculas do meio. Assim sendo, a radiação interage de alguma maneira com a matéria, porém
não é observada nenhuma mudança na frequência e, portanto, a interação não envolve uma
transferência permanente de energia. Essa interação pode ser atribuída à polarização periódica das
espécies atômicas e moleculares que constituem o meio, significando uma deformação temporária
das nuvens eletrônicas associadas aos átomos ou às moléculas, que é provocada pelo campo
eletromagnético oscilante da radiação. Por não haver absorção de energia, a absorção da energia é
retida apenas momentaneamente pela espécie e reemitida sem alteração quando a substância
retorna ao estado original. Apesar de não haver modificação na frequência da radiação emitida,
sua propagação é diminuída pelo tempo requerido para que a retenção e a reemissão ocorra.

17
c) Refração da Radiação
A refração é uma mudança abrupta na direção, ou “refração” do feixe como consequência da
diferença de velocidade da radiação, quando a radiação passa em ângulo através da interface entre
dois meios transparentes que têm densidades diferentes (Figura 12 A e B). Quando o feixe de
radiação passa de um meio menos denso para um mais denso o desvio ocorre em direção à normal,
ou seja, o ângulo do feixe diminui em relação à normal, em função de sua densidade ser menor.

A B

Figura 12: Representação esquemática das propriedades de refração e reflexão. A - Representação


esquemática da refração e reflexão de um feixe de radiação policromático, incidindo em um
material em um ângulo  qualquer, B - Representação esquemática da refração e reflexão de um
feixe de radiação monoenergético em função do ângulo crítico de incidência.
Fonte: Nascimento Filho (1999).

d) Reflexão da Radiação
A reflexão pode ser de dois tipos: regular e difusa. Na reflexão regular a luz incidente em
uma superfície “S” volta ao mesmo meio, regularmente. Ocorre quando S é uma superfície
metálica bem polida (espelhos). Já na reflexão difusa a luz incidente em S volta ao mesmo meio,
irregularmente. Ocorre quando S é uma superfície rugosa.
Quando um feixe de radiação atravessa uma interface em que os ambientes apresentam densidade
diferente sempre ocorre reflexão do meio menos denso para um mais denso, nesse caso chamamos de
espalhamento. Assim sendo, quanto maior a diferença dos índices de refração maior será a fração do feixe
de radiação que será refletida (Figura 12 A e B). A reflexão regular e difusa é um tipo de espalhamento.
Outros tipos de espalhamento possíveis.
 Espalhamento Rayleigh (em homenagem a Lord Rayleigh)
É o espalhamento ocasionado por moléculas ou agregados de moléculas com dimensões menores
que o comprimento de onda da radiação. Um exemplo desse tipo de espalhamento é a cor azul do céu,
causada pelo maior espalhamento dos menores comprimentos de onda do espectro do visível.

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 Espalhamento por moléculas grandes
É o espalhamento ocasionado por partículas de dimensão de coloides, sendo
suficientemente intenso para ser visto a olho nu (efeito Tyndall).
 Espalhamento Raman
É o espalhamento que sofre variações quantizadas de frequência, resultantes de transições
entre níveis vibracionais que ocorrem nas moléculas devido ao processo de polarização.

e) Polarização da Radiação
Diz-se que uma onda eletromagnética é polarizada quando ela caminha ao longo de um
plano com uma dada direção. Portanto, a luz proveniente de uma lâmpada incandescente, por
exemplo, é não polarizada já que consiste de um grande número de ondas, cada uma vibrando
segundo uma direção aleatória.
A polarização da radiação só pode ser explicada considerando-se a radiação eletromagnética
como sendo uma onda transversal. Caso a radiação eletromagnética fosse constituída por partículas,
sempre existiria uma imagem da fonte após a segunda reflexão, ou seja, sempre existiriam partículas
percorrendo a trajetória completa. O fenômeno de polarização de uma onda eletromagnética
confirma não apenas o seu caráter de onda, mas, ainda, o seu caráter de onda transversal.

7.5. Propriedades Mecânico-Quânticas da Radiação

a) Efeito Fotoelétrico
A radiação eletromagnética é uma forma de energia que libera elétrons de uma superfície
metálica e fornece a esses elétrons energia cinética suficiente para que eles sejam transportados para
o eletrodo. A quantidade de fotoelétrons transportada é proporcional à intensidade de feixe incidente.
Ao contrário da polarização, as características do efeito fotoelétrico não podem ser
explicadas considerando-se a radiação eletromagnética como sendo uma onda. As características
do efeito fotoelétrico só podem ser explicadas considerando-se a radiação eletromagnética como
um conjunto de partículas (chamadas fótons).

b) Estados Energéticos de Espécies Químicas


Em átomos ou íons no estado fundamental, a energia de um dado estado provém do
movimento dos elétrons em torno do núcleo e, dessa forma, os vários estados energéticos são

19
chamados estados eletrônicos. Já as moléculas, além dos estados eletrônicos, apresentam estados
vibracionais quantizados associados à energia das vibrações interatômicas e estados rotacionais,
ocasionados pela rotação das moléculas ao redor de seus centros de gravidade.

c) Emissão de Radiação
A produção da radiação eletromagnética ocorre quando átomos, íons ou moléculas
excitados liberam seu excesso de energia na forma de fótons. A excitação dessas partículas pode
ocorrer de várias formas: bombardeamento de elétrons ou outra partícula elementar; exposição a
uma corrente elétrica, centelha ou calor de uma chama; irradiação com um feixe de radiação
fluorescente. Essas radiações formam espectros que podem se apresentar na forma de linhas,
bandas ou espectros contínuos.
 Espectros de Linha
Os espectros de linhas ocorrem, geralmente, na região do visível e ultravioleta quando as
espécies irradiantes são partículas atômicas individuais, que se apresentam bem separadas em fases
gasosas (Figura 13). Essas partículas individuais comportam-se independentes uma das outras,
-4 -5
sendo seus espectros formados por uma série de linhas com largura de 10 Å (10 nm).

Figura 13: Espectros de linha obtidos a partir


de fases gasosas de H, He, Ne, Na e Hg.
Fonte:
https://miro.medium.com/max/978/1*kqe7ArS2rSJKWtn3yOFqiQ.png

 Espectros de Bandas
Os espectros de bandas são emitidos, geralmente, por radicais gasosos ou pequenas
moléculas, sendo provenientes dos numerosos níveis vibracionais quantizados (Figura 14).
20
Figura 14: Espectros de absorção do NAD+ e do NADH.
Fonte: https://www.ufrgs.br/vitaminas-b/img/espectro%20de%20absor%C3%A7%C3%A3o%20b3.jpg

 Espectros contínuos
Os espectros contínuos são produzidos quando sólidos são aquecidos até a incandescência,
por inumeráveis oscilações de átomos e moléculas no estado sólido, excitados por energia térmica
(Figura 15). Essa radiação térmica é chamada de radiação de corpo negro, sendo característica da
temperatura da superfície emissora e não do material que o compõe.

Figura 15: Espectros contínuos em


função da temperatura.
Fonte:
https://2img.net/h/images.slideplayer.c
om.br/2/359104/slides/slide_4.jpg

d) Absorção da Radiação
A absorção da radiação eletromagnética ocorre quando esta atravessa uma camada de um
líquido, sólido ou gás e algumas frequências ou ondas são seletivamente removidas por absorção,

21
sendo transferida para átomos, íons ou moléculas do material atravessado, que passam para um
maior estado de energia.
 Absorção Atômica
Partículas monoatômicas absorvem algumas freqüências ou comprimentos de ondas bem
definidos. São espectros simples devido ao pequeno número de estados de energia para as
partículas absorvedoras.
 Absorção Molecular
As moléculas poliatômicas apresentam espectros de absorção mais complexos que as
partículas monoatômicas. Isto se deve ao fato que o número de estados de energia das moléculas
é muito grande comparado com o número de estados de energia dos átomos isolados.
 Absorção Induzida por um Campo Magnético
Em elétrons ou núcleos de certos elementos submetidos a um campo eletromagnético forte
podem ser observados níveis de energia quantizados adicionais como consequência das
propriedades magnéticas dessas partículas.

e) Processos de Relaxação
Esses processos permitem que átomos ou moléculas excitados voltem ao estado normal,
ocasionando que o tempo de vida desses átomos ou moléculas sejam normalmente breve.
 Relaxação Não-Radiante
Este processo envolve perda de energia em uma série de pequenas etapas pela colisão com
outras moléculas, com a energia de excitação sendo convertida em energia cinética.
 Relaxação Fluorescente e Fosforescente
A emissão radiante ocorre quando as espécies excitadas retornam ao estado fundamental,
com a fluorescência ocorrendo mais rapidamente que a fosforescência.
A fosforescência ocorre quando uma molécula excitada relaxa para um estado eletrônico
mestaestável (estado triplete), reemitindo-a em forma de luz visível, mesmo após a interrupção da
iluminação. As substâncias desse tipo continuam a emitir um brilho fraco por intervalos de tempo
que variam de segundos a horas. Um exemplo comum de corpo fosforescente são os interruptores
residenciais que podem ser facilmente encontrados no escuro.
A fluorescência é produzida pela emissão de radiação idêntica, em frequência, à radiação
empregada. As radiações fluorescentes emitem luz somente enquanto estão recebendo energia de
22
alguma fonte externa, assim como as lâmpadas ultravioletas. Dessa forma, quando a fonte de
energia cessa, o processo de fluorescência é interrompido imediatamente.
Um bom exemplo de objetos fluorescentes são as lâmpadas brancas. Essas lâmpadas
contêm um gás ionizado em seu interior que, ao ser acelerado, produz luz ultravioleta. Na parte
interna dessas lâmpadas, há um pó que contém fósforo. Esse pó absorve a radiação ultravioleta e
reemite-a, imediatamente, na forma de todos os comprimentos de onda de luz visível, produzindo
um intenso brilho branco, que apresenta todos os comprimentos de onda da luz visível (também
chamados luz policromática).

Atividade 2 – Introdução aos Métodos Espectrométricos


em Química Analítica

1) O que acontece com a radiação eletromagnética se duplicarmos a frequência de radiação?

2) O que acontece com a radiação eletromagnética se duplicarmos o comprimento de onda da


radiação?

3) Um colorímetro possui três filtros cujos comprimentos de onda são 482 a 487, 530 a 559 e
617 a 650 nm (cor complementar). Baseado na Tabela 2, qual deles se prestaria para a
determinação de uma solução alaranjada (Radiação de absorção)? Por quê?
OBS: Consulte a Tabela 2 do item 1.2.4 Características da Energia Radiante

4) Quais as propriedades da Onda Eletromagnética?

5) Como ocorre a difração da radiação?

6) O que vem a ser refração da radiação?

7) Quais as propriedades mecânico-quânticas da radiação?

8) Como se deve considerar a radiação eletromagnética para que se possa explicar o efeito
fotoelétrico?

9) Quais os tipos de espectros que as radiações eletromagnéticas apresentam? Discuta cada


uma.

10) Porque se pudéssemos fotografar um elétron em órbita num átomo de hidrogênio, para
medir sua velocidade ou posição, esse ato de medição iria interferir na partícula e
consequentemente em seu movimento?

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BIBLIOGRAFIAS CONSULTADAS
EWING, G. W. Instrumental Methods of chemical analysis. McGraw-Hill Book Co. (1972)
NASCIMENTO FILHO, V. F. Técnicas analíticas nucleares de fluorescência de raios x por
o
dispersão de energia (ed-xrf) e por reflexão total (txrf). Dept de Ciências Exatas/ESALQ. Lab.
de Instrumentação Nuclear/CENA. 1999.
QUANTUM. Radiação Eletromagnética. Boletim educativo do Núcleo de Comunucação do
Centro Tecnológico da Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, ano 1, número 1,
2001.
RUSSELL, J. B. Química Geral. São Paulo: McGraw-Hill do Brasil, 1981.
TORRES, D. M. Curso de Emissão Óptica por Plasma. 2005. 57p.

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