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Vistos, etc.

XXXXXXX ajuíza a presente Reclamação Trabalhista em face de YYYYYYY pleiteando, em sede de


antecipação de tutela, que seja concedido o restabelecimento do plano de saúde do reclamante
e/ou realizado o pagamento de todas as despesas necessárias para seu tratamento, inicialmente
com um depósito de R$2.000,00 (dois mil reais), para que o mesmo tenha condição de consultar
com médico particular na capital, conforme indicado em atestado.

Pois bem.

A medida pretendida é satisfativa, poia tem por objetivo a concessão, de forma antecipada, da
própria prestação jurisdicional, adiantando os efeitos da tutela de mérito e propiciando sua
imediata execução, ainda que parcialmente.

Na vigência do novo Código de Processo Civil (Lei nº 13.105/15), desaparece a tradicional figura da
antecipação de tutela, nos moldes até então disciplinados (CPC73, Art. 273), cujos requisitos
passavam pela prova fática inequívoca, verossimilhança da alegação, e demonstração do fundado
receio de dano irreparável ou de difícil reparação.

Saliente-se, no entanto, que o novo Código destina regramento próprio para a chamada tutela
provisória (Livro V), podendo ser fundada em urgência (pretensão antecipada ou pretensão
cautelar) ou evidência, conforme dicção do CPC15, Arts. 294 e seguintes, aplicáveis
subsidiariamente ao processo do trabalho, à vista dos permissivos do Art. 15 da referida norma e
da CLT, Art. 769 (IN nº 39, do TST, Art. 3º, VI).

De outra parte, o CPC15, Art. 9º, parágrafo único, Inciso I, autoriza a prolação de decisão sem
audiência da parte contrária na hipótese de tutela provisória de urgência, como é o caso da
concessão de tutela provisória de urgência antecipada, seja ela postulada em caráter antecedente
ou incidente (CPC15, Art. 300, § 2º).

Recebo, assim, o requerimento em destaque, como pretensão de tutela provisória de urgência de


natureza antecipada incidental.

Sob tal perspectiva, os requerimentos apresentados pelo autor dizem respeito, em sua essência,
ao cumprimento de direitos materiais assegurados aos trabalhadores, previstos na legislação
ordinária.

Tratam-se de imperativos legais que visam assegurar condições dignas de trabalho, resguardando-
se indiretamente a integridade física e mental dos trabalhadores, além dos direitos sociais
constitucionalmente garantidos, de sorte a dar concretude ao comando da CF, Art. 7º, caput.

Verifica-se, na hipótese, que a reclamada dispensou o reclamante, sem justa causa, em


20/07/2015, indenizando o respectivo aviso prévio.

Constata-se, também, que há nos autos atestados médicos e exames que indicam que o autor se
encontrava inapto para o trabalho, bem como uma recomendação de "readaptação" de serviço
pelo médico que o assistia (folhas ____), após 01 (um) dia da resilição contratual, vez que o
paciente se encontra acometido por hérnia discal lombar.
Segundo o CPC15, Art. 300, a tutela de urgência será concedida quando houver elementos que
evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano (feição antecipatória) ou o risco ao
resultado útil do processo (feição cautelar), podendo ser concedida liminarmente ou após
justificação prévia.

Como visto, há nos autos documentação suficiente a revelar o adoecimento do autor,


contemporâneo ao encerramento do pacto, especialmente se projetado o prazo do aviso prévio
indenizado, e, por conseguinte, mostra-se provável o direito invocado à manutenção do
trabalhador no plano de saúde fornecido na vigência do contrato de trabalho. Note-se, a este
propósito, que embora a dicção da Súmula 371, parte final, do C. TST, trate literalmente da
superveniência de auxílio-doença no curso no aviso prévio e não da entrega de atestado médico
ou de exames complementares, tampouco da emissão de CAT, é certo, por outro lado, que a
dispensa do empregado inapto não encontra respaldo no ordenamento jurídico, na medida em
que é inviável, por manifesta incompatibilidade, a resilição contratual injustificada durante a
interrupção ou suspensão do pacto, de sorte que a ratio decidendi do referido verbete sumular
presta-se ao caso em apreço.

Observe-se, ainda, que a Súmula nº 440 do TST, sedimenta jurisprudência que assegura o direito à
manutenção de plano de saúde ou de assistência médica oferecido pela empresa ao empregado,
não obstante suspenso o contrato de trabalho em virtude de auxílio-doença acidentário ou de
aposentadoria por invalidez, ratio também extensível à hipótese da tutela provisória pretendida,
considerando a prova da inaptidão do autor em época coincidente com a projeção do seu aviso
prévio.

Tratando-se da saúde do trabalhador, que manifestamente está a depender de tratamento


imediato, resta também configurado o perigo de dano ao autor, a legitimar a concessão inaudita
altera pars da medida antecipatória postulada (CPC15, Art. 300, § 2º c/c Art. 9°, parágrafo único, I).

A obrigação ora albergada consiste em dever de fazer, imposto à reclamada, a quem incumbirá
restabelecer o plano de saúde do trabalhador, o que se impõe com fulcro no CPC15, Arts. 497, 536
e 537.

Prejudicado o exame da pretensão subsidiária de pagamento de despesas médicas.

ISTO POSTO,

DEFIRO a tutela provisória de urgência de natureza antecipada incidental, pertinente à obrigação


de fazer postulada e, por conseguinte, determino à reclamada que proceda, no prazo de 48 horas,
a contar da intimação para tanto, o restabelecimento do plano de saúde do reclamante, a ser
custeado pela ré, até a resolução da tutela definitiva pleiteada, garantindo-lhe a prestação integral
do serviço, sob pena de multa de R$1.000,00 por dia de descumprimento, liquidável de acordo
com a data do efetivo cumprimento da obrigação.

No mais, aguarde-se o prosseguimento regular do processo.

Intimem-se o autor, pelo DEJT, e a ré, por mandado de cumprimento da obrigação acima fixada.
Mineiros, 31 de março de 2016.

CLEBER MARTINS SALES

Juiz Titular da Vara do Trabalho de Mineiros

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