Você está na página 1de 4

Espécie-alvo

O peixe-espada, Trichiurus lepturus (Linnaeus,1758), pertencente à família


Trichiuridae, é um teleósteo demerso-pelágico anfídroma e de hábitos
cosmopolita, largamente distribuído em águas temperadas e tropicais da
plataforma continental. Predador voraz e oportunista, de hábito alimentar
predominantemente carnívoro (HAIMOVICI et al., 1996; MARTINS &
HAIMOVICI, 1997; CARVALHO-FILHO, 1999), que habita águas quentes e
temperadas em várias partes do mundo (NAKAMURA & PARIN, 1993).

Fonte: Nakamura; Parin, 1993.

Ocorrência no Brasil

Em território brasileiro ocorre do Amapá ao Rio Grande do Sul, com maior


abundância em águas quentes, águas costeiras até 350 metros de
profundidade. Sua ocorrência é mais frequente na Primavera, Verão e Outono,
apresentando maior abundância à salinidades de 33 a 35,5 e temperaturas
maiores de 15°C. Águas à temperaturas inferiores a 11°C são consideradas
barreiras oceanográficas para sua distribuição, relacionando-se à tolerância
fisiológica da espécie (Bellini, 1980; Nakatami et al., 1980; Baik & Park, 1986;
FUNDESPA,1994; Haimovici et al., 1994; Martins & Haimovici, 1997). O T.
leptuturs pode ser encontrado também em águas salobras (Riede, 2004) sobre
fundos lamacentos de zonas costeiras rasas e/ou estuários (Nakamura, 1995;
Martins e Haimovici, 1997).

Hábitos alimentares
Possui maior intensidade alimentar durante a noite, quando ascende
rapidamente com movimentos em forma de agulha, em uma posição
semivertical, às vezes pulando para fora da água (Martins et al., 2005). O T.
leptuturs, estão localizados na parte superior da cadeia alimentar marinha
(Barletta et al., 2012). Esses peixes possuem uma grande variedade de presas,
inclusive pelágicas e espécies bentônicas, como pequenos peixes,
zooplâncton, crustáceos e cefalópodes (Martins e Haimovici, 1997). A sua
ocorrência está relacionada com a presença de cardumes pelágicos, dos quais
se alimenta (Bellini, 1980; Matsuoka et al.,1993; Graça-Lopes et al., 1993;
Haimovici et al., 1994; Pucci, 2004; Muto et al., 2005; Martins et al., 2005). Sua
sobrevivência e abundância dependem da adaptabilidade a diversos ambientes
(MARTINS et al., 2005), consumindo o alimento que está mais disponível
(CHIOU et al., 2006).

Comportamento biológico
Esta espécie pode alternar entre ecossistemas estuarino e marinho, incluindo
áreas costeiras e oceânicas, de acordo ao estágio do seu ciclo de vida e à
demanda alimentar (Elliot et al., 2007), formam cardumes migrantes a partir de
50 cm de comprimento (Narasimham, 1976; Haimovici et al., 1994). É capaz de
realizar migração vertical, deslocando-se para o fundo durante o dia para
alimentação.

Importância como recurso pesqueiro

A espécie Trichiurus lepturus, segundo o relatório de estatística pesqueira do


IBAMA (2004), passa a constar nas listas de peixes explotados somente a
partir do Estado da Bahia, com considerável captura na pesca artesanal. Na
região sudeste-sul, é capturada em praticamente todas as artes de pesca,
principalmente na pesca artesanal do Rio de Janeiro e Santa Catarina. Em São
Paulo, apresenta maior participação na pesca comercial. Já no Rio Grande do
Sul, a espécie não consta nas estatísticas da região. O espada, Trichiurus
lepturus, vem sendo capturado por quase todas as modalidades de pesca
desenvolvidas na região sudeste-sul do Brasil, incluindo a pesca artesanal e
esportiva, sendo pouco avaliado em termos de produção por não ser
considerado espécie-alvo das pescarias. Nos relatórios de estatística pesqueira
do IBAMA (2003, 2004), o espada aparece com irrisórias capturas na costa do
Estado do Rio Grande do Sul. Entretanto, Haimovici & Palácios (1981)
apresentavam a espécie como a 5ª mais abundante na pesca de arrasto de
fundo da região, sendo totalmente descartada pela pesca comercial na região
sul, em prol de outras espécies de maior valor comercial. Entretanto sua
produção está entre as 10 espécies mais pescadas do mundo, principalmente
em águas orientais (Bartley, 2005), e segundo a FAO, (2005) é um importante
recurso pesqueiro. No Brasil, segundo o último Boletim Estatístico de Pesca e
Aquicultura em 2011, a produção pesqueira da espécie superou as 2,5 mil
toneladas (BRASIL, 2011). O peixe espada possui considerável importância
como recurso pesqueiro, servindo de alimento e como fonte de renda. Por
esses mesmos motivos, se faz necessário explorar esse recurso de formas
mais profundas como agregando valor a esse pescado, na forma de embutidos,
patês e técnicas de conservação e alteração das propriedades organolépticas.
O presente estudo pretende levantar mais dados visando constituir uma base
confiável sobre as formas mais propícias para agregar valor a esse produto.
Bibliografia

BAIK, C. J. & J. H. PARK. 1986. Relationship between oceanographic conditions and


catch of the hairtail, Trichiurus lepturus Linnaeus from the stow net. Bull. Fish. Res.
Dev. Agency, Pusan, 39:29-41.

BARLETTA, M., LUCENA, L.R.R., COSTA, M.F., BARBOSA-CINTRA, S.C.T.,


CYSNEIROS, F.J.A., 2012. The interaction rainfall vs. weight as determinant of total
mercury concentration in fish from a tropical estuary. Environ. Pollut. 167, 1–6.
http://dx.doi.org/10.1016/j.envpol.2012.03.033.

BARTLEY, D. M. 2005. Status of the world’s fishery genetic resources. International


Workshop The role of biotechnologyfor tha characterisation and conservation of crop,
forestry, animal and fishery genetic resources. Vila Gualino, Turin, Italy. 5-7
March,2005.

BELLINI, A. T. 1980. Biologia e bionomia de Trichiurus lepturus (Linnaeus, 1758)


(Trichiuridae, Perciformes, Teleostei), da costa brasileira, entre Cabo Frio
(23o00’S) e Torres (29o21’S). Dissertação de mestrado. Universidade de São
Paulo, Instituto Oceanográfico. 97p.

BRASIL. Boletim Estatístico da Pesca e Aquicultura 2011. Ministério da Pesca e


aquicultura - MPA, Brasília, DF, 60p. 2011.

CARVALHO-FILHO, A. 1999. Peixes: costa brasileira. São Paulo. Ed. Melro Ltda,
320p.

CHIIOU WD, Chen CY, Wang CM, Chen CT. 2006. Food and feeding habits of
ribbonfish Trichiurus lepturus in coastal waters of south-western Taiwan. Fisheries
Science, 72: 373-381.
ELLIOT, M., A. K. WHITFIELD, I. C. POTTER, S. J. M. BLABER, D. P. CYRUS, F. G.
NORDLIE & T. D. HARRISON. 2007. The guild approach to categorizing estuarine fish
assemblages: a global review. Fish and Fisheries, 8: 241-268.

FAO (Food and Agricultural Organization). 2005. Available from:


http://www.fao.org/figis/servlet/ (May 10, 2005 and June 13, 2009).

FUNDESPA, 1994. Fundação de Estudos e Pesquisas Aquáticas. Diagnóstico


ambiental oceânico e costeiro das regiões sudeste e sul do Brasil. 5 – Oceanografia
Biológica: Nécton. S. Paulo, FUNDESPA. vol. V.

GRAÇA-LOPES, R. da; E. S. RODRIGUES; A. PUZZi; B. PITTA; J. A. P. COELHO &


M. L. de FREITAS. 1993. Levantamento ictiofaunístico em um ponto fixo na Baía de
Santos, Estado de São Paulo, Brasil. Bolm. Inst. Pesca, 20:7-20.

HAIMOVICI, M. & R. P. PALACIOS. 1981. Observações sobre seleção a bordo e


rejeição na pesca de arrasto de fundo no Rio Grande do Sul.In: Anais do II Congresso
Brasileiro de Engenharia de Pesca, Recife, PE, pp.401-413.

HAIMOVICI, M.; A. S. MARTINS; J. L. DE FIGUEIREDO & P. C. VIEIRA. 1994.


Demersal bony fish of the outer shelf and upper slope of the southern Brazil subtropical
convergence ecosystem. Mar. Ecol. Progr. Ser., 108(1/2):59-77.
HAIMOVICI, M., A.S. MARTINS & P.C. VIEIRA. 1996. Distribuição e abundância de
peixes teleósteos demersais sobre a plataforma continental do sul do Brasil. Rev.
Brasil. Biol. 56: 27-50.

MARTINS, A. S., Haimovici, M., Palacios, R. 2005. Diet and Feeding of the cutlassfish
Trichiurus lepturus in the Subtropical Convergence Ecosystem of southern Brazil.
Journal of the Marine Biological Association of the United Kingdom, 85: 1223-1229.

MARTINS, A.S. & M. HAIMOVICI. 1997. Distribution, abundance and biological


interactions of the cutlassfish Trichiurus lepturus in the southern Brazil subtropical
convergence ecosystem. Fish. Res. 30: 217-227.

MATSUOKA, M.; M. TOKIMURA; H. FUJITA & T. KITAJIMA. 1993. A consideration on


differences of catch compositions between daytime and nightime bottom trawl
samplings in the East China Sea. Bull. Seikai Natl. Fish. Res. Inst. Seisuiken Kenpo,
70:1-9.

MUTO, E. Y.; M. H. C. SILVA; G. R. VERA; S. S. M. LEITE; D. G. NAVARRO & C. L.


D. B. ROSSI-WONGTSCHOWSKI. 2005. Alimentação e relações tróficas de peixes
demersais da plataforma continental externa e talude superior da região sudeste-sul
do Brasil. Instituto Oceanográfico – USP – Série Documentos REVIZEE: Score Sul.
São Paulo. 64p.

NAKATAMI, K.; Y. MATSUURA & G. SATO. 1980. Estudo do ciclo de vida do peixe-
espada trichiurus lepturus. bolm. inst. oceanogr. são paulo, 29(2):255-259.

NAKAMURA, I. & PARIN, N.V., 1993. FAO species catalogue. Vol. 15. Snake
mackerels and cutlass¢shes of the world (Families Gempylidae and Trichiuridae). An
annotated and illustrated catalogue of the snake mackerels, snoeks, escolars, gem
¢shes, sack¢shes, domine, oil¢sh, cutlass- ¢shes, scabbard¢shes, hairtails, and frost
¢shes known to date. FAO Fisheries Synopsis, no. 125, vol. 15. Rome: FAO.

NAKAMURA, I., 1995. Trichiuridae. Peces sables, cintillas. In: Fischer, W., Krupp, F.,
Schneider, W., Sommer, C., Carpenter, K.E., Niem, V. (Eds.), Guia FAO Para
Identification De Especies Para Lo Fines De La Pesca. Pacifico Centro-Oriental, Vol. 3.
FAO, Rome, pp. 1638–1642.

NARASIMHAM, K. A. 1976. Age and growth of ribbonfish Trichiurus lepturus Linnaeus.


Indian J. Fish, 23(1-2):174-182.

PUCCI, M. C. J. 2004. Dieta e partilha alimentar de seis espécies de peixes da


plataforma continental sudeste do Brasil. Dissertação de mestrado. Universidade de
São Paulo.Instituto Oceanográfico. 137p.

RIEDE, K., 2004. Global Register of Migratory Species: From Global to Regional
Scales: Final Report of the R&D-Projekt 808 05 081, Federal Agency for Nature
Conservation, Bonn, Germany. Vol. 329, ISBN: 3784338453

Você também pode gostar