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Direito Constitucional II Prof.

Paulo Otero

 A história constitucional portuguesa começou em 1820 com a Revolução liberal, que trouxe
para Portugal os efeitos da Revolução Francesa.

 As principais fontes de Direito Constitucional foram: as leis fundamentais do Reino, as


normas consuetudinárias, os forais, os assentos das Cortes, os atos unilaterais do Rei e os atos
de natureza contratual.

Antes de 1820 já existia uma Constituição com normas constitucionais. A Constituição que se
constrói ao longo do tempo chama-se Constituição Histórica.

1º momento (1128-1820): Proclamação da Independência de Portugal;

 Afirmação da individualidade própria (Condado Portucalense); o rei português tinha uma


relação de vassalagem com o rei de Leão e Castela;

 A relação de subordinação de Portugal ao Papa era preocupante – Respublica – mas em 1179 o


Papa reconhece a independência portuguesa. Este é o passaporte pelo qual Portugal se afirma
como um Estado. O reconhecimento é feito dentro de um esquem geral político de Portugal a
Roma e ao Papa.

2º momento – O Reinado de D. Afonso II (1211-1223): A sua importância está relacionada


com a construção do Estado – D. Afonso II emana um pacote legislativo, que são leis gerais
para todo o Reino (objeto de centralização do poder);

 Intervenção do poder central (quem tinha terras tinha títulos válidos);

 O dever do Estado de indemnização por danos nasce pela mão de D. Afonso II.

3º momento (1245): Deposição de D. Sancho II. Quem o afasta é o Papa, que é mediador entre
o Rei e Deus.

 Santo Agostinho fundamenta que o Rei não garante a justiça, e quem passa a reger o Reino é o
Conde de Bolonha, Afonso III, que assume o compromisso de Paris de 1245.

4º momento (1254): D. Afonso III convoca as Cortes de Leiria. São as primeiras Cortes em que
o povo participa.

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5º momento (1297): Celebração do Tratado de Alcanises. É o Tratado que define as fronteiras
de Portugal Continetal e ainda hoje está na origem do art.5º CRP.

6º momento (1385): Celebração das Cortes de Coimbra;

 Morte e sucessão de D. Fernando: as Cortes entendem que o herdeiro deve ser afastado do
Reino e este é atribuído ao Mestre de Avis. O rei é rei por mediação popular, nomeadamente por
legitimação da dinastia de Avis, com base nas Cortes.

7º momento (1415): Conquista de Ceuta;

 Expansão ultramarina: todas as linhas constitucionais foram determinadas pelas opções


ultramarinas, em África, no Golfo da Guiné, na Índia e no Brasil.

8º momento (1428): Levanta-se a questão da sucessão de D. Duarte, que ao morrer deixou


como herdeiro um filho menor. Gera-se uma guerra civil com base nesta questão.

9º momento (1536): Estabelecimento da Inquisição em Portugal;

10º momento (1580): Sucessão do Cardeal D. Henrique e as Cortes de Tomar. Estas


escolheram Filipe de Espanha para suceder ao Cardeal.

11º momento (1640): Restauração das Cortes de Lisboa de 1641. As Cortes têm o poder de
afastar o monarca se ele for tirano.

12º momento (1667): D. Afonso VI é deposto – passa a ser legítimo um caso de incapacidade
da lei.

13º momento (1778): Reinado de D. Maria I – o Novo Código opõe duas versões: a primeira
remonta a Pascoal de Melo Pereira, e a outra, não tão absoluta, foi imposta pela Revolução
Francesa.

14º momento (1804): 1ª invasão francesa. A família real desloca-se para o Brasil;

 O rei vai até ao Novo Mundo, e em 1820 (data da revolução liberal) o povo exigia dessa forma
o regresso do Rei para impedir que o país fosse ocupado pelos ingleses, e voltasse a ser uma
colónia. A Revolução tem como objetivo a instauração de uma ordem constitucional liberal,
com a existência de um texto formal/constituição, que deles resultariam as Cortes Constituíntes.

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Constituição de 1822

Bases da constituição:

 Afirmação do princípio de separação de poderes; igualdade; propriedade; segurança; Rei passa


a ter legitimidade requerida pelas Cortes.

Sistema de Governo Parlamentar de Assembleia – Parlamento unicameral – Rei subordinado às


Cortes – Monarca não tinha o poder de dissolver as Cortes

Art. 29º - o Governo português é monarquia constitucional, com o exercício dos três poderes.

Art. 26º - a Nação pode ter a soberania, mas esta só pode ser exercida pelos seus representantes.
Estes representantes são – art.32º - as Cortes e os Deputados, tendo eles poder de soberania
quase equiparado ao poder constituinte, e por isso ninguém tem de fiscalizar a soberania (juízes
não fiscalizam a constitucionalidade das leis).

Art. 30º - o poder legislativo assenta no Rei e nas Cortes, e o executivo no Rei e nos Secretários
de Estado. O poder judicial está nos Tribunais. Segundo este artigo, todos têm igual autonomia
e independência.

Art. 31º/ art. 121º - Tal como as Cortes, o Rei é soberano e representante da Nação. As Cortes
são-o porque são eleitas pelo povo, e o Rei é-o porque é eleito na Constituição, pela Nação.

 Uma lei, aprovada pelas Cortes e sancionada pelo Rei, tem legitimidade a que ninguém se
pode opôr, porque ela é a soma da vontade dos dois representantes soberanos.

 Lógica de Rousseau – a lei é soberana e ninguém se pode opôr a ela.

Art. 110º - O Rei pode suspender a sanção (participar na elaboração da lei e não apenas
promulgá-la, ou seja, dar legitimidade ao acto legislativo) e devolver a lei às Cortes, expondo as
razões de discordância. As Cortes podem atender às suas razões e alterá-la, ou podem enviar de
novo a sanção, tendo o Rei de a tornar lei – veto apenas suspensivo do Rei.

Art. 114º - Se o Rei não sancionar, finge-se que sancionou, e se o Rei não assinar, as Cortes
assinam por ele (aquele que detiver o poder executivo) e mandam publicar a lei em nome do
Rei. Novamente, lógica de Rousseau – não há limites à vontade das Cortes. No entanto, a
soberania assenta no poder de ambos os representantes, apenas para adquirirem maior força
legislativa, porque dois orgãos são mais fortes que um.

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 Sistema de separação de poderes desiquilibrado, com primazia da lei, sendo que dois dos três
poderes são soberanos e declarados representantes da Nação, e prevalecendo sobre o poder
judicial, sendo por isso que não estão sujeitos a fiscalização.

 Todos estes motivos levaram à queda da Constituição de 1822, e a uma guerra civil sobre ela.

1823 - Vila Francada:

 É prometida a criação de uma nova constituição, mas só é elaborada em 1826 (Carta


Constitucional) que assenta num compromisso (Polémica de Sucessão). O compromisso assenta
em D. Pedro abdicar do trono para D. Maria II, que casa com o tio, mas antes de abdicar desta
outorga a Carta Constitucional.

Carta Constitucional de 1826

 Esta tem por base o pensamento de Benjamin Constant (poder moderador). Foi oferecida pelo
Rei, que passou de rei absoluto a rei constituinte. Influenciou a nossa CRP porque o poder
estava essencialmente no governante, permitindo que esta vigorasse tanto tempo (76 anos,
porque retirou-se poder às Cortes e entregou-se ao poder executivo e ao Chefe de Estado, tal
como na Constituição de 1933).

 O Rei tem poder moderador, e a Constituição é a expressão da sua vontade. O poder executivo
assenta nele e nos seus ministros, enquanto que o legislativo está nas Cortes, numa estrutura
bicameral. Não há fiscalização das leis pelos Tribunais e o Rei pode livremente dissolver as
Cortes.

 Na sua constituição não oficial, o Rei passou a eleger um Presidente do Ministério (hoje é o
Primeiro-Ministro) para dialogar com ele e ajudar nas deliberações (influência de Inglaterra).
Este presidente passou a ter a iniciativa das decisões, escondendo-se o Rei atrás dele. Ele não
tinha o poder supremo porque esse pertencia ao Rei, mas a política ativa estava nas suas mãos e
como consequência, no Governo, porque o Presidente do Ministério era presidente deste. Tal
não estava estipulado na Constituição escrita.

 Esta situação identifica-se com a de hoje, em que o Presidente da República é chefe de


Estado, mas é o Primeiro Ministro que faz a política ativa, ficando o primeiro resguardado
nele, numa postura política ligeiramente mais passiva.

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Art. 72º - a pessoa do Rei é inviolável e sagrada, não podendo por isso ser responsabilizada de
alguma forma;

 Existe responsabilidade ministrial – responsabilidade de tipo política, em que os ministros


do Governo/secretários de Estado podem ser demitidos ou podem demitirem-se eles próprios,
perante o orgão que os fiscaliza politicamente.

No caso da Carta, o Presidente do Ministério e o restante Governo é que são responsabilizados,


e nunca o Rei. O mesmo acontece hoje em dia com o Presidente da República (a não ser que lhe
seja constituído um processo-crime), sendo o Primeiro Ministro e o restante Governo a arcar
com a responsabilidade. O Primeiro-Ministro não pode ser demitido individualmente, tendo o
Presidente da República de derrubar todo o Governo, ou não derrubar ninguém.

1828: D. Miguel regressa da Aústria; abdicação de D. Pedro; D. Miguel proclama-se Rei (torna-
se rei absoluto entre 1828 e 1834, havendo um Período Absolutista).

1832: começa a Guerra Civil, que termina com a Conveção de Évora Monte. D. Pedro é
proclamado regente em nome da filha, D. Maria II.

1836: revolução setembrista, encabeçada pelos irmãos Passos Manuel, que vai ditar o
restabelecimento de vigência da Constituição de 1822. Esta era flexível, pois podia ser alterada
por meio de decreto do legislador.

Constituição de 1838

 Compromisso entre a Constituição de 1822 e a C. Constitucional de 1826 (havia quem


quisesse dar mais poder às Cortes, e quem quisesse dar mais poder ao Rei).

 Concretizava-se na forma de fazer a Constituição: as Cortes decretam-na e a Raínha aceita-a.


Foi assim uma Constituição pactícia, pois assentou num pacto entre os dois.

Art. 9º - “a lei é que fixa os preceitos da liberdade; Art. 32º - “as garantias individuais podem
ser suspensas pelo legislador em caso de rebelião ou invasão de um inimigo” (sendo que a
rebelião era decidida pelas Cortes e pelo Rei); A lei tinha primazia sobre a liberdade.

Art. 33º - “a soberania está na Nação”;

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Art. 34º - O Rei perde o poder moderador (sinal de compromisso) mas tem o poder de fiscalizar
as Cortes, que eram o poder legislativo (vetar a lei, sendo este veto absoluto), o poder executivo
e judiciário (juízes e jurados). O veto era absoluto porque não existia norma na Constituição que
previsse como o Parlamento podia sancionar o veto do Monarca.

Art. 36º - existem duas Câmaras, as quais o Rei não pode controlar; Art. 71º - as Câmaras são
decretadas por eleição direita; Art. 83º - o Rei não pode impedir esta eleição – limites impostos
ao Rei.

Arts. 81º e 82º - o Rei não tem poder moderador, mas o essencial das suas competências é
mantido; Art. 83º - o Rei não pode impedir a reunião das Cortes, mas pode dissolvê-las se ficar
insatisfeito.

Art. 85º - o Rei não pode ser responsabilizado; Art. 115º - os actos do Rei são sempre
referendados pelos Secretários de Estado e Ministros (de forma a poderem ser eles
responsabilizados); Art. 116º - os Secretários de Estado e Ministros são principalmente
responsáveis pelos actos do Rei – Responsabilidade ministrial.

Art. 137º - primeira vez que o Governo pode praticar atos legislativos urgentes; isto influenciou
a nossa CRP, na medida em que o Governo dispõe de certas competências legislativas
(art.198ºCRP).

 1842: Golpe de Costa Cabral – resposta em vigor à Carta Constitucional, na sua 3ªa vigência –
fazendo revisões a esta para diminuir o peso monárquico.

Constituição de 1911

 Primeira Constituição republicana; teve um curto tempo de elaboração e foi fortemente


influenciada pela Constituição brasileira, com uma estrutura bicameral.

 Tem como princípio fundamental a primazia da lei. Aboliu a monarquia e colocou o


Congresso (Parlamento) no centro do poder, sendo que este ficava encarregue dos direitos
fundamentais (ficam nas mãos do legislador, ao abrigo do seu art. 3º/5).

 Reconhece a liberdade de culto, mas esta pode ser restringida se for contra os princípios do
direito público português, bem como outros direitos, que acabam por não existir
verdadeiramente, pois a lei pode sempre minimizá-los ou aliená-los, de forma constitucional:

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Art. 3º/8 – reconhece que os cidadãos se possam reunir para culto, mas dentro dos preceitos que
a lei fixará; Art. 3º/13 – a liberdade de expressão do pensamento é completamente livre, mas o
abuso desta é punível pela forma que a lei fixar; Art. 3º/25 –há direito de propriedade, salvo
limitações estabelecidas; Art. 3º/12 – são proibídos os jesuítas, sem restrições ou limitações.

Art. 63º - influência pelo poder de fiscalização no Brasil, que se influenciou nos EUA. Aparece
pela primeira vez a fiscalização da constitucionalidade pelos Tribunais (presente hoje no
art.204ºCRP).

Art. 36º - o poder executivo é exercido pelo Presidente da República e Ministros; Art. 38º - o
Presidente é eleito pelo Congresso e não pelo povo – eleição indireta. Este acaba por ter menos
legitimidade e força, porque está mais afastado do povo: quanto mais próximo do povo, mais
legitimidade tem o orgão. Dá assim maior poder ao Congresso, sendo que o Presidente depende
dele.

Art. 26º/19 – o Congresso elege o Presidente; Art. 26º/20 – o Congresso pode destituir o
Presidente; Art. 26º/24 – o Congresso faz as leis sozinho, o Governo faz regulamentos e
decretos sobre estas, mas o Congresso tem de sancioná-las na mesma.

Art. 53º - o Presidente nomeia um Presidente de Ministério – algo que acontecia desde 1826,
mas que não constava da Constituição oficial até à data, e que só apareceu anteriormente na Lei
de 1855, uma lei apenas ordinária.

 Esta constituição teve 2 períodos políticos: a ditadura de Pimenta de Castro (1915) e o Sistema
Presidencialista de Sidónio Pais (1917). Ele inverteu toda a Constitução, deu eleição direta ao
Presidente, e colocou o poder neste. Foi assassinado mais tarde, e a Constituição de 1911 voltou
a ser executada como antes.

 Em 1926 cai a primeira República, com um movimento militar.

Constituição de 1933

 Estado interventor de Salazar e Marcelo Caetano. Foi aprovada por referendo e ocupa-se de
preocupações com a família, trabalho e intervenção do Estado.

 As eleições eram feitas através de plebiscito, ato que servia apenas para estas ganharem
legitimidade. Eram direitas e com apenas um partido único.

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 Esta ditadura consagrava o corporativismo e um modelo de Estado de Direito. A sua
constituição foi alvo de diversas revisões constitucionais.

Art. 8º - cláusula aberta, que tem como objetivo a limitação dos direitos funndamentais (tal
como acontecia com a de 1911).

Art. 72º - o Presidente é eleito diretamente pela Nação nesta constituição, a única onde o chefe
de Estado era eleito assim, porque Salazar o decidiu.

Art. 81º/6 – o Presidente tem competência para dissolver a Assembleia Nacional (o mesmo
acontece hoje, ao abrigo do art. 133ºCRP).

Art. 122º - os Tribunais não podem aplicar leis ou diplomas que infrinjam o disposto na
constituição.

Art. 116º - se um crime fosse contra a segurança geral deveria existir um Tribunal específico
para tal, o Tribunal Plenário. Hoje, o art. 209º/4 proíbe a existência de quaisquer Tribunais
especifícos, à exceção do disposto sobre os tribunais militares.

 A constituição não-oficial afastava-se desta, sendo que esta estava feita apenas para o líder do
regime dominar o poder político, e manter as aparências de um Estado de Direito, enquanto na
prática aplicava uma ditadura.

Génese da Constituição de 1976

 A Constituição de 1933 manteve-se em vigor (foi afastada pela junta de salvação nacional) e
em 1975 é eleita a Assembleia Constituinte. A constituição de 1976 gerou conflitos, por um
lado pela legitimidade democrática e revolucionária, e por outro pelo conflito entre legitimidade
militar e partidária.

 Entre ’74 e ’76 existiram 2 Presidentes da República e seis Governos Provisórios, sendo o
Governo do 25 de abril um governo moderador.

6º Governo Provisório:

 Período revolucionário/ de legitimidade revolucionária – poder Constituinte está nas mãos dos
partidos e dos militantes.

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 Os militares compuseram parte do modelo que devia ser acolhido pela Constituição de ’76 –
realizaram as eleições de 1975, elaboraram o conteúdo da própria Constituição e colocaram na
própria constituição um orgão seu: o Conselho Militar.

 De 25 de novembro a 5 de março de 1975 – Verão Quente – há um período de coletivização.


Deu-se o contragolpe, as Forças Armadas celebraram um segundo acordo, o Presidente da
República foi eleito por sufrágio indireto e é aceite que os candidatos a este sejam militares.

Constituição de 1976:

 Teve 7 revisões, sendo que a de ’82 e a de ’89 tiveram como objetivo a desmarxização da
Constituição, uma no plano económico e outra no plano político.

 Outras revisões se deram, por preocupações àcerca do pressuposto da UE: em ’82 desaparece
o Conselho da Revolução, que se transforma no Conselho de Estado e Tribunal Constitucional.
Há uma preocupação intervencional.

Elementos caracterizadores

 Todas as constituições expressam uma ordem de valores (Unidade do Sistema de Valores);

 Há uma ideia de Direito – Constituição retrata um Estado de Direitos Humanos;

 Projeto político – Estado de direito democrático;

 Inserção externa no Estado;

 Portugal é um Estado soberano, de soberania internacionalizada e europeizada;

 Portugal é um Estado Unitário, descentralizado;

 A identidade impõe um dever de agir na coletividade.

Princípio de Interpretação do Direito Ordinário

 Deve-se sempre preferir o sentido que vai de acordo com as normas da Constituição. As
normas da Constituição são tendencialmente conflituosas, devido às grandes exigências
ideológicas existentes.

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Hierarquia de Valores

 Uns valores têm prevalência e superioridade sobre os outros. Às vezes, os valores têm
pariedade hierárquica – um deve ceder perante o outro - como é o caso da liberdade de
informação, que deve ceder perante a reserva da intimidade da vida privada.

 A ordem de valores de uma Constituição nem sempre é pacífica. Mesmo os valores que são
prevalecentes podem justificar posições jurídicas antagónicas e limitação, por fora, desse direito
relativamente a outras pessoas, como é o caso do direito à vida – pode ser legítimo o homícido,
quando em legítima defesa, de acordo com o príncipio da proporcionalidade.

 Quem tem a últimma palavra na revelação de valores constitucionais é o Tribunal


Constitucional.

Diferenças entre a Constituição de ’76 e a atual

 Previamente, no art. 2º, definia-se o Estado democrático e em transição para o socialismo,


afirmando que a República tinha por objetivo assegurar a transmissão para este, mediante a
crianção de condições para assegurar o exercício democrático do poder pelas classes
trabalhadoras.

 Atualmente, a República visa “a realização da democracia económica, social e cultural, e o


aprofundamento da democracia participativa”.

 A importância do acesso no ensino e a sua abertura a toda a gente eram justificadas como
formas de superar a sua função conservadora da divisão social do trabalho. Atualmente, a
garantia de um ensino tendencialmente gratuito e da eliminação do analfabetismo constituem
preceitos constitucionais de extrema importância.

 Entre 1976 e 2017, a Constituição evolui tanto a nível do costume contra legem, como a nível
da projeção do tempo sobre as normas da Constituição e da transição constitucional (1º
princípio socialista).

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Estado de Direito Democrático

 Subordinado ao Direito, que ele cria e que o heterovincula. É também um Estado social,
preocupado com a justiça social. É um Estado de Direitos Humanos. A revisão de ’82 colocou
este Estado de Direito Democrático na CRP.

Bases do Estado de D. Democrático – art.2ºCRP

 Soberania popular;  pluralismo de expressão e de organização política;  respeito e garantia


dos direitos sociais;  separação e interdependência de poderes – realização da democracia
económica e social e aprofundamento da democracia participativa.

Pluralismo

 Modelo de democracia vigente alicerça-se na tolerância, igualdade de oportunidades, consenso


dos intervenientes (há um consenso quanto a estas duas regras mesmo que não exista no resto).

Democracia popular – ideia da maioria (Rousseau e a conceção do Direito positivista, art.10º):

 Lei é a expressão da vontade geral e do povo;

 Os Tribunais devem aplicar a lei para satisfazer a vontade do povo;

 Da lei extraem-se dois princípios: reserva da lei (há matérias que só podem ser feitas pelo
poder legislativo) e preferência da lei (num conflito entre a lei e outras fontes de direito,
prevalece sempre a lei).

Como limites ao pluralismo, temos:

 Há uma cultura de direitos fundamentais que está sempre ao serviço da pessoa – dignidade da
pessoa humana, art. 1ºCRP.

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 Relativismo de valores - não posso impôr a minha ordem de valores, mas os outros devem
aceitá-la, como eu a deles (direito à objeção de consciência).

 Tolerância aos intolerantes – art. 46º/4 CRP.

Democracia assente na inorgânica da Nação:

 Hegel e o espírito do povo – vontade nacional com centro de referência na Nação – conceção
do costume (Escola de Direito);

 Art. 78º/2c) CRP – soberania da Nação (identidade cultural comum);

 Costume é fonte de direito ordinário e constitucional. Há aqui um poder constituinte que


escapa à lei, mas impõe-se a ela;

 Fundamentação na revolução judaico-cristã – estado laico tolera feriados religiosos porque é o


costume da Nação;

 Podem existir conflitos entre a vontade popular e a vontade nacional. Exemplo: casamento
entre pessoas do mesmo sexo e entre pessoas do sexo oposto.

Pluralismo está presente nos arts. 235º/1; 2º CRP e no Preâmbulo

Jurisdicidade

 Estado está subordinado ao Direito;  consciência jurídica geral;  presume-se que o direito
escrito seja justo, mas admite-se que esteja errado;

 Os particulares nem sempre têm direito de resistência ao direito inválido, ou injusto. Têm nos
seguintes casos:

Art. 103º/2 – impostos;

Art. 21º - direito de resistência;

Art. 41/6º - objeção de consciência;

Art. 16º - direito a não praticar/colaborar no acto injusto.

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 A administração pública deve aplicar este direito quando há uma violação das normas
fundamentais presentes na consciência jurídica geral, quando estão em causa leis dotadas de
aplicação direta (art.18ºCRP), e nos casos em que a constituição não tem presente essa lei, em
que ela é inexistente.

Corolários da Jurisdicidade

 reversibilidade das decisões;  proteção da confiança e tutela;  todo o poder político está
subordinado aos princípios do art. 266º/2 CRP;

 ideia de tutela jurisdicional efetiva (há sempre um meio de acesso aos tribunais) – a
administração pública pode cometer erros ou actos ilegais, e os Tribunais podem fiscalizar os
actos dela para que estes não tenham efeito. A administração executa as decisões dos Tribunais,
aceitando submeter-se à vontade dos Tribunais e do legislador.

Bem-estar

 Justiça social, igualdade material, ideia de solidariedade;

 Raíz última está na dignidade humana – cláusula de Estado de bem-estar;

 Estado Zorro/Robin dos Bosques – tira aos que têm mais para dar aos que têm menos;

 Garante o bem-estar através de três destinatários – legislador, administração pública e


Tribunais;

 Em matéria de bem-estar vigora um princípio de proibição de retrocesso (não é absoluto, mas


sim arbitrário); para o retrocesso tem de haver proporcionalidade e necessidade dele, e que este
não vá contra a dignidade humana – exemplo: já são atribuidos x’s dias de férias, não podem ser
diminuídos (não pode haver retrocesso).

Mecanismos de Controlo do Estado de D. Democrático

 Fiscalização da constitucionalidade e da legalidade das normas;

 Controlo pelos Tribunais do agir da Administração;

 Responsabilidade civil dos poderes políticos (devem dar indemnizações);

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 Responsabilidade criminal dos titulares de cargos políticos (estes não estão acima da lei,
devem ser responsabilizados pelos seus crimes);

 Auto-tutela privada: direito de resistência/ legítima defesa, desobediência coletiva perante leis
injustas... Exemplo: em meados do séc. XIX as pessoas não achavam justo existir escravos, mas
a lei obrigava (nos EUA); ou face ao poder tirano, que não serve o bem comum, o direito
material (art.7ºCRP) permite a insurreição, porque o povo é o titular do poder constituinte
(influência de Locke).

Forma de Estado e Caracterização de Portugal – soberania internacionalizada e


europeizada

 Portugal é um Estado soberano e independente – art. 1ºCRP. A independência funciona como


limite material de revisão da Constituição. Portugal não pode ser transformado num Estado
federado – a sua relação com a UE não permite, na sua forma, conduzir ao federalismo, sob
pena de existir uma mudança material da Constituição.

 Pluridimensional: é uma soberania com várias dimensões. É política, porque está ligada à
independência no plano externo, em termos legislativos, administrativos e judiciais. É por esse
motivo que existem orgãos de soberania, que são eles, à luz da CRP, o Presidente da República,
a Assembleia da República, o Governo e os Tribunais.

Internacionalizada, por três vias: porque Portugal é Estado- membro da ONU; porque Portugal
reconhece a existência de um direito internacional imperativo a todos os Estados (ius cogens); e
porque é um país que estabelece relações diplomáticas com outros países, celebra convenções
internacionais com outros Estados, e está por isso sujeito ao direito internacional convencional.
Tudo isto conduz a uma limitação, a uma perda de soberania plena, porque há matérias que
Portugal não pode decidir sem ter em conta os limites impostos pelo Direito Internacional.

 Europeizada: nós somos parte da UE por um acto de vontade, um acto que faz com que
hoje a UE crie normas que se aplicam, independentemente da vontade portuguesa. Há aquilo a
que se designa por uma heterovinculação de base autovinculativa – há consentimento de
Portugal a ficar vinculado. Art. 7º/ 5 e 6 CRP – para sair da UE Portugal tem de fazer uma
revisão constitucional, porque a integração do país na UE é hoje uma vinculação constitucional.
Art. 8º/4 CRP – cheque em branco, passado pela CRP à UE – em Portugal, o Direito da UE tem
a força jurídica que a UE lhe der.

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 Tem existido uma transferência do poder do Estado português para a UE. Essa transferência
fez-se em casos em que o Estado português já não tem o poder de decidir, e em casos em que
tem, mas apenas em colaboração com a UE ou subordinado a ela.

 A CRP resolveu criar uma cláusula do art. 7º e do art. 8º, de limite à transferência de poderes
para a UE, bem como uma cláusula que limita também a relevância do Direito da UE para
Portugal. A cláusula tem a ver com um Estado de Direito Democrático e neste sentido, o Direito
da UE vigora em Portugal se não ultrapassar os valores fundamentais deste.

Caracterização do Estado Português: unitário e descentralizado

Unitário

 Estado só tem o poder político/este está centralizado no Estado, daí que a soberania seja una –
art.3º/1 CRP.

 Art. 6º CRP – Estado é o titular da competência das competências, pois é ele que tem
competência para definir as competências de todas as outras entidades públicas, bem como as
dele próprio. Existe ainda uma competência residual a favor do Estado – tudo o que não for
definido por outras entidades, é definido pelo Estado.

Esta é garantida através:

 Só o Estado pode elaborar e modificar a CRP – poder constituinte formal;

A unidade do Estado é o limite da revisão constitucional:

 O Estado tem orgãos de soberania para todo o território;

 Princípio da prevalência do Direito do Estado – em caso de conflito com direito das entidades
infraestaduais, vence o Estado, através do seu Direito;

 Mecanismos de fiscalização da constitucionalidade e da modalidade – os Tribunais são


tribunais do Estado;

 O Estado tem sempre mecanismos de fiscalização sobre as restantes entidades públicas.

Descentralizado

 Autonomia regional – descentralização das Regiões Autónomas;

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Autonomia local – autarquias locais;

 Descentralização da restante administração pública.

Estes três tópicos dão-nos a ideia de pluralismo, dentro da unidade do Estado – unidade do
pluralismo.

Razões para a existência da unidade do Estado

O Estado tem interesses gerais de toda a comunidade, que originam que:

 Exista uma reserva de poderes a favor do Estado – há matérias nas quais só o Estado pode
decidir (ex: tudo aquilo que é competência dos orgãos de soberania);

 Exista um princípio da prevalência do Direito do Estado – como tem interesses de toda a


comunidade, a sua vontade jurídica prevalece sobre a vontade jurídica de outras entidades
(também porque o Estado é o autor principal do ato jurídico formal, a CRP);

 Exista um príncipio da supletividade do Direito do Estado – nos casos em que não há


norma proveniente de uma entidade infraestadual, o direito que vai regular essa norma é
o Direito do Estado. O mesmo acontece com lacunas, ilegalidades ou
inconstitucionalidades das normas de Direito infraestadual. O Direito do Estado preenche
estes casos, enquanto as entidades infraestaduais não disciplinarem esta matéria, e esta afastará
a aplicação do direito do Estado quando assim for disciplinada.

Só pode existir quando não há primado do Direito do Estado, porque as normas de


primado não são normas supletivas, mas sim injuntivas – não estão na disponibilidade das
entidades infraestaduais.

Estrutura da Constituição – natureza compromissória

Compromissos da CRP a quatro níveis

 Histórico-genético (génese da CRP): compromisso entre militares e partidos políticos;


compromisso entre partidos polítcos (os que estiveram na génese da CRP e os que não).

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 Normativo (internos): compromisso político-partidário – há normas da CRP que são
concorrentes (conflituantes) – as suas matérias têm dois sentidos distintos, devido a três
mecanismos de aplicação das normas. Estes vêem-se em casos que as normas são de:

- aplicação simultânea – uma não excluí a aplicação da outra, como é exemplo a autonomia
das Regiões Autónomas, que não excluí a norma do princípio de unidade do Estado;

- aplicação alternativa – há uma concorrência em que a solução não é complementar, mas


eliminatória, ou é uma ou outra – é exemplo desta uma decisão sob determinada matéria, em
que ou se faz um referendo nacional sob ela ou é decidida, sem referendo, pela Assembleia da
República;

- aplicação sucessiva – há uma concorrência de norma que é aplicada ou resolvida por uma
aplicação deferida no tempo – como é exemplo a legítima defesa ser exequível, mas só se em
tempo útil e eficaz, não conseguirmos aceder às autoridades públicas.

Temos ainda compromissos normativos externos, entre fontes constitucionais (podem existir
compromissos entre a CRP instrumental, o D. Internacional e o D. da UE).

 Na aplicação: compromisso que pressupõe ponderação entre normas e valores de peso igual.
Quando há hierarquia de normas, esta prevalece.

 Político-procedimentais: compromissos que têm a ver com a vivència da CRP. Exemplos: a


alteração da CRP só poder ser feita por maioria de dois terços de deputados (para haver maioria
tem de haver compromisso); ou art. 268º/6 CRP– há certas leis ordinárias que só podem ser
aprovadas por maioria de dois terços.

Estrutura da CRP – Constituição Aberta

Reflexo de uma sociedade aberta. A CRP está sempre aberta a novas ideias, interpretações e
soluções. É possível através da revisão ou alteração constitucional.

Abertura a normas constitucionais que não são apenas aquelas que foram designadas pelo
legislador constituinte – existência de cláusulas de constitucionalidade de outras fontes, como é

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exemplo o art. 8º/1CRP em que há uma cláusula aberta em matéria de D. Internacional, ou
o art. 16º/1, em que há uma cláusula aberta em matéria de D. fundamentais.

Abertura para a normatividade não-oficial, abertura política – à alternância política, à liberdade


conformadora do legislador e à participação dos cidadãos.

Há ainda uma abertura interpretativa, em que há uma pluralidade de intérpretes da CRP,
havendo uma estrutura: Tribunal Constitucional tem a última palavra, ainda que, acima deste, se
encontre a Assembleia da República, que emana uma interpretação autêntica, através de revisão
constitucional.

Complexidade das normas da CRP

 A CRP tem um sistema normativo que consagra regras e princípios – quanto maior for o
número de princípios, maior é o espaço de densificação desses para o legislador (é mais fácil
interpretar regras do que princípios).

Exemplo: só pode ser Presidente da República o cidadão português com mais de 35 anos – é
mais fácil de entender do que o princípio de que os orgãos do poder político devem agir com
respeito pela boa-fé.

 a CRP não inventou a linguagem, ela serve-se de vocábulos que já existiam, tornando-os
conceitos constitucionais. Os pré-constitucionais (existiam antes da CRP) como menor, prisão
preventiva, pessoa coletiva (...) geram conflitos porque por vezes o seu significado à data da
CRP é diferente do de hoje, será que é mantido o significado antigo ou pode o legislador
manipular este porque é D. ordinário?

 Se poderem ser manipulados, a leitura e interpretação da CRP passa a ser em conformidade


com a lei, em vez de ser a lei interpretada em conformidade com a Constituição.

 Existem conceitos que remetem para o futuro: art.4ºCRP – o cidadão português é aquele que
seja definido pela lei; conceitos que remetem para normas não-jurídicas ou extrajurídicas:
quando começa a vida humana? É uma experiência biomédica, e não um direito definido.

 Há uma abertura da CRP para a aplicação e interpretação – há normas da CRP que não são
exequíveis por si mesmas, necessitando da lei para serem executadas, isto sem esquecer que nos

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casos em que o legislador não as executa, a Administração Pública pode ser chamada a executá-
la.

 Esta abertura da CRP está limitada pelas seguintes situações:

- Limites à revisão constitucional;

- Fiscalização da constitucionalidade;

- Art. 8º/7 CRP – cláusula do respeito pelo princípio do Estado de Direito Democrático;

- Art. 46º/4 CRP – liberdade de associação;

- Direito penal político – sancionam-se casos de subversão da ordem constitucional que


conduzem a crime.

Identidade Transfigurada da Constituição

 A CRP tem, ao longo da sua vida, uma evolução, devido a revisões constitucionais e à ideia de
uma transição constitucional. Esta transição constitucional ocorre quando:

- Há mudança material, mas não há alteração formal (ex: em’76 éramos uma Nação de
soberania, hoje somos, mais heterovinculados ao Direito Internacional);

- Há um desenvolvimento constitucional – enunciado normativo sofre mudanças na sua


aplicação, mas fica igual no seu texto;

- A vivência aplicativa de cada norma altera-se com o tempo.

 Como fatores de transfiguração constitucional temos então o decurso do tempo (existe


sempre uma norma oficial da Constituição escrita e uma norma da Constituição real); o peso da
herança histórica do passado (Estado Novo); intervenção dos partidos políticos (conduzem a
uma alteração da relação entre os cidadãos e o Estado); integração europeia; existência de um
constitucionalismo transnacional (normas de “Ius Commune Constitucionale”).

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 Exemplos de transfiguração:

- Desatualização da Constituição económica – texto que está na CRP hoje nada tem a ver com o
texto que estava lá em ’76, devido a revisões. O texto que consta da CRP também pouco tem a
ver com a realidade, pois é o D. Internacional que dita as normas económicas;

- Subversão do sentido das eleições particulares – há um presidencialismo do Presidente da


República;

- Transformação de um Estado de partidos para um Estado de partido governamental – este


partido coloniza os restantes quando chega ao Governo;

- Alteração do poder constituinte – formalmente continua no Parlamento, mas é o Governo que


tem os impulsos de modificação da Constituição.

Identidade Relacional

 A CRP tem um passado, há constituições anteriores – há uma identidade familiar porque a


CRP relaciona-se com constituições anteriores e exteriores. Isto gera:

- Contágios – uma constituição contagia a outra;

- Familias constitucionais – têm entre si traços de identidade;

- Plágio constitucional – copiam-se (ex: Carta Constitucional portuguesa de 1826 é cópia da


Constituição brasileira de 1824).

 Situações de plágio têm limites:

- Interpretação teleológica – uma norma deve ser interpretada de acordo com os seus fins (a
mesma norma pode ter contextos diferentes);

- Há diferente sistemática onde se integram as normas; há uma essência de pré-compreensões;

- Há uma identidade que é exportada – constituição que serve de modelo a outras.

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 A CRP foi e é também influenciada por todas as constituições portuguesas anteriores –
influência interna.

 A CRP foi influenciada pela Constituição italiana de 1947, Constituição alemã de 1949,
Constituição francesa de 1958 e Constituição jugoslava de 1976 – influência externa.

Organização do Poder Político

Princípios da organização e funcionamento dos orgãos de soberania

 Princípio da separação de poderes – art.111ºCRP:

Este é inerente ao Estado de Direito Democrático (art.2ºCRP). Há uma pluralidade de estruturas


decisórias, núcleos essenciais da função que são atribuídos a certos orgãos (executivo ao
Governo, legislativo à Assembleia da República e judicial aos Tribunais), havendo
interdependência – influência de Montesquieu com “checks and balances” ou sistema de freios.
Esta está ligada à limitação de poderes, que garante a liberdade.

Benjamin Constant foi também influência, com o poder moderador político, que pertence ao
Presidente. Há ainda um poder moderador de conformação, que pertence aos Tribunais, e um
poder moderador de Garantia dos cidadãos, que pertence ao Provedor de Justiça.

 Princípio da equiordenação dos orgãos constitucionais:

Há igualdade entre orgãos, pariedade, não havendo hierarquia. Exceções disto: decisões dos
Tribunais tem prevalência sob decisões de outros (art. 205º/2CRP); atos de um orgão
condicionam atuação de outros; casos de hierarquia – Ministério Público obedece ao Procurador
Geral da República, ou chefias militares que estão subordinadas ao poder civil, ou caso das
Forças Armadas, que são fortemente hierarquizadas.

 Princípio da pluralidade de vinculações constitucionais:

Os orgãos relacionam-se entre si. Têm relações de:

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Solidariedade - confiança política e identidade de propósito são as mais intensas, como é o
caso da relação de confiança entre membros do Governo;

Cooperação – poderes exercidos através da boa vontade de dois ou mais orgãos e poderes
entrecruzados. Estes geram dever de não causar obstáculos aos restantes orgãos e são
essenciais ao funcionamento das instituições, sendo que há também limitações a estas – caso de
o Presidente e o Primeiro Ministro gravarem as suas reuniões, caso precisem comprovar o que
foi dito.

Respeito institucional – mínimo ético, que se alicerça num dever de convivência democrática,
civilidade institucional e não possui limites ou hierarquias.

 pós-eficácia dos relacionamentos: se já não é membro do Governo não tem de praticar a


solidariedade nem a cooperação, mas deve manter o respeito institucional por aqueles que o
exercem ou já exerceram.

 Princípio da continuidade dos serviços públicos:

Não podem existir zonas de vazio no exercício do poder, como por exemplo o Governo que
é demitido mantém as suas funções até o novo Primeiro Ministro vir. Só é possível a greve
nas suas funções a título profissional (não se é Presidente, ou Primeiro Ministro, ou Ministério
Público de profissão, estes não o podem fazer).

 Princípio da autoorganização interna:

Significa que cada orgão pode definir as regras internas da sua organização e
funcionamento- Todos os orgãos tem sempre uma competência – a Assembleia da República
tem para legislar, o Governo tem para definir a sua organização interna, etc..

 Princípio da responsabilidade:

Ela traduz a ideia de ter de prestar contas – prestar contas é o corolário do principio
democratico, porque este envolve controlo e responsabilidade. Não há democracia sem
mecanismos de responsabilidade do poder, podendo esta ter várias vertentes: responsabilidade
politica (concentrada se for só num orgão, como o Governo que é responsável perante AR, ou

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difusa, se for de todos perante a opinião pública); responsabilidade civil (quem causa um dano
deve ser responsabilizado por ele); responsabilidade criminal (quem comete um crime deve
ser responsabilizado por ele); responsabilidade disciplinária (manifestação de ter de prestar
contas -são responsáveis os deputados, os juízes, os funcionários públicos, mas não o
Presidente, nem o Governo, etc.); responsabilidade financeira (quem toma decisões que
envolvam a gestão de dinheiros públicos é responsavel pelo que lhes acontece); podem ser
praticadas várias delas em simultâneo.

Este princípio tem limites: os deputados não são responsáveis pelas condutas que adotem
no exercício das suas funções, tal como os juízes também não são responsáveis pelos atos
que praticam no âmbito das respetivas decisões.

 Princípio maioritário:

Numa democracia as decisões devem ser tomadas pela pluralidade. Acontecem duas
situações: o princípio maioritário não é critério de verdade, é de decisão; a força da maioria está
no respeito da minoria (porque a maioria tem sempre de respeitar a minoria, e porque a minoria
só obedece à maioria na expectativa de amanhã ser ela a ser ouvida).

Art.116ºCRP – para o orgão colegial funcionar ele tem de ter quorum – número mínimo
de membros para se poder dizer que o orgão está constituído e apto para funcionar,
exigindo metade mais um (presente no nº1 deste artigo); é diferente de maioria deliberativa,
em que em regra é a maioria simples (presente no nº2 deste artigo), mas há casos em que a CRP
exige maioria absoluta ou de dois terços; já o Conselho de Ministros não delibera, em regra por
maioria, mas sim por consenso.

 Principio da imodificabilidade da competência:

A competência não pode ser modificada, salvo habilitação para o efeito. A competência
definida pela CRP só pode ser modificada nos termos da própria CRP, mas pode todavia
existir competências implícitas e situações de delegação de poderes (ex: a Assembleia
autoriza o Governo a legislar sob matérias do art.165ºCRP) ou substituição (ex: perante um
impedimento, o Presidente não pode atuar nos seus poderes e é substituído pelo presidente da
Assembleia, e se for o Primeiro-Ministro no caso é o secretário de Estado que o substitui),
sendo que as substituições só podem ser feitas devido às situações presentes no art. 111º/2CRP.

 Principio da competência dispositiva:

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Quem tem uma competência pode sempre: escolher entre praticar ou não praticar o ato;
definir uma situação jurídica ou revogar (por revogação simples) uma situação já
definida/redefini-la. Tem pressupostos para o seu exercício, como é o caso de o Presidente
poder demitir o Governo mas só se ele colocar em causa o regular funcionamento do
ordenamento jurídico. Esses podem ser de facto (ex: invasão externa do país justifica o estado
de emergência neste) e de direito (ex: o Presidente só pode usar o veto jurídico se o Tribunal
Constitucional se tiver pronunciado pela inconstitucionalidade).

1. Há casos em que há atos de emanação obrigatória (ex: Presidente é obrigado a promulgar


as leis de revisão constitucional – art. 286º/3CRP);

2. Há outros em que quem decidiu já não pode revogar os atos que praticou, porque
praticado o ato deixa de poder ser revogado (ex: se o autor do ato perdeu a competência
sobre a matéria, no caso de a Assembleia ter autorizado o Governo a legislar e o Governo ter
elaborado um decreto-lei que depois de o ter emanado, não pode o Governo revogá-lo – para tal
tem de pedir uma nova autorização legislativa à Assembleia).

3. Há casos de atos cuja proibição de revogação decorre de serem atos que produziram
imediatamente os seus efeitos, esgotando-os, e por isso não se pode revogar o que já não
produz efeitos (ex: promulgação – depois de promulgar o diploma, o Presidente não pode
revogá-lo, porque já está a produzir efeitos).

4. Há atos que já caducaram e por isso não podem ser revogados (ex: uma lei de autorização
legislativa da Assembleia ao Governo, depois de ser usada, já não pode ser revogada pela
Assembleia porque já esgotou os seus efeitos). Os atos de graça também são, normalmente,
irrevogáveis (atos que favorecem o indivíduo e apelam à solidariedade, por exemplo a
diminuição da pena ou a libertação).

 Princípio do autocontrolo da validade:

Cada orgão tem o poder de fiscalizar a validade da sua atividade. Se entender que houve
invalidade, o orgão deve restabelecer a validade, daí a expressão “autocontrolo”. Ele deve
ajuizar se o que fez é válido e se vir que não foi deve apagar o que está incorreto.

O orgão incompetente tem sempre competência para revogar o ato que ele fez quando era
incompetente (ex: na competência exclusiva da Assembleia, o Governo decide fazer um
decreto-lei, violando a competência desta e ferido-se de inconstitucionalidade inorgânica; o
Governo, mesmo sem competência para o fazer, tem competência para elaborar um novo
decreto-lei que revogue este - através de revogação simples - repondo a constitucionalidade, e

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fazendo desaparecer o anterior decreto-lei; também o orgão competente tem competência pra
isso, no caso do exemplo seria a Assembleia).

Em princípio, os atos que repõem a validade têm eficácia retroativa podendo ser reposta, na
íntegra, a validade, mas discute-se quando o ato inválido conduzia a efeitos favoráveis, podendo
a retroatividade estar inválida (ex: decreto-lei do ano 2000 é hoje considerado pelo Governo
inválido – se tiver retroatividade, em 17 anos este já produziu efeitos favoráveis e já passou por
outras decisões legislativas, e por isso mantém-se, limita esta mesma retroatividade).

Princípios dos titulares dos orgãos de soberania

 Princípio da legitimidade democrática:

Tem fundamento no art. 108ºCRP. Refere-se à legitimidade quanto à designação, quanto à


fiscalização, e porque os titulares dos orgãos de soberania possuem responsabilidades.

 Princípio da renovação:

Não há titulares vitalícios, isto resulta do art.118ºCRP, e é uma consequência do princípio


republicano de renovação de cargos públicos. Há limitações na lei em relação à renovação
– art.123º/1 CRP – o Presidente só pode exercer 2 mandatos consecutivos, como os juízes do
Tribunal Constitucional só podem exercer um mandato, ao abrigo do art. 222º/3CRP. Esta
permite também, no seu art. 118º/2, que a lei fixe limites à renovação dos mandatos de titulares
de cargos executivos de natureza democrática.

 Principio da fidelidade à CRP:

Só está previsto no juramento do Presidente, no art.127º/3CRP, em que esta jura defender,


cumprir e fazer cumprir a CRP. Deve, no entanto, ser comum a todos os titulares de
cargos políticos – significa o dever de não violar a CRP, agir em conformidade com ela,
implementá-la e invocar em conformidade com ela – como diz o art. 51ºCRP. O dever de
fidelidade à CRP não significa ausência de moralismo, ou seja, cada titular pode ter convicções
ideológicas e nem por isso está proibido de ser titular, apenas não pode é, enquanto titular
desses, deixar de respeitar a CRP.

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 Principio da responsabilidade pessoal:

Corresponde à responsabilidade do titular do orgão. Pode ser política, criminal, civil,


disciplinar e financeira. A responsabilidade civil destaca-se, e no art. 22ºCRP consagra-se a
responsabilidade solidária, o que significa que aquele que está lesado tanto pode pedir a
indemnização à pessoa coletiva, como ao titular do orgão – quem exerce funções públicas é
pessoalmente responsável pelos seus atos e omissões. Na responsabilização da entidade, o
património que corresponde é o da entidade pública, de todos os cidadãos. Na do titular, o
património que corresponde é o do respetivo titular. Esta responsabilidade pessoal faz com que
os titulares pensem duas vezes antes de agir incorretamente.

 Principio da titularidade de situações funcionais:

Signfica que quem exerce funções públicas tem posições jurídicas ativas e passivas especiais –
pode ter mais privilegios, mais deveres, mais sujeições, etc.. Há limites, no entanto: o
princípio da proporcionalidade e da igualdade, porque as diferenças não podem ser
excessivas nem chocantes. Quando os titulares já não ocupam funções, existem deveres na
mesma (ex: manter o segredo de Estado); já os privilégios, mantêm-se aqueles que têm como
propósito a garantia da república, estando os restantes excluídos, à luz do princípio republicano.

 Principio da proibição de acumulação de funções:

Art. 269º/4CRP – quem exerce funções públicas não pode acumular estas com outras funções
públicas, e quem exerce funções políticas não pode acumular com funções privadas.

 Principio da proibição do abandono de funções:

Ninguém, tendo assumido a responsabilidade de exercer uma função, a pode abandonar,


ausentando-se ou estando presente de forma dolosa ou conscientemente negligente,
podendo isto corresponder, no limite, à responsabilidade criminal.

 Principio da renunciabilidade ao cargo:

Ninguém é obrigado a exercer funções contra a sua própria vontade. A renúncia tem de ser
feita através de declaração expressa. Há casos, no entanto, em que a renúncia exige

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aceitação - art.195º/1 b) CRP – como é o caso em que o Primeiro-Ministro se demite mas o
Presidente tem de assinar a demissão.

Fontes que regulam o poder politico

 O poder político não tem apenas fontes formais, para além dessas tem fontes informais
para ser regulado. No art. 108ºCRP trata-se do poder político formal, da CRP escrita; já o
poder político informal, que está na base da CRP não-oficial, não-escrita, tem as seguintes
demonstrações:

 Há um poder de exteriorização informal dos titulares de cargos politícos (manifestam


publicamente declarações que expressam declarações de vontade);

 O poder informal está hoje nas mãos dos meios de comunicação social, o poder que vive
na sombra, dos lobbys e grupos de interesse que não se sabem quais são, mas que se sabem que
existem, o poder do povo é o poder informal;

 Há um princípio de não-exclusividade das fontes formais: consciência jurídica geral é


fonte não formal, bem como a factualidade quando cria normas juridicas, sobretudo o
costume constitucional.

 Nem sempre são fontes juridicas que regulam o poder politico, há fontes não-jurídicas como
normas tecnico-científicas, normas de natureza ética ou moral, ou normas de cortesia.

Funções do Presidente da República

 O Presidente é o único orgão unipessoal; é o representante de toda a comunidade.

No art. 115ºCRP encontramos as suas funções, que são:

 Presidente representa a República; É o garante político;

 Tem a função de orientação política – ele nomeia o Governo, pode condicionar também a
atuação deste;

 É o garante da Constituição – é a chave das demais instituições como diria Benjamin


Constant;

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 Tem o poder moderador, de arbitrar, e pode ter protagonismo político (pode dissolver a
Assembleia da República).

 O Presidente é protagonista político, juíz dos restantes protagonistas, e não possui


poderes governativos.

Estatutos – art 121º a 126º CRP

 é eleito por sufrágio direto;

 o seu mandato é de 5 anos, mas pode ser antecipado (por exemplo no caso de ele sair do
território);

 destituição do Presidente;

 abandono de funções (declarado pelo Tribunal Constitucional);

 substituição do Presidente – art.132ºCRP – em caso de vagatura do cargo (quando o


titular já não vigora) ou em caso de impedimento pontual (o encargo passa por preparar
nova eleição presidencial);

 Presidente substituto não tem os mesmos poderes de substituição – art.139ºCRP;

 tem responsabilidade criminal – art. 130ºCRP;

 por crimes estranhos só responde no final do mandato – art.130ºCRP;

 a acusação é desencadeada pela Assembleia da República e o julgamento é feito pelo


Supremo Tribunal de Justiça;

 competências do Presidente – art. 133º a 135ºCRP – que ele é obrigado a exercer;

 a lei de competência é de exercício vinculado (como diz na alínea anterior) e de exercício


condicionado – é livre de decidir, mas não tem condições e competências para exercício livre;

 o Presidente necessita de autorização do Parlamento;

 é ele que nomeia o Primeiro Ministro;

 Presidente é livre para renunciar;

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 todos os actos que provêm da Assembleia e do Governo necessitam de promulgação por
parte do Presidente;

 quando o Presidente tem dúvidas, inicia um processo de fiscalização preventiva da


constitucionalidade;

 o veto político passa pela não promulgação por divergència política: em diplomas
provenientes da Assembleia, tem poder para os modificar se a Assembleia confirmar o
diploma (art.136º/2CRP) ou se se verificarem a maioria dos requisitos pela Constituição;

 o seu veto tem natureza absoluta, havendo ainda um caso onde este é absolutíssimo (art.
217ºCRP).

Fiscalização preventiva

 O Tribunal Constitucional pronuncia-se pela inconstitucionalidade. O diploma volta


para Belém e o Presidente ou promulga, ou veta (veto jurídico) ao abrigo do art. 279º
CRP, por inconstitucionalidade.

Assembleia da República – Competência com o Governo

 Orgão colegial e representativo – art.147ºCRP. É a síntese de toda a sociedade e a


representação da comunidade.

 Princípio da estrutura unicameral – tem uma única câmara (influência de Constituição de


1933);

 Princípio da flexibilidade configurativa – art. 148º e 149ºCRP – a CRP configura um nº


variável de deputados, sendo o legislador que decide entre eles (230 hoje em dia); a CRP
permite que existam círculos nacionais e locais (existem apenas círculos eleitorais locais);
flexibiliza também um sistema de círculos que podem ser uninominais ou plurinominais, sendo
que o legislador hoje remete apenas para os primeiros;

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 Princípio da autoorganização interna – o Parlamento pode sempre elaborar o seu próprio
regimento;

 Princípio da dependência política do Presidente – o Presidente pode dissolver o


Parlamento, e compete a ele também a marcação da data das eleições. Todo o ato do
Parlamento depende da promulgação do Presidente, sendo que a vontade política da Assembleia
está sempre condicionada à vontade do referendo do Presidente;

 Princípio da permeabilidade – o Parlamento pode ser instrumentalizado pelo Governo


(esta instrumentalização é maior quando o Governo tem maioria parlamentar). No
entanto, há limites: a maioria não pode ocupar todos os lugares, a oposição tem sempre direito
de ter deputados na mesa do Parlamento; na distribuição da presidência das comissões a
oposição tem direitos protestativos (poder de criar comissões de inquérito mesmo quando a
maioria não o queria);

 Princípio da complexidade da organização interna do Parlamento – o Parlamento não se


expressa só através do seu plenário, mas também através da mesa da Assembleia, das comissões
parlamentares e da comissão permanente (substituí a Assembleia quando está de férias ou é
dissolvida, de forma a dar continuidade às funções desta);

 Princípio da permanência do Parlamento – de 15 de setembro a 15 de junho o Parlamento


está em funcionamento, quando não o está, está a comissão permanente;

 Princípio da imunidade e da sede parlamentar – a polícia e a autoridade só podem entrar no


Parlamento se este o pedir.

Art. 121ºCRP – método de candidatura

Art. 149ºCRP – círculos eleitorais

 O Prof. Paulo Otero considera que os grupos parlamentares são associações sem
personalidade jurídica, de interesse público, porque os actos dos grupos são imputados
juridicamente ao Parlamento.

 As comissões podem ser: institucionalizadas – regime dentro da Assembleia, e existem


sempre; comissões ad hoc – inquérito de camarate, por exemplo; e podem ser criadas múltiplas
comissões para averiguar determinado assunto.

Funcionamento do Parlamento

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 Cada legislatura é de 4 anos e divide-se em 4 sessões legislativas, de 15 de Setembro a 15
de Junho.

 Art. 176ºCRP – ordem do dia previsto; Art. 116ºCRP – votações; Art. 161º a 165ºCRP –
competência da Assembleia da República;

 Como competência normativa/legislativa, temos a aprovação de normas – leis regionais,


ordinárias e o seu próprio regimento;

 Como competência política, temos a orientação política – apreciação do programa de


Governo, eleição de juízes para o Tribunal Constitucional, ficalização politica (do Governo,
da Administração e do Presidente), autorização para o Presidente sair do território nacional,
certificação política (quando o Presidente jura à CRP, perante a Assembleia);

 Como competência administrativa/interna temos os poderes sobre os deputados, grupos


parlamentares, bem como sobre os seus orgãos internos (bibliotecas, administração de
pessoal, etc.).

 A fiscalização política pode incidir sobre a legalidade ou sobre o mérito (tem a ver com a
bondade do conteúdo ou oportunidade e conveniência da respetiva decisão).

 Esta tanto incide sobre atos do Governo como da Administração Pública – o Parlamento não
pode apreciar atos de uma empresa das Regiões Autónomas, porque é a Assembleia Legislativa
dessa região que o faz, mas pode o Parlamento controlar essa mesma Assembleia.

 Pode ainda controlar decretos regionais autorizados pela Assembleia da República e pode
fazer perguntas ao Governo, realizar inquéritos parlamentares, exigir documentos...

Efeitos da fiscalização

 Se houverem atos inconstitucionais os deputados requerem ao Ministério Público, que


irá desencadear uma ação penal, ou pode requerer recurso ao Tribunal Constitucional
para fiscalizar.

 Art. 169º CRP – quanto mais forte é o Governo (na sua maioria) mais débeis são os
mecanismos de fiscalização do Parlamento; quando são mais fracos, maior oposição existe
que esteja disposta a fiscalizar, tornando-se esta mais eficaz - chamado paradoxo da
fiscalização.

Competência Legislativa

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 O Parlamento tem competência legislativa repartida com o Governo. A Assembleia tem
matérias em que só ela tem competência legislativa – reserva absoluta de competência da
Assembleia – e que o Governo não pode legislar sobre, senão ocorre uma
inconstitucionalidade.

 A Assembleia tem também reserva relativa – a Assembleia permite ao Governo legislar


sobre estas matérias sob pena de lei de autorização legislativa – art. 165ºCRP.

 Art. 198º/2CRP- há matérias da exclusiva competência legislativa do Governo, que dizem


respeito à sua organização e competências, e às quais a Assembleia não tem o direito de
legislar. Se o fizer, decorre insconstitucionalidade.

 Existe reserva exclusiva do Governo em matéria de leis de Bases – art. 198/1ºCRP.

 Tudo o resto (tudo o que não está nas reservas) é competência da área concorrencial –
nesta área o Governo e a Assembleia podem ambos legislar, segundo o art. 161º c) CRP em
relação à Assembleia, e segundo o art. 198º/1 a) CRP em relação ao Governo. Esta
resolução é originária da ditadura militar de 1926.

 Art. 164ºCRP - reserva absoluta da Assembleia;  Art. 168º/6 CRP;

 Art. 161º b), d), e), f), g), h) CRP;  Art. 293º CRP;

Tudo o que não se encontrar nestes artigos ou no art.198ºCRP, é da área concorrencial.

 Perante um veto político do Presidente, o Governo pode transformar o decreto de lei em


proposta de lei para aprovação do Parlamento, se for em matéria da área concorrencial.

 Há veto absoluto do Presidente na área exclusiva do Governo, porque o Parlamento cai


em insconstitucionalidade se legislar lá.

 Art. 212º/2 CRP – lei e decreto-lei têm igual valor jurídico, e por isso a lei posterior
revoga o decreto-lei anterior, bem como o decreto-lei posterior revoga a lei anterior, na
área concorrencial.

Governo como orgão de soberania

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 O Governo é autómato do Presidente, isto porque assim já o era em 1933. É o orgão de
condução da política geral do país, interna e externa – art. 182ºCRP – bem como o orgão
superior da Administração Pública, com poderes de intervenção sobre toda ela.

 O Governo está depende do Presidente devido à nomeação do Primeiro Ministro e à


destituição do Governo.

Programa do Governo

 Compromisso que o Governo assume perante o Parlamento, com medidas e propósitos


do que promete fazer – é uma auto-vinculação a todos os membros do Governo, porque
expressa a solidariedade entre eles. É expressão vinculativa perante o Parlamento e todo o país.

 Pode resultar de um compromisso durante a campanha eleitoral ou de uma coligação de


acordos pós-eleitorais entre as forças políticas.

 É um ato político que pode expressar efeitos jurídicos, por exemplo um decreto-lei x que
não é conforme o Programa do Governo e por isso não pode vigorar.

 O programa não precisa ser aprovado pelo Parlamento, só precisa de ser apresentado a
este, de forma a facilitar a formação do Governo. Enquanto não for apresentado, o
Governo não pode praticar todos os atos da sua competência (é apenas Governo de
Gestão).

 O Programa não pode ser rejeitado (caso aconteça o Governo é demitido) nem precisa de
uma maioria no Parlamento, o que permite a formação de um Governo minoritário. Só é
sujeito a votação se o Governo assim o quiser (art.192º/3CRP) por maioria absoluta
(art.192º/4CRP).

 Há relevância na alteração das circunstâncias, uma vez que ao longo dos 4 anos a situação
pode mudar. Poderá o Programa ter aditamentos ou normas que vão contra o estabelecido
anteriormente nele mesmo. Aquele que for para o Governo após a elaboração do Programa tem
de o cumprir na mesma, mesmo que não tenha participado na sua deliberação.

Princípios de funcionamento do Governo

 Princípio da complexidade na organização e no funcionamento:

33
O Governo é um orgão constituído por outros orgãos, e pode por isso deliberar através dos
seus membros ou pelos orgãos colegiais. No silêncio da lei, a competência atribuída ao
Governo é individual, do Ministro disto ou daquilo. A competência do Conselho de Ministros
(orgão colegial) tem de ser requerida.

 Princípio da unidade política intragovernamental:

O que reforça a unidade é o Programa de Governo. É dada pelo Conselho de Ministros,


que delibera por consenso (solidariedade), após uma discussão. Ele obedece, em regra, à
linha política do Primeiro Ministro. Se não acontecer, significa que o Primeiro Ministro não
tem competência para continuar a exercer funções.

 Princípio da solidariedade:

Deve haver consenso nas deliberações.

 Princípio da responsabilidade política do Governo:

Tem responsabilidade perante a Assembleia, e quando o Governo é forte, é menos


fiscalizado. Tem perante o Presidente, em que o Primeiro Ministro responde perante este,
mas este não o destituí, pelo respeito e confiança política, e perante a opinião pública.

 Princípio da residualidade da competência:

Art. 199º g) CRP – atribuí competência residual ao Governo – tem competência administrativa
para tomar todos os atos para o bem-estar social.

 Art. 182º CRP – definição do Governo

 Arts. 197º, 198º e 199º CRP – competências do Governo

 Art. 187º/1 CRP – nomeação do Primeiro Ministro pelo Presidente, tendo em


consideração os resultados eleitorais na composição política do Parlamento, e tendo ainda
em consideração a palavra dos partidos com representação parlamentar.

 A margem do Presidente nesta escolha varia, quando existe maioria parlamentar ou acordo
maioritário ele não dispõe de tanta margem para não escolher quem a maioria deseja, mas não é
obrigado a tal. Se não houver maioria, ele organiza processos para que se faça uma, tendo maior
margem.

34
 Pode acontecer ainda que ele escolha o líder do partido mais votado e que este não consiga
criar Governo.

 O Presidente pode eleger alguém que não faça parte dos partidos políticos, sendo que o
Governo que daí se formar é designado por Governo de iniciativa presidencial.

 Primeiro Ministro indigitado – é uma figura transitória, quando não existe maioria é ele
que vai em busca de uma. Mesmo quando esta existe, este permite que exista mais tempo
para o Primeiro Ministro que vai entrar a seguir constitua Governo e elabore o Programa,
uma vez que este tem de ser apresentado no máximo 10 dias depois da tomada de posse do
Governo.

Funções do Primeiro Ministro

 Gestação do respetivo Governo (apresentar propostas);

 Direção governativa;

 Chefia administrativa;

 Representação governamental;

 Função de natureza protocolar/controlo.

Art. 195ºCRP – termo de funções do Primeiro Ministro

Art. 196º/2CRP – processo criminal ao Primeiro Ministro

 Os Ministros têm legitimidade política de quem os propõe e de quem os nomeia, neste


caso o Presidente. Têm competência de substituição do Presidente, segundo o art. 185º/1 CRP.

Art. 186ºCRP – funcionamento do Governo – depende da tomada de posse de um Governo,


que é a partir da cessação de funções do Governo anterior (princípio da continuidade de
serviços).

Art. 186º/5 CRP – o Governo, até à apresentação do Programa no Parlamento, é um


Governo com capacidade jurídica diminuída, limitando-se à prática dos atos necessários à
gestão dos negócios públicos (é um Governo de Gestão).

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 Todos os Governos o são, durante a sua vida, pelo menos duas vezes: entre a tomada de
posse e a apresentação do Programa e entre a cessação de funções até à tomada de posse
do novo Governo. Também acontece quando o Programa é rejeitado, e termina com a demissão
do Governo, sendo ele apenas um Governo de Gestão em toda a sua vida.

O Governo pode cessar funções por:

 Intervenção da Assembleia da República, rejeitando esta o Programa ou aprovando uma


moção de censura (Parlamento leva à demissão do Governo) ou recusando uma moção de
confiança (Governo pede confiança e Parlamento rejeita);

 Ato voluntário do Primeiro Ministro, demitindo também o Governo;

 O Presidente destitui o Governo para impedir a continuação de atuação deste, porque


põe em causa o regular funcionamento das instituições democráticas – art. 195º/2CRP – é
uma medida que é uma “mentira piedosa” porque o Governo é minoritário e o Parlamento pode
encarregar-se de aprovar uma moção de censura, e se for de maioria o Parlamento tem força e
não vai querer dissolver o Governo, tendo o Presidente de o fazer por sua vez;

 Causas involuntárias como morte do Primeiro Ministro, impossibilidade física, condenação


definitiva, etc..

 Não é possível a suspensão colegial de todo o Governo, mas a individual de membros


deste por autosuspensão ou processo criminal.

Competências do Governo: art. 197ºCRP (política); art. 198ºCRP (legislativa); art. 199º
CRP (administrativa).

Estatutos especiais do Governo

 Governo de Gestão – explicitado anteriormente;

 Governo de missionário – em que o Governo, através do Primeiro Ministro, manifesta


publicamente a intenção de destituição, ou vai a Belém dar a demissão ao Presidente -
enquanto este último não a aceitar, é Governo de missionário;

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 Governo com Assembleia dissolvida – não é demitido, só o início de nova legislatura é
que destitui o Governo. Tem mais poderes que o Governo de Gestão mas não tem plenitude de
funções, porque não pode contar com a Assembleia da República;

 Sistema de Governo – é um pluralismo orgânico-funcional, que assenta num triângulo


que convoca o Governo, o Presidente e a Assembleia. Não é semi-presidencial porque não
tem nada a ver com a 5ª República francesa onde este surgiu; não é também porque Portugal
não apresenta características que se identifiquem com tal sistema, Portugal assenta sim num
parlamentarismo racionalizado.

A CRP é premiável aos factos – há uma CRP não-oficial, com dois elementos extrajurídicos que
explicam o sistema de Governo:

O sistema partidário, que nos diz se há ou não maioria política e se esta é monopartidária ou
pluripartidária;

A prática política, que permite saber se o Presidente está em sintonia com a maioria, quem é o
líder desta (Presidente ou Primeiro Ministro), qual deles preside ao Conselho de Ministros,
como é que o Presidente exerce o poder de enviar mensagens à Administração Pública, entre
outros;

A flexibilidade do sistema português, em que o nosso sistema racionalizado tende a


aproximar-se do semipresidencialismo porque é aberto, ou seja, a CRP não excluí que o
Presidente se possa tornar líder parlamentar e que o sistema vire semipresidencialista.

Funcionamento dos Tribunais

 Os tribunais visam sempre alcançar a paz jurídica, através de decisões potencialmente


irreversíveis, que formam casos julgados. A função jurisdicional é confiada aos tribunais e
estes representam a coletividade.

Para além de terem o exclusivo monopólio de administrar a justiça através da resolução de


litígios, podem ter outras competências, como:

- A competência administrativa - que diz respeito aos orgãos dentro deles mesmos;

- A intervenção destes na função política - ajuizando a constitucionalidade das leis devido aos
conceitos indeterminados da CRP, que o juíz concretiza, integrando-os e aplicando-os; ou ainda

37
fazendo a fiscalização preventiva da constitucionalidade, em que o Tribunal Constitucional tem
protagonismo político; ou no facto de o Tribunal Constitucional ter poder para extinguir
organizações que prefiram ideologias fascistas.

 A justiça tem mecanismos de resolução de litigios alternativos, como a arbitragem e


conciliação.

 Existem tribunais internos e tribunais e internacionais, sendo que Portugal reconhece a


jurisdição dos últimos.

Tribunais internos – 209ºCRP:

- Tribunais do Estado e tribunais arbitrários (forma de exercicio privado da funçao


jurisdicional, mas existem por previsão constitucional);

- Tribunais de existência obrigatória e de existência facultativa;

- Os Tribunais de existência obrigatória comportam: Tribunais Ordinários - Tribunal


Constitucional; Supremo Tribunal de Justiça e Tribunais Judiciais de Primeira Instância e
Segunda instância; Supremo Tribunal Administrativo e restantes Tribunais Administrativos;
Tribunal de Contas - e Tribunais Especiais.

O fundamento legal do Tribunal Constitucional

está previsto nos arts. 221 a 224ºCRP.

Principios estruturantes de um Estado de Direito, relativos aos Tribunais:

 Princípio da independência dos Tribunais (art.203ºCRP) – independência em relação ao


poder político (não estão sujeitos a ordens do poder político, e cada tribunal é senhor do
seu juízo).

 Princípio da obrigatoriedade das decisões judiciais (art.205º/2CRP) – há dever de


obediência e acatamento das decisões dos Tribunais, sob pena de crime de obediência.

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 Princípio da prevalencia das decisões judiciais (art.205º/2CRP) – se há um conflito entre
uma decisão judicial e uma lei, aplica-se sempre a decisão judicial. O mesmo com uma
norma de revisão constitucional, tendo sempre as decisões dos Tribunais o primado sobre
quaisquer outras decisões, provenientes de qualquer entidade, e é por isso que nenhuma lei pode
revogar uma decisão judicial (iria violar este princípio, violar a reserva de competência dos
Tribunais e o princípio da separação de poderes).

 Princípio do controlo da validade do fundamento normativo das decisões judiciais (art.


203º, 204º e 280º/2CRP) – os Tribunais têm o poder e o dever de recusar a aplicação de
normas que sejam inválidas, cada tribunal tem de controlar se a norma que vai aplicar é
válida ou não.

A CRP consagra outros orgãos, que não são de soberania, mas constitucionais, sendo que uns
têm âmbito nacional e outros têm âmbito local.

Os de âmbito nacional são:

 Conselho de Estado – art.141º a 146ºCRP – é o orgão consultivo do Presidente, podendo


também ser utilizado para mais propósitos, como a sede de compromissos institucionais (porque
nele estão concentradas as individualidades que maior protagonismo político tiveram, sendo um
local de resolução de conflitos institucionais), e como sendo um centro de sensibilização dos
protagonistas políticos para questões que existam na sociedade portuguesa.

 Conselho superior de defesa nacional – art.274ºCRP – orgão consultivo do Presidente em


matérias da defesa.

 Provedor de justiça – art.23ºCRP – orgão ao qual todos nós podemos apresentar queixas
sobre condutas por acção ou omissão dos poderes públicos. Ele não tem poder de decisão,
mas pode apreciar o pedido e, se entender que a queixa tem fundamento, recomenda uma
solução ao orgão competente, encaminhando o pedido para este. Este não é obrigado a seguir a
sua recomendação, mas é obrigado a lê-la e a dar uma justificação para a negar. O provedor de
justiça pode também desencadear a fiscalização sucessiva da constitucionalidade, junto do
Tribunal Constitucional.

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 Conselho superior de magistratura – arts.217º e 218ºCRP – tem poderes disciplinares e
de nomeação sobre os juízes.

 Conselho superior dos tribunais administrativos e fiscais – art.217º/2CRP – poderes


idênticos ao anterior mas sobre os juizes administrativos e fiscais.

 Procuradoria geral da república – art.220ºCRP – composta pelo procurador geral da


República e o Conselho Consultivo da procuradoria geral. Este último é o orgão de topo da
estrutura do Ministério Público, prevista no art.219ºCRP.

 Conselho económico e social – art.92ºCRP.

 Autoridades administrativas independentes – uma para a proteção de dados pessoais,


prevista no art.35º/2CRP e outra para a comunicação social, prevista no art.39ºCRP.

Os de âmbito local (que exercem as suas funções numa determinada fracção do territorio) são:

 O representante da Republica para as regiões autónomas:

- Era designado, até 2004, como ministro da República. O seu estatuto está consagrado no
art.230ºCRP, e é um orgão político do Estado, tendo dupla representação da Região
Autónoma – representa a República e o Presidente da República, na região autónoma;

- Ele é nomeado pelo Presidente e depende exclusivamente da confiança política do Presidente,


tanto que quando termina o mandato do primeiro termina o deste também, a não ser que este
prolongue o seu.

- Ele tem os seguintes poderes: poder relativo à formação do Governo (art.231º/3 e 4CRP),
tendo na prática os mesmos poderes que o Presidente tem na formação do Governo regional; o
poder de assinatura e de veto dos diplomas regionais (art.233ºCRP).

- Este último poder passa pelos diplomas de decretos legislativos regionais, em que só é
competente para elaborá-los a Assembleia Legislativa e não o Governo Regional, e ela envia-o
ao representante para o assinar. Aí, este pode assinar, ou ter discordância com a solução e
utilizar o veto político, que significa que ele comunica a esta Assembleia as suas razões,
podendo esta última (nos termos do art.232º/2CRP) alterar o diploma em conformidade com as
soluções do representante, ou teimar naquela solução e a confirmar por maioria absoluta. Se o
fizer, o representante é obrigado a assinar – veto suspensivo. Se a Assembleia Legislativa
nada fizer, ou tentar reaprovar e não conseguir, prevalece a solução do representante. Pode
ainda o representante ter dúvidas acerca da constitucionalidade desse diploma e pede apreciação

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ao Tribunal Constitucinal, que fiscaliza sucessivamente e classifica-o como constitucional ou
não. Se não, o repressentante é obrigado a vetá-lo.

- Passa também pelos diplomas de decretos regulamentares regionais. Nestes não há fiscalização
preventiva de normas, e se são provenientes do Governo Regional o seu veto político é sempre
absoluto; se são provenientes da Assembleia Legislativa esse veto é sempre suspensivo.

- Pode o Governo Regional, se o representante for contra o seu diploma regulamentar regional,
apresentá-lo à Assembleia Legislativa, nas matérias apresentadas pelo art.231º/6CRP.

 Presidente da AL da RA – pode substituir o representante da República nos termos do


art.230º/3 CRP, sendo que quando o substituí torna-se um orgão do Estado.

 Governo regional – é um orgão da Região Autónoma, mas pode ser um orgão da


República de âmbito local sempre que, nos termos do art.109º/4CRP, exerce competências
delegadas pelo Governo.

Autonomia das Regiões Autónomas

 Três orgãos participativos : Presidente da República, representante da Assembleia


Legislativa e Governo regional enquanto orgão que exerce competências governadas pela
Assembleia.

 A descentralização politico-administrativa das regiões autónomas tem a sua génese na revisão


constitucional de 1971, por Marcelo Caetano, tendo sido criadas em 1976 e tornadas influência
para a Constituição italiana de 1977.

Fundamento da autonomia

 Art. 225ºCRP – a autonomia das regiões autónomas deve-se ao facto de estarem


geograficamente afastadas (circunstancialismo geográfico), ao princípio da subsariedade (fica
mais próxima da população e tal poderá ser mais benéfico para o bem-estar desta), devido ao
princípio democrático (aproximação entre quem decide e a quem tocam as decisões) e ao
princípio da unidade, dentro do pluralismo.

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Objetivo da autonomia

 Art. 225º/2CRP – reforço da participação, desenvolvimento económico e social, defesa e


promoção dos interesses das regiões autónomas, reforço da unidade.

Limites da autonomia

 Constituição (exerce dentro do quadro desta);

 A autonomia não pode pôr em causa a unidade do Estado;

 A reserva de competências dos orgãos soberanos;

 O interesse nacional alicerça o príncipio da prevalência do Direito do Estado;

 Compromissos internacionais, nomeadamente o Direito da União Europeia;

 Estatutos político-administrativos/regionais (art. 226ºCRP) – os estatutos não são


constituições regionais porque as regiões autónomas não são Estados federados. Estes são
leis da Assembleia da República, promulgados pelo Presidente, e são leis do Estado que
definem o desenvolvimento da estrutura organizativa das regiões autónomas, o funcionamento
destas mesmas e as relações entre as regiões autónomas e a República;

 Reserva absoluta da Assembleia da República – é ela que faz os estatutos;

 As regiões autónomas têm iniciativa legislativa, e podem apresentar propostas ou


projetos de lei à Assembleia (poder de desencadear o processo de feitura da lei). Porém, só
a Assembleia da República detém o poder decisório legislativo (competência legislativa), apesar
de o impulso vir sempre das regiões e a Assembleia não possuir esse poder, porque não possui
iniciativa;

 A Assembleia da República pode rejeitar o novo estatuto, ou aprova e o diploma segue para o
Presidente, que o irá promulgar ou não. Se a Assembleia não aceitar nem recusar, pode fazer
alterações a este, e aí tem de enviar o diploma de volta para as regiões autónomas para estas
confirmarem ou não as alterações. Mesmo que não o façam, a última palavra é sempre da
Assembleia.

 O Estatudo traduz uma reserva constitucional da Assembleia da República. É a lei ordinária


que mais valor tem no Direito português.

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1º - Ius Commune; 2º - CRP; 3º - Estatutos regionais; 4º - Leis;

 É a lei ordinária mais reforçada porque todos os atos das regiões autónomas estão
subordinados ao Estatuto, bem como todas as demais leis da República: nenhuma lei pode
ir contra os Estatutos, e se for, é ilegal (art.280º/2 c) e 281º/1 d) CRP). A ilegalidade de uma
lei dá-se quando uma lei viola outra lei.

Conteúdo da autonomia

 art. 227º/1 CRP – pessoas coletivas territorias têm poderes definidos nos estatutos. Os
poderes regionais passam por ter autonomia legislativa, financeira e tributária, administrativa,
de intervenção internacional (regiões autónomas podem ter maior intervencionismo no
internacional que, por exemplos, certos estados federados do Brasil), de participação...

Poderes legislativos das Regiões Autónomas – modelo de revisão constitucional de 2004

 Competência legislativa exclusiva ou reservada:

Matérias sobre as quais só as regiões autónomas podem legislar. Se a Assembleia da


República emanar um ato legislativo sobre estas matérias é inconstitucional – art. 227º/1
i), l), n), p) e q) CRP – dizem respeito às matérias reservadas.

 Competência legislativa autorizada – art. 227º/1 b) CRP:

Estamos em matéria do art. 165º CRP, em que a Assembleia concede uma lei de autorização
legislativa à região autónoma, para esta poder legislar sobre aquela matéria. O artigo acima
referido estabelece que matérias podem e não podem ter autorização.

A autorização tem de ser pedida pelas regiões autónomas, e estas têm de apresentar o
ante-projeto de decreto legislativo regional que tencionam ver autorizado, juntamente com
o pedido de autorização – art. 227º/2CRP. A autorização é concedida a uma das regiões
autónomas, não podendo ser aproveitada para a outra, pois só possui um destinatário. A
autorização deve ainda fixar um prazo e um sentido.

 Competência legislativa de desenvolvimento – art. 227º/1 c) CRP:

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Por vezes, a matéria da Assembleia da República assenta apenas nas bases, deixando a
detalhação desta para as regiões autónomas, que têm competência para elaborar diplomas
de desenvolvimento (art. 165º f) e h)).

O Governo pode desenvolver segurança social, porque a Assembleia tem competência para as
bases e pode autorizá-lo a fazer o desenvolvimento delas. Exemplo: reserva absoluta da
Assembleia – bases do ensino; reserva absoluta do Governo – desenvolvimento do ensino.

O Governo pode elaborar a reserva geral sozinho (bases + desenvolvimento) ou pode o


Governo fazer as bases apenas e deixar o desenvolvimento delas para a Assembleia
regional (art.168º/1).

A fixação das bases é matéria que compete aos orgãos de soberania – os diplomas de
desenvolvimento estão sempre subordinados à lei de bases (tem prevalência hierárquica e são
por isso leis ordinárias com valor reforçado - se o desenvolvimento violar a lei de bases, é
ilegal).

Esta lei de bases fixa os grandes princípios a que está sujeito determinado regime jurídico, e que
necessita de ser detalhada em diplomas de desenvolvimento.

 Competência legislativa estatuária – art. 227º/1 a) CRP – está prevista nos Estatutos e
obedece ao pressuposto de que só existe se neles se encontrar, nunca podendo incidir sobre
áreas de exclusiva competência dos orgãos de soberania.

 Sobre aquela matéria só as regiões autónomas podem legislar, mas se existir uma lei ou
decreto-lei da Assembleia da República que viole esta matéria é considerado inválido,
porque viola o Estatuto regional. Exemplo: há um decreto legislativo regional sobre cães e
a Assembleia faz um decreto-lei para alterar isto – não pode, é inválido.

 Não há fiscalização preventiva neste caso, porque é ilegal e não constitucional. Não há
violação imediata da CRP, mas sim dos Estatutos.

 Para contornar o decreto legislativo regional, a Assembleia pode fazer uma lei de bases
para alterar matéria sobre esse assunto, condicionando o exercício da competência
legislativa das regiões autónomas, com base legal no art. 227º a) CRP, segundo o princípio
da prevalência do Direito do Estado.

 Orgãos das regiões autónomas - Assembleia Legislativa Regional (é eleita por sufrágio
direto) e o Governo Regional (é responsável perante a Assembleia Legislativa, e não possui
competências legislativas) e estão ambos integrados num sistema parlamentar.
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Fontes do Direito

Princípios fundamentais

 Princípio da não-exclusividade das fontes normativas formais:

O Direito não se esgota nos atos produzidos pelo Estado nem na lei escrita.

 Princípio da pluralidade de fontes formais:

Não há apenas uma fonte de Direito proveniente, escrito. Há uma pluralidade de fontes
dentro do Estado (fontes de natureza legislativa – lei, decreto-lei, decreto legislativo regional,
lei orgânica; e fontes de natureza administrativa) e fora dele (Direito Internacional, Direito da
UE e fontes estaduais). Todas as fontes estão subordinadas à CRP, que também ela é fonte
formal.

 Princípio da tipicidade da reserva de lei:

A reserva de lei assenta em matérias que estão única e exclusivamente a cargo do poder
legislativo. Só há reserva de lei nos casos expressamente indicados na CRP. Traz uma
consequência: as matérias que estão fora da reserva de lei são alvo de disciplina por lei ou
disciplina por regulamento – art. 18ºCRP.

 Princípio da tipicidade dos atos legislativos:

Art. 112º/1CRP - São atos legislativos a lei, o decreto-lei e o decreto legislativo regional;
Art. 112º/5CRP – nenhuma lei pode criar outro tipo de atos legislativos. Os atos legislativos
são apenas aqueles previstos na CRP, podendo não ser apenas estes os três, mas todos aqueles
que nela se integrem.

Existem pelo menos, mais dois: lei de revisão constitucional e lei orgânica (não se identificam
com a lei normal da Assembleia, nem com um decreto legislativo). Existem mais, com
fundamento no art.290º/2CRP, porque podem haver atos legislativos anteriores à CRP de
’76 que se mantêm em vigor, desde que não vão contra a o disposto na Constituição.

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 Princípio da revogabilidade das normas:

Todas as normas jurídicas podem ser objeto de cessação de vigência. Há a revogação simples
(que destrói a norma) e a revogação substitutiva (revoga a norma e substitui por outra norma da
mesma matéria). Quem tem competência para emanar a norma geralmente tem para a revogar.

 Princípio da não-comunicabilidade entre normas de diferente natureza:

Uma Convenção Internacional (2016) disciplina matéria que vai contra uma lei de 2014. A lei
da CI não revoga a outra, porque é uma lei internacional, é a outra é um ato legislativo. Elas são
imcompatíveis, e por isso gera-se inaplicabilidade. A lei de 2014 fica em “coma jurídico”, não
sendo aplicada, mas também não sendo revogada. Se a CI desaparecer, a lei de 2014 volta ao
ativo. Isto acontece porque são dois tipos de lei diferentes e por isso, não se revogam uma à
outra.

 Princípio da pluralidade de relaçaões internormativas

Com alicerce no art. 112º/2CRP, temos duas ideias – a lei e decreto-lei têm igual valor
jurídico, o que significa que uma lei posterior revoga um decreto anterior e vice-versa; há casos
em que isso não sucede porque dentro da lei ordinária, existem atos legislativos com valor
reforçado, ou leis reforçadas, e leis ordinárias de valor comum.

As reforçadas passam por leis de base, estatutos regionais, leis de revisão constitucional, leis de
autorização legislativa e leis orgânicas.

Exemplo: lei de bases (lei ordinária reforçada) com lei de desenvolvimento (lei ordinária
comum).

 Princípio da supletividade do Direito do Estado:

Quando, nas entidades infraestaduais, não emitem uma norma, aplica-se uma norma de Direito
do Estado.

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 Princípio da prevalência do Direito do Estado:

O Estado é titular de interesses nacionais e por isso comete a ele a última palavra. É
manifestação da prevalência deste os orgãos que o Estado possui, que emitem leis para todo o
território; é ainda manifestação o facto de competer ao Estado a Convenção de Reuniões
Internacionais; o Estado é vinculado pelo Direito da UE; e o facto de a Constituição ser produto
do Estado.

 Princípio da vinculação da administração e dos Tribunais:

Estes os dois estão subordinados à lei. Art. 204ºCRP – os Tribunais devem recusar normas
violadoras da CRP. Já a Administração Pública deve aplicar as normas, mesmo inválidas,
porque não tem poder de fiscalização da constitucionalidade ou da legalidade.

Pode recusar-se quando forem leis que violem direito fundamentais dotados de aplicabilidade
direta, que violem princípos gerais do ordenamento jurídico, leis em que a constitucionalidade é
expressamente inexistente, ou “leis” em que exista falta de promulgação do Presidente.

Teoria Geral dos Atos Normativos

 Existe uma pluralidade de sentidos em torno do termo “lei”. Pode ser Direito
(art.3º/3CRP), pode ser enquanto função legislativa (art. 119º/2CRP), ou pode ser um ato
proveniente da Assembleia da República (em sentido material são abstratos, dependem do
conteúdo, e em sentido formal não dependem – a natureza abstrata tem a ver com a
configuração).

 Há matérias em que a CRP impõe existência de normas, e por isso a lei tem de ser material
(com caráter geral e abstrato). Fora da CRP há leis formais (sem conteúdo normativo) ou leis
individuais, para solução de um caso concreto.

 A lei individual só é válida se respeitar os seguintes requisitos: 1º - deve ser inspirada por
uma solução possível de se reconduzir a um princípio geral; 2º - deve respeitar o princípio
da igualdade; 3º - não pode ser expressão de solução arbitrária, tem de ter fundamento
lógico.

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 Deslegalização - ato deixa de ter força de lei e passa a ter força de regulamento. É possível, se
obedecer aos seguintes princípos: nunca pode acontecer dentro da reserva da lei; só pode ser
feito com ato legislativo com força legislativa igual àquela do ato que vai perder essa força.
Quando ocorre deslegalização, essa norma pode ser modificada por documento anterior.

 Processo legislativo:

A lei tem força material e força formal. Ela pode dispôr e disciplinar sobre todas as matérias, à
excepção dos casos dos Tribunais, e não pode esgotar a área de internção.

Força de lei material - A lei tem capacidade de revogar e modificar uma outra lei (é negativa);

Força de lei formal – Relação entre a lei e outros dois atos legislativos:

A lei tem a capacidade de alterar atos de outra natureza, como por exemplo, pode alterar um
regulamento e possui a capacidade de resistência nessa alteração, não se deixando, no entanto,
alterar por atos de outra natureza (apesar disso, o costume tem força vinculativa de alterar uma
lei).

Existem atos que possuem força legislativa igual à da lei, como é o caso das decisões do
Tribunal Constitucional com força obrigatória geral e das resoluções da Assembleia da
República, ao abrigo do art. 169ºCRP.

 Conteúdo da lei – a lei tem sempre de ser geral e abstrata, nos casos previstos na CRP. As leis
individuais possuem sempre dois limites: não podem violar o príncipio da igualdade, nem
podem traduzir-se numa solução arbitrária.

 Pluralidade de relações entre atos legislativos – art. 112ºCRP – nem todos os atos
legislativos têm igual posição jurídica, nem igual valor jurídico. Também nem todos
possuem idêntica força jurídica, uma vez que, por exemplo, as leis de valor reforçado possuem
um procedimento especial.

Existem leis que podem ser ilegais – quando uma lei contraria outra lei que possui valor
reforçado. O estatuto político administrativo das Regiões Autónomas é o único que não pode ser
ilegal, é considerado sim inconstitucional.

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 Leis de valor reforçado – art.112º/3 CRP - as leis reforçadas não se deixam modificar por
leis de diferente natureza;

Podem ser leis de bases, de caráter geral (estatutos regionais, de caráter especial, de
caráter específico ou leis das Regiões Autónomas. Todas as leis que envolvam efeitos
financeiros possuem também valor reforçado, e as leis de enquadramento orçamental
possuem valor reforçado sobre as restantes leis reforçadas.

 Parâmetro da conformidade – as leis devem ser feitas de acordo com padrões definidos por
lei de autorização legislativa.

De caráter especial: são leis de autorização legislativa, decretos-leis autorizados, leis de bases e
os seus respetivos diplomas de desenvolvimento.

De caráter específico: são leis sobre aplicação e identificação, normas do código civil que digam
respeito às fontes e à interpretação, pois estas são utilizadas também na interpretação da CRP.

Podem existir decretos-leis com valor reforçado, como é o caso de decreto-lei sobre lei de
bases. Também os decretos legislativos regionais podem ter valor reforçado, como é o caso
do decreto legislativo regional que aprova o orçamento da Região Autónoma.

Principais tipos de atos legislativos da Assembleia da República

Leis de revisão constitucional – art. 284º e ss. CRP - são expressão do poder constituinte,
porque introduzem modificações à CRP.

 Há que distinguir a iniciativa legislativa (art. 167ºCRP - poder de desencadear o


procedimento legislativo, através de projetos de lei) e a competência legislativa (poder de
aprovar ou recusar estas iniciativas) – só os deputados possuem iniciativa legislativa para
este tipo de leis – art. 285ºCRP.

 Só a Assembleia da República pode aprová-las ou recusá-las. A discussão deste processo


de alteração possui 30 dias – art. 285º/2CRP – desde o primeiro projeto, para que outros
possam ser desencadeados.

Regras das leis de revisão constitucional – presentes no art. 286ºCRP:

 maioria de dois terços;

49
 as alterações têm de ser introduzidas numa única lei;

 esta lei publica em anexo o texto já com as alterações produzidas para evitar que exista texto
original e outros, dificultando saber qual se encontra em vigor – art. 287ºCRP – como
aconteceu anteriormente em 1826 e em 1911;

 o Presidente da República não pode recusar – não há veto, ao abrigo do art. 286º/3CRP;

 há fiscalização preventiva da constitucionalidade - se o Tribunal Constitucional se


pronunciar, o diploma é enviado para o Parlamento e se este o aprovar em maioria de dois
terços o Presidente está obrigado a promulgar; pode ele, no entanto, a partir do dia
seguinte, pronunciar-se fiscalizando sucessivamente, tal como o Tribunal Constitucional.

 Existem limites temporais – ela não pode ser desencadeada a qualquer altura –, limites
circunstanciais – não se pode alterar a CRP em estado de sítio/emergência – e limites
materiais – não se pode alterar traços característicos da CRP.

 Quem fez a CRP nega ilimitação às futuras gerações para alterá-la, privando estas da liberdade
que tiveram os fundadores dela;

 Há um processo de ligar o passado e o futuro – dupla revisão – em que se altera um artigo num
primeiro momento, artigo esse que impedia a modificação de algo que se deseja modificar na
CRP, para num segundo momento se proceder a essa mesma alteração, já agora permitida e
constitucional. No entanto, nem a independência nacional nem o estipulado no art. 288º/d
CRP podem ser objeto desta.

 A alteração dos limites materiais leva à perda de identidade axiológica da CRP – art.
288ºCRP é figura transitória desta, que se mantém a mesma formalmente.

Leis ordinárias (leis estatutárias – art.226º - e leis orgânicas – art.166º/2)

 Sendo que os estatutos regionais já foram tratados, não serão agora.

 As leis orgânicas não se encontram especificadas no art. 112º/1CRP, mas as suas matérias
encontram-se no art. 166º/2CRP;

 São leis com valor reforçado – art. 112º/3CRP – e têm de ser aprovadas por maioria
absoluta, ao abrigo do art. 168º/5CRP.

50
 Em caso de veto político, este só é ultrapassado por maioria de dois terços – art.
136º/3CRP.

 Em relação à fiscalização preventiva destas podem não só o Presidente, mas também o


Primeiro-Ministro ou um quinto dos Deputos da Assembleia requeri-la – art.278º/4CRP.

Leis de bases

 Há leis de bases e decretos-leis de bases. São uma diretiva porque definem princípios do seu
desenvolvimento, limitando este desenvolvimento em si.

 Na área da reserva da Assembleia da República – se for na reserva exclusiva, só esta


pode fazer o desenvolvimento; se for na reserva relativa, pode o Governo, através de uma
lei de autorização, elaborá-lo – art.164 i) e b) CRP.

 Há autorização legislativa para o Governo fixar as bases do art. 165º/1CRP, e ele faz um
decreto-lei de bases. O desenvolvimento aí tanto pode ser feito pela Assembleia ou pode esta
conceder autorização ao Governo para fazer um decreto-lei relativo ao desenvolvimento dessa
lei de bases, porque está no regime geral (área da reserva relativa) – art. 112º/2CRP.

 Elas são de valor reforçado – o decreto-lei de desenvolvimento está subordinado à lei de bases,
seja da Assembleia ou do Governo. Para não ficar subordinada a Assembleia pode fazer outra
lei de bases que revogue a anterior, ou pode ainda elaborar uma lei que fixe o regime geral,
revogando a anterior lei de bases também. Caso contrário, ao elaborar o desenvolvimento, fica
subordinada à lei de bases.

Na área concorrencial:

 Uma lei de bases revoga decretos-leis de bases anteriores, bem como ao contrário, porque têm
o mesmo valor.

 Há quem entenda que tanto o Governo como a Assembleia podem elaborar leis de
desenvolvimento de bases, porque o Governo pode elaborar um decreto-lei de desenvolvimento
que, pelo referido acima, revoga a lei de desenvolvimento anterior feita pela Assembleia.

 No entanto, o Prof. Paulo Otero considera que compete ao Governo fazer decretos-lei de
desenvolvimento de bases na área concorrencial porque, analisando o art. 198º/1C, retira-
se que este existe para acrescentar algo a mais que a alínea a) desse mesmo não refere, que

51
será atribuir competência reservado ao Governo para desenvolver as bases, excluindo a
Assembleia da República.

Leis de autorização legislativa – art. 165ºCRP

 Durante a vigência dela a Assembleia não perde o poder para legislar sobre essa matéria, não
alienando o seu poder;

 Só podem ter como destinatário o Governo;

 Não pode haver lei genérica, ou seja, cada autorização tem de definir especificamente sobre o
que vai legislar - art. 165º/2 CRP – as leis de autorização têm de definir o objeto (a alínea), o
sentido (se permite, facilita, proibe...), a extensão (todo o arrendamento, ou só o arrendamento
comercial) e a sua duração;

 Só pode ser exercida uma vez (a mesma autorização) podendo ser exercida
parcelarmente – art. 165º/3CRP – caso contrário têm de pedir outra;

 As autorizações caducam com o termo de legislatura, demissão do Governo ou dissolução


da Assembleia. No entanto, há um regime especial para as leis de autorização orçamental:
elas não caducam com a demissão do Governo e podem ser exercidas mais que uma vez –
art. 165º/5CRP.

 O Prof. Paulo Otero considera que as leis de autorização legislativa podem ser
retroativas, poque o Governo emana um decreto-lei a dia 2/2/2017 sobre matéria da reserva
relativa da Assembleia à qual não possui autorização, ou possui, mas só até certo ponto e ele
excedeu-a. A Assembleia pode elaborar uma lei de autorização legislativa sobre essa matéria
excedida no dia 24/04/2017, a dizer que produz efeitos a partir do dia 2/2/2017, sanando o
incumprimento do Governo face à anterior lei de autorização legislativa que possuía (sanando a
inconstitucionalidade inorgânica que cometeu).

Processo Legislativo Parlamentar

 Corresponde à sucessão ordenada de atos e formalidades.

 Como fontes do processo legislativo parlamentar temos: a CRP, o regimento da Assembleia da


República (ato normativa da competência exclusiva da Assembleia), as leis avulsas que

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disciplinam este processo (como por exemplo a lei estatutária, a lei que regula o formulário dos
respetivos diplomas) e o costume parlamentar.

 Como tipos de processo legislativo parlamentar especiais temos: os estatutos politico-


administrativos das Regiões Autónomas, as leis de revisão constitucional, a lei do orçamento e a
lei respeitante a autorizações legislativas das Assembleias legislativas das Regiões Autónomas.

 Para além desses, existem o tipo comum e o tipo de urgência (este está regulado no
art.170ºCRP).

Fases do processo legislativo parlamentar comum

1ª – fase da iniciativa legislativa:

 Art. 167º/1CRP - Quem tem iniciativa é o Governo, os deputados, os grupos parlamentares,


os grupos de cidadãos eleitores e as Assembleias Legislativas das Regiões Autónomas. Os
deputados e grupos parlamentares fazem projetos de lei, e as restantes entidades
extraparlamentares fazem propostas de lei.

 Existem dois tipos de iniciativas legislativas:

- Iniciativa legislativa reservada (só uma ou algumas destas entidades podem desencadeá-la;
ex: em matéria estatutária só as Assembleia Legislativas podem fazê-lo) e iniciativa legislativa
concorrencial (duas, mais ou todas as entidades referidas podem desencadeá-la);

- Iniciativa legislativa originária (poder de apresentar propostas ou projetos de lei) e


iniciativa legislativa superveniente ou derivada (poder de propôr alterações a essas
mesmas propostas ou projetos de lei, mas não de os elaborar).

 Art.167º/2CRP – lei travão – os deputados, grupos parlamentares, grupos de cidadãos


eleitores e as Assembleias legislativas não podem apresentar propostas que envolvam
aumento de despesas ou diminuição de receitas. Para tal, só o Governo tem competência,
produzindo efeitos apenas no ano económico seguinte (também no art.167º/3CRP isto se
aplica).

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 Se o presidente da Assembleia da República admite a iniciativa, esta é publicada no Diário da
Assembleia da República. Caso contrário, a decisão é enviada para o plenário da Assembleia,
podendo ainda ser aprovada (se uma destas ocorrer, segue para a próxima fase). Caso contrário,
termina aqui.

 A iniciativa legislativa caduca com a demissão do Governo.

2ª – fase da apreciação:

 A apreciação pode ser no Parlamento, ocorrendo através de um exame em comissão, quando


versa matéria da Assembleia; ou na generalidade, sendo feita com intervenção de outros orgãos,
como por exemplo, das Regiões Autónomas.

3ª – fase da deliberação:

 (1.) Discussão e votação na generalidade do plenário: se ele rejeitar acaba ali, se aprovar
passa-se para a (2). Discussão e votação da especialidade, que é geralmente feita na comissão,
comissão que lima as arestas e aperfeiçoa o diploma. Após isso, (3.) o diploma volta para o
plenário, onde pode ser aprovado por maioria simples (art.116º/3CRP), sendo por maioria
absoluta no caso das leis orgânicas e dos restantes atos normativos estipulados no
art.168ºCRP. Se for, avança-se para a próxima fase.

4ª – fase da promulgação:

 O diploma é enviado para o Presidente da República para ele o promulgar. Ele ou o veta
politicamente, ou o envia para fiscalização preventiva, ou promulga-o. Se for a última
hipótese, avança-se para a próxima fase. Art. 137ºCRP – a falta de promulgação implica
inexistência do acto.

5ª – fase da referenda ministrial:

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 O Primeiro-Ministro assina o diploma. Se não o fizer, isso determina a inexistência do ato
normativo, ao abrigo do art.140º/2CRP.

6ª – fase da publicação: art.119º/2CRP – sem ela, o ato é considerado ineficaz.

Será que há primado do Parlamento?


 O professor Jorge Miranda considera que sim, argumentando:
1. A Assembleia da República tem competência legislativa genérica, onde lhe compete a
ela fazer todas as matérias;

2. A Assembleia possui também competência legislativa reservada, onde só ela pode agir;

3. Na área concorrencial, a Assembleia pode fazer leis de bases que limitam a atuação do
Governo;

4. A Assembleia pode controlar o mérito dos decretos-leis, segundo o art.169ºCRP.

5. O veto político do Presidente é veto absoluto para os decretos-lei e veto suspensivo


para as leis (decretos são feitos pelo Governo e leis pela Assembleia).

 O professor Paulo Otero considera que não, porque:

1. Um evento do primado da Assembleia é sempre seguido por um evento do primado


do Governo. É um primado concorrencial, ou seja, não há primado;

2. Anualmente, são publicados mais decretos-leis do que leis, o que dá um primado ao


Governo na produção legislativa sobre a Assembleia da República.
3. Algumas leis da Assembleia são autorizações para dar poder legislativo ao Governo;

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4. Algumas leis da Assembleia são a atribuição da elevação do estatuto de vilas a cidades,
sendo leis que não possuem conteúdo normativo.

 Analisando os argumentos do professor Jorge Miranda, e contraargumentando:


1. Também o Governo possui competência legislativa genérica na área concorrencial;

2. Na área concorrencial as leis e decretos-leis têm igual valor, e revogam-se uma à outra;

3. O Governo também tem competência legislativa reservada, onde só ele atua;

4. A Assembleia da República tem competência reservada, mas está muitas vezes


“prisioneira” da competência legislativa do Governo (ex: na lei do orçamento a
Assembleia tem competência legislativa reservada, mas o Governo tem a iniciativa
legislativa e sem esta iniciativa, a Assembleia não pode fazer a lei do orçamento; ex 2: a
lei travão trava a Assembleia da República, dando ao Governo exclusivo de iniciativa
sobre matérias que aumentem as despesas ou diminuam as receitas);

5. A Assembleia tem competência legislativa reservada, mas também tem


competência legislativa relativa, onde pode dar autorização ao Governo para
legislar sobre essas matérias.

6. A Assembleia aprova ainda o que o Governo deseja, porque quando há maioria no


Parlamento, quem a lidera é o Primeiro-Ministo (a figura que está à frente no
Governo, dando primado a este);

7. As leis da Assembleia estão ainda sujeitas à promulgação do Presidente, sem esquecer


da referenda do Primeiro-Ministro que se segue a esta. Se ele não quiser referendar a lei
é inexistente, dando primado ao Governo sobre a Assembleia.

8. O veto político dos decretos-leis não é totalmente suspensivo porque se o Presidente


não quiser promulgá-los, o Governo pode apresentá-los à Assembleia como propostas
de lei e, devido à maioria parlamentar, elas são aprovadas pela Assembleia e depois
promulgadas pelo Presidente.

56
 Art. 169ºCRP – todos os decretos-leis podem ser objeto de apreciação (para fazer cessar a
sua vigência, suspendê-los ou para o Parlamento lhes introduzir modificações no seu texto) à
exceção dos estipulados no art. 198º/2CRP.

Matéria que sai para Casos Práticos (Aulas práticas)

 Orgãos de soberania:

O Estado Português é Estado de Direitos Humanos. No plano substantivo, temos a dignidade da


pessoa humana, os direitos fundamentais e a democracia. No plano político, temos a separação
de poderes - orgãos interdependentes, com mecanismos de controlo e dependência uns sobre os
outros. Cada orgão tem a sua autonomia, mas tem de respeitar os restantes – art. 2º e 111º
CRP. Para saber se este último art. foi violado, temos de ver a lista de competências de cada
orgão.

 Competências:

Presidente – art. 133º e ss. CRP - especialmente art. 136ºCRP (ligado ao art. 278ºCRP).

Assembleia da República – art. 147º, art. 161º e ss., especialmente art. 166º e 168º CRP.

Governo – art. 182º, art. 187º e ss., art. 197º e ss. CRP, especialmente art. 198º, art.200º e art.
201º (competência de Conselho de Ministros e cada um individualmente);

Tribunais – art. 202º e ss., especialmente art. 204ºCRP. Tribunal Constitucional – art. 221º e
223º (competência no art.221º, fiscalização no 277º e ss.CRP).

Regiões Autónomas – art.225ºCRP - regime das regiões autónomas; art. 227º CRP – poderes
das regiões autónomas; art. 232º CRP – competência legislativa das regiões autónomas; art.
233ºCRP – regime de assinatura e de veto.

Funções do Estado  meios pelos quais o Estado atinge os fins  política, legislativa,
executiva e jurisdicional

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 Não confundir com fins do Estado – bem-estar, segurança e justiça – que são os objetivos do
Estado.

 Para atingir estes fins, o Estado atribui orgãos (centros de imputação da vontade) a estas
funções, elaborando assim a separação de poderes.

 art. 202º CRP – atribuição rígida: Tribunais são o único orgão que exerce a função
jurisdicional, mas esta é a única função que têm (regra bilateral rígida).

 O sistema é flexível, excepto quanto à função jurisdicional. Cada orgão é constituído pelos
titulares, em situações funcionais (situaçóes em que os titulares são investidos para os seus
poderes). Situações pós-funcionais – após ser titular de poderes de um orgão, continua a
possuir privilégios, direitos e deveres inerentes ao cargo que ocupou anteriormente, para
garantia da própria República.

 Restringe o princípio republicano (que consiste no facto de a chefia do Estado ser definida de
forma democrática e periódica) mas justifica-se pelo motivo anteriormente referido, de garantia
da República.

Funcionamento dos Orgãos Colegiais

 Art. 116ºCRP – maioria simples (mais votos a favor do que contra) para deliberar.

 Se não houver artigo na CRP de maioria absoluta (metade dos votos a favor mais um) ou
maioria de dois terços, aplica-se a maioria simples. Art. 168ºCRP – principais regras.

 Quorum – maioria para deliberar.

Fiscalização da Constitucionalidade

 Arts. 121º e 123º CRP – exceção ao art. 202ºCRP (Tribunais só exercem função jurisdicional).

 Tribunal Constitucional tem competências jurisdicionaiss especiais, como fiscalização da


constitucionalidade e legalidade.

 Sistemas difusos – sistema dos EUA, em que todos os Tribunais fiscalizam. Em Portugal, o
art. 204ºCRP diz que todos os Tribunais podem fiscalizar.

 Sistemas concentrados – como no sistema português, que tem um Tribunal especial, o


Tribunal Constitucional, para fiscalizar.

58
 Portugal tem então um sistema misto, porque tem uma regra difusa – em que todos os
Tribunais podem fiscalizar – mas tem um Tribunal específico para isso, o Tribunal
Constitucional, que remota ao sistema concentrado.

 O sistema concentrado tem origem em Kelsen (austríaco), na Constituição de Bonna –


porque os orgãos de soberania não iriam ser justos a auto-fiscalizar-se, devia então criar-
se em Tribunal Constitucional, específico, com conhecimento para fiscalizar, sendo
concentrado e especializado nesta fiscalização da constitucionalidade e legalidade.

 O Supremo Tribunal dos EUA é concentrado, mas não é especializado, porque exerce mais
funções para além da constitucionalidade e legalidade.

 O Prof. Jorge Miranda propôs um sistema misto porque os Tribunais estavam


desabituados a fiscalizar e por isso devia ser um Tribunal a fiscalizar, mas um específico e
especializado. Em ’76 o Conselho da Revolução (militar) queria controlar a CRP e não aceitou
esta proposta, sendo ele responsável pela fiscalização. Em ’82 o Conselho cai e cria-se o
Tribunal Constitucional.

Processo de fiscalização da constitucionalidade

 Processo abstrato (sistema concentrado) – competência é exclusiva do Tribunal


Constitucional; tem por objetivo remover uma norma do ordenamento jurídico: é abstrato
porque se julga a própria norma, e não um caso concreto.

 Processo concreto (sistema difuso) – julga-se o caso concreto, determina-se a sua solução; a
inconstitucionalidade da norma é um incidente da resolução do caso, que é o real objetivo;
desaplica-se a norma, mas ela continua em vigor, sendo desaplicada no caso concreto apenas;
todos os Tribunais têm competência para tal.

Processos concretos

 Sendo uma norma julgada inconstitucional num processo concreto, pode o cidadão pedir
recurso para ser julgado num Tribunal superiormente hierárquico, e assim sucessivamente,
podendo chegar ao Tribunal Constitucional, nos casos estipulados no art. 280ªCRP.

 Para se chegar ao Tribunal Constitucional, há um pressuposto processual de esgotar os


recursos nos Tribunais inferiores a este (todos são, incluindo o Supremo Tribunal de Justiça). É
a única forma, como cidadão, de se chegar a este tribunal (recorrendo ao Provedor de Justiça
- art. 23ºCRP). Por exemplo, em Espanha, há “recurso de amparo”, em que o cidadão que se
sinta injustiçado pode requerir para ir a recurso diretamente ao Tribunal Constitucional.
59
 Se um Tribunal desaplica uma lei, é obrigatório que se suscite um recurso ao Ministério
aprovado pelo Parlamento. Art. 280ºCRP (faz referência com art. 70ª da LTC).

 Há leis ilegais - nos casos normais, apesar de todos serem graves, todos os Tribunais têm
competência para averiguar a legalidade delas. Nos casos mais extremos e mais gravosos
ainda, só o Tribunal Constitucional tem competência para realizar um processo de legalidade.

Processos Abstratos

 Fiscalização preventiva – art. 278ºCRP – processa-se antes da norma entrar em vigor.

 O Presidente e outros orgãos colaboram com o Tribunal Constitucional neste processo.

 Se for declarada inconstitucional, a norma não chega a ser aprovada.

 Só os atos legislativos (lei, decreto-lei, decreto legislativo regional) ou normas internacionais


são importantes ao ponto de se criar este tipo de processo.

 Fiscalização sucessiva abstrata – art. 281ºCRP - norma que já entrou em vigor, e cria-se um
processo para tentar eliminá-la do ordenamento jurídico.

 Todas as normas podem ser sujeitas a este processo, que é apreciado pelo Tribunal
Constitucional.

 Fiscalização por omissão – art. 283ºCRP – quando uma norma, necessária para dar
efetividade à Constituição, devia ter sido aprovada e não foi.

 O Presidente ou o Provedor de Justiça (ou ainda as Regiões Autónomas, com a sua


Assembleia Legislativa, em certos casos) podem requerer ao Tribunal Constitucional este
processo, sendo que este último dá conhecimento da não inconstitucionalidade da norma ao
orgão competente para a aprovar, uma vez que o Tribunal Constitucional pode apenas eliminar
normas, mas não elaborá-las.

Art. 187º/1CRP – apresenta:

 Limite formal - é preciso haver equilíbrio entre os dois orgãos que têm legitimidade
direta (Presidente e Assembleia da República) que formam o Governo. Nenhum deles pode
formar um Governo com plenitude de funções sozinho, tem de haver consenso, de forma a dar
mais legitimidade a este que é criado.

60
 Limite material – na Constituição não-oficial o povo elege deputados que são colocados
nas listas pelo líder partidário (que será depois, provavelmente, o nomeado para Primeiro-
Ministro), e devem-lhe obediência por os colocar lá. Ao elegê-los para a Assembleia da
República, estamos na verdade a dar legitimidade ao Primeiro-Ministro, por esse motivo, devido
à força da maioria, fazendo com que na prática o Parlamento dependa do Governo, e não ao
contrário.

Uma norma jurídica tem de ter uma prática reiterada e uma convicção de obrigatoriedade. O
mesmo se passa com as normas consuetudinárias. As normas inconstitucionais, para o Prof.
Paulo Otero, podem ser tanto à luz da CRP oficial como da constituição não-oficial, porque para
ele ambas possuem o mesmo valor.

Constituição não-oficial – indigitação

¨ O Presidente aprecia se o futuro nomeado para Primeiro Ministro tem capacidade para formar
um Governo funcional.

¨ Se o achar, o Primeiro Ministro é informado e contacta informalmente os elementos que


seriam deputados e secretários de Estado do seu futuro Governo, e apresenta-os, informalmente,
ao Presidente.

¨ Se este considerar que possuem capacidade para formar Governo funcional, nomeia-o como
Primeiro Ministro, marcando a tomada de posse e passando, neste ponto, o processo, a ser
formal.

 Apesar de já estar a exercer funções, não está na sua plenitude – é um Governo de Gestão,
apenas tratando de negócios públicos, até apresentar o seu Programa de Governo ao Parlamento.

FIMAtos
DElegislativos
MATÉRIA PARA A da
da Assembleia FREQUÊNCIA
República

 Não estão sujeitos à apreciação parlamentar os decretos-leis do nº2 do art.198ºCRP


referentes à organização e funcionamento do Governo.

 Art.169ºCRP – requerimento mínimo de 10 deputados para a Assembleia apreciar um


decreto-lei.

61
 A Assembleia pode determinar a cessação de vigência de um diploma e aprovar uma
resolução, que não necessita de promulgação pelo Presidente.
 O nº4 do art.169CRP diz-nos que, se for aprovada a apreciação, o diploma deixa de vigorar
apenas a partir do dia da publicação da resolução que assim a dita.

 Esta resolução não tem efeito retroativo, porque até ao momento da sua publicação o decreto-
lei mantém-se em vigor. Aquele decreto-lei não poderá voltar a ser publicado naquela sessão
legislativa, mas o Governo não perde a competência para legislar nessa matéria.

 Se a Assembleia quiser destruir todos os efeitos do decreto-lei deve fazer uma lei que tenha
efeitos retroativos.

 No entanto, se for na área concorrencial, pode o Governo de seguida fazer um decreto-lei


que revogue essa mesma lei que a Assembleia emanou (relembrar que nesta área decreto-
lei e lei têm igual valor e revogam-se um ao outro).

 O nº2 do art. 169ºCRP diz-nos que a Assembleia pode introduzir alterações ao decreto-lei,
revestindo estas a forma de lei e não de resolução, e por isso estando sujeitas a promulgação
pelo Presidente.

 Na área reservada do Governo – art.198ºc) CRP – pode a Assembleia fazer alterações /


decreto-lei.

 A Assembleia pode, se tiverem sido apresentadas propostas de alteração e se tiverem em causa


leis de autorização legislativa, suspender sob a forma de resolução a aplicação imediata do
decreto-lei.

Se decorridas 10 reuniões plenárias da Assembleia e nada tiver ficado decidido em


relação a essa alteração, a suspensão cessa os seus efeitos – art. 169º/2 e 3 CRP.

 Prof. Considera que não há supremacia da Assembleia da República porque a resolução


não tem efeitos retroativos, portanto permanece a vontade do Governo até à data da sua
publicação.

 Se a Assembleia quiser elaborar alterações, essas alterações virão sob a forma de lei, podendo
o Governo elaborar um decreto-lei que a revogue, na área concorrencial.

62
Fiscalização da constitucionalidade
 Os tribunais têm competência legislativa exclusiva para declarar a inconstitucionalidade
de um ato legislativo. Ela é um conceito tanto da CRP oficial como da CRP não-oficial,
não escrita.

A inconstitucionalidade pode ter a ver com:


1. O autor – quem emanou o ato legislativo não possuía competência para o fazer, ou
excedeu aquela que tinha;
2. A forma/procedimento/formalidades – exemplo, lei de revisão constitucional é
desencadeada pelo Governo (não pode, porque apenas os Deputados o podem
fazer);
3. O conteúdo/ objeto da medida legislativa – exemplo, é criada uma lei em que, em
caso de menoridade, a mãe tem de receber a custódia do filho, aquando do divórcio
(viola o princípio da igualdade);
4. O fim – exemplo, é criado um instituto com propósito diferente do qual se encontra
estipulado na CRP: farmácias passam a a pertencer ao Estado, e este não pagará
indemnizações a ninguém (apropriação coletiva de bens). Esta apropriação não é
nacionalização, mas sim um confisco (diferença entre eles é que o primeiro indemniza e
o segundo não) e sendo que o confisco é proíbido pela CRP, o fim é proíbido e a norma
é inconstitucional.

 A inconstitucionalidade pode ser originária (se, na data que a norma surgiu, ela já era
contrária à CRP) ou superveniente (durante a vida da norma infraconstitucional, há uma
alteração da CRP, determinando a invalidade da norma).
 Exemplo de originária: CRP de 1976, e decreto-lei de 1977 que nessa altura já era contrário a
ela.
 Exemplo de superveniente: lei de 1977 era válida porque estava de acordo com a CRP, até à
revisão desta em 1982, que tornou a norma contrária a ela e inválida.

 A inconstitucionalidade pode ainda estar presente em normas que ainda estão vigentes e em
normas que jã não estão (exemplo, uma lei de autorização legislativa de 1998 de que resultou
um decreto-lei de 1998 que se encontra em vigor; a lei de autorização caducou com a emanação

63
desse decreto, podendo ela ser contrária à CRP e inconstitucional, determinando a invalidade do
decreto-lei – há comunicação dos atos pressupostos normativos e das suas bases, determinando
a sua validade).
 A inconstitucionalidade apresentada no exemplo, referente a normas que já perderam a
sua vigência, é designada por inconstitucionalidade derivada ou consequente. Pode
acontecer a mesma situação com leis de bases e decretos-leis de desenvolvimento.

Tipos de fiscalização
 Há uma dicotomia que opõe inconstitucionalidade por ação e por omissão.

Por ação:
 Pode ser objeto de fiscalização preventiva (antes do diploma nasscer para o direito, e
antes da sua promulgação – art. 278ºCRP) ou de fiscalização sucessiva (depois de a norma
ser publicada – art. 280º e 281º CRP).

 Esta última pode ocorrer perante um caso concreto, em que o tribunal se recusa a aplicar a
norma por considerá-la inconstitucional (mas não a declara) desaplicando-a – fiscalização
difusa ou incidental.
 Pode ocorrer a apreciação da norma em geral, independentemente do caso concreto, pelo
Tribunal Constitucional, com o objetivo de eliminar a norma do ordenamento jurídico –
fiscalização abstrata.

Diferenças entre fiscalização difusa e abstrata:


1. Difusa está a cargo de todos os Tribunais, enquanto que a abstrata está a cargo
apenas do Tribunal Constitucional;
2. Difusa só produz efeitos naquele caso concreto, enquanto que a abstrata produz
decisões com força obrigatório geral (força que determina a cessação da vigência da
norma).
3. Difusa é mais antiga, e teve origem nos EUA. Estes influenciaram o Brasil, que
influenciou Portugal.
4. Abstrata é criação austríaca, por Hans Kelsen, na Constituição de Bonna.

 Só há fiscalização de atos normativos – à excepção dos referendos nacionais, regionais e


locais, (que são atos políticos), das Convenções coletivas de trabalho (atos de Direito Privado) e
dos diplomas legislativos que sejam atos administrativos sob forma legislativa, segundo a
jurisprudência dos tribunais.

64
 Das decisões dos tribunais que conheçam questões de inconstitucionalidade por
fiscalização sucessiva concreta, é sempre possível recorrer ao Tribunal Constitucional –
art. 280º CRP.
 Quando os tribunais desaplicam a norma com fundamento na inconstitucionalidade, o
Ministério Público é obrigado a submeter recurso para o Tribunal Constitucional
apreciar. Quando a mesma norma passar por esse caso 3 vezes pode o Tribunal
Constitucional remete-la para fiscalização abstrata (competência exclusiva deste) – art.
281º/3CRP

 A fiscalização sucessiva pode ser feita antes de a norma estar em vigor - art. 281º/ 1 e 2
CRP – se for durante o período de vacaccio legis (lei é publicada mas só entra em vigor 5
dias depois); as únicas entidades com competência para a requerirem ao Tribunal Constitucional
são só e apenas aquelas que este artigo estipula.

Efeitos – art. 282ºCRP:


 Retroatividade da declaração de inconstitucionalidade com força geral obrigatória: se for
originária, ela vai apenas até à data em que a norma foi publicada (chamado efeito apagador); se
for superveniente, ela só destrói os efeitos desde a data em que se verificou a
inconstitucionalidade da norma até à data presente.
 Inconstitucionalidade repristinatória: a norma é inconstitucional, mas a que a iria
substituir se assim fosse declarada (aquela que lhe era anterior) é pior em termos de
inconstitucionalidade, e por isso prevalece a primeira e a sua inconstitucionalidade não é
declarada – isto porque existem graus mais e menos gravosos da inconstitucionalidade das
normas.
 Art. 282º/3CRP: ficam resalvados os caos julgados se, da solução desses, se extrair um
benefício para aquele que foi julgado, não destruindo nenhum efeito nessa situação concreta.
 Art. 282º/4CRP: por razões de segurança, equidade ou interesse público, os efeitos que a
norma produziu podem não ser destruídos, passando a inconstitucionalidade a produzir
efeitos e a valer a partir do momento em que é declarada.
 Pode hoje, dia 8 de maio de 2017, o Tribunal Constitucional declarar inconstitucional uma
norma, e ela produzir efeitos até dia 30 de junho de 2017, se este assim o decidir.

 Seguem o mesmo processo as normas do art. 281º/1 b), c) e d) CRP – violação de lei com
valor reforçado, normas das Regiões autónomas que violem os estatutos, e normas da
República que violem direitos das Regiões autónomas mencionados nos estatutos.

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Por omissão:
 Só existe por falta de medidas legislativas para implementar a CRP. É da competência
exclusiva do Tribunal Constitucional e, se este verificar que uma norma deveria ter sido
aprovada para garante da CRP e não foi, ele dá conhecimento disso ao orgão competente
para que este elabore a lei, uma vez que este tribunal tem competência para excluir leis
mas nunca para as elaborar – art. 283ºCRP.

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