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Paulo Otero
A história constitucional portuguesa começou em 1820 com a Revolução liberal, que trouxe
para Portugal os efeitos da Revolução Francesa.
Antes de 1820 já existia uma Constituição com normas constitucionais. A Constituição que se
constrói ao longo do tempo chama-se Constituição Histórica.
O dever do Estado de indemnização por danos nasce pela mão de D. Afonso II.
3º momento (1245): Deposição de D. Sancho II. Quem o afasta é o Papa, que é mediador entre
o Rei e Deus.
Santo Agostinho fundamenta que o Rei não garante a justiça, e quem passa a reger o Reino é o
Conde de Bolonha, Afonso III, que assume o compromisso de Paris de 1245.
4º momento (1254): D. Afonso III convoca as Cortes de Leiria. São as primeiras Cortes em que
o povo participa.
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5º momento (1297): Celebração do Tratado de Alcanises. É o Tratado que define as fronteiras
de Portugal Continetal e ainda hoje está na origem do art.5º CRP.
Morte e sucessão de D. Fernando: as Cortes entendem que o herdeiro deve ser afastado do
Reino e este é atribuído ao Mestre de Avis. O rei é rei por mediação popular, nomeadamente por
legitimação da dinastia de Avis, com base nas Cortes.
11º momento (1640): Restauração das Cortes de Lisboa de 1641. As Cortes têm o poder de
afastar o monarca se ele for tirano.
12º momento (1667): D. Afonso VI é deposto – passa a ser legítimo um caso de incapacidade
da lei.
13º momento (1778): Reinado de D. Maria I – o Novo Código opõe duas versões: a primeira
remonta a Pascoal de Melo Pereira, e a outra, não tão absoluta, foi imposta pela Revolução
Francesa.
14º momento (1804): 1ª invasão francesa. A família real desloca-se para o Brasil;
O rei vai até ao Novo Mundo, e em 1820 (data da revolução liberal) o povo exigia dessa forma
o regresso do Rei para impedir que o país fosse ocupado pelos ingleses, e voltasse a ser uma
colónia. A Revolução tem como objetivo a instauração de uma ordem constitucional liberal,
com a existência de um texto formal/constituição, que deles resultariam as Cortes Constituíntes.
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Constituição de 1822
Bases da constituição:
Art. 29º - o Governo português é monarquia constitucional, com o exercício dos três poderes.
Art. 26º - a Nação pode ter a soberania, mas esta só pode ser exercida pelos seus representantes.
Estes representantes são – art.32º - as Cortes e os Deputados, tendo eles poder de soberania
quase equiparado ao poder constituinte, e por isso ninguém tem de fiscalizar a soberania (juízes
não fiscalizam a constitucionalidade das leis).
Art. 30º - o poder legislativo assenta no Rei e nas Cortes, e o executivo no Rei e nos Secretários
de Estado. O poder judicial está nos Tribunais. Segundo este artigo, todos têm igual autonomia
e independência.
Art. 31º/ art. 121º - Tal como as Cortes, o Rei é soberano e representante da Nação. As Cortes
são-o porque são eleitas pelo povo, e o Rei é-o porque é eleito na Constituição, pela Nação.
Uma lei, aprovada pelas Cortes e sancionada pelo Rei, tem legitimidade a que ninguém se
pode opôr, porque ela é a soma da vontade dos dois representantes soberanos.
Art. 110º - O Rei pode suspender a sanção (participar na elaboração da lei e não apenas
promulgá-la, ou seja, dar legitimidade ao acto legislativo) e devolver a lei às Cortes, expondo as
razões de discordância. As Cortes podem atender às suas razões e alterá-la, ou podem enviar de
novo a sanção, tendo o Rei de a tornar lei – veto apenas suspensivo do Rei.
Art. 114º - Se o Rei não sancionar, finge-se que sancionou, e se o Rei não assinar, as Cortes
assinam por ele (aquele que detiver o poder executivo) e mandam publicar a lei em nome do
Rei. Novamente, lógica de Rousseau – não há limites à vontade das Cortes. No entanto, a
soberania assenta no poder de ambos os representantes, apenas para adquirirem maior força
legislativa, porque dois orgãos são mais fortes que um.
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Sistema de separação de poderes desiquilibrado, com primazia da lei, sendo que dois dos três
poderes são soberanos e declarados representantes da Nação, e prevalecendo sobre o poder
judicial, sendo por isso que não estão sujeitos a fiscalização.
Todos estes motivos levaram à queda da Constituição de 1822, e a uma guerra civil sobre ela.
Esta tem por base o pensamento de Benjamin Constant (poder moderador). Foi oferecida pelo
Rei, que passou de rei absoluto a rei constituinte. Influenciou a nossa CRP porque o poder
estava essencialmente no governante, permitindo que esta vigorasse tanto tempo (76 anos,
porque retirou-se poder às Cortes e entregou-se ao poder executivo e ao Chefe de Estado, tal
como na Constituição de 1933).
O Rei tem poder moderador, e a Constituição é a expressão da sua vontade. O poder executivo
assenta nele e nos seus ministros, enquanto que o legislativo está nas Cortes, numa estrutura
bicameral. Não há fiscalização das leis pelos Tribunais e o Rei pode livremente dissolver as
Cortes.
Na sua constituição não oficial, o Rei passou a eleger um Presidente do Ministério (hoje é o
Primeiro-Ministro) para dialogar com ele e ajudar nas deliberações (influência de Inglaterra).
Este presidente passou a ter a iniciativa das decisões, escondendo-se o Rei atrás dele. Ele não
tinha o poder supremo porque esse pertencia ao Rei, mas a política ativa estava nas suas mãos e
como consequência, no Governo, porque o Presidente do Ministério era presidente deste. Tal
não estava estipulado na Constituição escrita.
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Art. 72º - a pessoa do Rei é inviolável e sagrada, não podendo por isso ser responsabilizada de
alguma forma;
1828: D. Miguel regressa da Aústria; abdicação de D. Pedro; D. Miguel proclama-se Rei (torna-
se rei absoluto entre 1828 e 1834, havendo um Período Absolutista).
1832: começa a Guerra Civil, que termina com a Conveção de Évora Monte. D. Pedro é
proclamado regente em nome da filha, D. Maria II.
1836: revolução setembrista, encabeçada pelos irmãos Passos Manuel, que vai ditar o
restabelecimento de vigência da Constituição de 1822. Esta era flexível, pois podia ser alterada
por meio de decreto do legislador.
Constituição de 1838
Art. 9º - “a lei é que fixa os preceitos da liberdade; Art. 32º - “as garantias individuais podem
ser suspensas pelo legislador em caso de rebelião ou invasão de um inimigo” (sendo que a
rebelião era decidida pelas Cortes e pelo Rei); A lei tinha primazia sobre a liberdade.
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Art. 34º - O Rei perde o poder moderador (sinal de compromisso) mas tem o poder de fiscalizar
as Cortes, que eram o poder legislativo (vetar a lei, sendo este veto absoluto), o poder executivo
e judiciário (juízes e jurados). O veto era absoluto porque não existia norma na Constituição que
previsse como o Parlamento podia sancionar o veto do Monarca.
Art. 36º - existem duas Câmaras, as quais o Rei não pode controlar; Art. 71º - as Câmaras são
decretadas por eleição direita; Art. 83º - o Rei não pode impedir esta eleição – limites impostos
ao Rei.
Arts. 81º e 82º - o Rei não tem poder moderador, mas o essencial das suas competências é
mantido; Art. 83º - o Rei não pode impedir a reunião das Cortes, mas pode dissolvê-las se ficar
insatisfeito.
Art. 85º - o Rei não pode ser responsabilizado; Art. 115º - os actos do Rei são sempre
referendados pelos Secretários de Estado e Ministros (de forma a poderem ser eles
responsabilizados); Art. 116º - os Secretários de Estado e Ministros são principalmente
responsáveis pelos actos do Rei – Responsabilidade ministrial.
Art. 137º - primeira vez que o Governo pode praticar atos legislativos urgentes; isto influenciou
a nossa CRP, na medida em que o Governo dispõe de certas competências legislativas
(art.198ºCRP).
1842: Golpe de Costa Cabral – resposta em vigor à Carta Constitucional, na sua 3ªa vigência –
fazendo revisões a esta para diminuir o peso monárquico.
Constituição de 1911
Reconhece a liberdade de culto, mas esta pode ser restringida se for contra os princípios do
direito público português, bem como outros direitos, que acabam por não existir
verdadeiramente, pois a lei pode sempre minimizá-los ou aliená-los, de forma constitucional:
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Art. 3º/8 – reconhece que os cidadãos se possam reunir para culto, mas dentro dos preceitos que
a lei fixará; Art. 3º/13 – a liberdade de expressão do pensamento é completamente livre, mas o
abuso desta é punível pela forma que a lei fixar; Art. 3º/25 –há direito de propriedade, salvo
limitações estabelecidas; Art. 3º/12 – são proibídos os jesuítas, sem restrições ou limitações.
Art. 63º - influência pelo poder de fiscalização no Brasil, que se influenciou nos EUA. Aparece
pela primeira vez a fiscalização da constitucionalidade pelos Tribunais (presente hoje no
art.204ºCRP).
Art. 36º - o poder executivo é exercido pelo Presidente da República e Ministros; Art. 38º - o
Presidente é eleito pelo Congresso e não pelo povo – eleição indireta. Este acaba por ter menos
legitimidade e força, porque está mais afastado do povo: quanto mais próximo do povo, mais
legitimidade tem o orgão. Dá assim maior poder ao Congresso, sendo que o Presidente depende
dele.
Art. 26º/19 – o Congresso elege o Presidente; Art. 26º/20 – o Congresso pode destituir o
Presidente; Art. 26º/24 – o Congresso faz as leis sozinho, o Governo faz regulamentos e
decretos sobre estas, mas o Congresso tem de sancioná-las na mesma.
Art. 53º - o Presidente nomeia um Presidente de Ministério – algo que acontecia desde 1826,
mas que não constava da Constituição oficial até à data, e que só apareceu anteriormente na Lei
de 1855, uma lei apenas ordinária.
Esta constituição teve 2 períodos políticos: a ditadura de Pimenta de Castro (1915) e o Sistema
Presidencialista de Sidónio Pais (1917). Ele inverteu toda a Constitução, deu eleição direta ao
Presidente, e colocou o poder neste. Foi assassinado mais tarde, e a Constituição de 1911 voltou
a ser executada como antes.
Constituição de 1933
Estado interventor de Salazar e Marcelo Caetano. Foi aprovada por referendo e ocupa-se de
preocupações com a família, trabalho e intervenção do Estado.
As eleições eram feitas através de plebiscito, ato que servia apenas para estas ganharem
legitimidade. Eram direitas e com apenas um partido único.
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Esta ditadura consagrava o corporativismo e um modelo de Estado de Direito. A sua
constituição foi alvo de diversas revisões constitucionais.
Art. 8º - cláusula aberta, que tem como objetivo a limitação dos direitos funndamentais (tal
como acontecia com a de 1911).
Art. 72º - o Presidente é eleito diretamente pela Nação nesta constituição, a única onde o chefe
de Estado era eleito assim, porque Salazar o decidiu.
Art. 81º/6 – o Presidente tem competência para dissolver a Assembleia Nacional (o mesmo
acontece hoje, ao abrigo do art. 133ºCRP).
Art. 122º - os Tribunais não podem aplicar leis ou diplomas que infrinjam o disposto na
constituição.
Art. 116º - se um crime fosse contra a segurança geral deveria existir um Tribunal específico
para tal, o Tribunal Plenário. Hoje, o art. 209º/4 proíbe a existência de quaisquer Tribunais
especifícos, à exceção do disposto sobre os tribunais militares.
A constituição não-oficial afastava-se desta, sendo que esta estava feita apenas para o líder do
regime dominar o poder político, e manter as aparências de um Estado de Direito, enquanto na
prática aplicava uma ditadura.
A Constituição de 1933 manteve-se em vigor (foi afastada pela junta de salvação nacional) e
em 1975 é eleita a Assembleia Constituinte. A constituição de 1976 gerou conflitos, por um
lado pela legitimidade democrática e revolucionária, e por outro pelo conflito entre legitimidade
militar e partidária.
Entre ’74 e ’76 existiram 2 Presidentes da República e seis Governos Provisórios, sendo o
Governo do 25 de abril um governo moderador.
6º Governo Provisório:
Período revolucionário/ de legitimidade revolucionária – poder Constituinte está nas mãos dos
partidos e dos militantes.
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Os militares compuseram parte do modelo que devia ser acolhido pela Constituição de ’76 –
realizaram as eleições de 1975, elaboraram o conteúdo da própria Constituição e colocaram na
própria constituição um orgão seu: o Conselho Militar.
Constituição de 1976:
Teve 7 revisões, sendo que a de ’82 e a de ’89 tiveram como objetivo a desmarxização da
Constituição, uma no plano económico e outra no plano político.
Outras revisões se deram, por preocupações àcerca do pressuposto da UE: em ’82 desaparece
o Conselho da Revolução, que se transforma no Conselho de Estado e Tribunal Constitucional.
Há uma preocupação intervencional.
Elementos caracterizadores
Deve-se sempre preferir o sentido que vai de acordo com as normas da Constituição. As
normas da Constituição são tendencialmente conflituosas, devido às grandes exigências
ideológicas existentes.
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Hierarquia de Valores
Uns valores têm prevalência e superioridade sobre os outros. Às vezes, os valores têm
pariedade hierárquica – um deve ceder perante o outro - como é o caso da liberdade de
informação, que deve ceder perante a reserva da intimidade da vida privada.
A ordem de valores de uma Constituição nem sempre é pacífica. Mesmo os valores que são
prevalecentes podem justificar posições jurídicas antagónicas e limitação, por fora, desse direito
relativamente a outras pessoas, como é o caso do direito à vida – pode ser legítimo o homícido,
quando em legítima defesa, de acordo com o príncipio da proporcionalidade.
A importância do acesso no ensino e a sua abertura a toda a gente eram justificadas como
formas de superar a sua função conservadora da divisão social do trabalho. Atualmente, a
garantia de um ensino tendencialmente gratuito e da eliminação do analfabetismo constituem
preceitos constitucionais de extrema importância.
Entre 1976 e 2017, a Constituição evolui tanto a nível do costume contra legem, como a nível
da projeção do tempo sobre as normas da Constituição e da transição constitucional (1º
princípio socialista).
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Estado de Direito Democrático
Subordinado ao Direito, que ele cria e que o heterovincula. É também um Estado social,
preocupado com a justiça social. É um Estado de Direitos Humanos. A revisão de ’82 colocou
este Estado de Direito Democrático na CRP.
Pluralismo
Da lei extraem-se dois princípios: reserva da lei (há matérias que só podem ser feitas pelo
poder legislativo) e preferência da lei (num conflito entre a lei e outras fontes de direito,
prevalece sempre a lei).
Há uma cultura de direitos fundamentais que está sempre ao serviço da pessoa – dignidade da
pessoa humana, art. 1ºCRP.
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Relativismo de valores - não posso impôr a minha ordem de valores, mas os outros devem
aceitá-la, como eu a deles (direito à objeção de consciência).
Hegel e o espírito do povo – vontade nacional com centro de referência na Nação – conceção
do costume (Escola de Direito);
Podem existir conflitos entre a vontade popular e a vontade nacional. Exemplo: casamento
entre pessoas do mesmo sexo e entre pessoas do sexo oposto.
Jurisdicidade
Estado está subordinado ao Direito; consciência jurídica geral; presume-se que o direito
escrito seja justo, mas admite-se que esteja errado;
Os particulares nem sempre têm direito de resistência ao direito inválido, ou injusto. Têm nos
seguintes casos:
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A administração pública deve aplicar este direito quando há uma violação das normas
fundamentais presentes na consciência jurídica geral, quando estão em causa leis dotadas de
aplicação direta (art.18ºCRP), e nos casos em que a constituição não tem presente essa lei, em
que ela é inexistente.
Corolários da Jurisdicidade
reversibilidade das decisões; proteção da confiança e tutela; todo o poder político está
subordinado aos princípios do art. 266º/2 CRP;
ideia de tutela jurisdicional efetiva (há sempre um meio de acesso aos tribunais) – a
administração pública pode cometer erros ou actos ilegais, e os Tribunais podem fiscalizar os
actos dela para que estes não tenham efeito. A administração executa as decisões dos Tribunais,
aceitando submeter-se à vontade dos Tribunais e do legislador.
Bem-estar
Estado Zorro/Robin dos Bosques – tira aos que têm mais para dar aos que têm menos;
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Responsabilidade criminal dos titulares de cargos políticos (estes não estão acima da lei,
devem ser responsabilizados pelos seus crimes);
Auto-tutela privada: direito de resistência/ legítima defesa, desobediência coletiva perante leis
injustas... Exemplo: em meados do séc. XIX as pessoas não achavam justo existir escravos, mas
a lei obrigava (nos EUA); ou face ao poder tirano, que não serve o bem comum, o direito
material (art.7ºCRP) permite a insurreição, porque o povo é o titular do poder constituinte
(influência de Locke).
Pluridimensional: é uma soberania com várias dimensões. É política, porque está ligada à
independência no plano externo, em termos legislativos, administrativos e judiciais. É por esse
motivo que existem orgãos de soberania, que são eles, à luz da CRP, o Presidente da República,
a Assembleia da República, o Governo e os Tribunais.
Internacionalizada, por três vias: porque Portugal é Estado- membro da ONU; porque Portugal
reconhece a existência de um direito internacional imperativo a todos os Estados (ius cogens); e
porque é um país que estabelece relações diplomáticas com outros países, celebra convenções
internacionais com outros Estados, e está por isso sujeito ao direito internacional convencional.
Tudo isto conduz a uma limitação, a uma perda de soberania plena, porque há matérias que
Portugal não pode decidir sem ter em conta os limites impostos pelo Direito Internacional.
Europeizada: nós somos parte da UE por um acto de vontade, um acto que faz com que
hoje a UE crie normas que se aplicam, independentemente da vontade portuguesa. Há aquilo a
que se designa por uma heterovinculação de base autovinculativa – há consentimento de
Portugal a ficar vinculado. Art. 7º/ 5 e 6 CRP – para sair da UE Portugal tem de fazer uma
revisão constitucional, porque a integração do país na UE é hoje uma vinculação constitucional.
Art. 8º/4 CRP – cheque em branco, passado pela CRP à UE – em Portugal, o Direito da UE tem
a força jurídica que a UE lhe der.
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Tem existido uma transferência do poder do Estado português para a UE. Essa transferência
fez-se em casos em que o Estado português já não tem o poder de decidir, e em casos em que
tem, mas apenas em colaboração com a UE ou subordinado a ela.
A CRP resolveu criar uma cláusula do art. 7º e do art. 8º, de limite à transferência de poderes
para a UE, bem como uma cláusula que limita também a relevância do Direito da UE para
Portugal. A cláusula tem a ver com um Estado de Direito Democrático e neste sentido, o Direito
da UE vigora em Portugal se não ultrapassar os valores fundamentais deste.
Unitário
Estado só tem o poder político/este está centralizado no Estado, daí que a soberania seja una –
art.3º/1 CRP.
Art. 6º CRP – Estado é o titular da competência das competências, pois é ele que tem
competência para definir as competências de todas as outras entidades públicas, bem como as
dele próprio. Existe ainda uma competência residual a favor do Estado – tudo o que não for
definido por outras entidades, é definido pelo Estado.
Princípio da prevalência do Direito do Estado – em caso de conflito com direito das entidades
infraestaduais, vence o Estado, através do seu Direito;
Descentralizado
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Autonomia local – autarquias locais;
Estes três tópicos dão-nos a ideia de pluralismo, dentro da unidade do Estado – unidade do
pluralismo.
Exista uma reserva de poderes a favor do Estado – há matérias nas quais só o Estado pode
decidir (ex: tudo aquilo que é competência dos orgãos de soberania);
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Normativo (internos): compromisso político-partidário – há normas da CRP que são
concorrentes (conflituantes) – as suas matérias têm dois sentidos distintos, devido a três
mecanismos de aplicação das normas. Estes vêem-se em casos que as normas são de:
- aplicação simultânea – uma não excluí a aplicação da outra, como é exemplo a autonomia
das Regiões Autónomas, que não excluí a norma do princípio de unidade do Estado;
- aplicação sucessiva – há uma concorrência de norma que é aplicada ou resolvida por uma
aplicação deferida no tempo – como é exemplo a legítima defesa ser exequível, mas só se em
tempo útil e eficaz, não conseguirmos aceder às autoridades públicas.
Temos ainda compromissos normativos externos, entre fontes constitucionais (podem existir
compromissos entre a CRP instrumental, o D. Internacional e o D. da UE).
Na aplicação: compromisso que pressupõe ponderação entre normas e valores de peso igual.
Quando há hierarquia de normas, esta prevalece.
Reflexo de uma sociedade aberta. A CRP está sempre aberta a novas ideias, interpretações e
soluções. É possível através da revisão ou alteração constitucional.
Abertura a normas constitucionais que não são apenas aquelas que foram designadas pelo
legislador constituinte – existência de cláusulas de constitucionalidade de outras fontes, como é
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exemplo o art. 8º/1CRP em que há uma cláusula aberta em matéria de D. Internacional, ou
o art. 16º/1, em que há uma cláusula aberta em matéria de D. fundamentais.
Há ainda uma abertura interpretativa, em que há uma pluralidade de intérpretes da CRP,
havendo uma estrutura: Tribunal Constitucional tem a última palavra, ainda que, acima deste, se
encontre a Assembleia da República, que emana uma interpretação autêntica, através de revisão
constitucional.
A CRP tem um sistema normativo que consagra regras e princípios – quanto maior for o
número de princípios, maior é o espaço de densificação desses para o legislador (é mais fácil
interpretar regras do que princípios).
Exemplo: só pode ser Presidente da República o cidadão português com mais de 35 anos – é
mais fácil de entender do que o princípio de que os orgãos do poder político devem agir com
respeito pela boa-fé.
a CRP não inventou a linguagem, ela serve-se de vocábulos que já existiam, tornando-os
conceitos constitucionais. Os pré-constitucionais (existiam antes da CRP) como menor, prisão
preventiva, pessoa coletiva (...) geram conflitos porque por vezes o seu significado à data da
CRP é diferente do de hoje, será que é mantido o significado antigo ou pode o legislador
manipular este porque é D. ordinário?
Existem conceitos que remetem para o futuro: art.4ºCRP – o cidadão português é aquele que
seja definido pela lei; conceitos que remetem para normas não-jurídicas ou extrajurídicas:
quando começa a vida humana? É uma experiência biomédica, e não um direito definido.
Há uma abertura da CRP para a aplicação e interpretação – há normas da CRP que não são
exequíveis por si mesmas, necessitando da lei para serem executadas, isto sem esquecer que nos
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casos em que o legislador não as executa, a Administração Pública pode ser chamada a executá-
la.
- Fiscalização da constitucionalidade;
- Art. 8º/7 CRP – cláusula do respeito pelo princípio do Estado de Direito Democrático;
A CRP tem, ao longo da sua vida, uma evolução, devido a revisões constitucionais e à ideia de
uma transição constitucional. Esta transição constitucional ocorre quando:
- Há mudança material, mas não há alteração formal (ex: em’76 éramos uma Nação de
soberania, hoje somos, mais heterovinculados ao Direito Internacional);
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Exemplos de transfiguração:
- Desatualização da Constituição económica – texto que está na CRP hoje nada tem a ver com o
texto que estava lá em ’76, devido a revisões. O texto que consta da CRP também pouco tem a
ver com a realidade, pois é o D. Internacional que dita as normas económicas;
Identidade Relacional
- Interpretação teleológica – uma norma deve ser interpretada de acordo com os seus fins (a
mesma norma pode ter contextos diferentes);
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A CRP foi e é também influenciada por todas as constituições portuguesas anteriores –
influência interna.
A CRP foi influenciada pela Constituição italiana de 1947, Constituição alemã de 1949,
Constituição francesa de 1958 e Constituição jugoslava de 1976 – influência externa.
Benjamin Constant foi também influência, com o poder moderador político, que pertence ao
Presidente. Há ainda um poder moderador de conformação, que pertence aos Tribunais, e um
poder moderador de Garantia dos cidadãos, que pertence ao Provedor de Justiça.
Há igualdade entre orgãos, pariedade, não havendo hierarquia. Exceções disto: decisões dos
Tribunais tem prevalência sob decisões de outros (art. 205º/2CRP); atos de um orgão
condicionam atuação de outros; casos de hierarquia – Ministério Público obedece ao Procurador
Geral da República, ou chefias militares que estão subordinadas ao poder civil, ou caso das
Forças Armadas, que são fortemente hierarquizadas.
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Solidariedade - confiança política e identidade de propósito são as mais intensas, como é o
caso da relação de confiança entre membros do Governo;
Cooperação – poderes exercidos através da boa vontade de dois ou mais orgãos e poderes
entrecruzados. Estes geram dever de não causar obstáculos aos restantes orgãos e são
essenciais ao funcionamento das instituições, sendo que há também limitações a estas – caso de
o Presidente e o Primeiro Ministro gravarem as suas reuniões, caso precisem comprovar o que
foi dito.
Respeito institucional – mínimo ético, que se alicerça num dever de convivência democrática,
civilidade institucional e não possui limites ou hierarquias.
Não podem existir zonas de vazio no exercício do poder, como por exemplo o Governo que
é demitido mantém as suas funções até o novo Primeiro Ministro vir. Só é possível a greve
nas suas funções a título profissional (não se é Presidente, ou Primeiro Ministro, ou Ministério
Público de profissão, estes não o podem fazer).
Significa que cada orgão pode definir as regras internas da sua organização e
funcionamento- Todos os orgãos tem sempre uma competência – a Assembleia da República
tem para legislar, o Governo tem para definir a sua organização interna, etc..
Princípio da responsabilidade:
Ela traduz a ideia de ter de prestar contas – prestar contas é o corolário do principio
democratico, porque este envolve controlo e responsabilidade. Não há democracia sem
mecanismos de responsabilidade do poder, podendo esta ter várias vertentes: responsabilidade
politica (concentrada se for só num orgão, como o Governo que é responsável perante AR, ou
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difusa, se for de todos perante a opinião pública); responsabilidade civil (quem causa um dano
deve ser responsabilizado por ele); responsabilidade criminal (quem comete um crime deve
ser responsabilizado por ele); responsabilidade disciplinária (manifestação de ter de prestar
contas -são responsáveis os deputados, os juízes, os funcionários públicos, mas não o
Presidente, nem o Governo, etc.); responsabilidade financeira (quem toma decisões que
envolvam a gestão de dinheiros públicos é responsavel pelo que lhes acontece); podem ser
praticadas várias delas em simultâneo.
Este princípio tem limites: os deputados não são responsáveis pelas condutas que adotem
no exercício das suas funções, tal como os juízes também não são responsáveis pelos atos
que praticam no âmbito das respetivas decisões.
Princípio maioritário:
Numa democracia as decisões devem ser tomadas pela pluralidade. Acontecem duas
situações: o princípio maioritário não é critério de verdade, é de decisão; a força da maioria está
no respeito da minoria (porque a maioria tem sempre de respeitar a minoria, e porque a minoria
só obedece à maioria na expectativa de amanhã ser ela a ser ouvida).
Art.116ºCRP – para o orgão colegial funcionar ele tem de ter quorum – número mínimo
de membros para se poder dizer que o orgão está constituído e apto para funcionar,
exigindo metade mais um (presente no nº1 deste artigo); é diferente de maioria deliberativa,
em que em regra é a maioria simples (presente no nº2 deste artigo), mas há casos em que a CRP
exige maioria absoluta ou de dois terços; já o Conselho de Ministros não delibera, em regra por
maioria, mas sim por consenso.
A competência não pode ser modificada, salvo habilitação para o efeito. A competência
definida pela CRP só pode ser modificada nos termos da própria CRP, mas pode todavia
existir competências implícitas e situações de delegação de poderes (ex: a Assembleia
autoriza o Governo a legislar sob matérias do art.165ºCRP) ou substituição (ex: perante um
impedimento, o Presidente não pode atuar nos seus poderes e é substituído pelo presidente da
Assembleia, e se for o Primeiro-Ministro no caso é o secretário de Estado que o substitui),
sendo que as substituições só podem ser feitas devido às situações presentes no art. 111º/2CRP.
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Quem tem uma competência pode sempre: escolher entre praticar ou não praticar o ato;
definir uma situação jurídica ou revogar (por revogação simples) uma situação já
definida/redefini-la. Tem pressupostos para o seu exercício, como é o caso de o Presidente
poder demitir o Governo mas só se ele colocar em causa o regular funcionamento do
ordenamento jurídico. Esses podem ser de facto (ex: invasão externa do país justifica o estado
de emergência neste) e de direito (ex: o Presidente só pode usar o veto jurídico se o Tribunal
Constitucional se tiver pronunciado pela inconstitucionalidade).
2. Há outros em que quem decidiu já não pode revogar os atos que praticou, porque
praticado o ato deixa de poder ser revogado (ex: se o autor do ato perdeu a competência
sobre a matéria, no caso de a Assembleia ter autorizado o Governo a legislar e o Governo ter
elaborado um decreto-lei que depois de o ter emanado, não pode o Governo revogá-lo – para tal
tem de pedir uma nova autorização legislativa à Assembleia).
3. Há casos de atos cuja proibição de revogação decorre de serem atos que produziram
imediatamente os seus efeitos, esgotando-os, e por isso não se pode revogar o que já não
produz efeitos (ex: promulgação – depois de promulgar o diploma, o Presidente não pode
revogá-lo, porque já está a produzir efeitos).
4. Há atos que já caducaram e por isso não podem ser revogados (ex: uma lei de autorização
legislativa da Assembleia ao Governo, depois de ser usada, já não pode ser revogada pela
Assembleia porque já esgotou os seus efeitos). Os atos de graça também são, normalmente,
irrevogáveis (atos que favorecem o indivíduo e apelam à solidariedade, por exemplo a
diminuição da pena ou a libertação).
Cada orgão tem o poder de fiscalizar a validade da sua atividade. Se entender que houve
invalidade, o orgão deve restabelecer a validade, daí a expressão “autocontrolo”. Ele deve
ajuizar se o que fez é válido e se vir que não foi deve apagar o que está incorreto.
O orgão incompetente tem sempre competência para revogar o ato que ele fez quando era
incompetente (ex: na competência exclusiva da Assembleia, o Governo decide fazer um
decreto-lei, violando a competência desta e ferido-se de inconstitucionalidade inorgânica; o
Governo, mesmo sem competência para o fazer, tem competência para elaborar um novo
decreto-lei que revogue este - através de revogação simples - repondo a constitucionalidade, e
24
fazendo desaparecer o anterior decreto-lei; também o orgão competente tem competência pra
isso, no caso do exemplo seria a Assembleia).
Em princípio, os atos que repõem a validade têm eficácia retroativa podendo ser reposta, na
íntegra, a validade, mas discute-se quando o ato inválido conduzia a efeitos favoráveis, podendo
a retroatividade estar inválida (ex: decreto-lei do ano 2000 é hoje considerado pelo Governo
inválido – se tiver retroatividade, em 17 anos este já produziu efeitos favoráveis e já passou por
outras decisões legislativas, e por isso mantém-se, limita esta mesma retroatividade).
Princípio da renovação:
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Principio da responsabilidade pessoal:
Signfica que quem exerce funções públicas tem posições jurídicas ativas e passivas especiais –
pode ter mais privilegios, mais deveres, mais sujeições, etc.. Há limites, no entanto: o
princípio da proporcionalidade e da igualdade, porque as diferenças não podem ser
excessivas nem chocantes. Quando os titulares já não ocupam funções, existem deveres na
mesma (ex: manter o segredo de Estado); já os privilégios, mantêm-se aqueles que têm como
propósito a garantia da república, estando os restantes excluídos, à luz do princípio republicano.
Art. 269º/4CRP – quem exerce funções públicas não pode acumular estas com outras funções
públicas, e quem exerce funções políticas não pode acumular com funções privadas.
Ninguém é obrigado a exercer funções contra a sua própria vontade. A renúncia tem de ser
feita através de declaração expressa. Há casos, no entanto, em que a renúncia exige
26
aceitação - art.195º/1 b) CRP – como é o caso em que o Primeiro-Ministro se demite mas o
Presidente tem de assinar a demissão.
O poder político não tem apenas fontes formais, para além dessas tem fontes informais
para ser regulado. No art. 108ºCRP trata-se do poder político formal, da CRP escrita; já o
poder político informal, que está na base da CRP não-oficial, não-escrita, tem as seguintes
demonstrações:
O poder informal está hoje nas mãos dos meios de comunicação social, o poder que vive
na sombra, dos lobbys e grupos de interesse que não se sabem quais são, mas que se sabem que
existem, o poder do povo é o poder informal;
Nem sempre são fontes juridicas que regulam o poder politico, há fontes não-jurídicas como
normas tecnico-científicas, normas de natureza ética ou moral, ou normas de cortesia.
Tem a função de orientação política – ele nomeia o Governo, pode condicionar também a
atuação deste;
27
Tem o poder moderador, de arbitrar, e pode ter protagonismo político (pode dissolver a
Assembleia da República).
o seu mandato é de 5 anos, mas pode ser antecipado (por exemplo no caso de ele sair do
território);
destituição do Presidente;
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todos os actos que provêm da Assembleia e do Governo necessitam de promulgação por
parte do Presidente;
o veto político passa pela não promulgação por divergència política: em diplomas
provenientes da Assembleia, tem poder para os modificar se a Assembleia confirmar o
diploma (art.136º/2CRP) ou se se verificarem a maioria dos requisitos pela Constituição;
o seu veto tem natureza absoluta, havendo ainda um caso onde este é absolutíssimo (art.
217ºCRP).
Fiscalização preventiva
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Princípio da autoorganização interna – o Parlamento pode sempre elaborar o seu próprio
regimento;
O Prof. Paulo Otero considera que os grupos parlamentares são associações sem
personalidade jurídica, de interesse público, porque os actos dos grupos são imputados
juridicamente ao Parlamento.
Funcionamento do Parlamento
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Cada legislatura é de 4 anos e divide-se em 4 sessões legislativas, de 15 de Setembro a 15
de Junho.
Art. 176ºCRP – ordem do dia previsto; Art. 116ºCRP – votações; Art. 161º a 165ºCRP –
competência da Assembleia da República;
A fiscalização política pode incidir sobre a legalidade ou sobre o mérito (tem a ver com a
bondade do conteúdo ou oportunidade e conveniência da respetiva decisão).
Esta tanto incide sobre atos do Governo como da Administração Pública – o Parlamento não
pode apreciar atos de uma empresa das Regiões Autónomas, porque é a Assembleia Legislativa
dessa região que o faz, mas pode o Parlamento controlar essa mesma Assembleia.
Pode ainda controlar decretos regionais autorizados pela Assembleia da República e pode
fazer perguntas ao Governo, realizar inquéritos parlamentares, exigir documentos...
Efeitos da fiscalização
Art. 169º CRP – quanto mais forte é o Governo (na sua maioria) mais débeis são os
mecanismos de fiscalização do Parlamento; quando são mais fracos, maior oposição existe
que esteja disposta a fiscalizar, tornando-se esta mais eficaz - chamado paradoxo da
fiscalização.
Competência Legislativa
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O Parlamento tem competência legislativa repartida com o Governo. A Assembleia tem
matérias em que só ela tem competência legislativa – reserva absoluta de competência da
Assembleia – e que o Governo não pode legislar sobre, senão ocorre uma
inconstitucionalidade.
Tudo o resto (tudo o que não está nas reservas) é competência da área concorrencial –
nesta área o Governo e a Assembleia podem ambos legislar, segundo o art. 161º c) CRP em
relação à Assembleia, e segundo o art. 198º/1 a) CRP em relação ao Governo. Esta
resolução é originária da ditadura militar de 1926.
Art. 161º b), d), e), f), g), h) CRP; Art. 293º CRP;
Art. 212º/2 CRP – lei e decreto-lei têm igual valor jurídico, e por isso a lei posterior
revoga o decreto-lei anterior, bem como o decreto-lei posterior revoga a lei anterior, na
área concorrencial.
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O Governo é autómato do Presidente, isto porque assim já o era em 1933. É o orgão de
condução da política geral do país, interna e externa – art. 182ºCRP – bem como o orgão
superior da Administração Pública, com poderes de intervenção sobre toda ela.
Programa do Governo
É um ato político que pode expressar efeitos jurídicos, por exemplo um decreto-lei x que
não é conforme o Programa do Governo e por isso não pode vigorar.
O programa não precisa ser aprovado pelo Parlamento, só precisa de ser apresentado a
este, de forma a facilitar a formação do Governo. Enquanto não for apresentado, o
Governo não pode praticar todos os atos da sua competência (é apenas Governo de
Gestão).
O Programa não pode ser rejeitado (caso aconteça o Governo é demitido) nem precisa de
uma maioria no Parlamento, o que permite a formação de um Governo minoritário. Só é
sujeito a votação se o Governo assim o quiser (art.192º/3CRP) por maioria absoluta
(art.192º/4CRP).
Há relevância na alteração das circunstâncias, uma vez que ao longo dos 4 anos a situação
pode mudar. Poderá o Programa ter aditamentos ou normas que vão contra o estabelecido
anteriormente nele mesmo. Aquele que for para o Governo após a elaboração do Programa tem
de o cumprir na mesma, mesmo que não tenha participado na sua deliberação.
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O Governo é um orgão constituído por outros orgãos, e pode por isso deliberar através dos
seus membros ou pelos orgãos colegiais. No silêncio da lei, a competência atribuída ao
Governo é individual, do Ministro disto ou daquilo. A competência do Conselho de Ministros
(orgão colegial) tem de ser requerida.
Princípio da solidariedade:
Art. 199º g) CRP – atribuí competência residual ao Governo – tem competência administrativa
para tomar todos os atos para o bem-estar social.
A margem do Presidente nesta escolha varia, quando existe maioria parlamentar ou acordo
maioritário ele não dispõe de tanta margem para não escolher quem a maioria deseja, mas não é
obrigado a tal. Se não houver maioria, ele organiza processos para que se faça uma, tendo maior
margem.
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Pode acontecer ainda que ele escolha o líder do partido mais votado e que este não consiga
criar Governo.
O Presidente pode eleger alguém que não faça parte dos partidos políticos, sendo que o
Governo que daí se formar é designado por Governo de iniciativa presidencial.
Primeiro Ministro indigitado – é uma figura transitória, quando não existe maioria é ele
que vai em busca de uma. Mesmo quando esta existe, este permite que exista mais tempo
para o Primeiro Ministro que vai entrar a seguir constitua Governo e elabore o Programa,
uma vez que este tem de ser apresentado no máximo 10 dias depois da tomada de posse do
Governo.
Direção governativa;
Chefia administrativa;
Representação governamental;
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Todos os Governos o são, durante a sua vida, pelo menos duas vezes: entre a tomada de
posse e a apresentação do Programa e entre a cessação de funções até à tomada de posse
do novo Governo. Também acontece quando o Programa é rejeitado, e termina com a demissão
do Governo, sendo ele apenas um Governo de Gestão em toda a sua vida.
Competências do Governo: art. 197ºCRP (política); art. 198ºCRP (legislativa); art. 199º
CRP (administrativa).
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Governo com Assembleia dissolvida – não é demitido, só o início de nova legislatura é
que destitui o Governo. Tem mais poderes que o Governo de Gestão mas não tem plenitude de
funções, porque não pode contar com a Assembleia da República;
A CRP é premiável aos factos – há uma CRP não-oficial, com dois elementos extrajurídicos que
explicam o sistema de Governo:
O sistema partidário, que nos diz se há ou não maioria política e se esta é monopartidária ou
pluripartidária;
A prática política, que permite saber se o Presidente está em sintonia com a maioria, quem é o
líder desta (Presidente ou Primeiro Ministro), qual deles preside ao Conselho de Ministros,
como é que o Presidente exerce o poder de enviar mensagens à Administração Pública, entre
outros;
- A competência administrativa - que diz respeito aos orgãos dentro deles mesmos;
- A intervenção destes na função política - ajuizando a constitucionalidade das leis devido aos
conceitos indeterminados da CRP, que o juíz concretiza, integrando-os e aplicando-os; ou ainda
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fazendo a fiscalização preventiva da constitucionalidade, em que o Tribunal Constitucional tem
protagonismo político; ou no facto de o Tribunal Constitucional ter poder para extinguir
organizações que prefiram ideologias fascistas.
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Princípio da prevalencia das decisões judiciais (art.205º/2CRP) – se há um conflito entre
uma decisão judicial e uma lei, aplica-se sempre a decisão judicial. O mesmo com uma
norma de revisão constitucional, tendo sempre as decisões dos Tribunais o primado sobre
quaisquer outras decisões, provenientes de qualquer entidade, e é por isso que nenhuma lei pode
revogar uma decisão judicial (iria violar este princípio, violar a reserva de competência dos
Tribunais e o princípio da separação de poderes).
A CRP consagra outros orgãos, que não são de soberania, mas constitucionais, sendo que uns
têm âmbito nacional e outros têm âmbito local.
Provedor de justiça – art.23ºCRP – orgão ao qual todos nós podemos apresentar queixas
sobre condutas por acção ou omissão dos poderes públicos. Ele não tem poder de decisão,
mas pode apreciar o pedido e, se entender que a queixa tem fundamento, recomenda uma
solução ao orgão competente, encaminhando o pedido para este. Este não é obrigado a seguir a
sua recomendação, mas é obrigado a lê-la e a dar uma justificação para a negar. O provedor de
justiça pode também desencadear a fiscalização sucessiva da constitucionalidade, junto do
Tribunal Constitucional.
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Conselho superior de magistratura – arts.217º e 218ºCRP – tem poderes disciplinares e
de nomeação sobre os juízes.
Os de âmbito local (que exercem as suas funções numa determinada fracção do territorio) são:
- Era designado, até 2004, como ministro da República. O seu estatuto está consagrado no
art.230ºCRP, e é um orgão político do Estado, tendo dupla representação da Região
Autónoma – representa a República e o Presidente da República, na região autónoma;
- Ele tem os seguintes poderes: poder relativo à formação do Governo (art.231º/3 e 4CRP),
tendo na prática os mesmos poderes que o Presidente tem na formação do Governo regional; o
poder de assinatura e de veto dos diplomas regionais (art.233ºCRP).
- Este último poder passa pelos diplomas de decretos legislativos regionais, em que só é
competente para elaborá-los a Assembleia Legislativa e não o Governo Regional, e ela envia-o
ao representante para o assinar. Aí, este pode assinar, ou ter discordância com a solução e
utilizar o veto político, que significa que ele comunica a esta Assembleia as suas razões,
podendo esta última (nos termos do art.232º/2CRP) alterar o diploma em conformidade com as
soluções do representante, ou teimar naquela solução e a confirmar por maioria absoluta. Se o
fizer, o representante é obrigado a assinar – veto suspensivo. Se a Assembleia Legislativa
nada fizer, ou tentar reaprovar e não conseguir, prevalece a solução do representante. Pode
ainda o representante ter dúvidas acerca da constitucionalidade desse diploma e pede apreciação
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ao Tribunal Constitucinal, que fiscaliza sucessivamente e classifica-o como constitucional ou
não. Se não, o repressentante é obrigado a vetá-lo.
- Passa também pelos diplomas de decretos regulamentares regionais. Nestes não há fiscalização
preventiva de normas, e se são provenientes do Governo Regional o seu veto político é sempre
absoluto; se são provenientes da Assembleia Legislativa esse veto é sempre suspensivo.
- Pode o Governo Regional, se o representante for contra o seu diploma regulamentar regional,
apresentá-lo à Assembleia Legislativa, nas matérias apresentadas pelo art.231º/6CRP.
Fundamento da autonomia
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Objetivo da autonomia
Limites da autonomia
A Assembleia da República pode rejeitar o novo estatuto, ou aprova e o diploma segue para o
Presidente, que o irá promulgar ou não. Se a Assembleia não aceitar nem recusar, pode fazer
alterações a este, e aí tem de enviar o diploma de volta para as regiões autónomas para estas
confirmarem ou não as alterações. Mesmo que não o façam, a última palavra é sempre da
Assembleia.
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1º - Ius Commune; 2º - CRP; 3º - Estatutos regionais; 4º - Leis;
É a lei ordinária mais reforçada porque todos os atos das regiões autónomas estão
subordinados ao Estatuto, bem como todas as demais leis da República: nenhuma lei pode
ir contra os Estatutos, e se for, é ilegal (art.280º/2 c) e 281º/1 d) CRP). A ilegalidade de uma
lei dá-se quando uma lei viola outra lei.
Conteúdo da autonomia
art. 227º/1 CRP – pessoas coletivas territorias têm poderes definidos nos estatutos. Os
poderes regionais passam por ter autonomia legislativa, financeira e tributária, administrativa,
de intervenção internacional (regiões autónomas podem ter maior intervencionismo no
internacional que, por exemplos, certos estados federados do Brasil), de participação...
Estamos em matéria do art. 165º CRP, em que a Assembleia concede uma lei de autorização
legislativa à região autónoma, para esta poder legislar sobre aquela matéria. O artigo acima
referido estabelece que matérias podem e não podem ter autorização.
A autorização tem de ser pedida pelas regiões autónomas, e estas têm de apresentar o
ante-projeto de decreto legislativo regional que tencionam ver autorizado, juntamente com
o pedido de autorização – art. 227º/2CRP. A autorização é concedida a uma das regiões
autónomas, não podendo ser aproveitada para a outra, pois só possui um destinatário. A
autorização deve ainda fixar um prazo e um sentido.
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Por vezes, a matéria da Assembleia da República assenta apenas nas bases, deixando a
detalhação desta para as regiões autónomas, que têm competência para elaborar diplomas
de desenvolvimento (art. 165º f) e h)).
O Governo pode desenvolver segurança social, porque a Assembleia tem competência para as
bases e pode autorizá-lo a fazer o desenvolvimento delas. Exemplo: reserva absoluta da
Assembleia – bases do ensino; reserva absoluta do Governo – desenvolvimento do ensino.
A fixação das bases é matéria que compete aos orgãos de soberania – os diplomas de
desenvolvimento estão sempre subordinados à lei de bases (tem prevalência hierárquica e são
por isso leis ordinárias com valor reforçado - se o desenvolvimento violar a lei de bases, é
ilegal).
Esta lei de bases fixa os grandes princípios a que está sujeito determinado regime jurídico, e que
necessita de ser detalhada em diplomas de desenvolvimento.
Competência legislativa estatuária – art. 227º/1 a) CRP – está prevista nos Estatutos e
obedece ao pressuposto de que só existe se neles se encontrar, nunca podendo incidir sobre
áreas de exclusiva competência dos orgãos de soberania.
Sobre aquela matéria só as regiões autónomas podem legislar, mas se existir uma lei ou
decreto-lei da Assembleia da República que viole esta matéria é considerado inválido,
porque viola o Estatuto regional. Exemplo: há um decreto legislativo regional sobre cães e
a Assembleia faz um decreto-lei para alterar isto – não pode, é inválido.
Não há fiscalização preventiva neste caso, porque é ilegal e não constitucional. Não há
violação imediata da CRP, mas sim dos Estatutos.
Para contornar o decreto legislativo regional, a Assembleia pode fazer uma lei de bases
para alterar matéria sobre esse assunto, condicionando o exercício da competência
legislativa das regiões autónomas, com base legal no art. 227º a) CRP, segundo o princípio
da prevalência do Direito do Estado.
Orgãos das regiões autónomas - Assembleia Legislativa Regional (é eleita por sufrágio
direto) e o Governo Regional (é responsável perante a Assembleia Legislativa, e não possui
competências legislativas) e estão ambos integrados num sistema parlamentar.
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Fontes do Direito
Princípios fundamentais
O Direito não se esgota nos atos produzidos pelo Estado nem na lei escrita.
Não há apenas uma fonte de Direito proveniente, escrito. Há uma pluralidade de fontes
dentro do Estado (fontes de natureza legislativa – lei, decreto-lei, decreto legislativo regional,
lei orgânica; e fontes de natureza administrativa) e fora dele (Direito Internacional, Direito da
UE e fontes estaduais). Todas as fontes estão subordinadas à CRP, que também ela é fonte
formal.
A reserva de lei assenta em matérias que estão única e exclusivamente a cargo do poder
legislativo. Só há reserva de lei nos casos expressamente indicados na CRP. Traz uma
consequência: as matérias que estão fora da reserva de lei são alvo de disciplina por lei ou
disciplina por regulamento – art. 18ºCRP.
Art. 112º/1CRP - São atos legislativos a lei, o decreto-lei e o decreto legislativo regional;
Art. 112º/5CRP – nenhuma lei pode criar outro tipo de atos legislativos. Os atos legislativos
são apenas aqueles previstos na CRP, podendo não ser apenas estes os três, mas todos aqueles
que nela se integrem.
Existem pelo menos, mais dois: lei de revisão constitucional e lei orgânica (não se identificam
com a lei normal da Assembleia, nem com um decreto legislativo). Existem mais, com
fundamento no art.290º/2CRP, porque podem haver atos legislativos anteriores à CRP de
’76 que se mantêm em vigor, desde que não vão contra a o disposto na Constituição.
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Princípio da revogabilidade das normas:
Todas as normas jurídicas podem ser objeto de cessação de vigência. Há a revogação simples
(que destrói a norma) e a revogação substitutiva (revoga a norma e substitui por outra norma da
mesma matéria). Quem tem competência para emanar a norma geralmente tem para a revogar.
Uma Convenção Internacional (2016) disciplina matéria que vai contra uma lei de 2014. A lei
da CI não revoga a outra, porque é uma lei internacional, é a outra é um ato legislativo. Elas são
imcompatíveis, e por isso gera-se inaplicabilidade. A lei de 2014 fica em “coma jurídico”, não
sendo aplicada, mas também não sendo revogada. Se a CI desaparecer, a lei de 2014 volta ao
ativo. Isto acontece porque são dois tipos de lei diferentes e por isso, não se revogam uma à
outra.
Com alicerce no art. 112º/2CRP, temos duas ideias – a lei e decreto-lei têm igual valor
jurídico, o que significa que uma lei posterior revoga um decreto anterior e vice-versa; há casos
em que isso não sucede porque dentro da lei ordinária, existem atos legislativos com valor
reforçado, ou leis reforçadas, e leis ordinárias de valor comum.
As reforçadas passam por leis de base, estatutos regionais, leis de revisão constitucional, leis de
autorização legislativa e leis orgânicas.
Exemplo: lei de bases (lei ordinária reforçada) com lei de desenvolvimento (lei ordinária
comum).
Quando, nas entidades infraestaduais, não emitem uma norma, aplica-se uma norma de Direito
do Estado.
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Princípio da prevalência do Direito do Estado:
O Estado é titular de interesses nacionais e por isso comete a ele a última palavra. É
manifestação da prevalência deste os orgãos que o Estado possui, que emitem leis para todo o
território; é ainda manifestação o facto de competer ao Estado a Convenção de Reuniões
Internacionais; o Estado é vinculado pelo Direito da UE; e o facto de a Constituição ser produto
do Estado.
Estes os dois estão subordinados à lei. Art. 204ºCRP – os Tribunais devem recusar normas
violadoras da CRP. Já a Administração Pública deve aplicar as normas, mesmo inválidas,
porque não tem poder de fiscalização da constitucionalidade ou da legalidade.
Pode recusar-se quando forem leis que violem direito fundamentais dotados de aplicabilidade
direta, que violem princípos gerais do ordenamento jurídico, leis em que a constitucionalidade é
expressamente inexistente, ou “leis” em que exista falta de promulgação do Presidente.
Existe uma pluralidade de sentidos em torno do termo “lei”. Pode ser Direito
(art.3º/3CRP), pode ser enquanto função legislativa (art. 119º/2CRP), ou pode ser um ato
proveniente da Assembleia da República (em sentido material são abstratos, dependem do
conteúdo, e em sentido formal não dependem – a natureza abstrata tem a ver com a
configuração).
Há matérias em que a CRP impõe existência de normas, e por isso a lei tem de ser material
(com caráter geral e abstrato). Fora da CRP há leis formais (sem conteúdo normativo) ou leis
individuais, para solução de um caso concreto.
A lei individual só é válida se respeitar os seguintes requisitos: 1º - deve ser inspirada por
uma solução possível de se reconduzir a um princípio geral; 2º - deve respeitar o princípio
da igualdade; 3º - não pode ser expressão de solução arbitrária, tem de ter fundamento
lógico.
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Deslegalização - ato deixa de ter força de lei e passa a ter força de regulamento. É possível, se
obedecer aos seguintes princípos: nunca pode acontecer dentro da reserva da lei; só pode ser
feito com ato legislativo com força legislativa igual àquela do ato que vai perder essa força.
Quando ocorre deslegalização, essa norma pode ser modificada por documento anterior.
Processo legislativo:
A lei tem força material e força formal. Ela pode dispôr e disciplinar sobre todas as matérias, à
excepção dos casos dos Tribunais, e não pode esgotar a área de internção.
Força de lei material - A lei tem capacidade de revogar e modificar uma outra lei (é negativa);
Força de lei formal – Relação entre a lei e outros dois atos legislativos:
A lei tem a capacidade de alterar atos de outra natureza, como por exemplo, pode alterar um
regulamento e possui a capacidade de resistência nessa alteração, não se deixando, no entanto,
alterar por atos de outra natureza (apesar disso, o costume tem força vinculativa de alterar uma
lei).
Existem atos que possuem força legislativa igual à da lei, como é o caso das decisões do
Tribunal Constitucional com força obrigatória geral e das resoluções da Assembleia da
República, ao abrigo do art. 169ºCRP.
Conteúdo da lei – a lei tem sempre de ser geral e abstrata, nos casos previstos na CRP. As leis
individuais possuem sempre dois limites: não podem violar o príncipio da igualdade, nem
podem traduzir-se numa solução arbitrária.
Pluralidade de relações entre atos legislativos – art. 112ºCRP – nem todos os atos
legislativos têm igual posição jurídica, nem igual valor jurídico. Também nem todos
possuem idêntica força jurídica, uma vez que, por exemplo, as leis de valor reforçado possuem
um procedimento especial.
Existem leis que podem ser ilegais – quando uma lei contraria outra lei que possui valor
reforçado. O estatuto político administrativo das Regiões Autónomas é o único que não pode ser
ilegal, é considerado sim inconstitucional.
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Leis de valor reforçado – art.112º/3 CRP - as leis reforçadas não se deixam modificar por
leis de diferente natureza;
Podem ser leis de bases, de caráter geral (estatutos regionais, de caráter especial, de
caráter específico ou leis das Regiões Autónomas. Todas as leis que envolvam efeitos
financeiros possuem também valor reforçado, e as leis de enquadramento orçamental
possuem valor reforçado sobre as restantes leis reforçadas.
Parâmetro da conformidade – as leis devem ser feitas de acordo com padrões definidos por
lei de autorização legislativa.
De caráter especial: são leis de autorização legislativa, decretos-leis autorizados, leis de bases e
os seus respetivos diplomas de desenvolvimento.
De caráter específico: são leis sobre aplicação e identificação, normas do código civil que digam
respeito às fontes e à interpretação, pois estas são utilizadas também na interpretação da CRP.
Podem existir decretos-leis com valor reforçado, como é o caso de decreto-lei sobre lei de
bases. Também os decretos legislativos regionais podem ter valor reforçado, como é o caso
do decreto legislativo regional que aprova o orçamento da Região Autónoma.
Leis de revisão constitucional – art. 284º e ss. CRP - são expressão do poder constituinte,
porque introduzem modificações à CRP.
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as alterações têm de ser introduzidas numa única lei;
esta lei publica em anexo o texto já com as alterações produzidas para evitar que exista texto
original e outros, dificultando saber qual se encontra em vigor – art. 287ºCRP – como
aconteceu anteriormente em 1826 e em 1911;
o Presidente da República não pode recusar – não há veto, ao abrigo do art. 286º/3CRP;
Existem limites temporais – ela não pode ser desencadeada a qualquer altura –, limites
circunstanciais – não se pode alterar a CRP em estado de sítio/emergência – e limites
materiais – não se pode alterar traços característicos da CRP.
Quem fez a CRP nega ilimitação às futuras gerações para alterá-la, privando estas da liberdade
que tiveram os fundadores dela;
Há um processo de ligar o passado e o futuro – dupla revisão – em que se altera um artigo num
primeiro momento, artigo esse que impedia a modificação de algo que se deseja modificar na
CRP, para num segundo momento se proceder a essa mesma alteração, já agora permitida e
constitucional. No entanto, nem a independência nacional nem o estipulado no art. 288º/d
CRP podem ser objeto desta.
A alteração dos limites materiais leva à perda de identidade axiológica da CRP – art.
288ºCRP é figura transitória desta, que se mantém a mesma formalmente.
As leis orgânicas não se encontram especificadas no art. 112º/1CRP, mas as suas matérias
encontram-se no art. 166º/2CRP;
São leis com valor reforçado – art. 112º/3CRP – e têm de ser aprovadas por maioria
absoluta, ao abrigo do art. 168º/5CRP.
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Em caso de veto político, este só é ultrapassado por maioria de dois terços – art.
136º/3CRP.
Leis de bases
Há leis de bases e decretos-leis de bases. São uma diretiva porque definem princípios do seu
desenvolvimento, limitando este desenvolvimento em si.
Há autorização legislativa para o Governo fixar as bases do art. 165º/1CRP, e ele faz um
decreto-lei de bases. O desenvolvimento aí tanto pode ser feito pela Assembleia ou pode esta
conceder autorização ao Governo para fazer um decreto-lei relativo ao desenvolvimento dessa
lei de bases, porque está no regime geral (área da reserva relativa) – art. 112º/2CRP.
Elas são de valor reforçado – o decreto-lei de desenvolvimento está subordinado à lei de bases,
seja da Assembleia ou do Governo. Para não ficar subordinada a Assembleia pode fazer outra
lei de bases que revogue a anterior, ou pode ainda elaborar uma lei que fixe o regime geral,
revogando a anterior lei de bases também. Caso contrário, ao elaborar o desenvolvimento, fica
subordinada à lei de bases.
Na área concorrencial:
Uma lei de bases revoga decretos-leis de bases anteriores, bem como ao contrário, porque têm
o mesmo valor.
Há quem entenda que tanto o Governo como a Assembleia podem elaborar leis de
desenvolvimento de bases, porque o Governo pode elaborar um decreto-lei de desenvolvimento
que, pelo referido acima, revoga a lei de desenvolvimento anterior feita pela Assembleia.
No entanto, o Prof. Paulo Otero considera que compete ao Governo fazer decretos-lei de
desenvolvimento de bases na área concorrencial porque, analisando o art. 198º/1C, retira-
se que este existe para acrescentar algo a mais que a alínea a) desse mesmo não refere, que
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será atribuir competência reservado ao Governo para desenvolver as bases, excluindo a
Assembleia da República.
Durante a vigência dela a Assembleia não perde o poder para legislar sobre essa matéria, não
alienando o seu poder;
Não pode haver lei genérica, ou seja, cada autorização tem de definir especificamente sobre o
que vai legislar - art. 165º/2 CRP – as leis de autorização têm de definir o objeto (a alínea), o
sentido (se permite, facilita, proibe...), a extensão (todo o arrendamento, ou só o arrendamento
comercial) e a sua duração;
Só pode ser exercida uma vez (a mesma autorização) podendo ser exercida
parcelarmente – art. 165º/3CRP – caso contrário têm de pedir outra;
O Prof. Paulo Otero considera que as leis de autorização legislativa podem ser
retroativas, poque o Governo emana um decreto-lei a dia 2/2/2017 sobre matéria da reserva
relativa da Assembleia à qual não possui autorização, ou possui, mas só até certo ponto e ele
excedeu-a. A Assembleia pode elaborar uma lei de autorização legislativa sobre essa matéria
excedida no dia 24/04/2017, a dizer que produz efeitos a partir do dia 2/2/2017, sanando o
incumprimento do Governo face à anterior lei de autorização legislativa que possuía (sanando a
inconstitucionalidade inorgânica que cometeu).
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disciplinam este processo (como por exemplo a lei estatutária, a lei que regula o formulário dos
respetivos diplomas) e o costume parlamentar.
Para além desses, existem o tipo comum e o tipo de urgência (este está regulado no
art.170ºCRP).
- Iniciativa legislativa reservada (só uma ou algumas destas entidades podem desencadeá-la;
ex: em matéria estatutária só as Assembleia Legislativas podem fazê-lo) e iniciativa legislativa
concorrencial (duas, mais ou todas as entidades referidas podem desencadeá-la);
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Se o presidente da Assembleia da República admite a iniciativa, esta é publicada no Diário da
Assembleia da República. Caso contrário, a decisão é enviada para o plenário da Assembleia,
podendo ainda ser aprovada (se uma destas ocorrer, segue para a próxima fase). Caso contrário,
termina aqui.
2ª – fase da apreciação:
3ª – fase da deliberação:
(1.) Discussão e votação na generalidade do plenário: se ele rejeitar acaba ali, se aprovar
passa-se para a (2). Discussão e votação da especialidade, que é geralmente feita na comissão,
comissão que lima as arestas e aperfeiçoa o diploma. Após isso, (3.) o diploma volta para o
plenário, onde pode ser aprovado por maioria simples (art.116º/3CRP), sendo por maioria
absoluta no caso das leis orgânicas e dos restantes atos normativos estipulados no
art.168ºCRP. Se for, avança-se para a próxima fase.
4ª – fase da promulgação:
O diploma é enviado para o Presidente da República para ele o promulgar. Ele ou o veta
politicamente, ou o envia para fiscalização preventiva, ou promulga-o. Se for a última
hipótese, avança-se para a próxima fase. Art. 137ºCRP – a falta de promulgação implica
inexistência do acto.
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O Primeiro-Ministro assina o diploma. Se não o fizer, isso determina a inexistência do ato
normativo, ao abrigo do art.140º/2CRP.
2. A Assembleia possui também competência legislativa reservada, onde só ela pode agir;
3. Na área concorrencial, a Assembleia pode fazer leis de bases que limitam a atuação do
Governo;
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4. Algumas leis da Assembleia são a atribuição da elevação do estatuto de vilas a cidades,
sendo leis que não possuem conteúdo normativo.
2. Na área concorrencial as leis e decretos-leis têm igual valor, e revogam-se uma à outra;
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Art. 169ºCRP – todos os decretos-leis podem ser objeto de apreciação (para fazer cessar a
sua vigência, suspendê-los ou para o Parlamento lhes introduzir modificações no seu texto) à
exceção dos estipulados no art. 198º/2CRP.
Orgãos de soberania:
Competências:
Presidente – art. 133º e ss. CRP - especialmente art. 136ºCRP (ligado ao art. 278ºCRP).
Assembleia da República – art. 147º, art. 161º e ss., especialmente art. 166º e 168º CRP.
Governo – art. 182º, art. 187º e ss., art. 197º e ss. CRP, especialmente art. 198º, art.200º e art.
201º (competência de Conselho de Ministros e cada um individualmente);
Tribunais – art. 202º e ss., especialmente art. 204ºCRP. Tribunal Constitucional – art. 221º e
223º (competência no art.221º, fiscalização no 277º e ss.CRP).
Regiões Autónomas – art.225ºCRP - regime das regiões autónomas; art. 227º CRP – poderes
das regiões autónomas; art. 232º CRP – competência legislativa das regiões autónomas; art.
233ºCRP – regime de assinatura e de veto.
Funções do Estado meios pelos quais o Estado atinge os fins política, legislativa,
executiva e jurisdicional
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Não confundir com fins do Estado – bem-estar, segurança e justiça – que são os objetivos do
Estado.
Para atingir estes fins, o Estado atribui orgãos (centros de imputação da vontade) a estas
funções, elaborando assim a separação de poderes.
art. 202º CRP – atribuição rígida: Tribunais são o único orgão que exerce a função
jurisdicional, mas esta é a única função que têm (regra bilateral rígida).
O sistema é flexível, excepto quanto à função jurisdicional. Cada orgão é constituído pelos
titulares, em situações funcionais (situaçóes em que os titulares são investidos para os seus
poderes). Situações pós-funcionais – após ser titular de poderes de um orgão, continua a
possuir privilégios, direitos e deveres inerentes ao cargo que ocupou anteriormente, para
garantia da própria República.
Restringe o princípio republicano (que consiste no facto de a chefia do Estado ser definida de
forma democrática e periódica) mas justifica-se pelo motivo anteriormente referido, de garantia
da República.
Art. 116ºCRP – maioria simples (mais votos a favor do que contra) para deliberar.
Se não houver artigo na CRP de maioria absoluta (metade dos votos a favor mais um) ou
maioria de dois terços, aplica-se a maioria simples. Art. 168ºCRP – principais regras.
Fiscalização da Constitucionalidade
Arts. 121º e 123º CRP – exceção ao art. 202ºCRP (Tribunais só exercem função jurisdicional).
Sistemas difusos – sistema dos EUA, em que todos os Tribunais fiscalizam. Em Portugal, o
art. 204ºCRP diz que todos os Tribunais podem fiscalizar.
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Portugal tem então um sistema misto, porque tem uma regra difusa – em que todos os
Tribunais podem fiscalizar – mas tem um Tribunal específico para isso, o Tribunal
Constitucional, que remota ao sistema concentrado.
O Supremo Tribunal dos EUA é concentrado, mas não é especializado, porque exerce mais
funções para além da constitucionalidade e legalidade.
Processo concreto (sistema difuso) – julga-se o caso concreto, determina-se a sua solução; a
inconstitucionalidade da norma é um incidente da resolução do caso, que é o real objetivo;
desaplica-se a norma, mas ela continua em vigor, sendo desaplicada no caso concreto apenas;
todos os Tribunais têm competência para tal.
Processos concretos
Sendo uma norma julgada inconstitucional num processo concreto, pode o cidadão pedir
recurso para ser julgado num Tribunal superiormente hierárquico, e assim sucessivamente,
podendo chegar ao Tribunal Constitucional, nos casos estipulados no art. 280ªCRP.
Há leis ilegais - nos casos normais, apesar de todos serem graves, todos os Tribunais têm
competência para averiguar a legalidade delas. Nos casos mais extremos e mais gravosos
ainda, só o Tribunal Constitucional tem competência para realizar um processo de legalidade.
Processos Abstratos
Fiscalização sucessiva abstrata – art. 281ºCRP - norma que já entrou em vigor, e cria-se um
processo para tentar eliminá-la do ordenamento jurídico.
Todas as normas podem ser sujeitas a este processo, que é apreciado pelo Tribunal
Constitucional.
Fiscalização por omissão – art. 283ºCRP – quando uma norma, necessária para dar
efetividade à Constituição, devia ter sido aprovada e não foi.
Limite formal - é preciso haver equilíbrio entre os dois orgãos que têm legitimidade
direta (Presidente e Assembleia da República) que formam o Governo. Nenhum deles pode
formar um Governo com plenitude de funções sozinho, tem de haver consenso, de forma a dar
mais legitimidade a este que é criado.
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Limite material – na Constituição não-oficial o povo elege deputados que são colocados
nas listas pelo líder partidário (que será depois, provavelmente, o nomeado para Primeiro-
Ministro), e devem-lhe obediência por os colocar lá. Ao elegê-los para a Assembleia da
República, estamos na verdade a dar legitimidade ao Primeiro-Ministro, por esse motivo, devido
à força da maioria, fazendo com que na prática o Parlamento dependa do Governo, e não ao
contrário.
Uma norma jurídica tem de ter uma prática reiterada e uma convicção de obrigatoriedade. O
mesmo se passa com as normas consuetudinárias. As normas inconstitucionais, para o Prof.
Paulo Otero, podem ser tanto à luz da CRP oficial como da constituição não-oficial, porque para
ele ambas possuem o mesmo valor.
¨ O Presidente aprecia se o futuro nomeado para Primeiro Ministro tem capacidade para formar
um Governo funcional.
¨ Se este considerar que possuem capacidade para formar Governo funcional, nomeia-o como
Primeiro Ministro, marcando a tomada de posse e passando, neste ponto, o processo, a ser
formal.
Apesar de já estar a exercer funções, não está na sua plenitude – é um Governo de Gestão,
apenas tratando de negócios públicos, até apresentar o seu Programa de Governo ao Parlamento.
FIMAtos
DElegislativos
MATÉRIA PARA A da
da Assembleia FREQUÊNCIA
República
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A Assembleia pode determinar a cessação de vigência de um diploma e aprovar uma
resolução, que não necessita de promulgação pelo Presidente.
O nº4 do art.169CRP diz-nos que, se for aprovada a apreciação, o diploma deixa de vigorar
apenas a partir do dia da publicação da resolução que assim a dita.
Esta resolução não tem efeito retroativo, porque até ao momento da sua publicação o decreto-
lei mantém-se em vigor. Aquele decreto-lei não poderá voltar a ser publicado naquela sessão
legislativa, mas o Governo não perde a competência para legislar nessa matéria.
Se a Assembleia quiser destruir todos os efeitos do decreto-lei deve fazer uma lei que tenha
efeitos retroativos.
O nº2 do art. 169ºCRP diz-nos que a Assembleia pode introduzir alterações ao decreto-lei,
revestindo estas a forma de lei e não de resolução, e por isso estando sujeitas a promulgação
pelo Presidente.
Se a Assembleia quiser elaborar alterações, essas alterações virão sob a forma de lei, podendo
o Governo elaborar um decreto-lei que a revogue, na área concorrencial.
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Fiscalização da constitucionalidade
Os tribunais têm competência legislativa exclusiva para declarar a inconstitucionalidade
de um ato legislativo. Ela é um conceito tanto da CRP oficial como da CRP não-oficial,
não escrita.
A inconstitucionalidade pode ser originária (se, na data que a norma surgiu, ela já era
contrária à CRP) ou superveniente (durante a vida da norma infraconstitucional, há uma
alteração da CRP, determinando a invalidade da norma).
Exemplo de originária: CRP de 1976, e decreto-lei de 1977 que nessa altura já era contrário a
ela.
Exemplo de superveniente: lei de 1977 era válida porque estava de acordo com a CRP, até à
revisão desta em 1982, que tornou a norma contrária a ela e inválida.
A inconstitucionalidade pode ainda estar presente em normas que ainda estão vigentes e em
normas que jã não estão (exemplo, uma lei de autorização legislativa de 1998 de que resultou
um decreto-lei de 1998 que se encontra em vigor; a lei de autorização caducou com a emanação
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desse decreto, podendo ela ser contrária à CRP e inconstitucional, determinando a invalidade do
decreto-lei – há comunicação dos atos pressupostos normativos e das suas bases, determinando
a sua validade).
A inconstitucionalidade apresentada no exemplo, referente a normas que já perderam a
sua vigência, é designada por inconstitucionalidade derivada ou consequente. Pode
acontecer a mesma situação com leis de bases e decretos-leis de desenvolvimento.
Tipos de fiscalização
Há uma dicotomia que opõe inconstitucionalidade por ação e por omissão.
Por ação:
Pode ser objeto de fiscalização preventiva (antes do diploma nasscer para o direito, e
antes da sua promulgação – art. 278ºCRP) ou de fiscalização sucessiva (depois de a norma
ser publicada – art. 280º e 281º CRP).
Esta última pode ocorrer perante um caso concreto, em que o tribunal se recusa a aplicar a
norma por considerá-la inconstitucional (mas não a declara) desaplicando-a – fiscalização
difusa ou incidental.
Pode ocorrer a apreciação da norma em geral, independentemente do caso concreto, pelo
Tribunal Constitucional, com o objetivo de eliminar a norma do ordenamento jurídico –
fiscalização abstrata.
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Das decisões dos tribunais que conheçam questões de inconstitucionalidade por
fiscalização sucessiva concreta, é sempre possível recorrer ao Tribunal Constitucional –
art. 280º CRP.
Quando os tribunais desaplicam a norma com fundamento na inconstitucionalidade, o
Ministério Público é obrigado a submeter recurso para o Tribunal Constitucional
apreciar. Quando a mesma norma passar por esse caso 3 vezes pode o Tribunal
Constitucional remete-la para fiscalização abstrata (competência exclusiva deste) – art.
281º/3CRP
A fiscalização sucessiva pode ser feita antes de a norma estar em vigor - art. 281º/ 1 e 2
CRP – se for durante o período de vacaccio legis (lei é publicada mas só entra em vigor 5
dias depois); as únicas entidades com competência para a requerirem ao Tribunal Constitucional
são só e apenas aquelas que este artigo estipula.
Seguem o mesmo processo as normas do art. 281º/1 b), c) e d) CRP – violação de lei com
valor reforçado, normas das Regiões autónomas que violem os estatutos, e normas da
República que violem direitos das Regiões autónomas mencionados nos estatutos.
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Por omissão:
Só existe por falta de medidas legislativas para implementar a CRP. É da competência
exclusiva do Tribunal Constitucional e, se este verificar que uma norma deveria ter sido
aprovada para garante da CRP e não foi, ele dá conhecimento disso ao orgão competente
para que este elabore a lei, uma vez que este tribunal tem competência para excluir leis
mas nunca para as elaborar – art. 283ºCRP.
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