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Aspectos Arquitetônicos em Es- Autores: Eliete de Pinho Araujo1, Ana Cecília


Pedrosa de Azevedo.2

tabelecimentos de Saúde: Uma FIOCRUZ - ENSP - CESTEH e FAET, UniCeub,


Brasília DF Brasil

Avaliação Crítica 1. Arquiteta, Mestre, Professora, Doutoranda


2. Física, Doutora, Orientadora

emails: eliete_pa@yahoo.com.br,
acpa@ensp.fiocruz.br
Aspectos Arquitectónicos en Establecimientos
de Salud: Una Evaluación Crítica Fecha de recepción : 30/05/06
Fecha de aceptación : 30/06/06

Architectural Aspects in Health Establishments: A Critical Assessment

Este trabalho teve como objetivo apresentar um re- This work aims to present a theoretical and bibliographic
Abstract
Resumo

ferencial teórico e bibliográfico referente à qualidade referential with respect to environmental quality of
ambiental em estabelecimentos assistenciais de saúde, health ser vices that can help in the prevention of
que possam ajudar na prevenção da infecção hospitalar. hospitalar infections. The main concepts to be discussed
Serão abordados conceitos como os de infecção hospi- are hospitalar infections, health, laws, biosafety and
talar, saúde, direito e leis, biossegurança, assim como legislation with respect to the above mentioned
a legislação per tinente ao tema. Alguns problemas são subjects. Some known problems still have no answer.
conhecidos e perguntas estão sem respostas. Por que Why are there so many cases of hospitalar infections
são tantos os casos de infecção hospitalar e problemas and health problems due to architectural projects of the
de saúde que têm origem nos projetos, do sistema de ar air conditioning system, for exemple, if the architects
condicionado, por exemplo, se os profissionais que ela- are aware of the Brazilian legislation (Normas de Saúde
boram os projetos hospitalares se baseiam nas Normas do Ministério da Saúde, nas Normas da ABNT, nas Leis,
de Saúde do Ministério da Saúde, nas Normas da ABNT, nas Portarias, nas Resoluções)? The prevention of
nas Leis, nas Por tarias, nas Resoluções? A prevenção hospitalar infections inside and outside the hospitals
das infecções hospitalares nos ambientes internos e is of major importance and all professionals should
externos das unidades hospitalares é uma impor tante be concerned with environment quality. The theme
atitude e um aspecto de reflexão dos profissionais and objectives of this work are related with health
envolvidos na adoção da qualidade ambiental. O tema problems that originate from inappropriate projects,
e os objetivos deste estudo devem-se aos problemas finishing materials, too much artificial acclimatization,
de saúde que têm origem nos projetos, nos materiais loss of individual control of the comfort conditions
de acabamento adotados, na adoção de climatização unsafe working conditions inside rooms, deficient
ar tificial em excesso, na perda de controle individual maintenance of hospitalar equipments and others.
das condições de confor to ambiental, nas condições
inseguras de trabalho nos diversos ambientes hospita- Keys words: air quality, human behavior, laws, health,
lares, assim como riscos aos trabalhadores originados environment impact, biosafety.
pela ausência e/ou deficiência adequada dos equipa-
mentos hospitalares.

Palavras - chave: qualidade do ar, compor tamento


humano, direito, saúde, impacto ambiental, biosse-
gurança.

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Eliete de Pinho Araujo, Ana Cecília Pedrosa de Azevedo

Este trabajo tiene como objetivo presentar una refe- las “Normas da ABNT”, en las “Leis em vigor” y en las
Resumen

rencia teórica y bibliográfica en relación con la calidad “Por tarias e Resoluções existentes”? La prevención de
ambiental en establecimientos asistenciales de salud, las infecciones en los ambientes internos y externos
y puede también ser una ayuda a la prevención de in- de las unidades hospitalarias merece una impor tante
fecciones hospitalarias. Se abordan conceptos como: actitud y una profunda reflexión de los profesionales en-
infección hospitalaria, salud, bioseguridad, principios vueltos en la adopción de la calidad ambiental. El tema
de derechos, y legislación afín. y los objetivos de este estudio se deben a los problemas
de salud que tienen origen en los proyectos, en los
Varias son las fuentes de contaminación del aire y del materiales de terminación adoptados, en la adopción
agua, algunos problemas son bien conocidos, mientras de la climatización ar tificial en demasía, en la pérdida
tanto algunas preguntas están aún sin respuestas, del control individual de las condiciones de confor t
como por ejemplo: ¿por qué son tantos los casos de ambiental, en las condiciones inseguras de trabajo, en
infección hospitalaria y problemas de salud provenien- la falta de mantención adecuada, entre otros.
tes de los proyectos, fundamentalmente en relación con
el sistema de aire condicionado, siendo que los profe- Palabras clave: calidad del aire, compor tamiento hu-
sionales que realizan proyectos hospitalarios se basan mano, derecho, salud, impacto ambiental, bioseguri-
en las “Normas de Saúde do Ministério da Saúde”, en dad.

1. INTRODUÇÃO estado do completo bem-estar não existe, As ações sobre o meio ambiente devem
mas a saúde deve ser entendida como a ser observadas em uma escala global e
É cada vez mais impor tante a necessidade busca constante de tal estado, um direito faz-se necessário alavancar a mobilização
de se identificar e diagnosticar os fatores humano. entre governos e sociedade visando uma
que contribuem para o aumento da infecção postura de co-responsabilidade em re-
hospitalar. Um dos principais impactos é o Os elementos do direito estão relacio- lação ao uso racional, manejo integrado
incremento das infecções e o aumento da nados também ao direito ambiental. O e proteção sustentável dos ecossistemas.
mor talidade por possíveis enfermidades. homem sempre teve necessidade e direito Várias instituições nacionais e internacio-
Os impactos negativos que a contaminação à saúde. Mas não basta apenas dizer que nais hoje estão envolvidas para manter a
causa à população levam os órgãos gover- todos têm direito à saúde, é indispensável qualidade do ar, protegendo, assim, o bem
namentais competentes a implementarem que a Constituição Brasileira organize os estar, a saúde humana, os animais, as
medidas de gerenciamento ambiental e a poderes do Estado e a vida social de for- plantas, os ecossistemas e os materiais.
criarem legislação per tinente. ma a assegurar o direito a cada pessoa. Deve-se buscar soluções para resolver
A saúde como direito humano é objeto da os problemas mais graves relacionados à
A falta de política de Saúde Coletiva leva Organização Mundial de Saúde (OMS). qualidade de vida e saúde ambiental, como
ao estado de degradação do meio am- a adoção de políticas; a preservação das
biente, que inclui o ambiente de trabal- Talvez, as preocupações dos projetistas funções hidrológicas, biológicas e quími-
ho. Neste ambiente, tanto interno quanto dos hospitais não estejam sendo consi- cas dos ecossistemas; o for talecimento da
externo, o trabalhador está duplamen- deradas na elaboração dos projetos de par ticipação da sociedade civil e dos in-
te exposto. Os trabalhadores sanitários arquitetura hospitalar, que devem se ba- vestimentos de capacitação para qualificar
questionam a saúde afirmando que ela sear em Normas de Saúde do Ministério essa maior par ticipação da sociedade.
corresponde à definição de felicidade e da Saúde, da ABNT, em Leis, em Por tarias
que tal estado de completo bem-estar é e em Resoluções. No estudo, foi abordado o tema da análise
impossível de se alcançar. Diz-se que o da qualidade do ar, que envolve trabalha-

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dor e paciente, pois o principal problema


dessa forma para o aumento da infecção Pasteur e Koch definem a doença como
da contaminação do ar são os impactos hospitalar e para a degradação do meio sendo o defeito na linha de montagem hu-
que causam à saúde e aos ambientes. ambiente. mana. Descar tes acreditou poder descobrir
Uma das fontes de emissão de contami- a causa da conservação da saúde.
nação é o sistema de condicionamento de Pelo sistema de ar condicionado exis-
ar e o usuário passa muito tempo em am- tente, apesar de existirem normas per ti- A Constituição é um dos direitos funda-
biente contaminado, sob efeitos e impac-nentes, verificou-se que as temperaturas mentais do indivíduo.
tos na sua saúde, que podem ser agudos, medidas em 5 locais de cada máquina
crônicos, reversíveis e irreversíveis. (fan-coil) estavam muito variadas, fora da 5.1.3. Direito ambiental
zona de temperatura de confor to, por tan-
2. OBJETIVOS to, indicando que algum problema existia O direito humano é o reconhecimento da
no sistema. essencialidade do equilíbrio interno e do
2.1 Geral homem com o ambiente (bem-estar físi-
5. DESENVOLVIMENTO DO ESTUDO co, mental e social) para a conceituação
Analisar os fatores que contribuem para de saúde, segundo os trabalhos de Hipó-
a infecção hospitalar nos EAS. 5.1. Conceituação crates, Paracelso e Engels.

2.2 Específicos Muito se tem escrito sobre os conceitos Na sociedade tradicional o corpo não
de saúde e direito. se distingue do seu meio e a sociedade
Analisar o sistema de ar condicionado, moderna separa o corpo da alma (temos
envolvendo a salubridade das câmaras 5.1.1. Saúde um corpo e não somos um corpo).
escuras e outros ambientes, como Centro
Cirúrgico, enfermarias climatizadas, Cen- É a ausência de doenças. É definida como 5.1.4. Lei
tro de Terapia Intensiva, Administração, direito e deve conter aspectos sociais e
Emergência, Unidade de Imagenologia; individuais. No direito individual a saú- É determinada ordenação racional visan-
de privilegia a igualdade e a liberdade. do ao bem-estar comum.
Complementar regulamentações referen- Caracteriza-se pelo equilíbrio instável
tes ao objetivo específico citado ante- desses valores. 5.1.5. Biossegurança
riormente.
5.1.2. Direito É o conjunto de ações voltadas para a
3. OBJETO DE ESTUDO prevenção, minimização ou eliminação de
É um conjunto de conhecimentos me- riscos inerentes às atividades de pesqui-
As instalações existentes em relação à todicamente coordenados, resultante sas, produção, ensino, desenvolvimento
qualidade do ar, no Hospital Estadual Car- do estudo ordenado das normas jurí- tecnológico e prestação de serviços, vi-
los Chagas, de 200 leitos, na Cidade do dicas com o propósito de descobrir o sando a saúde do homem e dos animais,
Rio de Janeiro – RJ. significado objetivo das mesmas e de a preservação do meio ambiente e a qua-
constr uir sistema jurídico. O direito é lidade dos resultados.
4. JUSTIFICATIVA uma prática social e uma política também
(Dallari – SP, 1988). 5.2. Princípios do direito
As normas vigentes no país com relação
5.2.1. Direito humano fundamental
a projetos arquitetônicos hospitalares Alguns filósofos vêm conceituando o direi-
talvez não estivessem sendo aplicadas e to e a saúde ao longo do tempo: Paracelso,
Direito das pessoas e das futuras ge-
respeitadas como deveriam, contribuindo Engels, Toqueville. Na sociedade industrial,
rações (à vida e à liberdade).

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5.2.2. Direito democrático com o propósito de descobrir o signifi- bientes climatizados; com a saúde, o
cado objetivo das mesmas e de construir bem-estar, o confor to, a produtividade e
Iniciativas, legislativas (iniciativa popular, sistema jurídico. o absenteísmo ao trabalho; a correlação
plebiscito, referendo), medidas adminis- com a Síndrome dos Edifícios Doentes;
trativas (direito de informação, petição e Os filósofos Paracelso, Engels, Toqueville que o projeto e a execução da instalação,
RIMA), medidas judiciais (ação popular vêm conceituando o direito e a saúde ao inadequados, a operação e a manutenção
e ação civil pública). longo do tempo. Segundo os trabalhos de precárias dos sistemas de climatização
Hipócrates, Paracelso e Engels, o direito favorecem a ocorrência e o agravamento
5.2.3. Direito ambiental humano é o reconhecimento da essencia- dos problemas de saúde; determina me-
lidade do equilíbrio interno e do homem didas específicas referentes a padrões
Não se tem legislação específica. com o ambiente (bem-estar físico, mental de qualidade do ar nos ambientes clima-
e social) para a conceituação de saúde. tizados de uso coletivo já existentes e
5.3. Legislação àqueles a serem executados e que para
Pasteur e Koch, na sociedade industrial, os ambientes climatizados com exigên-
É impor tante realizar uma revisão biblio- definem a doença como sendo o defeito cias de filtros absolutos ou instalações
gráfica dos conceitos e das legislações, na linha de montagem humana. especiais, aplicam-se as normas e re-
normatizações e instruções em vigor, no gulamentos específicos. Define o que é
tocante às infecções hospitalares prove- Descar tes acreditou poder descobrir a ambiente climatizado, ar de renovação,
nientes do sistema de ar condicionado, causa da conservação da saúde. ar de retorno, boa qualidade do ar inter-
produtos químicos provenientes da Uni- no, climatização, filtro absoluto, limpeza,
dade de Radiologia e reúso de água. Toda 5.4. Revisão legislativa manutenção e Síndrome dos Edifícios
o estudo foi dividido em 3 temas. Doentes.
5.4.1. Ar condicionado
Segundo a RDC 50 – MS, 2002, infecção Todos os sistemas de climatização devem
hospitalar é qualquer infecção adquirida A Portaria Nº 3523/GM, do Ministro da estar em condições adequadas de lim-
após a internação do paciente e que se Saúde, em 28/08/1998, fala sobre ar con- peza, manutenção, operação e controle;
manifesta durante a internação ou mesmo dicionado e dos requisitos técnicos dos os proprietários, locatários e prepostos,
após a alta, quando puder ser relaciona- sistemas e componentes, que são os responsáveis por sistemas de climati-
da com a internação ou procedimentos filtros de ar, os condicionadores de ar, zação com capacidade acima de 5 TR,
hospitalares. os gabinetes, os ventiladores, os resfria- deverão manter um responsável técnico
dores e aquecedores, os umidificadores, habilitado; o Plano de Manutenção, Ope-
A OMS definiu saúde como o completo os sistemas de recuperação de calor, as ração e Controle – PMOC do sistema de
bem-estar físico, mental e social e não salas de máquinas, as tomadas e des- climatização deve estar coerente com a
apenas como a ausência de doenças. É de- cargas de ar e os dutos de ar. E ainda o legislação de Segurança e Medicina do
finida como direito e deve conter aspectos serviço das instalações, em relação às Trabalho, não devendo trazer riscos à
sociais e individuais. No direito individual a condições operacionais dos sistemas de saúde dos trabalhadores que os execu-
saúde privilegia a igualdade e a liberdade. tratamento de ar, da operação provisória tam, nem aos ocupantes do sistema cli-
das instalações, do relatório de entrega matizado; todos os produtos utilizados na
Dallari – SP, 1988, diz que o direito é uma das instalações e da instrução de ope- limpeza dos componentes dos sistemas
prática social e uma política também. ração e manutenção. de climatização devem ser biodegradá-
Direito é um conjunto de conhecimentos veis e estarem devidamente registrados
metodicamente coordenados, resultante Considera a preocupação mundial com no Ministério da Saúde e classifica os
do estudo ordenado das normas jurídicas, a qualidade do ar de interiores em am- filtros/partículas, conforme Tabela N° 1.

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Classificação de filtros de ar para utilização restrito, recomenda exigências de filtros tibiliza o título da Norma, as definições
em ambientes climatizados e partículas, absolutos ou instalações especiais. dos ambientes e os conceitos adotados
conforme recomendação normativa 004-1995
da SBCC
com os das Resoluções e Regulamentos
Classe de G0 30 - 59
Para fins desta Orientação Técnica são Técnicos da ANVISA. Estipula requisitos
filtro adotadas as definições complemen- mínimos de tratamento de ar de acordo
Grossos G1 60 - 74 tares adotadas na Por taria GM/MS Nº com uma classificação de risco ambien-
G2 75 - 84 3.523/1998. tal; adota uma classificação dos filtros
G3 85 e acima finos, baseada na eficiência fracionária
Finos F1 40 - 69 Os padrões referenciais utilizam nos am- (contagem de par tículas), ao invés do
F2 70 - 89 bientes climatizados, no mínimo, filtros critério colorimétrico da edição anterior;
F3 90 e acima de classe G3 nos condicionadores de estipula requisitos mínimos para proteção
Absolutos A1 85 - 94,9 sistemas, com o grau de pureza. contra incêndio relativos às instalações
A2 95 - 99,96 de tratamento de ar e estipula providên-
A3 99,97 e acima Os padrões referenciais adotados com- cias a adotar em caso de obras ou refor-
Tabela N° 1: Classificação dos filtros/partículas plementam as medidas básicas definidas mas no âmbito do EAS.
na Por taria GM/NS Nº 3.523/1998.
Esta Norma estabelece os requisitos
A Resolução RE Nº 176 de 24/10/2000, Define as fontes poluentes como po- mínimos para projeto e execução de
da Agência Nacional de Vigilância Sanitá- luentes biológicos, que são: agentes instalações de tratamento de ar em Es-
ria, de acordo com a Por taria Nº 724 de biológicos, como as bactérias, fungos, tabelecimentos Assistenciais de Saúde
10/10/2000 c/c o Ar t. 107 inciso II alínea protozoários, vírus, algas, e outros. As (EAS); se aplica somente aos ambientes
“a” e tem o disposto no Ar t. 2º da Por- possíveis fontes de poluentes químicos dos EAS com classificação de risco ní-
taria GM/MS Nº 3.523, de 28/08/1998, são os agentes químicos, CO, CO 2, NO 2, vel 1 ou superior. Os demais ambientes
determina a publicação de Orientação O 3 , formaldeído (material par ticuladom dos EAS, assim como os ambientes não
Técnica elaborada por Gr upo Técnico fumo de tabaco, compostos orgânicos diretamente relacionados aos serviços
Assessor, sobre Padrões Referenciais de voláteis e COS-V – compostos orgânicos assistenciais, tais como saguão de entra-
Qualidade do Ar Interior, em ambientes semi-voláteis. da, escritório, administrativos, auditório,
climatizados ar tificialmente de uso pú- bibliotecas, estão fora do escopo desta
blico e coletivo. Recomenda que sejam adotadas normas Norma, devendo ser regidos pela NBR
para fins de avaliação e controle do ar 6401 ou outra norma específica.
Estabelece critérios que informam à po- ambiental interior dos ambientes clima-
pulação sobre a qualidade do ar interior tizados de uso coletivo. A norma define ar de exaustão, ar de
em ambientes climatizados ar tificialmen- retorno, ar insuflado, ar recirculado, área
te de uso público e coletivo, cujo des- A NBR 7256 de maio de 2004 diz que o compar timentada, estabelecimentos as-
equilíbrio poderá causar agravos à saúde tratamento de ar em Estabelecimentos sistenciais de saúde (EAS), filtro absoluto
dos seus ocupantes e instr umentaliza Assistenciais de Saúde é uma revisão da igual ou superior a 85% para par tículas
as equipes profissionais envolvidas no NBR 7256: 1982 – TRATAMENTO DE AR de 0.3 micrometro, filtro HEPA igual ou
controle de qualidade do ar interior, no EM UNIDADES MÉDICO ASSISTENCIAIS. superior a 99,97%, registro (damper) cor-
planejamento, na elaboração, na análise e Aplica-se a instalações em EAS novos e ta-fogo, registro (damper) cor ta-fumaça,
execução de projetos físicos e nas ações a instalações em áreas modificadas, mo- registro de fechamento estanque, rotas de
de inspeção de ambientes climatizados dernizadas ou aplicadas de EAS existen- fuga, tratamento de ar, vazão de ar. Tem
ar tificialmente de uso público e coletivo. tes. Esta norma difere da edição anterior base nas diretrizes gerais relativas ao
Para os ambientes climatizados de uso nos seguintes pontos principais: compa- tratamento de ar em EAS, estipuladas no

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Regulamento Técnico anexo à Resolução e propiciar condições específicas de tem- critérios de projeto são formados a par tir
ANVISA RDC Nº 50 de 21/02/2002. peratura e / ou umidade para operação de de três fases distintas: estudo preliminar,
equipamentos especiais. projeto básico e projeto executivo.
Diz que as instalações de tratamento de
ar devem controlar as condições termo- Trata do risco de infecção pelos agentes Nas instalações de climatização, os proje-
higrométricas, o grau de pureza do ar, a infecciosos que podem permanecer inde- tos têm de atender, além desta norma, às
renovação e movimentação do ar e o nível finidamente em suspensão no ar: 99,9% normas da ABNT NBR 6401 e NBR 7256.
de ruído. A classificação de risco é Nível dos agentes microbiológicos presentes
0, Nível 1, Nível 2, Nível 3, filtragem do no ar de EAS podem ser retidos em filtros A NR – 32 de 11/11/2005, Norma Re-
ar, renovação, recirculação e movimen- finos de alta eficiência, por formarem gulamentadora de Segurança e Saúde
tação do ar, pressurização e fluxos de ar grumos e se aglomerarem com poeiras no Trabalho em Estabelecimentos de
entre ambientes, níveis de ruído, proteção em colônias. Em cer tas áreas críticas Saúde, tem por finalidade estabelecer as
contra incêndio. a utilização de filtros tipo A3 (HEPA) é diretrizes básicas para a implementação
obrigatória. Diz que as tentativas de se de medidas de proteção à segurança e à
O objetivo essencial é garantir qualidade desativar microorganismos presentes no saúde dos trabalhadores dos serviços de
do ar adequada, reduzindo os riscos bio- ar por radiação ultravioleta ou por ação saúde, bem como daqueles que exercem
lógicos e químicos. de produtos químicos têm se mostrado atividades de promoção e assistência
pouco confiáveis, não sendo recomen- à saúde em geral. Dispõe sobre risco
O tratamento do ar deve ser considerado dado seu uso. biológico (probabilidade da exposição
apenas como um complemento às de- ocupacional a agentes biológicos), pro-
mais medidas de controle de infecção A RDC 50 – MS, de 21/02/2002, Normas grama de prevenção de riscos ambientais
hospitalar. As instalações de tratamento para Projetos Físicos de Estabelecimentos (PPRA), programa de controle médico de
de ar podem se tornar causa e fonte de Assistenciais de Saúde, diz que o papel saúde ocupacional (PCMSO), medidas de
contaminação se não forem corretamente da arquitetura nos estabelecimentos as- proteção, riscos químicos, radiações io-
projetadas, construídas, operadas e mo- sistenciais de saúde na prevenção das nizantes, resíduos, condições de confor to
nitoradas, ou ainda se não receberem os infecções hospitalares pode ser entendido por ocasião das refeições, lavanderias,
cuidados necessários de limpeza e ma- em seus aspectos de barreiras, proteções, limpeza e conservação, manutenção de
nutenção. As instalações de tratamento meios e recursos físicos, funcionais e máquinas e equipamentos, disposições
de ar devem estar de forma a minimizar operacionais, relacionados a pessoas, gerais e finais, classificação dos riscos
o risco de incêndio. ambientes, circulações, práticas, equipa- dos agentes biológicos (bactérias, vírus,
mentos, instalações, materiais e fluídos. parasitas e fungos).
Quanto aos critérios de projeto relativos
à saúde, ao confor to e à segurança, de- Esta norma limita-se à prevenção e con- Ainda na revisão bibliográfica, mais es-
verão ser levados em consideração as trole de infecção de origem interna ao pecífica relacionada à arquitetura, tem-se
condições termo higrométricas, o con- EAS, no que se refere a: água, esgoto, um referencial teórico.
trole das condições termo higrométricas, roupa, resíduos, alimentos, ar condiciona-
que é necessário para, além de propiciar do, equipamento de esterilização, destila- Romero (1988) atenta para a “crise do
condições gerais de confor to para os pa- dor de água, e muitos outros, quando mal petróleo de 1973” que motivou o apa-
cientes e profissionais da área de saúde, planejados, construídos e conservados, recimento de trabalhos que juntam a
manter condições termo higrométricas ou operados indevidamente. Também a preocupação pela economia de energia
ambientais favoráveis a tratamentos es- prevenção de doenças ocupacionais dos convencional às preocupações pela in-
pecíficos; inibir a proliferação de micro- funcionários e profissionais trabalhadores corporação dos fatores ambientais ao
organismos, favorecida por umidade alta; nesses estabelecimentos e diz que os desenho. Trata do equilíbrio térmico entre

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o homem e o meio discutindo as variáveis carbono CO, compostos orgânicos voláteis 7. METODOLOGIA
climáticas que precisam ser controladas TVOCs. Investigaram e questionaram as
nas regiões de clima quente-seco (inso- taxas de troca de ar, ventilação efetiva e per-
lação elevada, diferenças acentuadas de manência do ar. Os problemas encontrados
temperatura entre o dia e a noite, umidade foram os impactos no ambien te de apren-
relativa do ar baixa e ventos carregados dizagem e no confor to e o nível de poluição
de pó e areia) e quente-úmido (intensa interna. Os prédios continham ar condicio-
radiação solar, altas taxas de umidade nado e ventilação mecânica. Nos prédios
do ar associadas à temperatura elevada comerciais foram observados problemas
e grandes índices de precipitação). Diz nos olhos, pele irritada e desconfor to.
que para cada região climática existem Foto N° 1: Fachada frontal
princípios de desenho que favorecem o Pasquarella, C., Pitzurra, O, Herren, T., Po-
confor to e o desempenho dos espaços letti, L. e Savino A. (2003) atentam para os
constr uídos. Os princípios podem ser principais fatores que estão influenciando
contraditórios, porém a forma e o desem- no número de bactérias nas salas de ope-
penho das edificações são fundamentais, ração causado pela ineficiência do sistema
uma vez que o traçado não pode suprir de ventilação e da vestimenta de prevenção
todas as exigências climáticas da região. do usuário que espalham a bactéria no ar
Esta relação se inclui na elaboração de e a boa conduta na sala. Os sistemas de
Projetos Bioclimáticos. ar extremamente limpos têm se mostrado
Foto N° 2: Fachada lateral esquerda
eficientes na redução da concentração de
Autores como Villas Boas, e Olgyay in microorganismos e, consequentemente, Foi feito levantamento dos dados no Hos-
Romero (1988), tratam do desenho urba- da taxa de infecção profundas. Eles estu-pital Estadual Carlos Chagas – RJ, assim
no mostrando a impor tância da inserção daram a avaliação do efeito de bactérias como levantamento de projeto, com me-
do edifício nas cidades, buscando tirar aeróbias misturadas na ventilação da saladições de temperatura e umidade relativa
proveito das condições climáticas para de operação com as distintas áreas de do ar e de procedimentos utilizados. As
obtenção da qualidade do ar, do nível de operação e anestesia e compararam a con- temperaturas medidas foram na entrada
iluminação natural e do confor to térmico, taminação usando vestimentas de corpo da máquina (serpentina), na entrada da
de forma a resultar no menor consumo de inteiro durante a operação. água e na saída da máquina no duto, na
energia no caso de edifícios climatizados saída do difusor e do retorno no ambiente
ar tificialmente. 6. CARACTERÍSTICAS DO HOSPITAL condicionado ar tificialmente e no am-
biente. Os anexos indicam as fotos das
Cheong, K. W. D. e Lau, H. Y. T. (2002) dizem O Hospital Estadual Carlos Chagas se várias máquinas M e das 2 centrais de ar
que uma boa qualidade do ar interna em localiza em Marechal Hermes, bairro tra- condicionado.
escolas e instituições comerciais propor- dicional, tombado pelo Patrimônio His-
cionam um ambiente confor tável e salutar tórico Brasileiro, construído em 1997, O sistema de ar condicionado é composto
para estudantes no aprendizado e usuários atende a 200 leitos e possui as Unidades de 2 centrais, onde a central de água gelada
no trabalho. São impor tantes tópicos para de Emergência, Administração, Centro 1 (C1) possui 6 fan-coil, que são as máqui-
a produtividade. A qualidade do ar interna Cirúrgico, Imagenologia, Internação e nas M1, M2, M3, M10, M11 e M12.
consiste nos parâmetros de monitoração Serviços Gerais.
do confor to térmico, quantidade de micró- A central de água gelada 2 (C2) possui 10
bios, par tículas de sujeira e concentração As Figuras a seguir são as fotos das fa- fan-coil, que são as máquinas M4 a M9,
de dióxido de carbono CO 2 , monóxido de chadas do hospital. M13, M14, M15, M16 e M17.

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Eliete de Pinho Araujo, Ana Cecília Pedrosa de Azevedo

No Centro Cirúrgico ainda estão instalados


6 aparelhos de ar condicionado de janela,
estando 1 ou 2 em cada sala de cirurgia.

8. RESULTADOS

Como resultados das medições de tem-


peratura do ar ( oC) encontraram-se os va-
lores indicados nas Tabelas N° 1 e N° 2 a
seguir.

Os gráficos a seguir (Figuras N° 1 e N° 2) Figura N° 1: Temperatura do ar nas máquinas da Central 1

indicam a problemática do sistema de ar


condicionado. O diagnóstico revelou que
cer tos procedimentos administrativos
não estão sendo feitos no hospital, mas
revelou também que há um problema
de valores de temperatura que pode ser
proveniente de procedimentos que não
estão implícitos nas normas per tinentes
ao sistema de ar condicionado.

Figura N° 2: Temperatura do ar nas máquinas da Central 2

Máquina (M)/ Entrada Entrada água Saída da Saída Retorno Externa Local Verificou-se que:
Central (C1) serpentina (°C) máquina difusor (°C) (°C)
(°C) para o (°C)
duto (°C) 1- Os filtros novos a serem instalados nos
M1 5 5 12 Emergência dutos são utilizados em todo o hospi-
M2 9* 12 * 14 22 28 Administração
tal, não havendo outro tipo especial
(M2+M3) para os dutos dos fan-coil das salas
M3 10 * 12 * 14 * Emergência de cirurgia, recuperação e UTI.
M10 10 * 12 * 15 * 19 - 20 27 Pediatria
M11 12,5 a 13 12 (por fora) 15 * 23 20 21 * Ortopedia 2- Algumas salas estão com as tempera-
M12 10 * 9,5 12 * 11 a 13 20 Ar externo Pediatria turas confor táveis na saída dos difu-
29
sores, no retorno e no ambiente.
Tabela N° 2: Resumo das temperaturas de ar encontradas nas máquinas da Central 1
3- Algumas salas estão com as tempe-
Observações:
M1 não tem retorno (ver a norma), serpentina ruim raturas muito altas, por tanto descon-
M2 sem damper, serpentina péssima, isolar a saída da máquina, sem controle de temperatura for táveis, na saída dos difusores, no
M3 sem damper, serpentina razoável
retorno e no ambiente.
M10 serpentina boa, fazer isolamento no duto, com damper
M11 abriu damper, ver se tem obstrução no duto, fazer isolamento no duto, serpentina ruim
M12 serpentina boa, fazer isolamento no duto

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Páginas: 71 - 80

Máquina Entrada Entrada Saída da Saída Retorno Externa Local para mostrar a necessidade da instalação
(M)/ serpentina água máquina difusor (°C) (°C) de várias peças.
Central (°C) (°C) para o duto (°C)
(C1) (°C)
M15 11 * 12 * 11 * Esterelização
10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

M16 0* 12 * 19 * Recuperação 1. Araujo, Eliete de Pinho. Análise pós-ocu-


Anestésica pação de um edifício comercial em Brasília
M17 20,5 8,5 a 10 15 23 25 Acima do CTI – aspectos do confor to térmico. Disser-
16 (janela) forro 57, tação de mestrado, Universidade de Bra-
externo 34 sília, DF, 1995.
M4 12 * 12 * 14 * CC6
2. AS.H.R.AE. Handbook of Fundamentals,
M5 11 * 11 * 13 8 Telhado CC5 1993.
47, am-
biente 30 3. Cheong, K. W. D., Lau, H. Y. T. Develo-
M6 10 * 12 * 13 29 CC4 pment and application of na indoor air
Quality audit to na air-conditioned Ter tiary
M7 10 * 12 * 13 * CC3
institutional building in the tropics. Buil-
M8 10 * 0* 20 * CC2 ding and Environment 38 (2003) 605-616.
(na água) Depar tment of Building. School of Design
12 * and Envronment, National University of
M9 10 * 12 * 20 * CC1 Singapore, september 2002.
M13 3* 10 * 12 * RX
4. Dallari, S. O Direito à Saúde. Revista Saúde
M14 10 * 12 * 16 * Arsenal CC Pública. São Paulo, 1988.
Tabela N° 3: Resumo das temperaturas de ar encontradas nas máquinas da Central 2
5. Disser tação de Mestrado de Geraldo Silva,
Observação: RJ, 2002.
M15 serpentina boa, sem damper, colocar forro, com buraco na parede, máquina abaixo da telha, fazer
isolamento, filtro diferente 6. Olgyay, V. Design with Climate. New
M16 serpentina boa, sem damper, difusor no canto, isolar duto, máquina pequena, problema Jersey: Princeton University. Princeton,
M17 isolar duto, telha logo acima do forro (climatex), 3 bocas e 1janela, colocar forro, serpentina 1963.
ruim
M4 com damper, filtro diferente, fazer bandeja, serpentina boa, completar forro 7. Prefeitura do Rio de Janeiro – Meio Am-
M5 completar forro e parede, fazer por ta, isolar duto, com damper, serpentina boa
biente – Coordenadoria de Despoluição
M6 abriu damper, trocando 8 oC, reformou agora, com forro, serpentina boa,
M7 com damper, fazer por ta, isolar duto, fazer forro, serpentina boa, fazer bandeja
Monitoramento da qualidade do ar. RJ,
M8 com damper, fazer por ta e forro, serpentina boa, problema 2003.
M9 forrar, isolar duto, serpentina boa, colocar por ta, com damper, problema
M13 serpentina boa, fechar buraco na parede, sem damper, colocar espuma em volta serpentina 8. Pasquarella, C., Pitzurra, A, Herren, T.,
M14 forrar, isolar forro e parede, colocar por ta, com damper, serpentina boa Poletti, L., Savino, A Lack of influence of
body exhaust gowns on aerobic bacterial
4- Existe necessidade de manutenção 9. CONCLUSÃO surface counts in a mixed-ventilation oper-
como substituição de serpentinas e ating theatre. A study of 62 hip ar throplas-
ties. Depar tment of Public Health, Univer-
limpeza e pintura das placas. Os projetos de arquitetura e de ar condi- sity of Parma, Via Volturno, Italy. Science
cionado, apesar de cumprirem algumas Direct. Journal of Hospital Infection (2003)
5- Existe necessidade de instalação de normas per tinentes ao tema ar condicio- 54, 2-9.
dumper, isolamento térmico e acústico nado em Estabelecimentos Assistenciais
9. Romero, Mar ta Adriana Bustos. Princípios
na parede e no forro, por ta para se de Saúde, necessitam de modificação Bioclimáticos para o Desenho Urbano.
obter isolamento térmico, bandeja para nestes projetos de acordo com o clima Projeto, SP, 1988.
retenção do dreno e espuma para isolar local onde está inserida a edificação e as
10. UFRJ, Laboratório de Estudos em Poluição
a serpentina. normas necessitam de complementação Ambiental. Gestão da Qualidade do Ar em

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Eliete de Pinho Araujo, Ana Cecília Pedrosa de Azevedo

Centros Urbanos. Curso do Banco Mun- 12. Resumo das leis, normas, por tarias, reso- - NR 32 – Segurança e Saúde no Trabalho em
dial, agosto 2003. luções: serviços de Saúde.
- NBR 7256 – Tratamento de ar em estabe- - Por taria do Ministério da Saúde 3523 Gmde
11. Villas Boas, Márcio & Oliveira, Paulo lecimentos assistenciais de saúde (EAS) de 28/08/1998.
Marcos Paiva de. Dimensão Ambiental – requisitos para projeto e execução das - Resolução RE n. o 176 de 24/10/2000
do Processo de Urbanização e Confor to instalações.
Luminoso (apostila). UNB, IAU. Brasília, - Norma do Ministério da Saúde. RDC 50. Es-
agosto, 1995. tabelecimentos Assistenciais de Saúde.
Brasília, 2002.

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