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ESTUDO DA MANUTENÇÃO
CENTRADA EM CONFIABILIDADE
APLICADA A UM SISTEMA DE
REFRIGERAÇÃO
Matheus Henrique Cavalcante Bandeira (UFPE )
matheushbandeira@gmail.com
Daiane de Oliveira Costa (UFPE )
daiane_oliveirac@hotmail.com
Rodrigo Sampaio Lopes (UFPE )
rodrigoengep@hotmail.com
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XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO
Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil
João_Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016.
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1. Introdução
As constantes mudanças na economia juntamente à globalização dos negócios levam as
empresas a buscarem vantagens competitivas e mudarem a sua estrutura visando a
permanência no mercado, seja através de melhorias no desempenho ou de redução de custos.
Além disso, existe hoje, por parte da sociedade, uma exigência cada vez maior para que as
empresas atuem de forma responsável em relação à segurança e ao meio ambiente. Esses
fatores acabam por gerar um grande desafio para os setores de manutenção das empresas.
Takata et. al (2004) aponta que operações de manutenção, quando bem-sucedidas, podem
levar a um menor tempo de inatividade, melhorar produtividade e manter o nível funcional de
produtos. Dada sua relevância, a implementação de abordagens relacionadas à manutenção
vêm sendo estudadas a fim de orientar as empresas para gerenciar de forma eficiente os seus
processos. Dentre estas abordagens, vem difundindo-se uma metodologia conhecida como
Manutenção Centrada na Confiabilidade (MCC), que permite determinar racionalmente o que
dever ser feito para assegurar que um equipamento continue executando suas funções,
cumprindo requisitos de segurança, meio ambiente, operação e economia Neste contexto, este
trabalho faz uma análise da aplicação da metodologia MCC em um sistema de refrigeração de
um shopping center, localizado no Agreste Pernambucano.
Além da relevância do tema abordado, esse estudo se justifica também devido à importância
do sistema analisado no ambiente em questão. O shopping é um importante centro comercial e
defeitos no sistema de refrigeração geram desconforto para os clientes, o que acarretaria
possíveis prejuízos para as lojas. Além disso, existem exigências legais sobre a IOM
(Instalação, Operação e Manutenção) de sistemas. Um exemplo é a Portaria 3523/98 do
Ministério da Saúde que exige o cumprimento de procedimentos técnicos através da
realização do PMOC (Plano de Manutenção, Operação e Controle) em sistemas de
climatização acima de 5TR (cinco toneladas de refrigeração).
A necessidade de ter o sistema de refrigeração funcionando corretamente e sob todas as
especificações foi fator chave para a escolha deste estudo, que apresenta na seção 2 uma
revisão da literatura acerca da abordagem MCC. Na seção 3 são descritos os aspectos
introdutórios dessa metodologia, o objeto da pesquisa e como é conduzida a análise do
sistema. Posteriormente, é realizado um exame das etapas para a implementação da
abordagem proposta, com destaque para as fases de seleção de funções, análise de modos de
falha e escolha das atividades de manutenção aplicáveis e eficazes. Na seção 4 é feita a
análise dos resultados obtidos e na seção 5 é realizada a conclusão do estudo.
2. Manutenção centrada em confiabilidade
MCC é uma técnica desenvolvida inicialmente pela indústria de companhia aérea no final dos
anos 60 e trata-se de uma abordagem que tem foco na prevenção de falhas cujas
consequências geram problemas de maior gravidade (IAEA, 2007). Carretero et al. (2003),
define MCC como uma abordagem sistemática para a funções dos sistemas, falhas dessas
funções, causas e efeitos das falhas e como essas afetam a infraestrutura do sistema. Uma vez
que as falhas são conhecidas, as consequências delas devem ser consideradas. Essas
consequências são classificadas em: segurança e ambiental, operacional, não-operacional e as
consequências de falhas ocultas, que são postas em um quadro estratégico para tomada de
decisão em relação à manutenção.
Heo et al. (2014) destaca que a estratégia de manutenção adotada através da aplicação da
técnica MCC deve ser eficaz em termos de custo, de forma que tenha como foco a
preservação da confiabilidade, indo, portanto, ao encontro da afirmação de Rausand (1998),
que aponta o objetivo da MCC como sendo a preservação da função mais importante do
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formação de neblina. A interferência ocorre quando o ar que sai de uma torre contamina o ar
de entrada de outra torre próxima, causada pela direção dos ventos. A formação de neblina
ocorre quando parte do vapor de água que sai da torre condensa em pequenas gotas, devido ao
contato com o ar ambiente mais frio, tornando-se o ar supersaturado.
A pressão na tubulação de distribuição de água de resfriamento é importante para que se
garanta que todos os fan-coils recebam a vazão de água necessária e também do ponto de
vista de segurança operacional. Caso ocorra um furo em um dos tubos do trocador, a água
vazará para o lado do casco, contaminando o fluido de processo. Se a pressão do fluido de
processo fosse mais alta que a da água de resfriamento, ocorreria o inverso, e todo o sistema
de resfriamento estaria contaminado, o que implicaria em riscos maiores do ponto de vista de
segurança operacional e meio ambiente.
Os sais, sólidos e matéria orgânica em suspensão dissolvidos na água de resfriamento são
fatores que contribuem para a formação de um meio favorável à proliferação de algas,
bactérias e fungos, que por sua vez, prejudicam não só a operação da torre de resfriamento,
mas também o desempenho térmico da rede de trocadores de calor, logo, o tratamento
químico da água de resfriamento para o controle de dureza, pH, condutividade e DBO é de
suma importante para o desempenho destes.
Uma vez descrito o processo de funcionamento do sistema, é preciso tratar as funções dos
componentes pertencentes a este, visto que o paradigma central da MCC é a preservação da
função. O quadro a seguir apresenta esta relação:
Este sistema pode ser definido por sistema complexo, uma vez que possui multicomponentes,
cujas funções devem ser preservadas para que o sistema desempenhe sua função inerente. É
interessante notar que o fluido (água) também é tido como um componente do sistema, uma
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vez que constitui a base do mesmo, atuando no controle da temperatura ambiente, o que leva a
sua função a ser primordial para o bom funcionamento do todo.
Apresentadas as funções dos componentes, é necessário agora conhecer os modos de falhas
relacionados aos mesmos, bem como os possíveis efeitos correspondentes.
3.2. Análise de modos de falhas e efeitos
Para definição dos modos de falha do sistema analisado, primeiramente foi necessário fazer
uma limitação, ou seja, escolher o subsistema para um estudo mais detalhado. Para a análise a
torre de resfriamento, por ser crítico ao sistema de refrigeração, foi escolhida juntamente com
os subsistemas compostos por chiller de água quente, tubulações, bombas, torre de
resfriamento e demais componentes constituintes. O quadro 2 apresenta uma listagem dos
modos de falha para cada um desses componentes, bem como as causas relacionadas a estes.
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Como observado, para um mesmo componente pode haver mais de um modo de falha, cada
um deles oriundo de diferentes agentes causadores. Siqueira (2009) ressalta a importância de
diferenciar a “causa da falha” e “modo de falha”, descrevendo o modo de falha como o que
está errado na função do sistema, enquanto a causa descreve o motivo da função estar errada.
Já o efeito, de acordo com Moubray (1997), descreve o acontecimento gerado quando um
modo de falha se apresenta. O seu reconhecimento é essencial para permitir uma análise por
parte da equipe, que avalia se este vai ficar evidente para o operador, se irá comprometer a
segurança ou o meio ambiente, o seu impacto no equipamento e na produção e o que deve ser
feito para corrigir o modo de falha. A metodologia utilizada para tomada dessas decisões é
apresentada nas etapas que se seguem.
3.3. Seleção das funções significantes
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falhas. Terminado o processo de análise das consequências das falhas, seu resultado deve ser
documentado, visto que tais informações auxiliará na próxima etapa, que consiste em
determinar as tarefas de manutenção.
3.4. Seleção das atividades aplicáveis
Para que uma atividade de manutenção possa ser considerada aplicável a um modo de falha
ela deve, de alguma forma, prevenir ou corrigir falhas. A atividade analisada pode realizar
este processo através de detecção de falhas potenciais, diminuição na taxa de deterioração,
substituição de componentes antes da ocorrência da falha, ou mesmo por meio de reparação
de itens após a falha.
Para facilitar o entendimento do estudo realizado neste artigo, utilizou-se a metodologia de
denominação de atividades proposta por Siqueira (2009), onde são identificados sete tipos de
denominação e descrição de atividades, representadas por siglas:
a) SP – Substituição Preventiva: atividade de descarte ou substituição programada de um
item em função de um limite específico da sua vida útil, objetivando a prevenção de
uma falha funcional;
b) RP – Restauração Preventiva: reposição programada de um item em uma data limite
determinada, visando prevenir sua falha funcional;
c) IP – Inspeção Preditiva: toda tarefa de inspeção programada, realizada por sentido
humano ou instrumental, que detecta o estado de evolução de uma falha potencial;
d) IF – Inspeção Funcional: verificação programada do estado funcional, com o objetivo
de descobrir uma falha funcional que já tenha ocorrido;
e) SO – Serviço Operacional: ressuprimento de materiais que são consumidos nas
operações e outras tarefas repetitivas básicas destinadas ao controle de incidência de
falhas;
f) MC – Manutenção Corretiva: restauração não-programada da capacidade funcional de
um ítem, com o intuito de corrigir defeitos ou potenciais falhas, detectadas por tarefas
programadas ou outras formas;
g) RF – Reparo Funcional: permitie que o sistema continue operante, sem nenhuma
tarefa de manutenção até que a falha ocorra, dada a inaplicabilidade de outros métodos
de manutenção ou decisão econômica.
h) Várias atividades de manutenção podem ser aplicáveis para um mesmo modo de falha,
portanto o critério efetividade, tratado no próximo tópico, deve ser utilizado para a
tomada de decisão sobre as atividades que devem ser escolhidas.
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Observa-se que de um total de vinte e três modos de falhas identificados para o subsistema,
dezoito apresentam implicações com consequências econômicas, pois acarretam em compra de
materiais, componentes, custos diretos com mão-de-obra, entre outros. Com a definição do novo
plano de manutenção, espera-se que haja uma diminuição dos riscos destas falhas e
consequentemente de todos os custos relacionados.
Percebe-se que, devido à natureza proativa das ações recomendadas, muitas destas podem ser
realizadas pelos operadores, diminuindo assim a carga de trabalho dos mecânicos, o que faz com
que estes possam trabalhar mais nas análises de falhas do que na própria atividade de manutenção,
permitindo então que as planilhas da MCC sejam constantemente revisadas. De uma maneira
geral, toda a equipe passa a conhecer melhor o funcionamento de do sistema, os potenciais modos
de falha que conduzem às falhas funcionais dos seus itens físicos, bem como as suas causas e
consequências destas.
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Com a implementação do estudo de caso, a nova atitude da manutenção passa a ser a preservação
das funções do sistema, ao invés da preservação dos próprios equipamentos.
5. Conclusões
Este artigo pretendeu analisar a aplicação da MCC em um sistema de refrigeração de um
Shopping Center do Agreste Pernambucano, com o objetivo de demonstrar na prática os
conceitos relacionados a esta metodologia. Os dados levantados nesse estudo possibilitaram
aos colaboradores uma melhor compreensão dos modos de falhas dos equipamentos, das suas
causas, dos seus efeitos e, principalmente, de como evitá-los. Com isso, é esperada uma
redução nos custos totais de manutenção a médio e longo prazo, devido à melhoria do
controle de manutenção do processo, em detrimento das intervenções corretivas. Mas vale
ressaltar que, simplesmente a utilização de um método ou técnica aplicada isoladamente, não
garante a eficiência na resolução de problemas relacionados à gestão da manutenção. A
adaptação e contextualização do método dentro de um processo de gestão de ativos geram
resultados, em sua maioria, satisfatórios, no que tange ao gerenciamento de falhas e
problemas intrínsecos na manutenção.
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