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XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO

Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil


João Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016.

ESTUDO DA MANUTENÇÃO
CENTRADA EM CONFIABILIDADE
APLICADA A UM SISTEMA DE
REFRIGERAÇÃO
Matheus Henrique Cavalcante Bandeira (UFPE )
matheushbandeira@gmail.com
Daiane de Oliveira Costa (UFPE )
daiane_oliveirac@hotmail.com
Rodrigo Sampaio Lopes (UFPE )
rodrigoengep@hotmail.com

Resumo: A Manutenção Centrada de confiabilidade (MCC) permite


determinar racionalmente as atividades de manutenção adequadas
para qualquer tipo de processo produtivo. A MCC tem por objetivo
assegurar que um equipamento continue executando ssuas funções
adequadamente, de modo a proporcionar vantagem competitiva para a
empresa que a utiliza. Neste artigo estuda-se a aplicação da MCC em
um sistema de refrigeração à base de água de um Shopping Center do
interior Pernambucano. O shopping é um importante centro comercial
e problemas no sistema de refrigeração geram desconforto para os
clientes, o que acarretaria em possíveis prejuízos para as lojas.
Primeiramente, são identificados os subsistemas, os componentes, suas
funções e modos de falha do sistema. É feita também a seleção de
funções significantes para a definição das atividades aplicáveis a cada
falha. Por fim, são selecionadas as atividades de manutenção, o que
possibilita uma nova atitude de manutenção para cada falha, além
disso, é feita uma análise crítica dos resultados obtidos, onde nota-se
que as atividades de manutenção passam a ser voltadas a preservação
das funções do sistema, ao invés da preservação dos próprios
equipamentos. Abstract: The Reliability Centered Maintenance (RCM)
enables the selection of the appropriate maintenance tasks for any type
of production process. The RCM aims to ensure that equipment
continues performing its functions properly, and this is associated with
competitive advantages for the company that uses it. This article
studies the application of RCM in a water based cooling system of a
shopping mall located in an inland city of Pernambuco. The mall is
extremely important because of its commercial importance, and
problems in the cooling system generate discomfort to customers,
which would result in possible losses to the stores. Firstly, it is given a
description of the methodology and the cooling system, identifying the
sub-systems, components, functions and failure modes. Furthermore,
the significant functions are elected in order to define the applicable
tasks to each failure. Finally, the maintenance tasks are selected, and
this changes the maintenance attitude for each failure; moreover, a
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critical analysis of the results is made, where it is noted that the


maintenance tasks should preserve the system’s functions, instead of
preserve the equipments.

Palavras-chave: Manutenção Centrada de Confiabilidade, Seleção de


Atividades de Manutenção, Sistema de Refrigeração a base de água.

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1. Introdução
As constantes mudanças na economia juntamente à globalização dos negócios levam as
empresas a buscarem vantagens competitivas e mudarem a sua estrutura visando a
permanência no mercado, seja através de melhorias no desempenho ou de redução de custos.
Além disso, existe hoje, por parte da sociedade, uma exigência cada vez maior para que as
empresas atuem de forma responsável em relação à segurança e ao meio ambiente. Esses
fatores acabam por gerar um grande desafio para os setores de manutenção das empresas.
Takata et. al (2004) aponta que operações de manutenção, quando bem-sucedidas, podem
levar a um menor tempo de inatividade, melhorar produtividade e manter o nível funcional de
produtos. Dada sua relevância, a implementação de abordagens relacionadas à manutenção
vêm sendo estudadas a fim de orientar as empresas para gerenciar de forma eficiente os seus
processos. Dentre estas abordagens, vem difundindo-se uma metodologia conhecida como
Manutenção Centrada na Confiabilidade (MCC), que permite determinar racionalmente o que
dever ser feito para assegurar que um equipamento continue executando suas funções,
cumprindo requisitos de segurança, meio ambiente, operação e economia Neste contexto, este
trabalho faz uma análise da aplicação da metodologia MCC em um sistema de refrigeração de
um shopping center, localizado no Agreste Pernambucano.
Além da relevância do tema abordado, esse estudo se justifica também devido à importância
do sistema analisado no ambiente em questão. O shopping é um importante centro comercial e
defeitos no sistema de refrigeração geram desconforto para os clientes, o que acarretaria
possíveis prejuízos para as lojas. Além disso, existem exigências legais sobre a IOM
(Instalação, Operação e Manutenção) de sistemas. Um exemplo é a Portaria 3523/98 do
Ministério da Saúde que exige o cumprimento de procedimentos técnicos através da
realização do PMOC (Plano de Manutenção, Operação e Controle) em sistemas de
climatização acima de 5TR (cinco toneladas de refrigeração).
A necessidade de ter o sistema de refrigeração funcionando corretamente e sob todas as
especificações foi fator chave para a escolha deste estudo, que apresenta na seção 2 uma
revisão da literatura acerca da abordagem MCC. Na seção 3 são descritos os aspectos
introdutórios dessa metodologia, o objeto da pesquisa e como é conduzida a análise do
sistema. Posteriormente, é realizado um exame das etapas para a implementação da
abordagem proposta, com destaque para as fases de seleção de funções, análise de modos de
falha e escolha das atividades de manutenção aplicáveis e eficazes. Na seção 4 é feita a
análise dos resultados obtidos e na seção 5 é realizada a conclusão do estudo.
2. Manutenção centrada em confiabilidade
MCC é uma técnica desenvolvida inicialmente pela indústria de companhia aérea no final dos
anos 60 e trata-se de uma abordagem que tem foco na prevenção de falhas cujas
consequências geram problemas de maior gravidade (IAEA, 2007). Carretero et al. (2003),
define MCC como uma abordagem sistemática para a funções dos sistemas, falhas dessas
funções, causas e efeitos das falhas e como essas afetam a infraestrutura do sistema. Uma vez
que as falhas são conhecidas, as consequências delas devem ser consideradas. Essas
consequências são classificadas em: segurança e ambiental, operacional, não-operacional e as
consequências de falhas ocultas, que são postas em um quadro estratégico para tomada de
decisão em relação à manutenção.
Heo et al. (2014) destaca que a estratégia de manutenção adotada através da aplicação da
técnica MCC deve ser eficaz em termos de custo, de forma que tenha como foco a
preservação da confiabilidade, indo, portanto, ao encontro da afirmação de Rausand (1998),
que aponta o objetivo da MCC como sendo a preservação da função mais importante do

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equipamento ou sistema, mantendo a confiabilidade e disponibilidade necessárias com o


menor custo de manutenção possível.
Com relação ao procedimento da estratégia MCC, Selvik & Aven (2011) descrevem dois
passos a serem executados: primeiro deve-se realizar uma análise indutiva das potenciais
falhas, onde normalmente a variante do modo de falha, seus efeitos e a análise de criticidade
(FMECA) são utilizadas para determinar os componentes críticos do sistema; e o segundo
passo é a aplicação de diagramas de decisão lógicos para especificar categorias adequadas de
Manutenção Preventiva, Manutenção Preditiva, substituição, etc. Essas etapas são melhores
descritas nos tópico subsequentes.
3. Aplicação da MCC no sistema de refrigeração estudado
A aplicação da MCC realizada neste estudo foi baseada na metodologia proposta por
Moubray (1997) e Siqueira (2009). Este último determina sete etapas a serem seguidas:
a) Selecionar o sistema e coletar informações necessárias;
b) Analisar modos de falhas e seus efeitos;
c) Selecionar funções significantes;
d) Selecionar atividades aplicáveis;
e) Avaliar efetividade das atividades;
f) Selecionar atividades aplicáveis e efetivas;
g) Definição da Periodicidade das Atividades

A primeira etapa consistiu na escolha do sistema, seguida da documentação do mesmo, sendo


esta realizada através da descrição textual do seu funcionamento e das suas características
(componentes, funções, fronteiras, etc.). Todas as informações tratadas na primeira etapa
foram utilizadas posteriormente em uma análise que permitiu a identificação das falhas, seus
efeitos e os modos de falha. Em seguida, foi realizada a seleção de funções significantes, que
consistiu na classificação de acordo com a severidade relacionada aos aspectos pilares da
MCC: segurança, meio ambiente, operação e economia do processo. Logo após, realizou-se a
seleção das atividades aplicáveis, onde todas as práticas de manutenção cabíveis para a falha
analisada foram listadas para uma avaliação subsequente na etapa de avaliação da efetividade
das atividades através de critérios predefinidos. Por fim, foi feita a escolha da atividade mais
propícia à aplicação, tornando possível a partir deste ponto a elaboração de um programa de
manutenção para cada item analisado. O desdobramento destas etapas é apresentado nos
subtópicos desta seção.
3.1. Seleção do sistema e coleta de informações
Para a análise desenvolvida neste artigo foi escolhido um sistema de refrigeração à base de
água de um Shopping Center situado no agreste pernambucano. A partir da escolha do sistema
para estudo, foram coletadas informações importantes sobre os componentes do sistema e
sobre seu funcionamento. Uma representação do sistema pode ser observada na figura 1.

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Figura 1 – Representação do sistema de refrigeração à base de água.

Fonte: Adaptação de Stanford III (2003)


Nesse tipo de sistema há necessidade de remover carga térmica, para tal, usa-se a água como
fluido de resfriamento (visto que os sistemas a gás são geralmente mais caros). Devido à
escassez da água e a preocupação com o meio ambiente, além de motivos econômicos, a água
"quente" que sai desses resfriadores deve ser reaproveitada. Para tanto, ela passa por outro
equipamento que a resfria, a torre de resfriamento evaporativo, e retorna ao circuito dos
resfriadores de processo. A água que sai desses resfriadores é alimentada e distribuída no topo
da torre de resfriamento e ar ambiente é insuflado através do enchimento, em contracorrente
ou corrente cruzada com a água. Por meio desse contato líquido-gás, parte da água evapora e
ocorre o seu resfriamento.
Numa torre de resfriamento, a principal contribuição para o resfriamento da água é dada pela
evaporação de parte desta, que recircula na torre. A evaporação causa o abaixamento da
temperatura da água que escoa ao longo da torre de resfriamento. Isso ocorre porque, para
evaporar, a água precisa de calor latente, e esse calor é retirado da própria água que escoa pela
torre. A evaporação de parte da água é responsável por aproximadamente 80% do
resfriamento da água. A diferença de temperatura entre o ar e a água é responsável pelos
outros 20 % do resfriamento (Sapuranu et. al, 2014).
O desempenho de uma torre de resfriamento varia conforme a temperatura do ar ambiente,
umidade do ar e com o clima. Para manter a temperatura da água de saída constante, pode-se
diminuir a vazão de água que recircula no sistema de refrigeração. A recirculação ocorre
quando o ar quente e úmido que deixa a torre contamina o ar que está entrando na torre. Esta
situação pode ocorrer devido à direção dos ventos, dificuldades de dispersão do ar de saída e

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formação de neblina. A interferência ocorre quando o ar que sai de uma torre contamina o ar
de entrada de outra torre próxima, causada pela direção dos ventos. A formação de neblina
ocorre quando parte do vapor de água que sai da torre condensa em pequenas gotas, devido ao
contato com o ar ambiente mais frio, tornando-se o ar supersaturado.
A pressão na tubulação de distribuição de água de resfriamento é importante para que se
garanta que todos os fan-coils recebam a vazão de água necessária e também do ponto de
vista de segurança operacional. Caso ocorra um furo em um dos tubos do trocador, a água
vazará para o lado do casco, contaminando o fluido de processo. Se a pressão do fluido de
processo fosse mais alta que a da água de resfriamento, ocorreria o inverso, e todo o sistema
de resfriamento estaria contaminado, o que implicaria em riscos maiores do ponto de vista de
segurança operacional e meio ambiente.
Os sais, sólidos e matéria orgânica em suspensão dissolvidos na água de resfriamento são
fatores que contribuem para a formação de um meio favorável à proliferação de algas,
bactérias e fungos, que por sua vez, prejudicam não só a operação da torre de resfriamento,
mas também o desempenho térmico da rede de trocadores de calor, logo, o tratamento
químico da água de resfriamento para o controle de dureza, pH, condutividade e DBO é de
suma importante para o desempenho destes.
Uma vez descrito o processo de funcionamento do sistema, é preciso tratar as funções dos
componentes pertencentes a este, visto que o paradigma central da MCC é a preservação da
função. O quadro a seguir apresenta esta relação:

Quadro 1 – Relação componente x função.

Este sistema pode ser definido por sistema complexo, uma vez que possui multicomponentes,
cujas funções devem ser preservadas para que o sistema desempenhe sua função inerente. É
interessante notar que o fluido (água) também é tido como um componente do sistema, uma

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vez que constitui a base do mesmo, atuando no controle da temperatura ambiente, o que leva a
sua função a ser primordial para o bom funcionamento do todo.
Apresentadas as funções dos componentes, é necessário agora conhecer os modos de falhas
relacionados aos mesmos, bem como os possíveis efeitos correspondentes.
3.2. Análise de modos de falhas e efeitos
Para definição dos modos de falha do sistema analisado, primeiramente foi necessário fazer
uma limitação, ou seja, escolher o subsistema para um estudo mais detalhado. Para a análise a
torre de resfriamento, por ser crítico ao sistema de refrigeração, foi escolhida juntamente com
os subsistemas compostos por chiller de água quente, tubulações, bombas, torre de
resfriamento e demais componentes constituintes. O quadro 2 apresenta uma listagem dos
modos de falha para cada um desses componentes, bem como as causas relacionadas a estes.

Quadro 2 – Análise de modos de falha e causa de falhas

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Como observado, para um mesmo componente pode haver mais de um modo de falha, cada
um deles oriundo de diferentes agentes causadores. Siqueira (2009) ressalta a importância de
diferenciar a “causa da falha” e “modo de falha”, descrevendo o modo de falha como o que
está errado na função do sistema, enquanto a causa descreve o motivo da função estar errada.
Já o efeito, de acordo com Moubray (1997), descreve o acontecimento gerado quando um
modo de falha se apresenta. O seu reconhecimento é essencial para permitir uma análise por
parte da equipe, que avalia se este vai ficar evidente para o operador, se irá comprometer a
segurança ou o meio ambiente, o seu impacto no equipamento e na produção e o que deve ser
feito para corrigir o modo de falha. A metodologia utilizada para tomada dessas decisões é
apresentada nas etapas que se seguem.
3.3. Seleção das funções significantes

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Prevenir e corrigir falhas são os objetivos primários da manutenção, entretanto existem


avarias que geram consequências críticas para o sistema e outras que podem ser consideradas
insignificantes, isto acontece devido à função ligada a cada falha. A dificuldade encontrada na
análise das funções significantes está justamente ligada à identificação da criticidade das
falhas potenciais.
De acordo com Moubray (1997) existem quatro aspectos pilares da MCC: segurança, meio
ambiente, operações e economia do processo. Portanto, para definir a criticidade de uma
função, considerando-a significante ou insignificante, é necessário observar quais as
consequências acarretadas por sua falha relacionadas aos aspectos pilares da MCC. Siqueira
(2009) ressalta que a consequência de cada falha será função dos seus efeitos produzidos.
Outro fator a ser observado é a frequência das falhas, pois esta analise proporciona um melhor
entendimento sobre as atividades de manutenção que podem ser aplicadas para cada falha e
isto facilita a elaboração do programa de manutenção.
A análise da criticidade elaborada neste artigo foi realizada, primeiramente, a partir de um
teste lógico, como apresentado na figura 2.

Figura 2 – Diagrama lógico para seleção de funções significantes

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Fonte: Adaptação de Siqueira, 2009.


Como demonstrado no diagrama, para que uma função seja considerada significante é
importante observar se suas falhas acarretam algum problema de natureza relacionada aos
aspectos pilares da MCC. É preciso ainda observar se a função já possui proteção dada por
alguma tarefa de manutenção já existente. Todas as funções significantes identificadas estão
presentes no Quadro 3.
Escolhidas as funções significantes, a metodologia MCC utiliza uma lógica estruturada
conduzida através de um fluxo de decisão, baseado em uma série de perguntas sobre a falha
funcional e os modos de falha associados a ela. Esse fluxo conduziu à elaboração da tabela 3,
seguindo um padrão adaptado de Siqueira (2009). Nesta, constam-se os componentes do
sistema analisado, os modos de falha, e as características da falha, tornando possível a
classificação de cada modo de falha em quatro grupos: 1) ESA: Segurança/Ambiental
Evidente; 2) OSA: Segurança/Ambiental Oculta; 3) EEO: Operacional/Econômico Evidente;
4) OEO: Operacional/Econômico Oculta.
Quadro 3 – Formulário de Árvore de Decisão.

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As consequências de cada falha foram avaliadas conforme os impactos e critérios


estabelecidos na figura 2, observando, agora, a visibilidade da falha. No caso de falhas ocultas
deve ser realizada uma avaliação baseada em suas possíveis associações com outros modos de

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falhas. Terminado o processo de análise das consequências das falhas, seu resultado deve ser
documentado, visto que tais informações auxiliará na próxima etapa, que consiste em
determinar as tarefas de manutenção.
3.4. Seleção das atividades aplicáveis
Para que uma atividade de manutenção possa ser considerada aplicável a um modo de falha
ela deve, de alguma forma, prevenir ou corrigir falhas. A atividade analisada pode realizar
este processo através de detecção de falhas potenciais, diminuição na taxa de deterioração,
substituição de componentes antes da ocorrência da falha, ou mesmo por meio de reparação
de itens após a falha.
Para facilitar o entendimento do estudo realizado neste artigo, utilizou-se a metodologia de
denominação de atividades proposta por Siqueira (2009), onde são identificados sete tipos de
denominação e descrição de atividades, representadas por siglas:
a) SP – Substituição Preventiva: atividade de descarte ou substituição programada de um
item em função de um limite específico da sua vida útil, objetivando a prevenção de
uma falha funcional;
b) RP – Restauração Preventiva: reposição programada de um item em uma data limite
determinada, visando prevenir sua falha funcional;
c) IP – Inspeção Preditiva: toda tarefa de inspeção programada, realizada por sentido
humano ou instrumental, que detecta o estado de evolução de uma falha potencial;
d) IF – Inspeção Funcional: verificação programada do estado funcional, com o objetivo
de descobrir uma falha funcional que já tenha ocorrido;
e) SO – Serviço Operacional: ressuprimento de materiais que são consumidos nas
operações e outras tarefas repetitivas básicas destinadas ao controle de incidência de
falhas;
f) MC – Manutenção Corretiva: restauração não-programada da capacidade funcional de
um ítem, com o intuito de corrigir defeitos ou potenciais falhas, detectadas por tarefas
programadas ou outras formas;
g) RF – Reparo Funcional: permitie que o sistema continue operante, sem nenhuma
tarefa de manutenção até que a falha ocorra, dada a inaplicabilidade de outros métodos
de manutenção ou decisão econômica.
h) Várias atividades de manutenção podem ser aplicáveis para um mesmo modo de falha,
portanto o critério efetividade, tratado no próximo tópico, deve ser utilizado para a
tomada de decisão sobre as atividades que devem ser escolhidas.

3.5. Avaliação da efetividade das atividades


Segundo Siqueira (2009), a Avaliação da Efetividade das Atividades constitui-se em um
processo estruturado para determinar se uma tarefa de manutenção preventiva é efetiva para
reduzir, a um nível aceitável, as consequências previstas para uma falha. Para tal, existem
critérios a serem atendidos. Primeiramente, a atividade deve ser aplicável tecnicamente, isso
exclui todas as atividades nas quais não se tem conhecimento e tecnologia suficientes para sua
realização. Além disso, a atividade deve ser viável com os recursos disponíveis. Por fim, uma
atividade deve produzir resultados esperados e ser executável a um intervalo razoável.
Todas as atividades devem ser comparadas em termos de efetividade, contudo, a efetividade
depende diretamente dos resultados esperados para cada atividade. Em alguns casos deseja-se
prevenir que falhas ocorram, pois, em caso de ocorrência, isto poderia causar consequências
na segurança física do trabalhador, ou mesmo gerar problemas relativos à qualidade do meio
ambiente. Neste caso, a efetividade poderia ser medida em termos de diminuição da
probabilidade de ocorrência de falha, por exemplo. Já em outros casos, quando o fator

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econômico é mais importante, uma possível forma de medição da efetividade de atividades


poderia ser seu retorno econômico.
3.6. Seleção das atividades aplicáveis e efetivas
Para a definição das atividades de manutenção mais adequadas a cada modo de falha
analisado neste estudo, utilizou-se um diagrama decisional proposto por Moubray (1997).
Este processo relaciona a aplicabilidade de cada atividade, sua efetividade e usa regras para
priorização de opções. Os resultados obtidos através da aplicação deste diagrama podem ser
observados no Quadro 4.

Quadro 4 – Resultados do Diagrama de Decisão.

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O quadro esboça de forma simplificada os modos de falhas identificados em etapas


anteriores, desta vez associando-os diretamente às atividades de manutenção recomendadas
para cada caso, com base no formato de classificação proposto por Moubray (1997) e Siqueira

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(2009) durante a metodologia. As atividades de manutenção mencionadas nessa tabela devem


influenciar na criação do plano de manutenção, o qual contempla o desmembramento dos
modos de falha em ações proativas de manutenção.
Com os resultados obtidos, resta fazer uma análise dos mesmos, onde as atividades devem ser
documentadas e inseridas no plano de manutenção elaborado. Uma etapa posterior seria a
definição da periodicidade das atividades de manutenção, entretanto, várias outras
informações, que não foram concedidas, seriam necessárias para realização deste processo.

4. Análise dos resultados

A aplicação da metodologia MCC possibilitou a identificação de potenciais modos de falha que


ainda não haviam sido contemplados nos planos de manutenção vigentes da empresa, além de
eliminar a necessidade de determinadas tarefas que tratavam modos de falhas menos relevantes,
gerando assim planos de manutenção mais eficientes.

A análise completa resultou na identificação de vinte e três atividades de manutenção, todas


identificadas como viáveis pela equipe de análise. A diferença da natureza das tarefas para um
mesmo componente deve-se ao fato dos seus modos de falha apresentarem contextos operacionais
diferentes, o que leva consequentemente a estratégias diferenciadas de manutenção, que
consistiram em: dezesseis atividades de reparo funcional, duas atividades de restauração
preventiva, quatro atividades de substituição preventiva e uma inspeção preditiva. Esta última
foi assim selecionada devido ao possível impacto gerado em função da falha no equipamento
correspondente ser considerado relativamente alto, espera-se então que a inspeção preditiva
aumente a eficácia na identificação de falhas, ou da tendência de falhas.

Observa-se que de um total de vinte e três modos de falhas identificados para o subsistema,
dezoito apresentam implicações com consequências econômicas, pois acarretam em compra de
materiais, componentes, custos diretos com mão-de-obra, entre outros. Com a definição do novo
plano de manutenção, espera-se que haja uma diminuição dos riscos destas falhas e
consequentemente de todos os custos relacionados.

Percebe-se que, devido à natureza proativa das ações recomendadas, muitas destas podem ser
realizadas pelos operadores, diminuindo assim a carga de trabalho dos mecânicos, o que faz com
que estes possam trabalhar mais nas análises de falhas do que na própria atividade de manutenção,
permitindo então que as planilhas da MCC sejam constantemente revisadas. De uma maneira
geral, toda a equipe passa a conhecer melhor o funcionamento de do sistema, os potenciais modos
de falha que conduzem às falhas funcionais dos seus itens físicos, bem como as suas causas e
consequências destas.

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Dessa forma, a análise da aplicação da metodologia MCC no sistema de refrigeração estudado


mostrou-se satisfatória, uma vez que foi possível validar e documentar as práticas de manutenção
a serem aplicadas no sistema de refrigeração. Buscou-se também analisar aspectos, para futuras
revisões da MCC na empresa estudada, sendo um deles referente ao registro das falhas. A
empresa necessita dispor de um sistema voltado para gerenciamento das atividades de
manutenção, uma vez que os dados de falha, quando confiáveis e utilizados de forma eficiente,
podem fornecer uma boa estrutura para o desenvolvimento de um modelo estatístico do
comportamento de falha dos equipamentos.

Com a implementação do estudo de caso, a nova atitude da manutenção passa a ser a preservação
das funções do sistema, ao invés da preservação dos próprios equipamentos.

5. Conclusões
Este artigo pretendeu analisar a aplicação da MCC em um sistema de refrigeração de um
Shopping Center do Agreste Pernambucano, com o objetivo de demonstrar na prática os
conceitos relacionados a esta metodologia. Os dados levantados nesse estudo possibilitaram
aos colaboradores uma melhor compreensão dos modos de falhas dos equipamentos, das suas
causas, dos seus efeitos e, principalmente, de como evitá-los. Com isso, é esperada uma
redução nos custos totais de manutenção a médio e longo prazo, devido à melhoria do
controle de manutenção do processo, em detrimento das intervenções corretivas. Mas vale
ressaltar que, simplesmente a utilização de um método ou técnica aplicada isoladamente, não
garante a eficiência na resolução de problemas relacionados à gestão da manutenção. A
adaptação e contextualização do método dentro de um processo de gestão de ativos geram
resultados, em sua maioria, satisfatórios, no que tange ao gerenciamento de falhas e
problemas intrínsecos na manutenção.

REFERÊNCIAS
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XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO
Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil
João_Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016.
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