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Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física

Mestrado em Ensino da Educação Física nos Ensinos Básicos e Secundário

Organização e Gestão do Desporto Escolar

Results From Portugal’s 2016 Report Card on Physical


Activity for Children and Youth

Docente: Professor Doutor Raúl Martins

Discentes:

Luís Carlos Lopes da Costa 2020184501

Coimbra
Maio, 2021
Apresentação do artigo

Objetivo: O presente artigo teve como objetivo descrever os procedimentos e resultados do


primeiro Boletim Português para a Atividade Física em Crianças e Adolescentes, analisando
dados relevantes entre 2010 e 2016, usando o PubMed como motor de busca de referências
bibliográficas, bem como os documentos governamentais mais relevantes sobre o assunto.

Métodos e Procedimento: Foram realizadas pesquisas abrangentes de dados relacionados a


indicadores de atividade física (PA) por um comitê de especialistas em Desporto e atividade física.
As notas foram atribuídas a cada indicador de acordo com o processo e a metodologia delineados
pelo modelo do Cartão de Relatório do Active Healthy Kids Canada.

Resultados: Foram avaliados nove indicadores de atividade física (PA). As seguintes notas foram
atribuídas: Níveis gerais de atividade física, D; Participação Esportiva Organizada, B; Jogo ativo,
D; Transporte Ativo, C; Comportamentos sedentários, D; Família e amigos, C; Escolas, B;
Comunidade e ambiente construído, D; e governo, C.

Conclusões: As crianças e adolescentes portugueses não atingem níveis suficientes de atividade


física e passam mais tempo em comportamentos sedentários em comparação com as
recomendações. Políticas eficazes de promoção de Atividade Física e a sua implementação são
necessárias em diferentes domínios da vida diária dos jovens.
Análise crítica

Segundo Casperson, Powell e Christenson (1985) a atividade física define-se como


qualquer movimento corporal, produzido pelos músculos esqueléticos, que resulta em gasto
energético maior do que os níveis de repouso, assim como: caminhar, dançar, correr, subir
escadas, etc. Outro autor conceitua o exercício físico como toda atividade física planeada,
estruturada e repetitiva que tem como objetivo a melhoria e a manutenção de uma ou mais
componentes da aptidão física (Nahas, 2006).

A prática regular da atividade física, em geral, pode proporcionar vários benefícios à


saúde e ainda constitui uma forma efetiva de prevenção à ocorrência de doenças futuras. Em
relação às crianças, a atividade física desempenha papel fundamental sobre a condição física,
psicológica e mental. Conforme descrevem Bois et al. (2005), a prática da atividade física pode
aumentar a autoestima, a aceitação social e a sensação de bem-estar entre as crianças.

As recomendações internacionais de atividade física são habitualmente expressas em


minutos de atividade física de intensidade moderada ou vigorosa. Segundo informação da Direção
Geral de Saúde (DGS) adultos saudáveis devem praticar 150 minutos semanais de atividade física
moderada (ou 75 minutos de atividade vigorosa, ou combinação equivalente). Em crianças e
adolescentes, deve existir uma acumulação diária de 60 minutos de atividade física de intensidade
moderada a vigorosa.

Os dados de atividade física das crianças e adolescentes portugueses são deveras


preocupantes. Um estudo português (Baptista et al., 2012), em que se mediu a atividade física
com recurso a acelerometria, mostrou que, em crianças e adolescentes entre os 10 e os 17 anos
de idade, apenas os rapazes entre os 10-11 anos cumpriam as recomendações diárias de 60
minutos de atividade física moderada a vigorosa. À medida que a idade aumenta, os níveis de
atividade física diminuem, sendo sempre menores nas raparigas (figura 1).

Figura 1: Minutos de atividade física em crianças e adolescentes portugueses.


Analisando o relatório de resultados do Inquérito Alimentar Nacional e de Atividade
Física (2015-2016) observa-se que cerca de 37% das crianças e jovens (3-14 anos) vê televisão
mais de 2 horas diárias, durante a semana, valor que sobe para 71% aos fins de semana. A partir
de diários de atividade física, estima-se que, em média, crianças e adolescentes entre os 6-14 anos
passem cerca de 9 horas/dia em comportamentos sedentários, excluindo o tempo de sono. O
tempo em comportamentos sedentários aumenta com a idade, sendo inferior (cerca de 8 horas/dia)
nas crianças com 6-9 anos e superior (aproximadamente, 10 horas/dia) nos adolescentes com 10-
14 anos. Claramente que estes dados podem ajudar a refletir que cada vez mais as crianças e
jovens adolescentes não têm hábitos saudáveis de atividade física o que potenciará no futuro um
decréscimo na sua qualidade de vida.

Através da análise efetuada e transpondo para aquilo que foi o objetivo de estudo de Mota,
Silva, Raimundo e Sardinha (2016), claramente que os resultados coincidem quando comparados
com as estatísticas da Direção Geral de Saúde. De acordo com este relatório, apenas 34% dos
rapazes portugueses e 17% das raparigas portuguesas com idades compreendidas entre os 11 e os
15 anos eram suficientemente ativos. Da mesma forma, o outro estudo realizado anos antes
(Baptista et al., 2012) envolvendo jovens portugueses constatou que 36% dos jovens dos 10 aos
11 anos e 4% dos 16 aos 17 anos cumpriam as orientações de atividade física após usarem um
acelerómetro durante 4 dias consecutivos. Assim, os dados disponíveis mostraram que as
diretrizes de atividade física relacionadas à saúde não estavam sendo alcançadas por um número
significativo de jovens.

A participação de crianças e adolescentes ao nível do desporto competitivo federado tem


vindo a aumentar, sendo que, os dados obtidos do Instituto Português do Desporto e Juventude
(IPDJ) registaram um aumento de 31.000 crianças envolvidas em federações desportivas ente
2010 e 2014. Ainda assim, apesar do aumento constante da participação do desporto federado
durante os últimos anos, as evidências mostraram que a brincadeira ativa durante o tempo de
lazer, assim como as atividades desportivas não organizadas, parecem estar diminuindo devido
ao aumento do acesso à tecnologia e outras atividades. Na minha opinião e através de uma análise
reflexiva os pais preferem que os seus filhos sejam vigiados e que estejam seguros enquanto
praticam atividade física, devido à supervisão dos treinadores, em vez de poderem brincar
livremente na rua com os amigos por exemplo. Por outro e devido também à falta de tempo dos
pais, estes, não conseguem acompanhar as mesmas brincadeiras com os seus filhos devido aos
seus afazeres.

Nos tempos que correm, em que a tecnologia ocupa grande parte do tempo das crianças
e adolescentes e por vezes dos adultos também, sendo que a atividade física é desvalorizada por
ambos, uma das soluções possíveis para que as mesmas criem hábitos rotineiros de atividade
física, será a escola oferecer oportunidades de educação física diárias às crianças. Um estudo
realizado na Alemanha por Demetriou, Bachner, Reimers e Göhner (2018) comparou os níveis de
alfabetização motora, analisando a aptidão física, habilidades motoras fundamentais,
comportamentos de atividade física e ainda os fatores psicossociais/ cognitivos de alunos de duas
escolas, onde no currículo escolar de uma das escolas estão incluídas aulas diárias de educação
física de 90 minutos, oportunidades ativas de recreio e, além disso, as disciplinas não desportivas
são ensinadas de forma ativa e na outra escola os alunos recebem três sessões de educação física
de 45 minutos semanalmente e nenhum esforço é feito para aumentar os níveis de atividade física
dos alunos durante o horário escolar.

No que diz respeito à alfabetização física dos alunos, foram observados pequenos efeitos positivos
da escola voltada para a atividade física em comparação com a outra escola regular de ensino
básico:

• Salto em comprimento de pé;

• Equilíbrio para trás nas barras;

• Corrida de 6 minutos.

Relativamente os fatores psicossociais os alunos da escola primária voltada para o desporto


apresentaram valores significativamente melhores na sua atitude em relação à educação física em
comparação com a escola primária regular em ambos os momentos, ainda que não tenham existido
diferenças significativas para o conhecimento de aptidão física relacionada à saúde e a sua
motivação para a educação física entre as duas escolas. Relativamente ao domínio cognitivo
também não foram encontradas diferenças significativas. O estudo concluiu que as entrevistas
revelaram a ambição do diretor da escola e dos professores da escola em contribuir para o alcance
dos níveis de atividade física diária exigidos nos alunos para obterem resultados de saúde
positivos, para promover o desempenho cognitivo e académico dos alunos e para melhorar as
habilidades de movimento dos alunos, que para além da promoção da atividade física nos
programas curriculares, é necessário a construção de estruturas ambientais que favoreçam a
atividade física, durante o dia escolar nos ambiente internos e externos e ainda que para
estabelecer um conceito de Escola promotora de atividade física será também necessário existir
um ambiente social de apoio envolvendo professores, pais etc. Apesar de que forma geral estas
duas escolas não apresentaram grandes diferenças relativamente aos resultados obtidos pelos seus
alunos, será importante referir que a média/longa distância de tempo as crianças que frequentam
a escola focada na prática de atividade física serão mais saudáveis, terão um índice cognitivo e
psicossocial superior às restantes e certamente apresentarão uma melhor aptidão física, aliando
ainda decerto a uma percentagem menor de excesso de peso e obesidade.

Desejo no futuro que as crianças de Portugal e do Mundo possam ser mais ativas, mais
saudáveis e mais felizes!
Baptista, F., Santos, D.A., Silva, A.M, Mota, J., Santos, R. & Vale S. (2012). Prevalence of the
Portuguese population attaining sufficient physical activity. Med Sci Sports Exerc.

Bois, J. E., Sarrazin, P. G., Brustad, R. J., Trouilloud, D. O., & Cury, F. (2005). Elementary
schoolchildren’s perceived competence and physical activity involvement: The
influence of parents’ role modeling behaviors and perceptions of their child’s
competence. Psychology of Sport and Exercise, 6(4), 381-397

Caspersen, C. J., Powell, K. E., & Christenson, G. M. (1985). Physical activity, exercise, and
physical fitness: definitions and distinctions for health-related research. Public health
reports (Washington, D.C. : 1974), 100(2), 126–131.

Demetriou, Y., Bachner, J., Reimers, A.K. & Göhner, W. (2018) Effects of a Sports-Oriented
Primary School on Students’ Physical Literacy and Cognitive Performance. Journal of
Functional Morphology and Kinesiology.

DGS. Programa Nacional para a Promoção da Atividade Fisica. https://www.dgs.pt/programa-


nacional-para-a-promocao-da-atvidadefisica/perguntas-e-respostas.aspx

Inquérito Alimentar Nacional e de Atividade Física (IAN-AF) 2015-2016. Consórcio IAN-AF;


2017.

Nahas, M. (2006). Atividade física, saúde e qualidade de vida: Conceitos e sugestões para um
estilo de vida ativo. Londrina, 4.

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