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A todos é constitucionalmente garantido o acesso aos tribunais para defesa dos seus
direitos e interesses legítimos afectados por quaisquer actos de particulares ou do poder
estadual, não podendo a justiça ser denegada por insuficiência de meios económicos (art. 20º da
CRP). Trata-se de uma protecção jurisdicional ampla, que impede a existência de actos
insusceptíveis de controlo por parte dos tribunais – princípio da Legalidade (a administração
tem o poder, que a constituição reconhece, está previsto na lei).
No âmbito da administração a garantia de acesso aos tribunais é individualizada tal
como vem previsto nos arts. 212º, nº 3 da CRP e art. 268º, nº 4 da CRP, os quais abrangem os
recursos fundados na ilegalidade dos actos administrativos independentemente da sua forma que
lesem direitos ou interesses legalmente protegidos e a tutela efectiva dos direitos e interesses
(art. 2º do CPTA).
A independência e a imparcialidade dos tribunais administrativos encontra-se hoje
salvaguardado, bem como a força jurídica das sentenças proferidas pelos tribunais. A
Constituição garante, ainda a responsabilidade das entidades públicas, como dos seus titulares,
órgãos, funcionários ou agente, por acções ou omissões praticados no exercício das suas funções
(art. 271º da CRP).
Jurisdicização da administração:
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o Princípio do acesso dos cidadãos aos tribunais: consagrado pelo art. 20º, 268º, nº 4 e
5 da CRP;
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interesse público de acordo com o ordenamento jurídico e por outro lado respeitar os
direitos e interesses legalmente protegidos dos cidadãos (art. 266º da CRP).
o O modelo objectivista;
o O modelo subjectivista.
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Modelos organizativos:
• O modelo administrativista;
• O modelo judiciarista;
• O modelo judicialista.
Os modelos processuais:
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Modelos organizativos:
• 1ª fase – 1832/1982;
• 2ª fase – inicia-se a partir de 1984 e 1985;
• 3ª fase – 1989;
• 4ª fase – 2002/2003.
1ª fase – foi marcado pela adopção do modelo francês da justiça administrativa, em que o
contencioso é regra se consubstancia no recurso de anulação de actos administrativos,
admitindo-se o contencioso de plena jurisdição em certas matérias como acção de
responsabilidade e certos recursos eleitorais. A jurisdição administrativa é concedida como uma
jurisdição limitada, quer no plano dos meios de acesso aos tribunais, que no plano da tutela dos
direitos dos particulares, quer no meio dos poderes jurisdicionais.
Nesta época, os particulares enfrentaram a posição dominante da administração, as limitações
dos meios de prova e os obstáculos à execução de sentenças.
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contencioso regra. Em 1984, o legislador optou para efeitos de delimitação do âmbito da justiça
administrativa por um sistema que conjuga uma cláusula geral e uma enumeração meramente
exemplificativa das matérias da competência dos tribunais administrativos.
Limites materiais
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Limites funcionais:
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aqui, um juízo dos tribunais sobre a oportunidade e conveniência das decisões da administração
pública. A administração pública deve encontrar a melhor solução para a realização do interesse
público legalmente definido a actuar em conformidade com os princípios jurídicos consagrados
no CPA. Cabe aos tribunais não interferir nos assuntos internos da administração pública, sob
pena de coimas num estado dos juízos, pois o juiz não pode determinar aquilo que a
administração deve fazer, quando está em causa um acto de autoridade devendo limitar-se a
uma condenação genérica, a partir dos meios que a lei lhe reconhece.
ACÇÃO ADMINISTRTIVA
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Nota: alçada – num valor inferior a esse montante não se pode recorrer – art. 40º, nº 3 ETAF.
O STA tem a sua sede em Lisboa, mas é competente com todo território nacional – art. 11º
do ETAF. O STA compreende duas secções, a secção do Contencioso administrativo e a secção
do Contencioso Tributário, funcionando cada uma delas em formação de 3 juízes, isto é, o
relator e mais dois juízes, ou funcionando em Pleno da secção, isto é, o relator e pelo menos 2/3
dos restantes juízes da secção. O STA, também funciona em Plenário, sendo este composto pelo
Presidente, pelos Vice-presidentes e pelos três juízes mais antigos de cada uma das secções –
art. 48º do ETAF.
O STA através do Pleno e o Plenário, apenas conhecem matéria de Direito, conforme dispõe
o art. 12º, nº 3 do ETAF. A secção de contencioso administrativo conhece matéria de direito nos
recursos de revista – art. 12º, nº 4 do ETAF e conhece matéria de facto nos recursos de apelação
ou nos casos em que é competente para decidir em primeira instância – art.12º, 28º, 25º do
ETAF.
O pleno do supremo vai apreciar recursos para uniformização com vista a obter uma decisão
coerente.
TRIBUNAIS ARBITRAIS
Ao lado dos tribunais permanentes o novo ETAF prevê a criação de tribunais arbitrais e
centros de arbitragem – art. 180º do CPTA.
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O tribunal arbitral pode funcionar para resolver litígios com o Estado ou com outras
pessoas colectivas de direito público, é assim que os tribunais arbitrais podem ser constituídos
para o julgamento de questões respeitantes a contratos, incluindo a apreciação de actos
administrativos, relativos à execução desses mesmos contratos, de questões relativas à
responsabilidade civil extracontratual, de questões relativas a actos administrativos que possam
ser revogados sem fundamento na sua invalidade.
Estes tribunais apreciam em geral a globalidade das questões jurídicas, pelo que se
podem pronunciar, quer sobre as questões de legalidade, quer sobre as questões de mérito.
Também o ETAF estabelece que, o interessado, que pretende recorrer à arbitragem, pode exigir
da administração, a celebração de um compromisso arbitral, estabelecendo assim uma
arbitragem forçada (Mário Aroso de Almeida).
Apesar da letra do art. 182º do CPTA, fica a dúvida de saber se esta exigência (aceitar
que o caso seja julgado pelo tribunal arbitral) de recurso à arbitragem voluntária, por parte da
entidade envolvida. Acontece que, a lei não prevê sanções para as entidades administrativas que
recusam a outorga do compromisso arbitral. A aplicação desta norma dependerá da percepção
das entidades públicas há cerca das vantagens desta solução (João Caupers).
O ETAF prevê ainda no art. 9º, nº 4, a possibilidade de vir a ser criados tribunais
administrativos especializados, bem como secções especializados nos tribunais superiores.
AS COMPETÊNCIAS DO STA:
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ETAF), sobre matéria de direito, interpostos de acórdãos do TACs e das decisões dos TACs,
através de recurso per saltum (art. 151º do CPTA).
No caso de revista das decisões dos TACs ou de revista das decisões dos TACs através
do recurso per saltum, a revista só pode ter como fundamento a violação da lei substantiva ou
processual. Apenas sendo conhecida matéria de direito, considerando-se fixada a matéria de
facto.
Por outro lado, a secção de contencioso administrativo do STA é competente para
conhecer dos conflitos de competência entre tribunais administrativos, bem como de outros
processos cuja apreciação lhe seja deferida por lei (art. 24º, al. H e I do ETAF).
Compete ainda ao STA conhecer dos recursos de acórdãos proferidos pela secção em primeiro
grau de jurisdição e dos recursos para uniformização de jurisprudência (art. 25º do ETAF e art.
152º do CPTA).
Os TACs funcionam como tribunais de segunda instância nos termos do art. 37º do
ETAF, compete à secção de contencioso administrativo do tribunal central administrativo,
conhecer dos recursos das decisões proferidas por tribunal arbitral sobre matéria do contencioso
administrativo, segundo o art. 186º do CPTA, as decisões proferidas pelo tribunal arbitral
podem ser anuladas pelo TCA.
Os TACs também têm uma competência em primeira instância na medida em que eles
podem conhecer das acções de regresso, fundadas em responsabilidade por danos resultantes do
exercício das suas funções – art. 37º, al. C do ETAF.
AS COMPETÊNCIAS DO TACs
Nos termos do art. 44º do ETAF compete aos tribunais administrativos de círculo
conhecer em primeira instância de todos os processos do âmbito da jurisdição administrativa,
com excepção daqueles cuja competência em primeiro grau de jurisdição esteja reservada aos
tribunais superiores e da apreciação dos pedidos que nestes processos sejam cumulados (art. 4º
do CPTA – princípio da cumulação de pedidos).
As medidas da competência dos TACs resultam do âmbito da jurisdição dos tribunais
administrativos e fiscais (art. 4º do ETAF).
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1- Efeitos de recurso;
Nos termos do art. 6º do ETAF a alçada dos tribunais administrativos de círculo (TACs)
corresponde aquela que se encontra estabelecida pelos tribunais judicias de primeira instância,
que é de 3740, 98€ (art. 24 da lei orgânica dos tribunais judicias). Quando os TACs ou STA
exercem competências em primeira instância, a sua alçada corresponde os dos TACs (art. 6º, nº
5 do ETAF).
O art. 6º, nº 4 do ETAF (remissão para o art. 43º, nº 1 e 2 do CPTA) faz corresponder à
alçada dos TACs à alçada estabelecida para tribunais da relação, ou seja, 14.963.94€. quando os
tribunais centrais administrativos decidem em primeira instância, a admissibilidade do recurso
para o segundo grau de jurisdição depende da alçada dos TACs (art. 6º, nº 5 do ETAF).
Importa aqui salientar que o valor da alçada definido no art. 6º, nº 4 do ETAF não foi
previsto para servir de critério de acesso ao duplo recurso para o STA, mas apenas para definir
as situações que os processos submetidos à acção administrativa comum sigam o processo
ordinário ou sumário (art. 43º, nº 1 e 2 do CPTA).
Nos casos normas de procedimento o processo a ser seguido (com valor muito baixo é a
forma sumaríssima: art. 43º, nº 3 CPTA).
Conclusão: a fixação de alçadas, para que se determine se cabe o recurso ou não da
sentença proferida em primeira instância (art. 31º, nº 2 do CPTA) a forma de processo na acção
administrativa comum art. 31º, nº 3 do CPTA, ou se o processo na acção administrativa especial
deve ser julgado em tribunal singular ou formação de três juízes (art. 31º, nº 2 do CPTA)
obrigou o legislador a estabelecer critérios para a fixação do valor da causa (art. 32º, 33º, 34º do
CPTA).
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Competências
Outras questões acerca da competência dos tribunais administrativos.
O CPTA regula os recursos jurisdicionais nos art. 140º e ss, o código faz referência ao
recuso de revista dos TACs para o STA – art. 150º do CPTA – ao recurso per saltum dos TACs
para o STA – art. 151º do CPTA – e ao recurso para uniformização9 de jurisprudência – art.
152º do CPTA. Os recursos previstos podem ser de apelação ou de revista, no primeiro caso o
tribunal conhece matéria de facto e de direito, enquanto que no segundo caso, o fundamento do
recurso é apenas a violação da lei substantiva ou processual, conhecendo apenas matéria de
direito considerando-se aqui fixado a matéria de facto – art. 150º, nº 3 e 4 e art. 151º, nº 3 do
CPTA.
O recurso de apelação está previsto no art. 149º do CPTA, o Prof. Vieira de Andrade
chama-lhe recurso ordinário comum, entre os recursos ordinários, contam-se os recursos
ordinários excepcional ou recurso de revista dos TACs para o STA, o recurso ordinário especial,
ou recurso de revista per saltum dos TACs para o STA e finalmente o recurso para
uniformização de jurisprudência, além dos recursos das sentenças transitadas em julgado, que se
pode ser dirigido ao tribunal que proferiu a sentença, art. 154º do CPTA e art. 771 e ss do
Código do processo civil. São fundamentos deste recurso extraordinário a revista de sentença a
falsidade de documentos essencial ou decisivo, falta ou nulidade da citação.
Considera-se que este recurso é extraordinário e não ordinário, visto que não se trata de
conhecer em segundo grau de jurisdição de uma sentença ainda não transitada em julgado.
Poderá inclusivamente decidir com base em novas provas, como no caso de recurso de
apelação onde também se conhece matéria de facto (art. 149º, nº 1 CPTA), tendo tribunal de
recurso os mesmos poderes do que o tribunal que decidiu em primeira jurisdição. Nos recursos
de revista e no recurso para uniformização da jurisprudência, onde só se colocam questões de
direito, considerando-se fixados a matéria de facto, o tribunal define o regime jurídico aplicado.
Uma das outras modalidades dos recursos jurisdicionais prende-se com a possibilidade de
recurso que agora é conferida a qualquer das partes nos processos impugnatórios, mesmo que a
sentença lhe tenha sido favorável – art. 141º do CPTA.
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Destaca-se ainda a possibilidade que a lei atribui no art. 148º do CPTA aos presidentes
dos TACs e STA de determinar que no julgamento de recurso intervenham todos os juízes da
secção quando tal se revela necessário para assegurar a uniformidade da jurisprudência,
designadamente quando se verifica a possibilidade de vencimento da solução jurídica em
oposição com a jurisprudência anteriormente firmada o domínio da mesma legislação e sobre a
mesma questão fundamental de direito.
O CPTA (lei) qualifica esta possibilidade como julgamento ampliado do recurso (art.
148º do CPTA).
Este julgamento ampliado do recurso acontece para prevenir uma solução de oposição
velando antecipadamente pela uniformização de jurisprudência (art. 152º CPTA), as decisões
jurisdicionais já foram tomadas pretendendo-se aqui resolver as contradições existentes sobre
uma mesma questão fundamental de direito entre acórdãos do STA ou entre um acórdão dos
TCAs e um acórdão do STA.
As formas de processo:
O CPTA apresenta duas grandes formas de acções, a acção administrativa comum (art.
37º a 45º do CPTA) e a acção administrativa especial (art. 46º a 96º do CPTA). Embora a acção
administrativa comum corresponde ao processo de declaração (declarativo) regulado no código
de processo civil (CPC) nas formas ordinária, sumária e sumaríssima (art. 35º do CPTA) e a
acção administrativa especial tenha uma tramitação especial regulada nos art. 78º e ss do CPTA.
As diversas fases consagradas no CPTA são iguais àquelas que no processo civil estão
estabelecidas para as acções declarativas; o que significa que nestas duas formas de acções
administrativas o processo estrutura-se conforme as seguintes fases, a primeira fase é a fase dos
articulados em que as partes apresentam as suas alienações sobre os factos que entendem ser
relevantes. A segunda fase é a fase da condensação, nesta fase todos os actos são praticados
pelo juiz ou pela secretária e traduzem-se na verificação da legalidade e regularidade de todos
os actos praticados pelas partes. Cabe por ex ao juiz seleccionar as questões de facto e de
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direito, que entende serem úteis para uma boa decisão da causa final. A terceira fase, da
instrução – esta fase inicia-se com a notificação das partes do despacho saneador que contém
toda a matéria que terá de ser provado em julgamento. Por isso, as partes terão de praticar todos
os actos para levar ao processo as provas de que dispunham e para requerer ao juiz as provas
que pretendam fazer. Por fim, a quarta fase, a fase da discussão e do julgamento – cabe aqui ao
tribunal decidir por sentença ou por acórdão e finalmente ordenar a notificação desta às partes.
A função do processo:
Para além destas acções é de acrescentar as acções urgentes que integram várias
subespécies:
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o Princípio contraditório: o processo implica que cada uma das partes tenha de ser
convidado a alegar as suas razões de facto ou de direito, e oferecer as provas
necessárias para demonstrar a veracidade dos factos, bem como a controlar as provas
oferecidas pela outra parte e a pronunciar-se sobre ela (art. 84º CPTA ;art. 260º do
CPC);
o Princípio da igualdade das partes: esta igualdade não deve ser apenas uma igualdade
formal, mas também deve ter uma dimensão substancial e efectiva (art. 6º do CPTA).
A acção administrativa comum (art. 37º do CPTA) tem por objecto a fiscalização do
exercício dos poderes administrativos e visa dirimir os litígios emergentes de relações jurídico-
administrativas. Esta acção com o tradicional contencioso das acções de responsabilidade civil
extracontratuais, as acções sobre contratos, o reconhecimento de direitos ou interesses perante a
administração e outras acções propostas contra os particulares e acções propostas por entidades
públicas.
A acção de responsabilidade:
O art. 4º, nº 1, al. G) do ETAF confere aos tribunais administrativos uma competência
genérica para apreciar as questões de responsabilidade civil extra-contratual das pessoas
colectivas de direito público. Trata-se de litígios emergentes de actuações da administração
pública, no entanto, fica excluído do âmbito da jurisdição administrativa a apreciação das
acções de responsabilidade por erro judiciário (art. 4º, nº 3, al.A) do ETAF) cometido por
tribunais pertencentes a outras jurisdições.
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O art. 53º do CPTA considera que uma impugnação só pode ser rejeitada com
fundamento no carácter meramente confirmativo, do acto impugnado, quando o acto anterior
tenha sido impugnado pelo autor, tenha sido objecto de notificação ao autor ou tenha sido
objecto de publicação.
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Resulta do art. 66º do CPTA que não está aqui apenas em causa a condenação da
administração à prática de actos administrativos, mas também a fixação de um prazo
determinado dentro do qual esses actos devem ser praticados, o código prevê as várias situações
ou pressupostos de condenação à prática do acto devido: a primeira situação de inércia ou
omissão está previsto no art. 67º, nº 1, al.a) do CPTA; a segunda situação está prevista no art.
67º, nº 1, al.b) do CPTA e, é aquela em que, tenha sido indeferida a pretensão do administrado
através da recusa expressa da prática do acto requerido. Trata-se aqui dos actos administrativos
de indeferimento. A terceira situação está prevista no art. 67º, nº 1, al. C) do CPTA e diz
respeito às situações em que tenha sido recusada a própria apreciação do requerimento. Trata-se
aqui, de actos de recusa de apreciação de requerimentos.
Conclusão:
O CPTA prevê um conjunto de disposições nos art. 72º e ss, relativos à impugnação de
normas e a declaração de ilegalidade por omissão.
Em primeiro lugar, no que diz respeito à impugnação de normas administrativas o
código prevê a impugnação de normas, no caso de vícios resultantes desta norma (art. 72º, nº 1
do CPTA).
No que diz respeito à declaração de ilegalidade por omissão, esta declaração de
ilegalidade pode ser pedida por quem seja prejudicado pela aplicação da norma, ou, possa ainda,
vir a selo no futuro.
O código admite a possibilidade de o lesado poder requerer a desaplicação da norma,
com efeitos circunscritos ao caso em concreto – art. 73º, nº 2 do CPTA. Neste caso, o tribunal
desaplicando a norma ilegal, anula ou declara nulo o acto administrativo que nele se tenha
baseado.
Em princípio a declaração de ilegalidade com força obrigatória geral produz efeitos
retroactivos - art. 76º, nº 1 do CPTA.
Ficam, no entanto, ressalvadas as situações previstas no 76º, nº 3 que são as situações
consolidadas, que o código identifica como sendo os casos julgados e os actos administrativos
que já não possam ser inimpugnáveis.
Processos urgentes
Contencioso eleitoral
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Contencioso pré-contratual
A intimação para protecção de DLG’s pode ser requerida com vista à adopção de uma
conduta positiva ou negativa, necessária para assegurar o exercício efectivo de um DLG e por
não ser possível ou suficiente, o decretamento de uma providência cautelar, segundo o disposto
no art. 131º, nº1 do CPTA. Por ex: é o caso quando está em causa a obtenção de autorização
para a realização de uma manifestação, por ocasião da deslocação a Portugal de uma
personalidade estrangeira. Nesta situação, não faz sentido uma providência cautelar,
antecipatória, porque a realização da manifestação não pode ser autorizada a título provisório.
Neste caso, é necessário obter com carácter – consciência uma decisão definitiva sobre a
questão de fundo.
Do ponto de vista da tramitação o modelo comporta várias possibilidades previstas no
art.110º, nº 1 e nº2 que corresponde ao modelo normal – art. 110º, nº 3 – modelo mais lenta do
que de o normal, art. 11º, nº 1 do CPTA, corresponde às situações de especial urgência.
PROCESSOS CAUTELARES
Considerações gerais
Até 1985 o único tipo de providência cautelar que se encontrava consagrado no nosso
contencioso administrativo, era o Instituto da suspensão da eficácia de actos administrativos.
Hoje o CPTA admite para além das providências cautelares consagradas no art. 112º, nº 2 do
CPTA, as providências específicas do código de processo civil com as adaptações que se
justifiquem no âmbito do contencioso administrativo.
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Critérios gerais
O art. 120º do CPTA fixa os critérios relativos à atribuição das providências cautelares.
O código distingue:
A primeira destina-se a manter o status quo (manter as coisas como estão), não
permitindo que a situação se altere. No segundo caso, as providências cautelares antecipatórias,
têm em vista alterar precisamente o status quo, para gerir os direitos e interesses do
administrado. (art. 120º, al. B e C).
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Enquadramento
- os recursos ordinários das decisões proferidas pelos tribunais administrativos, regem-se pelo
disposto no CPC;
- esses recursos são processados como os recursos de agravo.
Também o CPTA estabelece que os recursos ordinários podem ser, recursos de apelação
e recursos de revista, nos termos dos art. 149º e 150º do CPTA:
Nos termos do art. 141º do CPTA tem legitimidade para recorrer não só quem tenha
ficado vencido, mas também o Ministério público com fundamentos, na violação de disposições
ou princípios constitucionais ou legais. Assim, qualquer das partes nos processos impugnatórios
podem recorrer de uma sentença desfavorável.
De acordo com o art. 142º as decisões sobre o mérito da causa que os tribunais proferem
em primeiro grau de jurisdição, não são possíveis de recurso jurisdicional se o valor da causa a
que se reportam e a fixar segundo os critérios estabelecidos nos arts. 32º a 34º do CPTA por
suprir ao valor da alçada dos tribunais administrativos de círculo.
O recurso de revista para o STA está previsto no art. 150º e 151º do CPTA. Em
princípio das decisões que os TACs passam a proferir em sede de recurso de apelação, não cabe
recurso de revista para o STA, no entanto, o art. 150º admite a possibilidade de interposição de
um recurso de revista para o STA das decisões proferidas em segunda instância pelos TCAs.
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O art. 154º ao 156º prevêem a revisão de sentenças transitadas em julgado – art. 155º, o
qual remete a aplicação deste recurso, ou seja, sendo subsidiariamente aplicável o CPC.
PROCESSOS EXECUTIVOS
Considerações gerais
O CPTA regula a matéria dos processos executivos, nos arts. 157º a 179º do CPTA. São
instituídos três formas de processo:
Este processo que vem regulado nos art. 170º e ss do CPTA começa pela dedução do
pedido, que no caso de a administração não ter dado cumprimento espontâneo, ao dever de
pagar uma quantia a que tinha sido condenada. O credor pode formular perante o tribunal
administrativo, que proferiu a sentença condenatória e no qual o credor pode solicitar a adopção
de providências de execução, tal como vem previsto no art. 170, nº 2, al. a) e b).
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Este processo é um processo específico que visa a execução de anulação de actos, por
parte da administração que tem por obrigação de reconstituir a situação que existiria se o acto
não tivesse sido aplicado.
A administração tem o dever de praticar actos dotados de eficácia retroactiva que não
envolvam a imposição de deveres à aplicação de sanções ou a restituição de direitos legalmente
protegidos. Em suma, os deveres que a administração tem são o de reconstituir a situação que
existiria, de cumprir os deveres que não cumpriu, durante a vigência do acto ilegal e de
substituir eventualmente o acto ilegal sem evidentemente reincidir nas ilegalidades cometidas.
Ex: é o caso da recolocação ou reintegração de um funcionário na categoria, no lugar
equivalente aquele em ele deveria ter sido colocado, ou não sendo possível, a primeira vaga que
venha a surgir na categoria correspondente, cabendo-lhe exercer transitoriamente funções fora
do quadro até à integração neste quadro.
PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS
Conceito
Os “pressupostos processuais” são as condições de interposição do recurso, isto é, as
exigências que a lei faz para que o recurso possa ser admitido.
Importa não confundir condições de interposição, ou pressupostos processuais, com
condições de provimento:
- As condições de interposição, ou pressupostos processuais, são os requisitos que têm
de verificar-se para que o Tribunal possa entrar a conhecer do fundo da causa;
- As condições de provimento são aquelas que têm de verificar-se para que o Tribunal,
conhecendo do fundo da causa, possa dar razão ao recorrente.
Competência do Tribunal
a') Dos recursos de actos administrativos de órgãos das Forças Armadas para cujo
conhecimento não sejam competentes o Supremo Tribunal Administrativo e o Tribunal Central
Administrativo;
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c) Dos recursos de actos administrativos dos órgãos da administração pública regional ou local e
das pessoas colectivas de utilidade pública administrativa;
d2) Dos recursos de actos de que resultem conflitos de atribuições que envolvam órgãos
de pessoas colectivas públicas diferentes;
Recorribilidade do Acto
Para que o Tribunal possa receber o recurso contencioso de anulação é necessário que o
acto impugnado seja um acto recorrível.
E para que um acto seja recorrível é necessário, que se trate de um acto administrativo
externo, definitivo e executório (art. 25º/1 LPTA será inconstitucional por superveniência do
art. 268º/4 CRP?).
Os Actos Irrecorríveis.
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Este preceito legal representa afinal de contas, na linha tradicional do nosso Direito
Administrativo, a aplicação concreta dos seguintes princípios:
Cabe recurso contencioso contra qualquer acto administrativo definitivo e executório ilegal,
mesmo que formalmente incluído numa lei, num decreto-lei ou num diploma regulamentar.
Todos estes actos, são actos característicos da função política: como tais, merecem a
qualificação de actos políticos ou de governo e, nessa qualidade, são insusceptíveis de recurso
contencioso de anulação, ainda que porventura sejam ilegais.
Os actos administrativos podem ter consequências políticas, mas nem por isso se
transformam em actos políticos: só são actos políticos os que correspondem ao conceito de
função política.
É este o critério que deve considerar-se consagrado na lei portuguesa, nomeadamente no art.
4º/1-a do ETAF que considera irrecorríveis “os actos praticados no exercício da função
política”.
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Observações Complementares
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A pessoa pode dizer-se interessada quando espera obter da anulação desse acto um
benefício e se encontra em posição de o receber. Portanto, “interessado” é aquele que espera e
pode obter um benefício da anulação do acto.
O interesse diz-se “directo” quando o benefício resultante da anulação do acto recorrido
tiver repercussão imediata no interessado. Ficam, portanto, excluídos da legitimidade processual
aqueles que da anulação do acto recorrido viessem a retirar apenas um benefício mediato,
eventual, ou meramente possível.
O interesse diz-se “pessoal” quando a repercussão da anulação do acto recorrido se
projectar na própria esfera jurídica do interessado.
O interesse diz-se “legítimo” quando é protegido pela ordem jurídica como interesse do
recorrente.
A aceitação do acto recorrido (ou ilegitimação processual daqueles que aceitaram o acto):
para que o interesse subsista é, no entanto, ainda preciso que o interessado não tenha aceitado o
acto em causa, arts. 47º RSTA, 827º CA e 3º/1 DL 134/98.
Em consequência, quem aceitar o acto administrativo não tem legitimidade para recorrer
dele – o que aliás bem se compreende, porque a aceitação equivale à perda do interesse no
recurso.
Citação dos Contra-interessados: os contra-interessados, são aquelas pessoas titulares de
um interesse na manutenção do acto recorrido, oposto portanto ao do recorrente. São os demais
recorridos, a que se refere o art. 49º da LPTA, ou os interessados a quem o provimento do
recurso possa directamente prejudicar, referidos no art. 36º/1-b LPTA.
Coligação de recorrentes: podem coligar-se no mesmo recurso vários recorrentes quando
todos impugnem, com os mesmos fundamentos jurídicos, actos contidos num único despacho
ou noutra forma de decisão (art. 38º/2 LPTA). Esta regra conhece algumas excepções (art. 38º/3
LPTA).
A Acção Pública
Além dos interessados, isto é, dos titulares do interesse directo, pessoal e legítimo, pode
também interpor recurso contencioso o Ministério Público (arts. 219º/1 CRP; 69º ETAF; 27º
LPTA).
Existem agentes do Ministério Público junto dos Tribunais Administrativos – e esses
podem, se assim o entenderem, recorrer contenciosamente dos actos administrativos inválidos
de que tenham conhecimento.
Ao direito que ao Ministério Público assiste de recorrer de um acto administrativo chama-se
Acção Popular: portanto, o Ministério Público é titular do direito de acção popular.
Os arts. 821º/1 CA e 46º/2 RSTA, estabelecem as condições em que esse direito pode ser
exercido pelo Ministério Público: como e quando o entender, segundo o seu exclusivo critério,
quer tenha conhecimento pelos seus próprios meios da existência de um acto administrativo
inválido, quer esse conhecimento lhe tenha sido trazido por qualquer pessoa.
Para além desta possibilidade de que goza o Ministério Público, assiste-lhe ainda a
faculdade de prosseguir com o recurso contencioso se este, tendo sido interposto por um
particular interessado, estiver ameaçado de extinção pelo facto de o recorrente particular desistir
do recurso; o Ministério Público assume a posição de recorrente, art. 27º-e LPTA.
A Acção Popular
Finalmente, o recurso contencioso de anulação pode ser interposto pelos titulares do direito
de acção popular. A esta figura refere-se o art. 52º CRP. É no art. 822º do CA, que se ocupa da
acção popular no âmbito do contencioso local.
A Constituição, no art. 52º/3, apontou no sentido da reelaboração de um conceito de
legitimidade “altruísta”, com o alargamento do âmbito de aplicação da acção popular, por
forma a abranger as situações correspondentes à ideia de tutela de interesse difusos.
A Constituição foi objecto de concretização legislativa através do Capítulo III da Lei n.º
83/95 de 31 de Agosto.
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A acção popular passa, com esta lei, a abranger a acção popular civil e a acção popular
procedimental administrativa, podendo esta última servir-se da via do recurso contencioso ou da
via da acção administrativa (art. 12º/1).
A Acção Popular significa a possibilidade de qualquer cidadão, residente numa certa
circunscrição administrativa, ou contribuinte colectado nessa área, tem de impugnar
contenciosamente actos administrativos definitivos e executórios das autarquias locais ou de
outras entidades, arvorando-se, assim, em defensor do interesse público e da legalidade
administrativa.
Esta figura da acção popular tem bastante interesse do ponto de vista do Estado de Direito,
na medida em que, por um lado, atribui a todos os membros de um certa autarquia local, desde
que recenseados ou contribuintes, o direito de fiscalizarem a legalidade administrativa,
independentemente de estarem ou não interessados no caso, e na medida em que, por outro lado,
permite a esses mesmos cidadãos recorrer contenciosamente, nessa qualidade, sempre que
possam demonstrar a titularidade de um interesse directo, pessoal e legítimo.
Há no entanto uma prevenção a fazer: não se deve confundir esta acção popular – que se
chama, em linguagem técnica, Acção Popular Correctiva, uma vez que visa corrigir os efeitos
de um acto ilegal da Administração – com uma outra modalidade de acção popular, chamada
Acção Popular Supletiva.
A situação aqui é bastante diferente daquela que está pressuposta na primeira figura da
acção popular.
Com efeito, na Acção Popular Correctiva, a situação é a seguinte: um órgão da
Administração pratica um acto administrativo inválido, e o particular vai recorrer
contenciosamente desse acto administrativo para obter, através do recurso, a reintegração da
ordem jurídica violada.
Diferentemente, na Acção Popular Supletiva, a situação é a seguinte: a autarquia local é
titular de certos direitos civis, designadamente, direitos de propriedade ou posse sobre certos
bens; um terceiro violou esses direitos, por exemplo apossando-se de bens que são património
autárquico; há um cidadão, residente no território dessa autarquia, que dando-se conta disso,
alerta os órgãos autárquicos para essa situação, mas porque, estes nada fazem, o particular,
arvorando-se em defensor dos interesses da autarquia, propõe uma acção civil para fazer valer
os direitos dela contra o terceiro que os violou.
Neste caso, estamos fora do contencioso administrativo: só a primeira figura da acção
popular, isto é, a acção popular correctiva, é uma figura própria do contencioso administrativo.
Finalmente, e pelo que respeita à legalidade dos assistentes, a matéria vem regulada no art.
49º RSTA, onde se estabelece que, uma vez tomada a iniciativa de interpor recurso contencioso
por quem tenha para tanto interesse directo, pessoal e legítimo, podem outras pessoas “vir em
auxílio do recorrente ou de algum dos recorridos”, para reforçar a posição processual destes,
ajudando-os a triunfar.
O requisito da legitimidade é, neste caso, o de que o assistente tenha um interesse legítimo
no triunfo da parte principal que quer coadjuvar; esse interesse deverá ser idêntico ao da parte
assistida, ou pelo menos com ele conexo.
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Trata-se de um pressuposto processual exclusivo dos actos anuláveis, uma vez que os actos
nulos podem ser impugnados a todo tempo (art. 134º/2 CPA).
A regra geral no nosso Direito é a de que o recurso contencioso de anulação tem de ser
interposto dentro de um certo prazo, sem o que será rejeitado por extemporâneo ou inoportuno.
Há, todavia casos excepcionais em que o recurso contencioso pode ser interposto
independentemente de prazo.
O recurso contencioso normalmente, tem por objecto um acto administrativo anulável, e a
anulabilidade tem de ser invocada perante o Tribunal competente dentro de um certo prazo, sob
pena de se produzir a sanação do acto e, portanto, a eliminação da invalidade.
A matéria vem regulada no art. 28º/1 LPTA. Temos pois, que o prazo geral para o recurso
contencioso de anulação interposto contra actos expressos por particulares residentes em
Portugal é de dois meses.
Além desta regra geral existem três regras especiais: se o recorrente residir em Macau ou no
estrangeiro, o prazo é de quatro meses; se o recorrente não for um particular mas o Ministério
Público, o prazo é de um ano; e se o acto recorrido não for um acto expresso mas um
indeferimento tácito, o prazo é de um ano.
A título excepcional, existem casos em que o recurso contencioso pode ser interposto a todo
o tempo, isto é, sem competência de prazo.
Esses casos são aqueles em que o recurso tenha por objecto actos administrativos nulos ou
inexistentes, precisamente porque a nulidade e a inexistência podem ser declaradas a todo o
tempo.
Desde quando se começam a contar os prazos para o recurso contencioso?
Para o caso de o acto recorrido ser um acto expresso, responde-nos o art. 29º LPTA.
Registe-se que, em relação aos actos sujeitos a publicação ou a notificação, se antes destas
ocorrerem for iniciada a execução do acto, o particular pode, se quiser, interpor recurso antes da
publicação ou notificação do acto (art. 29º/2 LPTA): como se trata, porém de uma faculdade, o
interessado também pode, se o preferir, esperar pela publicação ou notificação.
Quanto aos actos tácitos, o prazo para recorrer deles conta-se obviamente a partir do dia
seguinte àquele em que terminar o prazo de produção do acto tácito.
O art. 30º da LPTA, enuncia os requisitos da publicação ou notificação suficiente, que são
os seguintes:
a) Autor do acto;
b) No caso de delegação ou subdelegação de poderes, em que qualidade o autor decidiu,
e qual ou quais os actos de delegação ao abrigo dos quais decidiu;
c) A data da decisão;
d) O sentido da decisão e os respectivos fundamentos, ainda que por extracto.
No caso de a publicação ou notificação serem insuficientes – que por falta dos elementos
referidos acima, quer por não contarem a “fundamentação integral” da decisão –, pode o
interessado (no prazo de um mês a contar da notificação insuficiente) requerer ao autor do acto
a notificação dos elementos que tenham sido omitidos, ou a passagem de certidão que os
contenha (art. 31º/1 LPTA).
Se o interessado usar desta faculdade, o prazo para o recurso contencioso só começará a
correr a partir da data desta última notificação, ou da entrega da certidão requerida (art. 31º/2
LPTA).
Sob o ponto de vista da sua natureza, há dois tipos de prazos: os prazos substantivos e os
prazos processuais.
Os prazos substantivos, contam-se nos termos do art. 279º do CC, e incluem os Sábados,
Domingos e feriados.
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Os prazos processuais, contam-se nos termos do art. 144º do CPC, e excluem os Sábados,
Domingos e feriados.
O processo de declaração sumário está regulado nos artigos 783º e seguintes e o processo de
declaração sumaríssimo nos artigos 793º e seguintes, todos do CPC – as diferenças
fundamentais consistem na dispensa de alguns trâmites, na fixação de prazos mais curtos e no
carácter oral de toda a audiência de discussão e julgamento.
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Afirma-se agora a limitação do juiz pela causa de pedir, de modo que o tribunal só
possa basear a sua decisão em factos invocados no processo como fundamentos concretos do
efeito jurídico pretendido (factos principais).
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Nos processos administrativos, o juiz, em face de uma questão prejudicial que seja da
competência de um tribunal de outra jurisdição, pode escolher livremente entre sobrestar na
decisão até que o tribunal competente se pronuncie, ou então decidir a questão com base nos
elementos de prova admissíveis e com efeitos restritos àquele processo.
O princípio vale logo na aquisição dos factos necessários para a decisão, de modo que –
ao contrário do que acontece num modelo processual caracterizados pelo princípio da discussão,
da contradição ou da verdade formal – os fundamentos da decisão do juiz não tem de se limitar
aos factos carreados pelas partes.
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a) Imodificabilidade: uma sentença que constitui caso julgado não pode ser alterada por
modificação do critério do juiz;
b) Irrepetibilidade não se pode propor uma nova causa sobre o mesmo assunto;
c) Imunidade: o caso julgado é imune às modificações impostas por lei, ainda que
retroactiva (art. 282º/3 CRP);
d) Superioridade: se houver duas ou mais decisões de autoridade em conflito, prevalece
aquela que revestir força de caso julgado (art. 205º/2 CRP);
e) Obrigatoriedade: o que tiver sido decidido por sentença com força de caso julgado é
obrigatório para todas as autoridades púbicas e privadas, e deve ser respeitado (art. 205º/
2 CRP);
f) Executoriedade: se o conteúdo da sentença for exequível, o que nela se tiver decidido
deve ser executado, sob pena de sanções contra os responsáveis pela inexecução (art.
210º/3 CRP);
g) Invocabilidade: o caso julgado pode ser invocado a favor de todos aqueles que dele
beneficiem e contra todos aqueles a quem seja oponível.
De entre os vários problemas que se suscitam acerca da eficácia objectiva do caso julgado,
dois há que merecem referência especial.
Em primeiro lugar, “o que constitui caso julgado é a decisão e não os motivos ou
fundamentos dela”. Porque a sentença constitui caso julgado nos precisos limites e termos em
que julga (art. 673º - Alcance do caso julgado CPC:
A sentença constitui caso julgado nos precisos limites e termos em que julga: se a parte
decaiu por não estar verificada uma condição, por não ter decorrido um prazo ou por não ter
sido praticado determinado facto, a sentença não obsta a que o pedido se renove quando a
condição se verifique, o prazo se preencha ou o facto se pratique).
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Efeitos Substantivos
O Dever de Executar
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1. A substituição do acto anulado por outro que seja válido, sobre o mesmo assunto;
2. A supressão dos efeitos do acto anulado, sejam eles positivos ou negativos;
3. A eliminação dos actos consequentes do acto anulado.
O dever de executar uma sentença anulatória cessa quando se esteja perante uma causa
legítima de inexecução.
As causas legítimas de inexecução, são situações excepcionais que tornam lícita a
inexecução de uma sentença, obrigando, no entanto, a Administração a pagar uma indemnização
compensatória ao titular do direito à execução.
O art. 6º/2 do DL 256-A/77, diz o seguinte: “Só constituem causa legítima de inexecução a
impossibilidade e o grave prejuízo para o interesse público no cumprimento da sentença”.
Temos, portanto, dois casos em que a Administração Pública pode legitimamente não
executar uma sentença anulatória de um acto ilegal:
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Está-se, portanto, perante uma inexecução ilícita. Neste caso, as garantias que a ordem
jurídica pode pôr ao serviço do particular são os três tipos, embora no nosso Direito só duas
delas estejam consagradas:
É o poder que consiste em o Tribunal fixar quais os actos que a Administração Pública fica
obrigada a praticar em cumprimento da sentença.
A lei dá ao Tribunal o poder de declarar por sentença os actos devidos, para que a
Administração Pública não possa alegar mais dúvidas. É o que se passa nos casos previstos no
art. 9º/2 DL 256-A/77.
Se eles persistem em não executar uma sentença que têm o dever de executar, ficam
pessoalmente responsáveis, tanto do ponto de vista disciplinar, como civil e penal.
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