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EXMO.

SENHOR RELATOR DA COMISSÃ O DE É TICA DO CONSELHO REGIONAL DE


BIOMEDICINA DA 2ª REGIÃ O

Ref. Processo É tico Profissional nº 204/2018

CAROLINA DE ANDRADE MORENO, brasileira, estado civil, biomédica, CRBM2 nº


1347, endereço, vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência, apresentar sua

DEFESA PRÉVIA
em face da Representaçã o É tico-Disciplinar instaurada e, ao final, requerer o que segue.

DOS FATOS

Conforme narra a representaçã o É tico-Disciplinar, houve uma denú ncia de ofício de


que a Representada é devedora de certas anuidades, conforme tabela em anexo ao
processo.

Ocorre que, com a devida vênia, o processo nã o tem o condã o de ter segmento,
conforme irá ser demonstrado.

DA PRESCRIÇÃO DE PARTE DO DÉBITO

Como é sabido, os Conselhos de Fiscalizaçã o Profissional possuem a natureza


jurídica autá rquica. O Supremo Tribunal Federal ao julgar a ADI nº 1717-6 DF consolidou
esse entendimento.

Em decorrência disso, o Guardiã o da Constituiçã o reconhece que as anuidades


devidas pelos inscritos aos conselhos possuem NATUREZA TRIBUTÁRIA, seguindo as
regras do Có digo Tributá rio Nacional e os ditames do Artigo 150 da Constituiçã o Federal.

Em consonâ ncia com esse entendimento, a jurisprudência pá tria é uníssona no


sentido de que as anuidades seguem os princípios pró prios dos tributos, possuindo, pois,
verdadeira natureza tributá ria, conforme se vê:
Ementa: CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. EXECUÇÃO FISCAL. CONSELHOS DE
FISCALIZAÇÃO PROFISSIONAL. COBRANÇA DE ANUIDADES. NATUREZA JURÍDICA
DE TRIBUTO. LEI Nº 11.000 /04. APLICAÇÃO RESTRITA AOS CONSELHOS REGIONAIS
DE MEDICINA. 1. As anuidades exigidas pelos conselhos profissionais se
enquadram no conceito de contribuições de interesse das categorias
profissionais ou econômicas, como instrumento de sua atuação na fiscalização
nas respectivas áreas, nos termos previstos no art. 149 da Carta Magna . 2.
Nesse sentido, as referidas contribuições possuem natureza jurídica de tributo,
da competência exclusiva da União, e são submetidas aos princípios que regem o
sistema tributário nacional, dentre eles, o da reserva legal, que determina a vedação
de exigência ou majoração de tributo sem lei que o estabeleça (art. 150 , I , da
CF/88 ). Não é permitido aos conselhos profissionais, por ausência de lei que os
autorize, corrigirem suas anuidades por meio de resolução ou qualquer outro ato
administrativo, por manifesta afronta ao princípio da legalidade, previsto no art. 150
, I , da Carta Magna . 3. [...]. 4 Apelação a que se nega provimento. TRF-1 - APELAÇÃO
CIVEL AC 447818220134013300 (TRF-1) Data de publicação: 14/11/2014

Ementa: CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. TRIBUTÁRIO. EXECUÇÃO FISCAL.


CONSELHO REGIONAL DE PROFISSIONAIS DE RELAÇÕES PÚBLICAS. VALOR DAS
ANUIDADES. NATUREZA TRIBUTÁRIA. CONTRIBUIÇÃO SOCIAL. PRINCÍPIO DA
LEGALIDADE. - As anuidades devidas pelos profissionais e pessoas jurídicas
com registro obrigatório em Conselho Regional de Fiscalização constituem
contribuições sociais, de natureza tributária e sujeitas aos limites do poder de
tributar. - Aplicação dos limites constantes no art. 1º , parágrafo 1º , a, da Lei nº
6.994 /82, convertidos e atualizados em reais (Lei nº 10.522 /02, art. 29 - caput e
parágrafo 3º). - Apelação improvida. TRF-5 - Apelação Civel AC 418650 PE
2007.83.00.006694-7 (TRF-5) Data de publicação: 27/03/2008

Nesse sentido, o Có digo Tributá rio Nacional estabelece em seu artigo 156, inciso V, a
prescriçã o como modalidade de extinçã o do crédito tributá rio. Ademais, determina no
artigo 174, que o prazo para cobrança do débito prescreve em CINCO anos:

Art. 174. A ação para a cobrança do crédito tributário prescreve em cinco anos,
contados da data da sua constituição definitiva.

Dito isto, percebe-se no extrato de débitos em anexo valores referentes a


mensalidades que já estariam atingidas pelo instituto da prescriçã o.

Portanto, em face de eventual execuçã o fiscal exercida por este Conselho em face da
Denunciada, parte do débito NÃO poderia ser cobrada, pois já estaria prescrito, conforme
estabelece o artigo 174, do CTN.

À titulo de exemplificaçã o, os débitos listados no extrato em anexo ao processo


referentes aos anos de 2006, 2007, 2008, 2009 e 2013 foram abarcados pela
prescrição, não sendo necessário mais sua cobrança à Denunciada.
DO RECONHECIMENTO DO DÉBITO

Assim, em face do que foi apresentada anteriormente, a Representada reconhece


parte do débito apresentado pelo Conselho no extrato de folha nº 2.

Entretanto, como dito anteriormente, entende que os débitos relativos aos anos
2006, 2007, 2008, 2009 e 2013 foram absorvidos pela prescriçã o, devendo ser extintos,
conforme determina o artigo 156, inciso V c/c artigo 174, do Có digo Tributá rio Nacional.

Dessa forma, vêm reconhecer a Denunciada os débitos alusivos aos anos de


2014, 2015, 2016, 2017 e 2018.

Porém, requer que, para melhor resoluçã o deste contratempo, seja feita o
parcelamento do débito, bem como, sejam afastadas os juros e multas aplicadas.

É sabido que atualmente a vida da maioria da populaçã o é corriqueira, com diversos


compromissos, principalmente para quem possui família. Por motivos variados, a
denunciada acabou nã o realizando o pagamento de algumas anuidades deste R. Conselho.

Sendo assim, reconhece sua inadimplência e vem buscar, através dessa defesa, a
melhor forma para que esse mal-entendido seja resolvido.

Ademais, entende que este Douto Conselho compreende a situaçã o e vai buscar a
melhor forma para que o cená rio seja resolvido.

DA DESNECESSIDADE DA POSSÍVEL APLICAÇÃO DE PENAS

Diante do que foi apresentado, verifica-se no presente processo que NÃO há a


devida necessidade de aplicaçã o de pena à Denunciada.

Isto porque, apesar de estar ciente do dever de pagar anuidade e de saber que se
trata de uma infraçã o disciplinar, esta reconheceu parte do débito e busca a melhor forma
para o seu pagamento. A ausência de pagamento se deu por fatos corriqueiros da vida
moderna, fatos estes que podem atingir qualquer profissional.

Outrossim, a conduta nã o ensejou nenhum ato gravoso social, bem como, a


Representada nunca teve qualquer envolvimento com irregularidades ou contravençõ es
anteriormente, dispondo de um bom histó rico.

Ademais, a conduta apresentou reduzido grau de reprovabilidade do


comportamento e a inexpressividade da lesã o jurídica provocada.

Aliá s, fica perfeitamente demonstrada a boa intencionalidade da Representada no


fato de reconhecer parte do débito efetivamente devido, bem como, intençã o de efetuar o
pagamento, alinhando boa-fé e integridade.
Vale destacar que os Tribunais Pá trios entendem que eventual cancelamento de
inscriçã o em razã o da falta de pagamento de anuidades é medida INCONSTITUCIONAL:

TRIBUTÁRIO. MANDADO DE SEGURANÇA. CONSELHO REGIONAL DE


FONOAUDIOLOGIA DA 2ª REGIÃO. CANCELAMENTO DE INSCRIÇÃO. ANUIDADES EM
ATRASO. IMPOSSIBILIDADE. REMESSA OFICIAL IMPROVIDA.
1-O cancelamento da inscrição perante o Conselho Regional de Fonoaudiologia
da 2ª Região, em razão de falta de pagamento de anuidades, fere princípios
constitucionais dispostos no art. 5º, inciso XIII e 170, parágrafo único da
Constituição Federal, já que implica em restrição à liberdade de exercer
atividade profissional lícita. Precedentes.
2-Ademais, a inadimplência em face de anuidades devidas pelos profissionais filiados
e eventuais taxas de contribuições em atraso devem ser realizadas pela via judicial
competente, ou seja, através do ajuizamento de execução fiscal, instrumento hábil
para a satisfação do débito e a consequente regularização da situação
administrativa do profissional, sob pena de configurar ofensa aos princípios
constitucionais.
3-Assim sendo, haja vista que a qualificação profissional da impetrante foi
devidamente preenchida quando de sua inscrição nos quadros da impetrada,
certamente, o cancelamento de seu registro, em razão do não pagamento da
anuidade, não deve subsistir.
4-Remessa oficial improvida. (TRF-3 - ReeNec: 00102219420164036100 SP,
Relator: DESEMBARGADOR FEDERAL MARCELO SARAIVA, Data de Julgamento:
07/03/2018, QUARTA TURMA, Data de Publicação: e-DJF3 Judicial 1
DATA:12/04/2018)

"AÇÃO ORDINÁRIA. TRIBUTÁRIO. CONSELHO REGIONAL DE FARMÁCIA.


CANCELAMENTO DE INSCRIÇÃO. ANUIDADES EM ATRASO. IMPOSSIBILIDADE.
1. As anuidades devidas aos conselhos profissionais são obrigações tributárias
e sujeitam-se a cobrança via judicial, nos moldes da Lei nº 6.830/80, donde a
ilegalidade da pena prevista pela Resolução COFEN nº 212/98 no sentido de
cancelar a inscrição dos profissionais com mais de três anuidades atrasadas,
de forma consecutiva ou intercaladas, pois malfere o disposto no art. 5º, inciso
XIII e 170, parágrafo único da Constituição Federal, já que implica em
restrição à liberdade de exercer atividade lícita.
2. Precedentes do Colendo STJ e dos Tribunais Regionais Federais.
3. Apelação improvida".
(TRF3. AC 2006.61.02.011075-6, Terceira Turma. Relator Juiz Federal Convocado
Roberto Jeuken, j. 4/12/2008, DJ 13/1/2009)

Ainda, destaca-se que a penalidade a ser aplicada requer uma proporcionalidade


mínima à gravidade da infraçã o além dos danos evidenciados. No presente caso verifica-se
que esses sã o MÍNIMOS OU INEXPRESSIVOS, nã o havendo necessidade de adotar
qualquer tipo sancionador.

Diante, portanto, de um mera falta de pagamento da anuidade torna-se excessivo e


desproporcional, além de inconstitucional, punir o profissional com multa, suspensã o ou
cancelamento de registro profissional.

Dessa forma, demonstrada a boa-fé da Denunciada em toda conduçã o de suas


atividades, NÃO há que se cogitar uma penalidade tã o gravosa, devendo existir ponderaçã o
dos princípios aplicá veis ao processo administrativo.
DO PEDIDO

Isto posto, requer:

1. O recebimento desta defesa para fins de que seja arquivado o presente


processo ético profissional, por improcedência da denú ncia, devido à
manifesta inexistência de infraçã o disciplinar;

2. Que seja reconhecida a prescriçã o dos débitos referentes aos anos de 2006,
2007, 2008, 2009 e 2013, conforme o artigo 156, inciso V c/c artigo 174, do
Có digo Tributá rio Nacional.

3. Que seja realizado o parcelamento dos débitos referente aos anos de 2014,
2015, 2016, 2017 e 2018, bem como, seja afastado os juros e multas
possivelmente aplicados;

4. Provar o alegado por todos os meios de provas admissíveis em direito,


principalmente, documentais.

Nestes termos,
Pede e Espera deferimento.

Recife, 29 de janeiro de 2019.

CAROLINA DE ANDRADE MORENO

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