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GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, N - 13, p.

179-187, 2003

CIDADES IMAGINÁRIAS:
O BRASIL É MENOS URBANO DO QUE SE CALCULA
Veiga , José Eli da
Campinas - São Paulo, Editores Associados , 2002

Ana Fani Alessandri Carlos *

Seria o Brasil "m enos urbano do que lançado pelo Autor e contida no título do
se calcula?" livro. É a partir deste desafio que me
pus a tecer alguns comentários, sobre o
A idéia do título do livro "Cidades livro, com os limites evidentes, que uma
Imaginárias: o Brasil é menos urbano "resenha" contempla.
do que se calcula"1 é estimulante A idéia de estabelecimento de
e atraente. Ao ver o livro, temos a diálogo com o professor José Eli da Veiga
impressão de que esta é a tese que será traz uma primeira dificuldade: o conjunto
desenvolvida e foi, com grande interesse, de artigos, não apresenta uma reflexão
que me pus a lê-lo. Mas ao contrário, aprofundada baseada em argumentos
trata-se, na realidade, de um conjunto sólidos, e numa pesquisa capaz de
de textos, (pequenos e superficiais) construir um referencial a altura do
publicados, originalmente, sob a forma desafio lançado pelo título do livro.
de artigos de jornal e organizados para Um outro problema que enfrentamos
dar corpo ao livro, diluindo-se, ao longo é que o Autor vai emitindo opiniões
das páginas, a idéia que acreditava ser muitas delas apoiadas em estatísticas
o fio condutor do pensamento do Autor. dos países centrais para explicar "nosso
Assim, para evitar desilusão aos leitores desenvolvimento"
desatentos, atraídos, como eu, pelo Poderíamos, tecer, inicialmente
título, o livro deve ser lido como ele é, fazer uma primeira observação referente
no café da manhã. Mas o que há de, ao método, e nesta perspectiva, a
extremamente, positivo na obra, é que preocupação que atravessa o livro é a
é impossível ficar indiferente ao desafio idéia da produção de um conhecimento

Professora Adjunto do Departam ento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da
Universidade de São Paulo e-mail: anafanic@ usp.br
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aplicado, em muitos momentos, contidas e estas, hoje, ganham conteúdo


banalizado, pela idéia de ecossistema, em sua articulação com a construção
como modelo de inteligibilidade do da sociedade urbana, o que demonstra,
mundo; um modelo fechado, que ao por exemplo, o desenvolvimento do que
apontar uma ordem estabelecida, e na chama de pluriatividades. Portanto há
medida em que traz como conseqüência, na conclusão do Autor uma inversão: no
a busca para sua manutenção. Esta Brasil a constituição da sociedade urbana
análise envolve riscos de simplificação da caminha de forma inexorável, não
realidade, pois a sistematização ao evitar transformando o campo em cidade, mas
o diferente desemboca, necessariamente, articulando-o ao urbano de um "outro
na busca de uma harmonia que ignora modo", redefinindo a antiga contradição
as contradições profundas sob as quais se cidade/campo: este é a meu ver o desafio
deve analisar as atuais relações cidade/ da análise. Significa dizer que o processo
campo no Brasil. Como decorrência, a atual de urbanização não se mede por
análise desemboca no óbvio: a busca indicadores referentes ou derivados do
do "desenvolvimento sustentável", como aumento da taxa anual de crescimento
caminho único possível de resolver os da população urbana, e muito menos
desequilíbrios Aqui, a busca do equilíbrio, pela estrita delimitação do que seria
harmonia e coerência confunde, "urbano ou rural", como faz o Autor.
inexoravelmente, desenvolvimento com Significa que nossas análises devem
crescimento. ultrapassar os dados estatísticos (que por
A segunda observação refere- sinal são poucos no livro). Por outro lado,
se ao fato de que os argumentos a análise do fenômeno deve superar a
desenvolvidos nos artigos do livro visão institucional - como os decretos
caminham na direção oposta ao que que definem regiões metropolitanas, a
o Autor quer provar. Veiga ao mesmo delimitação das áreas urbanas municipais
tempo em que assinala o fato de que o feitas pelas prefeituras com o intuito de
Brasil é menos urbano do que se calcula, aumentar a arrecadação do IPTU, etc -
reconhece que há, hoje, uma profunda como faz Veiga.
transformação nas relações cidade / No primeiro artigo, uma grande
campo, mas não enfrenta a necessidade surpresa, para nós, geógrafos, o Autor
de desvendamento do conteúdo e sentido deriva seu raciocínio sobre o cálculo do
destas transformações. número de cidades no Brasil a partir de
O que o Autor parece ignorar, é uma definição político -administrativa
que cidade e campo se diferenciam (descartada há décadas pela Geografia
pelo conteúdo das relações sociais neles Urbana) segundo a qual a cidade, no
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Brasil, é definida como sede de município. e inferior a 50.000 cai para 10" Desta
Deriva dessa acertiva a constatação de "profunda observação" o Autor conclui
que existiriam no Brasil 5507 sedes que há "dois tom bos" que permitem (a
municipais em 2000, todas com estatuto ele é claro!) "considerar de pequeno porte
legal de cidade - o que a meu ver não municípios que tem, simultaneamente,
diz nada sobre o seu conteúdo. Mas menos de 50.000 habitantes e densidade
deste dado, revela, que 455 seriam inferior a 80 habitantes/km 2 " Para em
"inequivocamente urbanos" sobrando, seguida escrever que "com a ajuda
5052 dentre as quais seria preciso, para destes dois cortes (?) conclui-se que não
Veiga, distinguir as que "pertencem pertencem ao Brasil indiscutivelmente
ao Brasil rural" e as que estariam "no urbanos nem a o Brasil essencialmente
meio de campo" (sic), imagino que entre rural, 13% dos habitantes, que vivem
a cidade e o campo, segundo o critério em 10% dos m unicípios"2^ Entre estes
estabelecido pelo Autor. Para apoiar dois Brasis descobre um "intermediário"
esta classificação estabelece um critério Sem maiores problemas de definição. E
baseado na densidade demográfica,- que através de uma conta, não muito clara
estaria no âmago do chamado índice decreta que 3% da população brasileira
de pressão antrópica" (definida como é rural.
o melhor grau de artificialização dos A passagem acima, em primeiro
ecossistemas e, portanto, do efetivo grau lugar, longe de analisar processos se
de urbanização dos territórios) onde a prende a números e é com eles que
localização refletiria, as modificações do acredita apoiar suas idéias sobre a
meio natural que resultariam da atividade urbanização brasileira. O problema
humana. Neste raciocínio distingue áreas é que "urbano" e "rural" longe de
"mais rural" em função da "natureza serem meras palavras são conceitos
intocada" e "ecossistem as mais alterados" que reproduzem uma realidade social
pela ação humana e manchas ocupadas concreta. A simples delimitação espacial
pelas " megalópolis", ecossistem as "mais do se acredita ser o urbano ou rural nos
alterados" ou "artificializados" Uma diz muito pouco sobre os conteúdos
classificação, altamente questionável. do processo de urbanização brasileira,
Escreve o Autor: "observando a no momento atual. Em primeiro lugar
evolução da densidade demográfica porque não se confunde processo de
brasileira, enquanto os municípios com urbanização com densidade demográfica.
mais de 100.000 habitantes a densidade Nem tão pouco, cidade, com sede de
é superior a 80 habitantes por km, entre município. Mas apesar dessa confusão
75.000/ 100.000 a densidade cai para 20 conceituai, e da evidente sim o lifica çã o
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que seu raciocínio contempla, o Autor de uma lógica de crescimento sob a égide
escreve que é necessário "rom per com do Estado.
a precariedade que domina a visão oficial A Questão a partir da produção
sobre o desenvolvimento territorial do do espaço é como se ampliam e
Brasil donde se colocaria a necessidade aprofundam, no mundo moderno, as
de renovação do pensamento brasileiro contradições decorrentes da reprodução
sobre as tendências da urbanização.3 da sociedade num momento de
Daqui se depreende que, primeiro o generalização da urbanização anunciada
Autor confunde pensamento oficial com pelo desenvolvimento da cidade , isto é
a produção do conhecimento fora do com sua "explosão" Assim se revelaria
estado4, segundo, é ingênuo acreditar um debate profícuo aquele das relações
que as políticas publicas produzidas entre o Estado e o espaço através, por
pelo Estado se orientam pelos dados exemplo, das políticas públicas.
elaborados elo IBGE pois a racionalidade A idéia de "pressão antrópica
do Estado é outra. sobre a natureza e artificialização dos
O que o Autor ignora é que estamos ecossistemas, nada revela do que
diante da produção do espaço pela se constrói enquanto cidade e campo
sociedade e sob a égide do Estado esta enquanto produto de ações de uma
produção ganha um caráter estratégico. sociedade real. A limitação do papel
O Estado regulador impõe as relações da sociedade a uma indefinida "ação
de produção enquanto dominação do antrópica", reduz o espaço a um quadro
espaço, imbricando espaços dominados/ físico inerte, passível de sofrer maior ou
dominantes para assegurar a reprodução menor intervenção humana, revelando
da sociedade. A busca de coesão / um processo de "naturalização da
coerência e equilíbrio baseada na sociedade"
eficácia do que chama " desenvolvimento Na realidade, as relações sociais
sustentável" é pura ideologia pois se realizam, concretamente, enquanto
elimina conflitos e contradições. E assim relações espaciais e, neste sentido, a
a crítica ao Estado se reduz ao problema análise do espaço revela um processo
da definição administrativa da cidade e de produção/reprodução da sociedade
não a sua capacidade produtiva que se em sua totalidade. Não podemos ignorar
estende por todo o espaço. É ingênuo que o trabalho é criador de formas
acreditar que mexendo nas estatísticas, - este processo esta na origem da
redirecionam-se as políticas que vão produção da cidade e do campo. A idéia
criar a possibilidade do crescimento; isto de ecossistema naturaliza, portanto um
porque, o espaço é o lugar da planificação fenômeno, que em essência é social. A
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sociedade não artificializa a natureza O Autor questiona, com razão, o


ele produz "um mundo" a sua imagem fato de que muitos prefeitos decretam
e semelhança: desigual e contraditório. como perímetro urbano, áreas que
Esta direção analítica traz implicações envolvem pastagens e plantações; que os
sérias, por exemplo, na afirmação de que trabalhadores rurais moram nas cidades
o "Brasil rural" enquanto tal, precisaria e trabalham no campo e que a condição
de uma estratégia de desenvolvim ento5 de moradia define seus direitos. E que é
separado, daquilo que denomina Brasil assim, que de um dia para o outro uma
urbano. Depois de décadas, Veiga parece vila vira uma cidade (aqui com uma certa
querer atualizar a análise "sobre os dois dose de exagero). Mas há um sentido
Brasis" nesta situação real exposta pelo Autor, que
Outra observação refere-se ao fato indica claramente que estão superadas as
de que a mera adjetivação da realidade análise que dicotomizam cidade/campo,
fenomênica: "áreas indiscutivelm ente apontando para sua superação - o que
urbana" ou "essencialm ente rural" não pode ser negligenciado. Assim, ao
não responde a necessidade de pretender delimitar, exatamente, o que
entendimento da realidade. Qual o papel é rural e o que é urbano sua pretensa
da "delimitação das áreas" (urbana e análise impede o desvendamento das
rural) para o entendimento da sociedade transformações presentes na "antiga
brasileira? Como sustentar que é possível contradição cidade-cam po"
pensar urbano e rural como mundos à Ao longo da história das relações
parte, como pretende o Autor? É possível cidade-campo há transformações
pensar a realidade brasileira pela inequívocas, muitas delas apontadas,
dicotomia cidade - campo, cada um com pelo Autor, sem análise; o problema,
conteúdos e sentidos diferentes? portanto que se coloca é quanto ao
Ora, a separação estrita entre entendimento destas transformações. O
cidade e campo esta superada enquanto mundo se movimenta no sentido de sua
idéia substantiva para entender o mundo realização; o capitalismo se concretiza
moderno, a vasta bibliografia sobre o estendendo-se realizando-se, hoje,
tema parece ser ignorada pelo Autor. enquanto mundial e assim redefinindo
Tendo a achar que, no próprio livro este o plano do lugar. O que isto significa?
raciocínio se supera, escancarado pela Em primeiro lugar que o mundial em
realidade, sem que o Autor se dê conta; constituição se impõe no plano do lugar
o que entra em contradição com as idéias (cidade ou campo) transformando a
expostas nos capítulos iniciais. vida realizando-se com separações,
contradições, afrontamentos. A nossa
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época se caracteriza pela constituição da propriedade marca e delimita as


da sociedade urbana realizando-se possibilidades de apropriação no campo
num espaço mundial, articulado, mas e na cidade e estabelecendo lutas
profundamente hierarquizado, que não conjuntas.
quer dizer que o campo deixe de existir, Nesta direção o urbano e o rural
mas que ele se articula agora num outro aparecem num movimento da reprodução
plano ao conjunto do território, com saído da história da industrialização. Não
outras particularidades. As atividades se pode ignorar que a industrialização
voltadas ao turismo no campo, permitiu o desenvolvimento do mundo
apontadas pelo autor, por exemplo, da mercadoria; nesta direção a
encaminha nesta direção, o que não quer generalização do valor de troca, invadiu a
dizer que vivemos em todos os lugares a vida cotidiana capturando o tempo cíclico
sociedade urbana - mas este é o caminho da vida e submetendo-o ao tempo linear
que toma o processo de reprodução hoje, da industria; articulou as mais distantes
constituindo novos ramos de atividade, áreas do planeta, desenvolvendo a rede de
(como o turismo) novas relações entre comunicação e difundindo a informação,
áreas, novos conteúdos para as relações com a evidente hierarquização dos
sociais, profundamente articuladas a lugares no espaço entre dominantes
expansão do mundo da mercadoria. e dominados. No espaço permitiu a
Mas contraditoriamente há o que realização da propriedade privada da
persiste: a propriedade privada da terra, ao longo do processo histórico,
terra / do solo (urbano) ou da terra pela generalização da mercadoria-
(no campo) que delimita, orienta e espaço. Criou um processo inexorável:
condiciona a vida privada, produzindo a urbanização do planeta; mas o
o espaço da segregação. O espaço problema que se coloca não é o número
tornado mercadoria pela generalização de cidades que o IBGE contabiliza, do
do processo produtivo, generaliza a número de pessoas que vive num ou
propriedade privada englobando espaços noutro lugar, mas o modo como esta
urbanos e rurais numa nova articulação. A sociedade (urbana) como horizonte,
contradição cidade/campo se desenvolve pode ser entendida. E o que o livro
propondo uma nova contradição: centro- revela é que esta realidade se constitui
periferia. Já a reorganização do processo revelando profundas contradições em
produtivo aponta novas estratégias de função da desigualdade com que o
sobrevivência no campo e na cidade processo se produz o que coloca para o
e movimentos sociais no campo e na pesquisador questões complexas, como
cidade, articulados, pois a existência por exemplo:como se atualiza, hoje,
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a contradição cidade/campo. Estaria o espaço através do controle, da vigilância,


mundo rural desaparecendo, engolido derrubando fronteiras administrativas,
pelo desenvolvimento das cidades? Seria colocando em cheque os limites definidos
o Brasil menos urbano do que se calcula? entre espaços, subjulgando formas
É possível pensar na existência, ainda culturais, transformando valores e
hoje de "dois Brasis"? comportamentos na medida em que todas
O choque entre o que existe e o as pessoas entram ou tem possibilidade
que se impõe como novo está na base de entrar em contato com o mundo todo
das transformações dos lugares que - uma vez que todos os pontos do planeta
vão se integrando de modo sucessivo estão virtualmente ligados.
e simultâneo a uma nova lógica, Este processo produz profundas
aprofundando as contradições entre o mudanças, criando uma nova identidade
centro e a periferia e não entre o campo que escapa ao local (e mesmo ao
e a cidade. Essas articulações sinalizam nacional), apontando para o mundial
uma tendência da sociedade urbana como horizonte e tendência pois, o
que resulta da urbanização quase que processo não diz mais respeito a um lugar
completa da sociedade. Nascida da ou a uma nação somente, estas tendem
industrialização, essa sociedade pode a explodir em realidades supra nacionais,
ser concebida - a sociedade urbana - a apoiados nos grandes desenvolvimentos
partir de uma transformação radical das científicos, basicamente o
antigas formas urbanas e dos antigos desenvolvimento e transmissão da
modos de vida. Porque a urbanização informação, e no esmagador crescimento
generalizada tem como devir a sociedade da mídia, com seu papel, na imposição da
urbana como horizonte. constituição da sociedade de consumo.
A sociedade urbana tende a Assim, o estágio atual da urbanização
generalizar-se pelo processo de coloca problemas novos, produzidos
mundialização; o que significa que a em função das exigências em matéria
mundialização dá um novo sentido á de comunicação, de deslocamentos os
produção "lato senso" significa também, mais variados e complexos criando ou
que um novo espaço tende a se criar acentuando uma hierarquia desigual
na escala mundial. O aprofundamento de lugares onde a união destes pontos
da divisão social e espacial do trabalho dá-se através de nós de articulação que
busca uma nova racionalidade, uma redefinem as funções da metrópole,
lógica subjacente pelo emprego do saber sede da gestão e da organização das
e da técnica, da supremacia de um poder estratégias que articulam espaços numa
político que tende a hom ogeneizar o realidade complexa e contraditória.
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A análise do mundo moderno da informação da planificação e capaz de


impõe a todos o conhecimento do espaço articular quase toda a produção agrícola
enquanto noção e enquanto realidade- brasileira, engendrando logicamente
pois cria hoje, as condições através a partir da articulação dos espaços
das quais a reprodução da sociedade dominados/dominantes - reproduzindo-
se internamente o mesmo sentido
se realiza. Assim cidade e campo
da articulação no plano internacional
como momentos reais do movimento
colocando acento as relações centro
de realização da sociedade revela os
-periferia não mais, cidade/campo,
conteúdos da vida. Cidade e campo como
revelando o conflito entre o global /local.
momentos da reprodução da sociedade A partir da centralidade da
saído da história da industrialização. metrópole hierarquizam-se os espaços
No campo brasileiro, como aponta diferenciados enquanto espaço
Oliveira5, o desenvolvimento avança controlado. Onde o estado transforma as
reproduzindo relações especificamente condições do território nacional criando
capitalistas, com a expansão das culturas as bases para o desenvolvimento do
de produtos agrícolas para exportação capital controlando fluxos.
no bojo do processo de desenvolvimento Assim, a questão que reveste
da economia na escala global mas, importância, na realidade é qual o
recriou relações de produção não conteúdo do processo de urbanização,
capitalistas como uma das características hoje, e quais as estratégias que apóiam
fundamentais da estrutura agrária o processo de reprodução continuada
brasileira, produzindo contraditória mente, da cidade e do campo - nos planos
o aumento do trabalho familiar no campo econômico, político, e social. Assim, se
e não significou, por exemplo, a extinção de um lado, a gestação da sociedade
do trabalho escravo. urbana vai determinando novos padrões
Na realidade cidade e campo que se impõem de fora para dentro,
sinalizam o modo como se realiza a pelo poder da constituição da sociedade
inserção do Brasil no quadro da economia de consumo (assentada em modelos
mundial, na divisão sócio-espacial do de comportamento e valores que se
trabalho revelando a racionalidade pretendem universais, apoiado fortemente
imposta pela globalização do capital na mídia e pela rede de comunicação que
reproduzindo na escala internacional a aproxima os homens e lugares), num
hierarquização de espaços dominados/ espaço-tempo diferenciado e desigual, de
dominates. Neste raciocínio como ignorar
outro aponta que a realidade produzida é
que a metrópole de São Paulo é o lócus
profundamente desigual , revelando a
da acumulação do capital, centro do
dialética do mundo.
conhecimento, de decisões, da riqueza e
Cidades Imaginárias:
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Notas

1.José Eli da Veiga : ''Cidades Imaginárias: 4. pagina 43


O Brasil é menos urbano do que se
5. página 58
calcula" Editora Autores Associados,
ô.Ariovaldo Umbelino de Oliveira、
'’’A geografía
Campinas, São Paulo, 2002 Recebi o
agrária e as transformações territoriais
livro de presente dos alunos de Geografía
recentes no campo brasileiro” in Novos
da Universidade Federal do Piauí, quando lá
caminhos da Geografia, Editora Contexto, São
estive em agosto de 2002.
Paulo, 1999 (org) Ana Fani Alessandri Carlos.
2. Página 34 Página 63 a 110.
3. Página 31

Trabalho aceito em março de 2003.

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