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JUNHO DE 2021

MANTER
NOSSOS
FILHOS PERTO
DO COR AÇ ÃO

HARMONIA NO LAR MINISTRAÇÃO AOS PAIS


Uma experiência do élder Holland, 8 Resolver problemas em conjunto, 12, 16
A I G R E JA ES TÁ AQ U I

Freetown,
Serra Leoa
A capital de Serra Leoa, Freetown, é também sua maior cidade,
com mais de um milhão de habitantes. Ali está também um
centro de força da Igreja, com três estacas, um programa do
seminário e instituto, oito centros de história da família e, em
breve, um templo. A Igreja está presente em Serra Leoa desde
1988 e tem:

22.787 membros

79 congregações

1 missão

Parceiros iguais
Na cidade de Kenema, no interior do país, o presidente de
estaca Jonathan Cobinah e sua esposa, Amarachi Nneka
Cobinah, lavam a roupa juntos. “Um ajuda o outro como
parceiros iguais”, diz Jonathan. “Isso é o que ‘A Família:
Proclamação ao Mundo’ nos ensina a fazer.”
FOTOGRAFIAS: CHRISTINA SMITH
“Tende bom ânimo, filhinhos; pois estou no vosso meio e não vos desamparei.”
DOUTRINA E CONVÊNIOS 61:36
B E M - ­V I N D O A E S T A E D I Ç Ã O !

Como o evangelho fortalece nossa


família

Há vários anos, nossa família decidiu fazer as malas, deixar nossa casa e
partir em uma aventura fora de nosso país. Ao nos prepararmos para essa
jornada, conversamos bastante para nos assegurar de que estávamos
todos unidos nessa decisão, pois ela afetaria cada um de nós de maneira
diferente.
Além de empacotar nossos pertences, discutimos sobre como
“embalar” nossos hábitos de orar, estudar as escrituras e frequentar
a Igreja visando às nossas necessidades espirituais. Ao viver em áreas
diferentes, nós nos beneficiamos muito por frequentar a Igreja em locais
muito diversos daqueles aos quais estávamos acostumados e por estar-
mos em comunhão com os santos que ali viviam. Na página 22, você
poderá ler sobre um desses lugares, Dubai, e sobre as surpreendentes
semelhanças nos princípios morais que encontramos entre nós e nossos
vizinhos muçulmanos.
Como membros da Igreja, fazemos parte de uma rede de amor e
apoio, uma família do evangelho à qual todos pertencemos. Minha vizi-
nha Jamie é um grande exemplo de ministração para com meus filhos.
Por exemplo, quando minha filha estava esperando para entrar no Cen-
tro de Treinamento Missionário, eu trabalhava o dia inteiro, então Jamie
a levou ao templo algumas vezes quando eu não podia.
• Na página 16, você poderá ler sobre outros modos de apoiar os
pais por meio da ministração.
• Na página 8, você poderá ler os conselhos do élder Jeffrey R.
Holland sobre como manter nossos filhos próximos de nós.
• Na página 12, você poderá ler sobre maneiras de aperfeiçoar seus
conselhos de família.
Desfrute desta edição e pense em como você poderá usar princípios
do evangelho para ajudar a orientar seus próprios filhos e outros que
CHRIST AND THE CHILDREN, DE MINERVA TEICHERT

foram colocados em sua vida.


Atenciosamente,

Carol Chomjak

J u n h o d e 2 0 2 1 3
SUMÁRIO liahona.ChurchofJesusChrist.org | facebook.com/liahona | aplicativo Biblioteca do Evangelho

“Todos nós que vivemos


neste belo planeta
compartilhamos
a sagrada
responsabilidade de
cuidar de todos os filhos
de Deus, (…) sejam eles
quem forem, estejam
onde estiverem.”
— Bispo Gérald
Caussé, página 21

RECURSO

Revista oficial de A Igreja SUMÁRIO


de Jesus Cristo dos Santos
dos Últimos Dias

Junho de 2021 6 Princípios do evangelho 18 Forçados a abandonar o lar:


Vol. 74 Nº 6
O que é a Trindade? Ministração cristã aos refugiados
Liahona 17470
Emily Abel e Aubrey Parry
8 Manter nossos filhos perto do Princípios para a ministração cristã aos
coração refugiados e outros necessitados.
Élder Jeffrey R. Holland
Não devemos afastar nossos filhos. Temos 22 Nossa adoração ao Senhor em Dubai
que continuar tentando. Carol Chomjak
C A PA Foi surpreendente descobrir o quanto
12 Quatro maneiras de aperfeiçoar os tínhamos em comum com as pessoas que
conselhos de família conhecemos.
Elizabeth Pinborough
Dicas de como unir esforços de modo mais 26 Vozes da Igreja
eficaz em família para resolver problemas e Histórias de fé dos membros em todo o
encontrar maior harmonia. mundo.

Foto da AdobeStock 14 Para os pais 30 Envelhecer com fé


A Trindade e o amor ao próximo Juntos ou separados
Rod Jeppsen
16 Princípios para ministrar como o Depois de os filhos crescerem e deixarem
Salvador o lar, os casais precisam desenvolver uma
Como podemos apoiar os pais por conexão emocional confiável.
meio da ministração

A Primeira Presidência: Russell M. Nelson, Consultores: Marcos A. Aidukaitis, Michelle D. Gerente editorial assistente: Ryan Carr, C. Matthew Flitton, Gerente de produção: Ammon Harris
Dallin H. Oaks, Henry B. Eyring Craig, Becky Craven, Sharon Eubank, Cristina B. Mindy Selu Produção: Ira Glen Adair, Andrea Bird, Julie
O Quórum dos Doze Apóstolos: Franco, Walter F. González, Jeremy R. Jaggi, Jan Assistente de publicações: Enish C. Dávila Burdett, José Chavez, Bryan W. Gygi, Ginny J. Nilson,
M. Russell Ballard, Jeffrey R. Holland, Dieter F. E. Newman, Adrián Ochoa, Michael T. Ringwood, Composição e edição de textos: Garrett H. Garff, Chakell Marrissa M. Smith
Uchtdorf, David A. Bednar, Quentin L. Cook, Bradley R. Wilcox Wardleigh Herbert, Michael R. Morris, Richard M. Romney, Pré-­impressão: Joshua Dennis, Ammon Harris
D. Todd Christofferson, Neil L. Andersen, Diretor administrativo: Richard I. Heaton Margaret Willes Diretor de impressão: Steven T. Lewis
Ronald A. Rasband, Gary E. Stevenson, Dale G. Diretor das revistas da Igreja: Diretor de arte: Tadd R. Peterson Diretor de distribuição: Troy R. Barker
Renlund, Gerrit W. Gong e Ulisses Soares Aaron Johnston Diagramação: Fay P. Andrus, Joshua Dennis, David Green, Colleen Endereço para correspondência: Liahona, Fl. 23,
Editor: Randy D. Funk Gerente comercial: Garff Cannon Hinckley, Eric P. Johnsen, Susan Lofgren, Scott M. Mooy, Aleni Regehr, 50 E. North Temple St., Salt Lake City, UT 84150-­0023,
Gerente editorial: Adam C. Olson Mark W. Robison, K. Nicole Walkenhorst USA.
Coordenadora de propriedade intelectual:
Collette Nebeker Aune
4 Liahona
V E M , E S E G U E - ­M E E N C A RT E D E PÁ G I N A S D A Á R E A

25 Mulheres da Restauração: Encontre artigos relevantes para sua área


Telii usou seus talentos para da Igreja, inseridos quando disponíveis, no
centro da Liahona.
compartilhar o evangelho
Ryan W. Saltzgiver
Acontecimentos marcantes da vida de uma
A RT I G O S A P E N A S E M F O R M AT O
polinésia. D I G I TA L

34 Doutrina e Convênios 60–70 Estes artigos podem ser encontrados na edi-


Artigos semanais que dão apoio a seu ção deste mês, na Biblioteca do Evangelho:
estudo de Doutrina e Convênios.
Lições que aprendi ao trabalhar
38 Tudo o que vem do alto é sagrado como voluntária em um campo de
Élder Jorge M. Alvarado refugiados CONTINUE CONEC-
Carly Harris TA D O
Nenhum mandamento de Deus, inclusive o
Encontre edições da revista
dízimo, deve ser tratado com leviandade.
Telii: Amiga, mestra e líder em formato de áudio, digital
Ryan W. Saltzgiver e impresso em liahona.
J O V E N S A D U LT O S ChurchofJesusChrist.org.
Utilize o link daquela página
42 Como se curar de quaisquer para enviar perguntas,
dificuldades — Um passo de cada vez comentários ou experiências.
A cura pode às vezes levar tempo, mas é
sempre possível por meio de Cristo.
Além disso, você
46 Onde estava o milagre instantâneo pode nos contatar
que eu esperava? pelo e-­mail liahona@
Erika Lamb ChurchofJesusChrist.org
As bênçãos que lhe foram prometidas ainda ou pelo correio no seguinte
virão. endereço:
Liahona, floor 23
48 Mais para você! 50 E. North Temple Street
Veja que outros artigos digitais estão incluí- Salt Lake City, UT 84150-­
dos este mês para os jovens adultos. 0023, USA

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idioma para outro.) LIAHONA (USPS 311-­480) Portuguese (ISSN 1044-3347) is published monthly by The
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PRINCÍPIOS DO EVANGELHO

O que é a Trindade?
O Pai Celestial, Jesus Cristo e o Espírito Santo são três seres separados,
mas unidos em propósito.

U
m editor de jornal Deus, o Pai Eterno Jesus Cristo O Espírito Santo
certa vez perguntou Deus tem um corpo Jesus Cristo também O Espírito Santo é o
ao profeta Joseph ressuscitado de carne e tem um corpo ressurreto único membro da Trin-
Smith em que os membros ossos. Ele é o Pai de nosso de carne e ossos. Ele é o dade que não tem corpo
de A Igreja de Jesus Cristo espírito. Ele ama a todos Filho primogênito de Deus. físico. Ele é um espírito. O
dos Santos dos Últimos os Seus filhos de modo Antes de nascermos, Deus Espírito Santo é capaz de
Dias acreditavam. Em res- perfeito. Deus é perfeito, O escolheu para ser nosso Se comunicar diretamente
posta, o profeta escreveu Todo-­Poderoso e conhece Salvador. Isso significa que com nosso espírito. Ele tes-
13 declarações de crença todas as coisas. Ele é justo, Jesus veio ao mundo para tifica a nós que Deus é real
que chamamos de Regras misericordioso e bondoso. ser um exemplo para nós, e que Jesus Cristo é nosso
de Fé. A primeira delas Como espíritos, vivíamos ensinar Seu evangelho, Salvador. O Espírito Santo
diz: “Cremos em Deus, o com Deus antes de nas- expiar nossos pecados atua como mensageiro de
Pai Eterno, e em Seu Filho, cermos. Ele nos enviou à e nos resgatar da morte. Deus para nos transmi-
Jesus Cristo, e no Espírito Terra para aprendermos e Por causa de Jesus Cristo, tir sentimentos de amor,
Santo” (Regras de Fé 1:1). nos desenvolvermos. Seu podemos ser perdoados orientação e consolo.
Os três compõem o que maior desejo é que todos de nossos pecados quando Quando somos batizados
denominamos de Trindade. os Seus filhos voltem a nos arrependemos. Jesus e confirmados, recebemos
viver com Ele depois desta Cristo também sofreu mui- o dom do Espírito Santo.
vida. Deus nos ensina tas coisas a fim de poder Após o batismo, o Espírito
que devemos seguir Jesus nos entender e ajudar. Santo pode sempre estar
Cristo para regressarmos à Jesus Cristo morreu e tor- conosco se cumprirmos os
presença do Pai. nou a viver, o que possibi- mandamentos de Deus.
litou a ressurreição a cada
um de nós.

6 Liahona
A Primeira Visão de Distintos, mas unidos Escrituras sobre a PALAVRAS PARA
WORLD, DE ROBERT T. BARRETT; FOTOGRAFIA DO CÉU, DE GETTY IMAGES; FIRST VISION, DE WALTER RANE; FOTOGRAFIA DE UMA MULHER LENDO, DE TYLER LEWIS;

Joseph Smith As escrituras e os profe- Trindade SEREM LEMBRADAS


DA ESQUERDA PARA A DIREITA: JOSEPH SMITH WRITING, DE DALE KILBOURN; DETALHE DE FIRST VISION, DE JON MCNAUGHTON; CHRIST PREACHING IN THE SPIRIT

Por muito tempo, as tas modernos nos ensinam • O Pai Celestial e Jesus Esperamos que você
pessoas ficaram confusas que Deus, Jesus Cristo e Cristo são um em pro- tenha gostado de apren-
sobre a Trindade. Havia o Espírito Santo são seres pósito (ver João 10:30). der sobre a Trindade.
desacordo sobre a natureza separados, mas unos em • O Pai Celestial falou a Aqui estão outras pala-
de Deus, de Jesus Cristo e propósito: proporcionar a Seu Filho (ver Mateus vras do evangelho desta
do Espírito Santo. Essa é nós a imortalidade e a vida 3:16–17). edição:
uma das razões pelas quais eterna (ver Moisés 1:39). • Jesus Cristo falou a Seu Bênçãos do sacerdó-
a Primeira Visão de Joseph Como integrantes de uma Pai (ver João 11:41). cio: Bênçãos para cura e
Smith foi tão importante. mesma equipe, Eles unem • Jesus Cristo orou para consolo dadas por Deus
Ele viu que o Pai Celes- forças todos os dias para que viéssemos a nos por meio de homens
tial e Jesus Cristo têm um nos ajudar. Podemos nos tornar “um” (ver João que têm autoridade do
corpo e que são dois seres sentir mais próximos Deles 17:11). sacerdócio (ver página
distintos. quando nos arrependemos • Joseph Smith viu o Pai 25).
de nossos pecados e esco- Celestial e Jesus Cristo Dízimo: Doação da
lhemos o que é certo. (ver Joseph Smith—His- décima parte de nossa
tória 1:17). renda para edificar o
• O Espírito Santo testi- reino de Deus na Terra
fica que Jesus Cristo é (ver página 39).
LISTENING, DE MICHAEL JARVIS NELSON

nosso Salvador (ver João Jejum: Abstenção de


15:26). alimento e água por 24
horas para nos aproxi-
marmos de Deus (ver
página 45).

J u n h o d e 2 0 2 1 7
Élder Jeffrey R.
Holland
Do Quórum dos
Doze Apóstolos

M A N T ER N OSS OS F I L H OS
perto do coração
Não devemos nos afastar de nossos filhos. Devemos continuar
tentando, continuar buscando, continuar orando,
continuar ouvindo.

Nota do editor: Ao ler a seção 68 de Doutrina e Convênios este mês, observe os con-
selhos do Senhor aos pais nos versículos 25–28. Para nos ajudar a nos lembrar da
tremenda responsabilidade que os pais têm, gostaríamos de publicar novamente
esta memorável experiência que o élder Holland, na época reitor da Universidade
Brigham Young, relatou na sessão do sacerdócio da Conferência Geral de Abril de

F
1983. Ele estava acompanhado de seu filho adolescente Matt.
ica cada vez mais claro que devemos ensinar o evangelho pessoalmente a
nossa família e viver seus ensinamentos no lar ou correr o risco de desco-
brir tarde demais que a professora da Primária ou o consultor do sacerdó-
cio, ou o instrutor do seminário não conseguiu fazer por nossos filhos o que nós
não nos dispusemos a fazer por eles.
Gostaria de oferecer um pouco de incentivo para tamanha responsabilidade. O
que aprecio no meu relacionamento com [meu filho] Matt é que ele é, com a mãe
dele, seu irmão e sua irmã, meu amigo mais próximo e mais querido. Eu não tro-
caria a reunião do sacerdócio desta noite com meu filho pela companhia de qual-
quer outro amigo do mundo. Adoro nosso convívio. Conversamos muito. Rimos
bastante. Oro por ele e já choramos juntos, e tenho um imenso orgulho dele. (…)
No início da minha vida de casado, fiz pós-­graduação em uma universidade da
Nova Inglaterra e minha jovem família estava ao meu lado. [Minha esposa] Pat era
FOTOGRAFIAS: GETTY IMAGES

a presidente da Sociedade de Socorro da ala e eu servia em nossa presidência de


estaca. Eu estudava em tempo integral e dava aulas em meio período. Tínhamos
na época dois filhos pequenos, pouco dinheiro e estávamos sob muita pressão.
De fato, nossa vida era mais ou menos igual à de vocês.

8 Liahona
Certa noite voltei da faculdade depois de “Matthew tem algo a lhe dizer”, respondeu
um dia interminável, com aquela sensação Pat.
de carregar o mundo nas costas. Mais do “Matt, o que você tem para me dizer?” Ele
que nunca, tudo parecia difícil, desanimador continuou em silêncio brincando com seus
e sombrio. Fiquei até me perguntando se o carrinhos em um canto, tentando fingir que
sol voltaria a raiar. Então, ao entrar em nosso não me ouviu. Elevando um pouco a voz, per-
pequeno apartamento do campus, encontrei guntei: “Matt, você tem algo para me dizer?”
um silêncio incomum na sala. Ele parou de brincar, mas ainda por algum
“Qual é o problema?”, perguntei. tempo não ergueu o olhar. Em seguida, com
seus dois enormes olhos castanhos cheios de
lágrimas cuja dor só uma criança de 5 anos
sabe mostrar, ele disse: “Eu não obedeci à
mamãe hoje e respondi a ela”. Dito isso,
caiu em pranto e seu corpinho inteiro se
sacudia em soluços. Um deslize infantil
viera à tona, seguido de uma dolorosa
confissão. No contínuo processo de cresci-
mento do pequeno, esse poderia ter sido o
início de uma amorosa reconciliação.
Tudo poderia ter sido maravilhoso —
exceto pelo que fiz. Envergonho-­me terrivel-
mente por contar como agi. Perdi a paciência.
Eu não a havia perdido com Matt — fora com
mil e uma outras coisas que estavam na
minha mente; mas ele não sabia disso e eu
não tive a disciplina suficiente para admi-
tir. Descontei tudo nele.
Disse que estava bastante decepcio-
nado e que esperava muito mais dele.
(…) Depois fiz o que nunca fizera
antes na vida dele — mandei-­o direto
para a cama e anunciei que não iria lá
para orar com ele ou lhe contar uma
história para dormir. Abafando os solu-
ços, ele obedientemente se ajoelhou
perto da cama — sozinho — para orar.
Depois molhou seu travesseirinho
com lágrimas que seu pai deveria
estar enxugando.
Se pensaram que o silêncio era
pesado quando cheguei, imaginem
depois disso. Pat não disse uma
palavra. Nem era preciso. Eu me
sentia péssimo!

10 L i a h o n a
Mais tarde, quando nos ajoelhamos ao lado carro que tinha deixado para Matt dirigir. Estava parado no acosta-
de nossa cama, minha débil oração pedindo mento enquanto Matt ria e brincava por perto. Um homem idoso
bênçãos sobre minha família caiu em meus estava com ele, brincando e jogando com ele. Matt me viu e gritou
ouvidos como um horrível eco vazio. Eu algo como “Oi, pai. Venha cá. Estamos nos divertindo”. Sem dúvida
queria me levantar naquele momento e pedir ele já tinha esquecido e perdoado minha terrível transgressão para
perdão a Matt, mas ele já estava em um sono com ele.
profundo e tranquilo havia muito tempo. Mas eu temia e evitava o olhar do homem idoso, que parecia
Meu alívio não viria rápido, mas finalmente seguir cada movimento meu. Tentei dizer “obrigado”, mas seus
adormeci e comecei a sonhar, algo raro para olhos estavam cheios de tristeza e decepção. Murmurei desculpas
mim. Sonhei que Matt e eu estávamos colo- desajeitadas e o estranho apenas respondeu: “Você não deveria tê-­
cando uma mudança em dois carros. Por lo deixado sozinho nessa tarefa difícil. Ninguém teria pedido isso a
alguma razão, a mãe dele e sua irmã mais você”.
nova não estavam presentes. Ao terminar, A essa altura, o sonho acabou e me sentei de uma vez na cama.
virei-­me para ele e disse: “Ok, Matt, você Meu travesseiro agora estava encharcado de suor e lágrimas. Joguei
dirige um carro e eu, o outro”. as cobertas para o lado e corri até o bercinho metálico desmon-
Aquele menininho de 5 anos obedeceu, tável que servia de cama para meu filho. Lá, de joelhos e entre
subiu no banco do motorista e tentou segu- lágrimas, tomei meu filho nos braços e falei a ele enquanto ele
rar o enorme volante. Entrei no outro carro dormia. Expliquei-­lhe que todo pai comete erros sem intenção de
e liguei o motor. Ao começar a andar, olhei fazê-­lo. Garanti que a culpa do meu dia ruim não era dele. Esclareci
para trás para ver como meu filho estava se que, quando os filhos têm 5 ou 15 anos de idade, às vezes o pai
saindo. Ele estava tentando — esforçava-­se se esquece e acha que eles têm 50 anos. Externei meu desejo de
ao máximo. Tentava alcançar os pedais, sem vê-­lo permanecer pequenino por muitíssimo tempo ainda, porque
sucesso. Ao mesmo tempo, apertava uns logo ele cresceria, seria um homem e não mais brincaria com seus
botões e girava outros, procurando ligar o brinquedos no chão quando eu chegasse em casa. Disse-­lhe que
motor. Embora eu mal pudesse vê-­lo acima o amava e amava sua mãe e sua irmã mais do que qualquer coisa
do painel, lá estavam me encarando aqueles no mundo e que juntos enfrentaríamos os desafios da vida, fossem
mesmos olhos castanhos enormes, lacrimosos quais fossem. Prometi que nunca mais lhe negaria minha afeição
e belos. Enquanto eu me afastava, ele gritava: nem meu perdão e supliquei também que ele nunca os negasse a
“Papai, não me deixe! Não sei o que fazer. mim. Disse-­lhe que era uma honra ser seu pai e que eu tentaria de
Sou muito pequeno!” E segui viagem. todo o coração ser digno de tão grande responsabilidade.
Pouco depois em meu sonho, dei-­me Bem, ainda não dei provas de ser o pai perfeito que prometi
conta, em um momento doloroso e horrendo, naquela noite, mas ainda quero sê-­lo e continuo tentando. Creio
do que eu tinha feito. Freei meu carro brus- neste sábio conselho do presidente Joseph F. Smith: “Se mantiverem
camente, abri a porta de uma vez e comecei seus filhos próximos de seu coração, ao alcance de seus braços; se
a correr o mais depressa possível. Deixei para os fizerem sentir que vocês os amam (…) e os mantiverem próxi-
trás o carro, as chaves, os pertences, tudo — e mos de vocês, eles não se afastarão muito de casa”.1
corri. O asfalto estava tão quente que quei- Não devemos afastar nossos filhos. Devemos continuar tentando,
mava meus pés, enquanto lágrimas cegavam continuar buscando, continuar orando, continuar ouvindo. Deve-
meu esforço extenuante para avistar meu filho mos mantê-­los “ao alcance de nossos braços”. ◼
em algum ponto do horizonte. Continuei a NOTA
1. Ensinamentos dos Presidentes da Igreja: Joseph F. Smith, 1998, p. 253.
correr, a orar e a pedir para ser perdoado e
encontrar meu filho a salvo e em segurança.
Ao fazer uma curva, já prestes a cair de
exaustão física e emocional, vi o estranho

J u n h o d e 2 0 2 1 11
Quatro maneiras
de aperfeiçoar os
conselhos de
família
Como unir esforços em família para resolver problemas e
encontrar maior harmonia?

Elizabeth Pinborough

A
contece de tudo nas famílias. Nossos conselhos de família 2. Os conselhos criam laços
Os filhos ficam doentes. É pre- seguem o modelo desse conselho A proximidade criada nos conse-
ciso consertar as coisas que se celestial. Pai e mãe se aconselham lhos regulares os ajudará a ver o que
estragam. O trabalho, as atividades mutuamente e com os filhos. Os de fato acontece com cada membro
e a Igreja disputam seu tempo. Pode adultos solteiros podem se aconse- da família. Todos precisam se envol-
ser estressante! lhar com familiares e amigos de con- ver para ajudar a criar soluções proa-
Por isso, como aproximar os fami- fiança. Esse aconselhamento mútuo é tivas e para estabelecer suas próprias
liares uns dos outros em meio a tudo regido por um conjunto de princípios metas. Quando os familiares cola-
isso? que trarão mais capacidade de resol- boram entre si para tomar decisões,
Felizmente o Pai Celestial nos ver problemas no lar. Talvez vocês cada um se desenvolve e a família
deixou um padrão para a vida e para estejam pensando: “Como vou con- como um todo fica mais unida.
a comunicação familiares chamado seguir fazer isso com os filhos que Alguns conselhos podem ser
de conselhos de família. Aqui estão tenho? Eles não têm o menor inte- planejados, enquanto outros podem
quatro maneiras para sua família tirar resse em me ouvir”. acontecer naturalmente. Decidam o
proveito deles. Se a dinâmica dos seus conselhos que funciona melhor na sua família.
de família consistir em fazer sermão, Dica: Leiam ou vejam o discurso do pre-
1. Os conselhos são conversas, não o seu potencial pleno se perde. No sidente Ballard “Conselhos de família” na
discursos entanto, pode-­se criar uma atmosfera conferência geral.3 Peçam sugestões a sua
família sobre como realizar conselhos mais
O presidente M. Russell Ballard, alegre quando todos se sentem parte bem-­sucedidos. Anotem o que aprenderem
presidente em exercício do Quórum da solução. para aplicar em conselhos futuros.
dos Doze Apóstolos, ensinou: “Os con- Dica: Os novos guias para Crianças e Jovens 2
selhos de família sempre foram neces- podem ser recursos úteis nesse aconselha- 3. Vocês podem comemorar e
sários. Na verdade, eles são eternos. mento com os filhos. Usem o tempo que colaborar
ILUSTRAÇÃO: DAVID GREEN

passam juntos para planejar atividades,


Pertencíamos a um conselho de famí- estabelecer metas de estudo das escrituras e
Os conselhos de família não são
lia na existência pré-­mortal quando para buscar o crescimento pessoal. apenas para resolver problemas
vivíamos com nossos pais celestiais sérios. E se sua mulher receber uma
como seus filhos espirituais”.1 promoção no trabalho? O sucesso

12 L i a h o n a
dela pode ser comemorado no con- 4. Menos Wi-­Fi significa mais aten- Caso já estejam realizando conse-
selho de família seguinte. Pode ser ção individual lhos de família, pensem em maneiras
que sua família esteja desenvolvendo Caso julguem conveniente, peçam de melhorá-­los. Se ainda não estão,
o hábito de expressar gratidão. Deem a todos que desliguem os apare- hoje pode ser o dia perfeito para
a oportunidade para que cada um lhos digitais durante os conselhos. experimentar. Comecem modesta-
externe gratidão por algo. Quando falamos face a face com os mente e observem como os conse-
Façam com que os conselhos filhos, sem distrações, eles se sentem lhos de família virão a se tornar uma
de família se tornem um momento valorizados. Orar juntos e uns pelos ocasião alegre em que os familiares
aguardado com ansiedade por todos. outros convidará o Espírito a estar no aprendem uns com os outros e se
Se cada membro da família, até o lar. Ninguém deve resolver proble- apoiam mutuamente. ◼
menor de todos, souber que vai ser mas sozinho. Vocês estarão dando o NOTAS
1. M. Russell Ballard, “Conselhos de família”,
ouvido e valorizado, todos terão ale- exemplo de buscar a ajuda de Deus A Liahona, maio de 2016, p. 63.
gria em participar. quando surgirem as dificuldades. 2. Ver childrenandyouth.ChurchofJesusChrist.
org.
Dica: Escolham um objeto especial para Dica: Considerem a possibilidade de usar o 3. M. Russell Ballard, “Conselhos de família”,
cada pessoa segurar enquanto fala. artigo “Conselhos de família” em Tópicos do A Liahona, maio de 2016, p. 63.
Assegurem-­se de que cada um tenha sua Evangelho.4 O Pai Celestial deseja nos guiar 4. Tópicos do Evangelho, “Conselhos de
família”, topics.ChurchofJesusChrist.org.
vez de falar e que todos os outros prestem em nossas decisões e nossos problemas diá-
atenção. rios. Vocês estão ouvindo o Espírito durante
os conselhos de família?

J u n h o d e 2 0 2 1 13
PAR A OS PAIS

A Trindade
e o amor ao próximo
Prezados pais,
A edição deste mês inclui tópicos como a Trindade, o papel dos pais,
o perdão e o serviço a todos os filhos de Deus — independentemente de
onde vêm ou para onde vão. Os artigos a seguir podem ajudá-­los a ensinar
esses princípios em seu lar.

DEBATES SOBRE MOMENTO DIVERTIDO —


O EVANGELHO ESTUDO FAMILIAR

A Trindade Girar e ajudar


Vocês também podem usar “Princí- Doutrina e Convênios 64:33
pios do evangelho” para ensinar seus
1. Todos se sentam formando um
filhos sobre a Trindade. Quais são os
círculo. Falem de alguns pequenos
papéis individuais do Pai Celestial,
atos de bondade que os familiares
de Jesus Cristo e do Espírito Santo?
podem fazer uns pelos outros.
Como Eles trabalham em conjunto
2. Coloquem um lápis no meio da
para realizar Seus propósitos? Como
roda.
sua família pode se unir mais a fim
3. Cada um por sua vez faz o lápis
de realizar grandes coisas?
girar.
Os conselhos de família artigo com seu cônjuge e debater o
4. Aquele para quem o lápis apon-
Aprendemos que os conselhos de que mais vocês podem fazer para
tar ao parar deve representar por
família sempre foram necessários e manter seus filhos perto do coração.
meio de gestos o máximo possí-
são eternos (ver M. Russell Ballard, Ajudar os refugiados
vel de atos de bondade em um
“Conselhos de família”, A Liahona, Fomos instados a, em espírito de
minuto.
maio de 2016, p. 63). O artigo da oração, servir àqueles que foram des-
5. Continuem até cada pessoa ter
página 12 traz algumas diretrizes para locados, incluindo os refugiados, e
pelo menos uma chance.
conselhos de família mais proveito- vivem em nossa comunidade. Leiam
sos. Como sua família pode colocá-­ o artigo da página 18. Debatam sobre Debate: Que atos de bondade
las em prática? as necessidades que as pessoas em podemos fazer por nossos vizinhos,
Pais sua área podem ter e façam planos pelos membros da ala e por nós
Na página 8, o élder Jeffrey R. para servir a elas e integrá-­las. mesmos? De que forma podem até
Holland, do Quórum dos Doze Após- Apoio ao Vem, e Segue-­Me os atos pequenos e simples levar a
tolos, conta como aprendeu uma Vejam nas páginas 34–37 materiais grandes coisas?
importante lição sobre a importância de apoio para o estudo familiar de
Enviado por Mitzi Schoneman
de se aproximar de seu filho. Con- Doutrina e Convênios deste mês.
siderem a possibilidade de ler esse

14 L i a h o n a
NA REVISTA FORÇA DOS JOVENS
DESTE MÊS

“Você pode compartilhar o evangelho de jovens de todo o mundo sobre quer que sejamos humildes sem nos
de modo natural” como edificar o relacionamento deles rebaixarmos.
Compartilhar o evangelho com os com os pais. Debatam em família Pausa para descontrair
outros às vezes parece assustador. Esse como podem melhorar. Nesse artigo, Essa seção é só para descontrair!
artigo narra duas histórias que ensinam também há uma questão sobre Vejam se vocês e seus filhos adoles-
aos jovens como pode ser divertido e autoestima e sobre como o Senhor centes conseguem resolver o enigma
fácil ser missionário! Discutam-­no em da semente ou completar o quebra-­
família e debatam outras maneiras de cabeça de uma imagem.
compartilhar o evangelho.
“Permanecer firme”
Nesse artigo, a irmã Lisa L. Hark-
ness, primeira conselheira na presi-
dência geral da Primária, aborda três
princípios de Josué 24:15 sobre como
permanecer firme no evangelho.
Perguntas e respostas
Estão tendo dificuldades de comu-
nicação com seu filho adolescente?
Experimentem ler as ideias e sugestões

NA REVISTA MEU AMIGO DESTE MÊS

Vem, e Segue-­Me — Crianças atividade deste mês do Time Mãos


Encontrem ideias para o estudo Que Ajudam! Também encontrem
familiar semanal e atividades em uma mensagem especial da irmã
“Momento divertido — Escrituras”. Sharon Eubank, primeira conselheira
Para as crianças menores, encon- na presidência geral da Sociedade de
trem mais auxílios de ensino no Socorro, sobre outras crianças que
Vem, e Segue-­Me, na seção Para os servem em todo o mundo.
amiguinhos. Aprender sobre resiliência
História mensal das escrituras Ensinem resiliência a seus filhos por
Leiam sobre a coragem de Mary meio da página de um diário neste mês.
Elizabeth e Caroline Rollins quando Ministrar no lar
salvaram as páginas do Livro de Leiam “Uma oração para Papi”
Mandamentos de uma multidão para descobrir como uma menina na
enfurecida. Guatemala se sentiu inspirada a servir
Mãos Que Ajudam: Um convite a seu pai.
Ajudem seus filhos a participar da

J u n h o d e 2 0 2 1 15
PR I NC Í PIOS PA R A MI N IST R A R COMO O SALVADOR

Como podemos apoiar os pais


por meio da ministração
Os pais precisam de amor e apoio em seus papéis divinos de pai e mãe.

O s pais enfrentam desafios inco- que ela precisaria e depois levou o Dicas de ministração para apoiar

FOTOGRAFIAS: GETTY IMAGES; ARTE INFANTIL: ADDISON P. E HADLEY P.


muns e às vezes difíceis. O jantar para a família à noitinha. Tam- os pais
apoio amoroso de irmãos e irmãs bém organizou os vizinhos para que 1. Ajude a reduzir parte do
ministradores pode ser fundamen- fornecessem as refeições por alguns estresse que os pais sentem. Se a
tal para o bem-­estar tanto dos pais dias. família estiver passando por momentos
quanto dos filhos. Deus abençoará No dia seguinte, ao verificar de estresse, seu relacionamento com
nossos esforços quando procuramos como estava a família de Kara, Anne eles pode minimizar esse impacto que
maneiras de fortalecer os pais e filhos notou que uma das filhas estava tanto compromete a presença estável
que fazem parte de nossa vida. preocupada com a bebezinha, então e amorosa dos pais na vida dos filhos.
Anne e Kara eram ambas novas Anne a convidou para fazer biscoitos Possíveis maneiras de ajudar:
em sua ala quando Anne foi desig- a fim de lhe dar atenção especial.
• Procurar entender as fontes
nada para ministrar a Kara e a sua Anne também enviou mensagens de
de estresse. Atuar como bom
jovem família. Uma amizade logo se texto ao conselho da ala para infor-
ouvinte, escutando-­os com aten-
desenvolveu entre as duas. Anne, mar sobre o ocorrido e prometeu
ção. Seguir as impressões que
recém-­casada, adorava ajudar Kara mantê-­los a par da situação. Durante
receber.
e suas quatro filhinhas, cuja idade ia a semana seguinte, enquanto a bebê
• Ensiná-­los a procurar emprego e
de recém-­nascida a 7 anos. Certo dia, recebia tratamento, Anne manteve
ajudá-­los a examinar o orçamento
a bebê de Kara sofreu uma fratura o conselho da ala informado e aten-
familiar ou a encontrar oportuni-
craniana e teve de passar por uma deu às necessidades da família. A
dades de estudos ou treinamento.
cirurgia. ajuda de Anne proporcionou a Kara
• Ajudá-­los a ter acesso a recursos
Anne tomou a dianteira e cuidou o tempo e a paz de espírito de que
úteis, como cursos de autossu-
das outras crianças até a avó delas uma mãe necessitava em uma situa-
ficiência, ou a preencher os for-
chegar. Quando a avó chegou, Anne ção difícil e assustadora.
mulários necessários para obter
verificou com ela o tipo de ajuda de
auxílio financeiro ou serviços.

16 L i a h o n a
2. Fortaleça a capacidade dos • Demonstrando-­lhes amor e RECURSOS ADICIONAIS
pais de suportar a pressão. Exem- reconhecendo suas grandio- • Encontre recursos relacionados
plos disso podem incluir: sas conquistas. à saúde mental, a deficiências e
4. Proporcione diversão. Um assuntos correlatos em Churchof
• Oferecer-­lhes alguns recursos
dos maiores desafios para os pais JesusChrist.org/study/life-­help.
da Igreja que podem auxiliá-­los
que estão passando por momen-
em uma situação específica.
tos difíceis é reunir energia para
• Planejar momentos regulares
brincar e se divertir com os filhos.
para oferecer apoio emocional
Você pode ajudar:
ouvindo-­os e consolando-­os.
• Proporcionar ao pai e à mãe • Organizando um jantar ou
tempo para cuidarem de si uma noite de brincadeiras e
mesmos. jogos.
• Comemorando momentos
3. Promova a resiliência e a
que são importantes para eles,
esperança deles:
como aniversários, feriados ou
• Expressando esperança e fé em outros eventos significativos.
Cristo e direcionando-­os a Ele • Convidando-­os a participar
para obterem paz e apoio. com você de suas próprias
• Ajudando-­os a valorizar a beleza atividades. ◼
dos momentos difíceis e confu-
sos da paternidade e materni- “Ah, não!
dade, assegurando-­lhes que não Estou
aqui para
estão sós nessas ocasiões.
ajudá-­los.”
Forçados a abandonar o lar:
Ministração cristã aos refugiados

Os refugiados e Emily Abel e Aubrey Parry

S
Revistas da Igreja
demais pessoas des-
er obrigado a abandonar o lar talvez seja
locadas precisam
uma das experiências mais traumáticas
de mais do que da vida. O aumento de conflitos arma-
doações de recur- dos, mudanças econômicas e agitações polí-
Família síria recebendo ajuda no Líbano. A guerra na
sos; necessitam de ticas podem forçar famílias a abandonarem o
Síria deixou 11 milhões de pessoas desabrigadas. O
lar sem tempo de reunir seus preciosos per- próprio Salvador já foi refugiado e, mais do que nin-
relacionamentos tences ou as provisões necessárias. Algumas guém, está atento àqueles que sofrem essa provação.
significativos e de famílias se separam em uma jornada arriscada
ministração. de centenas de quilômetros em busca de
segurança. As crianças costumam testemunhar Na última década, pelo menos 100
ou vivenciar escassez extrema de alimentos milhões de pessoas tiveram de abandonar
ou agressões físicas. Nessa situação, a grande seus lares em busca de refúgio tanto no
esperança dessas pessoas é ver sua árdua país de origem quanto fora dele.1 Com tais
jornada terminar em um lugar seguro. estatísticas sombrias, o drama das pessoas

18 L i a h o n a
Voluntário dos Serviços Humanitários da Igreja visita campo de refugiados
na Jordânia. Os que trabalham com ajuda humanitária seguem os princí-
pios de um código que também pode nos servir de guia ao ministrarmos a
refugiados e desalojados.

santos dos últimos dias eram violentamente expulsos de suas casas


e fazendas. Convém também recordar a grande diferença que alguns
de seus novos vizinhos fizeram na jornada deles. Quando os santos
foram expulsos do estado do Missouri, os residentes de Quincy, Illi-
nois, receberam-­nos e lhes ofereceram ajuda. Aquelas pessoas foram
exemplos de serviço cristão e “assim evitaram um número ainda
maior de vítimas entre os santos dos últimos dias”.3
O próprio Salvador vivenciou a condição de refugiado durante
Sua vida mortal. Brett Macdonald, dos Serviços Humanitários da
Igreja, falou sobre suas visitas a campos de refugiados em todo o
desalojadas é profundamente preocupante. mundo: “Jesus e Seus pais foram refugiados no norte da África por
Ao contemplarmos o exemplo do Salvador, algum tempo; podemos sentir Sua influência e Seu intenso interesse
podemos encontrar maneiras pessoais de na vida daqueles que sofrem”.4
ACIMA: FOTOGRAFIA DE GETTY IMAGES; OUTRAS FOTOGRAFIAS DE MARC MARRIOTT

ministrar aos necessitados.


Seguir um código humanitário hoje
Reconhecer nossa história compartilhada Temos hoje a oportunidade de estender a mão e oferecer o
Para os santos dos últimos dias, os refu- mesmo auxílio que os membros da Igreja do século 19 receberam
giados e demais pessoas deslocadas devem de seus vizinhos. Porém nossos irmãos e nossas irmãs que foram
ser mais que uma simples notícia de jornal; desalojados de seus lares hoje precisam de mais do que recursos e
devemos vê-­los como nosso próximo (ver dinheiro; necessitam de relacionamentos significativos e ministração
Mateus 22:39), cuja história nós e o próprio cristã.
Salvador compartilhamos. “A história deles Muitas organizações humanitárias, inclusive os Serviços Humani-
é a nossa história, em um passado recente”, tários da Igreja, seguem um código de ética humanitário que pode
ressaltou o élder Patrick Kearon, da Presidên- nos ajudar a ministrar a essas pessoas que foram deslocadas. Embora
cia dos Setenta.2 o código se aplique ao serviço humanitário em geral, nele há princí-
Lembremos que, há não muito tempo, os pios do evangelho que nos ajudam a “[erguer] as mãos que pendem

J u n h o d e 2 0 2 1 19
Com foco em criar relacionamentos,
podemos descobrir maneiras significa-
tivas de ministrar. À esquerda: Mem-
bro da Igreja dá a uma mãe refugiada
uma manta especial que pertenceu a
seu filho adotivo. Abaixo: Podemos
ajudar os refugiados a aprender sobre
O QUE POSSO FAZER a cultura local, inclusive sobre como
PARA AJUDAR OS preparar alimentos que sejam novi-
dade para eles.
REFUGIADOS E
DEMAIS PESSOAS
DESLOCADAS?

• Concentre-­se nos
relacionamentos.
Se houver refu-
giados por perto,
procure conhecê-­
los pelo nome.
• Pergunte a si e [fortalecer] os joelhos enfraquecidos” (Dou-
mesmo: “Se essa trina e Convênios 81:5) de modo mais eficaz.
pessoa fosse meu
parente, como O princípio da individualidade do ser perguntando-­lhe como gostaria de ser aju-
minha impres- humano dado e depois ouvi-­lo com sinceridade.)
são sobre ela Esse princípio ensina que, ao ministrar, A presidente da Sociedade de Socorro
mudaria?” trabalhamos para ver cada pessoa como sugeriu um chá de bebê, explicando que era
• Converse com os um filho ou uma filha de Deus. Pode pare- uma forma de comemorar o nascimento de
refugiados sobre os cer simples, mas nem sempre é fácil nos uma criança e incluía a oferta de presentes
planos que têm. lembrarmos disso quando as pessoas têm para suprir as necessidades do bebê e da
• Pergunte o que aparência diferente da nossa, agem de outra mãe. A família refugiada concordou que isso
seria mais útil para forma, falam idiomas que desconhecemos e seria de grande valia para eles.
eles. têm crenças divergentes das nossas. Ao planejarem o evento na ala, uma irmã
• Seja voluntário Para ajudá-­lo a enxergar o divino em cada constatou que ficava muito sensibilizada
para ajudar os pessoa, pergunte a si mesmo: “Se essa pes- com a situação dos que precisam buscar um
refugiados a apren- soa fosse da minha família ou alguém que- novo lar porque ela própria tinha adotado
derem o idioma de rido, como meu modo de vê-­la mudaria?” um bebê da Guatemala. Durante o longo
seu país anfitrião e Essa pergunta se tornou muito pessoal processo de adoção, ela se manteve ocupada
outras habilidades para uma irmã da Igreja quando a Sociedade fazendo uma manta acolchoada para o bebê
necessárias. de Socorro a que ela pertence realizou um que ia chegar. Ao comparar a experiência de
• Procure conhecer chá de bebê para uma mãe refugiada de sua seu próprio filho adotivo com a desse novo
seus vizinhos para comunidade. bebê refugiado, ela quis ter mais proximi-
poderem servir A presidência da Sociedade de Socorro dade com a família oferecendo-­lhes a manta
juntos. procurou em sua cidade uma agência de que tinha feito.
realocação de refugiados para encontrar uma Durante o chá, essa irmã explicou à mãe
mãe a quem pudessem ajudar. Uma vez esta- refugiada o que a unia a ela. Contou que
belecido o contato com a mãe e sua família, seu filho também tinha vindo para um novo
a presidência a visitou para perguntar em lar e que tinha adorado enrolá-­lo na manta
que poderiam ser úteis. (Uma parte impor- quando ele chegou. A irmã deu a manta à
tante desse princípio da individualidade do mãe refugiada e disse: “Espero que seu bebê
ser humano é honrar o arbítrio do refugiado a ame também”.

20 L i a h o n a
O princípio da imparcialidade e podem beneficiar melhor a sociedade com suas habilidades.
O presidente Russell M. Nelson ensinou: Um membro nos Estados Unidos, a irmã Nicole, perguntou a
“Deus não ama uma raça mais do que alguns refugiados que estavam em sua área o que gostariam de
outra. (…) Ele convida todas as pessoas a se aprender para serem mais independentes no dia a dia. Disseram que
achegarem a Ele, ‘negro e branco, escravo e gostariam de aprender a preparar comida americana. Nicole organi-
livre, homem e mulher’ (2 Néfi 26:33). (…) zou uma equipe com outras irmãs da ala para ensinar os refugiados
Hoje, conclamo nossos membros em a fazer pão e biscoitos caseiros e também lhes forneceu utensílios
todos os lugares a liderar os esforços de para continuarem em casa. Ao ensinar os refugiados a cozinhar,
banir atitudes e ações de preconceito”.5 Nicole os ajudou a se tornar mais independentes e adaptados a
Essas palavras do presidente Nelson aju- novas práticas culinárias.6
dam a explicar o princípio da imparcialidade. Podemos também promover a independência dando aos neces-
Ao ministrar, não devemos fazer qualquer sitados a chance de serem solidários uns com os outros. Mesmo
distinção com base em nacionalidade, raça, recebendo nosso apoio, se os necessitados tomarem a iniciativa de
sexo, crença religiosa, classe ou opiniões auxiliar a si mesmos e aos outros, criarão laços com aqueles com
políticas. Servimos aos outros mesmo se quem trabalham, o que os ajuda a fortalecerem as respectivas comu-
forem diferentes de nós. nidades e a se tornarem fontes de apoio mútuo.
Vemos um exemplo de imparcialidade na
parábola de Cristo do bom samaritano em Ministrar de maneira mais semelhante à do Salvador
Lucas 10. O samaritano, que era cultural- Como afirmou o bispo Gérald Caussé, bispo presidente: “Todos
mente um pária entre os judeus, não hesitou nós que vivemos neste belo planeta compartilhamos a sagrada res-
em ajudar uma pessoa de origem diferente. ponsabilidade de cuidar de todos os filhos de Deus, (…) sejam quem
Ele pensou inclusive no futuro da vítima e forem, estejam onde estiverem”.7 As oportunidades mais significativas
procurou fazer tudo o que era necessário de serviço tendem a surgir quando nos concentramos nas pessoas de
para lhe garantir uma boa recuperação. nossa comunidade.
Depois de relatar essa parábola, Cristo Um membro que descobriu as bênçãos de edificar relacionamen-
ensinou a Seus discípulos que o bom samari- tos pessoais com refugiados observou: “O simples fato de desejar
tano agiu como o próximo do homem ferido estender a mão, ajudar e amá-­los pode fazer uma grande diferença.
ao mostrar a ele misericórdia. Em seguida, E, logo que começamos a conhecer uma família, compreendemos
Cristo instruiu: “Vai, e faze da mesma que cada um tem sua própria história”.8 Conhecer a história de outras
maneira” (Lucas 10:37). pessoas nos ajudará a vê-­las como filhas de Deus e a ministrar à
maneira do Salvador. ◼
O princípio da independência Os autores reconhecem e agradecem as contribuições de Sharon
Independência na ajuda humanitária sig- Eubank e Samantha Butterworth, dos Serviços Humanitários da
nifica que servimos sem segundas intenções. Igreja, para este artigo.
Na verdade, devemos servir para incentivar NOTAS
1. Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), “1 Per Cent of
a independência e a autossuficiência. Isso Humanity Displaced: UNHCR Global Trends Report”, 18 de junho de 2020, unhcr.org.
pode significar ajudar os refugiados e demais 2. Patrick Kearon, “Abrigar-­se da tempestade”, A Liahona, maio de 2016, p. 111.
3. Jeffrey R. Holland, “The Mormon Refugee Experience” (transcrição), 12 de setembro
pessoas deslocadas a encontrar meios de de 2016, newsroom.ChurchofJesusChrist.org.
usar suas habilidades em sua nova comuni- 4. Correspondência por e-­mail com Brett Macdonald, 10 de setembro de 2020.
5. Russell M. Nelson, “Permita que Deus prevaleça”, Liahona, novembro de 2020, p. 94.
dade ou a adquirir novas habilidades, como 6. Ver Nicole Johansen, “Baking Class for Congolese Refugees”, ChurchofJesusChrist.org.
aprender um novo idioma ou aprender a 7. Gérald Caussé, em “Bishop Caussé Gives Keynote Address at UN Conference in
Geneva”, 17 de setembro de 2019, newsroom.ChurchofJesusChrist.org.
interagir dentro dos padrões culturais locais. 8. Ver Aubrey Eyre, “‘Reach Out and Help’ Resettled Refugees, Says Relief Society Gene-
Ao se tornarem mais independentes, adqui- ral President” (notícia), 21 de junho de 2019, ChurchofJesusChrist.org.

rem mais controle sobre as próprias decisões

J u n h o d e 2 0 2 1 21
NOSSA ADORAÇÃO
AO SENHOR
em Dubai
Nunca me senti incomodada ou deslocada por ser membro de A Igreja
de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias em um país muçulmano.

Carol Chomjak

M
inha família e eu chegamos a da dádiva que nos ofertaram ao nos permiti-
Dubai, Emirados Árabes Unidos, no rem adorar a Deus ali.
segundo semestre de 2013 e está- O surpreendente foi o quanto minha fé
vamos ansiosos para ir à igreja. Nossas expe- cresceu em virtude da convivência com
riências de frequentar a igreja em diferentes pessoas que não professavam minha reli-
locais sempre foram agradavelmente previ- gião. Nunca vivi em um lugar onde a grande
síveis. Adoramos a experiência de entrar em maioria das pessoas concedesse um lugar tão
uma capela pela primeira vez já compreen- central a Deus em sua vida.
dendo o que acontecerá e instantaneamente
nos tornar parte de um grupo de pessoas que Transmitir confiança em Deus
nunca vimos antes. Descobri como é prazeroso e revigorante
Nossas expectativas se confirmaram ao nos poder falar sobre a influência de Deus e
integrarmos a esse grupo maravilhoso de san- da religião em minha vida sem que outras
tos expatriados oriundos de vários países, e pessoas ignorem o que eu disse ou se sin-
nossa fé e nosso comprometimento cresceram tam ofendidas. Senti-­me assim porque quase
durante nosso período em Dubai. Nunca me todo mundo que conheci em Dubai se
esquecerei de nossos anos em Dubai nem das expressava como eu, o que criava uma pro-
pessoas maravilhosas que conheci por termos ximidade imediata ao nos comunicarmos.
podido frequentar a igreja e adorar ao Senhor Certo dia, eu estava sentada à beira da
da mesma maneira que sempre tivemos o piscina, ao lado de uma mãe que também
privilégio de fazer. Espero que os governantes esperava o filho que estava na aula de nata-
dos Emirados Árabes Unidos tenham noção ção, e comentei estar passando por algumas

22 L i a h o n a
Com meu marido Aaron e nossos filhos visitamos
a praia Jumeirah no litoral do Golfo Pérsico.

Nossa sede da estaca em Abu Dhabi.


FOTOGRAFIAS DA FAMÍLIA CHOMJAK: CORTESIA DA AUTORA
FOTOGRAFIAS DE FUNDO EM DUBAI: GETTY IMAGES

Acampamento no “Crescente Vazio”, o Rub’ al-­


Khali, o maior deserto de areia do mundo.

J u n h o d e 2 0 2 1 23
provações e me sentindo desanimada. Aquela Valores comuns
mãe muçulmana começou a me dizer bondo- E, por fim, devo dizer o quanto apreciei
sas palavras de incentivo e garantiu que Deus viver em um lugar que abraçava os mesmos
olhava por nós e nos ajudaria a vencer nossas valores que meu marido e eu ensinamos aos
lutas. Não o Deus dela. Não o meu Deus. O nossos filhos. Ensinamos nossos filhos a cui-
nosso Deus. dar da saúde não bebendo álcool nem usando
Minha filha e eu estávamos caminhando até drogas. Nós lhes ensinamos princípios morais
o metrô certo dia e uma mulher árabe gentil- e o recato no vestuário e na aparência. Uma
mente nos ofereceu carona. Ela nos contou das coisas de que mais gostei nos primeiros
que tinha um filho com problemas de saúde, dias em Dubai foi um aviso na porta do sho-
o que obrigava a família a buscar tratamento pping descrevendo o que se esperava em
nos Estados Unidos. Sua narrativa deixava termos de vestuário e conduta. Minha família
transparecer sua fé e confiança na vontade e eu imediatamente comentamos que parecia
e no cuidado de Deus. Eu disse a ela que ia uma citação tirada direto do livro de padrões
orar por ela e por sua família, o que ela acei- Para o Vigor da Juventude. Adoramos!
tou com amor e compreensão. Nunca em Dubai, nem mesmo uma vez,
senti-­me incomodada por ser uma mulher que
Compreendidos e aceitos acreditava em Cristo e temia a Deus. Ao con-
Os encontros com outras famílias envolvi- trário, sentia-­me incentivada e fortalecida em
das no ensino domiciliar sempre ocorreram minhas crenças por aqueles com quem travava
em um ambiente seguro e respeitoso. No contato. Nunca vivenciei isso de modo tão
grupo havia praticamente todas as religiões amplo em qualquer outro lugar em que já vivi.
representadas. Quando falávamos sobre Quando minha família ouviu o anúncio
Deus, oração e adoração, cada um de nós de um templo nos Emirados Árabes Unidos
se sentia compreendido e aceito por todos. durante a Conferência Geral de Abril de 2020,
Mesmo entre nossos irmãos cristãos, há mui- ficamos boquiabertos e nos entreolhamos
tas religiões diferentes. Quando me reunia maravilhados. Vibramos ao saber que haverá
com outros cristãos que também ensinavam um templo no Oriente Médio! Meu coração
os filhos em casa, era maravilhoso ser ple- está feliz pelos muitos membros da Igreja que
namente aceita a despeito de minha religião moram naquela região. Sou muito grata aos
específica ou de meu sistema de crenças. governantes dos Emirados Árabes Unidos por
Tínhamos princípios morais e práticas permitirem que essa santa casa seja edificada
comuns devido à nossa devoção à Deidade. entre os edifícios religiosos deles — suas belas
Ao conversar com uma mãe hindu cujos mesquitas espalhadas pelo país. Esta é de fato
filhos recebiam aulas particulares da minha uma época significativa e inesquecível. ◼
filha, percebi a importância da fé e da crença A autora mora em Utah, EUA.
em sua vida quando ela me contou que pas-
sava o dia em meditação e adoração.

24 L i a h o n a
MULHERES DA RESTAU R AÇ ÃO

Telii usou seus


talentos para
compartilhar o
evangelho
Ryan W. Saltzgiver
Departamento de História da Igreja

Assim como Telii, cada um de nós pode


encontrar maneiras de servir aos outros,
ensinar o evangelho e defender nossas
crenças.

E m maio de 1844, Telii e o marido,


Nabota, convidaram Addison Pratt,
missionário norte-­americano santo
dos últimos dias, para morar em sua
casa na ilha de Tubuai, no Pacífico.
Telii e Nabota ensinaram seu idioma
ao élder Pratt e sobre a vida na ilha.
Forneceram-­lhe abrigo e alimento, e
Telii até cuidava das roupas dele. os adaptou ao himene, um estilo de e com o apoio aos missionários. Eles
Muitos curiosos visitaram o élder canto local. Muitas vezes, ela reunia viajaram com o élder Pratt e com
Pratt na casa de Telii e Nabota. Telii pessoas à noite para lhes ensinar as outros missionários quando eles
e Nabota ouviam o élder Pratt inter- canções. Foi nessas reuniões, algumas pregaram em várias ilhas. Em cada
pretar as escrituras, ensinar conceitos das quais duravam até meia-­noite, lugar, Telii ensinava suas canções
do evangelho e dar bênçãos. Telii viu que seus parentes e amigos aprende- às pessoas, providenciava alimento
várias pessoas serem curadas pelas ram pela primeira vez os conceitos do e apoio a seus vizinhos, e trazia os
bênçãos do sacerdócio e começou a evangelho e as escrituras. Vários deles doentes para que os missionários os
convidar todos que estavam doentes foram batizados em seguida. abençoassem. ◼
para serem abençoados pelo élder Posteriormente, quando missioná- Leia mais na versão digital desta edição ou
Pratt. rios protestantes chegaram a Tubuai na história global da Polinésia Francesa,
Telii e Nabota estavam entre os para repreender as pessoas que tinham na Biblioteca do Evangelho sobre como Telii
primeiros tubuaianos a serem batiza- aceitado a Igreja, Telii os enfrentou e serviu.
dos na Igreja. Tornaram-­se os melho- “argumentou tão bem com as escritu- NOTA
ILUSTRAÇÃO: TONI OKA

1. Addison Pratt journal, 16 de setembro de


res amigos do élder Pratt na ilha e o ras” que eles não puderam refutá-­la.1 1845, Biblioteca de História da Igreja, Salt
ajudaram a pregar o evangelho. Telii Telii e Nabota estavam compro- Lake City.

traduziu hinos e escrituras da Igreja e metidos com o ensino do evangelho

J u n h o d e 2 0 2 1 25
VOZES DA IGREJA

A Liahona que Deus me mostrou


Godwin Aonohemba Timiun, Benue, Nigéria

A princípio, parecia-­me uma blasfêmia dizer que a Igreja de Jesus Cristo


tinha sido restaurada.

E nquanto fazia doutorado na


Austrália, eu ia com frequência de
minha casa até os restaurantes pró-
que eu havia encontrado. Ao retornar
para casa, comparei os dois cartões.
Ambos eram da igreja daqueles
o Senhor para alcançá-­la. Concluí
que eu não temeria o Senhor se não
O conhecesse. Assim, o que os mis-
ximos que ficavam no centro comer- missionários. sionários estavam me ensinando era
cial de Melbourne. Durante uma de Quando me visitaram, os missio- importante, porque eu precisava de
minhas idas e vindas, vi no chão um nários testificaram sobre A Igreja conhecimento sobre o Senhor.
cartão com uma imagem de Jesus de Jesus Cristo dos Santos dos Últi- Segundo, concluí que o Senhor
Cristo. Uma voz em minha mente mos Dias. Inicialmente, senti certo havia me direcionado para encontrar
insistiu para que eu pegasse o cartão. incômodo com o testemunho deles. o cartão. Ao longo dos anos em que
Obedeci e cuidadosamente o Parecia-­me uma blasfêmia dizer que vivi em Melbourne, nunca tinha visto
examinei. Em seguida procurei um a Igreja de Jesus Cristo tinha sido um cartão semelhante no chão. Con-
lugar melhor para deixar o pequeno restaurada e que era a única igreja cluí que os cartões não são jogados
retrato do Salvador, mas não encon- verdadeira na Terra, mas dois fatores na rua por descuido.
trei. Então levei o cartão para casa e me mantiveram interessado. Ao receber as lições dos missio-
o coloquei em minha estante. Primeiro, li nas escrituras que “o nários, tornei-­me mais feliz e mara-
Três dias depois, encontrei dois temor do Senhor é o princípio da vilhado com o conhecimento que
missionários ao me dirigir a um sabedoria” (Salmos 111:10). obtinha nesse novo aprendizado. Fui
restaurante. Marcamos um Eu precisava de sabe- logo batizado. Hoje já estou selado
encontro para eles me ensi- doria e gostaria à minha esposa e a meus filhos para

FOTOGRAFIA DE MÃO: GETTY IMAGES; FOTOGRAFIA DE FUNDO: CLEBHER TEX


narem e eles me deram de temer esta vida e para a eternidade e tenho
um cartão semelhante ao o mesmo testemunho que os missio-
nários prestaram a mim: a Igreja de
Jesus Cristo foi restaurada por inter-
médio do profeta Joseph Smith. A
Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos
Últimos Dias é a única igreja ver-
dadeira na Terra e é guiada por um
profeta vivo. ◼

26 L i a h o n a
Angela Andrea
Fernandez Rios
Antofagasta, Chile

Cada pequeno progresso


nos trazia felicidade.
Logo Agatha começou
a mover a cabeça.
Depois começou a se
sentar sozinha. Quando
ela começou a sorrir,
sabíamos que nossa fé e
nossas orações estavam
sendo respondidas.
E, quando ela disse
“mamãe” pela primeira
vez, senti imensa alegria.
SAIBA MAIS

• Leia a história de Angela em


ChurchofJesusChrist.org/go/62127.
FOTOGRAFIA: LESLIE NILSSON

J u n h o d e 2 0 2 1 27
As bênçãos que não reconheci
Nerissa A. Molejon, Quezon City, Filipinas

Precisei passar por uma dificuldade para reconhecer como o Pai Celestial me abençoa.

Q uando cheguei à minha ter-


ceira área na Missão Filipinas
Bacolod, a estação chuvosa já tinha
cachorros, rãs, cobras e mosquitos.
Sempre levávamos lanternas e som-
brinhas. Os membros da Igreja nos
de novo. Fiquei pensando no por-
quê de me sentir subitamente grata
pelos sapatos que já tinha usado
começado. Fui designada para traba- acompanhavam depois do anoitecer. durante a missão toda.
lhar em uma adorável cidadezinha Às vezes, tive vontade de desistir. A resposta me veio em um pen-
cercada de fazendas no noroeste de Eu não sabia se ia conseguir con- samento: “As botas impermeáveis
Negros, uma ilha do sul. tinuar a caminhar pelos canaviais fizeram a diferença”. Até aquele
Em dezembro de 2014, o tufão lamacentos todos os dias, por isso momento, eu não tinha percebido
Ruby atingiu a província. A devasta- orei pedindo ajuda. A resposta veio: quanto conforto meus sapatos plás-
ção não foi muito severa em nossa “Comprem botas impermeáveis!” ticos tinham me proporcionado.
área, mas as estradas de terra se Minha companheira e eu compra- De repente, as dificuldades e os
tornaram lamacentas e escorregadias. mos um par para cada uma. Fiquei desafios da missão desfilaram por
Apesar das condições de tempo des- entusiasmada por ter botas, mas a minha mente. Meus sapatos plásticos
favoráveis, continuamos a trabalhar. empolgação durou pouco, porque tinham sido amigos constantes, mas
Uma de nossas áreas mais promis- eram muito pesadas e desconfortá- não reconhecidos. Enquanto tentava
soras era uma pequena comunidade veis. Além disso, faziam meus pés compreender as emoções conflitan-
nos arredores da cidade. Todos os transpirar e me impediam de cami- tes, senti uma voz dizer: “As prova-
que ensinávamos e os novos conver- nhar rápido. ções e dificuldades da vida surgem
sos ali eram agricultores. Como eles Depois das lições certa noite, para você aprender a reconhecer as
trabalhavam nos campos de cana-­de-­ fomos para casa e trocamos as botas bênçãos e ser grata por elas”.
açúcar durante o dia, ensinávamos à por nossos sapatos de proselitismo Percebi que tinha vivenciado

FOTOGRAFIA: GETTY IMAGES


tarde e à noite. regulares. Então saímos para outro reveses para poder valorizar as
Para chegar à comunidade, compromisso na cidade. Enquanto bênçãos do Pai Celestial. Por causa
tínhamos de caminhar por campos caminhava, senti-­me leve. Foi uma de minhas adversidades, reconheci
lamacentos e tomar cuidado com alegria usar meus sapatos plásticos minhas bênçãos e me tornei grata
por elas. ◼

28 L i a h o n a
Um momento pessoal com o Salvador
Annelise Gardiner, Idaho, EUA

Foi uma experiência única na vida — será?

G ritos ecoavam entre as árvores


enquanto as pessoas corriam
para evitar a lava e as pedras que
momento, tive uma prévia de como
deve ser a sensação de ver meu verda-
deiro Salvador. Entesourei no coração
caíam. Fiquei no fundo do palco aquela experiência espiritual ímpar.
ouvindo a trilha sonora explodir nos Seis meses depois, uma afirmação de se ajoelhar diante Dele e sentir as
alto-­falantes espalhados pelas colinas. do bispo W. Christopher Waddell, marcas dos cravos em Suas mãos e
Nas férias de verão daquele ano, então segundo conselheiro no Bis- Seus pés.
participei do espetáculo do Monte pado Presidente, mudou minha Não precisamos estar em um
Cumora, que encenava vários eventos perspectiva: “Todos os domingos espetáculo teatral para vivenciar o
do Livro de Mórmon. Eu fora desig- podemos ter uma experiência seme- amor e a compreensão do Salvador
nada como dançarina da colheita (ver lhante àquela vivenciada pelos ou vislumbrar um momento pes-
1 Néfi 18:23–24) e descrente (ver 3 sobreviventes da grave destruição soal com Ele. Temos oportunidades
Néfi 1:4–21), mas nós todos, inclusive ocorrida na época da crucificação do semanalmente. Todo domingo, Ele
os coordenadores, faríamos parte da Salvador, conforme descrita no Livro anseia por nos mostrar Seu amor e
cena seguinte. de Mórmon”.1 Sua compreensão. Só precisamos vir
Um holofote brilhava sobre o Fiquei perplexa. Seria mesmo até Ele. ◼
personagem vestido de branco que possível vivenciar a cada semana as NOTA
1. W. Christopher Waddell, “Are You Ready?”,
parecia flutuar sobre o patamar mais mesmas sensações despertadas no
ABAIXO: FOTOGRAFIAS GENTILMENTE CEDIDAS PELA AUTORA

devocional da Universidade Brigham Young,


alto do palco. É claro que ele não era palco naquela noite? Quanto mais 5 de novembro de 2019, p. 6, speeches.byu.
edu.
o Salvador — somente um estudante eu pensava sobre isso, mais perce-
universitário, voluntário como eu. bia que participar do sacramento
Mas, em vez disso, naquele momento é uma experiência pessoal com o
no palco, imaginei o verdadeiro Sal- Salvador, muito parecida com o ato
vador pairando ali.
Imaginei-­O caminhando até mim
e me vi fitando-­O nos olhos. Senti
o Espírito me envolver. Naquele

J u n h o d e 2 0 2 1 29
ENVELHECER COM FÉ

Juntos ou separados
Rod Jeppsen
Consultor clínico de saúde mental

A o aconselhar casais que não têm mais os filhos em casa, eles geral-
mente descrevem a experiência do “ninho vazio” desta maneira: “Tudo
passou tão rápido! Parece que estávamos esperando a chegada do primeiro
filho e de repente todos já cresceram e se foram. Os anos voaram! Agora
olhamos um para o outro e perguntamos: ‘O que temos em comum?’”
Como vai ser sua
Não há lista mágica vida de casal
Talvez você esteja pensando: “Este artigo é exatamente aquilo de que
preciso!”, ou “Isto vem bem a calhar para meu cônjuge!” Você talvez deseje agora que o
uma lista de sugestões surpreendentes para lidar com a vida após a criação ninho está vazio?
dos filhos. Mas há uma verdade que descobri durante os anos de acon-
selhamento a casais: em geral, uma lista de coisas criativas a fazer ou de
maneiras de se reaproximarem raramente funciona por muito tempo —
a menos que haja uma conexão emocional confiável.
Quer vivamos em Ulan Bator, Mongólia, ou em São Paulo, Brasil, somos
todos filhos de Deus. Somos humanos e temos emoções. Podemos expressá-­
las de maneira diferente com base em nossa cultura ou criação, mas todos as
temos — solidão, rejeição, medo, tristeza, felicidade e alegria. Mesmo em cul-
turas em que várias gerações convivem sob o mesmo teto, quando os filhos
crescem e se tornam adultos, os pais tendem a se afastar um do outro.
Casais que sofrem com o ninho vazio me dizem: “Não temos nada mais
em comum”. E em geral eles têm razão caso olhem apenas os gostos e as
vontades de cada um. Sem uma conexão emocional, posso estar no mesmo
cômodo com o cônjuge e ainda me sentir só.
Então o que o casal pode fazer para que os dois mirem na mesma dire-
ção em vez de olharem em direções diferentes? Comecemos por falar dos
ambientes em que fomos criados.

O histórico de cada um afeta o casamento


Todos viemos de ambientes diferentes. Temos experiências com pais,
irmãos, parentes, amigos e outros que moldam e afetam o que fazemos
e esperamos no casamento. Por exemplo, durante nossos anos de cres-
cimento, os que eram responsáveis por nós eram próximos ou distantes
emocionalmente? Com base em nossa criação, podemos nos fazer duas
perguntas essenciais:

30 L i a h o n a
• Que grau de conexão emocional 1. Identifique suas emoções.
ILUSTRAÇÕES: CAROLYN VIBBERT

estamos desejosos de estabelecer Dê um nome a elas, tal como


com o cônjuge? “desespero”, “ansiedade” ou
• Estamos dispostos a permitir que “premência”.
o cônjuge entre em nosso espaço 2. Sinta-­as. Desacelere. Pergunte:
emocional? “Onde e quando observo esse
Quando nos concentramos no sentimento?”
comportamento de nosso cônjuge, 3. Admita que elas existem. Elas
sem levar em conta o que pode tê-­lo têm um propósito. Não culpe
originado no passado, geralmente o você mesmo ou seu cônjuge
resultado é rigidez e intransigência. Se por terem sentimentos. Em
procurarmos entender os momentos vez disso, busque o auxílio e a
difíceis que nosso cônjuge vivenciou orientação do Pai Celestial.
durante seu crescimento e desenvol- 4. Externe-­as. Ao expressar
vermos compaixão, é bem provável emoções ao cônjuge, em geral
que sintamos o desejo de dar mais vocês se aproximam mais um
apoio. Compaixão, ternura e gentileza do outro. Lemos em Tópicos
criam um ambiente propício para a do Evangelho: “O casal pode
expressão de emoções. Aprender a fortalecer seu casamento reser-
conversar com o cônjuge sobre nossos vando um tempo para conver-
sentimentos é um catalizador que pro- sar um com o outro e ouvir
duz segurança e conexão emocionais. um ao outro, ser prestativo e
O presidente Russell M. Nelson respeitoso, e expressar senti-
aconselhou: “[Comunique-se] bem com mentos de carinho e afeto com
seu cônjuge. (…) Os casais precisam frequência”.2
de algum tempo sozinhos para obser-
var, conversar e realmente ouvir um Os cônjuges em qualquer idade
ao outro”.1 fortalecem seu relacionamento
quando aprendem a identificar, admi-
Identificar, sentir, reconhecer tir e compreender suas emoções e a
e compartilhar conversar sobre elas um com o outro.
FOTOGRAFIAS: GETTY IMAGES

Mesmo depois de anos de casa- Pode ser útil aplicar dois princípios
mento, abordar assuntos delicados inspirados: (1) “O marido e a mulher
pode ser difícil. Mas aqui estão têm a solene responsabilidade de
alguns passos para facilitar as coisas: amar-­se mutuamente (…) e cuidar

J u n h o d e 2 0 2 1 31
um do outro”, e (2) o marido e a mulher devem “ajudar-­se mutua- que venhamos a vivenciar o que a
mente, como parceiros iguais”.3 Dra. Sue Johnson chama de ferida
de apego. Tais feridas geram rea-
Use um “arranque suave” ções negativas que se manifestam de
Um conhecido pesquisador de relacionamento conjugal, o Dr. várias formas:
John Gottman, reconhece que, no cerne de um bom casamento, está
• Agressão. Censuramos ou critica­
a capacidade de debater e resolver questões e emoções difíceis. Para
mos nosso cônjuge por não estar
isso, desenvolveu um modelo que ele chama de “arranque suave”. O
disponível usando afirmações
cônjuge que sente o problema prepara cuidadosamente o terreno para
extremas como: “Você nunca me
debater a questão em vez de criticar o outro. Há quatro passos:
ajuda quando preciso. Minhas
1. Expresse como se sente. Concentre-­se no que você está necessidades não significam nada
sentindo, não no que a outra pessoa está fazendo ou dizendo. para você”.
Por exemplo: “Estou preocupado, apreensivo, com medo ou • Apaziguamento. Concordamos
receoso”. Exprima seus sentimentos com frases iniciadas por “eu”, com o ponto de vista do cônjuge
como “Eu sinto…” na esperança de que a discussão
2. Fale sobre uma situação ou um acontecimento específico. termine ou não se intensifique,
Procure ser claro e objetivo. Abstenha-­se de avaliar ou julgar seu mas nada é resolvido, resul-
cônjuge. Inclua o que você tem vivenciado devido ao aconteci- tando em geral em acúmulo de
mento e os respectivos sentimentos. ressentimentos.
3. Expresse uma necessidade positiva. Descreva o que é • Defesa. Apresentamos provas,
importante para você no relacionamento. Peça ao seu cônjuge como em um tribunal, sobre a
que tome medidas positivas para atender às suas necessidades. razão pela qual estamos justi-
Seja gentil em sua solicitação. “Por favor” ou “Eu gostaria muito” ficados em nossas reações nas
podem abrir muitas portas. circunstâncias.
4. Expresse gratidão. Elogie seu cônjuge pelas coisas que estão • Recolhimento. Nós nos reco-
indo bem para você. lhemos e ficamos em silêncio.
Mantemos distância e só falamos
Feridas de apego das necessidades cotidianas, sem
A maioria de nós é profundamente grata por uma conexão emocio-
qualquer interação significativa.
nal com nosso cônjuge ou ansiamos tê-­la. Como diz a escritura, “toda-
• Acossamento. Necessitamos tão
via, nem o homem é sem a mulher, nem a mulher, sem o homem,
intensamente de conexão que con-
no Senhor” (1 Coríntios 11:11). Se em um momento de necessidade
tinuamos a fazer perguntas, exigir
procurarmos nosso cônjuge e, por uma razão ou por outra, ele for
incapaz de nos consolar ou não estiver disponível, é muito provável

32 L i a h o n a
respostas, pedir compromissos e proximidade um do outro, ter contato físico real e sentir uma forte conexão
fazemos tentativas de controlar as emocional são todos aspectos interligados.
iniciativas — não para favorecer o A intimidade emocional promove a conexão e a proximidade, que aprofun-
relacionamento, mas apenas para dam e melhoram a intimidade sexual. É desafiador para o cônjuge que tem
dar vazão a nossas mágoas. baixa libido se envolver sexualmente caso sinta que há pouca ou nenhuma
afinidade emocional. Nesse sentido, uma conexão emocional regular e signifi-
Tais reações não são anormais cativa cria um porto seguro para a intimidade sexual.
quando sentimos ter perdido o vín- Com o envelhecimento, a intimidade sexual pode se tornar mais difícil. Em
culo com a pessoa amada, porém alguns casos, um médico competente ou um terapeuta certificado pode ofe-
são perigosas porque podem gerar recer esclarecimentos e ajuda. Mas creio ser de grande valia manter o contato
um ciclo negativo. Primeiro ocorre a físico por meio de coisas simples como dar um beijo de boa noite, andar de
ferida de apego; em segundo lugar, mãos dadas habitualmente ou se abraçar calorosa e afetuosamente.
há uma reação negativa; depois há
outra reação negativa à primeira; e o Uma lista melhor
círculo se perpetua. Dessa maneira, Porém, caso você ainda não tenha desistido da ideia de achar uma lista de
cada cônjuge contribui para essa coisas criativas a fazer ou de maneiras de se reaproximar do cônjuge durante
situação e também sofre com ela. os anos em que vivem no ninho vazio, aqui vai a boa notícia: se mantiverem
a conexão emocional ou a reacenderem, será muito mais fácil criar uma lista
Intimidade física e emocional baseada nas sugestões de ambos. Essa será a sua lista e, por serem os autores,
É evidente que a intimidade é é mais provável que vocês a coloquem em prática. Os cônjuges que desen-
FOTOGRAFIAS: GETTY IMAGES

um componente importante do volvem conexões emocionais mais fortes tendem a ser unidos e a encontrar
casamento. De fato, pode-­se dizer soluções para seu casamento independentemente de seus hobbies, interesses,
que a intimidade é um componente suas atividades ou da maneira como foram criados. ◼
multifacetado da relação. Sentir a NOTAS
1. Russell M. Nelson, “Fortalecer o casamento”, A Liahona, maio de 2006, p. 38.
2. “Casamento”, Tópicos do Evangelho, topics.ChurchofJesusChrist.org.
3. “A Família: Proclamação ao Mundo”, ChurchofJesusChrist.org.

J u n h o d e 2 0 2 1 33
Doutrina e Como Emily Richards
Convênios 60–62
31 DE MAIO A 6 DE JUNHO tinha “algo a dizer”

E
mily Richards se Certa fonte relatou: pediu que eu falasse em uma
dirigiu ao estreito “Temia-­se que a senhora de reunião, não consegui fazê-­lo
púlpito da Associa- Utah não conseguisse se fazer e então ela comentou: ‘Tudo
ção Nacional de Sufragistas ouvir pelo grande auditório — bem, mas, quando for chamada
em Washington, D.C., a outros oradores tinham fracassado nessa a falar novamente, procure ter algo a
capital dos Estados Unidos. tentativa —, mas, para surpresa e deleite dizer’”.3
Ela sabia que era um dos geral, sua voz clara penetrou os cantos Emily aceitou de coração esse conse-
momentos mais difíceis de mais remotos do edifício e seu discurso lho e fez questão de estar preparada para

ILUSTRAÇÃO: KATHLEEN PETERSON


sua vida. Era o ano de 1889 foi um verdadeiro triunfo”.1 falar quando necessário. Assim como
e as questões do sufrágio Ainda que não existam registros do Emily Richards, devemos estar prepa-
feminino em Utah e do pronunciamento de Emily naquele dia, rados em todas as ocasiões para “[abrir]
casamento plural geravam um jornalista relatou que ela falou por a boca” (Doutrina e Convênios 60:2) e
acalorados debates. Embora cerca de meia hora. Ela proferiu “uma proclamar a palavra de Deus.
nervosa, Emily se sentia apresentação organizada e eru-
preparada para falar em dita”, apresentando fatos e ideias
defesa de seu lar, das que “desarmaram o preconceito”.
mulheres e de sua religião. O repórter afirmou ainda que
as palavras de Emily emanavam
um “espírito doce” que abrandou
NOTAS
1. Orson F. Whitney, History of muitos corações naquele dia em
Utah, 1904, vol. 4, p. 605.
2. Orson F. Whitney, History of
relação ao território de Utah.2
Utah, vol. 4, p. 605. No entanto, Emily nem sempre
3. Em Ao Púlpito: 185 Anos
de Discursos Proferidos por tinha sido uma oradora habilidosa
Mulheres Santos dos Últimos
Dias, ed. por Jennifer Reeder
em público. Ela se lembrava do
e Kate Holbrook, 2017, pp. conselho que recebera de Eliza
xxii–xxiii.
R. Snow, na época presidente
geral da Sociedade de Socorro: “A
primeira vez que a [irmã Snow]

34 L i a h o n a
Doutrina e As revelações vieram de Deus?
Convênios 67–70
21 A 27 DE JUNHO

N
ovembro de
1831: William
E. McLellin
escutava atentamente
ao participar de uma
conferência da Igreja
com Joseph Smith e
alguns outros élderes.
Poucos dias antes,
Joseph tinha dado
a ele uma revelação
que respondia a cinco
perguntas que William
tinha dirigido apenas
a Deus (ver Doutrina
e Convênios 66).
O desafio: Alguns élderes não esta-
Naquele momento da vam convencidos de que as revelações
conferência, os mem- tinham vindo de Deus. Achavam que a
bros tinham decidido linguagem não era refinada o suficiente.
publicar as revelações Em resposta a essa alegação, o Senhor
do profeta em uma lançou um desafio: “Escolhei o mais
sábio dentre vós”. Esse deveria escre-
compilação chamada
ver algo “semelhante” às revelações.
Livro de Mandamen- Se fosse capaz de fazê-­lo, os élderes
tos (mais tarde cha- poderiam dizer que as revelações não
mada de Doutrina e eram verdadeiras. Se não conseguisse,
Convênios). os élderes precisavam “testificar” que
as revelações provinham de Deus (ver
Doutrina e Convênios 67:5–8).
RETRATO DE WILLIAM E. MCLELLIN, DE KENNETH CORBETT; ESBOÇO DE KEITH BEAVERS

DEBATE
Como obtemos um tes- O resultado: William, que tinha sido “dadas por inspiração de Deus” e que
professor, assumiu o desafio do Senhor e eram “benéficas a todos os homens e (…)
temunho das revelações
tentou redigir uma revelação. Não con- verdadeiras”.2
recebidas pelos profetas seguiu.1 O fracasso de William fortaleceu
NOTAS
hoje em dia? seu testemunho de Joseph Smith como
1. Ver “History, 1838–1856, volume A-­1 [23
profeta. Com outros élderes presentes à December 1805–30 August 1834]”, p. 162,
conferência, William assinou uma decla- josephsmithpapers.org.
ração afirmando saber “por meio do 2. Ver “Testimony, circa 2 November 1831”, p. 121,
josephsmithpapers.org; ortografia atualizada.
Espírito Santo” que as revelações eram

J u n h o d e 2 0 2 1 35
Doutrina e
Convênios 63–66
7 A 20 DE JUNHO
O que é Sião?

V
árias vezes em A cidade de Sião família ao se mudar para
Doutrina e Convê- Por meio do profeta lá: “Ocupamos (…) uma
nios, a palavra Sião Joseph Smith, o Senhor ins- casinha de tijolos que meu
truiu os santos dos últimos pai alugou para o inverno,
é usada para designar um
dias em 1831 a se reunir e pois não tivéramos tempo de
local de coligação física edificar Sião em Independence, construir. Passamos um inverno
para os santos (a cidade Missouri (ver Doutrina e Convênios muito precário, pois as pessoas do
de Sião, por exemplo) ou 62:2–4; 63:24–48). Aqui estão algumas local só comiam praticamente pão de
como um nome que define descrições de Sião na época: milho e bacon e não cultivavam quase
o povo do Senhor — “os Situava-­se em uma região que nada além disso; por isso as opções de
continha apenas “dois ou três esta- compra eram bastante limitadas, mas
puros de coração” (Dou-
belecimentos comerciais e 15 ou 20 lembro-­me de termos adquirido um
trina e Convênios 97:21). casas, a maioria construída com troncos barril de mel e, com muito custo, uns
Um melhor conhecimento talhados em ambos os lados”.1 poucos vegetais. Entretanto, não havia
dessas diferentes defini- Outra descrição dizia que Indepen- pão de trigo, pois era impossível com-
ções pode ampliar nossa dence era “promissora”, mas continha prar esse cereal naquela terra”.3
compreensão de onde Sião apenas “cinco ou seis cabanas rús- Partindo desse início humilde, em
ticas de troncos, duas ou três julho de 1833, os santos já tinham
está e quem habita nela.
casas de ripas, dois ou três construído uma comunidade fervilhante
hotéis — a bem dizer, taber- de 1.200 habitantes. No entanto, em
nas — e algumas lojas”.2 meados do segundo semestre, turbas os
Eliza Lyman descreveu expulsaram do condado e depois, em
as poucas posses de sua 1838, de todo o estado do Missouri.

NOTAS
1. Ezra Booth, “Mormonism—
No. VI”, Ohio Star, 17 de
novembro de 1831, p. 3.
2. Charles Joseph Latrobe, The
Rambler in North America,
1835, vol. 1, p. 104.
3. Diário de Eliza P. Lyman,
fevereiro de 1846–dezembro
de 1885, pp. 8–9, Biblioteca
de História da Igreja, Salt Lake
City; ortografia e pontuação
atualizados.

36 L i a h o n a
ONDE ESTÁ SIÃO HOJE? COMO ESTABELECEMOS SIÃO HOJE EM
“Agora a reunião está acontecendo em DIA?
cada país. O Senhor decretou o estabele- “Sião é Sião por causa do caráter, dos atributos
cimento de Sião (ver Doutrina e Convênios e da fidelidade de seus cidadãos. Lembrem-­se: ‘O
6:6; 11:6) em cada local no qual Ele concedeu Senhor chamou seu povo Sião, porque eram unos
a Seus santos seu nascimento e sua nacionali- de coração e vontade e viviam em retidão; e não havia
dade. O local de reunião dos santos brasileiros é no Bra- pobres entre eles’ (Moisés 7:18). Se quisermos estabelecer
sil; o local de reunião dos santos nigerianos é na Nigéria; Sião em nossa casa, nosso ramo, nossa ala e nossa estaca,
ILUSTRAÇÃO DE CONGREGAÇÃO CORTESIA DO MUSEU DE HISTÓRIA DA IGREJA
INDEPENDENCE, MISSOURI, 1831, DE AL ROUNDS; ESBOÇO DE GREG NEWBOLD;

o local de reunião dos santos coreanos é na Coreia. Sião devemos seguir esse padrão. Será necessário (1) tornar-­nos
são ‘os puros de coração’ (Doutrina e Convênios 97:21). unos de coração e vontade, (2) tornar-­nos individual e cole-
Sião é onde os santos justos estão.” tivamente um povo santo e (3) cuidar dos pobres e neces-
Presidente Russell M. Nelson, presidente de A Igreja de Jesus Cristo dos sitados com tamanha eficácia que eliminemos a pobreza
Santos dos Últimos Dias, “O futuro da Igreja: Preparando o mundo para a do nosso meio. Não podemos esperar até que Sião venha
Segunda Vinda do Salvador”, Liahona, abril de 2020, pp. 9–10.
para que essas coisas aconteçam — Sião virá apenas se elas
acontecerem.”
Élder D. Todd Christofferson, do Quórum dos Doze Apóstolos, “A Sião vem,
pois, depressa”, A Liahona, novembro de 2008, p. 38.

J u n h o d e 2 0 2 1 37
DOUTRINA E CONVÊNIOS 63

Tudo o que vem


Élder Jorge M.
Alvarado
Dos setenta

do alto é sagrado
Os mandamentos do Senhor não devem ser tratados com
leviandade.

Q
uando eu tinha 15 anos de idade, decidi pôr à prova a lei do dízimo. Eu tra-
balhava como empacotador de compras em Ponce, Porto Rico. A cada duas
horas, eu tinha um intervalo de 15 minutos. Eu aproveitava esse tempo para
contar quanto ganhara de gorjetas e, em seguida, separava o dinheiro do dízimo.
Depois de fazer isso sistematicamente, notei que as gorjetas aumentaram! Eu não
sabia se era resultado de intervenção divina, mas sabia que estava guardando um
mandamento e que, quando guardamos os mandamentos, mais cedo ou mais
tarde recebemos bênçãos.
É claro que as bênçãos nem sempre vêm exatamente da maneira esperada.
Depois de pagar o dízimo por algum tempo, eu sabia que o que estava fazendo
era sagrado. Eu não estava apenas doando dinheiro para a Igreja. Estava tratando
com respeito o que o Senhor dissera e me assegurando de que meu dízimo fosse
pago pronta e regularmente. Eu estava entusiasmado por poder ajudar a edificar o
reino de Deus.

Deixei o dízimo para trás


Então, certo domingo de manhã, acordei mais tarde que de costume. Meus
pais queriam chegar cedo à igreja, então, quando finalmente me levantei, foi uma
correria. Já na capela, percebi que tinha deixado meu dinheiro do dízimo para
trás. “Pago na semana que vem”, pensei. Mas não me senti bem. Queria que o Pai
Celestial soubesse que eu era obediente.
Depois das reuniões, ao chegarmos em casa, descobrimos que nossa casa
ILUSTRAÇÕES: DILLEEN MARSH

havia sido assaltada. Joias, uma câmera de vídeo — praticamente todos os obje-
tos de valor tinham sido furtados. Corri até meu quarto e examinei a gaveta onde
tinha deixado meu dízimo. Ele também havia desaparecido. Foi aí que me senti
mal mesmo. Senti que, se tivesse me lembrado de levar o dízimo para a igreja, ele
não teria sumido.

J u n h o d e 2 0 2 1 39
No entanto, Booth logo perdeu a fé
naquilo que tinha testemunhado e se tornou
um crítico do profeta. Ele não havia entendido
que sinais e milagres por si só não produzem
uma fé duradoura. Quando ele começou a
tratar levianamente as coisas sagradas, perdeu
o rumo e se tornou um dos “iníquos e (…)
rebeldes” (versículo 2).
Parece-­me interessante que o Senhor,
quando fala sobre obediência, fala também
sobre Suas escolhas. As escolhas Dele não
são aleatórias ou arbitrárias, mas se baseiam
em doutrina e em princípios. Na seção 82
Corri até meu quarto Em seguida, senti-­me propenso a dizer de Doutrina e Convênios, Ele declara: “Eu, o
e examinei a gaveta algo a meu pai: “Não se preocupe. Tudo Senhor, estou obrigado quando fazeis o que
onde tinha dei-
ficará bem. A pessoa que nos roubou levou eu digo” (versículo 10).
xado meu dízimo.
Ele também havia dinheiro do Senhor, portanto levou algo Para mim, o significado disso é que Ele pro-
desaparecido. sagrado”. Achei que o Senhor não deixaria mete que, se formos obedientes, Ele sempre
isso passar despercebido. cumprirá Suas promessas. Ele vai nos proteger.
Mas creio que o Senhor desejava que eu Ele vai nos orientar. E ainda que não deva-
aprendesse a ser mais cuidadoso com o que mos procurar sinais para convencer os outros
pertencia a Ele. Logo o ladrão foi preso e tudo da verdade ou para provar nossa fé, sinais e
foi recuperado — exceto o dinheiro de meu milagres vão ocorrer como fruto da fé em Jesus
dízimo. Para consertar a situação, retirei das Cristo, de acordo com a vontade de Deus (ver
minhas economias o mesmo valor e o levei Doutrina e Convênios 63:9–10). É nossa obe-
ao bispo no domingo seguinte. Desde essa diência que determina se o Senhor vai poder
época, sempre procurei pagar meu dízimo nos abençoar. Isso é muito profundo para mim.
prontamente. Sei que o dízimo é uma lei de
Deus e isso significa que devo levá-­la a sério. Seus julgamentos são justos
Outro princípio da obediência é que a
Não trate com leviandade as coisas sagradas destruição e os julgamentos infligidos aos
Na seção 63 de Doutrina e Convênios, o iníquos, embora seja algo difícil de ouvir ou
Senhor ensina um princípio sagrado: a obe- imaginar, serão justos. Se a obediência não
diência. “Eis que eu, o Senhor, faço ouvir fosse ensinada e esperada, isso não pode-
minha voz, e ela será obedecida” (versículo ria ocorrer. Mas, como as leis eternas têm
5). O que Ele diz “é sagrado e deve ser men- consequências eternas, mesmo aqueles que
cionado com cuidado” (versículo 64). receberem as consequências saberão que os
Na época em que essa revelação foi rece- julgamentos do Senhor são justos (ver Mosias
bida, Joseph Smith estava sendo criticado por 16:1). “Toda carne saberá que eu sou Deus”
várias pessoas que tinham se voltado contra (Doutrina e Convênios 63:6).
ele. Uma delas foi Ezra Booth. Booth tinha As recompensas e as punições pertencem
sido ministro de outra igreja, mas decidiu ser ao Senhor. Quando alerta os rebeldes, Ele o
batizado depois de ver Joseph curar o braço faz por amá-­los, para incentivá-­los a retor-
de uma mulher pelo poder do sacerdócio. nar ao caminho correto enquanto ainda é

40 L i a h o n a
possível, “pois sem fé homem algum agrada a O fato de nos reunirmos em Sião constitui uma mensagem aos
Deus” (versículo 11). outros. Em outras palavras, as pessoas devem notar que não partici-
“O que permanecer na fé e fizer a minha pamos de certas coisas. Abandonamos certos lugares, fugimos para
vontade, vencerá” (versículo 20), “mas ao que os templos, para as capelas e para nosso lar. Deve ficar claro para os
guarda meus mandamentos darei os mistérios outros o que consumimos e o que não consumimos, ao que assisti-
de meu reino; e será como uma fonte de água mos e ao que não assistimos, o que lemos e o que não lemos, e o que
viva vertendo para a vida eterna” (versículo 23). dizemos e o que não dizemos. Nossa fuga do mundo deve ser notada,
o que em si já será uma mensagem aos desobedientes.
“Tanto por palavra como por fuga” Além disso, o Senhor espera que usemos nossa voz. Enquanto
De fato, o Senhor ressalta que não somente fugimos dos males do mundo, também devemos declarar as glórias
nós mesmos devemos ser obedientes, mas do evangelho. De uma maneira natural e normal, as pessoas ficarão
que devemos incentivar os outros a proce- curiosas sobre o motivo de não participarmos de certas coisas mun-
derem da mesma forma. Ele diz: “E que todo danas, e devemos ter a coragem de responder às suas perguntas, não
homem [e mulher] tome a retidão em suas com condescendência ou pena, mas por amor e um desejo genuíno
mãos e cinja seus lombos com a fidelidade; de salvá-­las.
e aos habitantes da Terra levante uma voz de Como esclareceu o élder Dieter F. Uchtdorf, do Quórum dos Doze
advertência e declare, tanto por palavra como Apóstolos: “Não estou pedindo que vocês fiquem de pé em uma
por fuga, que a desolação virá sobre os iní- esquina com um megafone na mão citando versículos do Livro de
quos” (versículo 37). Mórmon em voz alta. O que estou pedindo é que sempre busquem
“Tanto por palavra como por fuga.” Adoro oportunidades de falar sobre suas crenças de modo natural e normal
esse trecho. Os obedientes fugirão do mundo com as pessoas — tanto pessoalmente quanto online. Estou pedindo
e se reunirão em Sião. No passado, isso signifi- que, em todos os momentos, sirvam ‘de testemunhas de Deus’ (Mosias
cava se reunir na sede da Igreja; hoje significa 18:9) a respeito do poder do evangelho — e quando necessário, usem
se reunir em lugares de retidão, inclusive no palavras”.2
templo. Como ensinou o presidente Russell M.
Nelson: “Cada um de nós precisa do contínuo Faça o que é certo
fortalecimento e da instrução espiritual que Quando, há muitos anos, comecei a pagar o dízimo, não compreen-
são possíveis apenas na casa do Senhor”.1 dia o significado pleno do que estava fazendo. Mas eu sabia que era
correto e que eu deveria tratar os mandamentos de Deus com serie-
dade, porque o que vem do alto é sagrado. Acho interessante o fato
de a seção 63 também falar sobre decisões financeiras e doações à
Igreja, além de nos dar esta promessa do Senhor: “Aquele que for fiel e
perseverar, vencerá o mundo.
Aquele que enviar tesouros à terra de Sião receberá uma herança
neste mundo e também uma recompensa no mundo vindouro; e suas
obras segui-­lo-­ão” (versículos 47–48). ◼
NOTAS
1. Russell M. Nelson, “Tornar-­nos santos dos últimos dias exemplares”, Liahona,
novembro de 2018, p. 114.
2. Dieter F. Uchtdorf, “Obra missionária: Compartilhar o que está em seu coração”,
Liahona, maio de 2019, p. 17.

J u n h o d e 2 0 2 1 41
JOVENS ADULTOS

42 L i a h o n a
COMO SE CURAR
de quaisquer dificuldades —
Um passo de cada vez
Quer você esteja procurando se curar de um vício em
pornografia, de problemas de saúde mental, traumas ou
quaisquer outras dificuldades, este guia poderá ajudá-­lo
a encontrar cura por meio de Cristo.

E
Equipe da Liahona

“ fui curado instantaneamente!”


“E nunca mais fui tentado pela
“Neste momento, tenho a impressão de que
nunca vou conseguir vencer esta luta.”
pornografia!” Nossa mente tenta nos convencer do con-
“E minha depressão desapare- trário, mas a verdade é que todos podemos
ceu por completo. Nem mesmo sinto mais ser curados. Essa é a promessa que o Salvador
tristeza!” nos oferece. A cura pode não ocorrer em um
Essas exclamações parecem boas demais único momento — de fato, é pouco provável.
para ser verdade, certo? Contudo, com esforços sinceros e a ajuda Dele,
Todos já lemos histórias com “finais felizes” é definitivamente possível. Aqui estão alguns
dessa natureza. Histórias sobre pessoas que indicadores de como procurar o poder de cura
enfrentam desafios difíceis e, em um momento do Senhor, um passo de cada vez.
glorioso, superam as tentações, fraquezas ou
aflições e são completamente curadas.
Ao ler esse tipo de histórias, podemos RECONHECER que a cura é
sem dúvida nos sentir inspirados e cheios uma jornada
de esperança de também encontrar a cura A primeira coisa que precisamos compreen-
definitiva para nossas dificuldades e nossos der quando estamos avançando em direção à
desafios, mas com frequência outros pensa- cura é que ela é uma jornada de crescimento.
mentos podem se insinuar em nossa mente, Aqui estão algumas verdades sobre essa jornada
tais como: que devemos ter sempre em mente:
“Por que ainda estou lutando contra isso
• Ao buscarmos o Salvador ao longo dessa
se já fiz tantas coisas para vencer?”
jornada, Ele pode nos guiar a recursos
“Estou fazendo tudo a meu alcance para
e à ajuda de que necessitamos e nos
me voltar para o Salvador, mas ainda não
dar força e orientação em nossos esfor-
consigo perdoar à pessoa que me magoou.”
ços. “Quando o Salvador perceber que

J u n h o d e 2 0 2 1 43
verdadeiramente desejamos nos achegar a Ele — Senhor trabalha com os desejos de nosso coração. Como
quando Ele sentir que o maior desejo de nosso cora- ensinou o presidente Russell M. Nelson: “O Senhor ama o
ção é invocar Seu poder em nossa vida —, seremos esforço porque o esforço traz recompensas que não viriam
guiados pelo Espírito Santo para saber exatamente o de outra forma”.2
que devemos fazer.” 1 Então, quando você ainda sofre por ceder à tentação,
• O crescimento não é alcançado em um dia, um mês quando ainda está envolto pelas trevas dos desafios da
— às vezes, nem mesmo em anos. O tempo necessá- saúde mental ou quando lembranças de um trauma pas-
rio à cura será diferente para cada pessoa. sado ainda lhe tiram o sono, simplesmente continue ten-
• Quer você esteja tentando se curar de hábitos indese- tando. Esforce-­se, desenvolva resiliência e se apegue à fé e
jáveis, vícios, problemas de saúde mental ou mesmo esperança em Jesus Cristo.
de um trauma, lembre-­se de que a cura geralmente Ao continuar se esforçando, os desejos justos de seu
envolve a mudança de hábitos arraigados em nossa coração serão satisfeitos e você vivenciará os milagres da
maneira de pensar e reagir. E isso leva tempo. cura (ver Mosias 2:41).
• Em geral precisamos aprender a reconhecer pro-
blemas subjacentes, como padrões de pensamento
nocivos e sentimentos difíceis antes de nos propormos PRATICAR a autocompaixão
a vencê-­los. É normal fraquejarmos em diferentes aspectos do pro-
• O processo de cura é cheio de altos e baixos. cesso de cura. Mas ser bondosos e pacientes com nós
Caso se sinta desanimado, saiba que não está só — mesmos é tão importante quanto o esforço de superação. A
mesmo Néfi teve seus momentos de luta e recaídas (ver autoflagelação nunca ajudou ninguém a ser bem-­sucedido.
2 Néfi 4). Depois da morte do pai, aquele profeta de fé Seja qual for o estágio de cura em que você se encontre,
inabalável escreveu sobre suas frustrações diante das tris- seja bondoso consigo mesmo e lembre-­se de que o Salvador
tezas, angústias e tentações. Mas Néfi enfim testifica que sempre terá compaixão por você. Eis algumas maneiras de
continuaria a se esforçar e a confiar no Senhor porque sabia demonstrar autocompaixão:
que Ele o ajudaria a vencer suas batalhas no final.
• Lembre-­se do tempo que a cura requer e dos enormes
esforços que ela pressupõe.
• Compreenda que muitos problemas são fruto de
CONHECER o poder do esforço e dos necessidades não satisfeitas ou de mecanismos desen-
desejos justos volvidos na infância para suportar pressões e são
Em geral não prevemos que o caminho da cura de expe-
difíceis de mudar.
riências difíceis esteja repleto de reveses, erros, desânimo,
• Reconheça que, mesmo tendo retrocessos, você con-
impaciência e turbulência. É bem provável que não venha
tinua mudando. Lembre-­se de que os desejos de seu
a ser uma trajetória retilínea, sem percalços nem esforço,
coração ajudarão a alcançar mudanças duradouras.
desde a primeira tentativa. Mas é assim mesmo. Afinal,
• Concentre-­se em seu progresso. Veja o quanto você já
são esses reveses que nos ajudam a confiar mais em nosso
avançou. (Se ainda não tiver encontrado um modo de
Salvador.
aferir seu progresso, crie um.)
O Senhor não espera que vençamos tudo de imediato.
• Trate a si mesmo como trataria alguém a quem você
Mas Ele sem dúvida espera que nos esforcemos e tenhamos
ama que estivesse buscando a cura.
o desejo de ser curados, porque os desejos mais justos de
• Pense no quanto você já aprendeu e em como suas
nosso coração fazem toda a diferença para alcançarmos
dificuldades ajudaram no seu crescimento espiritual.
nossas metas e nos tornarmos quem desejamos ser. O

44 L i a h o n a
O Pai Celestial tem uma maneira de transformar LEMBRAR-­SE do poder de cura de
nossos desafios difíceis em experiências para nosso Jesus Cristo
próprio bem (ver Doutrina e Convênios 122:7). Em suma, onde quer que estejamos no caminho da cura,
• Compartilhe suas batalhas com alguém que lhe saibamos que podemos ser curados inteiramente por causa
dará apoio e amor em sua jornada de cura. Mas não do Salvador Jesus Cristo e Sua Expiação.
deixe de impor limites e pedir-­lhe que respeite sua Às vezes falamos sobre a Expiação de Jesus Cristo sem
privacidade. realmente saber como ter acesso ao Seu bálsamo curador,
mas o processo de fazê-­lo é na realidade bem simples — e
pessoal (ver 1 Néfi 15:14). Ao lançarmos mão das ferra-
USAR tanto ferramentas práticas mentas espirituais que nos foram concedidas — como a
quanto espirituais oração, o jejum e a frequência regular à igreja e ao templo
O Pai Celestial e Jesus Cristo sempre estão próximos para —, podemos nos ligar ao Salvador de maneira individual.
nos ajudar e nos guiar durante nosso processo de cura. Se procurarmos Sua influência em nossa vida diariamente,
Eles já ofereceram inúmeras ferramentas espirituais como a também conseguiremos ver que Ele está conosco.
oração, o jejum, as escrituras e a frequência regular à igreja Lembre-­se de que a cura vem em estágios ao nos apro-
e ao templo, e elas podem exercer uma influência determi- ximarmos do Salvador, embora também seja importante
nante na jornada até a cura. compreender que algumas de nossas feridas mais profun-
O Pai Celestial também nos concedeu recursos além das das e desafios mais difíceis podem não ser plenamente
ferramentas espirituais para nos ajudar na cura e deseja curados nesta vida. Apesar disso, Sua graça pode nos
que os usemos. Por exemplo, o élder Kyle S. McKay, dos carregar e suster, mudar nossa perspectiva ou nos dar força
setenta, falou a respeito de uma mulher que tinha um vício para continuar em frente e encontrar a verdadeira alegria
em drogas. E embora ela sentisse a “bondade imediata de de qualquer maneira.
Deus”, ainda assim precisava da ajuda de outras pessoas Até lá, guardemos no coração a promessa do élder
nos momentos de crises mais graves. O élder McKay expli- Ulisses Soares, do Quórum dos Doze Apóstolos: “Testifico
cou: “A cura e a libertação final (…) levaram muito tempo que, ao nos esforçarmos continuamente para vencer nossos
— meses de tratamento, orientação e aconselhamento, desafios, Deus nos abençoará com o dom da fé para sermos
nos quais ela foi consolada e às vezes amparada por Sua curados e com o dom de operar milagres. Ele fará o que
bondade”.3 não somos capazes de fazer por nós mesmos”.5
Nossa cura demandará esforço e ferramentas. Médicos, Algum dia, “tudo será restaurado” (Alma 11:44), e
profissionais de saúde mental, medicação e grupos de vamos poder declarar: “Fui curado completamente”.
apoio são recursos excelentes para ajudar na cura. O élder Será um dia maravilhoso! ◼
Jeffrey R. Holland, do Quórum dos Doze Apóstolos, aconse- NOTAS
1. Russell M. Nelson, “Invocando o poder de Jesus Cristo em
lhou: “Procurem o conselho de pessoas de confiança, com
nossa vida”, A Liahona, maio de 2017, p. 42.
formação profissional comprovada, competência e bons 2. Russell M. Nelson, em Joy D. Jones, “Um chamado particular-
valores. (…) Nosso Pai Celestial espera que usemos todos mente nobre”, Liahona, maio de 2020, p. 16.
3. Kyle S. McKay, “A solícita bondade de Deus”, Liahona,
os maravilhosos dons que Ele concedeu nesta maravilhosa maio de 2019, p. 106.
dispensação”.4 4. Jeffrey R. Holland, “Como um vaso quebrado”, A Liahona,
novembro de 2013, p. 41.
5. Ulisses Soares, “Tomar sobre nós a nossa cruz”, Liahona,
novembro de 2019, p. 114.

J u n h o d e 2 0 2 1 45
JOVENS ADULTOS

Onde estava o milagre


instantâneo que eu esperava?

V
Quando lia sobre Erika Lamb

as curas instan- enho orando por um de um milagre que parece não vir e quando os céus
milagre há meses. parecem silenciosos? Como podemos sair de situações
tâneas propor- Em setembro de em que ficamos presos a expectativas criadas pela vida?

cionadas pelo 2019, passei por uma


cirurgia dos seios da face
Tenho remoído essa questão há algum tempo, tentando
compreender minha situação. Também tenho pensado
Salvador, ficava e, devido a uma complicação ines- sobre todos os milagres que já encontrei nas escrituras.
perada, perdi as funções de um dos Estudei todos os relatos de quando Jesus realizou um
desanimada olhos. Fiz uma operação de emer- milagre ou curou alguém durante Seu ministério. E, para

porque não via gência para procurar corrigir o olho


afetado, e o cirurgião estava con-
ser honesta, a princípio fiquei aborrecida, porque, toda
vez que uma pessoa era trazida a Cristo, Ele a curava
tal bênção em fiante em uma cura completa em três imediatamente.
meses. Também recebi várias bênçãos
minha vida. do sacerdócio e em cada uma recebi
• A mulher com um fluxo de sangue toca a borda
de Suas vestes e é instantaneamente curada (ver
a promessa de plena recuperação.
Marcos 5).
Mas os três meses se passaram e
• O cego de nascença pede para ser curado, e Cristo
nada mudou.
o manda se lavar no tanque de Siloé. No momento
A cura me foi prometida. Várias
em que ele o faz, é curado (ver João 9).
vezes. No entanto, diversas datas
• O leproso busca a cura e — em um instante —
para cirurgias não deram certo, sofri
fica completamente livre da enfermidade (ver
outros reveses e decepções, e meu
Mateus 8).
olho ainda está longe de ser curado.
• A filha de Jairo, que havia falecido, levanta-­se dos
Essa experiência me causou
mortos por ordem do Salvador. De imediato! (Ver
meses de desafios mentais, emo-
Marcos 5.)
cionais, espirituais e físicos. Mas,
• O homem possuído por maus espíritos é liber-
toda vez que recebo outra bênção,
tado imediatamente quando Cristo o chama (ver
sempre me é prometida a cura.
Lucas 4).
Isso me fez pensar. Como deve-
mos agir quando estamos à espera

46 L i a h o n a
Tudo isso não fazia o menor sentido para mim. Todos Eu gostaria de saber quanto tempo minha jornada e minha provação vão
esses milagres foram instantâneos, por que então eu durar, mas talvez o importante seja justamente não saber. Os desafios trazem
ainda não recebera o meu? Parecia muito injusto. oportunidades. Podemos permitir que nossas dificuldades nos moldem para
Mas, após bastante reflexão, a verdade me atingiu sermos a melhor versão de nós mesmos. Podemos usar esse tempo de espera
em cheio: mesmo que todos esses milagres tenham sido para nos aproximar do Deus que nos criou. Podemos nos sentir mais próxi-
imediatos, as pessoas curadas já tinham enfrentado seus mos de outros que sofrem e nos colocar no lugar deles.
desafios e sofrimentos por muito tempo. Sempre temos chances de fazer o bem, crescer e nos desenvolver
enquanto esperamos um milagre.
• A mulher com o fluxo de sangue sofrera por 12
Apego-­me à esperança e à fé de que meu milagre de cura virá e que
anos e tinha exaurido todos os seus recursos emo-
algum dia as promessas que recebi serão cumpridas. Enquanto isso, posso
cionais e financeiros antes de o milagre acontecer.
suportar minha jornada com essa dor. Posso usar esse tempo de espera para
• O deficiente visual não conhecera nada além da
me tornar melhor, mais sábia, mais forte, mais bondosa, mais paciente e
cegueira durante toda a vida antes de ser aben-
mais humilde. Posso aprofundar meu relacionamento com o Pai Celestial e
çoado com a visão.
com meu Salvador, Jesus Cristo.
• O leproso padecera a terrível progressão e a dor da
Seja qual for o milagre ou a promessa que você esteja aguardando agora
doença, vivendo como pária por sabe-­se lá quanto
e por maior que já seja o tempo de espera, não perca a esperança. Tudo o
tempo antes de ser curado.
que o Pai Celestial lhe prometeu virá. Mas os milagres ocorrem no tempo
• A filha de Jairo tinha sofrido até a morte antes de
Dele, não no nosso. Não perca a esperança Nele. Não pense que os céus
o milagre ocorrer.
estão silenciosos. Ele está preparando o caminho para você. Concentre-­se
• O homem possuído tinha estado sob o jugo de
no presente e faça o que puder para prosseguir hoje em sua jornada. Um
espíritos imundos por algum tempo antes de rece-
passo de cada vez. Continue agarrando-­se firmemente à esperança enquanto
ber a libertação.
espera seu milagre.
Isso me mostrou que às vezes os milagres não ocor- Ele virá. ◼
rem exatamente quando o sofrimento começa. Cada um A autora mora em Utah, EUA.
teve sua jornada de dor e desafios antes de ser curado.
E, embora algumas jornadas tenham sido mais longas
que outras, os milagres de cura sempre chegaram.

J u n h o d e 2 0 2 1 47
JOVENS ADULTOS

M A I S PA R A V O C Ê !

Você pode encontrar mais artigos voltados para os jovens


adultos na versão digital da Liahona de junho, na Biblio-
teca do Evangelho (em ChurchofJesusChrist.org ou no
aplicativo para dispositivos móveis).
Este mês, você encontrará mais artigos sobre a obten-
ção da cura — de abusos ou maus-­tratos, vícios, traumas,
decepções e mais — por meio da Expiação do Salvador.

A RT I G O S E M F O R M AT O D I G I TA L

Confiar em Cristo sendo membro


gay da Igreja e amputado
Sheila Ruiz Leon, Utah, EUA

Como posso perdoar se é tão difícil?


Sierra Shirk, Tennessee, EUA

PUBLICAÇÃO SEMANAL
PA R A J O V E N S A D U LT O S

Encontre também novos artigos na seção de publi-


cação semanal para jovens adultos, no aplicativo
Biblioteca do Evangelho.

Do campo missionário:
O que o Pai Celestial me ensinou
sobre a mudança de coração
Nome omitido
FOTOGRAFIA: GETTY IMAGES

48 L i a h o n a
Milhões de pessoas perderam o lar nos
Refugiados e como a últimos anos, o que se transformou em
Igreja está ajudando uma das maiores crises humanas que o
mundo já enfrentou.

100 milhões
SÍRIA

de pessoas foram deslocadas à força na última década

SUDÃO DO SUL MIANMAR


AFEGANISTÃO
53% dessas
pessoas vêm de

67% permanecem no
país de origem, mas care-
cem de recursos básicos
33% são refugiados que
foram forçados a deixar seu
país — a metade deles com
4
países
menos de 18 anos de idade

Os ServiçosHumanitários
da Igreja participaram de
387
projetos
em
48 países e territórios durante 2019
para refugiados

1.100 estudantes
receberam material escolar
IÊMEN

40 salas de aula
construídas
48.000 crianças
receberam refeições nutritivas

UGANDA

8 centros de desenvolvimento 60 salas de aula portáteis para


ILUSTRAÇÕES: AUGUSTO ZAMBONATO

da primeira infância construídos


1.800 crianças deslocadas
para servir a quase3.000 internamente sem escola

crianças refugiadas e 210 AFEGANISTÃO


professores certificados
JOVENS ADULTOS

Passos para a cura


por meio de Cristo

42

A TRINDADE
TRÊS SERES, UM
PROPÓSITO

6
SÍNDROME DO NINHO
VAZIO
COMO MANTER A
PROXIMIDADE COM
O CÔNJUGE

30
DOUTRINA E CONVÊNIOS
INSPIRAÇÃO AO LER
AS SEÇÕES 60–70

34, 38
T1

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