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SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO ........................................................................................................ 4
1. INTRODUÇÃO AO ACONSELHAMENTO CRISTÃO .............................................. 5
1.1. O Aconselhamento ao longo da história ........................................................ 5
1.2. O Aconselhamento no Antigo Testamento..................................................... 6
1.3. A condição humana diante de Deus ............................................................... 8
1.3.1. O ser humano está separado de Deus. .................................................... 9
1.3.2. Deparamo-nos com o problema social................................................... 10
1.3.3. Precisamos enfrentar as consequências de erros de terceiros. .......... 12
2. ELEMENTOS ESSENCIAIS DO ACONSELHAMENTO ......................................... 14
2.1. Jesus Cristo e o Aconselhamento ................................................................ 14
2.2. O Espírito Santo e o Aconselhamento .......................................................... 16
2.3. O Conselheiro ................................................................................................. 19
2.4. O Aconselhado ............................................................................................... 22
3. PRINCIPAIS MÉTODOS DE ACONSELHAMENTO CRISTÃO.............................. 25
3.1. O método Noutético ....................................................................................... 25
3.1.1. Informações gerais .................................................................................. 25
3.1.2. Três fatores básicos da confrontação Noutética e informações
complementares. ............................................................................................... 27
3.2. O Método Hokmático...................................................................................... 31
3.3. Outros métodos.............................................................................................. 35
4. A CAPELANIA CRISTÃ ......................................................................................... 39
4.1. O que é capelania ........................................................................................... 39
4.2. História da capelania...................................................................................... 39
4.3. O serviço de capelania na atualidade ........................................................... 42
4.4. Requisitos da capelania ................................................................................. 43
4.5. Alguns tipos de capelania e suas peculiaridades ........................................ 45
4.5.1. Capelania Militar ...................................................................................... 45
4.5.2. Capelania Hospitalar................................................................................ 47
4.5.3. Capelania Prisional .................................................................................. 49
4.5.4. Capelania Escolar .................................................................................... 50
4.6. Princípios éticos da capelania....................................................................... 52
CONCLUSÃO............................................................................................................. 54
REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 55
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APRESENTAÇÃO

“Onde não há conselho fracassam os projetos, mas com os muitos


conselheiros há bom êxito” – Pv 15:22.

Existe um ditado popular que diz: “Se conselho fosse bom, não se
dava, vendia-se”.
Logo se percebe claramente que, existe um grande contraste entre os
ensinamentos Seculares e os ensinamentos da Palavra de Deus. Temos sim,
dois pontos de vista opostos ente si.
O Ministério de Aconselhamento sempre teve papel importante na
vida de cada Ser Humano. Quem nunca precisou de uma Orientação? Quem
nunca foi colocado pela vida numa circunstância em que precisou orientar
alguém?
A questão é: Existe espaço na vida do crente para a necessidade de
um Acompanhamento Profissional? Ou a questão se resolve dentro do
contexto Eclesiástico?
Existem aqueles que excluem por completo a possibilidade de um
Acompanhamento Profissional, enquanto outros vivem na Dependência de tais
Tratamentos. Difícil nos é, como Estudantes de Teologia, marginalizar, seja
qual for a Ciência, já que são ferramentas que contribuem para um
aconselhamento eficaz.
Por sua vez, uma das frentes de atuação do conselheiro cristão é a
capelania. Veremos nesse módulo conceitos gerais, um pouco de história, as
áreas ou instituições que se pode atuar, bem como seus princípios éticos.
Então, o que precisamos é: não sermos tão Simplistas e sermos
Humildades, aprendendo com esses conhecimentos, fazendo uso de Maneira
Equilibrada de suas Técnicas, sempre passando tudo pelo Crivo das
Sagradas Escrituras, pois só ela é a Inerrante e Suficiente Palavra de
Deus.
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1. INTRODUÇÃO AO ACONSELHAMENTO CRISTÃO

Nesse capítulo, veremos algumas informações importantes sobre a


prática do aconselhamento, primeiramente do ponto de vista histórico e bíblico,
e em seguida a partir da perspectiva da condição humana.

1.1. O Aconselhamento ao longo da história

A Arte de Aconselhar confunde-se com a história da própria


humanidade. A Bíblia está repleta de reis que possuíam Conselheiros, homens
sábios de sua época.
Desde os primórdios os homens têm sentido necessidade de
comunicar-se com seus semelhantes, trocar ideias refletir sobre a sua vida e
comportamento, aprendendo com o legado histórico de sua raça.
O homem é o único ser sobre a terra que é capaz de refletir sobre a
experiência de sua raça e reconduzir o seu destino pessoal. Todo o animal
limita-se a copiar o comportamento de seus pais e a repetirem as mesmas
experiências objetivando a sobrevivência da espécie.
Como campo de estudo, a psicologia tem pouco mais de cem anos de
existência. No século XIX, Deus permitiu que os psicólogos desenvolvessem
instrumentos de pesquisa para estudos do comportamento humano e
publicações profissionais para apresentarem as suas descobertas.
Centenas de milhares de pessoas buscaram ajuda e os conselheiros
profissionais aprenderam o que faz as pessoas reagirem e como podem
mudar o comportamento, seja por conflitos de vontade (pessoas em problemas
consigo mesmas), seja por conflitos morais (pessoas em relação a outras).
(FERREIRA, 2017, p.57).
Nosso conhecimento está longe de ser completo e perfeito, mas a
pesquisa psicológica cuidadosa e a análise constante de dados levarão a um
vasto reservatório de conclusões úteis para o Conselheiro e o Aconselhado.
Mesmo os que querem pôr de lado as descobertas e pesquisas
psicológicas, usam frequentemente termos psicológicos em seus escritos e
técnicas desenvolvidas por esta ciência em seus aconselhamentos.
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O homem é um ser psicológico. Além do composto de corpo e instinto


animal, ele também tem uma alma, uma “Psique”, que se relaciona com o
Raciocínio e muitas vezes alteram o Comportamento Lógico.

Deus sempre se preocupou com a complexidade interior do ser humano.

Desde a sua criação os Seres Humanos buscam estabelecer o


equilíbrio entre os seus Sonhos e a Realidade, Verdade e Ilusão, Bem e Mal,
Egoísmo e Altruísmo, etc.
Aconselhar não é alguma forma de comportamento que alguém possa
facilmente abster-se. O ser humano é gregário, procura comparar-se, imitar,
competir, superar e relacionar-se com os outros.
Sempre que nos aproximamos de alguém por algum tempo viveremos
uma “Sessão de Aconselhamento Mútuo”. Ora sendo conselheiros ora
sendo aconselhados.

1.2. O Aconselhamento no Antigo Testamento

No Antigo Testamento podemos observar diversos exemplos de


situação de Aconselhamento. Como nos diz Simone Rodrigues Costa, “É
necessário compreender que a essência da experiência com Deus, isto é, a
crença e consequentemente o relacionamento que a pessoa cultiva com a
divindade, não consegue ser cientificamente analisado.” (COSTA, 2019, p. 15).
A partir dessa afirmação, podemos colocar que, nos tempos bíblicos, mesmo
sem esse estudo científico posto, as pessoas se aconselhavam entre si, com
diferentes graus de sucesso.
Até porque nesta época a transferência de conhecimento era feita
principalmente através do diálogo, da Comunicação Oral. Não havia a
facilidade para a produção de livros e muito menos dos modernos meios
ligados à pesquisa.
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Várias palavras em hebraico nos remontam ao objeto de nosso estudo:

A palavra mais usada é ETSAH, nos deparamos com ela no Antigo


Testamento cerca de 84 vezes como substantivo. Já como verbo YAATZ surge
23 vezes, dando a ideia de: “Dar ou receber conselhos”.
Outra palavra interessante é SODTH, dar a ideia de: “sentar junto”, ou
“uma assembleia”, referindo-se a amigos conversando intimamente, ou de
juízes que são consultados.
No reinado do monarca Nabucodonozor, percebemos uma equipe de
conselheiros, (embora nem sempre para o bem: “2 Então, o rei mandou
chamar os magos, os encantadores, os feiticeiros e os caldeus, para que
declarassem ao rei quais lhe foram os sonhos; eles vieram e se apresentaram
diante do rei” – Dn 2:2.
O salmista usa a palavra SODTH, dando a idéia de conversa familiar:
“14 Juntos andávamos, juntos nos entretínhamos e íamos com a multidão à
Casa de Deus” – Sl 55:14.
Jó ao ser questionado por seus amigos defende que Deus é o maior
conselheiro, afirmando que com Deus está o “Conselho”: “13 Não! Com Deus
está a sabedoria e a força; ele tem conselho e entendimento” – Jó 12:13.
Quem não lembra os sábios conselhos de Jetro sogro de Moisés, que
ao vê-lo praticar um equívoco para com a nação de Israel, ousa aconselhá-lo:
“14 Vendo, pois, o sogro de Moisés tudo o que ele fazia ao povo, disse: Que é
isto que fazes ao povo? Por que te assentas só, e todo o povo está em pé
diante de ti, desde a manhã até ao pôr-do-sol? 17 O sogro de Moisés, porém,
lhe disse: Não é bom o que fazes. 19 Ouve, pois, as minhas palavras; eu te
aconselharei, e Deus seja contigo; representa o povo perante Deus, leva as
suas causas a Deus” – Ex 18:14, 17 e 19.
Um dos homens que mais usou os princípios de Aconselhamento foi o
rei Salomão. Diz a Bíblia que Deus lhe concedeu à graça de pedir o que
desejasse. Salomão pediu SABEDORIA: “9 Dá, pois, ao teu servo coração
compreensivo para julgar a teu povo, para que prudentemente discirna entre o
bem e o mal; pois quem poderia julgar a este grande povo? 10 Estas palavras
agradaram ao Senhor, por haver Salomão pedido tal coisa. 11 Disse-lhe Deus:
Já que pediste esta coisa e não pediste longevidade, nem riquezas, nem a
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morte de teus inimigos; mas pediste entendimento, para discernires o que é


justo” – 1 Rs 3:9-11.
Com Salomão podemos aprender os princípios fundamentais para
adquirirmos uma vida interior, equilibrada e sadia. O livro de Provérbios
constitui-se, numa espécie de “Manual do Sábio”, por onde todo aquele que
deseja sinceramente encontrar a Paz e Realização, deve passar várias vezes.

O texto chave de Provérbios é:

“O temor do SENHOR é o princípio do saber, mas os loucos desprezam a


sabedoria e o ensino” – Pv 1:7.

Amar a Deus de todo coração, com toda a capacidade de sentir, como


uma criança ama a seu pai, é a porta de entrada para o conhecimento e, por
conseguinte para uma vida Sadia e Equilibrada. Entretanto anormais
psicologicamente afetados e loucos rejeitam esta verdade, não querem ser
ensinados e, portanto, jamais alcançarão a Sabedoria.

Salomão ainda diz que:

“... na multidão de conselheiros há segurança” – Pv 11:14 b.

Encorajando que pessoas se ajuntem em grupos de comunhão para


trocar experiências e se aperfeiçoarem mutuamente.

1.3. A condição humana diante de Deus

A necessidade do aconselhamento é colocada como assunto de suma


importância, pois, como nos coloca Paula Ferreira,

Será necessário desenvolver um processo que perceba a ótica


da singularidade da história pessoal apresentada, perpassada
pela pluralidade social e geracional, que manifesta uma
construção humana que, exatamente pela fase em questão
deve ser reavaliada e redirecionada para proporcionar o
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máximo possível de desenvolvimento mais saudável, integral


(do indivíduo consigo mesmo) e integrado (do indivíduo com os
outros), das próximas etapas de vida e melhoria do momento
vigente. (FERREIRA, 2017, p. 60)

Se isso é verdade do ponto de vista social e terapêutico, para quem é


cristão e possui a Bíblia Sagrada como a Inerrante e Suficiente Palavra de
Deus, toda a problemática do Ser Humano, possui uma origem comum:
“18 Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem
nenhum, pois o querer o bem está em mim; não, porém, o efetuá-lo. 19 Porque
não faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero, esse faço” – Rm 7:18-
19.
O Ser Humano possui uma Natureza Pecaminosa dentro de Si. Nossa
inclinação é para o mal, sempre. Como alguém disse:

“Somos um pecadeiro, ou seja, um pé de pecados”.

Pensemos em Três Verdades claramente mensuráveis, quanto à questão em


estudo:

1.3.1. O ser humano está separado de Deus.

A desobediência de nossos pais lá no Jardim do Éden, no início de tudo,


fez separação entre nós e nosso Deus: “22 Então, disse o SENHOR Deus: Eis
que o homem se tornou como um de nós, conhecedor do bem e do mal; assim,
que não estenda a mão, e tome também da árvore da vida, e coma, e viva
eternamente. 23 O SENHOR Deus, por isso, o lançou fora do jardim do
Éden, a fim de lavrar a terra de que fora tomado. 24 E, expulso o homem,
colocou querubins ao oriente do jardim do Éden e o refulgir de uma espada que
se revolvia, para guardar o caminho da árvore da vida” – Gn 3:22-24.
O apóstolo Paulo escrevendo a sua epístola aos romanos diz:
“12 Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo
pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque
todos pecaram” – Rm 5:12.
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Agora o mal entrou na esfera humana e aquele ser Criado a Imagem e


Semelhança de Deus, passou da possibilidade de não pecar, para ser um
escravo do pecado.

O Ser Humano Tornou-se...

a) De difícil Entendimento: “14 Ora, o homem natural não aceita as coisas do


Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las, porque
elas se discernem espiritualmente” – 1 Co 2:14.

b) Surdo para com Deus: “47 Quem é de Deus ouve as palavras de Deus;
por isso, não me dais ouvidos, porque não sois de Deus” – Jo 8:47.

c) Morto Espiritualmente: “1 Ele vos deu vida, estando vós mortos nos
vossos delitos e pecados” – Ef 2:1.

Este é o Perfil de cada Ser Humano, triste, não? Leia o que o apóstolo
Paulo escreveu em sua epístola aos romanos capítulo 3, versos 10 a 18 e 23.
Contudo, existe sim uma oportunidade para...

Reconduzi-lo a Vida

“18 Pois assim como, por uma só ofensa, veio o juízo sobre todos os homens
para condenação, assim também, por um só ato de justiça, veio a graça sobre
todos os homens para a justificação que dá vida. 19 Porque, como, pela
desobediência de um só homem, muitos se tornaram pecadores, assim
também, por meio da obediência de um só, muitos se tornarão justos” – Rm
5:18-19.

1.3.2. Deparamo-nos com o problema social.

Logo após a criação de Adão Deus exclamou: “18 Disse mais o


SENHOR Deus: Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma auxiliadora
que lhe seja idônea” – Gn 2:18.
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Então este ser Humano Precisa:

a) Encontrar a Si Próprio.

Ele precisa descobrir Quem É? De Onde Veio? Para Onde Vai? Qual a
Sua Função Aqui na Terra? O Salmo 139 apresenta-nos Material Interessante
neste início de Jornada do Autoconhecimento.

Você precisa ser uma pessoa Bem Resolvida Consigo Mesmo:


“36 José, a quem os apóstolos deram o sobrenome de Barnabé, que quer dizer
filho de exortação, levita, natural de Chipre, 37 como tivesse um campo,
vendendo-o, trouxe o preço e o depositou aos pés dos apóstolos” – At 4:36-
37.
Barnabé percebeu que: não era mais deste mundo, reconheceu o
chamado de Deus e disse sim ao propósito de Deus em sua vida.

b) Aprender a Relacionar-se com o Outro.

O Ser Humano foi criado para viver em sociedade, ele foi criado à
Imagem e Semelhança de Deus, e o próprio Deus é uma tri-unidade.
Reconhecemos que existem diferentes Temperamentos, diferentes
Personalidades (algumas doentias), mas cada um de nós possui a
necessidade de relacionar-se, caso deseje ser felizes, ser bem sucedido na
vida.

Mais uma vez vamos nos reportar a Barnabé:

- Reconheça que o outro é o outro e não você – Não queira que o outro seja
uma cópia sua. Pare de ser dominador, você não é o Centro do Mundo – At
9:26-27. Veja o verso 29 e 30. A oposição continuou Barnabé não bateu de
frente com os apóstolos, Esperou o Tempo de Deus.
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- Entenda o seu semelhante Discernindo Limitações – O outro é falível, como


você também o é. O outro não vencerá todas as dificuldades, como você
também não – At 15:36-40 – Vai ter início a segunda viagem missionária da
igreja, Barnabé que levar João Marcos e Paulo não concorda. Quero chamar
atenção aqui para a atitude de Barnabé quanto a João Marcos. Saiba caminhar
nos passos daqueles que estão ao seu redor, não queira atropelar ninguém.
João Marcos mais tarde, tornou-se o autor do primeiro Evangelho, que deu
origem a outros dois, Mateus e Lucas.

1.3.3. Precisamos enfrentar as consequências de erros de terceiros.

Existem problemas que precisamos enfrentar - problemas estes que nós


diretamente não fomos os causadores, não somos os responsáveis, diretos:
“22 Então, ordenou Faraó a todo o seu povo, dizendo: A todos os filhos que
nascerem aos hebreus lançareis no Nilo, mas a todas as filhas deixareis
viver” – Ex 1:22. Cf. Mt 2:16.

a) Questões Ligadas a Natureza.

A própria criação está sujeita a vaidade do Ser Humano: “20 Pois a


criação está sujeita à vaidade, não voluntariamente, mas por causa daquele
que a sujeitou, “21 na esperança de que a própria criação será redimida do
cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus” – Rm
8:20-21.
Secas, Enchentes, Tufões, Tempestades, vários Desequilíbrios
apresentados pela Natureza são causados pela Ganância e Egoísmo do Ser
Humano.

b) Questões Ligadas ao Sistema.

Às vezes Sofremos em virtude de governos, mentirosos, injustos,


gananciosos, interesseiros: “12 Se o governador dá atenção a palavras
mentirosas, virão a ser perversos todos os seus servos” – Pv 29:12.
13

Quantas vezes Seres Humanos, nascem dentro de um País onde o


sistema de governo é opressor ou a Cultura que lhes infringem grande
sofrimento.

c) Questões Ligadas a Família – Pv 10:1; 11:29; 14:1.

O caminho de um homem com uma mulher é por demais complexo:


“18 Há três coisas que são maravilhosas demais para mim, sim, há quatro que
não entendo: 19 o caminho da águia no céu, o caminho da cobra na penha, o
caminho do navio no meio do mar e o caminho do homem com uma
donzela” – Pv 30:18-19.
E quando chegam os filhos: “6 Ensina a criança no caminho em que
deve andar, e, ainda quando for velho, não se desviará dele” – Pv 22:6.
Disciplina: “15 A estultícia está ligada ao coração da criança, mas a vara da
disciplina a afastará dela” – Pv 22:15; cf. 29:15.
O que dizer então do envolvimento dos pais, sogros ou sogras, tios ou
tias, sobrinhos e sobrinhas, toda esta rede de relacionamentos a nos rodear, a
pressionar, a opinar, a se meter... “3 Com a sabedoria edifica-se a casa, e com
a inteligência ela se firma” – Pv 24:3.
14

2. ELEMENTOS ESSENCIAIS DO ACONSELHAMENTO

Nesse capítulo, vamos apresentar aqueles que são os protagonistas, os


quais fazem parte do processo de aconselhamento: Cristo, o Espírito Santo, o
Conselheiro e o Aconselhado.

2.1. Jesus Cristo e o Aconselhamento

Jesus Cristo sem dúvidas é o melhor exemplo que possuímos de um


Conselheiro completo e eficaz, cuja: personalidade, conhecimento e
habilidade, capacitaram-No eficazmente para ajudar às pessoas que
precisavam de ajuda.
Como nos coloca sabiamente Gary Collins,

Certamente, Jesus Cristo é o melhor modelo que temos de um


“maravilhoso conselheiro”, cuja personalidade, conhecimento e
habilidades capacitavam-no a dar assistência efetiva aos
necessitados. Ao tentarmos analisar o modo como Jesus
aconselhava, precisamos ter em mente que cada um de nós
pode ter a tendência, consciente ou não, de ver o ministério de
Jesus de uma forma que reforce nossas próprias opiniões
sobre como se deve ajudar as pessoas. O conselheiro que tem
uma postura diretiva e de confrontação reconhece que Jesus
agiu assim, em determinados momentos; o tipo não diretivo,
para quem o principal é a satisfação do cliente, encontra apoio
para seu modo de agir em outros exemplos do ministério de
Jesus. (COLLINS, 2004, p.19).

Quando tentamos analisar Jesus como Conselheiro, existe a tendência


Inconsciente ou Deliberada de encarar o Ministério de Cristo de modo a
reforçar as nossas próprias convicções de como as pessoas precisam ser
Aconselhadas.

• O Aconselhamento Diretivo-Confrontacional – Defende que Jesus


possuía esta linha no tratar com o seu Aconselhado – O moço rico – Lc
18:18-25.
15

• O Aconselhamento Não Diretivo – Defende que Jesus era centrado nas


pessoas, procurando encontra opções, Menos Diretivas – O Caso de
Zaqueu – Lc 19:1-10.

Cremos ser claramente percebível que Jesus fez uso de Várias


Técnicas de Aconselhamento, dependendo da Situação, da Natureza do
Aconselhamento e do Problema, agia conforme o Perfil do Aconselhado.
Algumas vezes ele ouvia atentamente as pessoas sem dar Orientação,
às claras, mas em outras situações ensinava incisivamente. Jesus aceitava
pessoas pecadoras e necessitadas, mas também exigia Arrependimento,
Obediência e Ação.
A Personalidade de Jesus era fundamental, em seu Estilo de Ajuda. Ele
demonstrou em seu Ministério, Atitudes Valorosas que o tornaram Eficaz
como ajudador das pessoas e que serve de modelo para nós. Jesus era
absolutamente honesto, profundamente compassivo, altamente sensível e
espiritualmente amadurecido.
Em seus contatos com o povo, ele compartilhou exemplos tirados de
situações reais e buscou constantemente estimular outros a Pensarem e
Agirem de acordo com os princípios divinos. Ele aparentemente acreditava
que alguns precisam de ouvido compreensivo que lhes dê Atenção e Consolo.
Só depois, aí sim, discutir o problema, surgindo à oportunidade para
Confrontos e Desafios.
De acordo com a Bíblia, os cristãos devem ensinar tudo o que Cristo
nos ensinou. Doutrinas a respeito de Deus, autoridade, salvação, crescimento
espiritual, oração, igreja, futuro, anjos, demônios e natureza humana.
E também: casamento, interação entre pais e filhos, obediência,
liberdade tanto para homens como para mulheres, incluindo também assuntos
pessoais como: sexo, ansiedade, medo, solidão, dúvida, orgulho, pecado e
desânimo. Todas estas questões que levam as pessoas a procurar o
aconselhamento hoje.
Quando Jesus tratava com estas pessoas, Ele frequentemente ouvia
suas perguntas: “3 Responder antes de ouvir é estultícia e vergonha” – Pv
1813. E as aceitava antes de estimulá-las a Pensar ou Agir de modo diferente.
16

Às vezes dizia o que deveriam fazer, mas também Orientava as


Pessoas para que resolvessem os seus problemas através de indagações
hábeis e divinamente orientadas.

Tomé foi ajudado em sua dúvida, quando Jesus mostrou-lhes a evidência.


Pedro aprendeu sendo confrontado, às vezes, duramente por Jesus.
Maria de Betânia aprendeu ouvindo aos pés do Mestre.
Judas ao que parece que não aprendeu nada.

Faz parte de nosso Ministério o Ajudar Pessoas a terem o seu Encontro


com Cristo, Instruí-las na Sã Doutrina e Acompanhá-las nos seu
Relacionamento Consigo Mesmo e com os Outros.
Alguns aprendem através de palestras, sermões ou livros, outros pelo
estudo pessoal da Bíblia ou discussões; outros aprendem ainda através do
aconselhamento formal ou informal; e talvez a maioria de nós tenha aprendido
mediante uma combinação dos elementos acima.

Através da oração, meditação sobre as Escrituras e entrega deliberada a


Cristo todos os dias, o Conselheiro se coloca a Disposição como um
instrutor mediante o qual o Espírito Santo pode: Ajudar, Ensinar, Convencer ou
Guiar outro Ser Humano.

2.2. O Espírito Santo e o Aconselhamento

Aconselhar faz parte da obra do Espírito Santo. Não se pode realizar o


Aconselhamento Cristão à parte Dele.
Em Jo 14:17 – “17 o Espírito da verdade, que o mundo não pode
receber, porque não o vê, nem o conhece; vós o conheceis, porque ele habita
convosco e estará em vós”. Ele é chamado de Paracleto, que significa: Ao
lado de, Conselheiro.
Como nos coloca Jay Adams,

Para que o aconselhamento seja cristão é preciso ser levado a


efeito em harmonia com a obra regeneradora e santificante do
17

Espírito. O Espírito Santo é chamado “Santo” por causa de Sua


natureza e de Sua obra. Toda santidade flui de Sua atividade
nas vidas humanas. Todos os traços da personalidade que
poderiam ser expostos diante dos consultantes como alvos
fundamentais para o crescimento (amor, alegria, paz,
longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão,
domínio próprio) Deus os apresenta como o “fruto” (isto é, o
resultado da obra) do Espírito. (ADAMS, 1977, p. 37).

O profeta Isaias havia profetizado: “6 Porque um menino nos nasceu, um


filho se nos deu; o governo está sobre os seus ombros; e o seu nome será:
Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz” –
Is 9:6.
O Espírito Santo veio para o lugar de Cristo, para ser, OUTRO
Conselheiro: “16 E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, a fim
de que esteja para sempre convosco” – Jo 14:16.
A palavra OUTRO, é a palavra grega “Allos”, que significa “outro da
mesma espécie”. Da mesma espécie de Cristo que Cristo tinha sido para os
seus discípulos.
Para que o Aconselhamento seja Cristão é preciso ser conduzido em
harmonia com a Obra Regeneradora e Santificadora do Espírito.
Todos os traços da Personalidade que poderiam ser expostos diante dos
Aconselhados como alvos fundamentais para o crescimento, (Amor, Alegria,
Paz, Longanimidade, Benignidade, Bondade, Fidelidade, Mansidão e Domínio
Próprio), Deus os apresenta como Fruto do Espírito Santo.

Isto é resultado de sua obra.

Como age o Espírito Santo no Aconselhamento?

“18 E todos nós, com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a
glória do Senhor, somos transformados, de glória em glória, na sua própria
imagem, como pelo Senhor, o Espírito” – 2 Co 3:18.
O Espírito Santo é a fonte de todas as genuínas mudanças, na
Personalidade, envolvendo o Novo Nascimento e o início da Santificação.
“1 Ó gálatas insensatos! Quem vos fascinou a vós outros, ante cujos olhos foi
Jesus Cristo exposto como crucificado? 2 Quero apenas saber isto de vós:
18

recebestes o Espírito pelas obras da lei ou pela pregação da fé? 3 Sois assim
insensatos que, tendo começado no Espírito, estejais, agora, vos
aperfeiçoando na carne?” – Gl 3:1-3.

• Ele Usa Meios.

Ele emprega o Ministério da Palavra, os Sacramentos, a Oração, a


Comunhão da Igreja como os principais veículos pelos quais Efetua estas
Mudanças.
O Aconselhamento isolado dos Meios da Graça, isto no Caso dos
Cristãos, dificilmente logrará êxito. Já no caso dos não cristãos os meios da
Graça podem tornar-se uma consequência de um Aconselhamento Bem-
sucedido.

• Ele é soberano.

O Espírito Santo é uma pessoa, não mera Força ou Lei. É ele quem
escolhe: tempo, Meios e ocasiões para agir.
Isto significa que o Espírito Santo age: Quando, Onde e Como quer. O
Espírito Santo é Deus conosco. Tanto os Conselheiros como os Aconselhados
precisam ter esta consciência e respeitar a Soberania Dele.
A Verdade da Soberania do Espírito Santo, não devem levar o
Conselheiro a desprezar sua Habilidade, decorrente da Vocação Divina, dos
Dons Espirituais exercidos e da Direção do Espírito, muito pelo contrário, ele
precisa ser Zeloso ao extremo no conduzir o Aconselhado.

“7 E a graça foi concedida a cada um de nós segundo a proporção do dom de


Cristo. 8 Por isso, diz: Quando ele subiu às alturas, levou cativo o cativeiro e
concedeu dons aos homens. 9 Ora, que quer dizer subiu, senão que também
havia descido até às regiões inferiores da terra? 10 Aquele que desceu é
também o mesmo que subiu acima de todos os céus, para encher todas as
coisas. 11 E ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas,
outros para evangelistas e outros para pastores e mestres, 12 com vistas ao
aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a
19

edificação do corpo de Cristo, 13 até que todos cheguemos à unidade da fé e


do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da
estatura da plenitude de Cristo” – Ef 4:7-13.

• Ele Utiliza a Sua Palavra.

O Espírito Santo requer que o Conselheiro Cristão use As Escrituras


Sagradas: “16 Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para
a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, 17 a fim de que o
homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra” –
2 Tm 3:16-17.
Embora seja possível usar várias Técnicas de Aconselhamento, as
Escrituras Sagradas precisa ser o Fiel da Balança, a Pedra de Toque. O
Conselheiro Cristão precisa conhecer as Escrituras e Manuseá-la muito bem.

“18 Mas, se sois guiados pelo Espírito” – Gl 5:18 a.

Não deve entender-se esta expressão: “Guiados pelo Espírito”, como


algo à parte das Escrituras, mas, antes, por meio das Escrituras. É o Espírito
Santo que ilumina o crente quando ele lê a Bíblia.
Os Dons, a Metodologia, a Técnica podem, naturalmente ser erguidos
contra o Espírito Santo e usados como substitutos de Sua Obra. Ou podem ser
usados em completa sujeição a ele, para a glória de Deus e o benefício dos
Aconselhados.

2.3. O Conselheiro

A quem cabe o Aconselhamento Terapêutico dos crentes? Deveriam


ser encaminhados a um psicólogo? A um psiquiatra? A um Terapeuta? Ao
pastor? Ou, quem sabe a um irmão com o dom de Aconselhar?
O profeta Malaquias escreve: “7 Porque os lábios do sacerdote devem
guardar o conhecimento, e da sua boca devem os homens procurar a
instrução, porque ele é mensageiro do SENHOR dos Exércitos” – Ml 2:7. O
20

apóstolo Paulo escreve: “13 Até à minha chegada, aplica-te à leitura, à


exortação, ao ensino” – 1 Tm 4:13.
Mesmo sem desprezar a importância do profissional, a Bíblia deixa-nos
claro que, é função do homem de Deus, ou mulher de Deus, o Ministério de
Aconselhamento. Cremos, no entanto, que existem casos, onde a presença de
um profissional seja necessária, embora acompanhado de certa maneira pelo
pastor.
Na sua Tese sobre uma nova perspectiva do Aconselhamento Cristão,
Neilson Brito nos coloca que

O nosso caminho como conselheiro seria encarnar o Deus do


perdão, da graça divina, que se apresenta como a
possibilidade para essa construção. Apesar das várias
literaturas, ainda é possível observar uma escassez de
pesquisas sobre psicossomática e teologia do corpo,
especialmente no âmbito cristão evangélico, o que poderia
representar a indicação de preconceitos sobre a temática.
Assim, a exemplo da visão que muitos têm sobre o corpo,
também a literatura é fragmentada em sua abordagem. É como
se fosse uma colcha de retalhos e que artesanalmente você
necessita dar forma e estética. A teologia da graça e sua práxis
será o grande ponto de convergência (costura manual) da
culpa, do sentimento da culpa, da psicossomática, da teologia
do corpo e da proposta de aconselhamento como “ato de
ressurreição”. (BRITO, 2019, p. 21).

Refletindo sobre o excerto acima, temos algumas considerações a fazer.


Primeiramente, o aconselhador é alguém que precisa ter em mente a relação
ou influência mútua entre o corpo e a alma. Vê-las de forma dissociada é a
causa para muitos problemas que causam intenso sofrimento às pessoas.
Segundo, ele é um restaurador, partindo do pressuposto que a obra de Deus
na vida do homem é igualmente de trazer de volta a paz e a comunhão antes
perdida. Terceiro, cabe a ele buscar os diferentes fragmentos ou aspectos da
vida do aconselhado para integrar numa compreensão mais ampla, trazendo
assim o que o autor chama de “ato de ressurreição”.
Paulo ainda mostra a importância do pastor, como aquele que precisa
acompanhar as suas ovelhas, discipulando-as em cadeia, ou seja, uma
transmissão de princípios e valores, num ciclo que vai se ampliando cada vez
mais: “2 E o que de minha parte ouviste através de muitas testemunhas, isso
21

mesmo transmite a homens fiéis e também idôneos para instruir a outros” – 2


Tm 2:2.
O apóstolo Paulo conhecia a importância do aconselhamento, do
discipulado; para sermos cristãos equilibrados, tanto espiritualmente, quanto
psicologicamente, para o crescimento do Reino de Deus. Embora tenhamos
aqui uma variação com certeza dependendo do Temperamento do
Conselheiro, podemos dizer que eles precisam ser amorosos ajudadores.

“11 Consolai-vos, pois, uns aos outros e edificai-vos reciprocamente, como


também estais fazendo. 14 Exortamo-vos, também, irmãos, a que admoesteis
os insubmissos, consoleis os desanimados, ampareis os fracos e sejais
longânimos para com todos” – 1 Ts 5:11 e 14. Cf. Gl 6:1.

O conselheiro, quase sempre terá também o Dom da Exortação: “ou o


que exorta faça-o com dedicação; o que contribui, com liberalidade; o que
preside, com diligência; quem exerce misericórdia, com alegria” – Rm 12:8. É o
“Paraklesis” – Aquele que se coloca para ajudar. O Paraklesis, exerce várias
atividades, como: Consolo, Admoestação, Apoio, Treinamento,
Encorajamento. Então este é um dom que requer muita dedicação, muita
paciência, requer tempo, pois ninguém cresce da noite para o dia.

“O Aconselhamento Bíblico não é uma fábrica de felicidade, onde alguém


entra danificado pela vida e depois de algumas horas sai completamente
recondicionado, gozando de plena alegria de viver” Osvaldo Paião.

• Que Características o Conselheiro Cristão precisa ter?

Conhecimento Bíblico prático: “6 Habite, ricamente, em vós a palavra


de Cristo; instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria,
louvando a Deus, com salmos, e hinos, e cânticos espirituais, com gratidão, em
vosso coração” – Cl 3:16.
Aprende com suas próprias lutas: “11 Digo isto, não por causa da
pobreza, porque aprendi a viver contente em toda e qualquer situação.
2 Tanto sei estar humilhado como também ser honrado; de tudo e em todas as
22

circunstâncias, já tenho experiência, tanto de fartura como de fome; assim de


abundância como de escassez; 13 tudo posso naquele que me fortalece” – Fp
4:11-13.
Aplica princípios bíblicos de forma amorosa: “24 Ora, é necessário
que o servo do Senhor não viva a contender, e sim deve ser brando para com
todos, apto para instruir, paciente, 25 disciplinando com mansidão os que se
opõem, na expectativa de que Deus lhes conceda não só o arrependimento
para conhecerem plenamente a verdade” – 2 Tm 2:24-25.
Conhece suas próprias limitações: “16 Tem cuidado de ti mesmo e
da doutrina. Continua nestes deveres; porque, fazendo assim, salvarás tanto a
ti mesmo como aos teus ouvintes” – 1 Tm 4:16.
É seguro do perdão de Deus: “18 Quem, ó Deus, é semelhante a ti,
que perdoas a iniqüidade e te esqueces da transgressão do restante da tua
herança? O SENHOR não retém a sua ira para sempre, porque tem prazer na
misericórdia” – Mq 7:18. Cf. Pv 28:13.
Então, procure discernir seu Chamado. Se Deus o está direcionando
para um Ministério de Aconselhamento, Invista, Aperfeiçoe-se e Pratique o
Aconselhar. Sem dúvida as oportunidades serão muitas.

2.4. O Aconselhado

Aqui nos deparamos com a pessoa com quem vamos trabalhar – O Ser
Humano. Ao analisarmos o Ser Humano, nos deparamos com uma gama de
conhecimento, quase inesgotáveis, quanto ao rumo que podemos tomar.

Vamos olhar este ser Humano mais de perto:

Tentaremos individualizar, pois até já vimos de uma maneira ampla.


Enfrenta o problema Físico – A morte: “5 Os dias todos da vida de Adão
foram novecentos e trinta anos; e morreu. 8 Todos os dias de Sete foram
novecentos e doze anos; e morreu. 11 Todos os dias de Enos foram
novecentos e cinco anos; e morreu” – Gn 5:5, 8 e 11. Cf. Gn 2:16-17.
Envolve-se em problemas sociais: roubo, mentira, cobiça, inveja,
preguiça, traição, etc – “19 Ora, as obras da carne são conhecidas e são:
23

prostituição, impureza, lascívia, 20 idolatria, feitiçarias, inimizades, porfias,


ciúmes, iras, discórdias, dissensões, facções, 21 invejas, bebedices,
glutonarias e coisas semelhantes a estas, a respeito das quais eu vos declaro,
como já, outrora, vos preveni, que não herdarão o reino de Deus os que tais
coisas praticam” – Gl 5:19-21. Cf. Tg 4:1-3.
Existem as questões Espirituais – aqui temos o mundo invisível, o que
vai por trás de cada erro. São mortos espiritualmente: “5 e estando nós
mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo, – pela graça
sois salvos” – Ef 2:5. Cf. Jo 3:3.
São surdos espiritualmente: “47 Quem é de Deus ouve as palavras de
Deus; por isso, não me dais ouvidos, porque não sois de Deus” – Jo 8:47.
São pecadores naturalmente: “21 Então, ao querer fazer o bem,
encontro a lei de que o mal reside em mim. 24 Desventurado homem que sou!
Quem me livrará do corpo desta morte?” – Rm 7:21 e 24. Cf. Rm 3:10-18.
Com isto os Seres Humanos, por teimarem em não permitir que a
Graça de Deus os alcance, possuem bem mais dificuldades em resolverem os
seus problemas. Por isso mesmo, é importante perceber que a culpa é um fator
determinante no sofrimento do aconselhado, mas que não deve ser resolvido
apenas na esfera espiritual; ele precisa de cuidado integral.

Ora, pensarmos no aconselhamento com essa abrangência,


significa deixar a prática exclusiva pneumática, e assumir o
cuidado inclusivo do ser humano como um todo. É pensar no
aconselhamento como um ato de ressurreição que gera vida no
homem e na mulher em sua totalidade. A culpa aprisiona não
apenas pelo sentimento interiorizado dessa culpa, mas também
através das enfermidades psicossomáticas, reconhecendo que
o “interior humano” sofre influências externas geradoras dessa
culpa e das psicoenfermidades. O aconselhamento não visa
apenas tratar da relação da eternidade do ser humano com
Deus, mas da vida desse “todo” em seu espaço social.
Aconselhar significa também olhar o entorno sociocultural,
história e memória do aconselhando ou da aconselhanda.
(BRITO, 2019, p. 257).

O aconselhado é alguém que carece da graça de Deus, mas também de


cuidados com a saúde física, com seus relacionamentos pessoais, com suas
finanças e sua vida profissional. Essa abordagem integral é o grande desafio
para todos nós, daí a importância de um processo de aconselhamento eficaz.
24

Três esclarecimentos importantes:

Primeiro: No cristão de certa forma, as tentações serão mais fortes, já


que ele agora está sensível à voz do Espírito: “11 Porquanto a graça de Deus
se manifestou salvadora a todos os homens, 12 educando-nos para que,
renegadas a impiedade e as paixões mundanas, vivamos, no presente século,
sensata, justa e piedosamente” – Ti 2:11-12.
Segundo: Tentação, não é pecado – Alguém falou que é o diabo
olhando pela fechadura. “15 Porque não temos sumo sacerdote que não possa
compadecer-se das nossas fraquezas; antes, foi ele tentado em todas as
coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado” – Hb 4:15.
Terceiro: Não nos vêm tentação que não seja humana: “13 Não vos
sobreveio tentação que não fosse humana; mas Deus é fiel e não permitirá que
sejais tentados além das vossas forças; pelo contrário, juntamente com a
tentação, vos proverá livramento, de sorte que a possais suportar” – 1 Co
10:13.
O Aconselhado pode querer desviar-se do problema, então cuidado
com:
Chamar algo que é pecado por outro nome: “20 Tal é o caminho da
mulher adúltera: come, e limpa a boca, e diz: Não cometi maldade” – Pv 30:20.
Apresentar a circunstância como vilã – Síndrome de coitadinho.
Atribuir culpa a outro: “11 Perguntou-lhe Deus: Quem te fez saber que
estavas nu? Comeste da árvore de que te ordenei que não comesses?
12 Então, disse o homem: A mulher que me deste por esposa, ela me deu da
árvore, e eu comi. 3 Disse o SENHOR Deus à mulher: Que é isso que fizeste?
Respondeu a mulher: A serpente me enganou, e eu comi” – Gn 3:11-13.
Precisamos deixar claro para o Aconselhado que não importa o erro; a
falta cometida; em nossa linguagem o pecado concebido... Existe sim
esperança: “8 Se dissermos que não temos pecado nenhum, a nós mesmos
nos enganamos, e a verdade não está em nós. 9 Se confessarmos os nossos
pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda
injustiça” – 1 Jo 1:8-9.
25

3. PRINCIPAIS MÉTODOS DE ACONSELHAMENTO CRISTÃO

Nesse capítulo, vamos abordar de forma panorâmica os principais


métodos de aconselhamento cristão. São ferramentas importantes, que estão à
disposição do conselheiro. Vejamos cada um.

3.1. O método Noutético

O que significa NOUTHÉTESE?

No Novo testamento aparece a forma nominal e verbal, NOUTHESÍA


NOUTHETÉO, de onde se origina o termo NOUTÉTICO.
NOUTHESÍA – Admoestação, instrução, recomendação: “4 E vós, pais,
não provoqueis vossos filhos à ira, mas criai-os na disciplina e na
admoestação do Senhor” – Ef 6:4. “11 Estas coisas lhes sobrevieram como
exemplos e foram escritas para advertência nossa, de nós outros sobre quem
os fins dos séculos têm chegado” – 1 Co 10:11. Cf Tt 3:10.
NOUTHETÉO – Admoestar, instruir, aconselhar: “15 Todavia, não o
considereis por inimigo, mas adverti-o como irmão” – 2 Ts 3:15.
As informações a seguir são baseadas na excelente exposição de Jay
Adams sobre o assunto. (ADAMS, 1977, p. 55-73).

3.1.1. Informações gerais

Avaliando as diversas ocorrências desta palavra nos escritos do Novo


Testamento, entenderemos o que significa esta palavra.

• Uma Tarefa de Toda Igreja.

A princípio queremos dizer que o Aconselhamento Noutético, é uma


tarefa que envolve todos os cristãos, e não apenas os Ministros do
Evangelho. Em Colossenses Paulo escreveu: “16 Habite, ricamente, em vós a
palavra de Cristo; instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a
26

sabedoria, louvando a Deus, com salmos, e hinos, e cânticos espirituais, com


gratidão, em vosso coração” – Cl 3:16.

“... e aconselhai-vos mutuamente...”, ou “... confrontando uns aos outros...”

Temos também corroborando com este pensamento, o que Paulo


escreveu aos romanos: “14 E certo estou, meus irmãos, sim, eu mesmo, a
vosso respeito, de que estais possuídos de bondade, cheios de todo o
conhecimento, aptos para vos admoestardes uns aos outros” – Rm 15:14.

“... aptos para vos admoestardes uns aos outros”, ou “... aptos para os
confrontar uns aos outros nouteticamente”.

O apóstolo Paulo estava certo, que os cristãos tanto de Roma como de


Colossos, estavam aptos para confrontarem-se, Noutética e mutuamente.

• É tarefa do ministro.

Embora, todos os cristãos tenham esta tarefa, de maneira específica,


cabe ao pastor aconselhar Nouteticamente. No ministério de Paulo a atividade
de confrontar, a atividade de confrontar Nouteticamente era vital: “28 o qual
nós anunciamos, advertindo a todo homem e ensinando a todo homem em
toda a sabedoria, a fim de que apresentemos todo homem perfeito em Cristo” –
Cl 1:28.
Publicamente, através da prédica, Paulo confrontava a todo homem,
contudo, ele ministrava também individualmente em sua ação pastoral.
Em atos no capítulo 20, temos a despedida de Paulo dos presbíteros da
Igreja, pois aquela era a última vez que os veria, mas especificamente o verso
31, Lucas nos apresenta de forma clara esta verdade: “31 Portanto, vigiai,
lembrando-vos de que, por três anos, noite e dia, não cessei de admoestar,
com lágrimas, a cada um” – At 20:31.
Paulo bem conhecido pelos seus empreendimentos missionários,
contudo, ao se deter algum tempo num local, dedica-se a sólida tarefa
pastoral, tão necessária à edificação de pessoas na fé.
27

• Uma reação em cadeia.

Jesus Cristo nos apresentou de forma clara, este Ministério do


Aconselhamento, mostrando-nos que tudo começa um a um, passando por
uma Equipe mais capacitada, podendo chegar até a Igreja: “15 Se teu irmão
pecar [contra ti], vai argui-lo entre ti e ele só. Se ele te ouvir, ganhaste a teu
irmão. 16 Se, porém, não te ouvir, toma ainda contigo uma ou duas pessoas,
para que, pelo depoimento de duas ou três testemunhas, toda palavra se
estabeleça. 17 E, se ele não os atender, dize-o à igreja; e, se recusar ouvir
também a igreja, considera-o como gentio e publicano” – Mt 18:15-17. Cf. 1 Co
5:8-13.
Parece-nos que Cristo ensina que haja discrição no tabalhar os
problemas, daqueles que estão em pecado, ou com dificuldades no ter uma
vida Madura, Equilibrada.

De certa forma, quanto menos repercussão houver, melhor!

3.1.2. Três fatores básicos da confrontação Noutética e informações


complementares.

• O primeiro fator é a OBJETIVIDADE.

Cremer diz: “Algum grau de oposição foi achado, e o que se quer é


subjugá-lo ou removê-lo, não pela punição, mas procurando influenciar o
NOUS”. (CREMER apud ADAMS, 1977, p.58).

Normalmente a palavra Noutético é associada a Didásko, contudo em


vários textos, distinguisse dela.

A palavra DIDÁSKALO sugere a comunicação de informação, não se


importa tanto com a atenção do ouvinte. Já a palavra NOUTHETESE,
preocupa-se tanto com aquele que faz a confrontação como com quem a sofre.
28

Ao deparar-se com o Aconselhado, tem-se logo a idéia de que algo está


errado, algum pecado, algum problema, alguma barreira, precisa ser
reconhecida e tratada.

• O Segundo fator é VERBAL, ou seja, os problemas são removidos


verbalmente.

Diz Trench: “É o treinamento mediante a palavra de encorajamento,


quando isto basta, mais também pela palavra de Admoestação, de
Reprovação, de Censura, quando esta se faz, necessária; em contraste com o
tratamento por meio de atos, que é PAIDÉIA... O traço distintivo de Nouthesía
é o treinamento via oral”. (TRENCH apud ADAMS, 1977, p.59).

Temos aqui o olho no olho, o face a face, procurando o Conselheiro,


persuadir o seu Aconselhado através da palavra.

Diz Jay E. Adams: “A Noutétese pressupõe uma confrontação do tipo de


aconselhamento cujo objetivo é realizar mudança de comportamento e de
caráter do cliente”. (ADAMS, 1977, p. 59).

Como visto a mudança de comportamento e caráter, implica numa


conversão por parte do Aconselhado, quando tratado biblicamente. Pois há
necessidade de reconhecimento de pecado, arrependimento e confissão para o
desenvolvimento do novo padrão.

No Aconselhamento Noutético, O QUÊ? Tem mais força que O PORQUÊ?

“22 Era, porém, Eli já muito velho e ouvia tudo quanto seus filhos faziam a todo
o Israel e de como se deitavam com as mulheres que serviam à porta da tenda
da congregação. 23 E disse-lhes: Por que fazeis tais coisas? Pois de todo
este povo ouço constantemente falar do vosso mau procedimento. 24 Não,
filhos meus, porque não é boa fama esta que ouço; estais fazendo transgredir o
povo do SENHOR. 25 Pecando o homem contra o próximo, Deus lhe será o
29

árbitro; pecando, porém, contra o SENHOR, quem intercederá por ele?


Entretanto, não ouviram a voz de seu pai, porque o SENHOR os queria matar”
– 1 Sm 2:22-25.

Neste texto temos a triste situação de Eli e seus filhos, trata-se de um


episódio lamentável, pois estes meninos, agora rapazes, não foram
disciplinados a tempo: “3 Porque já lhe disse que julgarei a sua casa para
sempre, pela iniqüidade que ele bem conhecia, porque seus filhos se fizeram
execráveis, e ele os não repreendeu” – 1 Sm 3:13.
No texto de 1 Samuel 2, no verso 23 Eli pergunta: “23 E disse-lhes: Por
que fazeis tais coisas?”.
A tarefa de Eli, em preocupar-se com uma investigação era tola, pois
todos já conheciam os fatos. Agora cabia a ele detê-los. Contudo perguntou:
POR QUÊ? Talvez com o intuito de encontrar uma razão para o
comportamento errado, quer dos filhos, ou quem sabe de si próprio.
Eli teria agido melhor se perguntasse: O QUE VOCES TEM FEITO?
Procurando levá-los ao Reconhecimento de erro, Confissão e Abandono da
conduta equivocada.
É comum o caminho percorrido, pelos Conselheiros contemporâneos em
direção às confusões dos PORQUÊS da conduta.

“Todo PORQUE que um Consultante precisa saber pode ser claramente


demonstrado pelo O QUÊ”. (ADAMS, 1977, p. 61).

o O QUÊ FOI FEITO?


o O QUÊ PRECISA SER FEITO PARA CORRIGIR?

O Conselheiro Noutético já sabe o PORQUÊ, (os seres humanos já


nascem pecadores), por isto a ênfase sempre vai recari no QUÊ.

• O terceiro fator tem em vista o PROPÓSITO.

O que se tem em mente é que a correção verbal visa beneficiar o


Aconselhado, em 1 Coríntios 4: 14, o apóstolo Paulo emprega a forma verbal
30

da palavra da seguinte maneira: “14 Não vos escrevo estas coisas para vos
envergonhar; pelo contrário, para vos admoestar como a filhos meus amados”
– 1 Co 4:14.
Mesmo nas mais graves circunstâncias, o cristão desgovernado, deve
ser Confrontado Nouteticamente como irmão: “15 Todavia, não o considereis
por inimigo, mas adverti-o como irmão” – 2 Ts 3:15. A meta deve ser de
enfrentar diretamente os obstáculos e vencê-los verbalmente, não com o fim de
puni-lo, mas, sim, ajudá-lo.
Diz jay E. Adams: “Sua ideia fundamental está na seriedade bem
intencionada com que se trata de influenciar a mente e a disposição de
outrem mediante advertência, admoestação, exortação com vistas a seu
reajustamento conforme as circunstâncias”. (ADAMS, 1977, p. 63).

A Nouthese é motivada pelo amor e profundo interesse, sendo que os


clientes são aconselhados e corrigidos por meios verbais,
para o seu bem.

• A Noutétese e o Propósito das Escrituras.

A Noutétese harmoniza-se plenamente com o que Paulo diz em vários


textos neotestamentário, culminando com 2 Timóteo 3:16. “16 Toda a Escritura
é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a
correção, para a educação na justiça”. Paulo fala de Confrontar todo homem
Nouteticamente, para que todo o homem seja apresentado perfeito em Cristo.
Portanto as Escrituras são ÚTEIS para o propósito NOUTÉTICOS de: Ensinar,
Reprovar Corrigir e Treinar os homens na justiça.
No livro de Atos capítulo 20, percebemos que um pastorado exercido
Nouteticamente, é exercido muitas vezes com lágrimas. Hoje em dia
raramente sucedem que os Conselheiros chorem durante as sessões de
Aconselhamento, embora vez por outra os conselheiros achem impossível
evitarem as lágrimas.
A cultura onde Paulo estava inserido estimulava o povo livremente a
expressar as suas emoções, a nossa pelo contrário, lágrimas são sinal de
fraqueza, lembram-se: “Homens não choram”.
31

Quando um hebreu ficava aborrecido, ou triste, expressava claramente


os seus sentimentos, e em público. Talvez não devamos seguir os judeus
literalmente, mas com certeza, deveríamos ser menos travados.

3.2. O Método Hokmático

O que é Terapia Hokmática? É basicamente a aplicação hábil da


verdade bíblica às vidas dos indivíduos. O Dr. Larry Crabb em um de seus
livros sobre aconselhamento, afirma:

O aconselhamento é relacionamento. Interações de


relacionamento variam conforme o temperamento, problemas e
personalidades das pessoas envolvidas. Com alguns adota-se
um ar profissional, com outros uma atmosfera amigável e
menos formal. Com alguns ensina-se diretivamente, enquanto
com outros faz-se caminhadas exploratórias. Alguns pedem
que o conselheiro designe tarefas específicas
comportamentais, enquanto outros respondem sob
encorajamento de mudanças amplas de afeto ou atitude.
(CRABB, 1985, p.136).

Aconselhar, portanto é instruir na sabedoria de Deus pelo simples, mas


fundamental fato de que o criador é quem mais entende de sua criatura.
No Velho Testamento a palavra “Conselho”, traduzida na nossa versão
por “Propósito” – ETSA, em hebraico, significa: Conselho, Plano, Designo,
Trama, Propósito – Pv 20:5.
Outro fato interessante é que ETSA é um dos sinônimos da palavra,
“Sabedoria” – HOKMA, no hebraico, que por sua vez significa: O Plano Divino
Para Uma Vida Correta.
Na realidade “Conselho” é uma parte do Conceito abrangente da
Sabedoria de Deus: “10 para que, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus
se torne conhecida, agora, dos principados e potestades nos lugares celestiais”
– Ef 3:10.
Apresentada nas Escrituras como: Discernimento, Inteligência,
Conhecimento, Ensino, Disciplina, Discrição, Correção, Reprovação, Bom
Senso, Prudência, Habilidade e Temor do Senhor.
32

Assim sendo a expressão: “ACONSELHAMENTO HOKMÁTICO”, é


quase redundante, pois o bom conselho, o verdadeiro encorajamento deve ter
como base a Sabedoria Eterna de Deus.
A Terapia Hokmática já era conhecida antes de Salomão, na corte de
seu pai: “32 Jônatas, tio de Davi, era do conselho, homem sábio e escriba;
Jeiel, filho de Hacmoni, atendia os filhos do rei. 33 Aitofel era do conselho do
rei; Husai, o arquita, amigo do rei” – 1 Cr 27:32-33.

Na Terapia Hokmática, o Conselheiro, procura ir mudando os “Machais”,


na vida de seus Aconselhados.

O que são Machais e como funciona a terapia?

Machais são conceitos de vida cristalizados em nossas mentes


ao longo dos tempos

Exemplos:

• “Este é o meu vício, mas não faço mal a ninguém”.


• “Tudo posso naquele que me fortalece”.
• “Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura”.
• “Não existe maior provação que eu possa aguentar”.

Passo então a trocar os “Machais”, seculares pelos bíblicos. Podemos


entender ser possível utilizar a psicologia, enfatizando a primazia das
Escrituras como autoridade suprema.
A psicologia deve ser uma serva da Teologia, os maiores prejuízos
ocorrem quando a filosofia humanista, que acompanha a psicologia, interpõe-
se entre a mente e a palavra de Deus. O Conselheiro Hokmático para ter êxito
deverá estar com sua mente impregnada de princípios bíblicos, e na total
dependência do Espírito Santo.
33

Na tentativa de sintetizar todo o procedimento complexo que envolve a


pessoa humana, em sua Individualidade, Relacionamento com Deus e com a
Vida; a Terapia Hokmática visa ministrar a Sabedoria (conhecimento de Deus),
ao coração do indivíduo.

Assim sendo, o Ser Humano é analisado em três níveis:

• Primeiro: O CORAÇÃO.

Trata-se do Centro da Personalidade, (Pensamento, Sentimento,


Vontade, Consciência).
Mudar o Coração, mudar os Machais.

• Segundo: OS CAMINHOS.

Área do procedimento, (Família, Finanças, Estudo, Relacionamentos,


Hábitos, Amigos) etc.
Compreender as Emoções.

• Terceiro: AS CONSEQUÊNCIAS.
São os resultados das ações, (influenciadas pelo coração).
Os frutos colhidos. Trata-se do que o Aconselhado está colhendo, como fruto
de suas decisões. O que está acontecendo de maneira mensurável em sua
vida.
O Conselheiro em Cooperação com o Aconselhado visa avaliar
Consequências, Caminhos e Coração.

CONSEQUÊNCIAS CAMINHOS CORAÇÃO

CORAÇÃO CAMINHOS CONSEQUÊNCIAS


34

Ambos fazem uma Análise Honesta dos resultados de vida e sua direta
relação com o Padrão de Comportamento decorrente dos pensamentos e
decisões provenientes do coração.

Uma vez detectada a inaptidão em cada nível, trabalham em sua


remoção através do Temor do Senhor, implantando Sabedoria em seu lugar.
Evidentemente existem casos de grande complexidade.
Porém, muitos pessoas não necessita de um especialista, podendo ser
grandemente ajudadas por irmãos espiritualmente maduros, que tenham
genuíno interesse em ajudar e um Treinamento Básico de Encorajamento.
“3 Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai de
misericórdias e Deus de toda consolação! 4 É ele que nos conforta em toda a
nossa tribulação, para podermos consolar os que estiverem em qualquer
angústia, com a consolação com que nós mesmos somos contemplados por
Deus” – 2 Co 1:3-4.

• Como deve agir o conselheiro hokmático?

Com Empatia: Sentir como o aconselhado. Ser sensível as necessidades


dele, calçando os seus sapatos.
Com Descrição: Saber ouvir e guardar segredo. Aprenda a ouvir o que
está por trás das palavras.
Reservando um lugar apropriado para o Aconselhamento.
Tenha como objetivo, detectar os “Machais”, ou procedimentos que estão
impregnados na mente do Aconselhado e que não são Sábios.
Ofereça os “Machais” de Deus como solução para os problemas.
Creia no poder da Oração: Pau que nasce torto, não precisa morrer torto.
Dê tarefas práticas em cada encontro e avalie resultados.
Seja Perseverante, justo e amoroso.
Use palavras de encorajamento.
35

• Duas advertências:

Primeira: Cuidado com envolvimentos emocionais extremos.


Segunda: Não Aconselhe sobre um problema que você ainda não superou.

Assim, Terapia Hokmática é a instrução Habilidosa da multiforme


Sabedoria divina às vidas individuais, visando à restauração
da Imagem de Deus no homem para o Louvor da Sua Glória.

3.3. Outros métodos

Texto de Gary Collins, “Ajudando uns aos outros pelo aconselhamento”


(pp. 153-157)

• O aconselhamento secular no dia de hoje

Numa revista popular, o escritor de um artigo recente fez a estimativa de


que há, atualmente, acima de duzentas Abordagens Sistemáticas
Diferentes ao aconselhamento! Cada uma destas abordagens tem defensores
entusiastas e, juntamente, os vários sistemas chegaram a produzir, segundo a
estimativa, dez mil técnicas de aconselhamento!
Algumas destas abordagens, tais como a Psicoanálise, o
Aconselhamento Centralizado no Paciente, e a Terapia Racional-Emotiva, são
bem conhecidas.
Outros métodos se destacam menos, e têm menos seguidores. A
Terapia Primal, A Terapia Radical, A Terapia da Dança, e muitas Terapias do
Corpo ficam nesta última categoria.
Correndo o risco da simplificação demasiada, poderíamos agrupar estes
vários sistemas em três categorias natas e parcialmente coincidentes. As
Terapias Diretivas, As Terapias Permissivas e As Terapias de Interação.
36

• As terapias diretivas.

Nesta abordagem, o Conselheiro é visto como um perito que faz o


diagnóstico e a análise do problema, às vezes define e categoriza o
comportamento, e decide sobre soluções para o problema do aconselhado e,
de várias maneiras, comunica estas soluções ao aconselhamento.
Sem dúvida, o melhor exemplo desta abordagem é a Terapia Racional
Emotiva de Albert Ellis.

Ellis toma por certo que o homem é um organismo racional, sentiente e


ativo – nesta ordem.

A fim de ajudar as pessoas com seus problemas, Ellis acredita que não
devemos perder tempo com os Sentimentos e as Ações. Pelo contrário,
devemos focalizar nossa atenção no pensamento; devemos ensinar as
pessoas a controlar seu destino por meio de aprender a pensar mais
racionalmente.
Diferente da maioria das outras abordagens ao aconselhamento
encoraja os conselheiros a dirigir a maior parte da conversação, a desafiar
diretamente as ideias que o aconselhando tem acerca de si mesmo ou do seu
mundo, e, se necessário, argumentar, ridicularizar, ordenar, ou até xingar o
aconselhando a fim de alterar seu modo de pensar.
Muito mais suaves, mas não menos diretivas, são as Terapias
Psicanalíticas. Aqui, focaliza-se o inconsciente. Supõe-se que os problemas
frequentemente surgem por causa da influência de Forças Interiores que o
aconselhando nem reconhece nem entende. O trabalho do conselheiro é
escutar enquanto o aconselhando fala livremente ou descreve seus sonhos.
Finalmente o conselheiro começa a ver as causas inconscientes do
comportamento de aconselhando, e estas informações são repartidas de
modo cuidadosamente planejado.
37

• As terapias permissivas.

Do lado oposto destas abordagens diretivas há um grupo de técnicas de


tratamento que podem ser rotuladas de Terapias Permissivas ou não
diretivas. O conselheiro aqui pode ver-se como perito em lidar com problemas
pessoais, mas, a sua tarefa não é fazer diagnósticos, receitar soluções, ou
fazer o tratamento das pessoas.
Pelo contrário, o conselheiro é um facilitador que estimula as
pessoas a solucionarem seus próprios problemas e que cria um ambiente
permissivo em que pode ser solucionado o problema e ocorrer o crescimento
pessoal.

A antiga Terapia Centralizada no Paciente de Karl Rogers é o exemplo


mais conhecido desta abordagem. O terapeuta procura demonstrar calor,
entendimento, empatia, solicitude e “consideração positiva
incondicional” para seu “cliente” que, por sua vez, sente-se livre para
expressar suas frustrações e sentimentos.
Não há tentativa para dirigir a conversação, interpretar o que está
acontecendo, dar conselhos, ou atribuir culpa. O conselheiro escuta
enquanto o aconselhando-cliente fala, resume o que foi dito, e procura
identificar o que o cliente está sentindo. Toma-se por certo que o cliente
finalmente chegará à compreensão de seu próprio comportamento, e
tomará as medidas necessárias para mudar-se.
Dentro dos anos mais recentes, Rogers avançou cada vez mais no
emprego da terapia de grupo, na qual os clientes se ajudam mutuamente
com os problemas. Este método focaliza o potencial inato do homem,
enfatiza as experiências e os sentimentos humanos, e supõe que os seres
humanos individuais são capazes de resolver seus próprios problemas quando
recebem as condições terapêuticas permissivas apropriadas.

• As terapias de interação.

Em certo ponto entre as Terapias Diretivas e a Permissivas ao


aconselhamento, há o que se pode chamar de Terapias de Interação. Este
38

termo descreve o Aconselhamento em que o Conselheiro e o Aconselhando


interagem mais ou menos como iguais.
Um médico suíço chamado Paul BuBois empregava esta abordagem
cerca da volta do século. DuBois, segundo os relatório”mantinha
conversações com seus pacientes e ensinava-lhes uma filosofia da vida
mediante qual substituíram nas suas mentes suas preocupações normais com
a doença por pensamentos de saúde...Insistia que o médico tratasse o
paciente como amigo, e não meramente como um caso interessante.
DuBois tem sido descrito como o “ancestral espiritual mais direto” de
William Glasser, cuja Terapia da Realidade é, em essência, um esforço de
time entre o conselheiro e o aconselhando.
O Terapeuta da Realidade não nega os sentimentos ou o
comportamento, mas encoraja o aconselhando a focalizar a sua atenção na
realidade presente, e a fazer planos para o futuro que o ajudarão a se sentir
amado, capaz de amar, e com mais valor como ser humano.

Observe o seguinte Diagrama:

DIRETIVA

INTERAÇÃO
CONSELHEIRO ACONSELHADO

PERMISSIVA

Algumas das Terapias estão numa das extremidades, ao passo que


outras ficam mais perto do centro. Algumas, tais como As Teorias Ecléticas,
abrangeriam boa parte do ponto de continuação, ao passo que outras são mais
estreitas nas suas perspectivas.
39

4. A CAPELANIA CRISTÃ

Podemos considerar que, de certa forma, o aconselhamento cristão é


uma espécie de Capelania Pastoral, se partirmos do entendimento de que esta
consiste no cuidado com as necessidades espirituais das pessoas. Portanto,
agora vamos estender a discussão sobre o cuidado das almas, fora do
ambiente pastoral e religioso, adentrando para diferentes instituições sociais.

4.1. O que é capelania

A capelania é o nome dado a serviços de assistência espiritual em


instituições que não são igrejas. Elas podem ser, por exemplo, seminários
teológicos, escolas, hospitais, quartéis ou mesmo prisões e manicômios. Parte-
se do princípio de que o público que tais instituições atendem pode nunca ter a
oportunidade de ir a uma igreja, de modo que carecem de oração,
aconselhamento e ministração de serviços religiosos ou sacramentos.

E, naturalmente, a capelania tem na figura do seu responsável alguém


que deve ter um senso de compromisso muito importante, pois, tomando como
exemplo a capelania escolar, “o capelão não poderia ser apenas professor,
pois ele também é responsável em ajudar a escola em sua cosmovisão. Ajudar
na cosmovisão significa prover meios para que o aluno reflita e reflita o modo
como a escola enxerga o mundo” (COSTA et. al., 2015, p. 63)

Essa assistência espiritual é prestada pelo capelão (ou capelã), que


geralmente tem formação teológica e ministérial regulamentado por alguma
igreja cristã reconhecida nacionalmente. Podem ser voluntários indo atuar de
forma totalmente espontânea; podem ser enviados pelas igrejas de forma
regular, em comum acordo com as instituições; ou ainda podem ser aprovados
em concurso específico para o cargo, como no caso dos capelães militares no
Brasil.

4.2. História da capelania

Desde os primeiros impérios, as pessoas procuravam aconselhamento


espiritual como pessoas que fossem designadas para tal função. Nas guerras
antigas, por exemplo, era comum sacerdotes acompanharem as tropas levando
40

suas relíquias ou imagens sagradas, buscando com isso a bênção dos deuses
para a vitória. A própria Bíblia ilustra isso no caso em que levaram a Arca da
Aliança para o cerco de Jericó (Js 6.1-5) e, séculos depois, para a fatídica
peleja contra os filisteus nos dias do sacerdote Eli (1 Sm 4.3-5).

Podemos inferir que esses sacerdotes aconselhavam, oravam e


realizavam celebrações religiosas com os soldados e seus comandantes, de
modo que sentissem a presença e a proteção divina durante as guerras. Ou
seja, a capelania tem suas raízes na necessidade das pessoas em manterem
contato com o divino mesmo nos momentos mais difíceis de suas vidas.

Séculos adiante, temos a informação de que gregos e romanos também


tinham os seus sacerdotes, adivinhos ou profetas que os acompanhavam em
batalha, intercedendo pelo sucesso da empreitada e às vezes apontando as
causas espirituais para o fracasso nas batalhas. Durante a guerra de Tróia, os
sacerdotes que acompanhavam as tropas informaram que Agamenon
precisaria sacrificar sua filha preferida, Ifigênia, para que Poseidon soprasse
ventos favoráveis para os barcos navegarem, o que ele de fato acabou
fazendo. (PULQUÉRIO, p. 365).

Já no meio cristão, a história foi um pouco diferente, visto que nas


Legiões Romanas era obrigatória a participação em rituais pagãos e isso
dificultava a existência de assistência religiosa cristã. Apenas com o processo
de cristianização do Império, a partir de 313 d.C., foi que se lançaram as bases
para a capelania cristã.

O termo “capelania”, provavelmente deriva de um oratório dedicado a


São Martinho de Tours, padroeiro da França. Nesse pequeno oratório, estava
guardada uma pequena capa do santo, a capella, considerada uma relíquia
religiosa. Com o passar dos séculos, o termo passou a designar o próprio
oratório, e esse mesmo nome passou a ser dado a todos os pequenos
oratórios simples dedicados a algum santo.

Por outro lado, cappellanus foi o nome que passou a ser dado ao
sacerdote responsável pelo oratório. Geralmente, atendia não ao grande
público em geral, mas apenas à família ou grupo responsável pela construção
41

da casa de oração. Assim, no decorrer dos séculos, o capelão passou a ser a


figura religiosa que atenderia aos interesses espirituais das pessoas, porém,
dentro de instituições específicas, como em prisões, escolas ou meios
militares.

Na Era Moderna, os franceses foram os primeiros a regulamentar com


detalhes a capelania. Eram enviados aos acampamentos militares relíquias
religiosas, que iam dentro de um cofre, chamado de “capela” (chapelle).
Também sabemos que, na Era dos Descobrimentos (1450-1550), grande parte
dos navios tinha um cura (sacerdote ordenado) a bordo. Isso foi o resultado de
séculos de prática de, nos reinos de cristãos, enviar sacerdotes para auxiliarem
seus soldados nas necessidades espirituais. O próprio Zwínglio, reformador
suíço, morreu como capelão a serviço do Cantão de Zurique em guerra contra
cantões católicos romanos, em 1531. Conforme nos informa Rosana Gentil et.
al.,

Historicamente o termo “capelania” foi criado na França, em


1700 porque, em tempos de guerra, o rei costumava mandar
para os acampamentos militares, uma relíquia dentro de um
oratório, que recebia o nome de “Capela”. Essa capela ficava
sob a responsabilidade do sacerdote, conselheiro dos militares.
Em tempos de paz, a capela voltava para o reino, ainda sob a
responsabilidade do sacerdote, que continuava como líder
espiritual do rei, e assim ficou conhecido por capelão. Com o
tempo, o serviço de capelania se estendeu aos parlamentos,
colégios, cemitérios e prisões. (GENTIL et. al. 2011, 163.)

Na Era Contemporânea, os capelães ampliaram sua atuação,


principalmente devido ao colonialismo, o qual demandava a presença de
cristãos em territórios não-cristãos na África, Ásia e Oceania. Muitas vezes,
eles eram enviados para dar assistência espiritual aos colonos ali presentes, ou
ainda nas metrópoles atuando nos hospitais e escolas. Durante as grandes
Guerras Mundiais do século XX, sabemos, por exemplo, da função do grande
teólogo Paul Tillich como capelão do Império Alemão, e dessa experiência nos
trouxe excelentes reflexões sobre Deus e a vida cristã.

Nos últimos 50 anos, vários países do mundo regulamentaram esse


ofício, e instituições não-governamentais como a InterChap (International
42

Chaplains Association) cooperam para a disseminação de uma visão bíblica,


ética e humanizada sobre essa ocupação.

4.3. O serviço de capelania na atualidade

A maior parte dos países cristãos possui legislação referente à


capelania. Porém, vamos focar exclusivamente no Brasil. Fora do mundo
cristão, não se conhecem instituições de assistência religiosa nesses moldes,
e, portanto, em países árabes, China e Índia (para ficar em alguns exemplos),
as pessoas presas, aquarteladas ou internadas não tem dispõem, de forma
regulamentada pelo Estado, de oração ou orientação espiritual, apenas de
forma voluntária e espontânea.

No Brasil, o serviço de capelania é regulamentado pela Constituição


Federal de 1988, em seu Artigo 5º e inciso VII: “É assegurada, nos termos da
lei, a prestação de assistência religiosa nas entidades civis e militares de
internação coletiva.” No caso específico da capelania militar no Brasil, existe o
Serviço de Assistência Religiosa das Forças Armadas (Lei 6.923/1981 alterada
pela Lei 7.672/1988). Existem requisitos, funções e objetivos bem definidos, de
modo que regularmente existem concursos para seleção de capelães para as
três Armas, bem como para a Polícia Militar.

A Lei Federal 9.982/2000 define os termos da prestação de assistência


religiosa nas entidades hospitalares e prisionais, estabelecendo como
princípios reguladores o consentimento das pessoas ou de seus parentes,
obedecer às regras específicas de cada instituição, não pôr em risco pacientes
ou detentos.

Segundo essa legislação, podem ser considerados serviços de


capelania:

• Trabalho de evangelização: entendemos que consiste na pregação do


Evangelho de Cristo às pessoas, tendo em vista a conversão delas, já
que não há impedimento direto para a atividade proselitista.
43

• Trabalho pastoral: é possível afirmar que consiste na celebração de


cultos e sacramentos, podendo ser celebrados em capelas designadas
para tal.
• Aconselhamento: como dissemos no início, a Capelania é uma
extensão do aconselhamento pastoral, nos termos de dar orientações
espirituais às pessoas que assim desejarem.
• Orações: a intercessão, o clamor, o pedido a Deus pela saúde,
libertação ou bênção para a pessoa que assim o deseja.
• Ministério de comunhão: a celebração da Eucaristia ou Santa Ceia é
de suma importância para os fiéis cristãos, e, portanto, indispensável em
qualquer serviço de capelania.

4.4. Requisitos da capelania

Para exercer esse ofício tão sublime, é necessário que o cristão esteja
atento aos requisitos que se põem para o entendimento correto e atuação
eficaz. Como nos coloca Eliane Gama e Thamires Jarra, é um trabalho de
mediação, o qual pode ser realizado de diferentes formas.

O processo de mediação pode ocorrer de forma estruturada,


denominado de mediação formal ou de modo informal, a
mediação informal. Na mediação formal o mediador é um
especialista de um órgão oficial contratado para solucionar a
disputa; já na mediação informal o mediador não representa
nenhuma entidade específica (BERCOVITCH, 1992). Na
mediação informal além de se observar a tendência de menor
estigmatização social e maior economia financeira, destaca-se
que é possível conseguir a solução do conflito em tempo menor
que na mediação formal (FRADE, 2003; SPENGLER, MORAIS,
2008). (GAMA E JARRA, 2019, p. 1297).

A mediação é justamente o ponto-chave da capelania. Deve-se mediar


as necessidades das pessoas com o que a mensagem cristã pode oferecer
como resposta. Porém, as formas de efetivar essa ação são variadas, visto que
44

podem ocorrer de forma mais formal, direta e institucionalizada, ou de forma


livre e espontânea, sem tanta formalidade.

Por isso, vamos listas algumas qualificações indispensáveis para tal


obra:

• Ser um cristão convicto: muitas vezes o capelão vai lidar com pessoas
completamente fragilizadas em sua fé, podendo até mesmo questionar
coisas como a existência de Deus ou da vida eterna. Por isso, uma
profunda convicção da fé e da salvação é de suma importância para
suportar e responder com sabedoria a essas pessoas.
• Ter bom conhecimento bíblico e teológico: ensinar e orientar
pessoas no caminho da verdade cristã requer uma boa instrução, visto
que pode ser necessário um completo discipulado, explicando
detalhadamente os pormenores da fé cristã e esclarecer seus pontos
que possam suscitar dúvida ou provocar reações negativas.
• Ter bom relacionamento interpessoal: a capelania é uma constante
lide com pessoas, sejam elas o público-alvo, a direção da instituição,
colegas ou mesmo pastores e mantenedores da obra. Por isso, agir com
empatia, com atenção, é de extrema importância.
• Compreender a fragilidade humana: em seu trabalho, muitas vezes
vai se deparar com relatos terríveis, traumas não-curados e verdadeiras
feridas na alma das pessoas. Por isso, nada deve abalar quem trabalha
na capelania: deve-se ouvir atentamente e aconselhar com naturalidade
a partir dos ensinamentos bíblicos.
• Postura de respeito: sempre se deve respeitar as leis que regem a
assistência religiosa; as pessoas, na sua recusa de, por exemplo,
receber oração ou que manifestarem desconforto com sua presença; o
desejo ou interesse de cada um, contanto que não venha a ferir os
princípios cristãos. Muitos capelães acabam fracassando em sua
atuação por agir de maneira orgulhosa e intolerante, alegando que estão
em uma missão divina.
• Vida espiritual em fidelidade: a oração, a consagração, o jejum e a
busca constante de uma conduta ética dentro dos padrões do Reino de
45

Deus representam a chave do sucesso de muitos homens e mulheres


que estão atuando com grandes resultados em hospitais, presídios,
quartéis e escolas. Uma vida devocional sincera deve fazer parte da
rotina de cada pessoa que se dedica à capelania.

4.5. Alguns tipos de capelania e suas peculiaridades

A partir de agora, veremos algumas frentes de atuação do capelão, com


suas características específicas. Cada ambiente é diferente, e isso requer
atenção a procedimentos e condutas bastante específicas.

4.5.1. Capelania Militar

É o mais antigo e mais tradicional ambiente no que os capelães atuam.


Como vimos no resumo histórico, a ideia de manter sacerdotes ou ministros
cristãos junto às tropas gerou o que chamamos hoje de ofício da capelania. Por
isso mesmo, nos meios militares possuem uma grande quantidade de pessoas
aquarteladas, ou em campo de batalha, geralmente vivendo de forma isolada
em um sistema disciplinar e hierárquico bastante específico. Conforme Diego
Baltz,

A estruturação das atividades de assistência religiosa nas


operações e as ações do oficial capelão militar materializam-
se, tornam-se palpáveis, mediante ações concretas, também
previstas pelo EB70-MC-10.240. Essas ações pontuais são
muito importantes, pois complementam aquilo que na ação do
capelão é o ato religioso em si, qual seja ele celebrar uma
Santa Missa para os militares católicos, um Culto para os
militares protestantes ou coordenar a organização de uma
Reunião de Doutrina para os militares espíritas. Conhecer
essas ações é, sem dúvida, um suporte valioso para o
comando da operação de Paz e pode ser inclusive um critério
pelo qual o comandante avalie a atividade do oficial capelão.
(BALTZ, 2020, p. 9)
46

Em muitos países do mundo (inclusive no Brasil), o capelão também é


um militar de carreira, devendo entrar a partir de um concurso para tal função,
recebendo remuneração e estando integrado à Organização Militar na qual foi
aprovado. Dessa forma, o serviço de assistência espiritual é permanente, não
havendo, a princípio, necessidade de trabalho voluntário vindo de fora dos
quartéis. Os praças e oficiais têm a seu dispor de pessoas às quais podem ser
comunicadas suas necessidades espirituais, receber oração, participar da
celebração de cultos ou missas, ou ainda receber a ministração dos
sacramentos ou ordenanças. Como nos coloca Baltz,

As atividades desempenhadas pelo oficial capelão militar,


como já evidenciado acima, não se restringem aos atos ou
celebrações religiosas em si. Sua ação tem uma amplitude
mais dilatada e difusa, na medida em que pode auxiliar como
conselheiro, confidente, obrigado ao sigilo absoluto a respeito
das problemáticas que lhe são apresentadas pelos indivíduos e
como apoio valioso ao cuidado da saúde mental. (BALTZ, 2020
p. 13).

Para participar de processo seletivo para capelania militar, geralmente


se exige formação teológica reconhecida e pertencimento, de forma efetiva e
permanente, a alguma igreja/convenção que tenha projeção nacional. Não são
aceitas pessoas sem formação doutrinária pertinente e/ou que pertençam a
igrejas isoladas, sem fundamentação e organização sólida.

As necessidades das pessoas no meio militar têm a ver com o


isolamento social, a pressão pela obediência à hierarquia e manutenção da
disciplina, bem como o envolvimento de conflitos, contendas e disputas por
cargos ou promoções. É um ambiente muito propício para a perda da fé caso
não haja a devida assistência espiritual. A ideia da igualdade de todos perante
Deus ou da irmandade entre os crentes pode eventualmente gerar reações
negativas em alguns contextos, mas com sabedoria e boa conversa, além de
submissão ao comando geral da Organização Militar, é possível desempenhar
um papel bastante relevante e abençoar milhares de vidas.

Já no campo de batalha, as dificuldades se intensificam ainda mais,


tendo em vista a perspectiva da morte ou de ferimentos. Muitas vezes, os
47

capelães militares vão precisar visitar os hospitais de campanha para dar uma
última palavra de consolo aos soldados moribundos; atuar no próprio ambiente
de combate, aconselhando aqueles que estão em situação tão tensa; ou ainda,
em casos extremos, ele mesmo pegar em armas e combater o inimigo. Dito
isso, percebemos quão importante é o ofício de capelão militar, pois quer em
tempos de guerra, quer em tempos de paz, ele precisa ter a Palavra de Deus
para edificar, exortar e consolar vidas.

4.5.2. Capelania Hospitalar

Os primeiros indícios da prática da capelania hospitalar surgiram ainda


na Idade Média, visto que os primeiros hospitais foram criados pelas Ordens
Religiosas, dentre as quais se destacaram justamente os Hospitalários. Se
existe algo em comum entre atuar nos hospitais, tanto no passado como no
presente, é que várias pessoas estão enfermas, fragilizadas, com problemas
de saúde e não raramente na perspectiva da morte.

Por isso mesmo, quem atua em hospitais precisa ter bastante


sensibilidade e empatia para com pessoas que aborda, a fim de que elas não
se sintam desconsoladas e desesperadas, mas sim que encontrem na Palavra
divina orientação e vitória para as suas vidas. Diferentemente dos meios
militares, não há uma hierarquia rígida e definida, de modo que existe muito
mais liberdade para atuar e organizar ações de assistência espiritual. Ao
escrever sobre a capelania hospitalar, Rosana Gentil et. al. nos colocam que

De acordo com Saad e Guimarães, vários trabalhos publicados


documentam a influência da espiritualidade no tratamento de
doenças. É plenamente reconhecido que a saúde dos
indivíduos é determinada pela interação de fatores físicos,
mentais, sociais e espirituais, pois, de acordo com a
Organização Mundial de Saúde (OMS)11 o bem-estar espiritual
é uma dimensão do estado de saúde, junto às dimensões
biológicas, psíquicas e sociais. Dessa forma, e por essa
necessidade, cresce o número de capelães nos hospitais
brasileiros, cuja missão é oferecer apoio espiritual, emocional e
social, aos enfermos, seus cuidadores e profissionais da
saúde. Assim, a capelania hospitalar vem restabelecer essa
interação entre espiritualidade e saúde, influenciando, como
afirma Saad, na rápida recuperação dos pacientes internados.
(GENTIL et. al. 2011, 163.)
48

Ao longo dos últimos anos a reflexão sobre a necessidade de


assistência espiritual nos ambientes onde estão os enfermos têm demonstrado
que o serviço de capelania é essencial para mitigar o sofrimento e dar ouvidos
às angústias e preocupações dos pacientes, ajudando-os em sua plena
recuperação. Daí sua necessidade de presença e atuação.

Por outro lado, deve-se prestar bastante atenção nas regras de cada
instituição, para evitar problemas ou entendimentos equivocados, deixando
sempre a porta aberta para novas visitações. Além disso, deve-se atentar que
o público é bastante variável, tendo ali homens, mulheres, crianças ou idosos,
cada um dos quais com ideias e concepções sobre a vida bastante diferentes
entre si.

Outro ponto de destaque é o respeito à crença de cada um, pois há


pacientes de todos os credos e confissões religiosas, além de ateus ou
agnósticos. Se o paciente não quer ser atendido, é desaconselhável que se
insista, ou se ainda se ele quiser contender para defender a sua própria crença
pessoal, não se deve contender ou agir de forma audaciosa. Nesses casos,
retirar-se de forma respeitosa e só retornar a pedido da pessoa é a melhor
decisão.

O descanso do paciente também é importante, e por isso se ocorrerem


celebrações com louvores e orações, que sejam feitos em comum acordo com
as pessoas presentes ou que se procure ocasiões em que não tenham
pessoas descansando. Muitos hospitais, inclusive, possuem horários fixos
justamente para evitar qualquer tipo de constrangimento.

Feitas essas ressalvas, podemos afirmar que a capelania hospitalar é


como um bálsamo espiritual na vida de muitas pessoas que ali estão sofrendo.
Algumas não recebem visitas de familiares, outras estão profundamente
deprimidas ou ansiosas, e a atuação de cristãos genuínos trazendo as Novas
de Paz é algo não só necessário, mas também desejável por muitas pessoas
que lá estão.
49

4.5.3. Capelania Prisional

Desde os tempos bíblicos temos relatos da Palavra de Deus sendo


pregada nas prisões. O próprio Jesus Cristo ilustrou que os herdeiros da vida
eterna visitam os prisioneiros (Mt 25.36), e o apóstolo Paulo tanto orava como
cantava nas ocasiões em que estava encarcerado (At 16.19-32), tendo
inclusive ganhado pessoas para Cristo, como o carcereiro de Filipos e o
escravo Onésimo (Fm vv.9-11). Décadas depois, o autor aos Hebreus nos fala
sobre os irmãos lembrarem-se dos presos, como se estivessem com eles (Hb
13.3).

Dessa forma, vemos que a atuação cristã nos presídios é explícita no


Novo Testamento, de modo que é uma missão e um dever pregar o evangelho
e cuidar das necessidades espirituais dessas pessoas. Diferentemente dos
meios militares ou hospitalares, paira sobre os presídios um sentimento não de
vitimização, mas de culpa e condenação. No caso específico dos presídios
brasileiros, isso ainda é agravado pela política do encarceramento em massa,
as condições terríveis de vida e a atuação de facções criminosas
extremamente violentas dentro dos centros de detenção.

O capelão prisional precisa ter cuidado extremo com cada palavra que
vai falar, e até mesmo com gestos e roupas, visto que pode ser alvo de
ameaças caso sua conduta seja interpretada como inadequada. Por outro lado,
a grande maioria dos presidiários que desejam participar da assistência
religiosa são muito carentes de atenção, e um testemunho fiel do capelão pode
impactar profundamente a vida deles.

Houve um estudo sobre a atuação de capelães prisionais em Ruanda,


país africano. Segundo Gama e Jarra, que mencionam essa pesquisa,

Os autores apontam que os capelães carcerários visitam os


prisioneiros cientes do fato de que muitas das pessoas que
eles veem não foram oficialmente acusadas de um crime e
permanecerão encarceradas por anos sem advogado ou
julgamento. Segundo os autores eles vão porque sabem que
Deus ama cada desses homens e mulheres. E muito embora a
vontade de ajudar a todos estivesse presente nas atitudes dos
capelães eles se encontravam desmotivados por não terem
conhecimento de “como” poderiam ser mais úteis e eficientes
em suas ações. (GAMA E JARRA, 2019, p. 1306).
50

A Educação Cristã aqui pode exercer um importante papel, seja através


da alfabetização, seja através do ensino bíblico regular. Os presos podem
reagir positivamente a essa atuação benéfica da capelania, de modo a até
mesmo diminuir a chance de rebeliões e assassinatos dentro das cadeias,
podendo redundar em pequenas melhorias na vida cotidiana das celas.

Deve-se evitar, por questões de segurança, envolvimento pessoal com


os presos ou seus familiares. A atuação do serviço de capelania deve ser
focado nas necessidades espirituais, devendo existir pela concordância com as
autoridades carcerárias qualquer outro tipo de ação tais como doação de
alimentos, roupas e calçados, por exemplo.

Igualmente importante é não discriminar ou tratar com soberba essas


pessoas, visto que algumas vezes somos informados de quão terríveis seus
crimes tenham sido cometidos no passado. Sabemos que muitas vezes a
conversão nas prisões livra pessoas da morte ou da completa ruína, as quais
depois vão dar testemunho de como Deus foi misericordioso e lhes livrou da
destruição.

4.5.4. Capelania Escolar

Por muito tempo, apenas escolas religiosas contavam com sacerdotes


ou ministros para o serviço de capelania. Às vezes, se entendia que, por se
tratar de crianças e adolescentes, eles não estão envolvidos em grandes
conflitos existenciais, ou ainda crimes, problemas com álcool, drogas e
gravidez.

Porém, a realidade educacional brasileira sofreu profundas alterações


nas últimas décadas, e problemas antes só vistos em prisões, clínicas ou
hospitais estão cada vez mais presentes nas escolas. Em especial, esse
problema permeia as escolas públicas, as quais geralmente têm alunos
oriundos das periferias, frequentemente advindas de lares desestruturados,
sem referências de valores éticos e morais, resultando em alto desinteresse
pelo estudo e envolvimento com práticas ilícitas.
51

Por isso mesmo, a capelania escolar pode ser essencial para uma
completa mudança desse quadro em situações que for devidamente aplicada.
Francisca Costa et. al. nos traz uma importante reflexão sobre a necessidade
de falar de Cristo no ambiente escolar:

Cada professor tem o privilégio de representar a Cristo


aos seus alunos, além de sentir a responsabilidade de
impressionar a mente dos alunos com a necessidade de
conhecer a Cristo como um Salvador pessoal. Para isso,
precisam estar em íntima comunhão com Deus e ter
completo conhecimento de Sua Palavra. Não só saber a
teria da verdade, mas também o conhecimento prático do
caminho da santidade. Por esse motivo, os hábitos e os
princípios de um professor devem ser considerados de
grande importância, mais do que suas qualificações do
ponto de vista da instrução. (COSTA et. al., 2015, p. 17-
18).

No que se pese a laicidade da educação, assegurada pelas leis, é


facultada às instituições religiosas, bem como de seus ministros a possibilidade
de atuação no ambiente escolar. Primeiramente, isso deve ser feito de comum
acordo com a direção da escola, os pais dos alunos e o colegiado de
professores, a fim de se evitar qualquer situação que envolva conflitos no
futuro. As formas de atuação do capelão escolar podem variar, podendo ser,
por exemplo:

• Cultos com os alunos: na hora do intervalo ou em outra ocasião,


reunir-se com os alunos que voluntariamente desejarem participar da
celebração religiosa, com oração, louvor e reflexão calcada nas
Escrituras.
• Aulas de educação cristã: dependendo das possibilidades, cursos de
instrução cristã como discipulado ou ensino bíblico podem ser bastante
pertinentes, dando especial ênfase aos valores éticos e morais de
conduta.
• Aconselhamento pastoral: a proporção de alunos que sofre bullying,
assédio sexual e/ou moral, ansiedade, depressão e ideação suicida tem
aumentado a cada ano. Um ministro cristão, com boa base bíblica,
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teológica, psicológica e educacional pode ser de grande valia para a


amenização dos conflitos e promoção de um ambiente mais tranquilo.

Já nas escolas particulares não-confessionais, há uma barreira adicional


para a atuação do capelão, visto que depende, em última instância, da vontade
de quem gerencia a instituição de ensino. Mas existe, sim, a possibilidade de
se desenvolver um trabalho muito proveitoso em qualquer instituição. Deve-se
estar atento às suas necessidades e angústias, cooperando com a direção da
instituição de ensino e com as famílias dos alunos.

4.6. Princípios éticos da capelania

A atuação de quem trabalha no serviço de capelania não pode ser


realizado baseado em critérios meramente pessoais, ou em conluio de
interesses diversos e escusos. Existem princípios de conduta e de caráter que
devem nortear a sua vida, de modo que o seu ministério seja frutífero e
proveitoso, trazendo alento para muitas vidas.

A palavra “ética” vem do grego ethos, que pode ser traduzido por
“disposição” ou “hábito”, mas também pode ser entendida como a maneira pela
qual uma coisa é caracterizada, em termos de conduta e práticas. Por isso,
pode falar do ethos de uma civilização (a cordialidade brasileira), de um grupo
social (a busca pelo luxo por parte dos ricos) ou de uma época da história (o
fervor religioso medieval).

Naturalmente, o guia para as relações éticas entre os indivíduos está na


Bíblia Sagrada, devendo o capelão reger-se por esses princípios para um bom
desempenho, de forma estável. Mas para não nos estendermos muito nesse
assunto, vamos resumir esses princípios em alguns tópicos fáceis de ler e
memorizar.

• Respeitar os interesses e necessidades das pessoas: a atuação


deve ser movida pela compaixão pelas pessoas, jamais por interesses
meramente pessoais. Também não é de bom alvitre aproveitar a
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oportunidade, ainda que espontânea por parte das pessoas, em receber


favores, presentes ou retribuições financeiras pela assistência espiritual.
• Manter um diálogo propositivo e pertinente: embora seja primordial
ouvir as pessoas no trabalho de capelania, é necessário evitar
conversas que sejam inconvenientes, indecorosas ou repetitivas. Manter
um diálogo propositivo significa que há um sentido naquela abordagem,
e que tem a ver com o ensino do Evangelho, não com frivolidades ou
assuntos banais.
• Manter a discrição e a empatia: há muitas coisas que são conversadas
que podem ser confissões do fundo da alma das pessoas, e até
segredos que nunca foram antes revelados. Por isso, não se deve expor
a pessoa, mas entender a dor e o sofrimento que as motivam a guardar
tais coisas em seus corações, bem como oferecer alívio em Cristo.
• Focar a abordagem nas Escrituras: conhecimentos seculares ou
acadêmicos são muito importantes para auxiliar na capelania. Porém, a
conversa e os conselhos propostos pelo capelão sempre devem partir
da Bíblia, incentivando as pessoas a ler e praticar o que nela está
escrito.
• Evitar envolvimento pessoal: devemos sempre ser cuidadosos para
não misturarmos nossa vida pessoal com a das pessoas que são o alvo
do nosso trabalho. Quando isso acontece, problemas podem surgir,
prejudicando nossa imagem como cristãos e dificultando a expansão da
capelania no ambiente em estamos inseridos.

Infelizmente, muitos escândalos e problemas têm surgido no meio


cristão, o que nos motiva a redobrar nossos cuidados e vigilância em relação à
nossa conduta e das pessoas com quem convivemos. Conhecer as Escrituras,
discutir a prática da capelania e ter uma boa experiência nesse ramo não terão
valor algum diante de Deus se não há fiel observância aos princípios éticos que
regem essa ocupação. Por outro lado, se há uma conduta ética fidedigna,
certamente que muitas vidas serão alcançadas pela nossa atuação como
agentes do reino de Deus nas diferentes instituições.
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CONCLUSÃO
“34 Quem, pois, conheceu a mente do Senhor?
Ou quem foi o seu conselheiro?” – Rm 11:34.

Seja qual for o aspecto da vida do Ser Humano e principalmente quanto ao


Aconselhamento, existe uma palavra fundamental: ESPERANÇA.

“Não nos sobreveio tentação que não fosse humana; mas Deus é fiel
e não permitirá que sejais tentados além das vossas forças; pelo
contrário, juntamente com a tentação, vos proverá levramento, de
sorte que a possais suportar” – 1 Co 10:13.

Todo Ser Humano, precisa de Esperança. Desde a criação de nossos


pais, Adão e Eva, e a partir deles... Deus deu Esperança.
Durante toda a conversa entre Deus e Adão, depois de seguir todos os
passos do Aconselhamento, Deus revelou que haveria de vir aquele que
esmagaria a cabeça da serpente – Gn 3:15 – O chamado Primeiro Evangelho.
Agora, já no Novo Testamento, temos o episódio de Cristo com Pedro.
Cristo não fugiu, nem fez de conta que não viu a atitude negativa de Pedro – Jo
18:15-18 e 25-27. As três perguntas – Jo 21:15-17 – corresponde a tríplice
negação. Foi aqui que Simão tornou-se Pedro, a rocha.
A angustiosa tristeza de Pedro – Mt 26:65 c – passou rapidamente no
júbilo da Restauração Completa, mais também incluiu palavras de
Restauração e uma Comissão para serviço futuro.
No Evangelho as Boas Novas de Cristo triunfaram sobre o pecado e
todos os seus filhos é o solo do qual cresce a ESPERANÇA – Cl 1:5, 23.
A ESPERANÇA do cristão traz-lhe a segurança de que, porque Cristo
morreu por seus pecados, ele tem vida eterna, e, ao morrer, seu espírito será
aperfeiçoado.
Mas ele tem a ESPERANÇA também, de que atualmente pode
sobrepor-se a grande parte da Aflição e Desgraça na qual o pecado, o
afundou, principalmente a aflição resultante de pecados pessoais.
“Cristo não somente oferece uma torta no céu, ou seja, pós-morte,
mas Ele diz que os cristãos podem cortar e saborear algumas fatias
aqui mesmo nesta vida.
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REFERÊNCIAS

ADAMS, E. Jay. Conselheiro Eficaz. São José dos Campos: Fiel, 1977.
BALTZ, Diego. O papel do oficial capelão militar empregado em missão de
paz e como este contribui para a estabilidade anímica da tropa. Rio de
Janeiro: Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais do Exército (Artigo), 2020.
BRITO, Nelson Xavier de. Aconselhamento cristão como um ato de
ressurreição: atravessando os caminhos da culpa, da psicossomática e da
teologia do corpo em busca de um aconselhamento libertador. São Leopoldo:
EST/PPG (Tese de Doutorado), 2019.
COLLINS, Gary R. Ajudando uns aos outros pelo Aconselhamento. São
Paulo: Vida Nova, 1980.
_____________. Aconselhamento Cristão: edição século 21. São Paulo:
Vida Nova, 2004.
COSTA, Francisca Pinheiro da Silveira et. al. (Orgs.). Capelania em foco.
Engenheiro Coelho: Edição do Autor, 2015.
COSTA, Simone Rodrigues de Andrade. Contribuições da teologia para o
aconselhamento cristão. Caratinga: DOCTUM (TCC), 2019.
FERREIRA, Paula Coati. Prática do aconselhamento cristão para jovens
brasileiros. Teológica, Ano 11, n.12, 2015
GAMA, Eliane Florencio e JARRA, Thamires Florentino. O capelão como
mediador: revisão integrativa. Horizonte, Belo Horizonte, v.17, n.53, maio/ago.
2019.
GENTIL, Rosana Chami et. al. Organização de serviços de capelania
hospitalar: um estudo bibliométrico. Esc. Anna Nery, jan/mar, v.15(1), 2011.
PULQUÉRIO, M. de Oliveira. O problema do sacrifício de Ifigénia no
«Agamémnon» de Ésquilo. Humanitas, Coimbra, n.21-22, 1969/1970.

Site da ABCB – Associação Brasileira de Conselheiros Bíblicos.


https://abcb.org.br
Site da InterChap – International Chaplains Association. https://interchap.org/pt/
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