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RICK DA SILVA E SILVA - federal_manaus@hotmail.com - IP: 191.189.4.97


MATERIAL COMPLEMENTAR
SEMANA 01

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MATERIAL COMPLEMENTAR – SEMANA 1

Seja bem-vindo (a) ao nosso material complementar. Aqui você encontrará a


compilação de dispositivos legais, artigos, resumos de pontos específicos,
indicações de aulas em vídeo disponibilizadas no YouTube e jurisprudência. O
nosso objetivo é fornecer um conteúdo direcionado ao concurso para Delegado
de Polícia Civil do Estado de Minas Gerais!
Para tanto, levaremos em consideração o conteúdo programático do edital
anterior, além das inovações legislativas e decisões jurisprudenciais
pertinentes.
Vamos começar?

DIREITO PENAL

A disciplina de Direito Penal é fundamental ao nosso concurso. Para tanto, leia o


assunto na doutrina, acompanhe o material complementar e resolva o simulado!

Indicações bibliográficas:

Direito Penal – Cleber Masson

Tratado de Direito Penal – Cezar Roberto Bitencourt

Curso de Direito Penal – Rogério Greco

CONCEITO DE DIREITO PENAL: Conjunto de normas jurídicas que tem por objeto
a determinação de infrações de natureza penal e suas sanções correspondentes
– penas e medidas de segurança (Bitencourt).

Para Zaffaroni, a expressão “direito penal” assume duas coisas distintas:

a) Conjunto de leis penais, ou seja, a legislação penal;

b) Sistema de interpretação dessa legislação, ou seja, o saber do direito penal.

O direito penal é ciência cultural, do dever ser, normativa, valorativa e


sancionadora.

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Welzel: “parte do ordenamento jurídico que fixa as características da ação
criminosa, vinculando-lhes penas ou medidas de segurança”.

Mezger: “Direito Penal é o conjunto de normas jurídicas que regulam o poder


punitivo do Estado, associando ao delito, como pressuposto, a pena como
consequência”.

Cleber Masson: “conjunto de princípios e leis destinados a combater o crime e a


contravenção penal, mediante a imposição de sanção penal”.

FIM OU FUNÇÕES DO DIREITO PENAL.


*Explicações retiradas da obra Direito Penal Esquematizado, volume 1, do Prof.
Cleber Masson.
Atualmente, o Direito Penal possui diversas funções:

I) Proteção de bens jurídicos: o Direito Penal tem a função de proteção aos bens
jurídicos. Como se sabe, apenas os bens jurídicos mais relevantes são
considerados bens jurídicos penais. A proteção de bens jurídicos é a missão
precípua, que fundamenta e concede legitimidade ao Direito Penal;

II) Instrumento de controle social: o Direito Penal também tem a função de


preservar a paz pública, a harmonia social.

III) Instrumento de garantia: ao prever tipos penais, o Direito Penal funciona


como um importante instrumento de garantia aos cidadãos, uma vez que só
haverá punição aos fatos expressamente previstos em lei como infração penal.

IV) Função promocional: o Direito Penal é um instrumento de transformação


social, servindo como ferramenta para promover as mudanças sociais necessárias
para a evolução da comunidade.

V) Função simbólica: aqui há uma crítica. O Direito Penal, mediante a inflação


legislativa, acaba por cumprir uma função simbólica, trazendo uma falsa sensação
de proteção. Em curto prazo, cumpre funções educativas e promocionais dos
programas de governo, tarefa que não pode ser atribuída ao Direito Penal. Em
longo prazo, segundo Masson, resulta na perda de credibilidade do ordenamento

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jurídico, bloqueando as funções instrumentais. A inflação legislativa é também
chamada de hipertrofia do Direito Penal.

FONTES DO DIREITO PENAL


As fontes do Direito Penal são divididas em materiais e formais.
As fontes materiais são os órgãos constitucionalmente encarregados da
elaboração do Direito Penal. Essa função, no nosso ordenamento, é da União (art.
22, I da CF).
Já as fontes formais se subdividem em imediata e mediatas/secundárias.
A fonte formal imediata do Direito Penal é a lei, de autoria do Poder Legislativo.
Somente a lei pode criar crimes e cominar penas e, portanto, é a única fonte
formal imediata do Direito Penal.
As fontes formais mediatas do Direito Penal são os costumes, os princípios gerais
do Direito e os atos administrativos. Há quem diga que a doutrina, a
jurisprudência e os tratados internacionais também sejam fontes mediatas do
Direito Penal.
Lembre-se: o costume nunca pode ser empregado para criar delitos ou aumentar
penas. A lei é a única e exclusiva fonte formal imediata. Da mesma forma, uma lei
somente pode ser revogada por outra lei (art. 2º, §1º da LINDB).

PRINCÍPIOS BÁSICOS DE DIREITO PENAL

1) LEGALIDADE OU RESERVA LEGAL: Alguns penalistas diferem os termos,


dizendo que o primeiro é a lei em sentido amplo, envolvendo também atos
administrativos; o segundo é a lei em sentido estrito (somente lei ordinária e lei
complementar). Consagrado por Feuerbach no século XIX pela fórmula nulum
crimen nula poena sine lege.

“O princípio tem como objetivo controlar o poder punitivo estatal e confinar sua
aplicação em limites que excluam toda a arbitrariedade e excesso de tal poder
punitivo”. – Francisco Muñoz e Mercedez García.

“Constitui-se na efetiva limitação do poder punitivo estatatal”. – Cezar Roberto


Bitencourt

Previsto no Código Penal (art. 1º) e na CRFB/88 (Art. 5º, XXXIX).

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Art. 1º - Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia
cominação legal.

XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia
cominação legal;

P: Quais são os postulados, fundamentos, subprincípios do princípio da reserva


legal?

São quatro:

Lex praevia
Lex scripta
Lex stricta
Lex certa

a) Lex praevia: Relacionada ao princípio da anterioridade penal. Necessidade da


existência de lei anterior ao fato que se quer punir.

b) Lex scripta: É proibido o costume incriminador (costumes não podem criar


crimes ou cominar penas).

c) Lex stricta: Proíbe-se em Direito Penal a analogia in malam partem (em


desfavor do réu).

ANALOGIA in bonam partem: Busca-se uma lei que regulamenta caso semelhante
que é favorável ao réu. Permitida em direito penal.

ANALOGIA in malam partem: Busca-se uma lei que regulamenta caso semelhante
e que é desfavorável ao réu. Proibida em direito penal.

d) Lex certa: Princípio da taxatividade penal, o tipo penal deve ser claro, preciso,
determinado, de fácil interpretação para todas as pessoas.

Analogia é o modo de integração, não de interpretação (art. 4º, LINDB).

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Art. 4º, LINDB. Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a
analogia, os costumes e os princípios gerais de direito.

2) INTERVENÇÃO MÍNIMA: A intervenção no âmbito penal deve ser


FRAGMENTÁRIA e SUBSIDIÁRIA, pois é a mais gravosa das intervenções que o
Estado pode praticar.

2.1. FRAGMENTARIEDADE: Somente ataques intoleráveis a bens jurídicos


relevantes merecem a intervenção do direito penal.

2.2. SUBSIDIARIEDADE: O direito penal deve ser a ultima ratio, a última instância.
Assim, se outros ramos do direito conseguirem resolver o conflito social de forma
satisfatória, o direito penal não se faz necessário.

3) OFENSIVIDADE ou LESIVIDADE: Não há crime sem ofensa ou exposição a


perigo do bem jurídico tutelado. A lesividade aborda crimes de dano e de perigo
– crimes de perigo: consumação com a mera exposição do bem jurídico a risco,
sendo que o perigo pode ser concreto, quando deve ser demonstrado nos autos
ou abstrato, quando se presume na própria conduta, sem necessidade de
demonstração nos autos).

3.1. ALTERIDADE: Desdobramento do princípio da ofensividade, diz respeito aos


bens jurídicos alheios. Não há crime sem ofensa ou exposição a perigo de bem
jurídico de outrem. É o que justifica, por exemplo, o fato de o suicídio e a
autolesão (em regra) não serem crime

✓ DICA! O art. 122, CP passa a admitir a tentativa com a alteração trazida pela
Lei n.º 13.968/19). “Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou a praticar
automutilação ou prestar-lhe auxílio material para que o faça: Pena -
reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos.”

✓ DICA! No art. 171, § 2º, V a autolesão é punida porque não é um fim em si


mesmo; busca-se, no caso, lesar bem jurídico de terceiro, pois a finalidade
é receber indenização ou valor de seguro. V - destrói, total ou

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parcialmente, ou oculta coisa própria, ou lesa o próprio corpo ou a saúde,
ou agrava as conseqüências da lesão ou doença, com o intuito de haver
indenização ou valor de seguro;

✓ DICA! Art. 28, Lei n.º 11.343/06.

4) MATERIALIZAÇÃO ou EXTERIORIZAÇÃO DO FATO: O direito penal não se


presta a punir o modo de ser ou o estilo de vida, mas o fato que se materializou
no mundo real.

Direito penal do autor x Direito penal do fato

O direito penal do autor pune o sujeito pelo que é. Já o direito penal do fato pune
o autor pelo que faz, única modalidade admitida no estado democrático de direto.

5) RESPONSABILIZAÇÃO SUBJETIVA: Não basta que o fato se materialize no


mundo real, devendo-se demonstrar que o agente atuou com dolo ou, ao menos,
com culpa. Em matéria de direito penal, deve-se rechaçar a responsabilidade
penal objetiva, a mera relação de causa e efeito (cabível nos fatos contra o meio
ambiente, no âmbito da administração pública ou na tutela do consumidor, mas
não no direito penal).

6) INSIGNIFICÂNCIA ou BAGATELA: Pressupõe que conheçamos sua natureza


jurídica. O princípio da insignificância é causa de exclusão da tipicidade material,
que se preocupa com o desvalor da conduta ou do resultado. Todavia, para que
isso ocorra, é necessário percorrer alguns requisitos objetivos (“MARI”):

Mínima ofensividade da conduta do agente

Ausência ou nenhuma periculosidade social da ação

Reduzido grau de reprovabilidade do comportamento

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Inexpressividade da lesão jurídica provocada

O requisito subjetivo é o réu não ser reincidente, não ser um criminoso habitual
ou ter uma personalidade desajustada. A reincidência, por si só, não impede a
aplicação do princípio da insignificância, devendo-se analisar o caso concreto.

✓ DICA! HC 123.734, Rel. Min. Luís Roberto Barroso: “A reincidência não


impede, por si só, que o juiz da causa reconheça a insignificância penal da
conduta, à luz dos elementos do caso concreto. II - Na hipótese de o juiz
da causa considerar penal ou socialmente indesejável a aplicação do
princípio da insignificância por furto, em situações em que tal
enquadramento seja cogitável, eventual sanção privativa de liberdade
deverá ser fixada, como regra geral, em regime inicial aberto,
paralisando-se a incidência do art. 33, § 2º, c, do CP no caso concreto,
com base no princípio da proporcionalidade.”

Súmula 589, STJ: “É inaplicável o princípio da insignificância nos crimes ou


contravenções penais praticados contra a mulher no âmbito das relações
domésticas.”

Súmula 599, STJ: “O princípio da insignificância é inaplicável aos crimes contra


a Administração Pública.”

Para o STF, no entanto, o fato de o crime ter sido praticado contra a


Administração Pública não é, por si só, suficiente para a impossibilidade de
aplicação da bagatela”.

✓ DICA! Não se aplica o princípio da insignificância ao contrabando, mas sim


ao descaminho (crime contra a administração pública, mas praticado pelo
particular). Requisitos:

- O valor sonegado não pode passar de R$20.000,00 (vinte mil reais);


- Não pode se tratar de criminoso habitual.

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Súmula 606, STJ: “Não se aplica o princípio da insignificância aos casos de
transmissão clandestina de sinal de internet via radiofrequência que
caracterizam o fato típico previsto no artigo 183 da lei 9.472/97”.

✓ DICA! Não incide o princípio da insignificância no crime de moeda falsa


(art. 289, CP), porque o que se tutela, no caso, é a fé pública, não o
patrimônio.

7) HUMANIDADE: Sustenta que o poder punitivo estatal não pode aplicar sanções
que atinjam a dignidade da pessoa humana ou que lesionem a constituição físico-
psíquica dos condenados. – Victor Roberto Prado Saldarriaga.

É o maior obstáculo para a utilização da pena de morte, da prisão perpétua, da


tortura e dos maus-tratos.

8) PRINCÍPIO DO NE BIS IN IDEM: Não se admite, em hipótese alguma, a dupla


punição pelo mesmo fato.

APLICAÇÃO DA LEI PENAL NO TEMPO

CONFLITO DE LEIS PENAIS NO TEMPO


Regra: Tempus regit actum

Aplica-se a lei vigente ao tempo do ato, a lei do dia da ação ou omissão criminosa.
Adota-se a TEORIA DA ATIVIDADE.

Exceção: Lei penal posterior mais benéfica (lex mitior ou novatio legis in mellius).
Representa a regra da Constituição no art. 5º, XL:

XL - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu;

O princípio que move a lei penal posterior mais benéfica é o PRINCÍPIO DA


EXTRA-ATIVIDADE, que abarca a RETROATIVIDADE e a ULTRA-ATIVIDADE.

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RETROATIVIDADE: A lei penal anda para trás, alcança fatos ocorridos antes de
sua vigência.

ULTRA-ATIVIDADE: A lei penal anda para frente e estende seus efeitos para além
de sua revogação.

Exemplo de ultra-atividade: Fato passado em que um homem estava no ônibus


em São Paulo e, ao ver uma mulher, começa a se masturbar, ejaculando no
pescoço dela. O fato do mundo real foi enquadrado na ocasião na contravenção
de importunação ofensiva ao pudor (art. 61, LCP, já revogado). Se o fato se
passasse hoje, o artigo aplicável seria o 215-A, CP. Mas, se o fato de 2017 fosse
julgado em 2020 e o juiz entendesse pela contravenção, aplicaria a contravenção,
mesmo que já estivesse revogada, porque mais favorável.

ABOLITIO CRIMINIS: causa de extinção da punibilidade (art. 107, III). Cessam


apenas os efeitos penais, mas não os efeitos civis (permanece a obrigação de
reparar o dano).

Art. 107, CP - Extingue-se a punibilidade:

III - pela retroatividade de lei que não mais considera o fato como criminoso;

Art. 2º, CP - Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de
considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da
sentença condenatória.

Parágrafo único - A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente,


aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória
transitada em julgado.

Súmula 611, STF: Transitada em julgado a sentença condenatória, compete ao


juízo das execuções a aplicação de lei mais benigna.

Súmula 711, STF: A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao
crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou
da permanência.

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Ex.: Se a lei mais grave surge enquanto a vítima está no cativeiro, por não ter
cessado a permanência, aplica-se a lei mais grave.

Continuidade típico-normativa X Abolitio Criminis:

Continuidade típico-normativa:

1- Tipo penal é revogado;


2- Conduta continua sendo criminosa com o advento de outro tipo penal;
3- Não há descriminalização.

Abolitio Criminis:

1- Descriminalização da conduta;
2- Faz cessar pena e efeitos penais da condenação, mas os efeitos civis
permanecem.

LEIS PENAIS TEMPORÁRIAS E EXCEPCIONAIS

TEMPORÁRIAS: Criam o crime durante prazo determinado.

EXCEPCIONAIS: Vigem durante determinada situação de anormalidade (p. ex.,


durante uma guerra).

Ambas têm duas características:

a) Autorrevogação: Cessado o prazo (temporárias) ou a situação excepcional


(excepcionais), se autorrevogam sem necessidade do advento de nova lei.

b) Ultra-atividade gravosa: Prevista no art. 3º, CP.

Art. 3º - A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua


duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato
praticado durante sua vigência.

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Assim, se o fato foi praticado durante a vigência da lei excepcional ou temporária,
ainda que se autorrevogue, será aplicada.

Exemplo: Lei nº 12.663/12 (Lei da Copa do Mundo de 2014, que só valeu até
31/12/2014, nos moldes do art. 36). Se um juiz julgar hoje um crime com base
nesta lei, pode aplicar a Lei nº 12.663/12, ainda que prejudique o réu.
TEMPO DO CRIME

Aplica-se a TEORIA DA ATIVIDADE (art. 4º, CP).

Art. 4º - Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda


que outro seja o momento do resultado.

P: Um jovem com 17 anos, 11 meses e 25 dias dá um tiro na vítima, que fica um


mês no hospital e morre quando o autor já tinha completado 18 anos. Aplica-se
o ECA ou o CP?

R: Aplica-se o ECA (Lei n.º 8.069/90). O que importa é o momento da conduta.

P: No momento em que a vítima é colocada no cativeiro, o autor tem 17 anos.


No momento do resgate, o autor já completou 18. Aplica-se o ECA ou o CP?

R: Aplica-se o CP, pois o fato é permanente (começa como ato infracional e se


torna crime). Aplicação da Súmula 711, STF.

APLICAÇÃO DA LEI PENAL NO ESPAÇO

1) TERRITORIALIDADE: O art. 5º, caput, CP traz a territorialidade temperada,


relativa, pois pode ser flexibilizada por convenções, tratados e regras de direito
internacional.
Art. 5º - Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras
de direito internacional, ao crime cometido no território nacional.
P: O que é TERRITÓRIO?
Sentido jurídico: Espaço dentro do qual determinado Estado exerce sua
soberania.

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Sentido material: Superfície terrestre, águas territoriais (marítimas, lacustres e
fluviais) e espaço aéreo correspondentes.
Sentido ficto: Embarcações e aeronaves brasileiras.
§ 1º - Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional
as embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do
governo brasileiro onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves e as
embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se achem,
respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar.
§ 2º - É também aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo de
aeronaves ou embarcações estrangeiras de propriedade privada, achando-se
aquelas em pouso no território nacional ou em vôo no espaço aéreo
correspondente, e estas em porto ou mar territorial do Brasil.
Então:
✓ DICA! Se a embarcação ou aeronave for de natureza pública ou estiver a
serviço do Brasil, considerar-se-á território brasileiro, com incidência da lei
brasileira, onde quer que estejam faticamente no mundo.

✓ DICA! Se a embarcação ou aeronave for brasileira, mas mercante ou de


propriedade privada, será considerado território brasileiro e nossa lei
incidirá somente se estiver em nosso território ou em alto mar, onde há
águas neutras, sem incidência de soberania de qualquer país. Em alto-mar,
vale o princípio da bandeira (incidirá a lei do país correspondente à
bandeira do mastro ou da aeronave).

Aos estrangeiros, vale o mesmo raciocínio.


Exemplo: Ao navio militar inglês ancorado no Porto de Santos-SP, aplica-se a lei
inglesa. Já ao navio inglês que promove cruzeiros em época de Carnaval, também
ancorado no Porto de Santos, aplica-se à lei brasileira, pois não se trata de
embarcação oficial.
O que é Mar territorial? Lei n.º 8.617/93 define mar territorial em 12 (doze) milhas
náuticas marinhas, contadas da costa do continente ou das ilhas (Atenção, não
são 200! 200 correspondem à zona de exploração econômica).
Art. 1º - O mar territorial brasileiro compreende uma faixa de doze milhas
marítima de largura, medidas a partir da linha de baixa-mar do litoral
continental e insular, tal como indicada nas cartas náuticas de grande escala,
reconhecidas oficialmente no Brasil.

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2) EXTRATERRITORIALIDADE: Significa aplicar a lei brasileira aos crimes
ocorridos fora do Brasil.
Não se fala sobre extraterritorialidade quanto às contravenções penais, por força
do art. 2º da LCP (Decreto-lei nº 3.688/41).
2.1. INCONDICIONADA: Dada a relevância dos bens tutelados, não há qualquer
condição à aplicação da lei brasileira, conforme artigo 7º, I, CP.

Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro:

I - os crimes:

a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República;


b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado,
de Território, de Município, de empresa pública, sociedade de economia mista,
autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público;
c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço;
d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil.

§ 1º - Nos casos do inciso I, o agente é punido segundo a lei brasileira, ainda que
absolvido ou condenado no estrangeiro.

Em face da detração penal determinada pelo art. 8º, CP, no caso de


extraterritorialidade incondicionada, a pena cumprida no estrangeiro atenua a
pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando diversas, ou nela é computada,
quando idênticas.

Art. 8º - A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo


mesmo crime, quando diversas, ou nela é computada, quando idênticas.

2.2. CONDICIONADA: São três casos que se submetem a cinco condições


cumulativas.

II - os crimes:

a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir;

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b) praticados por brasileiro;
c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de
propriedade privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados.

As condições estão no § 2º:

§ 2º - Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira depende do concurso


das seguintes condições: (Incluído pela Lei nº 7.209, de 1984)

a) entrar o agente no território nacional;


b) ser o fato punível também no país em que foi praticado; (princípio da
incriminação recíproca, da identidade ou da dupla incriminação).
c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a
extradição;
d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena;
e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não
estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável.

2.3. HIPERCONDICIONADAS: São sete as condições cumulativas, trazendo o § 3º


duas condições adicionais ao § 2º:

§ 3º - A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por estrangeiro contra


brasileiro fora do Brasil, se, reunidas as condições previstas no parágrafo
anterior:

a) não foi pedida ou foi negada a extradição;


b) houve requisição do Ministro da Justiça.

✓ DICA! Lei de Tortura (Lei nº 9.455/97, art. 2º): Se o torturado for brasileiro
ou o torturador estiver em local sob jurisdição brasileira, aplica-se a lei
brasileira. – Incondicionada! Não traz qualquer exceção.

Art. 2º - O disposto nesta Lei aplica-se ainda quando o crime não tenha sido
cometido em território nacional, sendo a vítima brasileira ou encontrando-se o
agente em local sob jurisdição brasileira.

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3) LUGAR DO CRIME: Adota-se a TEORIA DA UBIQUIDADE ou TEORIA MISTA
(art. 6º, CP).

Art. 6º - Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou


omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-
se o resultado.

LU TA
Lugar do crime: UBIQUIDADE (art. 6º, CP).
Tempo do crime: ATIVIDADE (art. 4º, CP).

A discussão acerca do local do crime tem pertinência apenas em relação aos


crimes à distância, ou seja, quando a conduta é praticada em um país e o resultado
vem a ser produzido em outro.

A adoção da teoria da ubiquidade permite concluir que o local do crime pode ser
tanto um país quanto o outro. Para a incidência da lei brasileira, basta que um
único ato executório atinja o território nacional ou o resultado ocorra no Brasil.

Não se aplica a teoria da ubiquidade:

a) Crimes conexos
b) Crimes plurilocais
c) Infrações penais de menor potencial ofensivo
d) Crimes falimentares
e) Atos infracionais

CONFLITO ou CONCURSO APARENTE DE NORMAS PENAIS

São quatro os princípios que solucionam o conflito aparente entre normas penais:

1) ESPECIALIDADE: Lei especial afasta a aplicação de lei geral, pois contém todos
os elementos da lei geral e contempla outros. Ex.: Homicídio (lei geral) e
Infanticídio (lei especial. Filho, parto e estado puerperal são elementos
especializantes. Ainda que menos grave).

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2) SUBSIDIARIEDADE: Uma norma penal que prevê ofensa mais ampla e mais
grave ao bem jurídico afasta outra lei penal menos grave (é o chamado “soldado
de reserva” de Nelson Hungria).

Em alguns casos, a subsidiariedade é expressa na lei. Ex.: Importunação sexual e


estupro. No crime previsto no art. 215-A, há a expressão “se o ato não constitui
crime mais grave”. Ou seja, só haverá importunação sexual se não houver estupro
ou estupro de vulnerável, porque a primeira é o soldado de reserva. Outro
exemplo: art. 15 do Estatuto do Desarmamento traz “se o motivo do crime não for
outro”. Se o disparo de arma de fogo for perpetrado com a intenção de matar, o
art. 15 é o soldado de reserva, valendo o homicídio.

Em outras vezes, a norma menos grave funciona como elementar ou circunstância


da mais grave. Ex.: Relação entre dano (art. 163, CP) e furto qualificado pelo
arrombamento (art. 155, § 4º, I, CP). Caso não seja possível detectar e comprovar
o crime de furto qualificado pelo arrombamento, resta subsidiariamente o dano.

3) CONSUNÇÃO ou ABSORÇÃO: É necessário compreender os seguintes


conceitos:

- Crime complexo
- Crime progressivo
- Progressão criminosa
- Fato anterior impunível
- Fato posterior impunível

Há crimes complexos puros, próprios ou em sentido estrito, formados da fusão


de dois fatos típicos (roubo + homicídio = latrocínio) e crimes complexos impuros,
impróprio ou em sentido amplo, quando se tem fato típico + fato atípico.
(constrangimento ilegal e relação sexual = estupro). Aqui, fala-se nos crimes
complexos puros.

No crime progressivo a prática de um delito pressupõe necessariamente a prática


de outro crime (não se pode matar sem ferir. O crime de passagem será
absorvido). O dolo na origem é voltado ao crime mais grave.

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Tal situação é diferente de progressão criminosa. Nesta, o que existe é uma
mutação no dolo do agente no mesmo contexto fático, o dolo na origem é voltado
ao crime menos grave (Ex.: injúria, depois lesão corporal, depois homicídio).

O fato anterior impunível (antefato impunível) traz a relação entre crime-meio e


crime-fim. Não confundir com o crime progressivo, porque neste é necessário que
se passe pelo crime anterior.

Súmula 17, STJ: Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais


potencialidade lesiva, é por este absorvido.

O fato posterior impunível (pós-fato), ocorre quando depois da consumação o


agente ofende o mesmo bem tutelado, visando uma vantagem (Ex.: depois de
falsificar a moeda eu a coloco em circulação). Pode majorar a pena base na
primeira fase, mas não caracterizará crime autônomo.

4) ALTERNATIVIDADE: Resolve conflitos entre verbos nucleares de um mesmo


tipo penal (de um tipo misto alternativo). Ex.: Art. 33, caput, Lei n.º 11.343/06,
ainda que o agente pratique dois ou mais verbos no mesmo contexto fático,
responderá por um só crime.

Realizar a leitura da legislação seca.

PARTE GERAL
TÍTULO I
DA APLICAÇÃO DA LEI PENAL
(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Anterioridade da Lei

Art. 1º - Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia
cominação legal. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Lei penal no tempo

Art. 2º - Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de
considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da
sentença condenatória. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

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Parágrafo único - A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente,
aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória
transitada em julgado. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Lei excepcional ou temporária (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Art. 3º - A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua


duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato
praticado durante sua vigência. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 1984)

Tempo do crime

Art. 4º - Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão,


ainda que outro seja o momento do resultado. (Redação dada pela Lei nº 7.209,
de 1984)

Territorialidade

Art. 5º - Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e


regras de direito internacional, ao crime cometido no território
nacional. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 1984)

§ 1º - Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território


nacional as embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço
do governo brasileiro onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves e as
embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se achem,
respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar. (Redação
dada pela Lei nº 7.209, de 1984)

§ 2º - É também aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo de


aeronaves ou embarcações estrangeiras de propriedade privada, achando-se
aquelas em pouso no território nacional ou em vôo no espaço aéreo
correspondente, e estas em porto ou mar territorial do Brasil. (Redação dada pela
Lei nº 7.209, de 1984)

Lugar do crime (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 1984)

Art. 6º - Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou


omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-
se o resultado. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 1984)

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Extraterritorialidade (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 1984)

Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no


estrangeiro: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 1984)

I - os crimes: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República; (Incluído pela Lei


nº 7.209, de 1984)

b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de


Estado, de Território, de Município, de empresa pública, sociedade de economia
mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público; (Incluído pela Lei nº
7.209, de 1984)

c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço; (Incluído pela
Lei nº 7.209, de 1984)

d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no


Brasil; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 1984)

II - os crimes: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir; (Incluído


pela Lei nº 7.209, de 1984)

b) praticados por brasileiro; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 1984)

c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de


propriedade privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam
julgados. (Incluído pela Lei nº 7.209, de 1984)

§ 1º - Nos casos do inciso I, o agente é punido segundo a lei brasileira, ainda


que absolvido ou condenado no estrangeiro.(Incluído pela Lei nº 7.209, de 1984)

§ 2º - Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira depende do concurso


das seguintes condições: (Incluído pela Lei nº 7.209, de 1984)

a) entrar o agente no território nacional; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 1984)

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b) ser o fato punível também no país em que foi praticado; (Incluído pela Lei
nº 7.209, de 1984)

c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a
extradição; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 1984)

d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a


pena; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 1984)

e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não
estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável. (Incluído pela Lei nº
7.209, de 1984)

§ 3º - A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por estrangeiro


contra brasileiro fora do Brasil, se, reunidas as condições previstas no parágrafo
anterior: (Incluído pela Lei nº 7.209, de 1984)

a) não foi pedida ou foi negada a extradição; (Incluído pela Lei nº 7.209, de
1984)

b) houve requisição do Ministro da Justiça. (Incluído pela Lei nº 7.209, de


1984)

Pena cumprida no estrangeiro (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Art. 8º - A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil


pelo mesmo crime, quando diversas, ou nela é computada, quando
idênticas. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Eficácia de sentença estrangeira (Redação dada pela Lei nº 7.209, de


11.7.1984)

Art. 9º - A sentença estrangeira, quando a aplicação da lei brasileira produz


na espécie as mesmas conseqüências, pode ser homologada no Brasil
para: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

I - obrigar o condenado à reparação do dano, a restituições e a outros efeitos


civis; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

II - sujeitá-lo a medida de segurança. (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

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Parágrafo único - A homologação depende: (Incluído pela Lei nº 7.209, de
11.7.1984)

a) para os efeitos previstos no inciso I, de pedido da parte


interessada; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

b) para os outros efeitos, da existência de tratado de extradição com o país


de cuja autoridade judiciária emanou a sentença, ou, na falta de tratado, de
requisição do Ministro da Justiça. (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Contagem de prazo (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Art. 10 - O dia do começo inclui-se no cômputo do prazo. Contam-se os dias,


os meses e os anos pelo calendário comum. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de
11.7.1984)

Frações não computáveis da pena (Redação dada pela Lei nº 7.209, de


11.7.1984)

Art. 11 - Desprezam-se, nas penas privativas de liberdade e nas restritivas de


direitos, as frações de dia, e, na pena de multa, as frações de cruzeiro. (Redação
dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Legislação especial (Incluída pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Art. 12 - As regras gerais deste Código aplicam-se aos fatos incriminados por
lei especial, se esta não dispuser de modo diverso. (Redação dada pela Lei nº
7.209, de 11.7.1984)

LEI PENAL EM RELAÇÃO ÀS PESSOAS

TERRITORIALIDADE
Art. 5º. Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras
de direito internacional, ao crime cometido no território nacional.
→Princípio da Territorialidade Temperado ou Mitigado.

IMUNIDADES: diplomáticas (Art. 5º, CF) e parlamentares (previsão


constitucional).

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*Para Zaffaroni, existem imunidades (condições extraordinárias procedimentais
– o que a doutrina majoritária denomina de imunidades relativas) e indenidades
(hipóteses de irresponsabilidade penal, chamadas por muitos de imunidades
absolutas).

IMUNIDADES DIPLOMÁTICAS (também chamada de intraterrorialidade)


Permissão da incidência de uma lei penal estrangeira no território nacional, em
razão da qualidade de determinadas pessoas.
Prerrogativa que gozam os agentes diplomáticos estrangeiros, fundada no Direito
Público Internacional.
Princípio da Reciprocidade.
Fundamento jurídico: art. 5º, CP. Convenção de Viena sobre Relações
Diplomáticas (Decreto nº 56.435/56, arts. 22, 29, 31 e 32 (possibilidade de
renúncia pelo Estado acreditante)).

Natureza jurídica: várias correntes.


a) Causa pessoal de isenção penal (corrente majoritária).
b) Causa impeditiva de punibilidade.

IMUNIDADES PARLAMENTARES
a) Formais: art. 53, §1º a 5º da CFRB.

§ 1º Os Deputados e Senadores, desde a expedição do diploma, serão


submetidos a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal. (Redação
dada pela Emenda Constitucional nº 35, de 2001)

§ 2º Desde a expedição do diploma, os membros do Congresso Nacional não


poderão ser presos, salvo em flagrante de crime inafiançável. Nesse caso, os
autos serão remetidos dentro de vinte e quatro horas à Casa respectiva, para
que, pelo voto da maioria de seus membros, resolva sobre a
prisão. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 35, de 2001)

§ 3º Recebida a denúncia contra o Senador ou Deputado, por crime ocorrido


após a diplomação, o Supremo Tribunal Federal dará ciência à Casa respectiva,
que, por iniciativa de partido político nela representado e pelo voto da maioria
de seus membros, poderá, até a decisão final, sustar o andamento da
ação. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 35, de 2001)

§ 4º O pedido de sustação será apreciado pela Casa respectiva no prazo


improrrogável de quarenta e cinco dias do seu recebimento pela Mesa
Diretora. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 35, de 2001)

§ 5º A sustação do processo suspende a prescrição, enquanto durar o


mandato.

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b) Materiais:
Natureza jurídica: causa de atipicidade da conduta (STF, Inf 433 e Zaffaroni) –
adotar em prova.

Art. 53, caput, CF (deputados federais e senadores)


Art. 53. Os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e penalmente, por
quaisquer de suas opiniões, palavras e votos.

Art. 27, §1º, CF (deputados estaduais)

Art. 27. O número de Deputados à Assembleia Legislativa corresponderá ao triplo


da representação do Estado na Câmara dos Deputados e, atingido o número de
trinta e seis, será acrescido de tantos quantos forem os Deputados Federais acima
de doze.

§ 1º Será de quatro anos o mandato dos Deputados Estaduais, aplicando- sê-lhes


as regras desta Constituição sobre sistema eleitoral, inviolabilidade, imunidades,
remuneração, perda de mandato, licença, impedimentos e incorporação às Forças
Armadas.

Art. 29, VIII, CF (vereadores)

VIII - inviolabilidade dos Vereadores por suas opiniões, palavras e votos no


exercício do mandato e na circunscrição do Município;

Jurisprudência:
COLETÂNEA TEMÁTICA DE JURISPRUDÊNCIA – SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL. APLICAÇÃO DA LEI PENAL.
Principais decisões jurisprudenciais do STF no tema “aplicação da lei penal”.
"A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente,
se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência."
(Súmula 711)
“Os arts. 33, § 1º, I, e 34 da Lei de Drogas -- que visam proteger a saúde pública,
com a ameaça de produção de drogas -- tipificam condutas que podem ser
consideradas mero ato preparatório. Assim, evidenciado, no mesmo contexto
fático, o intento de traficância do agente (cocaína), utilizando aparelhos e
insumos somente para esse fim, todo e qualquer ato relacionado a sua produção
deve ser considerado ato preparatório do delito de tráfico previsto no art. 33,

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caput, da Lei 11.343/2006. Aplica-se, pois, o princípio da consunção, que se
consubstancia na absorção do delito meio (objetos ligados à fabricação) pelo
delito fim (comercialização de drogas).” (HC 109.708, rel. min. Teori Zavascki,
julgamento em 23-6- 2015, Segunda Turma, DJE de 3-8-2015.)
"Se um crime é meio necessário ou fase normal de preparação ou de execução
de outro crime, encontrando-se, portanto, o fato previsto em uma lei inserido
em outro de maior amplitude, permite-se apenas uma única tipificação, por
óbvio, a mais ampla e específica (por força do fenômeno da consunção) (...)."
(Inq 3.108, rel. min. Dias Toffoli, julgamento em 15-12-2011, Plenário, DJE de 22-3-
2012.)
"A interpretação extensiva no direito penal é vedada apenas naquelas situações
em que se identifica um desvirtuamento na mens legis." (RHC 106.481, rel. min.
Cármen Lúcia, julgamento em 8-2-2011, Primeira Turma, DJE de 3-3-2011.)
"(...) destaco que só há que se falar em abolitio criminis quando a lei nova exclui
do âmbito da proteção do direito penal fato considerado como crime pela lei
anterior. A mera alteração da norma, quando não importar em
descriminalização, não há de ser entendida como abolitio criminis. Diante disso,
não reconheço plausibilidade jurídica à tese sustentada, uma vez que não houve
descriminalização da conduta, mas, sim, continuidade normativa acerca do tipo
penal, tendo a conduta outrora descrita no art. 219 do CP sido deslocada para o
art. 148, § 1º, V, do CP." (HC 101.035, voto do rel. min. Gilmar Mendes, julgamento
em 26-10-2010, Segunda Turma, DJE de 22-11-2010.)
"Não pode o julgador, por analogia, estabelecer sanção sem previsão legal,
ainda que para beneficiar o réu, ao argumento de que o legislador deveria ter
disciplinado a situação de outra forma." (HC 94.030, rel. min. Ricardo
Lewandowski, julgamento em 20-5-2008, Primeira Turma, DJE de 13-6-2008.)
"O sistema constitucional brasileiro impede que se apliquem leis penais
supervenientes mais gravosas, como aquelas que afastam a incidência de causas
extintivas da punibilidade sobre fatos delituosos cometidos em momento
anterior ao da edição da lex gravior. A eficácia ultrativa da norma penal mais
benéfica -- sob cuja égide foi praticado o fato delituoso -- deve prevalecer por
efeito do que prescreve o art. 5º, XL, da Constituição, sempre que, ocorrendo
sucessão de leis penais no tempo, constatar-se que o diploma legislativo anterior
qualificava-se como estatuto legal mais favorável ao agente. Doutrina.
Precedentes do STF. A derrogação do inciso VII do art. 107 do CP não tem -- nem
pode ter -- o efeito de prejudicar, em tema de extinção da punibilidade, aqueles

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a quem se atribuiu a prática de crime cometido no período 76 abrangido pela
norma penal benéfica. A cláusula de extinção da punibilidade, por afetar a
pretensão punitiva do Estado, qualifica-se como norma penal de caráter material,
aplicando-se, em consequência, quando mais favorável, aos delitos cometidos
sob o domínio de sua vigência temporal, ainda que já tenha sido revogada pela
superveniente edição de uma lex gravior, a Lei 11.106/2005, no caso." (HC 90.140,
rel. min. Celso de Mello, julgamento em 11-3-2008, Segunda Turma, DJE de 17-10-
2008.) No mesmo sentido: HC 100.882, rel. min. Ricardo Lewandowski,
julgamento em 25-5-2010, Primeira Turma, DJE de 25-6-2010.
"Não se pode mesclar o regime penal comum e o castrense, de modo a
selecionar o que cada um tem de mais favorável ao acusado. Tal proceder
geraria um 'hibridismo' incompatível com o princípio da especialidade das leis.
Sem contar que a disciplina mais rigorosa do CP castrense funda-se em razões de
política legislativa que se voltam para o combate com maior rigor daquelas
infrações definidas como militares. Precedentes." (HC 86.854, rel. min. Ayres
Britto, julgamento em 14-3-2006, Primeira Turma, DJ de 2-3-2007.) No mesmo
sentido: ARE 657.752-ED, rel. min. Gilmar Mendes, julgamento em 29-11-2011,
Segunda Turma, DJE de 8- 2-2012; HC 108.420, rel. min. Ricardo Lewandowski,
julgamento em 16-8-2011, Primeira Turma, DJE de 31-8-2011.

STJ. DIREITO PROCESSUAL PENAL. BALÕES DE AR QUENTE TRIPULADOS.


DEFINIÇÃO JURÍDICA DE AERONAVE. ART. 106 DA LEI N. 7.565/1986. NÃO
ENQUADRAMENTO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL.
Compete à Justiça Estadual o julgamento de crimes ocorridos a bordo de balões
de ar quente tripulados.
A definição de aeronave está prevista no artigo 106 da Lei n. 7.565, de 19 de
dezembro de 1986, Código Brasileiro de Aeronáutica – CBA, a qual dispõe que:
considera-se aeronave todo aparelho manobrável em voo, que possa sustentar-
se e circular no espaço aéreo, mediante reações aerodinâmicas, apto a
transportar pessoas ou coisas. Restringindo-se o alcance do termo "aeronave",
previsto no art. 109, IX, da Constituição Federal, a interpretação que se dá ao
referido dispositivo deve agregar o disposto no artigo 106 da Lei 7.565/1986, pois
os balões e dirigíveis não são manobráveis, mas apenas controlados em voo, já
que são guiados pela corrente de ar. De outro lado, sua sustentação não ocorre
por reações aerodinâmicas, mas por impulsão estática, decorrente do
aquecimento do ar ao seu redor, tornando-o menos denso, sobe e o faz alçar voo.
Assim, a competência para o processo e julgamento de eventual ação penal é da

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Justiça Estadual, porquanto o aeróstato (balões e dirigíveis), por não ser aparelho
manobrável em voo e de sustentação por reações aerodinâmicas, não se amolda
ao conceito de aeronave, previsto no art. 106 da Lei n. 7.565/1986.
(STJ, CC 143.400-SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, Terceira Seção, por maioria,
julgado em 24/04/2019, DJe 15/05/2019)

STJ. SEXTA TURMA. DIREITO PENAL E DIREITO PROCESSUAL PENAL.


PENDÊNCIA DE JULGAMENTO DE LITÍGIO NO EXTERIOR. FATOS APURADOS
EM DISTINTOS ESTADOS SOBERANOS. BIS IN IDEM. NÃO OCORRÊNCIA.
A pendência de julgamento de litígio no exterior não impede, por si só, o
processamento da ação penal no Brasil, não configurando bis in idem.
As mudanças ocorridas no Direito, principalmente a partir da universalização dos
direitos humanos e da criação consensual de instâncias supranacionais para
protegê-los e punir os responsáveis por suas violações, implicou a progressiva e
lenta reestruturação do processo penal moderno, para um modelo incriminatório
universal em que as fronteiras não sejam obstáculo para a justiça ou refúgio para
a impunidade. Uma dessas mudanças diz respeito aos limites de aplicação do ne
bis in idem, a um primeiro olhar mais restritos quando aplicados no âmbito da
jurisdição transnacional do que em sua corrente incidência dentro de cada
ordenamento jurídico. Nesse contexto, pela análise de normativas internacionais
incorporadas e vigentes no ordenamento jurídico brasileiro, constata-se a regra
de que é a sentença definitiva oriunda de distintos Estados soberanos – e não a
existência de litígio pendente de julgamento – que pode obstar a formação, a
continuação ou a sobrevivência da relação jurídica processual que configuraria a
litispendência. Prevalece, portanto, que a pendência de julgamento de litígio no
exterior não impede o processamento de demanda no Brasil, até mesmo porque,
como é cediço, no curso da ação penal pode ocorrer tanto a alteração da
capitulação (emendatio libeli) como, também, da imputação penal (mutatio
libeli), o que, por si só, é suficiente para exigir maior cautela na extinção
prematura de demandas criminais em Estados soberanos distintos. Seria
temerário, pois, também sob esse aspecto, aniquilar o cumprimento da pena no
território brasileiro. Além disso, poderá incidir o art. 8º do Código Penal, que,
embora não cuide propriamente da proibição de dupla punição e persecução
penais, dispõe sobre o modo como deve ser resolvida a situação de quem é
punido por distintos Estados soberanos pela prática do mesmo delito, nos
seguintes termos: "A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no

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Brasil pelo mesmo crime, quando diversas, ou nela é computada, quando
idênticas".
(STJ, 6ª Turma, RHC 104.123-SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, Sexta Turma, por
unanimidade, julgado em 17/09/2019, DJe 20/09/2019)

STF. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL E HOMICÍDIO PRATICADO POR


BRASILEIRO NATO NO EXTERIOR

A Primeira Turma, por maioria, desproveu agravo interposto contra decisão que
deu provimento a recurso extraordinário e fixou a competência de tribunal do júri
estadual para julgar ação penal movida contra brasileiro nato, denunciado pela
prática de homicídio de cidadão paraguaio, ocorrido no Paraguai. O pedido de
extradição do brasileiro foi indeferido pelo Supremo Tribunal Federal (STF), em
razão de sua condição de nacional [Constituição Federal de 1988 (CF/1988), art.
5, LI] (1). O colegiado entendeu que a prática do crime de homicídio por brasileiro
nato no exterior não ofende bens, serviços ou interesses da União, sendo da
Justiça estadual a competência para processar e julgar a respectiva ação penal.
Asseverou, também, que o Decreto 4.975/2004 (2), que promulgou o Acordo de
Extradição entre os Estados-Partes do Mercosul, por si só não atrai a competência
da Justiça Federal (CF/1988, art. 109, III, IV, e X)] (3). Isso porque a persecução
penal não é fundada no acordo de extradição, mas no Código Penal brasileiro.
Citou o entendimento fixado pela Primeira Turma no HC 105.461. Vencido o
ministro Alexandre de Moraes, que deu provimento ao agravo ao fundamento de
ser competente a Justiça Federal para julgar o feito, com base no art. 11.3 do
referido decreto, combinado com o art. 109, III, IV e X, da CF/1988.
(1) CF/1988: “Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes: (...) LI – nenhum brasileiro será extraditado,
salvo o naturalizado, em caso de crime comum, praticado antes da naturalização,
ou de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas
afins, na forma da lei;”
(2) Decreto 4.975/2004: “Artigo 11. Da Nacionalidade. 1. A nacionalidade da
pessoa reclamada não poderá ser invocada para denegar a extradição, salvo
disposição constitucional em contrário. 2. Os Estados-Partes que não
contemplem disposição de natureza igual à prevista no parágrafo anterior
poderão denegar-lhe a extradição de seus nacionais. 3. Nas hipóteses dos

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parágrafos anteriores, o Estado-Parte que denegar a extradição deverá promover
o julgamento do indivíduo, mantendo o outro Estado-Parte informado do
andamento do processo, devendo ainda remeter, finalizado o juízo, cópia da
sentença.”
(3) CF/1988: “Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: (...) III – as
causas fundadas em tratado ou contrato da União com Estado estrangeiro ou
organismo internacional; IV – os crimes políticos e as infrações penais praticadas
em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades
autárquicas ou empresas públicas, excluídas as contravenções e ressalvada a
competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral; (...) X – os crimes de ingresso
ou permanência irregular de estrangeiro, a execução de carta rogatória, após o
exequatur, e de sentença estrangeira, após a homologação, as causas referentes
à nacionalidade, inclusive a respectiva opção, e à naturalização;” (STF, RE
1.175.638 AgR/PR, rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 2.4.2019)

DIREITO PROCESSUAL PENAL

O estudo do Direito Processual Penal é fundamental ao nosso concurso. Não


deixe de acompanhar o assunto pela doutrina, pelo nosso material
complementar e pelo simulado semanal!

Indicações bibliográficas: Eugênio Pacceli, Gustavo Henrique Badaró, Aury


Lopes Jr., Renato Brasileiro de Lima, Norberto Avena e Nestor Távora.

Conceito: conjunto de normas (regras legais + princípios) que regulam a


aplicação do Direito Penal (fase investigativa, processual e de execução).

Finalidade: limitar a atuação do Estado.

DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
Art. 1º, CPP.
Art. 1º O processo penal reger-se-á, em todo o território brasileiro, por este
Código, ressalvados:
I - os tratados, as convenções e regras de direito internacional;
II - as prerrogativas constitucionais do Presidente da República, dos ministros de
Estado, nos crimes conexos com os do Presidente da República, e dos ministros

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do Supremo Tribunal Federal, nos crimes de responsabilidade (Constituição, arts.
86, 89, § 2º, e 100);
Se submetem a um procedimento especial: Lei nº 8.038/90 e Lei nº 8.658/93.
III - os processos da competência da Justiça Militar;
IV - os processos da competência do tribunal especial (Constituição, art. 122, no
17);
Não existe mais.
V - os processos por crimes de imprensa. (Vide ADPF nº 130)
Não existe mais.
Parágrafo único. Aplicar-se-á, entretanto, este Código aos processos referidos
nos IV e V, quando as leis especiais que os regulam não dispuserem de modo
diverso.

Exemplo de exceção: imunidade diplomática.


Prisão civil do depositário infiel: apesar de haver previsão internacional, a
ratificação do Tratado de São José da Costa Rica impediu tal cerceamento de
liberdade (art. 7º, II) – status de supralegalidade.
Art. 5º, LXVII, CF.
LXVII - não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo
inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e a do
depositário infiel.
§ 2º Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros
decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados
internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte.

Súmula Vinculante nº 25.


É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade de
depósito.

Art. 2º, CPP.


Art. 2º A lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da validade
dos atos realizados sob a vigência da lei anterior.

Princípio da Imediatidade: aplicado à lei processual pura.

Princípio do tempus regit actum: o ato é regido pela lei vigente em seu tempo.

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Lei processual penal híbrida/mista: deve respeitar os princípios de
temporalidade e retroatividade.

Segundo Renato Brasileiro de Lima, o fundamento da aplicação imediata da lei


processual é que se presume seja ela mais perfeita do que a anterior, por atentar
mais aos interessas da Justiça, salvaguardar melhor o direito das partes, garantir
defesa mais ampla ao acusado, etc.

Não se esqueçam! Ao contrário da lei penal, que leva em conta o momento da


prática delituosa (tempus delicti), a aplicação imediata da lei processual leva em
consideração o momento da prática do ato processual (tempus regit actum).

Para aplicação do art. 2º do CPP, a doutrina diferencia as normas processuais em


normas genuinamente processuais e normas processuais materiais (mistas ou
híbridas).

As normas genuinamente processuais são aqueles que apresentam conteúdo


estritamente processual, como atos e técnicas do processo. A elas é aplicado o
tempus regit actum.

Por sua vez, as normas processuais materiais (mistas ou híbridas) abrigam tanto
as disposições do direito material, quanto processual. Assim, quando híbridas, e
considerando a presença de normas penais materiais, se aplicam os princípios
penais, como a ultratividade e a retroatividade benéfica.

Art. 3º, CPP.


Art. 3º A lei processual penal admitirá interpretação extensiva e aplicação
analógica, bem como o suplemento dos princípios gerais de direito.

Exemplo de interpretação extensiva.


LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer
calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado.
Somente ao preso? Não, mas também ao investigado, ao acusado, ao suspeito.

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Analogia (quando determinado texto é aplicado em um caso semelhante
lacunoso).
Ex: aplica-se o procedimento do Recurso em Sentido Estrito para o Agravo em
Execução (uma vez que este não foi previsto).

DECISÃO DO STF NAS ADIS 6.298, 6.299, 3.000 E 3.005


ESTÃO SUSPENSAS:
A) A implantação do juiz de garantias e seus consectários (arts. 3º-A a 3º-F,
CPP);
B) A alteração do juiz sentenciante que conheceu de prova declarada
inadmissível (art. 157, §5º, CPP);
C) A alteração do procedimento de arquivamento do inquérito policial (art. 28,
caput, CPP);
D) Liberalização da prisão pela não realização da audiência de custódia no prazo
de 24 horas (art. 310, §4º, CPP).

SISTEMAS PROCESSUAIS PENAIS


ACUSATÓRIO
Tem como principal característica a distinção de quem (qual órgão) acusa,
defende e julga.

Acusação: MP ou querelante.
Defesa: Defensor Público ou Advogado de Defesa.
Julgamento: Juiz.

A iniciativa probatória fica por conta das partes (as partes devem comprovar o
que alegam).
Paridade de armas: tratamento igualitário entre as partes.
Procedimento oral e público.
Em respeito à presunção de inocência, ao contraditório, à ampla defesa.
Em regra, responde o processo em liberdade e com os seus bens.
O réu é sujeito do processo, não objeto do processo.

INQUISITÓRIO
Funções de investigar, defender, acusar e julgar concentradas na mesma pessoa.
Muito utilizado na Idade Média (Inquisição).

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Atua de ofício e em segredo (não há publicidade).
Inexiste contraditório.
O réu é objeto do processo (o réu é considerado como fonte de informação a ser
extraída, e não parte; geralmente, permanece preso durante o processo)
Não há respeito à presunção de inocência.

MISTO
Caracterizado por uma fase preliminar inquisitória e uma fase processual
acusatória.
A minoria da doutrina entende que o sistema processual brasileiro é misto.

A doutrina majoritária e o STF (ADI 5.104/DF) entendem que o sistema


brasileiro é ACUSATÓRIO.

PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DO PROCESSO PENAL


Os princípios são mandamentos de otimização que ordenam que algo seja
realizado na maior medida possível dentro das possibilidades jurídicas e fáticas
existentes (Alexy).

1. PRINCÍPIO DA JURISDICIONALIDADE (OU DA GARANTIA DE JURISDIÇÃO)


O juiz deve ser natural, imparcial e competente.
Art. 5º, XXXVII, CF.

XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção;

Art. 5º, LIII, CF.


LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade
competente;

Exceções:

a) Incidente de Deslocamento de Competência (art. 109, §5º, CF);


Competência passa da Justiça Estadual para a Justiça Federal.
§ 5º Nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, o Procurador-Geral da
República, com a finalidade de assegurar o cumprimento de obrigações

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decorrentes de tratados internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil seja
parte, poderá suscitar, perante o Superior Tribunal de Justiça, em qualquer fase
do inquérito ou processo, incidente de deslocamento de competência para a
Justiça Federal.

b) Prorrogação do foro;
Incompetência relativa.

c) Regras de conexão ou continência;

d) Art. 73, CPP.


Art. 73. Nos casos de exclusiva ação privada, o querelante poderá preferir o foro
de domicílio ou da residência do réu, ainda quando conhecido o lugar da infração.

e) Interceptação telefônica.
Teoria do Juízo aparente havendo, por exemplo, modificação superveniente de
competência.

f) (Súmula 704 do Supremo Tribunal Federal).


Não viola as garantias do juiz natural, da ampla defesa e do devido processo legal
a atração por continência ou conexão do processo do corréu ao foro por
prerrogativa de função de um dos denunciados"

Depois do julgamento do Mensalão, o STF alterou a sua posição para entender


que, em regra, deve haver cisão dos processos quando ocorrer concurso de
agentes com foro por prerrogativa e corréu sem foro, salvo quando os fatos
estiverem de tal forma IMBRICADOS que a cisão processual por si só implique
prejuízo ao seu esclarecimento.
STF,Inq 3842AgR-quinto/DF,2ªT,J.15/12/2015
STF,Pet.6727AgR/DF,2ªT,J.30/06/2017

STF, AP 937, Tribunal Pleno, j. 03/05/2018.


O foro por prerrogativa de função aplica-se apenas aos crimes cometidos durante
o exercício do cargo e relacionados às funções desempenhadas.
Após o final da instrução processual, com a publicação do despacho de intimação
para apresentação de alegações finais, a competência para processar e julgar

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ações penais não será mais afetada em razão de o agente público vir a ocupar
outro cargo ou deixar cargo que ocupava, qualquer que seja o motivo.

STJ, AP 878, j. 21/11/2018 (INFORMATIVO 639).


DESTAQUE
O Superior Tribunal de Justiça é o tribunal competente para o julgamento nas
hipóteses em que, não fosse a prerrogativa de foro (art. 105, I, da Constituição
Federal), o desembargador acusado houvesse de responder à ação penal perante
juiz de primeiro grau vinculado ao mesmo tribunal.
INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR
Cinge-se a controvérsia a saber se desembargador que responde pela prática, em
tese, de delito de lesão corporal tem ou não prerrogativa de foro. O crime que é
imputado ao réu não tem relação com o exercício do cargo, de modo que, a
princípio, aplicando-se o precedente do Supremo Tribunal Federal no julgamento
da QO na AP 937, não teria o réu foro no Superior Tribunal de Justiça. Porém,
quanto aos membros da magistratura nacional, pode-se afirmar que as razões
subjacentes à norma constitucional que estabelece foro por prerrogativa de
função vão além daquela considerada pelo STF (a de que o titular da prerrogativa
de foro possa exercer suas funções de forma livre e independente). É que, em se
tratando de acusado e de julgador, ambos, membros da magistratura nacional,
pode-se afirmar que a prerrogativa de foro não se justifica apenas para que o
acusado pudesse exercer suas atividades funcionais de forma livre e
independente, pois é preciso também que o julgador possa reunir as condições
necessárias ao desempenho de suas atividades judicantes de forma imparcial.
Esta necessidade não se revela como um privilégio do julgador ou do acusado,
mas como uma condição para que se realize justiça criminal. Ser julgado por juiz
com duvidosa condição de se posicionar de forma imparcial, afinal, violaria a
pretensão de realização de justiça criminal de forma isonômica e republicana. A
partir desta forma de colocação do problema, pode-se argumentar que, caso
desembargadores, acusados da prática de qualquer crime (com ou sem relação
com o cargo de Desembargador) viessem a ser julgados por juiz de primeiro grau
vinculado ao Tribunal ao qual ambos pertencem, se criaria, em alguma medida,
um embaraço ao juiz de carreira. Isso porque, consoante a disciplina jurídica
aplicável, os Tribunais locais (por meio de seus desembargadores) promovem sua
própria gestão (art. 96, I, "a", e art. 99 da Constituição) e correicionam as
atividades dos juízes de primeiro grau de jurisdição (art. 96, I, "b"), além de
deliberarem sobre o vitaliciamento e efetuarem a movimentação dos juízes na

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carreira, por antiguidade ou merecimento (art. 93, II e III) e, até, autorizarem ou
não o juiz a residir fora da comarca (art. 93, VII) e mesmo a fruição de licença,
férias ou outros afastamentos (art. 96, I, "f"). Neste contexto normativo
constitucional, é de se questionar se resultaria em credibilidade ou,
eventualmente, em descrédito à justiça criminal a sentença penal prolatada por
juiz de primeiro grau que estivesse a apreciar se o desembargador que integra
seu tribunal há de ser considerado culpado ou não culpado pela infração a ele
imputada.

g) SÚMULA VINCULANTE Nº 45.


A competência constitucional do Tribunal do Júri prevalece sobre o foro por
prerrogativa de função estabelecido exclusivamente pela Constituição Estadual.

2. PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA


Art. 5º, LVII, CF.
LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença
penal condenatória;

O ônus da prova incumbe a quem acusa (MP ou querelante). Se a defesa alegar


excludente de ilicitude, deve prová-la.
Em regra, liberdade e não constrição dos bens.
Se houver dúvida, presume-se a inocência do réu (in dubio pro reo).

Art. 386, CPP. O juiz absolverá o réu, mencionando a causa na parte dispositiva,
desde que reconheça:
VII – não existir prova suficiente para a condenação.

Prisão em segunda instância.


O STF mudou o entendimento.
Posição atual: Informativo nº 958, j. em 07.11.2019. A Corte decidiu pela
constitucionalidade do art. 283 do CPP, ou seja, não é possível a execução da
pena antes do trânsito em julgado de sentença condenatória.
Art. 283. Ninguém poderá ser preso senão em flagrante delito ou por ordem
escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente, em decorrência de
prisão cautelar ou em virtude de condenação criminal transitada em julgado.
(Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019) (Vigência)

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3. PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA
Art. 5º, LV, CF.
Contraditório: método de confrontação da prova para comprovação da verdade.
As partes têm a possibilidade de contrariar o que fora alegado pela outra.
Havendo cautelaridade = contraditório diferido ou postergado.
Art. 155, CPP.
Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida
em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente
nos elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas
cautelares, não repetíveis e antecipadas. (Redação dada pela Lei nº
11.690, de 2008)
Parágrafo único. Somente quanto ao estado das pessoas serão observadas as
restrições estabelecidas na lei civil. (Incluído pela Lei nº 11.690, de
2008)

Ampla defesa: defesa técnica (que dá a paridade de armas, é obrigatória) +


autodefesa.
Direito de saber tudo o que há em seu desfavor
STF, Súmula Vinculante 14 (J. 02/02/2009)
Lei 8.906/94, Art. 7º, XIV, c/c §§10 e 11 (Vide art. 23 da Lei 12.850/2013)

Súmula 523, STF.


No processo penal, a falta da defesa constitui nulidade absoluta, mas a sua
deficiência só o anulará se houver prova de prejuízo para o réu.

Art. 261, CPP.


Art. 261. Nenhum acusado, ainda que ausente ou foragido, será processado ou
julgado sem defensor.
Parágrafo único. A defesa técnica, quando realizada por defensor público ou
dativo, será sempre exercida através de manifestação fundamentada.
(Incluído pela Lei nº 10.792, de 1º.12.2003)

Autodefesa positiva: quando o acusado dá a sua versão dos fatos.


Autodefesa negativa: quando o acusado permanece em silêncio.
Súmula 707, STF.

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Constitui nulidade a falta de intimação do denunciado para oferecer contra-
razões ao recurso interposto da rejeição da denúncia, não a suprindo a nomeação
de defensor dativo.

Súmula 708, STF.


É nulo o julgamento da apelação se, após a manifestação nos autos da renúncia
do único defensor, o réu não foi previamente intimado para constituir outro.

Súmula 712, STF.


É nula a decisão que determina o desaforamento de processo da competência do
júri sem audiência da defesa.

STF, Informativos 953 e 954.


O Plenário, por maioria, concedeu ordem de habeas corpus para anular decisão
do juízo de primeiro grau e determinar o retorno dos autos à fase de alegações
finais, a qual deverá seguir a ordem constitucional sucessiva, ou seja, primeiro a
acusação, depois o delator e por fim o delatado (J.2.10.2019).

Art. 4º, §10-A da Lei nº12.850/13.


§ 10-A Em todas as fases do processo, deve-se garantir ao réu delatado a
oportunidade de manifestar-se após o decurso do prazo concedido ao réu que o
delatou. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

4. PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE
Garantia de acesso de todo e qualquer cidadão aos atos praticados no curso do
processo penal.
Para Ferrajoli, é uma garantia da garantia (garantia de segundo grau).
Fundamento legal: arts. 5º, XXXIII e 93, IX da CF.
A regra é a publicidade ampla, mas há exceções. Ex: arts. 5º, XXXIII e LX, art. 93,
IX, ambos da CF e art. 792, §1º do CPP.
Os casos comumente chamados de “segredo de justiça” são hipóteses de
publicidade restrita (ou interna), havendo limitação à publicidade dos atos.

5. PRINCÍPIO DA INADMISSIBILIDADE DAS PROVAS OBTIDAS POR MEIOS


ILÍCITOS
Fundamento: art.5º, LVI da CF (“são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas
por meios ilícitos”).

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→ Acompanhe a aula do Prof. Cristiano Campidelli. Canal do Supremo
Concursos no Youtube.
Link: https://www.youtube.com/watch?v=tX6ldwJ4nYo

PRINCÍPIOS PROCESSUAIS PENAIS. COLETÂNEA TEMÁTICA DE


JURISPRUDÊNCIA – SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL.
Veja as principais decisões do Supremo Tribunal Federal na temática de
princípios processuais penais. A coletânea foi organizada pelo próprio Tribunal:
"(...) no caso dos autos, as instâncias precedentes recusaram o pedido defensivo
de incidência da minorante do § 4º do art. 33 da Lei 11.343/2006 sob o
fundamento de inexistir prova da primariedade do acusado. Incorrendo, assim,
numa indisfarçável inversão do ônus da prova e, no extremo, na nulificação da
máxima que operacionaliza o direito à presunção de não culpabilidade: in dubio
pro reu. Preterição, portanto, de um direito constitucionalmente inscrito no
âmbito de tutela da liberdade do indivíduo." (HC 97.701, rel. min. Ayres Britto,
julgamento em 3-4-2012, Segunda Turma, DJE de 21-9-2012.)
"O princípio processual penal do favor rei não ilide a possibilidade de utilização
de presunções hominis ou facti, pelo juiz, para decidir sobre a procedência do ius
puniendi, máxime porque o CPP prevê expressamente a prova indiciária,
definindo-a no art. 239 como 'a circunstância conhecida e provada, que, tendo
relação com o fato, autorize, por indução, concluir-se a existência de outra ou
outras circunstâncias'." (HC 103.118, rel. min. Luiz Fux, julgamento em 20-3-2012,
Primeira Turma, DJE de 16-4-2012.)
"Reconhecimento da falta grave que implicou na perda integral dos dias remidos.
Impossibilidade. (...) A nova redação conferida pela Lei 12.433/2011 ao art. 127 da
LEP, limita ao patamar máximo de 1/3 a revogação do tempo a ser remido. Por se
tratar de uma novatio legis in mellius, nada impede que ela retroaja para
beneficiar o paciente no caso concreto. Princípio da retroatividade da lei penal
menos gravosa." (RHC 109.847, rel. min. Dias Toffoli, julgamento em 22-11-2011,
Primeira Turma, DJE de 6-12-2011.) No mesmo sentido: HC 110.040, rel. min. Gilmar
Mendes, julgamento em 8-11-2011, Segunda Turma, DJE de 29-11- 2011. "Não há se
subestimar a natureza subsidiária, fragmentária do direito penal, que só deve ser
acionado quando os outros ramos do direito não sejam suficientes para a
proteção dos bens jurídicos envolvidos." (HC 96.370, rel. min. Cármen Lúcia,
julgamento em 18-10-2011, Primeira Turma, DJE de 2-3-2012.)

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"A Lei 12.403/2011, na parte em que alterou o quantum da pena máxima para
concessão de fiança, é nitidamente processual e por isso se aplica o princípio do
tempus regit actum, não o da retroatividade da lei penal mais benéfica." (ARE
644.850-ED, rel. min. Gilmar Mendes, julgamento em 18-10-2011, Segunda Turma,
DJE de 4-11-2011.)
"Violação do Princípio do Promotor Natural. Inocorrência. (...) No caso, a
designação prévia e motivada de um promotor para atuar na sessão de
julgamento do Tribunal do Júri da Comarca de Santa Izabel do Pará se deu em
virtude de justificada solicitação do promotor titular daquela localidade, tudo em
estrita observância aos artigos 10, inc. IX, alínea f, parte final, e 24, ambos da Lei
nº 8.625/93. Ademais, o promotor designado já havia atuado no feito quando do
exercício de suas atribuições na Promotoria de Justiça da referida comarca." (HC
103.038, rel. min. Joaquim Barbosa, julgamento em 11-10-2011, Segunda Turma,
DJE de 27-10-2011.)
"Ante o crime perpetrado, há de adotar-se o princípio unitário relativo à
incidência de normas. Mostrando-se mais favorável a lei posterior, cumpre
observá-la, pouco importando que, com isso, a pena-base seja superior à
inicialmente prevista. O benefício é aquilatado a partir do resultado final
decorrente da dosimetria da pena." (HC 104.193, rel. min. Marco Aurélio,
julgamento em 9-8-2011, Primeira Turma, DJE de 29-8-2011.)
"Lei do crime organizado (art. 7º). Vedação legal apriorística de liberdade
provisória. Convenção de Parlermo (art. 11). Inadmissibilidade de sua invocação.
(...) Cláusulas inscritas nos textos de tratados internacionais que imponham a
compulsória adoção, por autoridades judiciárias nacionais, de medidas de
privação cautelar da liberdade individual, ou que vedem, em caráter imperativo,
a concessão de liberdade provisória, não podem prevalecer em nosso sistema de
direito positivo, sob pena de ofensa à presunção de inocência, dentre outros
princípios constitucionais que informam e compõem o estatuto jurídico daqueles
que sofrem persecução penal instaurada pelo Estado. A vedação apriorística de
concessão de liberdade provisória é repelida pela jurisprudência do STF, que a
considera incompatível com a 6 presunção de inocência e com a garantia do due
process, dentre outros princípios consagrados na CR, independentemente da
gravidade objetiva do delito. Precedente: ADI 3.112/DF. A interdição legal in
abstracto, vedatória da concessão de liberdade provisória, incide na mesma
censura que o Plenário do STF estendeu ao art. 21 do Estatuto do Desarmamento
(ADI 3.112/DF), considerados os postulados da presunção de inocência, do due
process of law, da dignidade da pessoa humana e da proporcionalidade, analisado

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este na perspectiva da proibição do excesso. O legislador não pode substituir-se
ao juiz na aferição da existência de situação de real necessidade capaz de
viabilizar a utilização, em cada situação ocorrente, do instrumento de tutela
cautelar penal. Cabe, unicamente, ao Poder Judiciário, aferir a existência, ou não,
em cada caso, da necessidade concreta de se decretar a prisão cautelar." (HC
94.404, rel. min. Celso de Mello, julgamento em 18-11-2008, Segunda Turma, DJE
de 18-6-2010.)
"Descaminho. Montante dos impostos não pagos. (...) De acordo com o art. 20 da
Lei 10.522/2002, na redação dada pela Lei 11.033/2004, os autos das execuções
fiscais de débitos inferiores a dez mil reais serão arquivados, sem baixa na
distribuição, mediante requerimento do procurador da Fazenda Nacional, em ato
administrativo vinculado, regido pelo princípio da legalidade. O montante de
impostos supostamente devido pelo paciente é inferior ao mínimo legalmente
estabelecido para a execução fiscal, não constando da denúncia a referência a
outros débitos em seu desfavor, em possível continuidade delitiva. Ausência, na
hipótese, de justa causa para a ação penal, pois uma conduta administrativamente
irrelevante não pode ter relevância criminal. Princípios da subsidiariedade, da
fragmentariedade, da necessidade e da intervenção mínima que regem o direito
penal." (HC 92.438, rel. min. Joaquim Barbosa, julgamento em 19-8-2008,
Segunda Turma, DJE de 19-12-2008.) No mesmo sentido: HC 97.096, rel. min. Dias
Toffoli, julgamento em 4-5-2010, Primeira Turma, DJE de 4-6-2010. Em sentido
contrário: HC 100.986, rel. min. Marco Aurélio, julgamento em 31-5-2011, Primeira
Turma, DJE de 1º-8-2011. Vide: HC 122.213, rel. min. Ricardo Lewandowski,
julgamento em 27-5-2014, Segunda Turma, DJE de 12-6-2014; HC 100.367, rel. min.
Luiz Fux, julgamento em 9-8-2011, Primeira Turma, DJE de 8-9-2011; HC 97.257,
rel. min. Marco Aurélio, julgamento em 5-10-2010, Primeira Turma, DJE de 2-12-
2010; HC 101.068, rel. min. Eros Grau, julgamento em 2-2-2010, Segunda Turma,
DJE de 7-5-2010.
"Nenhuma afronta ao princípio do promotor natural há no pedido de
arquivamento dos autos do inquérito policial por um promotor de justiça e na
oferta da denúncia por outro, indicado pelo procurador-geral de Justiça, após o
juízo local ter considerado improcedente o pedido de arquivamento." (HC 92.885,
rel. min. Cármen Lúcia, julgamento em 29-4-2008, Primeira Turma, DJE de 20-6-
2008.)
“Inquérito. Arquivamento implícito. A ordem jurídica em vigor não contempla o
arquivamento implícito do inquérito, presentes sucessivas manifestações do
Ministério Público visando a diligências. Promotor natural. Alcance. O princípio

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do promotor natural está ligado à persecução criminal, não alcançando
inquérito, quando, então, ocorre o simples pleito de diligências para elucidar
dados relativos à prática criminosa. A subscrição da denúncia pelo promotor da
comarca e por promotores auxiliares não a torna, ante a subscrição destes
últimos, à margem do direito.” (RHC 93.247, Rel. Min. Marco Aurélio, julgamento
em 18-3- 2008, Primeira Turma, DJE de 2-5-2008.) Vide: RHC 95.141, Rel. Min.
Ricardo Lewandowski, julgamento em 6-10-2009, Primeira Turma, DJE de 23-10-
2009.
"Vige em nosso sistema o princípio do livre convencimento motivado ou da
persuasão racional, segundo o qual compete ao juiz da causa valorar com ampla
liberdade os elementos de prova constantes dos autos, desde que o faça
motivadamente, com o que se permite a aferição dos parâmetros de legalidade
e razoabilidade adotados nessa operação intelectual. Não vigora mais entre nós
o sistema das provas tarifadas, segundo o qual o legislador estabelecia
previamente o valor, a força probante de cada meio de prova. Tem-se, assim, que
a confissão do réu, quando desarmônica com as demais provas do processo, deve
ser valorada com reservas. Inteligência do art. 197 do CPP. A sentença absolutória
de 1º grau apontou motivos robustos para pôr em dúvida a autoria do delito.
Malgrado a confissão havida, as demais provas dos autos sustentam, quando
menos, a aplicação do princípio do favor rei." (RHC 91.691, rel. min. Menezes
Direito, julgamento em 19-2-2008, Primeira Turma, DJE de 25-4- 2008.)
"Para a teoria moderna -- que dá realce primacial aos princípios da necessidade
da incriminação e da lesividade do fato criminoso -- o cuidar-se de crime de mera
conduta -- no sentido de não se exigir à sua configuração um resultado material
exterior à ação -- não implica admitir sua existência independentemente de lesão
efetiva ou potencial ao bem jurídico tutelado pela incriminação da hipótese de
fato. É raciocínio que se funda em axiomas da moderna teoria geral do direito
penal; para o seu acolhimento, convém frisar, não é necessário, de logo, acatar a
tese mais radical que erige a exigência da ofensividade a limitação de raiz
constitucional ao legislador, de forma a proscrever a legitimidade da criação por
lei de crimes de perigo abstrato ou presumido: basta, por ora, aceitá-los como
princípios gerais contemporâneos da interpretação da lei penal, que hão de
prevalecer sempre que a regra incriminadora os comporte." (RHC 81.057, rel. min.
Sepúlveda Pertence, julgamento em 25-5- 2004, Primeira Turma, DJ de 29-4-
2005.)
"O STF, por seu plenário, rejeitou a tese do promotor natural, porque dependente
de interposição legislativa (HC 67.759, rel. min. Celso de Mello, DJ de 1º-7-1993)."

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(RE 387.974, rel. min. Ellen Gracie, julgamento em 14-10-2003, Segunda Turma,
DJ de 26-3-2004.) "Da explícita proscrição da prova ilícita, sem distinções quanto
ao crime objeto do processo (CF, art. 5º, LVI), resulta a prevalência da garantia
nela estabelecida sobre o interesse na busca, a qualquer custo, da verdade real
no processo: consequente impertinência de apelar-se ao princípio da
proporcionalidade -- à luz de teorias estrangeiras inadequadas à ordem
constitucional brasileira -- para sobrepor, à vedação constitucional da admissão
da prova ilícita, considerações sobre a gravidade da infração penal objeto da
investigação ou da imputação." (HC 80.949, rel. min. Sepúlveda Pertence,
julgamento em 30-10-2001, Primeira Turma, DJ de 14-12-2001.)
"Objeção de princípio -- em relação à qual houve reserva de ministros do tribunal
-- à tese aventada de que à garantia constitucional da inadmissibilidade da prova
ilícita se possa opor, com o fim de dar-lhe prevalência em nome do princípio da
proporcionalidade, o interesse público na eficácia da repressão penal em geral
ou, em particular, na de determinados crimes: é que, aí, foi a Constituição mesma
que ponderou os valores contrapostos e optou -- em prejuízo, se necessário da
eficácia da persecução criminal -- pelos valores fundamentais, da dignidade
humana, aos quais serve de salvaguarda a proscrição da prova ilícita: de qualquer
sorte -- salvo em casos extremos de necessidade inadiável e incontornável -- a
ponderação de quaisquer interesses constitucionais oponíveis à inviolabilidade
do domicílio não compete a posteriori ao juiz do processo em que se pretenda
introduzir ou valorizar a prova obtida na invasão ilícita, mas sim àquele a quem
incumbe autorizar previamente a diligência." (HC 79.512, rel. min. Sepúlveda
Pertence, julgamento em 16-12-1999, Plenário, DJ de 16-5-2003.)
“O postulado do promotor natural, que se revela imanente ao sistema
constitucional brasileiro, repele, a partir da vedação de designações casuísticas
efetuadas pela chefia da instituição, a figura do acusador de exceção. Esse
princípio consagra uma garantia de ordem jurídica, destinada tanto a proteger o
membro do Ministério Público, na medida em que lhe assegura o exercício pleno
e independente do seu ofício, quanto a tutelar a própria coletividade, a quem se
reconhece o direito de ver atuando, em quaisquer causas, apenas o promotor cuja
intervenção se justifique a partir de critérios abstratos e predeterminados,
estabelecidos em lei. A matriz constitucional desse princípio assenta-se nas
cláusulas da independência funcional e da inamovibilidade dos membros da
Instituição. O postulado do promotor natural limita, por isso mesmo, o poder do
procurador-geral que, embora expressão visível da unidade institucional, não
deve exercer a chefia do Ministério Público de modo hegemônico e

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incontrastável. Posição dos Ministros Celso de Mello (relator), Sepúlveda
Pertence, Marco Aurélio e Carlos Velloso. Divergência, apenas, quanto a
aplicabilidade imediata do princípio do promotor natural: necessidade da
interpositio legislatoris para efeito de atuação do princípio (Min. Celso de Mello);
incidência do postulado, independentemente de intermediação legislativa
(Ministros Sepúlveda Pertence, Marco Aurélio e Carlos Velloso)." (HC 67.759, rel.
min. Celso de Mello, julgamento em 6-8-1992, Plenário, DJ de 1º-7-1993.) No
mesmo sentido: HC 102.147-AgR, rel. min. Celso de Mello, julgamento em 1º-3-2011,
Segunda Turma, DJE de 30-10-2014.
"É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos
elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório
realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito ao
exercício do direito de defesa." (Súmula Vinculante 14.)
“Poderes de investigação do Ministério Público. Os artigos 5º, incisos LIV e LV,
129, incisos III e VIII, e 144, inciso IV, § 4º, da Constituição Federal, não tornam a
investigação criminal exclusividade da polícia, nem afastam os poderes de
investigação do Ministério Público. Fixada, em repercussão geral, tese assim
sumulada: “O Ministério Público dispõe de competência para promover, por
autoridade própria, e por prazo razoável, investigações de natureza penal, desde
que respeitados os direitos e garantias que assistem a qualquer indiciado ou a
qualquer pessoa sob investigação do Estado, observadas, sempre, por seus
agentes, as hipóteses de reserva constitucional de jurisdição e, também, as
prerrogativas profissionais de que se acham investidos, em nosso País, os
Advogados (Lei 8.906/94, artigo 7º, notadamente os incisos I, II, III, XI, XIII, XIV e
XIX), sem prejuízo da possibilidade – sempre presente no Estado democrático de
Direito – do permanente controle jurisdicional dos atos, necessariamente
documentados (Súmula Vinculante 14), praticados pelos membros dessa
instituição‟.” (RE 593.727, rel. p/ o ac. min. Gilmar Mendes, julgamento em 14-5-
2015, Plenário, DJE de 8-9-2015, com repercussão geral.)
“(...) o indeferimento de acesso aos autos de procedimento resultante de
interceptação telefônica daqueles que não figuram como investigados não
afronta o enunciado da Súmula Vinculante nº 14, a qual determina o acesso aos
processos sigilosos apenas dos investigados.” (Rcl 13.852-AgR, rel. min. Dias
Toffoli, julgamento me 16-12-2014, Primeira Turma, DJE de 13-2-2015.)
“O paciente aceitou as condições impostas na audiência admonitória para a
concessão do sursis (art. 614, § 1º, a, do CPPM). Iniciado o período probatório,
deixou de cumprir a que exigia seu comparecimento trimestral em juízo. A

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propositada inércia do condenado, que, devidamente intimado, não apresentou
justificativa, descaracteriza eventual cerceamento de defesa a justificar a
nulidade da decisão que revogou a benesse.” (HC 116.554, rel. min. Teori Zavascki,
julgamento em 23-9-2014, DJE de 16-10-2014.) Vide: AP 512-AgR, rel. min. Ayres
Britto, julgamento em 15-3-2012, Plenário, DJE de 20-4-2012.
“Não se pode dizer da irregularidade no que, presente lâmina alusiva a material,
vem ao processo manifestação pericial, abrindo-se oportunidade à defesa para
os questionamentos pertinentes.” (RHC 119.861, rel. min. Marco Aurélio,
julgamento em 5-8-2014, Primeira Turma, DJE de 5-9-2014.)
“Condenação. Apelo defensivo. Juntada do voto divergente quinze dias após a
publicação do acórdão no Diário da Justiça. Certificação do trânsito em julgado
e expedição do mandado de prisão para o início do cumprimento da pena.
Constrangimento ilegal verificado. Violação à ampla defesa. Ausente o voto
vencido, ficou a parte impedida de verificar os fundamentos e a extensão da
divergência para apresentar corretamente o recurso cabível. Ordem concedida
parcialmente para reconhecer a nulidade da certidão de trânsito em julgado da
condenação, e, assim, determinar à Corte estadual que, superada a
intempestividade do recurso especial, proceda a novo juízo de admissibilidade do
recurso. Determinação também do recolhimento do mandado de prisão.” (HC
118.344, rel. min. Gilmar Mendes, julgamento em 18-3-2014, Segunda Turma, DJE
de 16-6-2014.)
“A formulação de pedido de prisão, pelo MPF, na véspera da sessão de
julgamento cuja data havia sido veiculada com a devida antecedência, não
conduz à necessidade de adiamento do julgamento já anteriormente designado,
para oitiva prévia da defesa sobre o pleito ministerial que, ademais, não foi objeto
do julgamento. Ausente qualquer violação à ampla defesa ou ao contraditório.”
(AP 470-QO-décima primeira, rel. min. Joaquim Barbosa, julgamento em 13- 11-
2013, Plenário, DJE de 19-2-2014.)
"O direito de recorrer não pode dar ensejo ao abuso do direito, máxime em via
impugnativa substitutiva de habeas corpus. É cediço na Corte que a recalcitrância
em aceitar o trânsito em julgado, impedindo a entrega definitiva da prestação
jurisdicional mediante a sucessiva interposição de recursos contrários à
jurisprudência, consubstancia adoção de expediente meramente protelatório e
desvirtuamento do postulado constitucional da ampla defesa, caracterizando a
prática abusiva do exercício do direito de defesa." (HC 111.226, rel. min. Luiz Fux,
julgamento em 18-9-2012, Primeira Turma, DJE de 3-10-2012.)

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"A determinação de elaboração de laudo pericial na fase do inquérito, sem prévio
oferecimento de quesitos pela defesa, não ofende o princípio da ampla defesa.
Posterior juntada e oportunidade de manifestação da defesa e oferecimento de
quesitos." (AI 658.050-AgR, rel. min. Joaquim Barbosa, julgamento em 12-4-2011,
Segunda Turma, DJE de 29-4-2011.)
"Não há nos autos qualquer manifestação da defesa do recorrente insurgindo-se
contra o cancelamento da audiência em que seria inquirida a testemunha,
tampouco há referência acerca do tema nas alegações finais. Portanto, não há
que se falar, no caso concreto, em violação ao princípio da ampla defesa, em
razão da preclusão do direito de oitiva da testemunha." (RHC 103.550, rel. min.
Ellen Gracie, julgamento em 29-3-2011, Segunda Turma, DJE de 18-4-2011.)
"Nem se diga (...) que a conduta de oferecer dinheiro ao policial configura ato de
autodefesa do paciente. A despeito de não negar a densidade jurídica do princípio
da ampla defesa, sobretudo na seara do processo penal, é certo que essa garantia
constitucional não pode servir de manto protetor de práticas escusas,
mormente condutas criminosas, devidamente tipificadas no CP. Se assim fosse,
o agente poderia, no intuito de livrar-se dos vestígios do crime, matar o policial
que o abordou na flagrância ou ocultar o cadáver, no caso de crime de homicídio
ou latrocínio, tudo isso a título de autodefesa." (HC 105.478 , voto do rel. min.
Gilmar Mendes, julgamento em 1º-3-2011, Segunda Turma, DJE de 23-3-2011.)
"O acervo probatório que efetivamente serviu para condenação do paciente foi
aquele obtido no inquérito policial. Segundo entendimento pacífico desta Corte
não podem subsistir condenações penais fundadas unicamente em prova
produzida na fase do inquérito policial, sob pena de grave afronta às garantias
constitucionais do contraditório e da plenitude de defesa." (HC 103.660, rel. min.
Ricardo Lewandowski, julgamento em 30-11-2010, Primeira Turma, DJE de 7-4-
2011.)
"Crime contra a ordem tributária. Imputação penal deduzida contra sócios da
empresa. Acusação que deve narrar, de modo individualizado, a conduta
específica que vincula cada sócio ao evento supostamente delituoso. A questão
dos delitos societários e a inadmissível formulação de acusações genéricas.
Ofensa aos postulados constitucionais da plenitude de defesa e da presunção
de inocência. Medida cautelar deferida. A invocação da condição de sócio e/ou
de administrador de organização empresarial, sem a correspondente e
individualizada descrição de determinada conduta típica que os vincule, de modo
concreto, ao evento alegadamente delituoso, não se revela fator suficiente apto
a justificar, nos delitos societários, a formulação de acusação estatal genérica ou

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a prolação de sentença penal condenatória. Precedentes (STF)." (HC 105.953-MC,
rel. min. Celso de Mello, decisão monocrática, julgamento em 5-11-2010, DJE de 11-
11-2010.)
"A defesa técnica é aquela exercida por profissional legalmente habilitado, com
capacidade postulatória, constituindo direito indisponível e irrenunciável. A
pretensão do paciente de realizar sua própria defesa mostra-se inadmissível, pois
se trata de faculdade excepcional, exercida nas hipóteses estritamente previstas
na Constituição e nas leis processuais. Ao réu é assegurado o exercício da
autodefesa consistente em ser interrogado pelo juízo ou em invocar direito ao
silêncio, bem como de poder acompanhar os atos da instrução criminal, além de
apresentar ao respectivo advogado a sua versão dos fatos para que este elabore
as teses defensivas. Ao acusado, contudo, não é dado apresentar sua própria
defesa, quando não possuir capacidade postulatória." (HC 102.019, rel. min.
Ricardo Lewandowski, julgamento em 17-8-2010, Primeira Turma, DJE de 22-10-
2010.) Vide: HC 99.330, rel. p/ o ac. min. Eros Grau, julgamento em 16-3-2010,
Segunda Turma, DJE de 23-4-2010; RE 459.131, rel. min. Ricardo Lewandowski,
julgamento em 12-8-2008, Primeira Turma, DJE de 12-9-2008.
"Não há violação dos princípios do contraditório e da ampla defesa, quando,
em julgamento de recurso de apelação do Ministério Público, o Tribunal aplica
agravante não reconhecida pelo juiz de primeiro grau, mas cuja existência consta
dos autos." (RHC 99.306, rel. min. Ricardo Lewandowski, julgamento em 16-6-
2010, Primeira Turma, DJE de 20-8-2010.)
"Delito de concussão (...). Funcionário público. Oferecimento de denúncia. Falta
de notificação do acusado para resposta escrita. Art. 514 do CPP. Prejuízo.
Nulidade. Ocorrência. (...) O prejuízo pela supressão da chance de oferecimento
de resposta preliminar ao recebimento da denúncia é indissociável da abertura
em si do processo penal. Processo que, no caso, resultou em condenação, já
confirmada pelo Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, no patamar de
três anos de reclusão. Na concreta situação dos autos, a ausência de
oportunidade para o oferecimento da resposta preliminar na ocasião legalmente
assinalada revela-se incompatível com a pureza do princípio constitucional da
plenitude de defesa e do contraditório, mormente em matéria penal. Noutros
termos, a falta da defesa preliminar à decisão judicial quanto ao recebimento
da denúncia, em processo tão vincado pela garantia constitucional da ampla
defesa e do contraditório, como efetivamente é o processo penal, caracteriza
vício insanável. A ampla defesa é transformada em curta defesa, ainda que por
um momento, e já não há como desconhecer o automático prejuízo para a parte

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processual acusada, pois o fato é que a garantia da prévia defesa é instituída
como possibilidade concreta de a pessoa levar o julgador a não receber a
denúncia ministerial pública. Logo, sem a oportunidade de se contrapor ao
Ministério Público quanto à necessidade de instauração do processo penal --
objetivo da denúncia do Ministério Público --, a pessoa acusada deixa de usufruir
da garantia da plenitude de defesa para escapar à pecha de réu em processo
penal. O que traduz, por modo automático, prejuízo processual irreparável, pois
nunca se pode saber que efeitos produziria na subjetividade do magistrado
processante a contradita do acusado quanto ao juízo do recebimento da
denúncia." (HC 95.712, rel. min. Ayres Britto, julgamento em 20-4-2010, Primeira
Turma, DJE de 21-5-2010.)
"A CB/1988 determina que 'o advogado é indispensável à administração da
justiça' (art. 133). É por intermédio dele que se exerce 'o contraditório e a ampla
defesa, com os meios e recursos a ela inerentes' (art. 5º, LV). O falecimento do
patrono do réu cinco dias antes da publicação do acórdão, do STJ, que não
admitiu o agravo de instrumento consubstancia situação relevante. Isso porque,
havendo apenas um advogado constituído nos autos, a intimação do acórdão
tornou-se impossível após a sua morte. Em consequência, o paciente ficou sem
defesa técnica. Há, no caso, nítida violação do contraditório e da ampla defesa,
a ensejar a desconstituição do trânsito em julgado do acórdão e a devolução do
prazo recursal, bem assim a restituição da liberdade do paciente, que respondeu
à ação penal solto." (HC 99.330, rel. p/ o ac. min. Eros Grau, julgamento em 16-
3-2010, Segunda Turma, DJE de 23-4-2010.) No mesmo sentido: HC 108.795, rel.
min. Cármen Lúcia, julgamento em 3-4-2012, Primeira Turma, DJE de 1º-8-2012.
"Habeas corpus. Julgamento. Manifestações. Defesa. Ministério Público. Na dicção
da sempre ilustrada maioria, em relação a qual guardo reservas, ainda que o ato
atacado com a impetração repouse em requerimento do PGR, cabe à vice que o
substitua falar após a sustentação da tribuna pela defesa. (...) Habeas corpus.
Aditamento. Abandono da ortodoxia. O habeas corpus está imune às regras
instrumentais comuns, devendo reinar flexibilidade maior quando direcionada à
plena defesa." (HC 102.732, rel. min. Marco Aurélio, julgamento em 4-3- 2010,
Plenário, DJE de 7-5-2010.)
"Na ausência de comprovação de que o advogado manifestou oportunamente o
seu interesse em realizar sustentação oral, torna-se impossível aferir eventual
violação ao princípio da ampla defesa." (HC 99.271, rel. min. Ricardo
Lewandowski, julgamento em 15-12-2009, Primeira Turma, DJE de 26-2-2010.)

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"O réu tem o direito de escolher o seu próprio defensor. Essa liberdade de
escolha traduz, no plano da persecutio criminis, específica projeção do
postulado da amplitude de defesa proclamado pela Constituição. Cumpre ao
magistrado processante, em não sendo possível ao defensor constituído assumir
ou prosseguir no patrocínio da causa penal, ordenar a intimação do réu para que
este, querendo, escolha outro advogado. Antes de realizada essa intimação -- ou
enquanto não exaurido o prazo nela assinalado -- não é lícito ao juiz nomear
defensor dativo (ou defensor público) sem expressa aquiescência do réu." (HC
96.905, rel. min. Celso de Mello, julgamento em 25-8-2009, Segunda Turma, DJE
de 22-8-2011.) Vide: HC 111.114, rel. min. Cármen Lúcia, julgamento em 24-9-2013,
Segunda Turma, DJE de 9-10-2013.
"A ausência da notificação prévia de que trata o art. 514 do CPP constitui vício
que gera nulidade relativa e deve ser arguida oportunamente, sob pena de
preclusão. Precedentes. O princípio do pas de nullité sans grief exige a
demonstração de prejuízo concreto à parte que suscita o vício,
independentemente da sanção prevista para o ato, pois não se declara nulidade
processual por mera presunção. Precedentes. A jurisprudência deste STF
assentou o entendimento de que o art. 514 do CPP tem por objetivo 'dar ao réu-
funcionário a possibilidade de evitar a instauração de processo temerário, com
base em acusação que já a defesa prévia ao recebimento da denúncia poderia, de
logo, demonstrar de todo infundada. Obviamente, após a sentença condenatória,
não se há de cogitar de consequência de perda dessa oportunidade de todo
superada com a afirmação, no mérito, da procedência da denúncia' (HC 72.198,
DJ de 26-5-1995)." (HC 97.033, rel. min. Cármen Lúcia, julgamento em 12-5-2009,
Primeira Turma, DJE de 12-6-2009.) No mesmo sentido: HC 89.517, rel. min. Cezar
Peluso, julgamento em 15-12-2009, Segunda Turma, DJE de 12-2-2010. Em sentido
contrário: HC 95.712, rel. min. Ayres Britto, julgamento em 20-4-2010, Primeira
Turma, DJE de 21-5-2010. Vide: HC 89.686, rel. min. Sepúlveda Pertence,
julgamento em 12-6-2007, Primeira Turma, DJ de 17-8-2007.
"A ausência de intimação para oitiva de testemunha no juízo deprecado não
consubstancia constrangimento ilegal. Havendo ciência da expedição da carta
precatória, como no caso se deu, cabe ao paciente ou a seu defensor acompanhar
o andamento do feito no juízo deprecado. Peculiaridade do caso. Efetiva violação
do princípio da ampla defesa resultante da impossibilidade de atuação da defesa
técnica. O advogado do paciente teve, a partir da ciência da expedição da carta
precatória, sete dias úteis para deslocar-se do Rio de Janeiro a Belém do Pará, o
que, na prática, inviabilizou seu comparecimento. Nomeação de defensor dativo

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para atuar em momento importante do processo, cuja inicial contém
quatrocentas páginas. Satisfação apenas formal da exigência de defesa técnica
ante a impossibilidade de atuação eficiente." (HC 91.501, rel. min. Eros Grau,
julgamento em 10-2-2009, Segunda Turma, DJE de 8-5-2009.) No mesmo
sentido: HC 95.106, rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 16-11- 2010, Segunda
Turma, DJE de 11-2-2011.
"Aplicação da Súmula 704. Não viola as garantias do juiz natural e da ampla
defesa, elementares do devido processo legal, a atração, por conexão ou
continência, do processo do corréu ao foro por prerrogativa de função de um
dos denunciados, a qual é irrenunciável." (Inq 2.424, rel. min. Cezar Peluso,
julgamento em 26-11-2008, Plenário, DJE de 26-3-2010.) No mesmo sentido: Inq
2.704, rel. p/ o ac. min. Dias Toffoli, julgamento em 17-10-2012, Plenário, DJE de
27-2-2013.
"Acesso dos acusados a procedimento investigativo sigiloso. Possibilidade sob
pena de ofensa aos princípios do contraditório, da ampla defesa. Prerrogativa
profissional dos advogados. Art. 7, XIV, da Lei 8.906/1994. (...) O acesso aos autos
de ações penais ou inquéritos policiais, ainda que classificados como sigilosos,
por meio de seus defensores, configura direito dos investigados. A oponibilidade
do sigilo ao defensor constituído tornaria sem efeito a garantia do indiciado,
abrigada no art. 5º, LXIII, da CF, que lhe assegura a assistência técnica do
advogado. Ademais, o art. 7º, XIV, do Estatuto da OAB estabelece que o
advogado tem, entre outros, o direito de 'examinar em qualquer repartição
policial, mesmo sem procuração, autos de flagrante e de inquérito, findos ou em
andamento, ainda que conclusos à autoridade, podendo copiar peças e tomar
apontamentos'. Caracterizada, no caso, a flagrante ilegalidade, que autoriza a
superação da Súmula 691/STF." (HC 94.387, rel. min. Ricardo Lewandowski,
julgamento em 18-11-2008, Primeira Turma, DJE de 6-2-2009.)
"O Ministério Público possui legitimidade processual para defender em juízo
violação à liberdade de ir e vir por meio de habeas corpus. É, no entanto, vedado
ao Parquet utilizar-se do remédio constitucional para veicular pretensão que
favoreça a acusação. O reconhecimento da incompetência do juízo ou a
declaração de inconstitucionalidade de resolução há de ser provocada na via
processual apropriada. Atuação ministerial que fere o devido processo legal e o
direito à ampla defesa." (HC 91.510, rel. min. Ricardo Lewandowski, julgamento
em 11-11- 13 2008, Primeira Turma, DJE de 19-12-2008.) No mesmo sentido: HC
99.948, rel. min. Cármen Lúcia, julgamento em 14-5-2013, Segunda Turma, DJE de
21-6-2013.

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"Princípio da ampla defesa. (...) STJ. Pedido da defesa para realizar sustentação
oral. Comunicação da data de julgamento. Ausência de previsão normativa.
Informação disponibilizada apenas nos meios informatizados daquela Corte.
Necessidade de que a cientificação com antecedência mínima de 48. Exigência
que decorre do princípio da ampla defesa. (...) Sustentação oral não constitui, de
per si, ato essencial à defesa, razão pela qual, em princípio, não há necessidade
de comunicação da data de julgamento. Na ausência de disposição normativa
interna, não é ônus das Cortes de Justiça a comunicação nos termos e prazos
requeridos pelas partes. No caso, todavia, de indicação da defesa de que
pretende sustentar oralmente, a cientificação desta, em tempo hábil, melhor
atende ao disposto no art. 5º, LIV e LV, da Constituição. Afigura-se, porém,
razoável e suficiente que a informação seja disponibilizada por meio dos sistemas
institucionais de acompanhamento processual, observada a antecedência
necessária a permitir o deslocamento do patrono para o ato. Ordem parcialmente
concedida." (HC 92.290, rel. min. Ricardo Lewandowski, julgamento em 30-10-
2007, Primeira Turma, DJ de 30-11-2007.) No mesmo sentido: HC 93.101, rel. min.
Eros Grau, julgamento em 4-12-2007, Segunda Turma, DJE de 22-2-2008.
"Descabida a alegação de que o não reconhecimento da prática de tortura contra
o ora paciente significa ofensa ao direito constitucional de defesa, mormente
quando permitida a produção de provas. A insatisfação com a conclusão do
julgador não é de ser confundida com violação ao direito à ampla defesa. Não
há que se reconhecer ofensa ao princípio da ampla defesa pelo indeferimento de
pedido de diligência à Polícia para localizar testemunha. Cabe à defesa obter e
fornecer ao juízo o endereço correto de suas testemunhas. Afastada também a
alegada violação à ampla defesa, se a diligência requerida reporta-se à
testemunha que nem sequer presenciou o fato-crime." (HC 90.144, rel. min. Ayres
Britto, julgamento em 20-3-2007, Primeira Turma, DJ de 3-8-2007.)
"Ampla defesa: não ofende o art. 5º, LV, da Constituição, acórdão que mantém
o indeferimento de diligência probatória tida por desnecessária, sobretudo
quando, como no caso, não pode mais ser realizada: precedentes." (AI 560.790-
AgR, rel. min. Sepúlveda Pertence, julgamento em 11-10-2005, Primeira Turma, DJ
de 4-11-2005.) No mesmo sentido: AI 747.611, rel. min. Cármen Lúcia, decisão
monocrática, julgamento em 10-6-2009, DJE de 26-6-2009; RE 531.906-AgR, rel.
min. Eros Grau, julgamento em de 10-6-2009, Segunda Turma, DJE de 26- 6-
2009.
"A garantia constitucional da ampla defesa tem, por força direta da
Constituição, um conteúdo mínimo, que independe da interpretação da lei

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ordinária que a discipline (RE 255.397, Primeira Turma, Pertence, DJ de 7-5-
2004).
“(...) Não há afronta à garantia da ampla defesa no indeferimento de prova
desnecessária ou irrelevante." (RE 345.580, rel. min. Sepúlveda Pertence,
julgamento em 17-8-2004, Primeira Turma, DJ de 10-9-2004.) No mesmo sentido:
HC 88.177, rel. min. Cezar Peluso, julgamento em 15-12-2009, Segunda Turma, DJE
de 12-2- 2010.
"A inversão processual, falando antes a defesa e depois a acusação nas alegações
finais (...) implica em nulidade tanto quanto no caso da sustentação oral (...), por
ofensa ao princípio da ampla defesa e do contraditório. Entretanto, quando a
defesa argui questão preliminar nas alegações finais, é legítima a abertura de vista
e a manifestação do Ministério Público, ambos com respaldo legal na aplicação
analógica do art. 327, primeira parte, do CPC, como previsto no art. 3º do CPP,
pois em tal caso é de rigor que outra parte se manifeste, em homenagem ao 14
princípio do contraditório, cujo exercício não é monopólio da defesa." (HC 76.420,
rel. min. Maurício Corrêa, julgamento em 16-6-1998, Segunda Turma, DJE de 14-8-
1998.) No mesmo sentido: RHC 104.261, rel. min. Dias Toffoli, julgamento em 15-3-
2012, Plenário, DJE de 7-8- 2012.
"Só é lícito o uso de algemas em casos de resistência e de fundado receio de
fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou
de terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de
responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e de
nulidade da prisão ou do ato processual a que se refere, sem prejuízo da
responsabilidade civil do Estado." (Súmula Vinculante 11.)
"O uso de algemas durante audiência de instrução e julgamento pode ser
determinado pelo magistrado quando presentes, de maneira concreta, riscos a
segurança do acusado ou das pessoas ao ato presentes." (Rcl 9.468-AgR, rel.
min. Ricardo Lewandowski, julgamento em 24-3-2011, Plenário, DJE de 11-4-2011.)
No mesmo sentido: HC 103.003, rel. min. Ellen Gracie, julgamento em 29-3-2011,
Segunda Turma, DJE de 24-8-2011. Vide: Rcl 7.814, rel. min. Cármen Lúcia,
julgamento em 27-5-2010, Plenário, DJE de 20-8-2010; HC 89.429, rel. min.
Cármen Lúcia, julgamento em 22-8-2006, Primeira Turma, DJ de 2-2-2007.
"Uso de algema. Alegação de contrariedade à Súmula Vinculante 11/STF. Pedido
de revogação da prisão cautelar. Ausência de determinação judicial para o uso de
algemas. Falta de prova da alegação de uso de algema. (...) Na espécie vertente,
o juiz reclamado apenas autorizou o uso de algemas, sem, contudo, determiná-lo,
e deixou a decisão sobre a sua necessidade, ou não, à discrição da autoridade

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policial que efetivamente cumpriria o mandado de prisão, tendo em vista as
circunstâncias do momento da diligência, acentuando a necessidade de
acatamento da Súmula Vinculante 11 deste Supremo Tribunal. Os documentos
colacionados aos autos não comprovam o uso de algemas durante, ou após, a
diligência que resultou na prisão do reclamante, sendo certo que, se usadas, elas
não o foram por determinação do ato reclamado." (Rcl 7.814, rel. min. Cármen
Lúcia, julgamento em 27-5- 2010, Plenário, DJE de 20-8-2010.) Vide: Rcl 9.468-
AgR, rel. min. Ricardo Lewandowski, julgamento em 24-3-2011, Plenário, DJE de
11-4-2011; HC 89.429, rel. min. Cármen Lúcia, julgamento em 22-8-2006, Primeira
Turma, DJ de 2-2-2007.
"O princípio da identidade física do juiz não tem caráter absoluto e comporta
flexibilização." (HC 107.769, rel. min. Cármen Lúcia, julgamento em 18-10-2011,
Primeira Turma, DJE de 28-11- 2011.) No mesmo sentido: HC 112.362, rel min.
Ricardo Lewandowski, julgamento em 9-4- 2013, Segunda Turma, DJE de 10-5-
2013. Vide: HC 123.873, rel. min. Luiz Fux, julgamento em 14-10-2014, Primeira
Turma, DJE de 18-12-2014.

CRIMINOLOGIA
Indicações bibliográficas:
Criminologia – Sérgio Salomão Shecaira
Criminologia – Antonio García-Pablos de Molina (tradução de Luiz Flávio Gomes)
Criminologia Crítica e Crítica do Direito Penal – Alessandro Baratta

Acompanhe o resumo de Criminologia do Prof. Murillo Ribeiro, bem como as


aulas em vídeo indicadas.
Prof. Murillo Ribeiro
CIÊNCIAS CRIMINAIS

O DIREITO PENAL, a CRIMINOLOGIA e a POLÍTICA CRIMINAL são os três pilares


de sustentação das Ciências Criminais.

A Política Criminal é uma disciplina que oferece aos poderes públicos as opções
científicas concretas mais adequadas para controle do crime, de tal forma a servir
de ponte eficaz entre o direito penal e a criminologia, facilitando a recepção das
investigações empíricas e sua eventual transformação em preceitos normativos.

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Para a doutrina majoritária, a Política Criminal não tem autonomia de ciência, já
que não possui método próprio (o tema é controverso, ocasião em que alguns
concursos já admitiram a cientificidade da política criminal).

Exemplo de atuação de Política Criminal: melhoria do sistema de iluminação em


locais com alta incidência de crimes em período noturno.

A Criminologia é uma ciência de referência para a Política Criminal.

Criminologia como ciência: reúne uma informação válida, confiável e contrastada


sobre o problema criminal, que é obtida graças a um método que se baseia na
análise e observação da realidade.

CRIMINOLOGIA

→ TERMINOLOGIA: Termo pensado pelo antropólogo francês Paul Topinard


(1830-1911) e difundido no cenário internacional pelo italiano Raffaele Garofalo
(1851-1934), tem sua etimologia no latim crimen (crime) e no grego logo (tratado),
significando o “estudo do crime”.

→ MARCO CIENTÍFICO:
Corrente majoritária: obra L’Uomo Delinquente (1876), ou O Homem
Delinquente, por Cesare Lombroso – ESCOLA POSITIVISTA.

Corrente minoritária: Dei Delitti e Delle Pene (1764), ou Dos Delitos e Das Penas,
de Cesare Bonesana (ou Marquês de Beccaria, ou Cesare Beccaria) – ESCOLA
CLÁSSICA.

De todo modo, ambos trouxeram relevante contribuição aos estudos do


fenômeno criminal.
CONCEITO

Ciência empírica e interdisciplinar, que se ocupa do estudo do crime, da pessoa


do infrator, da vítima e do controle social do comportamento delitivo, e que trata
de subministrar uma informação válida, contrastada, sobre a gênese, dinâmica e
variáveis principais do crime – contemplado este como problema individual e

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como problema social - , assim como sobre os programas de prevenção eficaz do
mesmo e técnicas de intervenção positiva no homem delinquente e nos diversos
modelos ou sistemas de resposta ao delito (Antonio García-Pablos de Molina).

MÉTODO

A Criminologia está oposta ao Direito Penal, uma vez que trabalha de forma
indutiva, e não dedutiva, como o segundo. Enquanto a Criminologia utiliza um
método empírico, observando a realidade para analisá-la e extrair das
experiências as consequências, o Direito Penal faz uso do método dedutivo,
partindo da regra geral para o caso concreto de forma lógica e abstrata. Se à
criminologia interessa saber como é a realidade, para explicá-la e compreender o
problema criminal, bem como transformá-la, ao direito penal só lhe preocupa o
crime enquanto fato descrito na norma legal, para descobrir sua adequação típica.
A criminologia se baseia mais em fatos que em opiniões, mais na observação que
nos discursos ou silogismos.

*Nestor Sampaio Penteado Filho: a criminologia se utiliza dos métodos biológico


e sociológico. Como ciência empírica e experimental que é, a criminologia utiliza-
se da metodologia experimental, naturalística e indutiva para estudar o
delinquente, não sendo suficiente, no entanto, pra delimitar as causas da
criminalidade. Por consequência disso, busca auxílio dos métodos estatísticos,
históricos e sociológicos, além do biológico.

Atenção: não há subordinação da Criminologia ao Direito Penal!


Portanto:
CRIMINOLOGIA → MÉTODO INDUTIVO, EMPÍRICO.
DIREITO PENAL → MÉTODO DEDUTIVO, LÓGICO, ABSTRATO.

Método empírico e não necessariamente experimental: a observação é


necessária, pois o objeto da investigação pode tornar inviável ou ilícita a
experimentação.
Dada a complexidade do fenômeno delitivo, cabe sim completar o método
empírico com outras de natureza qualitativa, não incompatíveis com aquele.
Interdisciplinar: a análise científica reclama uma instância superior que integre e
coordene as instâncias setoriais procedentes das diversas disciplinas interessadas
no fenômeno delitivo e que instrumentalize um genuíno sistema de

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retroalimentação. É uma exigência estrutural do saber científico. A Criminologia
somente se consolidou como ciência autônoma quando conseguiu se emancipar
daquelas disciplinas setoriais em torno das quais nasceu e com as quais, com
frequência, se identificou indevidamente.

MÉTODO E TÉCNICAS DE INVESTIGAÇÃO (classificação de Antonio García-


Pablos de Molina)

Quantitativas: estatística (método por excelência), questionário, métodos de


medição. Explicam a etiologia, a gênese e o desenvolvimento. Por si só são
insuficientes.

Qualitativas: observação participante e a entrevista. Permitem compreender as


chaves profundas de um problema.

Transversais: tomam uma única medição da variável ou do fenômeno examinado.


Estudos estatísticos.

Longitudinais: tomam várias medições, em diferentes momentos temporais.


Estudos de seguimento (follow up), as biografias criminais, os case studies.
Modernos estudos sobre carreiras criminais.
Follow up: estudam a evolução do indivíduo durante um determinado período de
tempo operando com uma série de fatores psicológicos e sociológicos. São eles,
pois, métodos dinâmicos e evolutivos. Investigar a gênese, evolução e
manifestações de uma carreira criminal. Outros em torno do problema da
reincidência: até que deriva da falha do tratamento penitenciário ou de outros
fatores.

OBJETO DE ESTUDO DA CRIMINOLOGIA

Por muito tempo, o objeto tradicional de estudo da Criminologia foi embasado


pelos ideais da Escola Positiva (Lombroso, Garofalo, Ferri), sendo subdividido em
dois: DELITO e DELINQUENTE. Em meados do Século XX, particularmente de sua
metade até os dias atuais, foram acrescentados dois outros pontos de interesse:
VÍTIMA e CONTROLE SOCIAL. Hoje, portanto, é pacífica a divisão do objeto da
Criminologia em quatro vertentes: DELITO, DELINQUENTE, VÍTIMA e CONTROLE
SOCIAL. Passemos à análise.

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DELITO
Não é o mesmo conceito de Direito Penal.
É a conduta de incidência massiva na sociedade, capaz de causar dor, aflição e
angústia, persistente no espaço e no tempo.
Incidência massiva na população: o crime não pode ser um fato isolado. Ex:
crítica de Sérgio Salomão Shecaira, com a tipificação do crime de molestar
cetáceo na Lei nº 7.643/1987 (banhista que colocou um palito de sorvete no
“nariz” de um filhote de baleia – fato isolado).
Incidência aflitiva do fato praticado: o crime deve ser algo que cause dor, quer
à vítima, quer à comunidade como um todo.
Persistência espaço-temporal: o crime deve ser algo que seja distribuído pelo
território ao longo de certo período de tempo.
Inequívoco consenso: para Shecaira, o quarto elemento a exigir-se para a
configuração de um fato como delituoso é que se tenha um inequívoco consenso
a respeito de sua etiologia e de quais técnicas de intervenção seriam mais eficazes
para o seu combate. Não são todos os fatos massivos, aflitivos, com persistência
espaço-temporal em que há um inequívoco consenso. Ex: uso do álcool.

DELINQUENTE
Vejamos as várias definições de delinquente para as diferentes Escolas da
Criminologia:
ESCOLA CLÁSSICA: o delinquente era encarado como o pecador que optou pelo
mal, embora pudesse e devesse respeitar a lei. Herança da doutrina do Contrato
Social, de Rousseau. O cometimento do crime era um rompimento ao pacto e a
pena deveria ser proporcional ao mal causado. O comportamento criminoso
seria um mau uso da liberdade.

ESCOLA POSITIVA: para a Escola Positiva, o infrator era um prisioneiro de sua


própria patologia (determinismo biológico) ou de processos causais alheios
(determinismo social). Enquanto para os clássicos a pena deveria ser
proporcional ao mal causado, para os positivistas deveria ser utilizada uma
medida de segurança com finalidade curativa, por tempo indeterminado,
enquanto persistisse a patologia.

ESCOLA CORRECIONALISTA: não teve reflexos significativos no Brasil. Defendia


que o criminoso era um ser débil, inferior, e que deveria receber do Estado uma

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postura pedagógica e de proteção. Ex: proteção ao menor infrator no Brasil, tida
como uma influência da corrente correcionalista.

MARXISMO: para Marx, quem é culpável pelo crime é a própria sociedade, já que
o crime seria decorrente de certas estruturas econômicas.
Contemporaneamente, no entanto, há o giro sociológico da Criminologia e a
necessidade de atenção aos enfoques político-criminais. Abandona-se a
perspectiva biopsicopatológica e assume-se a noção biopsicossocial. Nos dias
atuais, portanto, delinquente é o indivíduo que está sujeito às leis, podendo ou
não as seguir por razões multifatoriais e nem sempre assimiladas por outras
pessoas.

VÍTIMA

Historicamente, a figura da vítima observou três fases bem delineadas:

I) Protagonismo (na chamada “idade de ouro”, desde os primórdios da civilização


até o fim da Alta Idade Média).
Justiça privada, vingança, autotutela, pena de talião.

II) Neutralização (o Estado como o responsável pelo conflito social – Código


Penal Francês e as ideias do liberalismo moderno).
Estado monopoliza o poder punitivo estatal e trata a pena como garantia coletiva
e não vitimaria. Instituto como a legítima defesa foram esquecidos.

III) Redescobrimento/revalorização (traz contornos mais humanos à postura


estatal em relação à vítima – sobretudo após a 2ª Guerra Mundial).
Na segunda metade do Século XX, o estudo sobre a vítima assumiu contornos
marcados, sendo fundada uma nova disciplina (ou ciência, para parte da
doutrina), a VITIMOLOGIA, o estudo das relações da vítima com o infrator
(chamada pela doutrina de “dupla penal”) ou com o sistema. Com a definição dos
contornos do Estado Democrático de Direito, surgiu a necessidade da
redefinição da vítima sob uma perspectiva mais humana, exigindo-se um fazer
estatal para implementação de seus direitos e buscando a diminuição dos
efeitos da Vitimização Secundária*.

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TIPOS DE VITIMIZAÇÃO:

VITIMIZAÇÃO é, segundo Antonio Garcia-Pablos de Molina, o processo pelo qual


uma pessoa sofre as consequências negativas de um fato traumático,
especialmente, de um delito.
Ainda segundo o autor, a doutrina classificou os processos de vitimização em três
principais:

A Vitimização Primária é o processo através do qual um indivíduo sofre direta ou


indiretamente os efeitos nocivos ocasionados pelo delito, que variam de acordo
com o bem jurídico lesionado e podem ser, em regra, materiais ou psíquicos.

A Vitimização Secundária é entendida como o sofrimento suportado pela vítima


nas fases do inquérito e do processo, em que muitas vezes deverá reviver o fato
criminoso por meio de interrogatórios, declarações e exames de corpo de delito,
além de submeter-se a situações como presenciar a argumentação dos
defensores do autor sugerindo que deu causa ao fato e o reencontro com o
delinquente.

Entende-se por Vitimização Terciária a ausência de receptividade social em


relação à vítima, que em diversos casos se vê compelida a alterar sua rotina, os
ambientes de convívio e círculos sociais em razão da estigmatização causada
pelo delito. São exemplos a segregação social sentida pelas vítimas de crimes
sexuais e as consequências da divulgação não autorizada de fotos ou vídeos
íntimos nas redes sociais.

Vitimização quaternária: é o medo que as pessoas têm de se tornarem vítimas,


muitas vezes internalizado pelas informações exploradas pela mídia.

Heterovitimização: corresponde à “autorrecriminação da vítima” diante de um


crime cometido, por meio da busca pelas razões que a tornaram, de modo
provável, responsável pela prática delitiva, v.g., ter deixado a porta de um
automóvel sem a trava ou ter assinado uma folha de cheque que estava em
branco (Paulo Sumariva).

Vitimização indireta: sofrimento das pessoas que estão relacionadas intimamente


à vítima de um delito, e que sofrem juntamente com ela (Paulo Sumariva).

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CLASSIFICAÇÕES DAS VÍTIMAS:
I) Classificação de Benjamin Mendelsohn.
De acordo com Benjamin Mendelsohn as vítimas podem ser classificadas da
seguinte maneira:
1. Vítima completamente inocente ou vítima ideal. Trata-se da vítima
completamente estranha à ação do criminoso, não provocando nem colaborando
de alguma forma para a realização do delito. Exemplo: uma senhora que tem sua
bolsa arrancada pelo bandido na rua.
2. Vítima de culpabilidade menor ou por ignorância. Ocorre quando há um
impulso não voluntário ao delito, mas de certa forma existe um grau de culpa que
leva essa pessoa à vitimização. Exemplo: um casal de namorados que mantém
relação sexual na varanda do vizinho e lá são atacados por ele, por não aceitar
esta falta de pudor.
3. Vítima voluntária ou tão culpada quanto o infrator. Ambos podem ser o
criminoso ou a vítima. Exemplo: Roleta Russa (um só projétil no tambor do
revólver e os contendores giram o tambor até um se matar).
4. Vítima mais culpada que o infrator. Enquadram-se nessa hipótese as vítimas
provocadoras, que incitam o autor do crime; as vítimas por imprudência, que
ocasionam o acidente por não se controlarem, ainda que haja uma parcela de
culpa do autor.
5. Vítima unicamente culpada. Dentro dessa modalidade, as vítimas são
classificadas em: a) Vítima infratora, ou seja, a pessoa comete um delito e no fim
se torna vítima, como ocorre no caso do homicídio por legítima defesa; b) Vítima
Simuladora, que através de uma premeditação irresponsável induz um indivíduo
a ser acusado de um delito, gerando, dessa forma, um erro judiciário; c) Vítima
imaginária, que trata-se de uma pessoa portadora de um grave transtorno mental
que, em decorrência de tal distúrbio leva o judiciário à erro, podendo se passar
por vítima de um crime, acusando uma pessoa de ser o autor, sendo que tal delito
nunca existiu, ou seja, esse fato não passa de uma imaginação da vítima

CONTROLE SOCIAL

Instituições, estratégias e sanções sociais que pretendem promover a submissão


dos indivíduos aos modelos e normas comunitárias de modo orientador e
fiscalizador. Com relação aos seus destinatários, pode ser difuso (à coletividade)
ou localizado (a determinados grupos). Subdivide-se em controle social formal

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(realizado pelo Estado, caracterizado pelo Sistema de Justiça Criminal – Polícias,
Poder Judiciário, MP, Administração Prisional) e controle social informal
(realizado pela sociedade civil – família, mídia, opinião pública, religião, ambiente
de trabalho etc.).

NORMA, PROCESSO E SANÇÃO = três componentes fundamentais das


instituições de controle social.

Pode ser exercido de três principais formas:


a) sanções formais (aplicadas pelo Estado, podem ser cíveis, administrativas e/ou
penais) e sanções informais (não têm força coercitiva);
b) meios positivos (prêmios e incentivos) e meios negativos (imposição de
sanções);
c) controle interno (autocoerção) e controle externo (ação da sociedade ou do
Estado, como multas e penas privativas de liberdade).
Quando as formas de controle social informal falham, aparecem as formas de
controle formal. A pena privativa de liberdade é a mais grave das sanções do
controle social formal.

Para o LABELLING APPROACH (Teoria da Reação Social), o controle social é


SELETIVO e DISCRIMINATÓRIO, GERADOR e CONSTITUTIVO de criminalidade e
ESTIGMATIZANTE.

FUNÇÕES
Explicar e prevenir o crime;

Intervir na pessoa do infrator (qual é o impacto real da pena, avaliar programas


reais de reinserção e fazer a sociedade perceber que o crime é um problema
comunitário).

Avaliar as diferentes formas de resposta ao crime.

*Nestor Sampaio Penteado Filho: a função da Criminologia é desenhar um


diagnóstico qualificado e conjuntural sobre o delito.

PREVENÇÃO

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Prevenção primária: medidas de médio e longo prazo que atingem a raiz do
conflito criminal. Investimentos em educação, trabalho, bem-estar social.

Prevenção secundária: atua onde o crime se manifesta ou se exterioriza. As


chamadas “zonas quentes de criminalidade”. A prevenção secundária tem em
suas principais manifestações a atuação policial. Outros exemplos: programas de
ordenação urbana, controle dos meios de comunicação e melhora do aspecto
visual das obras arquitetônicas.

Prevenção terciária: possui um destinatário específico, o recluso. Possui objetivo


certo: ressocialização do preso, evitando a reincidência.

INTERVENÇÃO POSITIVA NO INFRATOR

Três metas da Criminologia:

1) Avaliar o impacto real da pena em quem a cumpre e os seus efeitos.

2) Desenhar e avaliar programas de reinserção (não individualista, mas


funcional).

3) Fazer a sociedade perceber que o crime é um problema de todos (sociedade


assumindo responsabilidades). Crime como problema social.

MODELOS DE REAÇÃO AO CRIME

Modelo clássico, dissuasório ou retributivo


A base do modelo está na punição do delinquente, que deve ser intimidatória e
proporcional ao dano causado. Os protagonistas do modelo são o Estado e
delinquente, estando excluídos a vítima e a sociedade.

Modelo ressocializador
Este modelo se preocupa com a reinserção social do delinquente. Assim, a
finalidade da pena não se reduz ao retribucionismo (retribuição do mal feito pelo

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castigo corporal), mas procura ressocializar o agente para reinseri-lo na
sociedade.
A sociedade tem papel de destaque na efetivação da ressocialização, pois cabe a
esta afastar estigmas, como o de ex-presidiário.

Modelo restaurador, integrador ou Justiça Restaurativa


Este modelo procura restaurar o status quo antes da prática do delito. Para tanto
utiliza-se meios alternativos de solução. A restauração do controle social abalado
pelo delito se dá pela via da reparação do dano pelo delinquente à vítima. A ação
conciliadora, com a participação dos envolvidos no conflito, é fundamental para
a solução do problema criminal. Exemplo no sistema brasileiro: composição civil
dos delitos nos Juizados Especiais Criminais.

SISTEMAS DA CRIMINOLOGIA

Quais são as disciplinas que integram a Criminologia?


Temos duas concepções: a austríaca (também chamada de enciclopédica) e a
concepção estrita.

CONCEPÇÃO AUSTRÍACA (ENCICLOPÉDICA)


Pertencem à Criminologia:

I) DISCIPLINAS RELACIONADAS COM A REALIDADE CRIMINAL: Fenomenologia


(análise das formas de surgimento da criminalidade), Etiologia (causas ou fatores
determinantes da criminalidade), Prognose (análise dos fatores determinantes da
criminalidade, formulando diagnósticos e prognósticos sobre o futuro
comportamento e periculosidade do autor), Biologia criminal, Psicologia criminal,
Antropologia, Geografia criminal, Ecologia criminal etc.

II) DISCIPLINAS RELACIONADAS COM O PROCESSO: a Criminalística (Tática e


Técnica Criminal). Criminalística é o conjunto de teorias que se referem ao
esclarecimento dos casos criminais (ciência policial). Tática criminal: modus
operandi mais adequados para o esclarecimento dos fatos e identificação do
autor. Técnica criminal: se ocupa das provas, analisando os métodos científicos
existentes para demonstrar realisticamente uma determinada hipótese.

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III) DISCIPLINAS RELACIONADAS COM A REPRESSÃO E PREVENÇÃO DO
DELITO: Penologia (Ciência Penitenciária, Pedagogia Correcional) e Profilaxia.

Penologia: ciência que examina o cumprimento e execução das penas. A Ciência


Penitenciária é subdisciplina da Penologia, centralizando os estudos nas penas
privativas de liberdade e a Pedagogia Correcional se preocupa com orientar a
execução do castigo para a significação de um impacto positivo, de reinserção
social.

Profilaxia: meta prioritária de luta contra o delito, articulando as estratégias


oportunas para incidir eficazmente nos fatores individuais e sociais criminógenos,
antecipando-se ao crime.

CONCEPÇÃO ESTRITA
Admite as disciplinas relacionadas com a realidade criminal, mas afirma que a
Criminalística (esta é, para a concepção estrita, disciplina auxiliar do direito
penal), a Penologia (é uma ciência técnica e não sistema da Criminologia que, por
sua vez, é uma ciência “pura”) e a Profilaxia (não cabe à Criminologia assumir
uma postura beligerante contra o delito) NÃO DEVEM fazer parte do sistema da
Criminologia.

→Aula de Introdução à Criminologia – Prof. Murillo Ribeiro. Disponível no


Youtube.
Link: https://www.youtube.com/watch?v=ZPKRWA7Bpkw&t=666s

Podcast “Conversa sobre Criminologia” com Murillo Ribeiro.


Link: https://www.youtube.com/watch?v=steSnJYd8To

DIREITO ADMINISTRATIVO

Ao lado do Direito Penal, do Direito Processo Penal e do Direito Constitucional,


o Direito Administrativo é uma das quatro principais disciplinas do nosso
concurso. Não deixe de acompanhar o assunto pela doutrina.

Indicações bibliográficas:
Direito Administrativo – Rafael Carvalho Rezende Oliveira

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Direito Administrativo – Matheus Carvalho

DIREITO ADMINISTRATIVO. CONCEITO, FONTES E PRINCÍPIOS.


CONCEITO
Maria Sylvia Zanella Di Pietro: ramo do direito público que tem por objeto os
órgãos, agentes e pessoas jurídicas administrativas que integram a administração
pública, a atividade jurídica não contenciosa que exerce e os bens de que se utiliza
para a consecução de seus fins de natureza pública.
Hely Lopes Meirelles: conjunto harmônico de princípios jurídicos que regem os
órgãos, os agentes e as atividades públicas tendentes a realizar concreta, direta
e imediatamente os fins desejados pelo Estado.

FONTES DO DIREITO ADMINISTRATIVO

LEI – Fonte primária e principal do Direito Administrativo. Contempla desde a


Constituição Federal (art. 37) até os demais atos normativos expedidos, como,
por exemplo, decretos, resoluções e regimentos.

DOUTRINA – São teses de doutrinadores (estudiosos) que influenciam nas


decisões administrativas, como no próprio Direito Administrativo.

JURISPRUDÊNCIA – É a reiteração de julgamentos no mesmo sentido. A


jurisprudência não é seguimento obrigatório. Trata-se, apenas, de orientação aos
demais órgãos do Poder Judiciário e da Administração. Entretanto, se o Supremo
Tribunal Federal editar súmula vinculante, esta, por determinação da
Constituição, art. 103-A, será obrigatória para toda a Administração Pública,
direta e indireta, de todos os níveis da Federação (União, Estados, Distrito Federal
e Municípios) e para todo o Poder Judiciário. Por exemplo, a Súmula Vinculante
nº 21: “É inconstitucional a exigência de depósito ou arrolamento prévios de
dinheiro ou bens para admissibilidade de recurso administrativo”.

COSTUMES – São condutas reiteradas praticadas pelos agentes públicos com


consciência de obrigatoriedade.

OBSERVAÇÃO: A lei é a fonte primária do Direito Administrativo. Todas as


demais fontes citadas são secundárias, acessórias.

INTERPRETAÇÃO DO DIREITO ADMINISTRATIVO


Para Hely Lopes Meirelles, há três pressupostos que devem ser observados para
a interpretação do Direito Administrativo:

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I) Desigualdade jurídica entre a Administração Pública e os administrados: o
interesse da coletividade deve prevalecer quando posto em conflito com o os
interesses individuais dos cidadãos (supremacia do interesse público);
II) Presunção de legitimidade dos atos da administração;
III) Necessidade de poderes discricionários para a Administração atender ao
interesse público.

REGIME JURÍDICO ADMINISTRATIVO


Segundo Matheus Carvalho, para que o Direito Administrativo seja analisado
como disciplina, os princípios a ele aplicados são analisados em um conjunto
sistematizado designado regime jurídico-administrativo. Neste sentido, trata-se
de um conjunto de princípios, de direito público, aplicável aos órgãos e entidades
que compõem a Administração Pública e à atuação dos agentes administrativos
em geral. Baseia-se nos princípios da supremacia do interesse público e da
indisponibilidade do interesse público que definem prerrogativas a serem
estipuladas ao Estado e de limitações impostas ao ente estatal, sempre com a
intenção de perseguir e alcançar o interesse da coletividade.

O CONCEITO DE REGIME JURÍDICO ADMINISTRATIVO

*Trecho retirado do artigo “O Regime Jurídico Administrativo, de autoria de


Cláudia Mara de Almeida Rabelo Viegas.

Disponível em:

http://ambitojuridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=909
3&revista_caderno=4

Na Constituição da República Federativa do Brasil, encontramos um conjunto de


princípios e normas, os quais norteiam a atividade desempenhada pelos agentes
encarregados de zelar pela coisa pública. Desse modo, conjugando as regras e os
princípios que estruturam a Administração Pública Brasileira, tem-se o regime
jurídico administrativo.

Maria Sylvia Zanella Di Pietro ensina que “a expressão regime jurídico


administrativo é reservada tão-somente para abranger o conjunto de traços, de
conotações que tipificam o Direito Administrativo, colocando a Administração

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Pública numa posição privilegiada, vertical, na relação jurídico-administrativa.
Basicamente pode-se dizer que o regime administrativo resume-se a duas
palavras apenas: prerrogativas e sujeições”[1].

Marçal Justen Filho tem a seguinte definição: “o regime jurídico de direito público
consiste no conjunto de normas jurídicas que disciplinam o desempenho de
atividades e de organizações de interesse coletivo, vinculadas direta ou
indiretamente à realização dos direitos fundamentais, caracterizado pela ausência
de disponibilidade e pela vinculação à satisfação de determinados fins”[2].

Decorre do ensinamento de Celso Antônio Bandeira de Mello que o regime de


direito público resulta da caracterização normativa de determinados interesses
como pertinentes à sociedade e não aos particulares considerados em sua
individuada singularidade. Juridicamente esta caracterização consiste, no Direito
Administrativo, segundo nosso modo de ver, na atribuição de uma disciplina
normativa peculiar que, fundamentalmente se delineia em função da consagração
de dois princípios: a) supremacia do interesse público sobre o privado; b)
indisponibilidade, pela Administração, dos interesses públicos[3].

Cumpre ressaltar que os dois princípios retro mencionados são considerados


princípios implícitos, entretanto, tem a mesma força jurídica que os princípios
expressos. Ademais são princípios basilares da Administração Pública
constituindo a base de todo o sistema normativo sendo, portanto, de alta
relevância no ordenamento jurídico em geral. Dessa forma, o princípio da
supremacia do interesse público sobre o interesse privado e o princípio da
indisponibilidade do interesse público, informam todo o Direito Administrativo e
constituem, por sua vez, o chamado regime jurídico administrativo.

Neste sentido Di Pietro expõe que “ao mesmo tempo em que


as prerrogativas colocam a Administração em posição de supremacia perante o
particular, sempre com o objetivo de atingir o benefício da coletividade,
as restrições a que está sujeita limitam a sua atividade a determinados fins e
princípios que, se não observados, implicam desvio de poder e conseqüente
nulidade dos atos da Administração. O conjunto das prerrogativas e restrições a
que está sujeita a Administração e que não se encontram nas relações entre
particulares constitui o regime jurídico administrativo. Muitas dessas
prerrogativas e restrições são expressas sob a forma de princípios que informam
o direito público e, em especial, o Direito Administrativo”[4].

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Imperioso concluir esse tema com as palavras de Raquel de Carvalho que elucida
o seguinte:

“um Estado, para ser Democrático de Direito, deve encarar a tarefa de tutelar a
primazia do bem comum, tanto na mediação das relações privadas, quanto no
exercício das competências públicas. Os efeitos danosos do individualismo
característico do mundo contemporâneo alastram-se nas relações privadas e até
mesmo no cumprimento dos deveres estatais. É grave o resultado da falta de
consciência de que existe um interesse social que, em determinadas realidades,
pode transcender o particular e que deve sobre o último prevalecer. Se o século
XXI nasceu sob o signo do individualismo egoísta, cumpre ao jurista estruturar o
sistema normativo de modo a combater as conseqüências desastrosas de tal vício
quando atinge as instituições públicas. O regime jurídico administrativo deve
necessariamente reconhecer que:

a) a supremacia do interesse público primário (pertinente a toda sociedade) é


princípio integrante do regime jurídico administrativo;

b) é possível que haja, em dadas situações, convergência entre interesses


privados e interesse público ou atividade particular protetora do bem comum,
sem qualquer tensão que torne necessário falar-se na primazia do interesse
público;

c) na hipótese de conflito entre interesse publico e interesses privados, a proteção


constitucional à dignidade da pessoa humana e aos direitos fundamentais não
embasa a negativa de predomínio do bem comum, sendo este o interesse geral a
ser tutelado pela Administração, o que não significa arbítrio ou autoritarismo, mas
efetividade do Estado Democrático de Direito;

d) não conduz à negação da primazia do interesse público primário o fato deste


não ser sempre único, claramente identificável e incidente, de modo exclusivo,
em uma dada realidade; o caráter dinâmico e a multiplicidade de interesses
públicos inerentes ao mundo contemporâneo apenas torna cabível a técnica da
ponderação entre os diversos interesses, em face de cada situação específica, à
luz da proporcionalidade”[5].

Concluímos que, o regime jurídico administrativo trava no sentido de estabelecer,


entre o administrador público e seus administrativos, um tratamento próprio e
peculiar diferente daquele travado entre os particulares. Surge da relação entre

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administrador público e particulares um conjunto de direitos (prerrogativas) e
deveres (limitação) que a lei confere à Administração Pública, tendo em vista que
ela atua em busca do bem-estar coletivo. Ressalta-se que esses direitos e deveres
não se estendem aos particulares, salvo quando lhe for delegado a execução de
algum serviço público, através de concessão ou permissão, por exemplo.

Quando mencionamos que a Administração Pública promove o bem-estar


coletivo, queremos enfatizar que ela tem o dever de buscar o interesse público.
Vale ressaltar que este interesse é pertencente ao povo, sendo, desse modo,
indisponível. Assim cabe a Administração Pública buscar a primazia do bem
comum, sem, no entanto, transferir a terceiros a administração desse interesse
público, pois faz parte da função administrativa protegê-lo.

Pois bem. Dado o conceito de regime jurídico administrativo, cabe salientar que,
em regra, os doutrinadores enumeram, os princípios da legalidade, igualdade,
impessoalidade, moralidade, publicidade, eficiência, supremacia do interesse
público, razoabilidade, proporcionalidade, motivação e controle da
Administração como integrantes do regime jurídico administrativo. Vale destacar
que a doutrina clássica adota a posição que a legalidade, a supremacia e a
indisponibilidade do interesse público são princípios fundantes do regime
mencionado.

PRINCÍPIOS DO DIREITO ADMINISTRATIVO

Funções dos princípios:

1) Unidade sistemática: Os princípios conferem unidade e sistematicidade ao DA.


O DA passa a ser estruturado a partir da principiologia que contorna a disciplina.

2) Fornecem pauta substantiva para ação da Administração Pública: O exercício


da função administrativa busca seu conteúdo na principiologia do DA.

3) Aperfeiçoam e incrementam o controle da Administração: O poder exercido


pela AP é ilimitado. Os princípios limitam e aperfeiçoam a ação da AP.

CLASSIFICAÇÃO DOS PRINCÍPIOS

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Os princípios podem ser GERAIS ou SETORIAIS.

GERAIS x SETORIAIS

GERAIS: Aplicáveis ou de observância obrigatória em todas os campos do DA,


em todas as manifestações da função administrativa. Trata-se do caput do art. 37
da CRFB/88: LEGALIDADE, IMPESSOALIDADE, MORALIDADE, PUBLICIDADE e
EFICIÊNCIA.

SETORIAIS: A diferença reside no fato destes serem aplicáveis em campos


específicos do DA. Ex.: princípio da vinculação ao edital (concursos públicos e
licitações); princípio da modicidade tarifária (concessão de serviços públicos);
razoável duração do processo e contraditório e ampla defesa (processos
administrativos).

CONSTITUCIONAIS X INFRACONSTITUCIONAIS

CONSTITUCIONAIS: Têm como norte o art. 37, CRFB/88, mas não se restringem
a esse artigo. Há outros dispositivos constitucionais que trazem princípios
aplicáveis ao DA (princípio da economicidade, art. 70, CRFB/88).

INFRACONSTITUCIONAIS: Espalhados por toda a legislação referente ao DA.


Atenção ao art. 2º, Lei n.º 9.784/99 (lei do processo administrativo federal), que
consagra uma série de princípios infraconstitucionais.

Art. 2º: A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da


legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade,
moralidade, ampla defesa, contraditório, segurança jurídica, interesse público
e eficiência.

Parágrafo único. Nos processos administrativos serão observados, entre outros,


os critérios de:

I - atuação conforme a lei e o Direito;

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II - atendimento a fins de interesse geral, vedada a renúncia total ou parcial de
poderes ou competências, salvo autorização em lei;

III - objetividade no atendimento do interesse público, vedada a promoção


pessoal de agentes ou autoridades;

IV - atuação segundo padrões éticos de probidade, decoro e boa-fé;

V - divulgação oficial dos atos administrativos, ressalvadas as hipóteses de


sigilo previstas na Constituição;

VI - adequação entre meios e fins, vedada a imposição de obrigações, restrições


e sanções em medida superior àquelas estritamente necessárias ao atendimento
do interesse público;

VII - indicação dos pressupostos de fato e de direito que determinarem a


decisão;

VIII – observância das formalidades essenciais à garantia dos direitos dos


administrados;

IX - adoção de formas simples, suficientes para propiciar adequado grau de


certeza, segurança e respeito aos direitos dos administrados;

X - garantia dos direitos à comunicação, à apresentação de alegações finais, à


produção de provas e à interposição de recursos, nos processos de que possam
resultar sanções e nas situações de litígio;

XI - proibição de cobrança de despesas processuais, ressalvadas as previstas em


lei;

XII - impulsão, de ofício, do processo administrativo, sem prejuízo da atuação


dos interessados;

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XIII - interpretação da norma administrativa da forma que melhor garanta o
atendimento do fim público a que se dirige, vedada aplicação retroativa de nova
interpretação.

✓ DICA! O STJ fixou orientação no sentido de que a Lei n.º 9.784/99 se aplica
primariamente à União, mas pode ser aplicada subsidiariamente e na
ausência de leis sobre processo administrativo nos Estados e Municípios.

EXPRESSOS X IMPLÍCITOS (sobretudo no plano constitucional)

EXPRESSOS: Têm seu norte no art. 37 da CRFB/88.

IMPLÍCITOS: São princípios extraídos pela via interpretativa de outros


dispositivos constitucionais. Ex.: a cláusula do estado democrático de direito (art.
1º, CRFB/88) é utilizada como fundamento para aplicação do princípio da
proporcionalidade do direito administrativo e do princípio da proteção da
confiança legítima, para garantir coerência e estabilidade no exercício da função
administrativa; do devido processo legal (art. 5º, LIV, CRFB/88) extrai-se a
razoabilidade no exercício da função administrativa; o princípio da
subsidiariedade em matéria de intervenção do Estado no domínio econômico (art.
173, CRFB/88) é passível de ser extraído do princípio da livre iniciativa (art. 170,
CRFB/88).

Art. 37, caput, CRFB/88

A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos


Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de
legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao
seguinte:

Observações iniciais:

Todos os órgãos e entes que compõem um conceito de Administração Pública


devem observar os princípios do caput do art. 37 da Constituição. Ou seja, a
Administração Pública Direta e Indireta e também os três Poderes devem
obediência aos princípios administrativos.

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✓ DICA! Os Poderes exercem de forma típica as funções que lhe dão nome,
mas exercem de forma atípica as funções dos demais Poderes. Por isso,
Poder Judiciário e Poder Legislativo exercem de forma atípica função
administrativa. Ex: Quando o PJ abre concurso para a Magistratura exerce
função administrativa, assim como abre licitação para executar uma obra;
quando o PL abre concurso para a Procuradoria da Câmara dos Deputados,
exerce função administrativa.

Todos os níveis da Federação (União, Estados, Distrito Federal e Municípios)


devem observar os princípios que regem o exercício da função administrativa.

PRINCÍPIOS EM ESPÉCIE

1) LEGALIDADE: Expresso (art. 37, caput, CRFB/88). O DA surge da ideia de


submissão do poder ao direito. Traz em sua concepção original a ideia de
vinculação positiva da Administração Pública ao direito, à lei. Segundo a
concepção tradicional, portanto, o exercício da função administrativa dependeria
de prévia autorização em lei. A visão clássica do princípio da legalidade é a de
que a lei predetermina todo o conteúdo da ação administrativa. A função
administrativa seria, em linhas gerais, executar a lei de ofício. A lei seria uma
autorização necessária ao exercício da função administrativa. A vinculação
positiva teria como contraposição a vinculação negativa à lei.

Vinculação positiva: Aplicada à Administração Pública, ao Poder Executivo.


Assim, a Administração Pública só pode fazer o que a lei autoriza.

Vinculação negativa: Aplicável aos particulares, que podem fazer tudo o que a lei
não proíbe.

Ocorre que a completa submissão da Administração Pública à lei talvez nunca


tenha se realizado na prática, porque é impossível ao legislador definir
previamente toda a atuação da Administração Pública. Assim, surgem os
conceitos de discricionariedade e mérito administrativos, que têm sua base em
conceitos indeterminados.

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A visão clássica vem sendo suplantada pela visão contemporânea do princípio da
legalidade. Fala-se na evolução da legalidade administrativa para um conceito de
juridicidade administrativa. Trata-se de uma visão mais ampla, mais aberta do
princípio da legalidade (visão ampla e englobante do princípio da legalidade). É
a necessária vinculação da Administração Pública não apenas à lei em sentido
formal, mas ao ordenamento jurídico como um todo.

✓ DICA! Juridicidade administrativa: Vinculação da Administração Pública


não apenas à lei, mas também ao direito, ao ordenamento jurídico como um
todo. A AP pode buscar fundamento para sua atuação diretamente na
CRFB/88, ainda que não haja lei em sentido formal para habilitá-la.

Ex.: Edição da SV 13 (proibição do nepotismo) é decorrência direta da moralidade


administrativa. Assim, a inexistência de lei não seria um argumento a justificar a
não proibição ao nepotismo. RE 579951 (TEMA 66 – Repercussão Geral): A
vedação ao nepotismo não exige a edição de lei formal para coibir tal prática,
dado que essa proibição decorre diretamente dos princípios contidos no art. 37,
caput da CRFB/88. Como consequência, amplia-se o poder normativo da
Administração Pública (poder para editar atos normativos dotados de
generalidade e abstração).

✓ DICA! A jurisprudência do STF tem afastado a incidência da SV 13 nos


casos que envolvem a investidura de cônjuges ou a nomeação de parentes
em cargos públicos de natureza política, como ministro de Estado ou de
secretário estadual ou municipal, desde que não se configurem hipóteses
de fraude à lei ou no caso de ausência evidente de qualificação técnica ou
de idoneidade moral para o desempenho da função pública.

Todavia, mesmo em caso de cargos políticos, será possível considerar a


nomeação indevida nas hipóteses de:

• nepotismo cruzado;
• fraude à lei e
• inequívoca falta de razoabilidade da indicação, por manifesta ausência de
qualificação técnica ou por inidoneidade moral do nomeado. STF. 1ª Turma. Rcl
29033 AgR/RJ, rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 17/9/2019 (Info 952).

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SV 13: A nomeação de cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral
ou por afinidade, até o terceiro grau, inclusive, da autoridade nomeante ou de
servidor da mesma pessoa jurídica investido em cargo de direção, chefia ou
assessoramento, para o exercício de cargo em comissão ou de confiança ou,
ainda, de função gratificada na administração pública direta e indireta em
qualquer dos poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios, compreendido o ajuste mediante designações recíprocas, viola a
Constituição Federal.

✓ DICA! Não haverá nepotismo se a pessoa nomeada possui um parente no


órgão, mas sem influência hierárquica sobre a nomeação. “Não há
nepotismo na nomeação de servidor para ocupar o cargo de assessor de
controle externo do Tribunal de Contas mesmo que seu tio (parente em
linha colateral de 3º grau) já exerça o cargo de assessor-chefe de gabinete
de determinado Conselheiro, especialmente pelo fato de que o cargo do
referido tio não tem qualquer poder legal de nomeação do sobrinho. A
incompatibilidade da prática enunciada na SV 13 com o art. 37 da CF/88
não decorre diretamente da existência de relação de parentesco entre
pessoa designada e agente político ou servidor público, mas de presunção
de que a escolha para ocupar cargo de direção, chefia ou assessoramento
tenha sido direcionado à pessoa com relação de parentesco com quem
tenha potencial de interferir no processo de seleção. STF. 2ª Turma. Rcl
18564/SP, rel. orig. Min. Gilmar Mendes, red. p/ o acórdão Min. Dias Toffoli,
julgado em 23/2/2016 (Info 815).
Ex.²:Possibilidade de edição de decretos por governadores e prefeitos durante a
pandemia COVID-19 (não seria possível aguardar o processo legislativo
tradicional).

✓ DICA! Não há hierarquia entre princípios, mas o princípio da legalidade


precede todos os demais.

2) IMPESSOALIDADE: Concretização do valor “igualdade” no Direito


Administrativo. É uma especialização da igualdade aplicável no exercício da
função administrativa. A relação com os particulares: tem como objetivo a
finalidade pública, sem promover interesses pessoais.

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Há três manifestações específicas do princípio da impessoalidade no Direito
Administrativo. São elas:

a) Vedação de privilégios ou discriminações desproporcionais: Por trás desta


ideia, temos o conceito de que a Administração Pública deve conferir tratamento
isonômico aos particulares em idêntica situação, decidindo com base em critérios
objetivos de escolha. Ex.: licitação, concurso público.

b) Vinculação absoluta do administrador ao interesse público: Também


conhecida por alguns autores como princípio da finalidade. Ideia de que o
administrador público não pode agir para satisfação de interesses pessoais, mas
tão somente em nome do interesse público.

Art. 37, § 1º, CRFB/88: A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e
campanhas dos órgãos públicos deverá ter caráter educativo, informativo ou de
orientação social, dela não podendo constar nomes, símbolos ou imagens que
caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos.

Há vedação pessoal do agente político. Não se pode utilizar a publicidade oficial


para promoção própria.

Segundo Hely Lopes Meirelles, o princípio da impessoalidade, referido na


CRFB/1988 (Art. 37, caput), nada mais é que o clássico princípio da finalidade, o
qual impõe ao administrador público que só pratique o ato para atingir o objetivo
indicado expressa ou virtualmente pela norma de direito, de forma impessoal.

c) Imputação volitiva: Os atos praticados por agentes públicos são imputados à


pessoa jurídica da qual eles fazem parte. Quem responde civilmente de forma
primária quando um agente público causa dano ao particular é a pessoa jurídica,
podendo ocorrer o direito de regresso.

Art. 37, § 6º - As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado


prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes,
nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra
o responsável nos casos de dolo ou culpa.

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3) PUBLICIDADE: Impõe divulgação e exteriorização dos atos estatais. Transmite
ideia de visibilidade e transparência no exercício da função administrativa, pois o
Estado democrático de direito é incompatível com o sigilo de questões ligadas
ao interesse da coletividade. Há diversas vinculações específicas da publicidade,
como, por exemplo, com o princípio democrático (a sociedade só consegue
formar uma opinião sobre os atos estatais se há transparência na função
administrativa). Da mesma forma, vincula-se ao controle da Administração
Pública, pois só uma ação visível e transparente é passível de controle. É também
condição de eficácia de atos, ou seja, os atos só produzem efeitos, como regra,
após sua publicação.

A publicidade não se traduz na mera formalidade (publiquei, defiro ou publiquei,


indefiro). A publicidade plena, substantiva, exige que os administrados tenham
conhecimento do conteúdo dos atos. Ex.: direito de petição, direito à obtenção
de certidões, acesso à informação em sentido geral.

✓ DICA! Lei n.º 12.527/11 (Lei de Acesso à Informação): Ampliou de forma


significativa o acesso à informação oriunda de órgãos públicos, trazendo
procedimentos, prazos para resposta, restrições ao sigilo e ao
obscurantismo no âmbito do Direito Administrativo.

✓ DICA! MP 928/2020: Suspensa cautelarmente em ADI pelo Min. Marco


Aurélio, pois trazia algumas restrições ao acesso à informação
(principalmente sobre prazos de resposta) durante o período de
calamidade da COVID-19.

✓ DICA! ARE 652.777 (Tema 483-RG): É legítima a publicação, inclusive em


sítio eletrônico mantido pela Administração Pública, dos nomes dos seus
servidores e do valor dos correspondentes vencimentos e vantagens
pecuniárias.

4) MOTIVAÇÃO: Princípio implícito decorrente do princípio da publicidade,


traduz-se na explicitação dos fatos e fundamentos jurídicos de uma determinada
decisão ou ato administrativo. Assim, o administrador público deve embasar sua
decisão, levando-a ao conhecimento dos administrados.

MOTIVAÇÃO X MOTIVO

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MOTIVO: Corresponde aos fatos e fundamentos. É o que determina a prática de
um ato administrativo, é um elemento do ato administrativo.

Hipótese: O servidor João da Silva foi demitido em razão da prática de uma


conduta X, definida em lei como ensejadora da demissão.

Motivação é levar ao conhecimento do administrado a decisão pela demissão, é


dar visibilidade e transparência aos fatos e fundamentos que ensejaram a
demissão.

Motivo é o fato em si que enseja o ato de demissão de um servidor público, é uma


conduta definida em lei que fundamente a demissão.

✓ DICA! Lei n.º 9.784/99 (Processo Administrativo Federal), art. 2º, p. único,
VII e art. 50: dispositivos que trabalham a lógica de fundamentação e
motivação de atos administrativos.

Lei n.º 9.784/99, art. 2º, p. único: Nos processos administrativos serão
observados, entre outros, os critérios de:

VII - indicação dos pressupostos de fato e de direito que determinarem a


decisão;

P: Quais atos administrativos devem ser motivados?

R: Hoje há um relativo consenso no sentido de que atos administrativos dotados


de conteúdo decisório relevante devem ser motivados, sobretudo os restritivos
de direitos.

Lei n.º 9.784/99, art. 50: Os atos administrativos deverão ser motivados, com
indicação dos fatos e dos fundamentos jurídicos, quando:

I - neguem, limitem ou afetem direitos ou interesses;

II - imponham ou agravem deveres, encargos ou sanções;

III - decidam processos administrativos de concurso ou seleção pública;

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IV - dispensem ou declarem a inexigibilidade de processo licitatório;

V - decidam recursos administrativos;

VI - decorram de reexame de ofício;

VII - deixem de aplicar jurisprudência firmada sobre a questão ou discrepem de


pareceres, laudos, propostas e relatórios oficiais;

VIII - importem anulação, revogação, suspensão ou convalidação de ato


administrativo.

Traz rol exemplificativo e didático sobre alguns atos administrativos que devem
ser motivados.

5) EFICIÊNCIA: Expresso no art. 37, caput, mas não constava da redação original
da CRFB/88. Foi incluído pela EC 19/98 (Reforma Administrativa do Estado). Em
linhas gerais, busca a otimização da atuação do administrador público. Busca a
melhor realização possível dos objetivos consagrados pelo ordenamento jurídico,
com os menores ônus. Traz para o Direito Administrativo pragmatismo, um
enfoque no resultado. É relevante que a ação administrativa esteja orientada à
produção de bons resultados (não se limita a resultados no campo econômico,
mas pressupõe resultados em geral; ao lado do princípio da eficiência temos o
princípio da economicidade).

“A demora excessiva e injustificada da Administração para cumprir obrigação que


a própria Constituição lhe impõe é omissão violadora do princípio da eficiência,
na medida em que denuncia a incapacidade do Poder Público em desempenhar,
num prazo razoável, as atribuições que lhe foram conferidas pelo ordenamento
(nesse sentido, o comando do art. 5º, LXXVIII, da CF). Fere, também, a moralidade
administrativa, por colocar em xeque a legítima confiança que o cidadão comum
deposita, e deve depositar, na Administração.” (STJ, MS Nº 19.132 – DF
(2012/0188951-7)

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6) ECONOMICIDADE: Vetor financeiro do princípio da eficiência. Ao lado do
princípio da eficiência temos o princípio da economicidade, que traz a lógica de
custo-benefício e tem muita ligação com a atuação dos Tribunais de Contas. Tem
grande importância no campo das contratações públicas.

Art. 70, CRFB/88: A fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional


e patrimonial da União e das entidades da administração direta e indireta,
quanto à legalidade, legitimidade, economicidade, aplicação das subvenções e
renúncia de receitas, será exercida pelo Congresso Nacional, mediante controle
externo, e pelo sistema de controle interno de cada Poder.

7) MORALIDADE: Envolve a atuação ética no exercício de cargo ou função


pública. Traz a função de bom administrador público e revela a atuação segundo
parâmetros de probidade, decoro e boa-fé. Prevista expressamente no art. 37,
caput da CRFB/88 e, também, na Lei n.º 9.784/99, art. 2º, p. único, IV.

Improbidade é mais amplo que imoralidade. Vejamos.

Art. 37, § 4º, CRFB/88: Os atos de improbidade administrativa importarão a


suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade
dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem
prejuízo da ação penal cabível.

Traz as possíveis consequências punitivas na esfera administrativa caso haja a


prática de atos de improbidade, sem prejuízo da ação penal cabível. Todavia, não
caracteriza de antemão quais são os atos que são passíveis de enquadramento
como atos de improbidade (estes, definidos na Lei n.º 8.429/92).

✓ DICA! Os principais atos de improbidade trazidos na Lei n.º 8.429/92 estão


previstos nos artigos 9º, 10 e 11 e tratam sobre enriquecimento ilícito, dano
ao erário e violação a princípios.

P: Quais atos caracterizam improbidade administrativa?

Nem todo desvio do administrador público deve ser caracterizado como


improbidade, havendo diferentes níveis e esferas de responsabilização. A

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improbidade administrativa deve se ater aos casos que contêm graves desvios
do administrado.

Assim, o STJ tem se posicionado de forma mais contundente, demandando a


necessidade do elemento subjetivo: dolo ou culpa grave, a depender do caso.

Nos termos da Lei n.º 8.429/92, há um quarto tipo de ato que caracteriza a
improbidade administrativa, mas é algo muito ligado ao INSS. Por ora, falaremos
sobre os três seguintes:

a) Enriquecimento ilícito (art. 9º): Conforme a jurisprudência do STJ, exige-se


dolo, que não necessariamente gera prejuízo ao erário, bastando o recebimento
da vantagem indevida.
b) Dano ao erário (art. 10): O STJ exige dolo ou culpa grave. O agente pode
causar dano ao erário sem que tenha recebido vantagem indevida.
c) Violação a princípios (art. 11): É considerada de forma subsidiária, nos casos
em que não se caracterizar enriquecimento ilícito ou dano ao erário. O STJ
também exige o dolo.

Então:

Enriquecimento ilícito → DOLO


Dano ao erário → DOLO ou CULPA GRAVE
Violação a princípios → DOLO

E quais são as SANÇÕES?

Previstas na Lei n.º 8.429/92, art.12:

Suspensão de direitos políticos


Perda da função pública
Indisponibilidade de bens
Ressarcimento ao erário

Agentes políticos podem responder por improbidade e por crime de


responsabilidade.

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✓ DICA! RE 803927, Rel. Min. Celso de Mello. O STF assentou a possiblidade
de dupla responsabilização dos agentes políticos, tanto por improbidade
quanto por crime de responsabilidade.

7) CONTINUIDADE: Como a atividade administrativa está absolutamente


vinculada ao interesse público, deve ser regular, contínua e ininterrupta. A
exigência de regularidade na prestação de serviços públicos exige que a
Administração Pública promova um devido aparelhamento para a garantia de
direitos e realização de interesses constitucionalmente previstos.

P: O princípio da continuidade do serviço público exige que toda atividade


administrativa funcione 7 dias por semana e 24 horas por dia?

R: Não. Há níveis de essencialidade da função administrativa. O que o princípio da


continuidade exige é que a atividade esteja disponível ao administrado, que haja
uma constância e uma regularidade. Há alguns temas, entretanto, que são
ininterruptos, pois são essenciais (saúde, segurança pública).

Algumas incidências específicas do princípio da continuidade em nosso


ordenamento jurídico:

a) Interrupção do pagamento em caso de inadimplemento do usuário: Previsto


no art. 6º, § 3º da Lei n.º 8.987/95 (Lei Geral de Concessões e Permissões de
Serviços Públicos).

§ 3º Não se caracteriza como descontinuidade do serviço a sua interrupção em


situação de emergência ou após prévio aviso, quando:

I - motivada por razões de ordem técnica ou de segurança das instalações;


e,

II - por inadimplemento do usuário, considerado o interesse da


coletividade.

Assim, critérios técnicos e relativos à segurança das instalações podem ensejar a


interrupção da prestação de serviço, bem como o inadimplemento do usuário.

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✓ DICA! O STJ fixou orientação no sentido de que não é inconstitucional o
corte do serviço em razão da falta de pagamento. A regra é a de que a falta
de pagamento pode determinar a paralisação do serviço, mas em
determinadas situações, à luz de circunstâncias do caso concreto e
sobretudo quando estiverem em jogo direitos fundamentais, a paralisação
pode não ocorrer. Ex.: indivíduo tem home care ou está em quarentena por
força da COVID-19. O ônus da demonstração do ferimento à dignidade
humana é do administrado.

E o que significa a parte final do inciso II (“interesse da coletividade”)? E quando


o poder público for o usuário? Ex.: O Estado de Minas Gerais não está pagando
as contas de energia de escolas. Deve ser verificado o caso concreto, ou seja, caso
seja colocado em risco o interesse da coletividade, não pode haver o corte. O
ônus de comprovação é do poder público (caso administrativamente não seja
resolvido, deve-se judicializar a questão).

b) Restrição ao exercício do direito de greve por servidores públicos: O STF em


mandados de injunção assentou o entendimento de que pode ser aplicada
analogicamente a Lei de Greve nos serviços essenciais, mas não é em todo e
qualquer caso. Também o STF já decidiu que carreiras ligadas à segurança pública
e agentes armados do Estado em qualquer nível não podem fazer greve. Da
mesma forma, funções essenciais à Justiça.

Se a greve for legal, o STF já afirmou que é possível o não pagamento por dias
não trabalhados, desde que a Administração Pública não tenha dado causa de
forma arbitrária à situação (Ex.: Atraso de pagamento).

“Extinto o contrato de concessão por decurso do prazo de vigência, cabe ao


Poder Público a retomada imediata da prestação do serviço, até a realização de
nova licitação, a fim de assegurar a plena observância do princípio da
continuidade do serviço público, não estando condicionado o termo final do
contrato ao pagamento prévio de eventual indenização, que deve ser pleiteada
nas vias ordinárias.” (AgRg no REsp 1139802/SC, Rel. Ministro HAMILTON
CARVALHIDO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 12/04/2011, DJe 25/04/2011)

8) RAZOABILIDADE: Para Matheus Carvalho, o agente não pode se valer do cargo


ou função, com a falsa intenção de cumprir a lei para agir de forma ilegal e

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arbitrária, fora dos padrões éticos e adequados ao senso comum. O princípio
representa um limite para a discricionariedade do administrador.

Ainda segundo o autor, todas as vezes que o mérito administrativo extrapola os


limites da lei, seja por atuação que afronta expresso dispositivo legal, seja pela
violação ao princípio da razoabilidade, compete ao judiciário, desde que
provocado, sanar o vício da conduta estatal, determinando a anulação do ato
ilícito.

9) PROPORCIONALIDADE: equilíbrio entre o ato e os fins alcançados pela


Administração Pública.

→Indicação de aula em vídeo:

Princípios do Direito Administrativo. Prof. Rafael Oliveira.

Link: https://www.youtube.com/watch?v=ZEHQIOFtMGQ

DIREITO CIVIL

A cobrança de Direito Civil no concurso para DPCMG costuma ser relativamente


simplificada. Acompanhe a leitura por uma boa sinopse, pelo material
complementar e realize o simulado!

LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DE DIREITO BRASILEIRO (LINDB)

Decreto nº 4.657/42.

Inicialmente, realize a leitura atenta dos dispositivos:

Art. 1o Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país quarenta
e cinco dias depois de oficialmente publicada.

§ 1o Nos Estados, estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira, quando


admitida, se inicia três meses depois de oficialmente publicada. (Vide Lei nº 1.991,
de 1953) (Vide Lei nº 2.145, de 1953) (Vide Lei nº 2.410, de 1955) (Vide
Lei nº 2.770, de 1956) (Vide Lei nº 3.244, de 1957) (Vide Lei nº 4.966, de

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1966) (Vide Decreto-Lei nº 333, de 1967) (Vide Lei nº 2.807, de
1956) (Vide Lei nº 4.820, de 1965)

§ 2o (Revogado pela Lei nº 12.036, de 2009).

§ 3o Se, antes de entrar a lei em vigor, ocorrer nova publicação de seu texto,
destinada a correção, o prazo deste artigo e dos parágrafos anteriores começará
a correr da nova publicação.

§ 4o As correções a texto de lei já em vigor consideram-se lei nova.

Art. 2o Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a
modifique ou revogue.

§ 1o A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando


seja com ela incompatível ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava
a lei anterior.

§ 2o A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já


existentes, não revoga nem modifica a lei anterior.

§ 3o Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei
revogadora perdido a vigência.

Art. 3o Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece.

Art. 4o Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia,
os costumes e os princípios gerais de direito.

Art. 5o Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às
exigências do bem comum.

Art. 6º A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico
perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada. (Redação dada pela Lei nº 3.238,
de 1957)

§ 1º Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado segundo a lei vigente ao


tempo em que se efetuou. (Incluído pela Lei nº 3.238, de 1957)

§ 2º Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu titular, ou alguém por


êle, possa exercer, como aquêles cujo comêço do exercício tenha têrmo pré-fixo,
ou condição pré-estabelecida inalterável, a arbítrio de outrem. (Incluído pela
Lei nº 3.238, de 1957)

§ 3º Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão judicial de que já não caiba
recurso. (Incluído pela Lei nº 3.238, de 1957)

Art. 7o A lei do país em que domiciliada a pessoa determina as regras sobre o


começo e o fim da personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de família.

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§ 1o Realizando-se o casamento no Brasil, será aplicada a lei brasileira quanto aos
impedimentos dirimentes e às formalidades da celebração.

§ 2o O casamento de estrangeiros poderá celebrar-se perante autoridades


diplomáticas ou consulares do país de ambos os nubentes. (Redação dada
pela Lei nº 3.238, de 1957)

§ 3o Tendo os nubentes domicílio diverso, regerá os casos de invalidade do


matrimônio a lei do primeiro domicílio conjugal.

§ 4o O regime de bens, legal ou convencional, obedece à lei do país em que


tiverem os nubentes domicílio, e, se este for diverso, a do primeiro domicílio
conjugal.

§ 5º - O estrangeiro casado, que se naturalizar brasileiro, pode, mediante expressa


anuência de seu cônjuge, requerer ao juiz, no ato de entrega do decreto de
naturalização, se apostile ao mesmo a adoção do regime de comunhão parcial de
bens, respeitados os direitos de terceiros e dada esta adoção ao competente
registro. (Redação dada pela Lei nº 6.515, de 1977)

§ 6º O divórcio realizado no estrangeiro, se um ou ambos os cônjuges forem


brasileiros, só será reconhecido no Brasil depois de 1 (um) ano da data da
sentença, salvo se houver sido antecedida de separação judicial por igual prazo,
caso em que a homologação produzirá efeito imediato, obedecidas as condições
estabelecidas para a eficácia das sentenças estrangeiras no país. O Superior
Tribunal de Justiça, na forma de seu regimento interno, poderá reexaminar, a
requerimento do interessado, decisões já proferidas em pedidos de homologação
de sentenças estrangeiras de divórcio de brasileiros, a fim de que passem a
produzir todos os efeitos legais. (Redação dada pela Lei nº 12.036, de 2009).

§ 7o Salvo o caso de abandono, o domicílio do chefe da família estende-se ao


outro cônjuge e aos filhos não emancipados, e o do tutor ou curador aos
incapazes sob sua guarda.

§ 8o Quando a pessoa não tiver domicílio, considerar-se-á domiciliada no lugar


de sua residência ou naquele em que se encontre.

Art. 8o Para qualificar os bens e regular as relações a eles concernentes, aplicar-


se-á a lei do país em que estiverem situados.

§ 1o Aplicar-se-á a lei do país em que for domiciliado o proprietário, quanto aos


bens moveis que ele trouxer ou se destinarem a transporte para outros lugares.

§ 2o O penhor regula-se pela lei do domicílio que tiver a pessoa, em cuja posse
se encontre a coisa apenhada.

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Art. 9o Para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei do país em que se
constituirem.

§ 1o Destinando-se a obrigação a ser executada no Brasil e dependendo de forma


essencial, será esta observada, admitidas as peculiaridades da lei estrangeira
quanto aos requisitos extrínsecos do ato.

§ 2o A obrigação resultante do contrato reputa-se constituida no lugar em que


residir o proponente.

Art. 10. A sucessão por morte ou por ausência obedece à lei do país em que
domiciliado o defunto ou o desaparecido, qualquer que seja a natureza e a
situação dos bens.

§ 1º A sucessão de bens de estrangeiros, situados no País, será regulada pela lei


brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, ou de quem os
represente, sempre que não lhes seja mais favorável a lei pessoal do de
cujus. (Redação dada pela Lei nº 9.047, de 1995)

§ 2o A lei do domicílio do herdeiro ou legatário regula a capacidade para suceder.

Art. 11. As organizações destinadas a fins de interesse coletivo, como as


sociedades e as fundações, obedecem à lei do Estado em que se constituirem.

§ 1o Não poderão, entretanto ter no Brasil filiais, agências ou estabelecimentos


antes de serem os atos constitutivos aprovados pelo Governo brasileiro, ficando
sujeitas à lei brasileira.

§ 2o Os Governos estrangeiros, bem como as organizações de qualquer natureza,


que eles tenham constituido, dirijam ou hajam investido de funções públicas, não
poderão adquirir no Brasil bens imóveis ou susceptiveis de desapropriação.

§ 3o Os Governos estrangeiros podem adquirir a propriedade dos prédios


necessários à sede dos representantes diplomáticos ou dos agentes
consulares. (Vide Lei nº 4.331, de 1964)

Art. 12. É competente a autoridade judiciária brasileira, quando for o réu


domiciliado no Brasil ou aqui tiver de ser cumprida a obrigação.

§ 1o Só à autoridade judiciária brasileira compete conhecer das ações relativas a


imóveis situados no Brasil.

§ 2o A autoridade judiciária brasileira cumprirá, concedido o exequatur e segundo


a forma estabelecida pele lei brasileira, as diligências deprecadas por autoridade
estrangeira competente, observando a lei desta, quanto ao objeto das diligências.

@CURSOEMDELTA 87
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Art. 13. A prova dos fatos ocorridos em país estrangeiro rege-se pela lei que nele
vigorar, quanto ao ônus e aos meios de produzir-se, não admitindo os tribunais
brasileiros provas que a lei brasileira desconheça.

Art. 14. Não conhecendo a lei estrangeira, poderá o juiz exigir de quem a invoca
prova do texto e da vigência.

Art. 15. Será executada no Brasil a sentença proferida no estrangeiro, que reuna
os seguintes requisitos:

a) haver sido proferida por juiz competente;

b) terem sido as partes citadas ou haver-se legalmente verificado à revelia;

c) ter passado em julgado e estar revestida das formalidades necessárias para a


execução no lugar em que foi proferida;

d) estar traduzida por intérprete autorizado;

e) ter sido homologada pelo Supremo Tribunal Federal. (Vide art.105, I, i da


Constituição Federal).

Parágrafo único. (Revogado pela Lei nº 12.036, de 2009).

Art. 16. Quando, nos termos dos artigos precedentes, se houver de aplicar a lei
estrangeira, ter-se-á em vista a disposição desta, sem considerar-se qualquer
remissão por ela feita a outra lei.

Art. 17. As leis, atos e sentenças de outro país, bem como quaisquer declarações
de vontade, não terão eficácia no Brasil, quando ofenderem a soberania nacional,
a ordem pública e os bons costumes.

Art. 18. Tratando-se de brasileiros, são competentes as autoridades consulares


brasileiras para lhes celebrar o casamento e os mais atos de Registro Civil e de
tabelionato, inclusive o registro de nascimento e de óbito dos filhos de brasileiro
ou brasileira nascido no país da sede do Consulado. (Redação dada pela Lei nº
3.238, de 1957)

§ 1º As autoridades consulares brasileiras também poderão celebrar a separação


consensual e o divórcio consensual de brasileiros, não havendo filhos menores ou
incapazes do casal e observados os requisitos legais quanto aos prazos, devendo
constar da respectiva escritura pública as disposições relativas à descrição e à
partilha dos bens comuns e à pensão alimentícia e, ainda, ao acordo quanto à
retomada pelo cônjuge de seu nome de solteiro ou à manutenção do nome
adotado quando se deu o casamento. (Incluído pela Lei nº 12.874, de
2013) Vigência

@CURSOEMDELTA 88
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§ 2o É indispensável a assistência de advogado, devidamente constituído, que se
dará mediante a subscrição de petição, juntamente com ambas as partes, ou com
apenas uma delas, caso a outra constitua advogado próprio, não se fazendo
necessário que a assinatura do advogado conste da escritura
pública. (Incluído pela Lei nº 12.874, de 2013) Vigência

Art. 19. Reputam-se válidos todos os atos indicados no artigo anterior e


celebrados pelos cônsules brasileiros na vigência do Decreto-lei nº 4.657, de 4 de
setembro de 1942, desde que satisfaçam todos os requisitos legais. (Incluído pela
Lei nº 3.238, de 1957)

Parágrafo único. No caso em que a celebração dêsses atos tiver sido recusada
pelas autoridades consulares, com fundamento no artigo 18 do mesmo Decreto-
lei, ao interessado é facultado renovar o pedido dentro em 90 (noventa) dias
contados da data da publicação desta lei. (Incluído pela Lei nº 3.238, de 1957)

Art. 20. Nas esferas administrativa, controladora e judicial, não se decidirá com
base em valores jurídicos abstratos sem que sejam consideradas as
consequências práticas da decisão. (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018)

Parágrafo único. A motivação demonstrará a necessidade e a adequação da


medida imposta ou da invalidação de ato, contrato, ajuste, processo ou norma
administrativa, inclusive em face das possíveis alternativas. (Incluído pela Lei nº
13.655, de 2018)

Art. 21. A decisão que, nas esferas administrativa, controladora ou judicial,


decretar a invalidação de ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa
deverá indicar de modo expresso suas consequências jurídicas e
administrativas. (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018)

Parágrafo único. A decisão a que se refere o caput deste artigo deverá, quando
for o caso, indicar as condições para que a regularização ocorra de modo
proporcional e equânime e sem prejuízo aos interesses gerais, não se podendo
impor aos sujeitos atingidos ônus ou perdas que, em função das peculiaridades
do caso, sejam anormais ou excessivos. (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018)

Art. 22. Na interpretação de normas sobre gestão pública, serão considerados os


obstáculos e as dificuldades reais do gestor e as exigências das políticas públicas
a seu cargo, sem prejuízo dos direitos dos administrados.

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§ 1º Em decisão sobre regularidade de conduta ou validade de ato, contrato,
ajuste, processo ou norma administrativa, serão consideradas as circunstâncias
práticas que houverem imposto, limitado ou condicionado a ação do
agente. (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018)

§ 2º Na aplicação de sanções, serão consideradas a natureza e a gravidade da


infração cometida, os danos que dela provierem para a administração pública, as
circunstâncias agravantes ou atenuantes e os antecedentes do agente. (Incluído
pela Lei nº 13.655, de 2018)

§ 3º As sanções aplicadas ao agente serão levadas em conta na dosimetria das


demais sanções de mesma natureza e relativas ao mesmo fato. (Incluído pela
Lei nº 13.655, de 2018)

Art. 23. A decisão administrativa, controladora ou judicial que estabelecer


interpretação ou orientação nova sobre norma de conteúdo indeterminado,
impondo novo dever ou novo condicionamento de direito, deverá prever regime
de transição quando indispensável para que o novo dever ou condicionamento
de direito seja cumprido de modo proporcional, equânime e eficiente e sem
prejuízo aos interesses gerais.

Parágrafo único. (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018)

Art. 24. A revisão, nas esferas administrativa, controladora ou judicial, quanto à


validade de ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa cuja produção
já se houver completado levará em conta as orientações gerais da época, sendo
vedado que, com base em mudança posterior de orientação geral, se declarem
inválidas situações plenamente constituídas. (Incluído pela Lei nº 13.655, de
2018)

Parágrafo único. Consideram-se orientações gerais as interpretações e


especificações contidas em atos públicos de caráter geral ou em jurisprudência
judicial ou administrativa majoritária, e ainda as adotadas por prática
administrativa reiterada e de amplo conhecimento público. (Incluído pela Lei nº
13.655, de 2018)

Art. 25. (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018)

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Art. 26. Para eliminar irregularidade, incerteza jurídica ou situação contenciosa na
aplicação do direito público, inclusive no caso de expedição de licença, a
autoridade administrativa poderá, após oitiva do órgão jurídico e, quando for o
caso, após realização de consulta pública, e presentes razões de relevante
interesse geral, celebrar compromisso com os interessados, observada a
legislação aplicável, o qual só produzirá efeitos a partir de sua publicação
oficial. (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018)

§ 1º O compromisso referido no caput deste artigo: (Incluído pela Lei nº 13.655,


de 2018)

I - buscará solução jurídica proporcional, equânime, eficiente e compatível com


os interesses gerais; (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018)

II – (VETADO); (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018)

III - não poderá conferir desoneração permanente de dever ou condicionamento


de direito reconhecidos por orientação geral; (Incluído pela Lei nº 13.655, de
2018)

IV - deverá prever com clareza as obrigações das partes, o prazo para seu
cumprimento e as sanções aplicáveis em caso de descumprimento. (Incluído
pela Lei nº 13.655, de 2018)

§ 2º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018)

Art. 27. A decisão do processo, nas esferas administrativa, controladora ou


judicial, poderá impor compensação por benefícios indevidos ou prejuízos
anormais ou injustos resultantes do processo ou da conduta dos
envolvidos. (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018)

§ 1º A decisão sobre a compensação será motivada, ouvidas previamente as


partes sobre seu cabimento, sua forma e, se for o caso, seu valor. (Incluído pela
Lei nº 13.655, de 2018)

§ 2º Para prevenir ou regular a compensação, poderá ser celebrado compromisso


processual entre os envolvidos. (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018)

@CURSOEMDELTA 91
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Art. 28. O agente público responderá pessoalmente por suas decisões ou
opiniões técnicas em caso de dolo ou erro grosseiro. (Incluído pela Lei nº 13.655,
de 2018)

§ 1º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018)

§ 2º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018)

§ 3º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018)

Art. 29. Vide Lei nº 13.655, de 2018

Art. 30. As autoridades públicas devem atuar para aumentar a segurança jurídica
na aplicação das normas, inclusive por meio de regulamentos, súmulas
administrativas e respostas a consultas. (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018)

Parágrafo único. Os instrumentos previstos no caput deste artigo terão caráter


vinculante em relação ao órgão ou entidade a que se destinam, até ulterior
revisão. (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018)

→ Decreto 9.830/19, que regulamenta a LINDB. Link:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/decreto/D9830.htm

Divisão:
Arts. 1º a 6º: processo de enfrentamento da lei em si - eficácia, obrigatoriedade,
lacunas, interpretação e regras de direito intertemporal.

Arts. 7º ao 17: normas relativas à lei no espaço (direito internacional privado).

Art. 18 e 19: atos civis praticados por autoridades brasileiras no estrangeiro


(atividades consulares).

Em abril de 2018, publicou-se a Lei nº 13.665/2018, acrescentando os artigos 20 a


30 (disposições sobre segurança jurídica e eficiência na aplicação do direito
público).

@CURSOEMDELTA 92
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→O estudo da LINDB deve ser feito em conjunto com a LC 95/98 (sobre a
elaboração, a redação, a alteração e a consolidação das leis).

1. EFICÁCIA DA LEI
A norma é como um organismo vivo: é concebida, nasce e morre.

As normas surgem por uma necessidade social na regulação de comportamentos.

A norma morre porque a sociedade muda.

Processo Legislativo e sanção → Promulgação → Publicação → Vacatio legis →

É com a promulgação que a norma está apta para adentrar no ordenamento


jurídico.

A norma ganha o número no momento da promulgação.

O mais comum é a norma ser publicada no dia seguinte à promulgação.

O termo inicial de vigência da norma é a data de publicação.

O fim da norma se dá com a cessação de eficácia (o principal exemplo é a


revogação de sua eficácia).

O tempo de vida de uma norma geralmente é indefinido.

Início da vigência
A norma exige um tempo de adaptação da sociedade, notadamente as mais
complexas (VACATIO LEGIS).
A Vacatio Legis é o prazo que divide a data da publicação e a efetiva entrada em
vigor da norma.

Lei nº 13.709/2018 (Lei Geral de Proteção de Dados): tenta impedir que os dados
pessoais fiquem circulando. O prazo de vacatio é de 18 meses.

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LC 95/98, art. 8º:
Art. 8º A vigência da lei será indicada de forma expressa e de modo a contemplar
prazo razoável para que dela se tenha amplo conhecimento, reservada a cláusula
"entra em vigor na data de sua publicação" para as leis de pequena repercussão.

Aplicação do art. 1º da LINDB (norma subsidiária).


Art. 1º Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país quarenta
e cinco dias depois de oficialmente publicada.

Se a lei brasileira tiver eficácia no estrangeiro, o prazo de vacatio não é 45 dias, e


sim de 3 (três) meses (art. 1º, parágrafo primeiro da LINDB).

§ 1º Nos Estados, estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira, quando


admitida, se inicia três meses depois de oficialmente publicada.

Em Resumo:
REGRA: previsão expressa da própria norma.
SE A NORMA FOR OMISSA OU HOUVER VETO: 45 dias (art. 1º da LINDB – força
de norma subsidiária).
LEI BRASILEIRA DE EFICÁCIA NO ESTRANGEIRO: 3 meses (art. 1º, parágrafo
primeiro da LINDB).

Como é contado o prazo de vacatio?

O prazo é contado da publicação.

Regra: art. 8ª, parágrafo primeiro da LC 95/98:

§ 1º A contagem do prazo para entrada em vigor das leis que estabeleçam período
de vacância far-se-á com a inclusão da data da publicação e do último dia do
prazo, entrando em vigor no dia subsequente à sua consumação integral.

Exemplo: o novo CPC foi promulgado em 16 de março de 2015 e publicado em 17


de março de 2015. A vacatio é de 1(ano). A data da publicação e o último dia do
prazo são incluídos. Logo, a entrada em vigor do novo CPC é 18/03/2016.

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Não confundir a contagem de prazo da entrada em vigor das normas com a
contagem de prazo de direito material (art. 132, CC) e de direito processual (art.
219 do NCPC).

Prazos materiais (ex: prazo de prescrição e decadência)


Art. 132. Salvo disposição legal ou convencional em contrário, computam-se os
prazos, excluído o dia do começo, e incluído o do vencimento.
§ 1º Se o dia do vencimento cair em feriado, considerar-se-á prorrogado o prazo
até o seguinte dia útil.
Prazos processuais
Art. 219. Na contagem de prazo em dias, estabelecido por lei ou pelo juiz,
computar-se-ão somente os dias úteis.
Parágrafo único. O disposto neste artigo aplica-se somente aos prazos
processuais.

As leis podem ser publicadas com erros? (ex: ortografia)


Sim, mas devem ser republicadas com a correção.

Há duas situações de republicação:

a) Republicação dentro do prazo de vacatio legis (art. 1º, §3º da LINDB): se a


republicação ocorrer dentro do prazo de vacatio, zera a contagem e o prazo de
vacatio começa a ser contado a partir da republicação.

§ 3º Se, antes de entrar a lei em vigor, ocorrer nova publicação de seu texto,
destinada a correção, o prazo deste artigo e dos parágrafos anteriores começará
a correr da nova publicação.

b) Republicação fora do prazo de vacatio legis (após a entrada em vigor): a


republicação, nestes casos, será considerada lei nova (art. 1º, §4ºda LINDB) e não
poderá retroagir para prejudicar direito adquirido.

§4º As correções a texto de lei já em vigor consideram-se lei nova.

Princípio da obrigatoriedade (art. 3º da LINDB):

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Art. 3º Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece.

Há leis que dependem de regulamentação do Poder Executivo: enquanto o


decreto não for editado, o que acontece com a norma? O decreto funcionará
como condição suspensiva à obrigatoriedade da lei.

Teoria do erro (de fato e de direito): o erro traz um vício da vontade no momento
da celebração de novos negócios jurídicos (art. 138, CC). O erro excepciona o
princípio da obrigatório, uma vez que o negócio jurídico poderá ser anulado.

Iura novit curia: as partes não precisam provar a vigência da norma, pois o juiz
conhece o direito. Essa é a regra. No entanto, alguns artigos devem ser
observados:

Art. 14, LINDB.


Art. 14. Não conhecendo a lei estrangeira, poderá o juiz exigir de quem a invoca
prova do texto e da vigência.

Art. 376, CPC.


Art. 376. A parte que alegar direito municipal, estadual, estrangeiro ou
consuetudinário provar-lhe-á o teor e a vigência, se assim o juiz determinar.

As partes não precisam produzir provas acerca da legislação federal.

Princípio da continuidade x Cessação da eficácia


Uma lei nasce com vigência indeterminada até que outra a modifique ou a
revogue.

Causas de geram a cessação de uma norma:

a) Declaração de inconstitucionalidade de uma norma: o Poder Judiciário


atestará a sua invalidade, havendo incompatibilidade da norma com a
Constituição.

b) Lei temporária: aquela que tem prazo de vigência pré-determinado (por


razões emergenciais ou porque visa regulamentar determinado fato).

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c) Revogação (art. 2º, LINDB): é a mais comum. É procedida por uma lei de
mesma hierarquia da norma anterior, que retira a eficácia da antiga norma. Não
confundir revogação com ausência de recepção (ex: o STF está analisando na
ADPF 442 se os tipos penais relativos ao autoaborto foram recepcionados pela
CF).

Modalidades de revogação (art. 2º, caput e §1º da LINDB):

Quanto à extensão:
a) Total: ab-rogação; b) Parcial: derrogação.

Quanto à forma:

a) Expressa; b) Tácita.

A expressa é a regra (art. 9º, LC 85/98).


Art. 9º A cláusula de revogação deverá enumerar, expressamente, as leis ou
disposições legais revogadas.

Antinomia: conflito entre normas. A antinomia é resolvida pela interpretação


(doutrina e jurisprudência).

Critérios da antinomia: cronológico, hierárquico e da especialidade.

Art. 2º Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a
modifique ou revogue.
§ 1º A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando
seja com ela incompatível ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava
a lei anterior.

NORMA GERAL X NORMA ESPECIAL


Art. 2º, 2º, LINDB. Norma especial não revoga norma geral e norma geral não
revoga norma especial.

§ 2º A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já


existentes, não revoga nem modifica a lei anterior.

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Diálogo de complementariedade: ex: compra, por um consumidor, de um carro
em um estabelecimento comercial. Aplica-se o CC (norma geral) com as medidas
protetivas do CDC (norma especial).

REPRISTINAÇÃO X EFEITOS REPRISTINATÓRIOS.

O fato da lei revogadora ter sido revogada não traz a chamada repristinação.

Ex: LEI A foi revogada pela LEI B/ LEI B foi revogada pela LEI C/COM A LEI C em
vigor, a LEI A volta a valer? Não. A lei A não será repristinada (não ressuscitará).

A lei C pode trazer repristinação para uma lei revogada? Sim, apenas se estiver
de modo expresso.

Exige repristinação no Brasil? Não, apenas se houver menção expressa (art. 2º,
§3º da LINDB).

§ 3º Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei
revogadora perdido a vigência.

Efeito repristinatório: princípio da nulidade do ato inconstitucional. Deriva da


declaração de inconstitucionalidade da norma revogadora. Nestes casos, a norma
revogada volta a ter eficácia.

Ex: a LEI B revogou a LEI A. Posteriormente, a LEI B é declarada inconstitucional.

Logo, a LEI A volta a valer.


ATENÇÃO!
REPRISTINAÇÃO É ALGO NORMATIVO.
EFEITO REPRISTINATÓRIO É DERIVADO DE INTERPRETAÇÃO
CONSTITUCIONAL (HERMENÊUTICA).

A cessação de eficácia de uma norma pode decorrer do seu desuso?


Duas correntes:

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a) Sim, o desuso denota a inutilidade de uma norma, perdendo o sentido de
manter a eficácia. Não é razoável/proporcional a incidência da norma. No Direito
Penal, a corrente é defendida pelo Princípio da Adequação Social.

b) O desuso da lei não gera a cessão da eficácia. Princípio da Supremacia da Lei


sobre os Costumes.

INTERPRETAÇÃO e INTEGRAÇÃO
O método de aplicação da lei em 1942, ano da LINDB, era o da subsunção (fruto
dos estudos da Escola da Exegese). Ex: FATO + NORMA = CONCLUSÃO
(SENTENÇA). Havendo lacunas acidentais, o juiz deverá preenche-las adotando
analogia, costumes e os princípios gerais de direito (Art. 4º da LINDB).

Hoje é trabalhada a ideia de lacunas propositais: técnica das cláusulas gerais.


Cláusula geral é uma técnica legislativa propositalmente vaga, por meio da qual
o legislador permite ao juiz concretizar a norma de acordo com os fatos que lhe
são apresentados, respeitando-se os princípios e normas constitucionais.

Teoria Tridimensional do Direito (Miguel Reale): FATO + VALOR + NORMA =


SENTENÇA.

Não confundir cláusula geral com conceito jurídico indeterminado.


Conceitos jurídicos indeterminados: são expressões ou vocábulos com vagueza
semântica, inseridos no bojo de uma regra para permitir ao juiz uma melhor
análise do caso concreto.
As cláusulas gerais são “o artigo inteiro” de uma norma. Os conceitos são
expressões ou vocábulos.

LEI NO TEMPO (DIREITO INTERTEMPORAL)


Regra geral: lei nova projeta os seus efeitos no presente e para o futuro (eficácia
imediata da nova lei).

Desafio: harmonizar necessidade de evolução legislativa sem descuidar da


segurança jurídica.

Princípio da irretroatividade das normas: art. 6º da LINDB e art. 5º, XXXVI da CF.

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Art. 6º A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico
perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada.

Comando ao legislador: não constituir leis que se voltem ao passado.

Comando ao julgador: não aplicar a lei nova a situações que se consolidaram


antes de sua vigência (tempus regit actum).

É possível a ultratividade da lei revogada?


Sim, especialmente para regulamentar situações que se consolidaram durante a
sua vigência. Ex: enfiteuses constituídas pelo CC/16 continuam sendo por ele
regulamentadas.

A regra é a irretroatividade.

Excepcionalmente, é possível que uma lei tenha efeitos retroativos:

a) Quando expressamente previsto;

b) Quando se referir a fatos do passado.


Ex: leis de anistia.

Mesmo havendo a retroatividade, deve haver respeito a três pilares: a) coisa


julgada; b) direito adquirido e c) ato jurídico perfeito.

Ato jurídico perfeito (art. 6º, §1º da LINDB): ato que emana da manifestação de
vontade de alguém que preencheu os requisitos de validade no momento em que
foi praticado.

§ 1º Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado segundo a lei vigente ao


tempo em que se efetuou.

Direito adquirido (art. 6º, §2º, LINDB): direito que já está incorporado na situação
jurídica do sujeito pelo fato deste ter preenchido todos os requisitos
estabelecidos por lei. Enquanto não houver direito adquirido, há expectativa de
direito.

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Coisa julgada (art. 6º, §3º, LINDB): é a decisão da qual não cabe mais recurso
(conceito tradicional). É a qualidade de imutabilidade de uma decisão, qualidade
esta que será adquirida a partir do trânsito em julgado (conceito moderno).

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