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A Água do Solo:
Características e
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Comportamento ~
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lí. água; wn dos mais simples compostos químicos da natureza, é um componente vital de to-
das as células vivas. Suas propriedades exclusivas propiciam uma grande variedade de proces-
sos físicos, químicos e biblógicos. Esses processos têm grande influência sobre quase todos os
aspectos da formação e do comportamento do solo, da intemperizaçao de minerais à decom-
posição da matéria orgânica, do crescimento das plantas à poluição das águas subterrâneas.
Todos nós estamos acostumados com a água. Dela bebemos, com ela nos lavamos e nela
nadamos. Mas a água no solo é muito diferente daquela contida em um copo. No solo, a
associação íntima entre a água e as suas partículas altera o comportamento de ambos. A água
faz com que as partículas do solo se expandam e se contraiam para unirem-se umas às outras
e formarem os agregados estruturais. Além disso, ela participa de inúmeras reaçóes químicas
que liberam ou imobilizam nutrientes, geram acidez e desgastam os minerais, de modo que
os elementos que os constituem possam, enfim, contribuir para a salinidade dos
oceanos.
Certos fenômenos que ocorrem com a água do solo parecem contradizer o
nosso entendimento sobre como a água deve se comportar. Parte da circu-
lação livre das moléculas de água é restringida pelas superfícies sólidas
que as atraem, fazendo com que se comportem de uma forma menos
líquida e mais sólida. No solo, a água pode fluir tanto para cima como
para baixo. As plantas podem murchar e morrer em um solo cujo perfil
contém um milhão de quilos de água por hectare. Uma camada de areia
qu cascalho em um perfil de solo pode; ~~fato, ini~ir a .drenagem, ao invés
de melhorá-la. .
As interações solo-água determinam suas taxas de perda por lixiviação,
escoamento superficial e evapotranspiração, bem como o equilíbrio entre o ar
e' a água nos poros do solo, a taxa de mudança na temperatura do solo, a taxa
Cetipo de metabolismo) dos organismos do solo, além de capacitar os solos a
armazenarem Cefornecerem) água para o crescimento das plantas.
As características e o comportamento da água no solo abrangem um assun-
to que intú':'relaciona quase todos os capítulos deste livro. Os princípios desen-
volvidos neste capítulo irão nos ajudar a entender por que os deslizamentos de
Capítulo 5 A Água do Solo:Característicase Comportamento 147
terra ocorrem em solos saturados com água (Capítulo 4); por que as minhocas podem melho-
rar a qualidade do solo (Capítulo 10), por que as terras úmidas contribuem para a destruição
da camada global de ozônio (Capítulo 12) e por que a fome persegue a\humanidade em certas
regiões do mundo. Compreender os princípios apresentados neste capítulo é fundamental
para se trabalhar com o sistema solo ..
Polaridade
I
Os átomos de hidrogênio, em vez de se alinharem simetricamente em cada lado do átomo d,e
oxigênio"(H-O-H), estão ligados ao oxigênio em um arranjo em forma de V, com um ângul6
de apenas 10Y. Por i,iso, a ~gua é uma molécula assimétrica, com seus elétrons orbitando
màis tempo quando estão mais próximos do oxigênio do que do hidrogênio. Consequente-
mente, as moléculas de águ"a apresentam polaridade, isto é, suas cargas não estão distribuídas
uniformemente; pelo contrário, o lado em que os átomos de hidrogênio se situam tende a ser
eletropositivo, e o lado oposto, eletronegativo.
A polaridade explica por que as molécuÍas de água são atraídas tanto por íons eletrostati-
camente carregados como por superficies coloidais. Cátions, como H+, Na+' K. e cl., se hi-
dratam por meio de sua atração pelo lado (negativo) onde se situa o oxigênio das moléculas de
água. Da mesma forma, as superfícies de argila carregadas negativamente atraem água, desta
vez através do lado (positivo) do hidrogênio da molécula. A polaridade das moléculas de água
também provoca à dissolução dos saIs na água, já que os seus componentes iônicos têm uma
maior atraçáo pelas moléculas de água do que uns pelos outros.
Ligações de hidrogênio
Por meio.de um fenômeno chamado de ligação de hidrogênio (ou "ponte de hidrogênio"),
um dos átomos de hidrogênio de uma molécula de água é atraído pelo oxigênio de uma molé-
cUla de água vizinha, formando assim uma ligação de baixa energia entre essas ~uas moléculas.
Esse tipo de ligação é responsável pela polimerização da água.
I Pari informações mais detalhadas sobre as interações água-solo, consulte HilIel (1998) e Warrick (2001).
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to. A a~esão e ~ coesão também tornam possível a plasticidade, que é/uma das características
das argIlas (Seçao 4.9). í
/ A tensáo super.ficial é outra propriedade importante da água que influencia significati-
vamente seu comportamento no solo. Nas interfaces líquido-ar, a tensão superficial decorre
do fato de as moléculas de água terem uma maior atração entre si (coesão) do que pelo ar. O
efeito disso é uma força dirigida da superfície da água para o seu interior, o que faz com que
ela se comporte com,? se a superfície fosse coberta com uma membrana elástica esticada (fi-
gura 5.2). Devido à elevada atração relativa das molécula~ de água umas pelas outras, a água
passa a ter uma elevada tensão superficial (72,8 N/mm a 20°C), se comparada à maioria dos
outros líquidos (por exemplo, 22,4 N/mm para o etanol, que é outro composto de baixo peso
molecular). Como veremos, a tensão superficial é um fator importante para o fenômeno da
capilaridade, que determina como a água é retida no solo ..
Figura 5.2 Evidências da tensão superficial da água em nosso dia a dia. A esquerda: insetos pousando na água sem
se afundarem. A direita: exemplo de forças de'coesão e adesão fazendo com <t.~euma gota d'água seja mantida entre
os 'dedos que se separam. (Fotos: cortesia de R. Weil)
1
Capítulo 5 A Água do Solo: Características e Comportamento 149
retamente proporcional à sua tensão superficial, bem como ao grau de sua atração adesiva ao
tubo (ou superfície do solo): Se limitarmos nossa consideração para a água a uma dada tempe-
ratura (por exemplo, 20°C), então esses fatores podem ser combinados em uma única constan-
te, e podemos usar uma equação simples da ppilaridade.para calcular a altura da as~ensão h:
h == 0,15 (5.1)
r
onde h e r são expressos em centímetros. Esta equação nos diz_que, quanto mais flno for o
tubo, maior será a força capilar e maior a ascensão da água no tubo (Figura 5.3a).
2 Note que, se a água sobe por capilaridade a uma altura de 37 cm acima da superfície livre da água, em um solo de
textura arenosa (como mostrado no exemplo da Figura 5.3c), então será possível estimar (reorganizando a equação
capila, para r == O,15/h) que os menores poros contínuos devem ter um raio de cerca de 0,064 cm (0,15/37 =
0,004). Esse cálculo dá urna ideia aproximada do raio efetivo mínimo dos poros capilares em um solo.
150 Elementos da Natureza e Propriedades dos Solos
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Tempo (dias) ---.-
(c)
Raio do tubo
(a) (b)
Figura 5.3 Movimento capilar ascendente da água através de tubos com raios internos diferentes efem solos com di.fe-
rentes tamanhos de poros. (a) A equação capilar pode ser representada graficamente para mostrar qLe a altura de aséen-
são h dobra quando o raio interno 'do tubo é reduzido pela metade. Essa relação pode ser demonst~ada usando-se tubos
de vidro de diferentes raios. (b) O mesmo princípio também correlaciona tamanhos de poros em unj solo com a altura
da ascensão capilar, mas ..~ elevação da água no solo é bastante desordenada e irregular por causa da forma tortuoSa e
variável do tamanho dos poros do solo (bem como a ocorrência de bolsões de ar aprisionado). (c) Quanto mais fina for a
textura do solo, maior será a proporção de poros de pequeno porte e, portanto, maior será também a elevação total da
água acima de um lençol freático livre.No entanto, por causa das forças de atrito muito maiores nos poros menores, a as-
censão capilar é muito mais lenta nos solos de textura maisfina do que nos de textura arenosa. (Diagramas: cortesia de R. Weil)
A capilaridade é tradicionalmente ilustrada como uma acomodação para cima. Mas o mo-
vimento ocorre em todas as direções, N que as atrações entre os poros do solo e a água são
igualmente eficazes na formação de um menisco de água, tanto nos poros horizontais como nos
verticais (Figura 5.4). A importância da capil~ridade no controle do movimento da água em po-
ros pequenos ficará mais evidente quando abordarmos os conceitos de energia da água do solo.
Figura 5.4 Neste campo irrigado no Estado do Arizona (EUA),a água subiu por capilaridade, distanciando-se do sul-
co de irrigação em direção ao topo do camalh-ão'(foto à esquerda), bem como horizontalmente para ambos os lados
(foto:à direita). (Fotos: cortesia de N. C. Brady) -
l
Capítulo 5 A Água do Solo: Características e Comportamento 151
Potencial
Nível da energia potencial osmótico
da água contendo sais
e outros solutos
--------------
t_ Potencial
matricial
Figura 5.5 Relação entre a en'ergia potencial da água livreem um estado de referência padrã,b (pressão, temperatura
í
e altura) e a da água 90 solo. Se a água do solo contém sais e outros solutos, a atração mútua entre as moléculás de
água e estes comp0l!tos qui,micosreduz a energia potencial da água, sendo o grau de redução denominado potencial
osmótico. Da mesma forma, a atração mútua entre os sólidos (ou matriz) do solo e as moléculas da água do solo tam-
bém reduzem a energia potencial da água. Neste caso, a redução é chamada de potencial matricial. Uma vez que am-
bas as interações reduzem o nível da energia potencial da água quando comparado com o da água livre, as mudanças
no nivel de energia (potencial osmótico e matricial)são todas consideradas negativas. Em contraste, as diferenças de
energia devidas à gravidade (potencial gravitacionaO são sempre positivas, porque a altura de referência da água livre
é propositadamente indicada em um ponto no perfil do solo, inferior ao da água do solo. A raiz de uma planta, quando
tenta remover água de um solo úmido, tem que superar todas essas três forças simultaneamente.
um menor potencial de água do solo. Esse fato deve ser sempre considerado quando estamos
cogitando sobre o comportamento da água nos solos.
Diversas forças estão envolvidas no potencial da água do solo, sendo cada uma delas um
componente do potencial total da água do solo, 0/" Esses componentes decorrem de dife-
renças nos níveis de energia, os quais são o resultado das forças gravitacional, matricial, hi-
drostática submersa e osmótica - chamados, respectivamente, de potencial gravitacional, o/g'
potencial matricial, o/m' potencial hidrostático, o/h' e potencial osmótico, 0/0' Todos esses
componentes atuam simultaneamente, influenciando o comportamento da água nos solos.
A relação geral do potencial da água do solo com os níveis de energia potencial é ilustrada na
Figura 5.5 e pode ser expressa como:
(5.2)
onde as reticências (...) indicam a possível contribuição de potenciais adicionais ainda não
mencionados.
Potencial gravitacional: Potencial gravitacional A força da gravidade atrai a água do solo em direção ao cen-
http://zonalandeducation:_ tro d~ Terra. O potencial gravitacional, o/g' da água do solo é o produto da aceleração
corn/mstm/physics/
mechanics/enetgy/ decorrente da gravidade e da altura da água no solo acima de um plano de referência.
gravitatiohal / A altura do plano de referência é geralmente escolhida dentro do perfil do solo. ou no
PotentialEnergy/ seu limite inferior, para garantir que o potencial gravitacional da água do solo acima
gravitationalPotential do plano de referência seja sempre positivo .
. E,nergy.htmI
1
Capítulo 5 A Água do Solo: Características e Comportamento 153
Potencial osmótico O potencial osmótico, l/I., é atribuído tanto à presença de Animação sobre osmose:
http://www.stolaf.
soluros inorgânicos como orgânicos na sqlução do solo. Como as moléculas de
edu/people/gianninil
água se aglomeram em torno dos íons ou de moléculas de soluros, a facilidade de flashanimatltransportl
circulação (e, portanto, a energia potenciap da água é reduzida. Quanto maior a osmosis.swf
Potencial de pressão
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+1 Potencial ' -// "/.
Profundidade /, matricial, --+'
no perfil ~Í!alores negati~o1/, /
do solo - f /'/',
Nível freático/ // '
1 -- ;Potencial
hidrostático,
valores
ipositivos
Figura 5,6 Tanto o potencial matricial como o hidrostático são potenciais de pressão que podem contribuir para
o potencial total da água. O potencia'-matricial é sempre negativo, e o hidrostático é positivo. Quando a água está
em um solo não séilturado acima do lençol freático (acima da zona saturada), ela está sujeita à influência de potenciais
matriciais. Por outro lado, a água situada em um solo saturado abaixo do nível freático está sujeita a potenciais hidros-
táticos. No exemplo mostrado aqui, o potencial matricial diminui linearmente à medida que a altura acima do lençol
freático aumenta, o que significa que a água que se eleva acima do lençol freático, por atração capilar, é a única fonte
de água neste perfil. A chuva ou a irrigação (ver lihha pontilhada) iria alterar (ou curvar) a linha reta, mas não alteraria
as re,lações fundamentais aqui ilustradas. ~
154 Elementos da Natureza e Propriedades dos Solos
r
concentração de solutos. mais reduzido será o potencial osmótico. Como sempre. a água
tenderá a se mover em direção a um ponto onde seu nível de energia é menor; neste caso,
para a zona de maior concentração de soluto. No efitanto, a água em estado líquido somente
se moverá em resposta a diferenças de potencial osmótico (o processo denominado os~ose)
se existir uma membrana semipermeável entre as zonas de alto e baixo potencial osmótico,
permitindo que somente a água passe e impedindo o movimento do soluto. Se ~enhuma mem-
brana estiver presente, o movimento do soluto, em vez do da água, iguala em grande parte
as concentrações.
Por as diferentes zonas do solo normalmente não estarem separadas por membranas. o
potencial osmótico. t/J•• tem pouco efeito sobre o movimento da massa de água dos solos.
Seu efeito principal é constatado pela absorção de água pelas células das raízes das plantas
que estão isoladas da solução do solo pelas suas membranas celulares semipermeáveis. Em
solos ricos em sais solúveis. t/J. pode ser menor (ter um valor negativo maior) na solução
do solo do que nas células da raiz da planta; isso leva a restrições na absorção de água pelas
raízes das plantas. Em-um-solo-muito.salino, o potendal 0_~m6ti~.9.gaªguª-dosolo Rode
ser suficientemente baixo para fazer com que plântulas novas entrem em colapso (ou se
plasmolisem) à medida que a água caminha das células para a zona dF menor potençial
osmótico do .' solo. i
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{
M~todos de expressão dos níveis de energia I
váiias unidades podem ser usadas para expressar as diferenças nos níveis de energia da água
do solo. Um deles é a altura de uma coluna de água (geralmente em centímetros), cujo peso se
iguala ao potencial considerado. Já vimos esse meio de expressão quando definimos o signi-
ficado do h na equação da capilaridade (Seção 5.2), a qual nos fornece o potencial matricial
da água em um poro capilar. Uma segunda unidade é a pressão atmosférica padrão ao nível do
mar, que é de 760 mm Hg ou 1020 cm de água. Outra unidade denominada bar tem valores
aproximadamente iguais aos da pressão de uma atmosfera padrão. A energia pode ser expressa
2
por unidade de massa (joules/kg) ou por unidade de volume (newtons/m ). No Sistema
Internacional de Unidades (SI), 1 pascal (Pa) é igual aI newton (N) atuando sobre uma área
de 1 m2• Neste l~vro, usamos Pa ou quilopascal (kPa) para expressar o potencial de água no
solo. Considerando que outras publicações podem usar outras unidades, a Tabela 5.1 mostra a
equivalênci~ entre os meios. mais comuns de expressar os potenciais da água do solo.
o o , O
10,2 e-o,01 -1 " 300
102 -0,1 -10 30
306 -0,3 -30 10
.1.020 -1,0 -100 3
-15 -1.500 0,2
15.300,
31.700 -31 -3.100 0,97
-100 -10.000 0,03
102.000
( .
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Capítulo 5 A Água do Solo: Características e Comportamento 155
Tudo O que foi discutido até agora neste capítulo indica a existência de uma rdação
Tipos de sensores de
inversa entre o teor de umidade dos solos e a tensão com que a água é retida. Muitos umidade dos solos:
fatores afetam a relação entre o potencial da água do solo, t/J, e o teor de umidade, (J. http://www.sowacs.com/
Alguns exemplos ilustrarão este assunto. sensors/index.html
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Figura 5.7 Curvas de retenção da água
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. no solo para três solos minerais represen-
tativos. As curvas mostram as correlações
:::J
o 10 ffi., obtidas pela lenta secagem de solos
>
0,1 ~ completamente saturados. As linhas tra-
cejadas mostram o efeito da compacta-
ção ou da pouca agregação. O potencial
O O de água do solo (que é negativo) é eX-
O ....{l,01 ...{l,1 -1 -10 -100 -1000 (bars) presso em unidades de bar (escala supe-
-1 . ~10 -100 -1.000 -10.000 -100.000 (kPa)
rior) e quilopascal (kPa) (escala inferior).
Potencial da água do solo (1/1) (~scalã'log) Note..gue o potencial da água do solo
está plotado em escala logarítmica.
r
156 Elementos da Natureza e Propriedades dos Solos
dade atual) e o estadQ da energia da água (potencial da água do solo). Para compreender ou
manejar o abastecimento e o movimento da água nos solos, é essencial dispor de informações
(medidas diretamente ou inferidas) relativas a ambos
" , os tipos de medições. Por exemplo, uma
medição do potencial de água do solo pode nos dizer se a água se moverá em direção 'ao lençol
freático; mas sem uma medição correspondente do teor de umidade do solo, não saberíamos
a possível imponância da sua contribuição para as águas subterrâneas.
Geralmente, o componamento da água do solo está mais estreitamente relacionado com o
estado de energia da água, e não com a sua quantidade. Assim, tanto um solo franco-argiloso
como outro franco-arenoso estarão úmidos e fornecérão"água às plantas com facilidade quan-
do "o l/Jm for, digamos, -10 kPa. No entanto, a quantidade de água retida pelo franco-argiloso
e a duração do tempo em que poderia fornecer água às plantas seriam muito maiores a este
mesmo potencial do que seda para o franco-arenoso. "
Teor de água
O teor 4~_ágt!ªy~lllJ!l~trico, ()v' é clefiniclo como o volume deJg!1a ª-5sociaefo çQm U!Il deter-
3
minado volume (geralmente 1 m ) de solo seco (Figura 5.7). Uma expressão semelhante é o
teor de água em massa, ()m' ou a massa da água associada a uma dada IIJ-assa(geralmente 1kg)
de solo seco. Ambas as expressões têm vantagens para usos diferentes. ;Neste livro, na maioria
das vezes; vamos utilizar o teor de água volumétrico, ()v' ,
I À medida que a compactação reduz a porosidade total, ela tambéin aumenta ()v (supondo
"um determinado em>,
deixando, assim, pouquíssimo espaço poroso preenchido com ar para
que uma 6tima atividade das raízes seja possível. No entanto, se um solo for inicialmente
0,8
0,75 0,93 1,10 -+Densidade+- 0,96 1,12 1,38
0,7 do solo
(Mg m-3)
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<0,2 JLm
Figura 5.8 A compactação de dois 50105 (franco-argiloso, à esquerda; areia-franca; à direita) diminuiu a porosidade to-
"tal, sobretudo pela conversão dos poros maiores (normalmente cheios de ar) em poros menores - que armazenam água
com mais força. Estes horizontes A dê 50105 sob florestas estavam inicialmente tão soltos que a compactação moderada
beneficiou as plantas com o aumento do volume de água armazenada nos poros com diâmetro de 0,2 a 30 •.•.m. Por outro
lado, a água antes presente no 5010 não compactado, depois da compactação, ocupa uma maior percentagem do volume
dos poros (~, possivelmente fazendo com que surjam condições de quase saturação com água. Neste exemplo, o solo
franco-argiloso, e severamente compactado, contém 0,52 cm3 de água, mas apenas 0,04 cm3 de ar por cm3 de solo, me-
3
nos que os 0,10 cm de ar por cm3 de solo (",10% de porosidade com ar; veja Seç~ 7.2) considerados como necessários
para o bom crescimento das plantas. (Adaptadode Shestake Busse[2005), com permissãodo TheSai1 ScienceSocietyof America,EUA)
I "
Capítulo 5 A Água do Solo: Características e Comportamento 157
muito solto e altamente agregado (como os horizontes A sob florestas, descritas na Figura
5.8), a compactação moderada pode realmente beneficiar o crescimento da planta. devido ao
aumento do volume de poros que retêm água entre 10 e 1.500 kPa de~ensão.
Sempre imaginamos que as raízes das plantas penetram uma certa profundidade do solo.
da mesma forma que vemos a precipitação pluvial (e às vezes a irrigação) como uma profun-
didade (ou altura) da água (por exemplo, mm de chuva). Por isso, muitas vezes,' é conveniente
expressarmos o teor de água volumétrico como uma razão de profundidades (profundidade
de água por unidade de profundidade do solo). Os valores numéricos para essas duas expres-
sões são os mesmos, daí a conveniência desses cálculos. Por exemplo, para um solo contendo
0,1 m3 de água por IJ.13 de solo (10% em volume), a razão de profundidade da água é de 0.1 m
de água Po! mde profundidade do solo (Seção 5.9).3
Métodos eletromagnéticos Os vários métodos não destrutivos existentes para medição ,do teor
de água do solo baseiam-se no fato de que, no solo, a constante dielétrica da água é muito diferen-
te daquela de suas partículas sólidas ou do ar. Q teor de água do solo à base de volume é calculado
por um chip de computador. a partir de sinais' enviados a ele por uma sonda que detecta proprie-
dades elétricas do soJa. Os dois tipos de sonda mais comumente utilizados são as de capacitância e
a TDR (reflectometria no domínio do tempo); ambas podem ser facilmente adaptadas a registra-
dores de dados e a sistemas automatizados de irrigação no campo (Tabela 5.2 e Figura 5.9).
Potenciais hídricos
Tensiômetros Os fenômenos que fazem com que a água seja atraída pelas partículas solo é
uma manifestação do seu potencial matricial, o/m; os tensiÔmetros de campo (Figura 5.10)
medem esta atração. outensáo. Um tensiômetro é basicàmente constituído de um tubo cheio
de água, fechado na sua extremidade inferior com uma cápsula porosa de cerâmica e herme-
ticamente selado na extremidade superior. Quando instalado no campo, a água se desloca
através da cápsula porosa para o solo adjacente até que o potencial da água no tensiômetro
seja igual ao da água no solo. À medida que a água é sugada para fora do instrumento, um
vácuo se desenvolve sob a tampa superior. o qual pode ser medido por um vacuômetro ou um
transdutor (conversor) eletrônico. Se chuva ou irrigação reumedecer o solo, a ,água vai entrar
no tensiômetro através da cápsula de cerâmica, reduzindo o vácuo ou a tensão registrada pelo
vacuomêtro. Tensiômetros são úteis entre potenciais de zero e -85 kPa. um intervalo que
inclui metade, ou mais, da água armazenada na maioria dos solos. Se o solo seca acima de
85 kPa, os tensiômetros falham porque, nessas condições, o ar passa a ser aspirado para dentro
dele, através dos poros da cápsula de cerâmica, reduzindo o vácuo. No campo, um interruptor
\
3 Quando se mede uma quantidade de água aplicada ao solo por irrigação. cosrumam-se usar unidades de volume,
como m3 e heccare-meuo (volume de água que cubra um hectare de terra a uma profundidade de 1 m). Geral-
mente, os agricultores e'pecuaristas das regiões irrigad~ dils Estados Unidos usam as unidades il.!g!esas&3 e acre-pé
(volume de água necessário para cobrir um acre de terra a uma profundidade de um pé) .
•
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158 Elementos da Natureza e Propriedades dos Solos
•..
QUADRO 5.1
Determinação gravimétrica do teor de água do solo'
---------------------_._---------_.
Os procedimentos gravimétricos para determinar o teor de água do solo à base de massa, em. são relé\tivame~te
simples. Suponha que você queira determinar o teor de água de uma amostra de solo úmido pesando 100 g.
Para isso, você seca a amostra em um forno mantido a 105°C e pesa o solo novamente. Suponha que o solo
seco agora pese 70 g, indicando que 30 9 de água foram retirados do solo úmido. Expresso em quilogramas,
são 30 kg de água associados a 70 kg de solo seco.
Uma vez que o'teor de água de solo à base de massa, 0m, é comumente expresso em termos de quilos de
água assoCiados aJ kg de solo seco (não 1kg de solo úmido), ele pode ser calculado da seguinte forma:
30 kg água X kg água
70 kg solo seco 1 kg solo seco
Para calcular o conteúdo de ág~a à base de volume~6~ precisamos conhecer-a densidade do solo !i-eco -q-ue.
neste caso, poderíamos presumir como sendo 1,3 g/cm3• Em outras palavras, um metro cúbico deste solo (quan-
do seco) tem uma massa de 1.300 kg. Considerando os cálculos acima, sabemos que a massa dt
água, associa dá
com esses 1.300 kg de solo seFo é de 0,428 X 1.300 ou 556 kg.
Uma vez que 1 m3 de água tem uma massa de 1.000 kg, esses 556 kg de água vão ocupar 556/~ .000 ou 0,556
3 3
3
• m
,I
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Portanto, o teor d água. em volume é igual a 0,556 m /m de solo seco.
:
J . .'
/
3
1.300 kg solo X m3 água X 0,428 kg água = 0,556 m água
m3 solo 1.000 kg água kg solo m3 solo
Considerando um solo que não se expande quando úmido, a relação entre o teor de umidade em massa e em
volume pode ser resumida como sendo:
(5.3)
L
- - .----:'1
Alcance útil
Método Teor Potencial de ação, kPa ' Campo Laboratório Observações
{
I
Q = AKsar~ i (5.4)
t L
,I
onde A é a área da seção transversal da coluna através da qual a água flui, IÇar é a condutividade
hidráulica saturada, Ll'" é a mudança no potencial de água entre as extremidades da coluna
(por exemplo, "'1- "'2)'e L é o comprimento da coluna. Para uma determinada coluna. a taxa
de fluxo é determinada pela facUidade com que o solo conduz a água (IÇa,) e pela quantidade de
força que impulsiona essa água, ou seja, o gradiente do potencial da água Lll/JI L. Para um fluxo
saturado, essa força pode também ser chamada de gradiente hidráulico. Por analogia, imagine
que você está esguichando água através de uma mangueira de jardim, com IÇar representando a
largura da mangueira (a água flui mais facilmente através de uma mangueira mais larga) e Ll"'1 L
representando o tamanho da bomba que impulsiona a água através da mangueira.
I
I
I~
iI
Figura 5.10 Tensiômetro utilizado para
I
determinar o potencial da água no campo. A
foto à direita mostra o instrumento por inteiro.
O tubo é preenchido com água através da
tampa rosqueável; depois que o instrumento
é hermeticamente fechado, a cápsula porosa
branca e a parte inferior do tubo de plástico
são inseridas em um orifício bem justo feito no
solo. O vacuômetro (foto ampliada •.à esquer-
da) vai indicar diretamente -a tensão" ou o po-
tendal negativo gerado à medida que o solo
absorve a\água para fora (setas curvas), atra-
vés da cápsula porosa. Note que a escala só
vai até 100 centibars (= 100 kPa) de tensão,
nas condições dos menores teores de água.
(Fotos: cortesia de R. Weil)
1
Capítulo 5 A Água do Solo: Características e Comportamento 161
o L
(5.5)
IÇa' = A. t r/J, - r/J
z
!
I
Tabela 5.3 Alguns valores aproximados de condutividade hidráulica saturada (em várias unidades) e
interpretações para vários usos do solo
L
T.
162 Elementos da Natureza e Propriedades dos Solos
de movimento muito .g 60
c
mais rápida na areia- ~
-franca, especialmente o
"tl 90
em sentido descenden- E
. !:!.
te. (Adaptado de Cooney e CI>
180
45 -30 150--15 30 45
Distância (em do centro de sulco)
.
lado, o movimento horizontal (em sua maior parte por fluxo não s~turado)
I
foi ~qito mais
/pronunciado no franco-argiloso.
.L
Capítulo 5 A Água do Solo: Características e Comportamento 163
Os macroporos, quando contínuos desde a superfície do solo até a parte "inferior do seu
perm, impulsionam um fluxo preferencial. Tais poros podem resultar de escavações de anÍ-
mais, canais de raízes ou rachaduras decorrep.tes da contração de argilas. Em solos muito are-
nosos, grãos de areia com revestimentos orgânicos hidrofóbicos fazem surgir faixas de rápido
umedecimento (Ptanch:i 69). Esse tipo de fluxo, provavelmente, é o responsável pelas transi-
ções irregulares dos horizontes espódicos em alguns perfis de Spodosols (Prancha 10).
Em alguns solos argilosos, a água da primeira chuva torrencial, após um período de estia-
gem, move-se rapidamente para baixo através das suas fendas de contração, levando consigo
pesticidas solúveis ou nutrientes qu~ por acaso estiverem na superfície do solo (Tabela 5.4).
Produtos químicos e bactérias fecais, lixiviados por fluxo preferencial, podem ameaçar a saúde
humana, bem como a qualidade ambiental.
'"e
'" ~
~ E
ll)
E
('O')
Figura 5.14 Ilustração de um fluxo preferencial de água e pesticidas em direção ao lençol freático. Um herbicida (pro-
duto químico para controle de ervas daninhas) foi aplicado ao longo de uma estrada (à direita) com a expectativa de que
o movimento descéndente para o lençol freático não fosse um problema sério, já que os solos circundantes têm textura
argilosa e, po~ isso; não permitiriam a imediata infiltração da substância química. Contudo, à medida que a vegetação
de raiz profunda ia secando o solo, fendas largas se formavam na argila quando ela se contraía. Por causa dessas fendas,
a primeira chuva pesada, após um período de seca, carregou os produtos químicos para as águas subterrâneas, antes
que q solo pudesse se expandir e fechar suas fendas. Desta forma, o herbicida foi capaz de se deslocar para os córregos
vizinhos através das águas subterrâneas. (Fonte:DeMartinise Cooper (1994), coma permissãode lewis Publishers,EUA)
r
164 Elementos da Natureza e Propriedades dos Solos
..- ........•....
....
•.....•.•.•
"" Texturaareia-franca
""\
\
\ .
\'
\
\
\
\
1
Capítulo 5 A Água do Solo: Características e Comportamento 165
Infiltração
O processo pelo qual a água entra nos espaços porosos do solo (e se transforma em água do solo)
é denominado injiltraçáti....e a t~a na .qual a ig4a nel~ pe~etra é denominada infllt.rqbilídade (i): •
. , . -, .. ,. .'
.. . (:n\4-!-." (5.6)
!.-/ (~!)
2
onde Q é a quantidade, em vol~me, da água (m3) que se infiltrai A é a área (m ) da superfície
3 2
do solo eXposta à infiltFação, e té o tempo (s). Como m aparece no numerador, e m , no de:"
noinihador, as unidad~s d~ infiltração podem ser simplificadas para m/s ou, mais comumente,
em/h. A taxa de infiltração não é constante ao longo dó tempo, mas geralmente diminui du-
rante um episódio de irrigação ou de chuva. Se, quando a infiltração começar, o solo estiver
completamente seco, todos os macroporos abertos para a superfície estarão disponíveis para
conduzir a água para dentro dele. Em solos com argilas do tipo expansível, a taxa de infiltração
inicial pode ser particularmente elevada quando a água flui para a rede de fendas de contração;
L..
166 Elementos da Natureza e Propriedades dos Solos
r
i
no entanto, à medida que a infiltração prossegue, muitos macroporos se enchem com água,
fazendo com que estas fendas se fechem. Quando isso acontece, no início, a taxa de infiltração
diminui subitamente, mas, depois, tende a se estabilizar, permanecendo relativament.e cons-
tante daí em diante (Figura 5.16).
Percolação
Após se infiltrar no solo, a água se move para baixo no perfil, por um processo denominado
percolaçáo. Tanto o fluxo saturado como o não saturado são responsáveis pela percolação da
. água ao longo do perfil, e a taxa desse movimento está diretamente relacionada com a condu-
o tividade hidráulica do solo. No caso da água que se infiltrou em um solo relativamente seco, o
percurso da água pode ser observado pelo escurecimento do solo, à medida que ele se umedece
(Figura 5.17). Normalmente, um contorno nítido parece se formar entre o solo seco subjacente
e o acima já níolhado, chamado de frente de molbamento. Durante uma chuva intensa ou
irrigação pesada, o movimento da água nas proximidades da superfície do solo ocorre princi-
palmefit~OpO.i:.fli.lXbsaturadà, em resposta à gravidade. No entanto, na frente de molhamento,
a água está se movendo para o solo subjacente mais seco, tanto em resposta a gradientes de
potencial matricial como à gravidade. Mas, durante uma chuva fina, a infiltração e a percola-
ção ocorrem principalmente por fluxo não saturado, à medida que a ág~a é atraída por forças
matriciais para os poros menores, sem se acumular nos macro poros ou ~a superfície do solo.
I j
I
Superfície do solo
~Frente de molhamento
Horizonte subsuperncial
}
secado pelas raízes das plantas
--
;
o
o
'o"
Teor de água do solo
I
I
I
I
"
Gl I
"
co I
<t
----- --~ ;.'
I
I
I
Figura 5.17 Aspecto de uma frente de molhamenta 24 horas após uma chuva de 5 em. A extração de água pelas
raízes das plantas, durante o período de estiagem das três semanas anteriores, havia secado os 70 a 80 cm superiores
deste perfi) de solo de uma região úmida (Alabama, EUA).O contorno claramente visível(Iirihapontilhada) resulta da
mudança abrupta do teor de água do solo na frente de molhamento, entre sua parte seca, de cor mais clara, e a escu-
recida pela água de percolação. A forma ondul~çlada frente de molhamento do solo, em condições naturais de cam-
po, é uma evidência da heterogeneidade do tamanho dos poros. O gráfico (à dir.eita) indica como o teor de água do
solo diminui bruscamente na frente de molhamento. Escala em intervalos de 10 em. (Foto: cortesia de R. Weill
L
Capítulo 5 A Água do Solo: Características e Comportamento 167
Figura 5.18 Simulação do movimento descendente da água em solos com uma camada estratificada de material gros-
seiro. (a) A água é aplicada à superfície do horizonte superior de um solo de textura média (franco-siltosa). Note que, após
40 minutos, o avanço da frente"de molha menta para baixo não é maior do que para os lados, indicando que, neste caso,
a força'gravitacional é insignificante, se comparada ao gradiente de potencial matricial entre o solo seco e o saturado com
água. (b) O rt.ovimÊmto descendente é interrompido quando uma camada de textura mais grosseira (areia) é encontrada;
após 110 minutos, nenhum avahço ocorreu para a camada de areia, porque seus macroporos exercem menor atração sobre
a água do que os do material de solo de textura m~is fina colocado acima. (c) Depois de 400 minutos, o teor de água da
camada sobrejacente se torna suficientemente elevado para ter um potencial de águade cerca de -1 kPa, ou maior, fazen-
do C?m que ocorra o movimento descendente no material grosseiro. (Fotos:cortesiade W. H. Gardner,WashingtonState University)
r-
I
QUAQRO 5,2
Aplic~ções práticas do fluxo de água não saturadó em camadas
cóm texturas contrastantes
-----_.-_ ~.~--~._----._--_.~--_
•...•....•.. _----- ..
Os fluxos não saturados de água sempre o'correm Yucca, Nevada (EI,JA).Apesar de estar localizada no
a partir de poros maiores para menores. Esse fl.uxo deserto, as rochas da montanha Yuccacontêm gran-
se interrompe quando a textura de uma camada do des quantidades 'de água em poros e fraturas, resul-
solo muda abruptamente, de relativamente fina para tando em gotejos vindo do teto'das cavernas de
outra' mais grosseira, porque um poro maior não armazenamento. Embora os tambores contentores
pode "puxar'" água de um poro menor. Se a água idealizados para resíduos que geram calor sejam re-
está'entrando no sistema mais rapidamente do que sistentes à corrosão, eles certamente irão se corroer
a capilaridade lateral pode removê-Ia, um lençol fre- se expostos à umidade e ao ar durante milhares de
ático s~spenso pode se dese,nvolver acima da inter- anos. Para evitar b gotejamento da' água, um dossel
face entre essas duas camadas. enorme fabricado com ligas metálicas especiais foi
Esse fenômeno é aplicado no projeto dos greens planejªdo para cobrir os resíduos altamente radioa-
dos camPOSde golfe (áreas gramadas-para jogadas tivos. Esta é uma abordagem extremamente difícile
de curta distância). O solo adequado para a zona cara, sem garantia de que a estrutura não vá se de~
de enraizamento dessas áreas é composto quase in- teriorar com o passar dos milênios. Portanto, uma
teiramente de areia, a fim de promover uma rápida alternativa muito mais fácil, me~os cara e mais ton-
infiltração de água e ter boa resistência à compac- fiável foi proposta: enterrar os/contentores de resí-
tação por pisoteamento. No entanto, a água nor- duos sob montes de cascalhq e, depois, de areia
I . .'
malmente drena/ tão r-ápido através
.
,.
da areia que pouco dela é retido para
atender às necessidades de cresci-
mento da grama. Até certo ponto,
esta situação pode ser remediada
se o greenfor construído colocando,
uma camada de cascalho debaixo da'
zona de enraizamento arenosa. No
cascalho, os poros grandes interrom-
pem temporariamente o movimento
descendente da água. O lençol freá-
tico suspenso resultante (Figura 5.19)
faz com que a camada de areia rete-
nha mais água do que normalmente
aconteceria, mas ainda permite a dre-
nagem rápida do excesso de água.
O mesmo princípio está no âmago
de-um projeto proposto para impedir
que resíduos nucleares contaminas-
sem as águas subterrâneas durante
os muitos milhares de anos necessá-
rios para que os radionuclídeos de- Figura 5.19 Umacamada d~ cascalho aumenta a água disponível
caiam a níveis inofensivos. Um dos
para as raízes da grama na zona de enraizamento arenosa, enquan-
planos é armazenar os resíduos alta- to permite drenagem rápida, !ieocorrer saturação. (Diagrama: cortesia
mente radioativos em contentores de R. Weíl). •.....•• •. '
hermetiêamej,te-vedad~s màntidós
em cavernas profundas da montanha (continua)
Capítulo 5 A Água do Solo: Característicase Comportamento 169
seca, umavez que, sob essas circunstâncias, elas não são capazes de explorar a água das cama-
das inferiores do solo. Esse princípio também permite que uma camada de cascalho funcione
como uma barreira capilar quando ~olocada sob a laje dos alicerces de construções com o in-
tuito de evitar a infiltração de água do solo através dos pisos de concreto dos porões das casas.
~.
í
170 Elementos da Natureza e Propriedades dos Solos
solo extremamente baixos. Por exemplo, à noite o horizonte superficial de um solo do deserto
pode esfriar o suficiente para causar o movimento ascendente de vapor emanado das camadas
mais profundas. Se esse vapor for suficienteme~te resfriado, ele poderá então se con4ensar na
forma de gotas de orvalho nos poros do solo, suprindo certas xerófttas de raízes rasas com a
água necessária à sua sobrevivência.
Capacidade de campo
Depois que a chuva ou a irrigação cessam, a água nos poros maiores do solo irá drenar para
baixo, muito rápido, em resposta ao gradiente hidráulic:o (principalmente a força da gravida-
de). De um a três dias depois, esse movimento rápido descendente diminuirá para valores in-
significantes, à medida que as forças matriciais passem a desempenhar um papel maior no mo-
vimento da água remanescente (Figura 5.22). Diz-se então que o solo está em sua capacidade
de campo. Nesta condição, a água saiu dos macropo{OS e o ar entrou tomando o seu lugar.
Os micro poros ou poros capilares ainda estão cheios de água e podem suprir as plantas com a
água necessária. O potencial matricial irá variar um pouco de solo para solo, mas geralmente
fica na faixa de-4 -10 a .-::30kJ.>a,pressllpondo d~enagem; para.._. uma zona menos
. -
úmida - de poro--
sidade similar. O movimento de água continuará a ocorrer por fluxo não ~aturado, mas a sua
taxa é muito lenta, uma vez que, nessas condições, esse fluxo se deve prinCipalmente às forças
capilares, as quais são eficazes apenas em microporos (figura 5.21). A água que se encontra
em poros suficientemente pequenos para retê-la contra a rápida drenagem gravitacional, mas
grandes o suficiente para permitir o fluxo capilar em resposta a gradientes de potencial matri-
cial, é por vezes denominada água capilar.
4 Note que, por causa da:s relàçóes pertinentes ao movimento da á~a em solos estratificados (Seçáo 5.6), o solo em
um vaso de flores irá parar de drenar, mesmo com um teor de água omito acima da capacidade de campo.
Capítulo 5 A Água do Solo: Características e Comportamento 111
Solo
saturado
>Ir= O kPa
Capacidade
de campo
1JI=-10kPa
-++-
CAD
Ponto de murcha
permanente
1JI= -1.500 kPa
IEjh
Coeficiente
higrostopico
1JI= -3.100kPa ~hl
h-- Sólidos ~ Espaço~'
poroso
•
o
Sólidos
Água
I
(
. , i
I •
Figur~ 5.21 Volumes C;leágua e ar associados com 100 g de sólidos de materiais representando um solo de t~xtura
franco-siltosa com agrE}gadosgranulares fortemente.desenvolvidos. A barra superior ilustra a situação quando o solo
está completamente saturado com água, o que ocorre, via de regra, por curtos intervalos de tempo quando a água
está sendo adicionada. A água logo irá drenar, deixando os poros maiores (macroporos). Diz-se então que o solo está
na capacidade de campo. As plantas irão remover a água do solo muito rapidamente, até que começam a murchar.
Quando ocorre o murchamento permanente das plantas, o teor de água do solo está no ponto de murcha permanen-
te. Ainda há bastante água no solo, mas ela está retida a tal ponto que impede sua absorção pelas raízes das plantas;
a água perdida entre a capacidade de campo e o ponto de murcha permanente é chamada de capacidade de água
disponível (CAD). l)ma redução mais pronunciada do conteúdo de água até atingir o coeficiente higroscópico é ilus-
trada na barra inferior; neste ponto a água é retida com grande intensidade, principalmente pelos c%ides do solo.
0,55
o
o
'"'"
.E
'1
g.
lU
5, 0,35
'lU
<I>
-u
•...
o Figura 5.22 O conteúdo de água de um solo
~ 0,25
Capacidade de campo diminui muito rapidamente por drenagem
após um período de saturação por chuva ou
irrigação. Depois de dóis ou três dias, a taxa de
O 2 3 4 drenagem de água do solo é muito lenta; diz-se
Dias depois de uma chuvã' então que ~olo está na capacidade de campo.
(Diagrama: cortesia de R. Weil)
I
I
172 Elementos da Natureza e Propriedades dos Solos
Não obstante o fato de toda a água do solo ser influenciada pela gravidade, a expressão água
gravitacional refere-se à porção da água que prontamente se move através do solo quando ele está
entre os estados de capacidade máxima de retenção',e capacidade de campo. A água gravit,acional
inclui grande parte da água que transporta produtos químicos - como Íons de nutriente~, pesti-
cidas e contaminantes orgânicos - para as águas subterrâneas e finalmente para os córregos e rios.
A capacidade de campo é 'um termo muito útil que se refere a um gráu aproximado de
umidade do solo no qual várias de suas propriedades estão em transição:
L
Capftulo 5 A Água do Solo: Caracterfsticas e Comportamento 173
60
Máximacapacidade de retenção
50
Água
*"
OI
gravitacional
E
:J
]. 40
t
~
~o RaPida-
mente t 1
.~
"OI
30
.
jdisponível
Zona de
dispo.n~bilidade
"
•• Água otlmla
"
'E dispojnível ~~~:r
:J 20
..o
OI
"
~
Lentamente
10 disponível
o
-1 I -.10 -100 -10.000 -100.000 -1.000.000
. (Alto)! -1.500 -3.100 (Baixo)
Potencial da .água do solo (kPa.escala log)
Figura 5.23 Curva do potencial matricial de retenção de água de um solo de textura franca e suas relações com di-
ferentes termos usados para descrever a água dos solos. No diagrama à direita, as barras cinzas indicam que medidas
como a capacidade de campo são apenas aproximadas. As mudanças graduais dos potenciais acontecem à medida que
os estados de umidade do solo mudam e vão contra os diferentes conceitos das "formas" de água dos solos. Contudo,
termos como "gravitacional" e "disponível" ajudam na descrição qualitativa das condições de umidade dos solos.
Coeficiente higroscópico
Embora as raízes das plantas geralmente não sequem o solo muito além do ponto de murcha per-
manente, se o solo for exposto ao ar, a água continuará sendo perdida por evaporação. Quando
a umidade do solo é reduzida abaixo do ponto de murchamento, as moléculas de água remanes-
centes estão muito firmemente retidas, sendo que a maiorià continua adsorvida nas,mperfícies das
partículaS êoloidais do solo. Esse estado se dá aproximadamente quando a atmosfera logo acima
de urna amostra de solo está bastante saturada com vapor de água (98% de umidade relativa) e o
equilíbrio é estabeiecido a um potencial hídrico < 3.100 kPa. Teoricamente, essa água encontra-se
n~ forma de películas de apenas 4 ou 5 moléculas de espessura e está tão firmemente retida que a
maior parte dela é considerada como Ifão estando na fase líquida, porque pode mover-se apenas
como vapor. Nesse momento, o teor de umidade do solo é denominado coe6cientcr higroscópico.
L
174 Elementos da Natureza e Propriedades dos Solos
r
i
40
*Ql
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32
1
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oIII
o
~ 16
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L
Capítulo 5 A Água do Solo: Características e Comportamento 175
I
o 1 2 345 6
Matéria orgânica dqsolo com base em peso (%)
7
I
i
res maiores que 2.000 kPa" um nível considerado limitante à penetração das raízes (Seção
4.7). Em segundo lugar, a compactação diminui a porosidade total, o que pode signifitar que
menos água vai ser, retida na capacidade de campo. Terceiro, a redução no tamanho e núme-
ro de macroporos, geralmente, significa menor porosidade de aeração quando o solo estiver
próximo da capacidade de campo. Quarto, o aumento da quantidade de microporos muito
pequenos aumentará o valor do ponto de murcha permanente e também diminuirá o teor de
água disp~nível. '
Intervalo hídrico ótimo Já definimos a água disponível às plantas como aquela retida com
potenciais matriciais entre a capacidade de campo (<10 a <30 kPa) e o ponto de murcha per-
manente(<1.500 kPa). Desta forma, a água disponível às plantas é aquela que não é retida tão
fortemente pelo solo de modo que não possa ser absorvida pelas raízes, mas que também não
está tão fracamente retida para que possa ser livremente drenada pela força da gravidade. Por-
tanto, o ~terva1o hídrico ótimo é a faixa de conteúdo "de água na qual as condições do solo
não restringem severamente o crescimento radicular. De acordo com o conceito do intervalo
hídrico ótimo, os solos estão demasiadamente úmidos para um crescimento radicular normal
qixando uma grande parte do seu espaço poroso está ocupado com água, restando menos de
10% preenchido com ar. Nesse conteúdo de água, a falta de oxigênio para respiração limita o
crescimento radicular. Em solos soltos e bem agregados, esse conteúdo de água corresponde
aproximadamente à capacidade de campo. Entretanto, em um solo compactado, com pou-
quíssimos macro poros, o suprimento de oxigênio pode se tornar limitante em baixos teores de
água (e potenciais) porque alguns poros menores carecem de ar.
O conceito de intervalo hídrico ótimo nos diz que os solos estão demasiadamente secos
para o crescimento radicular.normal-quando a resistência (medida como pressão necessária
para penetrar umíi haste pontiaguda no solo) excede 2.000 kPa. Esse nível de resistência do
solo ocorre êm tedres de umidade próximos ao ponto de murcha permanente em solos soltos e
bem agregados, mas pode ocorrer em teores de umidade consideravelmente maiores se o solo
estiver compactado (Figura 5.26). Em resumo, o conceito de intervalo hídrico ótimo sugere
que o crescimento radicular é limitado devido à falta de oxigênio na faixa muito úmida e à
176 Elementos da Natureza e Propriedades dos Solos r
~IHO de solo solto, bem-estruturado~
, .
••"'~ -*-IHO de solo compactad'o~ ~
",
D.!!! Solorntiito.
, ..
•....
~"
E'
.~~
~u E
u
seco e duro
, para as raízes
penetrarem ou
: obterem água
- . ...
, Ar ins_uficiente
para a
respira.ção
\ radicular
~.~
co,!::!
~ f! /
I-
F,gUra 5.26 A compactação reduz a faixaâe teores de aguado solo adeqi1<,jdbspara o crescimento das plantas (in-
tervalo hídrico ótimo, [IHa]). A direita: perto da parte mais úmida da escala do teor de umidade do solo (linha curva),
o crescimento da raiz é limitado pela falta de ar para a respiração radicufar. Quando o solo seca um pouco, os porós
maiores drenam e se enchem de ar. Nem a água nem o ar são então limitantes, e a taxa de crescifnento da raiz torna-
-se máxima. Com a secagem adicional, os baixos potenciais de água dificultam a extração de urr{idadepelas raízes, e
o 'solo aumenta sua resistência mecânica à penetração das raízes. O crescimento das raízes dimimuiaté que o,solo fica
tão seco que as raízes n,ão podem crescer de modo algum, A esquerda: a curva inferior (tracejé)da)representa a'taxa
reduzida de crescimento da raiz que prevaleceria se ó solo fosse compactado. Por a compactação comprimir os poros
maiores, é necessário'umpo~co menos de água do que na situação anterior para criar uma condição de limitação de
oxigênio, que reduziria o crescimento das raízes. Próximo da parte mais seca da escala, a maior resistência do solo
levaria à inibição do crescimento da raiz, mesmo sob um teor de umidade que ainda poderia permitir um considerável
crescimento em uni solo não compactado. (Dia,grama: cortesia de R. Weil, conceitos de Da Silva e Kay, 1997)
incapacidade física de as raízes penetrarem no solo na faixa muito seca. Por isso, os efeitos da
compactação sobre o crescimento da raiz são mais pronunciados em solos secos (Figura 5.27).
Potencial osmótico
A presença de sais solúveis, seja aplicado na forma de adubos minerais ou de compostos orgâ-
nicos, pode influenciar a abs~rção de água do solo pelas plantas, Par~ solos ricos nesses sais, o
potencial osmótico tende a reduzir o teor de água disponível; pois mais água é retida pelo solo
no ponto de murcha permanente do que ocorreria devido;apenas ao potencial matricial. Na
maioria dos solos de regiões úmidas, esses efeitos de potencial osmótico são insignificantes,
mas tornam-se consideravelmente importantes para cerrC?ssolos de regiões secas que podem
acumular sais solúveis por meio da irrigação ou de processos naturais,
1
Capítulo 5 A Água do Solo:Característicase Comportamento 177
OI 5 ..
.n
OI
'~ 4 ••...
TEOR DE ÁGUA
"'
tO
"O DO SOLO
S
c
E
'ü
2
"'
~.
u.
o
1,20 1,25. 1,30 1,35 1,40
Densidadeglobal,g cm-3
Figura 5.27 Crescimento das raízes de mudas de Pinus contorta, em resposta ao aumento da compactação efetu-
ada em tr~~ níveis de umidade do solo. A compactaç~o afetou o crescimento da~ r~ízes somente quando o teor de
umidad~ do solo estava baixo, provavelmente porque o crescimento das raízes foi limitado pela elevada resistência
do solo. As mudas de árvores foram cultivadas durante 12 semanas em vasos preenchidos com material de solo mine-
ral, coletado durante a colheita de árvores na Columbia Britânica, Canadá. O solo foi compactado em três níveis de
densidade global. A água foi adicionada na medida dq necessário para manter os teores de umidade à base do volu-
me de 0,10-0,15 (baixo), 0,20-0,30 (médio) e 0,30-0,35 (alto) cm3/cm3• (Fonte:Blouinet aI.[2004D '
I
/
Distribuição radicular
A distribuição das raízes no perfil do solo determina boa parte da habilidade da planta em
absorver água do solo. A maioria das plantas, tanto as anuais como as perenes, possuem a
maior parte de suas raízes nos 25 a 30 cm superiores do .perfil. Nas regiões de chuvas escassas,
para a maioria das plantas, as raízes exploram camadas do solo relativamente profundas, mas,
mais comumente, 95% de todo o sistema radícular está contido nos 2 m superiores dos solos.
Como a Figura 5.29 mostra, em regiões mais úmidas o eniaizamento tende a ser um pouco
mais raso. As plantas perenes, tanto as lenhosas como as herbáceas, produzem algumas'raízes
que crescem muito profundamente (>3 m) e são capazes de absorver uma parte considerável
de sua umidade a partir de camadas mais profundas dos solos. No entanto, mesmo nesses ca-
sos, é provável que grande parte da absorção pelas raízes se dê nas camadas mais superiores do
solo, desde que elas estejam bem abastecidas com água. Por outro lado, se as camadas superio-
res do solo são deficientes em umidade, mesmo as culturas anuais como o girassol, o milho e a
1,0
"'o
l~ o,~
OI
"O Figura 5.28 Produção relativa de grãos de milho e trigo em função
~ 0,6
'';::; da espessura de solo dispon.ível para o enraizamento. Todas as cultu-
.tO
~o ras foram plantadas em sistema de plantio direto nos solos Argiudol e
0,4
"u
Paleudol nos pampas do sudeste da Argentina. Esses solos retêm cer-
u-
::J ca de 1,5 mm de água disponível por cm de profundidade. O milho,
-g 0,2
que foi cultivado durante a estação quente e seca da primavera ao ou-
à::
tono, respondeu muito mais ao aumento de espessura do solo do que
0,0 o trigo de inverno, que cresceu durante o período mais frio do outono
à primavera, quando o consumo de água é baixo. Neste caso, a espes-
sLirado solo foi limitada por um horizonte petrocálcico (cimentado)
que impediu o crescimento das rãiZes. (AdaptadodeSadrase Calvino[2001D
r-I
178 Elementos da Natureza e Propriedades dos Solos i
•
Capacidade de água disponível de um perfil de solq
~'<O-_. ~ _
A quantidade total de água disponível para o crescimento das plantas no campo pode ser estimada em função
da profundidade do sistema r;:idiculare da quantidade de água retida entre a capacidade de cámpo e o ponto
de murcha permanente calculados para um dos horizontes do solo explorados' pelas raízes. Para cada horizonte,
a capacidade de água disponível (CAO)à base de massa é estimada pela diferença entre a massa do conteúdo
de água na capacidade de campo, 0mCC (9 de água por 100 g de solo na capacidade de campo) e a do ponto de
murcha permanénte, 6mpMp' Podemos converter este valor em um conteúdo volumétrico de água 0•• multiplican-
do-o 'pela razão I;!ntrea densidade aparente, Os,do solo e a densidade da água, Da' Finalmente, esta razão de
volume é multiplicada pela espessura do horizonte para fornecer a capacidade total de água disponível CAD em
centímétros, nesse horizonte: .
(5.7)
Paraco primeiro horizonte descritº na Iªbel,ª 5.5, podemossubstituir os valores (com unidades) na Equação 5.7:
Tabela 5.5 Cálculo da capacidade de água disponívél estimada para um perfil de solo
Ponto de
Densidade Capacidade murcha
Comprimento Incremento da aparente de campo permanente
Profundidade radicular profundidade do solo, (CC), (PMP), Capacidade de água
do solo relativo do solo, cm g/cm' g/100 9 g/100 9 disponível (CAD)
----- - ..--._------------ ._._---- .-.- ." -----_.-
0-20 xxxxxxxxx 20 1,2 22 8 20 * 1,2e2100 - 100
8) = 3,36 cm
I
i
1"
,I
\
I
1
Capítulo 5 A Água do Solo: Características e Comportamento 179
250
-Aretosa
I I I I I
-
soja irão absorver a maior parte da sua água dos horizontes inferiores, desde que as condições
físicas ou químicas adversas não inibam a exploração desses horizontes pelas raízes.
I
I
5.10 CONCLUSÃO {
A água causa impactos/em todas as formas de vida. As interações e movimentos desse simpl~s
composto através dos ~olos ajudam a determinar se esses impactos são positivos ou negativos.
A compreensão dos princípios que governam a atração da água para os sólidos do solo e íons
dissolvidos pode ajudar a maximizar os impactos positivos e, ao mesmo tempo, minimizar os
menos desejáveis.
,. A molécula de água tem uma estrutura:polar que resulta na atração eletrostática da água
para os cátions solúveis e para os sólidos do solo. Essas forças atrativas tendem a reduzir o nível
de energia potenc:ial da água do solo abaixo do da água pura e livre. A extensão dessa redu-
ção, chamada de potencial da água do solo, r/J, tem uma influência profunda sobre diversas
propriedades do solo, mas especialmente sobre o movimento da água do solo e sua absorção
pelas plantas.
Devido à atração entre os sólidos do solo e a água (o potencial matricial, r/Jm)' o potencial
hídrico combina-se com o gravitacional, I/1g, controlando, assim, grande parte do movimento
da água. Esse movimento é relativamente rápido em solos com elevado teor de uplidade e com
abundância de macroporos; no entanto, em solos mais secos, a adsorção de água nos sólidos
do solo é 'tão forte que o seu movimento e sua absorção pelas plantas são grandemente reduzi-
dos. Como .consequência - embora ainda exista uma quantidade significativa de água no solo
--'-,as plantas podem morrer por falta de água, porque ela não está disponível para elas.
. A água é fornecida às plantas pelo movimento capilar em direção às superfícies radiculares
e pelo crescimento das raízes, que se dirigem para locais de solo úmido. Alé~ disso, o movi-
mento de vapor pode ser importante no fornecimento de água às plantas do d~serto resistentes
à seca (xerófitas). O potencial osmótico, 1/10' torna-se importan~e em solos com altos níveis de
sais solúveis que podem impedir a absorção de água do solo pelas platitas. Essas condições
ocorrem mais frequentemente em solos com drenagem restrita, em áreas de baixa pluviosidade
e em plantas cultivadas em vasos dentro de casas de vegetação.
_As características e o co~portamento da água do solo são muito complexos. Porém, à
medida que\adquirimos mais conhecimento, torna-se evidente que a água do solo é regida por
princípios físicos básicos, relativamente simples. Além disso, os pesquisadores estão descobrin-
do a semelhança entre esses princípios e os que regem o movimento de águas subterrâneas e a
absorção e utilização da umidade do solo pelas- plantas - assunto do próximo .capítulo .
••.....
180 Elementos da Natureza e Propriedades dos Solos
l
Capítulo 5 A Água do Solo: Características e Comportamento 181
cm-3). Mostre um cálculo completo (com todas 12. Preencha as células cinza desta tabela para mostrar
as unidades) demonstrando que ~ na figura indica os cm da capacidade de água disponível nos 90 cm
corretamente 8 v '" 0,36 para o solo franco-arenoso de perfll,. Mostre cálculos completos para a primei-
severamente compactado (densidade aparente = ra (superior esquerda) e a última (inferior direita)
1,10 g/cm
3
).
célula cinza: .
Ponto de murcha
Capacidade de campo permanente Água disponível
-
Profundidade Densidade do
do solo, tm D. (g em -3)
5010_. em' O/o' 0d' cm
b
• 8 é o teor de umidade em massa a-quiindicado como porcentagem (%), equivalente à g de água/100 g solo seco.
m
b8 é o teor de umidade em profundidade e é indicado como cm de água retida na camada de solo referida. ,
d
I
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