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Sebenta de Ótica Capítulo 3

Lentes Esféricas

3.

3.1 Lentes esféricas

Lente esférica é um meio material transparente limitado por duas superfícies esféricas, ou por
uma superfície esférica e uma superfície plana. Uma lente esférica é uma associação de dois
dioptros esféricos, ou de um dioptro esférico e um plano.
A luz ao encontrar a primeira superfície da lente sofre uma refracção, e este raio refractado ao
incidir na segunda superfície toma uma nova direcção, refractando-se novamente.

Na figura 3.1 está representada a construção geométrica da imagem de um objecto rectilíneo


PQ.
1 2
nA
N1 nA nB
N2

nA

Fig. 3.1 Construção da imagem P’Q’ de um objecto linear PQ, dada por uma lente esférica.

A superfície 1 da lente corresponde a um dioptro esférico que separa o meio A do meio B (por
exemplo o ar do vidro); a superfície 2 da lente corresponde ao dioptro que separa o meio B do
meio A (vidro/ar).
O centro de curvatura da superfície 1, C1, encontra-se à direita da lente; o centro de curvatura
do segundo dioptro, C2, encontra-se à esquerda da lente. A linha a tracejado N1, corresponde à
normal à superfície 1 no ponto de incidência do raio paralelo ao eixo óptico – esta linha passa
pelo ponto de incidência e pelo centro de curvatura C1; a linha N2, corresponde à normal à
superfície 2 no ponto de incidência – esta linha passa pelo ponto de incidência na superfície 2
e pelo centro de curvatura C2.
Observando a figura 3.1, verifica-se que os dois raios luminosos provenientes do ponto P,
incidentes nos pontos I1 e I2, são refractados na primeira face da lente. Se não existisse a
segunda face da lente, estes dois raios formariam uma imagem no ponto P’’ (ponto P mais à
direita da fig.3.1) - imagem de P. Numa associação de componentes ópticas, neste caso de dois

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dioptros, a imagem P’’ dada pelo primeiro dioptro (face 1 da lente) funciona como objecto
(virtual) para a segunda superfície da lente (dioptro vidro-ar).

No entanto, os dois raios refractados, no seu percurso para o exterior da lente, encontram a
segunda face desta, refractando-se de novo, convergindo num ponto P’, que é a imagem de
P’’, dada por esta segunda superfície da lente; o traçado deste raio é feito à custa da normal à
superfície 2 no ponto de incidência – na passagem para o exterior os raios afastam-se da
normal uma vez que são refractados para um meio menos refringente (menos denso). A
imagem dada pela lente do ponto objecto P é o ponto imagem P’; neste caso trata-se de uma
imagem real uma vez que resulta da intersecção directa dos raios refractados.
É deste modo possível analisar o trajecto de raios luminosos ao atravessarem uma lente
esférica.

3.1.1 Tipos de lentes esféricas


Lente convergente ou positiva é a lente que faz com que os raios luminosos paralelos nela
incidentes, convirjam num ponto que lhe é exterior, depois de efectuarem o percurso no
interior da lente.

Lente divergente ou negativa é a lente que faz com que os raios luminosos paralelos nela
incidentes formem um feixe divergente, ao emergirem da sua segunda superfície.

Na figura 3.2 estão representados os principais tipos de lente (observadas de perfil):

Fig. 3.2 Tipos de Lente

As duas lentes mais à esquerda são lentes convergentes. São lentes menos espessas nos
bordos do que no centro, como se vê na figura 3.2 As duas mais à direita são lentes
divergentes, sendo mais espessas nos bordos do que no centro.

As lentes figura 3.2 designam-se por:

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3.1.2 Espessura e Centro Óptico de uma lente. Objecto real e objecto virtual

Espessura de uma lente, é a distância que separa as suas duas superfícies, medida ao longo do
eixo da lente.
Centro de curvatura da face de uma lente é o centro da esfera a que a face da lente pertence.
Raio de curvatura da face de uma lente é o raio da esfera a que a face pertence.

Centro Óptico é um ponto no interior da lente, localizado sobre o seu eixo, que possui a
propriedade de deslocar lateralmente o raio incidente que dê origem a um raio refractado que
por ele passe (figura 3.3).

Fig. 3.3 Centro Óptico e Espessura de uma lente

Objecto real da superfície óptica de uma lente é o corpo real que envia na direcção da lente
um feixe de luz divergente ou de luz paralela.
Objecto virtual da superfície óptica posterior de uma lente é a imagem formada pela
superfície óptica anterior dessa lente, sendo definida pela intersecção dos prolongamentos
dos raios refractados por esta superfície da lente.

3.1.3 Lentes Finas. Equação de Gauss

Lentes finas são lentes cuja espessura é pequena em comparação com os raios de curvatura
das suas faces. Para estas lentes, pode-se considerar que os pontos V1 e V2, representados nas
figuras 3.1 e 3.3, são coincidentes.

A questão agora é tentar saber como se relacionarão as distâncias das superfícies de uma
lente, a um ponto objecto e à sua imagem, quando a espessura da lente é muito pequena em
relação aos raios de curvatura (lente fina). Sendo os pontos V1 e V2 coincidentes, as distâncias -
s e s’ são medidas a partir do mesmo ponto.
A resposta à questão formulada, obtém-se à custa da equação de Gauss para o dioptro
esférico aplicada às duas superfícies da lente. Da figura 3.1, vê-se que a imagem do objecto QP
dada pelo primeiro dioptro é Q’’P’’, pois P’’ é o ponto de intersecção dos raios de luz

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refractados pela primeira superfície. Esta imagem do dioptro 1 corresponde ao objecto virtual
para o segundo dioptro.
A imagem deste objecto virtual P’’, dada pela segunda superfície, é o ponto P’. Por ser o
vértice do feixe que emerge deste dioptro, este ponto P’ é também o ponto de convergência
dos raios que incidiram na lente, sendo por isso a imagem “final” do ponto P.

Aplicando a lei de Gauss à primeira superfície da lente da figura 3.1 obtém-se,

nB nA nB − nA
− = (3.1)
s'1 s1 r1

em que -s1 e s’1 são respectivamente as distâncias da primeira superfície da lente ao ponto
objecto P (abcissa do objecto P) e da primeira superfície à imagem P’’ (abcissa da imagem P’’);
n2 e n1 são os índices de refracção da lente e do meio transparente em que a lente está
colocada, respectivamente; r1 é o raio de curvatura do primeiro dioptro (1ª superfície da
lente).
Para a segunda superfície tem-se,
nA nB nA − nB
− = , (3.2)
s'2 s2 r2

em que s2 é a distância à segunda superfície da imagem dada pela primeira superfície, s’2 é a
distância à segunda superfície da imagem dada pela lente e r2 é o raio de curvatura da segunda
superfície.
Sendo a espessura (e) da lente desprezável, e sendo s'1 = s2 + e , (ver figura 3.1), então a
distância s2 será igual a s’1 para uma lente fina.
Somando membro a membro as equações (3.1) e (3.2), e tomando em consideração que
s2 = s'1 , é possível escrever após algumas simplificações:
nA nA 1 1
− + = (nB − nA )  −  (3.3)
s1 s'2  r1 r2 
A distância do ponto objecto ao primeiro dioptro corresponde à distância do objecto à lente
( s1 = s ); a distância do segundo dioptro à imagem dada pela lente corresponde à distância da
imagem à lente ( s'2 = s' ). É possível então escrever,

nA nA 1 1
− + = (nB − nA )  −  (3.4)
s s'  r1 r2 

que relaciona as posições dos pontos objecto e imagem de uma lente fina. Estes pontos
chamam-se pontos conjugados da lente.

No caso de a lente estar no ar, nA = 1; considerando n o índice de refracção do material da


lente, a equação (3.4) toma a forma:

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1 1 1 1
− + = (n − 1)  −  (3.5)
s s'  r1 r2 

A equação 3.5 corresponde à equação de Gauss para uma lente fina colocada no ar.

3.2 Distâncias focais de uma lente

As distâncias focais posterior (f’) e anterior (f) de uma lente fina, obtêm-se a partir da equação
(3.5), utilizando a definição de foco. Foco posterior F’, corresponde ao ponto de convergência
dos raios emergentes de uma lente (ou dos seus prolongamentos), correspondentes a raios
incidentes paralelos ao eixo óptico, provenientes pelo espaço objecto; foco anterior F
corresponde ao ponto de convergência dos raios refractados pela lente (ou dos seus
prolongamentos), resultantes dos raios incidentes provenientes do infinito pelo espaço
imagem.
Fazendo na equação (3.5) s = −∞ e s' = f ' , então,
1 1 1
= ( n − 1)  −  (3.6)
f'  r1 r2 

Fazendo s' = +∞ , obtém-se s = f , sendo,

1 1 1
= (1 − n) −  (3.7)
f  r1 r2 

Comparando (3.6) e (3.7) conclui-se que


f = −f′

Os focos F e F’ encontram-se à mesma distância da lente, mas em lados opostos.

Através das equações (3.6) e (3.7) é possível determinar as distâncias focais de uma lente fina,
a partir do índice de refracção n do seu material e dos raios de curvatura das duas faces da
lente.

n
A grandeza potência de uma lente P corresponde à razão em que n corresponde ao índice
f′
de refracção do meio em que se encontra a lente. Para uma lente colocada no ar
1
P=
f'

A potência de uma lente é definida em dioptrias (di), devendo para o efeito a distância f´estar
em metros.

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3.3 Pontos característicos de um sistema óptico simples: a lente esférica

De entre todos os pontos característicos do espaço objecto, há alguns que estão infinitamente
afastados. Cada ponto infinitamente afastado pertence a um feixe de raios paralelos (rectas
paralelas intersectam-se num ponto do infinito).

Os pontos infinitamente afastados formam um plano infinitamente afastado. Consideremos


neste plano um ponto pertencente ao eixo. Deste ponto, parte um feixe de raios paralelos ao
eixo óptico que incide na superfície esférica de uma lente, ou de um sistema óptico.
A lente (sistema óptico) determina no espaço imagem um ponto que corresponde ao ponto
axial infinitamente afastado do espaço objecto. Este ponto chama-se foco posterior da lente,
representando-se por F’ (ver figura 3.4).

O plano que passa pelo foco posterior da lente e é perpendicular ao eixo óptico, chama-se
plano focal posterior da lente ou do sistema ótico (ver figura 3.4).

Na figura 3.1 está representada a acção da face 1 e da face 2 de uma lente, sobre dois raios de
luz. A face 1 desvia os raios de luz para o eixo da lente e a face 2 aumenta ainda mais esse
desvio. Se um dos raios incidentes fosse paralelo ao eixo óptico, seria desviado na primeira
superfície e de novo na segunda, tomando a direcção do foco posterior, como já explicado
anteriormente.

Ora a acção das duas superfícies refringentes da lente pode ser substituída pela acção de um
plano imaginário perpendicular ao eixo óptico da lente. Este plano denomina-se plano
principal posterior da lente (sistema óptico); o ponto H’ de intersecção com o eixo óptico,
chama-se ponto principal posterior da lente (sistema óptico) (ver figura 3.4).
A posição do plano principal posterior define-se pelo ponto de intersecção do prolongamento
do raio incidente paralelo ao eixo óptico com o prolongamento do mesmo raio, depois de
atravessar a lente (ou sistema óptico) e que forma, ao intersectar o eixo óptico, o foco
posterior F’.

Fig. 3.4 - Pontos principais, focos e distâncias focais

A distância f’ entre o plano principal posterior e o foco posterior F’, chama-se distância focal
posterior da lente (sistema óptico), enquanto que a distância s’F, entre o vértice da segunda
superfície e o foco posterior F’, se denomina segmento focal posterior.
Estas definições podem ser dadas para raios vindos do espaço imagem (trajecto inverso dos
raios) que passam pela lente (sistema óptico), isto é, da direita para a esquerda (figura 3.4).

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O ponto F que neste caso se obtém, é o foco anterior da lente (sistema óptico) pertencente ao
espaço objecto. A ele corresponde um ponto infinitamente afastado no espaço imagem.

O plano que passa pelo foco anterior e é perpendicular ao eixo óptico, denomina-se plano
focal anterior.

O plano imaginário que substitui a acção das superfícies da lente (sistema óptico) designa-se
plano principal anterior da lente, enquanto o ponto H de intersecção deste plano com o eixo
óptico, se designa por ponto principal anterior. A posição do plano principal anterior define-se
pela intersecção do prolongamento do raio paralelo ao eixo óptico durante o trajecto inverso
(da direita para a esquerda) com o prolongamento do mesmo raio depois de atravessar a
lente, e que forma ao intersectar o eixo óptico, o foco anterior (veja-se a figura 3.4). A
distância f entre o plano principal e o foco anterior F é a distância focal anterior da lente ou
sistema óptico.

A distância sF, entre o vértice da primeira superfície refringente e o foco anterior F denomina-
se segmento focal anterior da lente ou sistema óptico.

As definições anteriores e a figura 3.4 permitem chegar à conclusão de que a ampliação linear
y′
β= , nos planos principais é igual a +1 e, neste caso, isto significa que o ponto principal
y
posterior H’ é a imagem do ponto principal anterior H.

O sinal da distância focal f’ de uma lente permite concluir, se a lente é positiva ou convergente,
quando o sinal é “mais”, ou se a lente é negativa ou divergente, quando o sinal é “menos”.

3.4 Fórmulas das lentes delgadas ou finas


1 1 1
 Distância focal posterior = (n − 1)  − 
f'  r1 r2 

1 1 1
 Distância focal anterior = (1 − n)  − 
f  r1 r2 

f'
 Razão entre as distâncias focais = −1
f

 Segmento focal posterior s' f = f '

 Segmento focal anterior sf = − f

 Distância do plano principal posterior à face posterior s'H = 0

 Distância do plano principal anterior à face anterior sH = 0

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 Distância entre os planos principais ∆H = 0

Fig. 3.5 - Segmentos de uma lente.

3.5 Propriedades das lentes delgadas perfeitas


Lentes perfeitas são lentes que reproduzem cada ponto do objecto como um ponto imagem e
que conservam a ampliação pré-fixada para a imagem.
Na realidade, não se pode considerar que as lentes reais, ao formarem uma imagem de
tamanho finito, assegurem que esta seja totalmente nítida e que corresponda completamente
ao objecto.
Para a sua correcção, emprega-se um sistema óptico com dimensões exteriores e distâncias
focais que possam ser determinadas de acordo com os conceitos da região paraxial.
Aplicando estes conceitos aos feixes de raios, obteremos uma lente que satisfaça os requisitos
exigidos a um sistema óptico perfeito.

Para isso é necessário que se verifiquem as seguintes condições:


1. A cada ponto do espaço objecto deverá corresponder um ponto do espaço imagem.
2. A cada recta do espaço objecto deverá corresponder uma recta do espaço imagem.
3. A cada ponto da recta do espaço objecto deve corresponder um ponto da mesma recta
do espaço imagem.

Estes pontos, rectas e raios que se encontram em espaços diferentes e se correspondem uns
aos outros, dizem-se conjugados.

3.6 Equação de Newton, equação dos focos conjugados e fórmula dos segmentos
Para obter expressões matemáticas que permitam o cálculo das posições das imagens de
pontos que se encontram fora do eixo óptico, consideremos a figura 3.6.

Fig. 3.6 - Dedução da equação de Newton.

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Esta figura mostra a construção da imagem A’B’ de um objecto AB, formada por um sistema
óptico determinado pelos seus planos principais. O objecto l, perpendicular ao eixo óptico tem
por base o ponto A. A imagem do ponto B que é a extremidade do objecto l, (ponto B’) obtém-
se no ponto de intersecção dos raios no espaço imagem, conjugados dos raios que passam
pelo ponto B do espaço objecto.
O primeiro raio do espaço objecto é paralelo ao eixo óptico; no plano principal posterior, no
ponto M’, muda de direcção, e no espaço imagem, o raio conjugado dele passa pelo foco
posterior F’.

O segundo raio do espaço objecto que parte do ponto B e passa pelo foco anterior F, muda de
direcção no ponto N, e no espaço imagem, será conjugado com ele o raio paralelo ao eixo
óptico. Desta forma, se define o ponto B’, imagem de B.

Esta construção satisfaz as condições anteriormente definidas.

Para a lente perfeita é exacto afirmar que, se o objecto colocado na zona paraxial é
perpendicular ao eixo óptico, a sua imagem também será perpendicular a este. Desta maneira,
o segmento -l’ = B’A’, e o ponto A’ é a imagem de A.
A posição de A em relação ao foco anterior define-se pelo segmento x, enquanto que a posição
do ponto A’ relativamente ao foco posterior, pelo segmento x’.

Dos dois triângulos semelhantes  ABF e  FHN, vem que


−l' − f
= (3.8)
l −x

e dos triângulos semelhantes  M’H’F’ e  F’A’B’, vem que,

−l' x'
= (3.9)
l f'

Comparando as equações (3.8) e (3.9), vem que


f x'
=
x f'
ou
xx' = f f ' (3.10)

que se designa de equação de Newton.


Se o sistema óptico se encontra num meio homogéneo, f = − f ' , e a equação de Newton
escreve-se,
xx' = − f ' 2 (3.11)

As distâncias focais de um sistema óptico perfeito, as posições dos pontos principais e a


distância entre os planos principais são as mesmas que na zona paraxial para uma lente
(sistema óptico) real.

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As posições dos pontos A e A’ relativamente aos planos principais definem-se pelos segmentos
s e s’, respectivamente. Então, da figura 3.6
x= s − f
e
x' = s' − f ' .
Substituindo estas igualdades na equação de Newton obtém-se uma expressão que determina
a posição dos pontos conjugados do eixo óptico,
( s − f )( s' − f ') = f f ' ,
ou
f' f
+ =1 (3.12)
s' s
que se designa por equação dos focos conjugados.

Dado f = − f ' , esta equação toma a forma

1 1 1
− + = (3.13)
s s' f '

Esta equação é designada por equação dos segmentos.

Cada uma das equações (3.10) - (3.13) permite definir a posição da imagem de um ponto axial.
A introdução da amplificação linear permite determinar a posição da imagem de um ponto
qualquer do objecto.
Esta posição é dada pela fórmula
l' f x'
β= =− =− (3.14)
l x f'
em que β é a ampliação transversal da lente .

Substituindo na equação (3.14) x e x’, respetivamente por x= s − f e x' = s' − f ' obtém-se
para uma lente num meio homogéneo,
1− β
s= f' e s' = (1 − β ) f '
β
Das duas expressões anteriores é possível escrever

s' l'
=β = (3.15)
s l

As letras l e l´ representam a altura do objecto e imagem, respectivamente. Habitualmente


utilizam-se as letras y e y’, para representar as dimensões de objecto e imagem, pelo que é
possível escrever da eq. (3.15):
y' s'
= (3.16)
y s

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Para uma dada amplificação β e para uma dada lente de distância focal f’, é possível
determinar a que distância da lente se deve colocar o objecto e onde se forma a imagem para
se obter a ampliação desejada.

3.7 Construção geométrica de imagens dadas por lentes finas


O desvio produzido num feixe de raios luminosos por uma lente é representado
esquematicamente pelos planos principais e pelos focos da lente, como se mostrou
anteriormente na figura 3.4.

Para uma lente fina, a distância entre os planos principais ∆ H = 0 ∆H = 0, isto é, os dois planos
principais estão sobrepostos num único. Então, uma lente fina é representada
esquematicamente por um segmento perpendicular ao eixo óptico da lente. Se a lente fina for
positiva ou convergente, é representada com uma seta para fora em cada extremidade; se a
lente fina for negativa ou divergente, é representada por uma seta para dentro em cada
extremidade, como também se representa na figura 3.7.

Fig. 3.7 - Representação esquemática de uma lente fina a) convergente b) divergente.

Focos de uma lente fina


Como já foi referido anteriormente, as distâncias focais de uma lente fina são dadas pelas
equações (3.6) e (3.7). Os focos definem-se graficamente, pelo ponto de intersecção dos raios
emergentes da lente, correspondentes a raios incidentes paralelos ao eixo óptico, como se
representa na figura 3.8, para lentes convergentes e divergentes.

Fig. 3.8 - Foco posterior F’ de uma lente

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3.8.1 Lentes finas


Método gráfico
A posição e o tamanho da imagem de um objecto, formada por uma lente delgada, podem ser
determinados por um método gráfico simples, que consiste em encontrar o ponto de
intersecção, depois de passarem pela lente, de alguns raios que divergem de um ponto objecto
situado fora do eixo óptico da lente. Então, considerando a lente como um sistema óptico
perfeito, todos os raios que partam desse ponto e que passem através da lente intersectam-se
num ponto comum. Quando se usa o método gráfico, supõe-se que o desvio total de qualquer
raio ocorre num plano que passa pelo centro da lente. As figuras seguintes ilustram o percurso
de três tipos de raios, para uma lente convergente e para uma lente divergente.

1. Um raio que incida paralelamente ao eixo da lente, depois de ser refractado pela lente,
passa pelo foco posterior.

Fig. 3.9 O raio emergente da lente (ou o seu prolongamento) passa pelo foco F’

2. Um raio que incida passando pelo centro óptico (O) da lente fina não é desviado.

Fig. 3.10 O raio emergente da lente não sofre alteração na sua direcção

3. Um raio incidente (ou o seu prolongamento) que passa pelo foco anterior depois de
refractado pela lente, emerge paralelamente ao seu eixo.

Fig. 3.11 O raio emerge da lente segundo uma direcção paralela ao eixo da lente

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São apresentados a seguir alguns exemplos de construções geométricas de imagens em lentes.

Lente fina convergente

1º caso - Objecto colocado para além da dupla distância focal (2f)


Como ilustrado na figura 3.12, o raio, proveniente de A, que incide paralelamente ao eixo,
emerge da lente passando pelo foco posterior. O segundo raio que passa pelo foco anterior
emerge da lente, paralelamente ao eixo. A intersecção dos dois raios emergentes da lente
forma a imagem A’ do ponto A’. Como a lente é considerada um sistema óptico perfeito,
qualquer outro raio que parta de A passará por A’. A imagem é real, invertida e menor que o
objecto.

Fig. 3.12 - Imagem de um objecto colocado para além da dupla distância focal.

A imagem que se obtém numa máquina fotográfica tem exactamente estas características. O
sistema de lentes nela incorporado, tem um comportamento convergente, pelo que o objecto
a fotografar situa-se habitualmente para lá da dupla distância focal – a imagem que se forma
sobre o filme (real) é invertida e de dimensões reduzidas.

2º caso - Objecto colocado à dupla distância focal


Na figura 3.13 considerando um raio paralelo ao eixo e o raio passando pelo foco, obtém-se a
imagem A’B’, que é real, invertida e de tamanho igual ao objecto. Esta situação representa
por exemplo o funcionamento de uma máquina fotocopiadora, cujo propósito mais comum, é
o de reproduzir uma imagem de tamanho igual ao original.

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Fig. 3.13 - Imagem de um objecto colocado à dupla distância focal.

Na captação de imagens de objectos muito pequenos (macrofotografia), pretende-se


habitualmente que a imagem capturada sobre o filme tenha as mesmas dimensões do objecto
(1:1) pelo que é à dupla distância focal que o objecto se deve encontrar.

3º caso - Objecto colocado entre a dupla distância focal e o foco anterior


Como se mostra na figura 3.14, um raio incidente paralelo ao eixo óptico, emerge da lente na
direcção do foco posterior; um raio que incide na direcção do foco anterior emerge da lente
paralelamente ao eixo óptico. A intersecção destes dois raios emergentes define o ponto
imagem A’ do ponto A. A imagem é real, invertida em relação ao objecto e maior do que este.

Fig. 3.14 - Imagem de um objecto colocado entre a dupla distância focal e o foco.

Esta montagem é a utilizada no projector de diapositivos, cujo objectivo é o de definir uma


imagem num alvo (tela, parede,…), ou seja, uma imagem real e ampliada.

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4º caso - Objecto colocado no plano focal (foco F)


Como se representa na figura 3.15, um raio paralelo ao eixo óptico emerge da lente pelo foco
posterior e um raio que passa pelo centro óptico não se desvia. Então os dois raios emergentes
da lente são paralelos formando a imagem do objecto no infinito.

Fig. 3.15 - Imagem de um objecto colocado no foco de uma lente positiva

Nos faróis dos veículos a lâmpada é colocada na posição do foco anterior F da lente
convergente, de forma à luz ser perceptível a grandes distâncias.

5º caso - O objecto está colocado entre o plano focal e a lente


Na figura 3.16, um raio paralelo ao eixo óptico da lente emerge pelo foco e um raio que passa
pelo centro óptico não se desvia. Estes raios emergentes não se encontram no espaço
imagem. Os seus prolongamentos intersectam-se no ponto imagem A’ do ponto A. A imagem é
então virtual, direita e maior que o objecto.

Fig. 3.16 - Imagem de um objecto colocado entre o plano focal e a lente.

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Esta situação ilustra o funcionamento da lupa, cujo objectivo é o de obter uma imagem
ampliada e do lado do objecto (imagem virtual).

4.8.2 Lente fina divergente


Método gráfico
Caso único
A lente divergente ou negativa dá sempre de um objecto real uma imagem virtual e menor
que o objecto. Como representado esquematicamente na figura 3.17, um raio que incida
paralelamente ao eixo óptico da lente, emerge pelo foco posterior, pelo que se afasta do eixo,
uma vez que o foco posterior está situado no espaço objecto. Um raio que passa pelo centro
óptico não sofre desvio. A intersecção dos raios emergentes dá-se no espaço objecto. Então a
imagem é virtual, direita em relação ao objecto e menor do que ele.

Fig. 3.17 - Imagem de um objecto colocado entre o foco e a lente divergente

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