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Capitalismo em Crise, Política


Social e Direitos é uma obra
fundamental na atualidade para Capitalis
Capitalismo
mo em crise,
todas as pessoas que lutam pela
política social e direitos
emancipação política, tendo
como horizonte a emancipação
humana nesses tempos de
barbárie. A abordagem teórica da
temática realizada pelos autores
é importante para analisar a atual
crise estrutural do capital, seus
impactos no Brasil, na Política
Social e na garantia de direitos,
pois refuta as teorias que não
levam em consideração a luta
de classes como motor da
história, colocando-se na
contramão das tendências
acadêmicas predominantes.
0 livro está apresentado em duas
partes. A prime ira parte procura
compreender a crise atual e
desmistif icar as análises
análises que
fazem referências ao Bras il de
forma idealista, como se a crise
não tivesse repercussã o no país.
país.
Ressalta-see como impo rtante
Ressalta-s
a ênfase nas lut as sociais, isto é,
Capitalismo em Crise, Política
Social e Direitos é uma obra
fundamental na atualidade para Capitalis
Capitalismo
mo em crise,
todas as pessoas que lutam pela
política social e direitos
emancipação política, tendo
como horizonte a emancipação
humana nesses tempos de
barbárie. A abordagem teórica da
temática realizada pelos autores
é importante para analisar a atual
crise estrutural do capital, seus
impactos no Brasil, na Política
Social e na garantia de direitos,
pois refuta as teorias que não
levam em consideração a luta
de classes como motor da
história, colocando-se na
contramão das tendências
acadêmicas predominantes.
0 livro está apresentado em duas
partes. A prime ira parte procura
compreender a crise atual e
desmistif icar as análises
análises que
fazem referências ao Bras il de
forma idealista, como se a crise
não tivesse repercussã o no país.
país.
Ressalta-see como impo rtante
Ressalta-s
a ênfase nas lut as sociais, isto é,
Conselho Editorial da
Ivanete Boschetti« Elaine Rossetti Behring
área de Serviço Social
Silvana Mara de Morais dos Santos • Regina
Regina Célia
Céli a Tamaso
Tamaso Mioto
 Ade mi r Alves da Silva
Dilséa Adeodata Bonetti
(Orgs.)
Elaine Rossetti Behring
Maria Lúcia Carvalho da Silva
Maria Lúcia Silva Barroco

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


Capi
Capitatalilism
smo
o em crise,
política
política soci
social
al e direitos
direitos
(Câmara Brasileira do Livro , SP,
SP, Brasil)

Capit alism o cm crise, polític a social c direitos- Ivanete


Boschctli. |ct al.| (ofgs,), São Paulo : C" orto /, 2010,
2010,

Outras organizad oras: Elaine Rossetti Behring, Silvana Mara


dc Morais dos Santos, Regina
Regina Célia Tamaso
Tamaso Mio to
Vários autores.
 Apoi o: C AVES/ 
C  AVES/  1'KOC
 1'KOC AD, UnB.
UnB. LI; KJ,
KJ, LI KV LH SC .
ISBN"
ISBN" 978-85-249-166'M

l.  Capitalismo 2.  Desigualdade social  3. Dinritos  sociais


4. Politica social 5. TYabalho
TYabalho e classes
classes trabal hadora s I lioscl ietti ,
Ivanete. II. Behring, Elaine Rossetti. Ill Santos, Silvano Mara
de Mor ais dm . IV. Miot o. Regina C ólia Tatnaso.
Tatnaso.  Apo io
CAPES/PROCAD
10-12(101 CDP-361 25

índices para catálogo sistemático:

v?')  ojrov BB
1. Capita lismo e política social
social 361.23
361.23
2. Politica social e capitalism o 361.23
361.23

/aC ORT €Z
©ÉSfSSS 5

CAPITALISMO KM CRISE, POLÍTICA SOCIAL E DIREITOS


tv.mck> lioschetti • Elaine Rossetti lkhring • Silvana Mara de Morais d05 Santos • Regina Cilia
Tamaso Mioto (Orgs.)

Cirpi: aeroestúdio
Rcoixio: Ana Paula Lucrisano
Linea Editora Ltda.
Liii"uV'!.iy!Ín rt/ííer/r t/: Danilo A. Q. Morales
Sumário

 Apr ese nta ção 7

PARTE I
Crise do capital, politica social e lutas sociais n

1. Crise do capital , fundo publico e valor


Elaine Rossetti Behriitg  13

2. Crise do capital e o socorro do fundo público


Evilásio Salvador  35
Xenluima parle desta obra pode st>r ivpnxhizida ou duplicada sem autorização expressa dos
autores o do editor 3. 0s custos da crise para a politica social
tvanele Boschetti  64
•: 2010 by Organizadores
4. 0 persistente estado de crise: nexos entre Estado, política
Direitos para esta edição social e cidadania no Brasil
CORTEZ EDITORA  Álvaro André Amorim 86
Rua Mont e Alegre, 1074 Perdizes
05014-001 - Sào Paulo SP 5. Política social: universalidade versus focalização. Um olhar sobre a
Te! 111)38640111 Fav (11>3864-42*)  América Latina
E-mail: eorte/.SVortezcditora.com.bi Potyiira Amazoneida P. Pereira e Rosa Helena Stein  106
xv w w.eortezedi toía.coói .br
6. Que democracia? 5oberania popular ou soberania do mercado?
Impresso no Brasil - novembro de 2010 Sandra Oliveira Teixeira  131
6 IJOSCHETTI • BEHRING • SANTOS • MIOTO 7

7. Sociedade civil e lutas sociais na América Latina: entre a harmonização


das ciasses e as estratégias de resistência
Ire te Simionatto  152

PARTE II
 A condição dos direitos no contexto da crise:  Apresentação
questões teóricas e incidência s parti cular es 183

8. Politica social e diversidade humana: crítica à noção de igualdade de


oportunidade
Silvana Mara de Morais dos Santos  185 Qs textos aqui apresentados resultam de pesquisas e reflexões reali-
zadas no âmbito do Programa Nacional de Cooperação Académica (Pro-
9. Política educacional e direitos sociais: reconfiguração do ensino
cad), que agregou, durante quatro anos, sete grupos de pesquisa da Uni-
superior no Brasil
versidade cie Brasília (UnB), Universidade do Hstado do Rio de Janeiro
 A lha Tereza ti. de Castro  195
(UHRJ), Univer sidade Federal do Rio Grande do Nor te (UF RN) e Univer-
10. As contradições da política de assistência social neoliberal sidade I ederal de Santa C atarina (UFSC). Hste li vro final iza o projeto,
Camila Poti/ara Pereira e Marcos César Alves Siqueira  211 iniciado em 2006, e se soma à primeira coletânea de textos publicada em
11. Desigualdade social e concentração de riqueza: algumas aproximações 2008, intitul ada Política social no capitalismo: tendências contemporâneos.
a partir da realidade de Natal-RN Diferentemente da anterior, esta obra reúne a produção de docentes
íris Maria de Oliveira e Maria Regina de Avila Moreira  230 e discentes dos programas de pós-graduação envolvidos no Procad/
12. Relações e condições de trabalho no universo produtivo: escravidão ( apes, o que mostra a repercussão deste progr ama na formação de qua-
contemporânea ou acumulação por espoliação? dros de pesquisadores. Durante esse período, o apoio do Procad/Capes
Sezvrina Garcia  254 pe rm it iu con sti tui r uma rede de cooperação académica com 16 docentes
c diversos estudantes ligados aos pesquisadores e aos grupos de pesqui-
13. As politicas de geração de emprego e renda no Brasil: o arcaico
sa, ii que possibilitou a realização de seminários e debates conjuntos; a
reatuatizado
mobilização de docentes e pesquisadores entre os Programas; a partici-
Marcela Soares  271
I >ação em bancas de trabalhos científicos ; o desenvo lvi ment o de estudos,
14. Feminismo, prostituição e direitos - um debate contemporâneo I>esquisas, pro duç ão e difusão de conhec iment o; a produção e divulg ação
Marlene Teixeira Rodrigues  292 de conheci mentos inédi tos; a construç ão de mesas coordenadas nos even-
tos de pesquisa da área de Serviço Social; e a publicação de dois livros.
Se em 2008 já analisá vamos o processo de alocação do fu ndo púb lic o
maioritariamente para o capital e indicávamos a tendência de avanço das
políticas de caráter focalizado e destituídas de capacidade de reduzir a
8 BOSCHETTI • BEHRING • SANTOS . MIOTO CAPITALISMO EM CRISE. POLÍUCA SOCIAL E DIREITOS 9

desigualdade, este livro, elaborado durante a irrupção de uma grave Trazemos a público, com muita satisfação, esta produção coletiva e
crise do cap ital, cujas proporções são analisadas em alg uns textos desta c Duvida mos o(a) leitor(a) a mergul har nestas páginas em que certamente
coletânea, demonstra, de modo inequívoco, a espantosa capacidade do encontrará muitas pistas e sugestões de caminhos para a pesquisa e,
capita lismo d e se apro pria r do f und o púb lico para assegurar seu inces- submetidas às críticas, nossas tentativas de respostas em meio a este
sante processo de reprodução e acumulação ampliados. momento de inflexão histórica que já altera os rumos do século XXI.
Os capítulos da primeira parte articulam reflexões em torno da Cri-
se do Capital , Política Social e Lutas Sociais, e desmist ific am compreensões Brasília, agosto de 2010.
que naturalizam a crise atual, sublinhando seu caráter endêmico e dura-
 A$ Orgnnizadoms
douro, bem como aquelas que afirmam que o Brasil estaria "imune" a
seus efeitos. Os antídotos adotados pelo Brasil, seguindo tendências
mun diai s, são amargos para o tra balho e doces para o capital, sobretudo
para o capital portador de juros, maior beneficiário no contexto da finan-
ceirização. Nessa perspectiva, o fund o pú blico é analisado como parte do
circuito do valor, azeitando os processos de rotação do capital e criando
contr a tendênci as à que da da taxa de lucros. O mal-es tar da democ raci a
burguesa e as potencialidades e limites das lutas sociais no contexto da
crise também são elementos discutidos, procurando respostas teóricas e
políticas para a grande questão que se coloca: a participação e mobilizaç ão
de sujeitos políticos que coloquem na cena pública respostas para além
do capital, realizando uma disputa social de destino que ultrapasse as
respostas burguesas à crise.
Na segunda parte do livro — intitulada A condição dos direitos no
contexto da crise: questões teóricas e incidências partic ulare s— realiza-se
o debate sobre os direitos, a parti r de mirante s de observação diversifi ca-
dos. Os capítulos enfrentam a questão teórica central da relação entre
emancipação política e humana eo lugar dos direito s na agenda das lutas
sociais e da esquerda em div ersos campos: da di versi dade sexual e sua
importância nas lutas contemporâneas contra o preconceito; dos direitos
sociais de segurid ade, com de staque para a assistência social; da educação
e das políticas de ação afirmativa; da relação entre pobreza, riqueza e
desigua ldade; da con dição das mulheres e sua luta por direit os, em espe-
cial aquelas que estão envolvidas em processos de mercantilizaçao do
próprio corpo; dos trabalhadores submetidos a processos de superexplo-
ração no conte xto de uma ac umulação por espoliação, que marca as rela-
ções de trabalho no agronegócio.
11

PARTE I

Crise do capital, politica


social e lutas sociais
13

Crise do capital, fundo público e valor

Elaine Rossetti Behring"

Introdução

O presente texto é o resultado de um proj eto intelectual acalentado


há tempos e adiado pelas inúmeras tarefas acadêmicas e políticas nas
quais estive env olv ida nos últi mos a nas, e que finalm ente tive condições
de realizar, em função do suporte do Procad/Capes: reler O   capital, de

* Este ensaio é um resultado do perí odo de estágio de pesquisa pôs-d milor al realiz ado no SER/
l íill, na condição cie professora pesquisadora colaboradora, por meio do Procad / Capes ecom apoio
.!.> I SS/UF.RJ. através do lic ença sabática, entre os meses de març o e agosto de 2008 Nesse sentido ,
torno públicos meus agradecimento* aos professores do Departamento de Poiílica Social da FSS/
I I Ki e aoSEK/UriB, especialmenteaPotvara Pereira Pereira,coordenadora doN eppos /Unl leRos a
Stein (Chefe do Departamento). Agradeço também aos estudantes do graduação e pós-graduaçáo
que fazem parto do ÇOPSS/ L KR/, muitos sondo meus orientandos, e que compreenderam o apoia-
ram este meu rápido afastamento, além do serem interlocutores preciosos. Este agradecimento 6
extensiv o às(aos) companheira s do Cress 7' Região, que também fortaleceram esse projeto ao não
contarem comigo nos primeiros meses da gestão {2008/2(111). Por fim. meu agradecimento muito
especial ã Ivanete Boschetti. pe io carinho, acolhime nto, i ncentivo o troca naqueles meses de moradia
na C olina.
1- Trata-se de um primeiro resultado, pois estamos preparando um ensaio teórico sobre a re
laçSo entre valor e fundo público, aprofundando alguns dos elementos que serão tratados nas pá
14 15
BOSCHETTl . BEH RING • SANTOS • AM OTO CAPITALISMO EM CRISE, POLITICA SOCIAL E DIREITOS

Karl Marx, na íntegra, de forma sequencial e sistemática. A necessidade Cabe, portan to, à crítica marxis ta contemporânea apanha r o conjun-
dessa releitura decorreu de uma demanda objetiva dos caminhos da to de determinações objetivas e subjetivas que operam no capitalismo
pesquisa que venho realizando acerca do papel do fundo público no ca- madu ro e que impl icam nesta dinâmica da valorização do capital, na qual
pitalismo contemporâneo no âmbito do Grupo de Estudos e Pesquisas interfere o fun do públ ico. Qu al é o sentido de retomar Ma rx , se queremos
do Orçamento Público e da Seguridade Social (GOPSS/UERJ), realizando compreender os processos atuais? Nossa intenção, partindo do suposto
uma análise do orçamento público brasileiro, desde sua alocação até sua marxi ano de que o modo de produ ção capitalista é histórico, se modifica
execução, cujos resultados vimos publicando em eventos científicos e e complexifica, é buscar na crítica fundadora de Marx e na sua descober-
profissionais, nacionais e internacionais. Trata-se agora de buscar e/ou ta e sistematização da lei do valor e de seus desdobramentos na totalida-
apri mor ar a apreensão dos fundam entos na crítica marxist a da economia de concreta da sociedade burguesa elementos para a compreensão do
polític a para precisar a análise sobre o lugar estrutural do fun do públ ico papel do fundo público, considerando que o capitalismo permanece
no capitalismo. Tais aportes estão localizados principalmente nos volumes orientado para a busca de superlucros, de valorização do capital e sua
II e JíI, quando Marx trata do capitalismo em geral e da repartição da acumulação, por meio da produção de mais-valia, o que implica a per-
mais-valia socialmente produzida. manência do valor-traha lho como determinação fundamental das relações
Não existe, porém, nesse texto fundament al, um momento anal ítico sociais de produção e desenvolvi mento das forças produt ivas, c om fortes
sobre o fundo público e o Estado. Aliás, o termo fundo público aparece implicações para as condições gerais da luta de classes.
raríssimas vezes ao longo de todos os tomos. Afinal, nos tempos de Marx, Supondo a atualidade, ademais i mpressionante, de O  capital,  apesar
este não tinha o mesmo peso quantitativo, ou seja, o Estado não extraía e ile elementos necessariamente situados historicamente, trata-se de afinar
transferia parcela tão significativa da mais-valia socialmente produzida a análise sobre o tema que i nquieta e convoca: o signi fica do do crescimen-
e, ressaltamos desde já, não se apropriava do trabalho necessário como to do fundo público e sua relação com o processo de valorização do capi-
hoje s em se fazendo pela vi a tr ibut ária , especialmente na perifer ia do tal, nocontextò de uma crise sistêmica,estrutural, profunda eduradoura.
capital. O fundo público não possuía também nos tempos de Marx o
papel qualitativo que passa a ler no capitalismo monopolista e imperia-
lista, sobretudo com o keynesianismo após a Segunda Guerra Mundial. I. ". .. a caça apaixonada do valor..."2 e sua relação com o fundo público
Na ve rdad e o que se observa e que o fun do púb li co assume tarefas o
proporções cada vez maiores no capitalismo contemporâneo, diga-se, em O volume I de O  aipiUil  (Ma rx, 1988) faz diversas alusões poéticas
sua fase madu ra e fortemente destruti va, com o predomí nio do neolibe- relacionando o valor a uma pulsao visceral do capital — como uma paixão
ralismo c da financeirização, nào obstante todas as odes puramente ideo- que modifica a vida dos seres humanos incontrolavelmente* — para que
lógicas em prol do listado mí nimo, ampl amente dif undi das desde os anos se realize de forma plena o circuito D — M — D', ou seja, o ciclo de pro-
80 do séc ulo XX. Basta obs erv ara reação capitalist a à crise de 2008/2009, dução e realização do valor, e que e necessariamente mediado pela pro-
uma nítida crise estrutural do sistema, com a injeção de trilhões de dóla-
res, euros e reais tendo em vista conter a espiral da crise, numa imensa 2. Marx (1988, p. 126).
socialização de custos, tão ou mais ampla que aquela desencadeada em 3. Veja-se, por exemp lo, a referência irônica ao preço como 'os olho? amorosos com que o-,
mercador ia* piscam ao dinhei ro" ( Marx, 19S8, p.  l  )7). São muita s e táo betas analogias que chamam
1929/1932. Os números são impressionantes e retomaremos o debate da
it atenção. Sobre a paixão, e*se sentimento mobilizador, conferir os belos ensaios contidos em O*
crise atual na segunda seção deste trabalho. ftTHfiifth- ,lu jniixão (Novaes [org.l, 21X19)
16
BOSCHETTI . BEHRING • SANTOS . MIOTO CAPITALISMO EM CRISE. POLITICA SOCIAL E DIREITOS

dução de mercadorias. Vamos resgatar brevemente aspectos que consi- de oferta de força de trabalho e de sua exploração, o volume I, especial-
deramos centrais desse processo, buscando cotejar algumas poucas, porém mente no t omo 1, revela os camin hos do processo de produç ão de merca-
important es, alusões feitas por Ma rx acerca do lista do, fund o públi co e doria s e de valor. Assi m, tem-se que a força de traba lho (capit al vari ável),
temas conexos neste trabalho maduro. O foco nesta primeira incursão é .10 movimentar os ineios de produção (capital constante fixo e circulante)
sistematizar o ponto de partida da análise marxtana, acompanhando seu o que é uma po tência exclusiva d o trabal ho no processo, mesmo quan-
movi ment o metodo lógico, de determinações mais simples para a totali- do a maquinaria é poupadora de força de trabalho" — e produzir um
dade concreta, ou, dito de outra maneira, de como a sociedade burguesa determinado qumitum de mercadorias, além de transferir o valor agrega-
aparece na sua epiderm e e se chega ao concreto pensado: a lógica int erna do em capital constante (fixo e circulante) e em capital variável (seu
do capital marcada pela busca desenfreada e aguerrida do valor. próprio salário) para o valor final das mercadorias, acresce a elas um
Mar x men ciona co mo a sociedade burguesa se mostra co mo um valor a mais. A análise de Marx revela que o processo de valorização
grand e arsenal de mercadorias, constit uindo- se esta a marca aparente por ocorre porque a força de trabalho não é remunerada pelo que produz,
excelência desse modo de produção. O caminho de Marx para desvelar mas pelo cálculo so cial de suas necessidades de repro dução co mo tal , que
essa aparência é bastante conhecido: 4 ele mostra que a produção de mer- variam historicamente com o desenvolvimento das forças produtivas, das
cadorias para o capital, se tem nos valores de uso e no trabalho concreto necessidades sociais e da luta de classes, mas que estão abaixo do que as
a sua base material, se orienta efetiva e contundentemente para a produ- torças do trabalho transferiram e acrescentaram de valor ao produto final.
ção de valores de troca, ou seja, ao processo de valorização, no qual o 1'arte da jornada de trabalho é trabalho necessário, cobrindo as necessi-
trabalho humano comparece como trabalho abstrato, diga-se, como uma dades de reprodução da força de trabalho na forma de salários; outra
"gelatina indiferenciada" (1988, p. 67), como tempo de trabalho social- parte é trabalho excedente, ou seja, mais-valia, valor acrescentado. A
mente necessário, abstraindo-se as qualida des particu lares do tr abalh o magnitude da exploração da força de trabalho no processo de produção
concreto. O que o capital persegue apaixonadamente é o acréscimo de está relacionada à luta de classes e ao dese nvol vime nto das forças pro du-
valo r que apenas a subsunção do trabalho ao capital e sua exploração no livas, estas últimas implicando maior ou menor composição técnica e
processo de produ ção, que conjuga a o mesmo tempo processo de trab alho orgânica do ca pital. Esses dois elementos int erfer em em form as de extra-
e de valorização, podem concretizar. Para que capital e trabalho se de- ção de mais-vali a enunciadas por Ma rx - a extensão da jornada de tra-
frontassem nas condições requeridas pelo mundo do capital - um pro- balho, com ampliação da parle excedente a mais-valia absoluta — e/
cesso de acumulação prévia de riquezas prontas para serem convertidas ou do processo de trabalho, produzindo mais em menos tempo — a
em forças produ tivas capitalistas e "trabalhadores livres como os pássaros" mais-valia r elativa . Segundo Mar x, "o v alor não traz escrito na testa o que
foi necessário um lo ngo processo históri co, const ituí do a ferro, fogo e
sangue, como mostra o Capítulo XXIV, sobre "A assim chamada acumu- 5. Pato que coloca em xeque as perspectivas, mesmo que diferenciadas, que apontam para o fim
lação primitiva" (Marx, 1982). «11 centralidade do trabal ho no mom ento presente em fun ção dos avanços tecnológicos e da expulsão
. le força He trabalho d» pnx.essO de produção, \ esse sentido, vale retomar Ma rx quando aponta: "a
O núcleo central da contribuição marxiana para desvendar a essên- mais-valia não se origina das forças de trabalho que o capitalista substitui pela máquina, mas, pelo
cia da sociedade burguesa é, portan to, a lei do valor. Cria das as condições i ontr arui, das forças de trabalho que ocupa com eia" (Marx . t. II, v. I, p. 31), intensificand o a
tornada dos que ficam, ou seja, incrementando a mais-valia relativa. Assim, a tecnologia torna-se
uma força hostil ao trabalhador, um concorrente poderoso no contexto do capitalismo, com o que
•1. n nossa pretensão no âmbito de um capitulo ê uma sistematização breve. Para acosso a de- M-u potencial emancipador fica subsumido a uma dinâmica essencialmente perversa. Esses argu-
senvolvimentos mais completos c densos, sugerimos: Mandel (1969); Harvey (1990), NjeJto e Brax mentos que envolvem o lugar da ciência apropriada pelo capital são desenvolvidos por Marx no
(2íX)o) e lamamoto (2005. Capítulo I). • apitu lo Maqui nari a e grande indústria" , do tom o II do volume I.
'8 BOSCHETTI • BEHRING • SANTOS . MIOTO ( API TAI ISMO EM CRISE. POLÍTICA SOCIAL E DIREITOS 19

ele é" (1988, p. 72), sendo que sua natureza de produto do trabalho hu- o barateamento dos elementos do capital constante; o aumento da super-
mano disfarçada sob o dinheiro é urna espécie de hieróglifo social a ser população relativa como pressão sobre os salários; e o comércio exterior.
decifrado, ao lado da aparência de que se trata da relação entre coisas e Vejamos a seguinte reflexão de Marx: "as mesmas causas que acarretam
não de uma relação social. Falamos aqui da importante referência mar- .i queda da taxa geral de lucro provocam efeitos contrários, que inibem,
xiana ao fetichismo da mercadoria que marca a sociedade burguesa. relardam e em parte paralisam essa queda. Eles não anulam a lei, mas
Neste mundo pseudoconcreto, repleto de elaros-escuros de verdade deb ilit am seu efeito. Sem isso, seria incomp reensí vel não a queda da taxa
e engano, como nos ensina Kosik (1986), uma tendência que se impõe a >•«• ra l de lucro, mas, pelo cont rário, a relativa lentid ão dessa queda. As sim,
partir da busca desenfreada de valorização, e que não é visível e muitas .1 lei só opera como tendência cujos efeitos só se manifestam de forma
vezes se mostra a partir de suas contra tendências/ é a da queda tenden- contundente sob determinadas circunstâncias e no decorrer de períodos
cial da taxa de lucros, resultante de um modo de produção que se move pro lon gad os" (1982,1.1, v. 111, p. 181). E, vale d izer, exist em do is elemen-
pela concorrência, fortemente fundada na introdução de tecnologias em Uis que também interferem nessa dinâmica: a resistência dos trabalhado-
busca do diferencial de produtividade do trabalho num mesmo ramo ou res ã exploração e a ação do Estado, seja por meio de sua capacidad e de
entre países (Mandel, 1982). Há, como uma tendência intrínseca à dinâ- regulação, seja especialmente agin do sobre o processo de rotação do ca-
mica deste modo de produção, segundo Marx (1982,1.1, v. 111, p. 164-165), pital, considerando que o capitalismo é unidade entre produção e circu-
uma progressiva tendência de queda das taxas de lucro em função do lação para a realização do ciclo globa l, expresso em D— M — D'.
decréscimo relativo do capital variável em relação ao capital constante, O fato é que há uma tendência de queda do valor das mercadorias,
gerando uma composição orgânica crescentemente superior ao capital n,i medida em que se expulsa força de trabalho com a introdução de tec-
global. Trata-se da "proporção decrescente da própria mais-valia em re- nologias. Cont udo, os capitalistas individ uais permanecem trabalhando
lação ao capital global adiantado e, por isso, é independente de qualquer com preços médios, o que gera superlucros aos que partem na frente.
divis ão que se faça dessa mais-valia em diferent es categorias". Ma rx quer ( Vorre que, na sequência, os demais buscam se recuperar nas relações
alertar para o fato de que tal queda independe da repartição da mais-va- concorrenciais adquirindo o novo padrão, equali/ando a taxa de lucro
lia, já que opera no contexto de sua produção. Nosso autor também dife- nu m pat amar de valo r mais baixo e criando novas e mais fortes contra-
rencia taxa de lucro e massa de lucro. A segunda pode estar em cresci- dições: "a produção capitalista procura constantemente superar essas
mento conjuntural apesar da operação da queda tendencial da taxa de barreiras que lhe são imanentes, mas só as supera po r meios que lhe an-
lucros no médio prazo, gerando uma aparência de que este movimento tepõe nova ment e essas barreiras e em escala mais poderosa. A verdad ei-
essencial não ocorre. Na verdade , essa tendência não e mais cont unden te ra barreira da produção capitalista é o próprio capital" (Marx, 1982, 1.1,
e profunda porque são desencadeadas "causas contrariantes", dentre as v 111, p .  189).
quais Marx destaca: a elevação do grau de exploração da força de traba- Os "dramas" permanentes do capital e que implicam a sua "luta
lho; a introdução de novas tecnologias capital-intensivas, que impõem heróica" (Harvey, 1993, p. 170), considerando suas tendências de dese-
óbices imediatos pela intensa exploração da força de trabalho, mas operam quilíbrio e crise, são principalmente dois. Em primeiro lugar, produzir
mediatamente para a queda das taxas de lucro, o que implica uma pro- mais-valia não é necessariamente realizá-la, inclusive porque parcelas
funda contradição; a compressão do salário abaixo do seu valor médio; significativas da força de trabalho ficam de fora do circuito do consumo,
especialmente no contexto de crise e de busca de melhores condições de
6. tf tive a oportunidade de fazer referência a este tema em Behring (1998). exploração pelo capital, com a expansão do desemprego e da superpo-
20 BOSCHETTI • BEHRING . SANTOS • MIOTO CAPITALISMO EM CRISE, POLÍTICA SOCIAL E DIREITOS 21

pulaçã o rel ativa. Para que a mais-v alia se realize e a mercad oria acrescida consu mo, onde os impos tos estão embu tid os nos preços das mercadorias.
de mais-valia se metamorfoseie em dinheiro (sendo ambos formas de Vamos sustentar, pelo exposto, que a exploração do t rabal ho na produç ão
valor), é necessário que haja a mudança de forma de M' para D', proces- e complementada pela   exploração tributária crescente nesses temp os de
so que ocorre na circulação, o que aliás gero u histori cament e a aparência intensa crise e metaboli smo do capital, form ando o f undo p úblico , espe-
de que a acumulação se produz nesse momento do ciclo, segundo a eco- cialme nte em espaços geopolít icos nos qu ais as lutas de classes não con-
nomia política clássica. Em segundo lugar, há a queda tendencial da taxa seguiram historicamente i mpor barreiras a sistemas tribut ários regressi-
vos. s  E qua l é o papel do fu nd o púb li co na totali dade concreta,
de lucros, referida anteriormente, sendo um processo que força a um
especialmente quando adquire proporções tão contundentes, como no
conjunto de movimentos para que ela nâo se imponha como contradição
período após a Segunda Guerra até os dias de hoje, contrariando os dis-
nodal do mundo do capital.
cursos ideológicos neoliberais em favor de um Estado mínimo?
 A est a al tu ra , o(a) le it or (a ) d eve estar se pe rg un ta nd o sobre a re laç ão
Sc retor narmos a Mar x para encontrar pistas, pode-se inferi r das suas
destas categorias ontológicas da economia política capitalista com o fun-
reflexões que o fundo públic o atua constitu indo "causas contrariantes" à
do público. Vejamos. O fundo público se forma a partir de uma punção
queda tendencial da taxa de lucros, interferindo no ritmo da circulação
compulsória 7  — na forma de impostos, contribuições e taxas — da
di' mercadorias e dinheiro, esti muland o a metamorfose de um em outro,
mais-valia socialmente produzida, ou seja, é parte do trabalho excedente
enfim, intensificando e mediando os ritmos do metabolismo do capital.
que se metamorfoseou em lucro, juro ou renda da terra e que é apropria-
Ou seja, o fundo público participa do processo de rotação do capital,
do pelo l istado para o desempenho de múltiplas funções. O fundo públi- lend o em per spectiva o processo de reprod ução ca pi ta lista como um todo ,
co atua na reprodução do capital, retomando, portanto, para seus seg- especialmente em contextos de crise. Por outro lado, o fundo público
mentos especialmente nos momentos de crise; e na reprodução da força realiza mediações na próp ria repar tição da mais-va lia - pelo que é dis-
cie trabalho, a exemplo da implementação de políticas sociais. Hm vários putado politicamente pelas várias facções burguesas, cada vez mais de-
momentos de  O capital  os impostos aparecem como subfõrmas da mais-va- pendentes desta espécie de retorno medi ado po r um Estado, por sua vez,
lia (Ex.: M ar x, 1982, t. I, v. 111, p. 39). No ent anto , se esta apr oxi maç ão é embebido do papel central de assegurar as condições gerais de produção
pertinente nos tempos de Marx, ela é insuficiente para o contexto do ca- (Mandel, 1982). No mesmo passo, participam também deste processo os
pitalismo monopolista plenamente desenvolvido, considerando que o trabalhadores retomando parte do trabalho necessário na forma de salá-
instrumento de punção é o sistema tributário, e que parte cada vez maior i ios indiretos {políticas sociais) ou na forma de bens públicos de maneira
do fundo público é sustentada nos e pelos salários. Ou seja, o fundo pú- geral, disputando sua repartição em condições desiguais, considerando
blico não se forma — especialmente no capitalismo monopolizado e a correlação de forças na sociedade e no Estado. Ressalta-se aqui a dimen-
maduro — apenas com o trabalho excedente metamorfoseado em valor, são política deste processo, num contexto de hegemonia burguesa e de
mas também com o trabalho necessário, na medida em que os trabalha- f< »rte e sofist icada instr ument ali zaçã o do Estado, em que pese não estarmos
dores pagam impostos direta e, sobretudo, indiretamente, por mei o do diante do "com itê executivo da burguesia" no sentido clássico.
Quan do se fala em repartição da mais-valia socialmente produz ida,
7. Observemos como Mar x vê essa punção e sua relação con\ ri produção de mais-valia: "A su- t onsiderando o papel do Estado no circuito do valor, tem-se em Marx que
pressão de tais impostos não altera absolutamente nada no«jn/7fi/rwu dc- mais-valia que o capitalista
extorque di retament e ao trabalhador. Ela modifi ca apenas a proporçã o em que o capitalista embolsa
mais-vali a ou precisa divi di-l a com terceiros" {Mar x, 198& t I v. II. p. 115). Portanto, para Mar \, a H. P,ira um debate sobre o sistema tributár io brasil eiro ese u caráter regressivo, conferir o im-

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