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EAD

Conteúdos da Educação
Física na Escola

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1. OBJETIVOS
• Articular os objetivos aos conteúdos da Educação Física na
prática pedagógica dessa disciplina, tendo em vista o desen-
volvimento e o aprimoramento das capacidades dos alunos.
• Discutir a prática pedagógica da Educação Física, articu-
lando-a com o campo da Pedagogia.

2. CONTEÚDOS
• Conteúdos de ensino da Educação Física na Escola Básica
(Educação Infantil e Ensino Fundamental):
- concepção de conteúdos;
- conteúdos da Educação Física na Cultura Corporal de
Movimento;
- conteúdos da Educação Física nas três dimensões: con-
ceituais, procedimentais e atitudinais.
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3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE


Antes de iniciar o estudo desta unidade, é importante que
você leia as orientações a seguir:
1) Ao se dedicar a analisar as dimensões existentes na Edu-
cação Física (conceituais, procedimentais e atitudinais),
realize uma reflexão a respeito de como eram desenvol-
vidas as aulas dessa disciplina, a partir de sua experiên-
cia com ela. Dessa análise, você perceberá que raramen-
te se dava ênfase a todas as dimensões propostas para
a disciplina, tal como se enfatiza contemporaneamente.
2) Perceba que, no estudo da Cultura Corporal de Movi-
mento, manifestada nos jogos e brincadeiras, ginástica,
esportes, lutas, dança, conhecimento do próprio corpo,
há uma estreita relação desses elementos com uma sé-
rie de aspectos sócio-políticos importantes, dentre eles,
destacamos as relações sociais de trabalho, a saúde pú-
blica ou, ainda, os preconceitos em suas variadas mani-
festações.
3) Analise com especial atenção a proposta apresentada
pelos PCNs sobre a organização da Educação Física Es-
colar a partir dos blocos de conteúdos. Dessa análise,
consideramos importante que você reflita a importância
desses blocos, e se estes dão conta dos principais con-
teúdos que estão presentes nessa disciplina.
4) Ao se deparar, nesta unidade, com a análise de defini-
ções, tipos e importância dos jogos na Educação Física,
você encontrará, também, uma série de pesquisadores
muito importantes, dentre eles, destacamos Jean Piaget
e Vygotsky, os quais deram especial ênfase a esse tema,
embora fundamentem suas doutrinas em correntes
científicas diametralmente opostas. Diante desse aspec-
to, consideramos importante que você reflita o quanto
as teorias científicas possuem limitações em sua abran-
gência e foco, e a necessidade que temos de lidar com
várias delas para nos apropriarmos dos vários modos de
se analisar um mesmo fenômeno.
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4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Após compreender e discutir o papel da Educação Física no
cenário escolar brasileiro, bem como conhecer seus objetivos para
a formação do educando, avançaremos em nosso estudo para,
então, abordar os conteúdos dessa disciplina, particularmente
aqueles voltados à Educação Infantil e aos anos iniciais do Ensino
Fundamental.
O que você concebe como conteúdo de ensino para a disci-
plina Educação Física? Reflita sobre essa questão durante a leitura
desta unidade e, ao final deste estudo, faça uma retomada dessa
reflexão, verificando se a sua opinião mudou ou não.

5. CONTEÚDOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA E CULTURA


CORPORAL DE MOVIMENTO
Não faz muito tempo que o que se observava nas aulas de
Educação Física na escola era a presença maciça do esporte como
único conteúdo vivenciado pelos alunos, especialmente a partir do
6ª ano do Ensino Fundamental. Na Educação Infantil e nos anos
iniciais do Ensino Fundamental, as aulas dessa disciplina se torna-
vam, normalmente, momentos de pura e simples recreação.
Atualmente se valoriza, nas aulas de Educação Física, a di-
versificação das atividades, considerando os conteúdos da Cultu-
ra Corporal de Movimento.
Mas o que podemos entender por conteúdos?
Podemos entender os conteúdos como o conjunto de conhe-
cimentos ou formas culturais (conceitos, explicações, raciocínios,
habilidades, linguagens, valores, crenças, sentimentos, atitudes,
interesses, modelos de conduta etc.) cuja assimilação e apropria-
ção pelos alunos são fundamentais para o seu desenvolvimento e
socialização (COLL et al., 1998).

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Libâneo (1994), assim como Zabala (1998), também entende


que os conteúdos compreendem o conjunto de conhecimentos,
habilidades, hábitos, modos valorativos e atitudinais de atuação
social, organizados pedagogicamente, com a intenção de assimi-
lação e uso pelos alunos na prática de vida. Cabe ressaltar que
essa assimilação não acontece por uma incorporação passiva do
conhecimento, mas, sim, por meio de uma reconstrução ou ree-
laboração deste. Por isso, mesmo que os conhecimentos sejam os
mesmos para o grupo social, a forma como cada um se apropria
deles é muito singular.
Conforme você pôde verificar na página de abertura desta
unidade, trabalharemos com os conteúdos da Educação Física nas
três dimensões: conceituais, procedimentais e atitudinais, focali-
zando-os com base na Cultura Corporal de Movimento. Nesse con-
texto, Zabala (1998) e Coll et al. (1998) apontam que, ao longo da
história da educação, os conteúdos mais trabalhados nas propos-
tas curriculares foram os conceituais, desprezando-se os procedi-
mentais e os atitudinais; no caso da Educação Física, os conteú-
dos mais vivenciados foram os procedimentais, desconsiderando
os conceituais e os atitudinais. Atualmente, de acordo com esses
autores, há uma tentativa de ampliação desse olhar para os con-
teúdos, compreendendo-os como tudo o que se tem de aprender
e que não abrange apenas as capacidades cognitivas, mas todas as
capacidades.
Essa classificação dos conteúdos, na perspectiva de Coll et
al. (1998 apud DARIDO, 2005), corresponde às seguintes questões:
a) Dimensão conceitual: “o que se deve saber?”.
b) Dimensão procedimental: “o que se deve saber fazer?”.
c) Dimensão atitudinal: “como se deve ser?”.
É importante lembrar que os conteúdos da Educação Físi-
ca vivenciados na escola são aqueles que fazem parte do univer-
so da Cultura Corporal de Movimento, ou seja, são os jogos e as
brincadeiras, a ginástica, os esportes, as lutas, a dança, além do
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conhecimento do próprio corpo; sem dúvida, é um universo bas-


tante amplo de possibilidades. Conforme Soares et al. (1992), es-
ses temas que compõem o universo da cultura corporal expressam
um sentido no qual se interpenetram os objetivos do homem e da
sociedade.
Esses autores ainda apontam que tratar desses sentidos/
significados que abrangem a compreensão das relações de inter-
dependência que jogo, esporte, ginástica, dança e outros temas
venham a compor as aulas de Educação Física tem forte relação
com os grandes problemas sociopolíticos atuais, como:
a) ecologia;
b) papéis sociais;
c) saúde pública;
d) relações sociais do trabalho;
e) preconceitos sociais, raciais, da deficiência, da velhice;
f) distribuição do solo urbano;
g) distribuição de renda;
h) dívida externa, entre outros.
Para possibilitar ao aluno refletir sobre esses problemas, é
necessário que haja a intenção dele em entender a realidade so-
cial, fazendo a leitura desta, interpretando-a e explicando-a com
base em seus interesses de classe social e estabelecendo laços
concretos com projetos políticos de mudanças sociais.
Vamos agora adentrar em cada um dos conteúdos da Edu-
cação Física, caracterizando-os e tratando-os, posteriormente, nas
três dimensões (conceituais, procedimentais e atitudinais).
Os Parâmetros Curriculares Nacionais de Educação Física do
Ensino Fundamental apresentam os conteúdos organizados em
blocos que se relacionam:
• Esportes, jogos, lutas e ginásticas.
• Atividades rítmicas e expressivas.
• Conhecimentos sobre o corpo.

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Se você atuar na Educação Infantil, o movimento pode ser


trabalhado por meio de brincadeiras, jogos, atividades expressi-
vas, rítmicas e conhecimento do próprio corpo.
Explicaremos as características de cada um desses conteú-
dos, iniciando pelo conhecimento sobre o corpo. Este se refere
aos conhecimentos e conquistas individuais que dão suporte às
práticas corporais expressas nos outros conteúdos, oferecendo
condições para que o aluno gerencie sua atividade corporal de for-
ma autônoma. Para o conhecimento do corpo, é necessário abor-
dar, nas aulas de Educação Física, os conhecimentos anatômicos,
fisiológicos, biomecânicos e bioquímicos, que capacitam a análise
crítica das atividades de prática corporal.
No que tange aos conhecimentos de anatomia, estes se referem
à estrutura muscular e óssea e são trabalhados com base na percepção
do próprio corpo, sentindo-o e compreendendo-o, para exemplificar,
compreendendo e sentindo os ossos e músculos envolvidos em ativida-
des que promovam o relaxamento ou a tensão do corpo (BRASIL, 2000).
Quanto aos conhecimentos da fisiologia e da bioquímica, o
primeiro é importante para compreender as alterações que ocor-
rem durante as atividades físicas, como, por exemplo, a frequência
cardíaca, a perda de calorias etc., além daquelas que ocorrem a
longo prazo, como o aumento da massa muscular, da força e da
flexibilidade. Já na bioquímica, os conhecimentos são relaciona-
dos à anatomia e abrangem, especialmente, os hábitos posturais
corretos, como a forma de sentar e levantar peso (BRASIL, 2000).
Consideramos importante lembrar que o trabalho com esses
conhecimentos deve ser desenvolvido por intermédio da percep-
ção que o aluno faz do próprio corpo, bem como por meio de suas
sensações no desenvolvimento das atividades previstas para o
trabalho com os outros conteúdos. Esses momentos também são
importantes para trabalhar a questão da postura dos alunos em
classe ou em suas atividades diárias, como a forma de sentar-se
nas carteiras, de carregar materiais escolares etc.
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Sugestões de atividades
Dentre as atividades que podem ser desenvolvidas, pode-
mos destacar as de sensibilização corporal, que, para a Educação
Infantil, podem ser assim concretizadas:
a) desenhar o próprio corpo, cabra-cega;
b) desenhar o contorno dos colegas deitados no chão;
c) descobrir pontos do corpo nos quais se podem perceber
os batimentos cardíacos;
d) rolar para frente, para trás e para os lados;
e) imaginar que o corpo está coberto de chocolate.
Freire e Scaglia (2003, p. 60) acrescentam que:
Também pode-se jogar voleibol com bola imaginária, jogo dos con-
trários, imitação de animais, desenhar o mapa da escola, conhecer
os sons que existem na escola, conversar com o professor sobre os
sons produzidos, descobrir os sons que podem ser produzidos pe-
los alunos na escola e conversar com o professor sobre esses sons,
além de propostas como conhecer a escola pelo tato, com os olhos
vendados e conversar com o professor sobre o tato, conhecer o
cheiro e os sabores da escola e conversar com o professor sobre
isso, conhecer e conversar com o professor sobre as imagens da
escola e brincar de esconde-esconde.

Já nos anos iniciais do Ensino Fundamental, as propostas de


atividades a serem desenvolvidas são as seguintes:
[...] com o auxílio do professor e em repouso, contar os batimentos
cardíacos, fazer uma atividade física moderada e também uma in-
tensa e contar os batimentos cardíacos, com o auxílio do professor,
contar os batimentos em diversas partes do corpo após uma ativida-
de, brincar de esconde-esconde, desenhar o mapa do corpo e fazer
classificação segundo escala. Com os olhos vendados descobrir os
colegas pelo tato, brincar de robô, parado e em movimento e brincar
de se pintar e pintar os colegas. Além disso, tem-se como proposta
contar como forma de tarefa de casa os batimentos cardíacos dos
familiares de diferentes idades, durante três dias, contar os batimen-
tos cardíacos antes de se levantar, no começo e no final do semestre,
fazendo um gráfico com os dados, realizar atividades de relaxamento
com música em alguns finais de aula, alternar atividades na terra e na
água, realizar atividades de contato corporal, realizar corrida de nú-
meros dando as mãos, realizar jogo das partes do corpo, brincar de
João Bobo, em roda, fazer corridas de revezamentos com rolamento
dos alunos sobre os colegas, desenhar mapa do corpo dos colegas e
dos familiares (FREIRE; SCAGLIA, 2003, p. 61).

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Em relação ao conteúdo esportes, estes são caracterizados


como práticas organizadas, tendo como princípios regras oficiais
com caráter competitivo, sob supervisão de federações regionais,
nacionais e internacionais que regulamentam a atuação tanto
amadora quanto profissional. As atividades esportivas necessitam
de espaços e equipamentos especiais, muitas vezes, sofisticados,
como: campos, piscinas, bicicletas, pistas etc. (BRASIL, 2000).
Para o desenvolvimento de atividades esportivas na escola,
deve ser analisado como abordar o esporte de forma pedagógica,
uma vez que a intenção não é desenvolvê-lo nela, mas adequá-lo
aos objetivos educacionais e tratá-lo com base no sentido de es-
porte “da escola”. Por isso, é preciso resgatar, nas aulas de Educa-
ção Física, os valores do coletivo em vez do individual, defendendo
o compromisso com a solidariedade e o respeito humano, com-
preendendo que, na prática corporal do esporte, é importante ter
um companheiro nas atividades, e não um adversário.
Soares et al. (1992) apontam que, ao trabalhar com os es-
portes na escola, é fundamental promover momentos de reflexão
e análise crítica do papel da mídia, da adaptação e da exigência
de que os praticantes atendam aos padrões de rendimento físico,
analisando, assim, os esportes em um contexto socioeconômico,
político e cultural.
Para o ensino dos esportes, o professor deve ir além do tra-
balho com gestos técnicos, promovendo atividades coletivas e in-
clusivas. Dentre os esportes que podem ser trabalhados nas aulas
de Educação Física, podemos destacar:
a) Futebol.
b) Atletismo.
c) Voleibol.
d) Basquetebol.
O futebol pode ser trabalhado como um jogo que possui
suas normas e regras, como um espetáculo esportivo cujo proces-
so de trabalho se diversifica e gera mercados específicos de atua-
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ção profissional e, também, como um jogo popularmente pratica-


do em nossa sociedade, que cativa e extasia milhões de pessoas
em todo o mundo, especialmente no Brasil. Assim, é interessante
que o professor trabalhe a história desse esporte, a reflexão sobre
o mercado de trabalho existente em torno dele, além da relação
estabelecida entre poder econômico e poder esportivo, destacan-
do o uso da pessoa humana na busca pelo lucro, pois o trabalho
com o esporte, como o futebol, deve ultrapassar o simples “jogar
futebol” nas aulas de Educação Física (BRASIL, 2000; SOARES et al.,
1992; FREIRE; SCAGLIA, 2003).
Já o atletismo compreende práticas de correr, saltar e arre-
messar/lançar, tendo como fundamentos as corridas de resistên-
cia, de velocidade (com ou sem obstáculos), de campo, de aclives
e declives (ruas) e de revezamento; os saltos, tanto no sentido ho-
rizontal quanto no vertical (envolvendo altura e vara); os arremes-
sos com peso e os lançamentos de dardos, de disco e de martelo.
Os lançamentos, por exemplo, podem ser trabalhados por meio
de jogos nos quais o aluno identifique a possibilidade de jogar
para longe de si algum objeto, como uma bola, uma pedra, ou um
bastão de madeira, bem como arremessar dardos para caçar ani-
mais em uma dramatização na qual, por exemplo, os alunos atuem
como índios primitivos que precisam caçar para se alimentar; a
caça pode ser representada por um grande círculo ou bambolê,
e os dardos podem ser cabos de vassoura (BRASIL, 2000; SOARES
et al., 1992; FREIRE; SCAGLIA, 2003). Essa atividade pode ser feita
individualmente ou de forma coletiva, somando-se os pontos du-
rante a rodada.
Em relação ao voleibol, o objetivo é evitar que a bola caia no
próprio campo de jogo, fazendo-a passar por cima de uma rede e
cair no campo do adversário. Seus fundamentos compreendem:
a) saque (iniciar a jogada);
b) recepção (receber o saque do adversário);
c) levantamento (preparação para o ataque);

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d) ataque (passar a bola para o campo contrário, dificultan-


do a defesa);
e) bloqueio (interceptação do ataque do adversário);
f) defesa (evitar que a bola caia no próprio campo) (BRA-
SIL, 2000; SOARES et al., 1992; FREIRE; SCAGLIA, 2003).

Sugestão para prática ––––––––––––––––––––––––––––––––


Você pode trabalhar o voleibol na escola de forma lúdica, utilizando bolas de
diferentes tamanhos, pesos e materiais, como, por exemplo, as bolas de plástico
que as crianças ganham nos parques de diversões; pode, também, ser desen-
volvido, organizando as crianças – meninos e meninas juntos no mesmo time – e
vendando os olhos deles com retalhos de tecidos (BRASIL, 2000; SOARES et
al., 1992; FREIRE; SCAGLIA, 2003).
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

Sobre o basquetebol, este se caracteriza como um jogo no


qual se disputa uma bola para atingir um alvo, que é defendido
pelo adversário, utilizando-se somente as mãos para manejá-la.
Seus fundamentos envolvem:
a) atacar por meio do passar (jogar a bola para o compa-
nheiro);
b) driblar (progredir com a bola quicando);
c) arremessar (jogar a bola em direção à cesta);
d) defender (dificultar os passes, os dribles e os arremessos
do adversário) (BRASIL, 2000; SOARES et al., 1992; FREI-
RE; SCAGLIA, 2003).
Nos anos iniciais do Ensino Fundamental, o basquetebol
pode ser um motivante jogo lúdico, no qual as crianças podem
brincar de passar a bola para o companheiro e arremessar os obje-
tos em cestos adaptados (BRASIL, 2000; SOARES et al., 1992; FREI-
RE; SCAGLIA, 2003).
Além desses esportes, você também pode trabalhar com jo-
gos pré-desportivos, como queimada, bobinho, pique-bandeira,
pelada, variações de queimada, pega-pega com bola, variações de
caça ao tesouro, além de atividades de fundamentação do espor-
te, como brincar de zerinho – passar sob uma corda quicando bo-
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las ou conduzindo-as com os pés –, bobinho com as mãos, usando


bolas e passes diferentes, e bobinho com os pés (FREIRE; SCAGLIA,
2003).
Podem ser trabalhados, ainda, os esportes com raquetes,
como o tênis e o tênis de mesa, e alterná-los, por exemplo, uti-
lizando uma peteca como bola ou, então, uma bexiga, fazendo o
jogo desta com as mãos e os pés, além de outras atividades, como
mãe da rua – quicar bolas ou conduzi-las com os pés – e boliche,
utilizando as mãos ou os pés.
Pode-se utilizar, também, as lutas como conteúdo da Edu-
cação Física, de forma que elas são entendidas como disputas em
que o(s) oponente(s) deve(m) ser dominado(s) mediante o uso de
técnicas e estratégias de desequilíbrio ou imobilização; estas se ca-
racterizam por uma regulamentação específica, com o fim de punir
atitudes de violência e de deslealdade (BRASIL, 2000). Dentre as ati-
vidades de prática corporal envolvendo as lutas, podemos destacar:
a) o cabo de guerra;
b) o braço de ferro;
c) a capoeira;
d) o judô e o caratê (SOARES et al., 1992; FREIRE; SCAGLIA,
2003).
As ginásticas são técnicas de trabalho corporal que envol-
vem ou não a utilização de materiais e aparelhos, podendo ocorrer
em espaços fechados, ao ar livre ou na água. O conteúdo de gi-
nástica relaciona-se, de forma privilegiada, com os conhecimentos
sobre o corpo, pois, nas atividades ginásticas, estes se expressam
de forma clara. Dentre as propostas dessas atividades que podem
ser desenvolvidas nas aulas de Educação Física, destacamos:
a) rolamento;
b) salto;
c) equilíbrio;
d) criações de movimentos em grupos, duplas, trios, sozi-
nho e com ou sem música;

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e) corrida de estafetas com obstáculos (traves, cambalhotas);


f) equilíbrio de bastões sobre partes do corpo;
g) deslocar-se equilibrando bastões sobre as partes do corpo;
h) estudar a teoria sobre ginástica pelos gregos, suecos,
alemães etc. (BRASIL, 2000; FREIRE; SCAGLIA, 2003).
De acordo com Rangel (in DARIDO; MAITINO, 2004), os jogos
têm uma flexibilidade maior nas regulamentações e regras, que
podem ser adaptadas em função, por exemplo, das condições de
espaço, dos materiais disponíveis e do número total de partici-
pantes. Devemos lembrar que os jogos, as brincadeiras e os brin-
quedos fazem parte do cotidiano de todas as crianças, de maneira
que, desde que o ser humano vive em grupos ou sociedades, são
nítidas as informações de que elas brincavam.
Huizinga (1980), em Homo Ludens, diz que o jogo é mais an-
tigo que a cultura, haja vista que esta pressupõe sempre a socie-
dade humana. Esse autor vai mais adiante ao dizer que o jogo é
uma função da vida, mas que não é passível de definição exata em
termos lógicos, biológicos ou estéticos, limitando-se a descrever
suas principais características como segue:
[...] uma atividade voluntária, exercida dentro de determinados limi-
tes de tempo e espaço, segundo regras livremente consentidas, mas
absolutamente obrigatórias, dotada de um fim em si mesmo, acom-
panhado de um sentimento de tensão e de alegria e de uma cons-
ciência de ser diferente da vida cotidiana (HUIZINGA, 1980, p. 33).

Na teoria piagetiana, o jogo é entendido como ação assi-


miladora, de maneira que, ao brincar, a criança demonstra o nível
de seus estágios cognitivos e constrói conhecimentos. Para Piaget
(1975), é, essencialmente, assimilação predominando sobre aco-
modação.
Segundo os estudos de Piaget, destacam-se três estágios de jogo:
• Jogo de exercício.
• Jogo simbólico.
• Jogo de regras.
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O exercício, o símbolo e a regra são as etapas que caracteri-


zam as grandes classes de jogo. O jogo realizado pela criança será
de acordo com a estrutura do pensamento dela em determinada
etapa de seu desenvolvimento; assim, para Piaget, ele não é senão
a assimilação da realidade conforme a estrutura do pensamento
(ELKONIN, 1980).
O jogo de exercício refere-se ao desenvolvimento sensório-
-motor da criança (0-2 anos). Após ela ter aprendido a agarrar, a
atirar etc., envolvendo tanto uma acomodação a novas situações
como esforços de repetição, reprodução e generalização (elemen-
tos da assimilação), realiza essas ações pelo prazer que acarretam,
e não por um esforço adicional, mas pelo simples fato de conseguir
dominá-las (BRUHNS, 1993).
Já o jogo simbólico surge ao final do segundo ano. É o faz de
conta; ele possibilita à criança utilizar um objeto como símbolo de
outra coisa, diferenciar o significante do significado. Dessa forma,
Piaget volta sua atenção, com maior interesse, ao jogo simbólico,
bem como à sua natureza e importância no desenvolvimento da
inteligência, e, de acordo com sua proposta, não há, nele, regras
pela simples preocupação com a satisfação individual.
Por fim, tem-se o jogo de regras, constituindo-se na ativida-
de lúdica do ser socializado. A regra supõe, necessariamente, rela-
ções sociais ou interindividuais, e, segundo Bruhns (1993), há dois
tipos de regras no jogo: espontâneas e transmitidas; as espontâne-
as são de natureza contratual e momentânea e provêm da sociali-
zação, da discussão e do consenso entre as pessoas participantes
do jogo; já as regras transmitidas são institucionais, impostas de
gerações a gerações.
Como parte integrante de um grupo e das regras que o re-
gem, a vivência possibilita à criança lidar com as reações deste em
relação aos seus comportamentos, bem como o que é esperado
dela, o que distingue e supõe consequências agradáveis e desa-

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gradáveis em determinadas circunstâncias. Com base nessas ex-


periências, ela passa a compreender as regras do jogo não só para
sua realidade, mas também pelo seu envolvimento em um grupo
social, no qual passa boa parte da vida.
Concluindo, o jogo de regras tem início por volta dos sete
anos, constituindo-se no estágio de jogo em que o adulto está in-
serido; entretanto, isso não significa que o símbolo e o exercício
estejam ausentes na idade adulta.
Vygotsky (1988), em sua abordagem sobre o jogo, acredita
que os processos psicológicos são construídos com base nas in-
junções do contexto sociocultural e que a brincadeira da criança
constitui a base de sua percepção em relação ao mundo.
A esse respeito, Leontiev (in VYGOTSKY, 1988, p. 125) diz
que o jogo surge na criança “[...] a partir de sua necessidade de
agir em relação não apenas ao mundo dos objetos diretamente
acessíveis a ela, mas também em relação ao mundo mais amplo
dos adultos”.
Soares et al. (1992, p. 67) ensinam que, nos anos iniciais do En-
sino Fundamental, os jogos devem ter as seguintes características:
• trabalhar o reconhecimento de si mesmo e das próprias
possibilidades de ação;
• possibilitar o reconhecimento das propriedades externas
dos materiais ou objetos utilizados para jogar, sejam estes
do ambiente natural ou construídos pelo homem;
• identificar as possibilidades de ação com os materiais ou
objetos e das relações destes com a natureza;
• implicar a inter-relação do pensamento sobre uma ação
com uma imagem e a conceituação verbal dela;
• possibilitar relações com outras matérias e disciplinas,
promovendo a interdisciplinaridade;
• implicar relações sociais entre criança-família, crianças-
-crianças, criança-professor, criança-adultos;
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• implicar a vida de trabalho do homem, da própria comu-


nidade, das diversas regiões do país e de outros países;
• implicar o sentido da convivência com o coletivo, suas re-
gras e valores que envolvem;
• trabalhar a auto-organização;
• possibilitar a auto-avaliação e avaliação coletiva das pró-
prias atividades;
• permitir a elaboração de brinquedos, tanto para jogar em
grupo como para jogar sozinho;
• propiciar o desenvolvimento da capacidade de organizar
os próprios jogos e decidir as regras, entendo-as e acei-
tando-as como exigência do coletivo.
Freire e Scaglia (2003, p. 62), em relação aos jogos e brinca-
deiras simbólicos na Educação Infantil, afirmam que:
o professor pode brincar de viagem ao espaço, na selva, de circo,
pega-pega imitando bichos, pedir aos alunos que inventem brinca-
deiras e as coloquem em prática, brincar de banda de música e ao
final da aula, conversar com os alunos sobre as atividades. Também
poderão ser contadas histórias e cada grupo de crianças monta a
história com os objetos, se organizar em grupos, cada grupo com
objetos de determinada cor, alterar a cor da construção de cada
grupo, alterar a constituição dos grupos, organizar um grupo com
objetos grandes e outro com objetos pequenos, organizar um gru-
po com objetos largos e outro com objetos estreitos, combinar em
cada grupo, duas cores e um tema, fazer combinações até o limite
das possibilidades dos alunos, sentar-se com os alunos ao final da
aula e conversar sobre tudo o que foi feito.

Nas aulas de Educação Física, também podem ser construí-


dos materiais pedagógicos para a utilização nas brincadeiras e jo-
gos, e, dentre eles, podemos destacar a construção de cilindros,
pirâmides e paralelepípedos com caixas de papelão. Cada uma
dessas formas geométricas terá quatro tamanhos diferentes, de
modo que cada uma terá um tamanho e uma cor (vermelho, ver-
de, amarelo e azul), formando, assim, 64 combinações de formas,
tamanhos e cores.
Pode-se utilizar, também, os bastões de madeira, que podem
ser construídos com cabos de vassoura, devendo ser cortados em

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dez tamanhos diferentes (em centímetros), e cada tamanho deve-


rá ter quatro cores diferentes, iguais às das caixas; dessa forma,
haverá 40 bastões.
As garrafas de plástico podem ser de qualquer tipo, porém,
precisam ser de tamanhos diferentes e devem ser pintadas nas
cores já mencionadas para as caixas de papelão; uma parte das
garrafas deve ser transparente e conter areia, considerando a se-
guinte medida: cheias, quase cheias, metade cheias, totalmente
vazias.
As bolas de meia podem ser confeccionadas com meias já
usadas e de materiais como plástico, papel e areia; além disso, po-
dem ser constituídos conjuntos, considerando as seguintes carac-
terísticas:
• bolas pequenas e leves; pequenas e pesadas;
• bolas grandes e leves; grandes e pesadas;
• bolas médias e leves; médias e pesadas.
Os arcos devem ser de plástico nas quatro cores já mencio-
nadas e ter diferentes tamanhos; as tampas de garrafas podem ser
pintadas nas quatro cores, podendo ser de plástico ou metal. Para
finalizar, as cordas devem ser de sisal ou de algodão, cada uma
com, aproximadamente, seis (6) centímetros de comprimento e
em cores diferentes.
Freire e Scaglia (2003, p. 63) acrescentam, ainda, que “todos
estes materiais podem ser construídos junto com as crianças nas
aulas de Educação Física e utilizados nesta disciplina e em outras
em que forem adequados” e, também, podem ser usados em di-
ferentes atividades, como, por exemplo, usar as caixas de papelão
como blocos de construção de uma casa de diferentes cores; usar
os bastões de madeira para brincar de circo, fazendo malabarismos
e equilibrando as peças nas diversas partes do corpo; as garrafas
também podem ser usadas para equilíbrio ou rolamento; as bolas
de meia podem ser úteis em diferentes jogos, como queimada e
© U2 - Conteúdos da Educação Física na Escola 67

lenço-atrás; os arcos para bambolear; as tampas de garrafa para


compor jogos de mesa ou chão em que são deslizadas, montagem
de jogo de dama ou outros jogos de tabuleiro; e as cordas podem
servir para brincadeiras tradicionais de cordas, explorando suas
cores, tamanhos, diversas possibilidades e níveis de adaptação da
brincadeira.
Em relação aos jogos de construção, também é possível uti-
lizar esses materiais que mencionamos. Veja como fazer isso em
sua prática pedagógica:
Na Educação Infantil, você pode contar uma história e, em
seguida, pedir às crianças que usem o material construído ante-
riormente para montá-la; pode conversar com elas sobre o circo,
e, assim, cada criança ou grupo poderá assumir um personagem,
desenvolvendo, com o material, um grande espetáculo. Como
exemplo de atividade, você pode contar a história dos Três Porqui-
nhos e fazer que cada grupo construa a sua casinha: uma para o
porquinho preguiçoso, uma para o apressado e outra para o prá-
tico; desse modo, a história poderá ser encenada, cabendo a você
(professor) o papel de lobo mau.
Saiba que os materiais também poderão ser usados para
a realização de construções de várias cores, tamanhos, formas e
pesos, usando as formas geométricas e todos os tipos de objetos
e temas atuais, como campos de futebol, cidades, seres do mar,
florestas etc.
Utilizar o malabarismo também é bem interessante, usar
mãos, pés, queixo, brincar de acertar alvos mais distantes, próxi-
mos, altos, baixos, largos, estreitos, usando bolas de pesos, ma-
teriais de tamanhos diferentes, pega-pega em círculos, brincar de
amarelinha, em que cada casa da amarelinha pode ser uma figura
geométrica.
Nos anos iniciais do Ensino Fundamental, os jogos de regras
ganham mais destaque entre as crianças, uma vez que o domí-
nio e a compreensão daquelas são maiores. Portanto, nas aulas de

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68 © Fundamentos e Métodos do Ensino da Educação Física

Educação Física, nessa etapa da educação, podem ser realizadas


brincadeiras e jogos como:
a) mãe da rua;
b) lenço-atrás;
c) pega-pega simples;
d) pega-ajuda, pega-corrente;
e) corrida de estafetas;
f) esconde-esconde;
g) cabo de guerra;
h) dança das cadeiras;
i) zerinho;
j) nunca três;
k) pular corda e variações;
l) queimada e pique-bandeira.
As rodas cantadas também são muito interessantes, e, den-
tre elas, podemos destacar: escravos de Jó; diversas cantigas de
roda; produzir e desenhar os sons com pontos; fazer um levan-
tamento com a família sobre as cantigas de roda mais cantadas e
ensinar aos colegas de classe.
Dentre as brincadeiras populares, podem ser desenvolvidas
nas aulas de Educação Física aquelas com cordas, como pisar na
sombra; fazer levantamento de brincadeiras com os alunos e brin-
car do jeito deles; promover variações delas de acordo com o tema
sugerido; realizá-las dentro de sala de aula; perguntar para os fa-
miliares sobre brincadeiras populares da infância deles, como brin-
car de roubar o rabo do gato, brincar de gato e rato etc., e ensinar
os colegas de turma (FREIRE e SCAGLIA, 2003).
As atividades rítmicas e expressivas como conteúdos se ca-
racterizam como atividades de expressão e comunicação median-
te gestos e, também, mediante a presença de estímulos sonoros
como referência para o movimento corporal, como, por exemplo,
as danças e brincadeiras cantadas. Em relação à dança, a propos-
ta é complementar o trabalho já realizado nas aulas de Artes e
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expresso nos Parâmetros Curriculares Nacionais de Arte (BRASIL,


2000). Há de se destacar que:
A dança é considerada uma das formas mais antigas de manifestação
da expressão corporal; nasceu e teve seu desenvolvimento à medida
que o ser humano sentiu a necessidade de se comunicar e se ex-
pressar, sendo as primeiras danças de cunho imitativo, nas quais os
dançarinos simulavam os acontecimentos desejando que viessem a
se tornar realidade (GASPARI in DARIDO; MAITINO, 2004, p. 139).

Gaspari (in DARIDO; MAITINO, 2004) aponta, ainda, que, em


todas as épocas da História, a dança desempenhou, para os povos,
uma representação de suas manifestações e de seus estados de
espírito, bem como emoções, expressão e comunicação de suas
características culturais; dessa forma, por meio de gestos e mo-
vimentos, a dança representa as mais íntimas emoções, podendo
ser acompanhada ou não de música, canto ou ritmos peculiares.
Essa autora classifica, também, as danças étnicas, as quais
são manifestações de determinados povos, ligados a atributos di-
vinos e religiosos, tendo características que podem identificar uma
nação ou região; dentre essas danças, temos o tango, a valsa e a
dança do ventre.
Já as danças folclóricas abordam as tradições de determina-
dos povos ou regiões, sendo desenvolvidas em coletividade; den-
tre elas, temos a quadrilha, o xote, o maxixe etc.
As danças de salão ou sociais eram inicialmente realizadas
em aldeias e atualmente acontecem nos salões de dança. Como
exemplos de danças de salão atuais podemos citar o funk, o axé e
o forró; para as mais antigas, realizadas pela nobreza a fim de di-
versão, podemos apontar as sarabandas, as polcas e os minuetos.
A dança teatral ou artística ocorreu, principalmente, na
França, no século 17, caracterizando-se pelo espetáculo; são elas:
o ballet clássico, a dança moderna, o sapateado, o jazz e a dança-
-teatro.
Atualmente há um movimento de libertação das técnicas da
dança e o predomínio da dança livre e criativa (GASPARI in DARI-

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70 © Fundamentos e Métodos do Ensino da Educação Física

DO; MAITINO, 2004). Portanto, como você pôde ver, temos uma
diversidade cultural muito grande em nosso país, e, em relação às
danças, ampliam-se cada vez mais suas possibilidades, podendo
ser exploradas as danças regionais, das cidades e, também, aque-
las de outros países.
Nas aulas de Educação Física, você também poderá propor
pesquisas sobre danças e brincadeiras cantadas de regiões dife-
rentes e distantes e posteriormente promover pequenos festivais
ou apresentações envolvendo essas manifestações culturais.
Dentre as danças e atividades que podem ser desenvolvidas, po-
demos destacar as danças brasileiras, como samba, baião, valsa,
quadrilha, xaxado, maracatu; danças urbanas como rap, funk,
pagode, e danças de salão; danças eruditas, como clássicas, mo-
dernas, contemporâneas, jazz; danças e coreografias associadas a
manifestações musicais, como blocos de afoxé, olodum, timbalada;
lengalengas, brincadeiras de roda, cirandas e Escravos de Jó (BRA-
SIL, 2000, p. 53).

Podem ser criados, também, espaços para discutir o folclore


brasileiro, solicitando aos alunos uma pesquisa sobre esse tema
e organizando, posteriormente, a “Semana do Folclore” (FREIRE;
SCAGLIA, 2003).
Ainda sobre as danças, Soares et al. (1992) apresentam como
seus fundamentos:
• o ritmo (cadência, estruturas rítmicas);
• o espaço (formas, trajetos, volumes, direções e orienta-
ções);
• a energia (tensão, relaxamento, explosão).
Em relação ao conteúdo expressivo da dança, Freire e Scaglia
(2003, p. 84) sugerem os seguintes temas para as aulas:
[...] as ações da vida diária, os estados afetivos, as sensações corpo-
rais, os seres e fenômenos do mundo animal, vegetal e mineral, o
mundo do trabalho e da escola, os problemas sócio-políticos atuais.

Tanto na Educação Infantil quanto no Ensino Fundamental,


podem ser trabalhadas danças de livre interpretação de músicas di-
ferentes, danças de interpretação de temas figurados, danças com
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conteúdos relacionados à realidade social dos alunos e da comuni-


dade (criando e apresentando suas manifestações para a comunida-
de e a escola) e danças com interpretação técnica da representação
de temas da cultura nacional e internacional (SOARES et al., 1992).
Essas atividades devem ser adequadas aos interesses, aos objetivos
da aula e às necessidades e capacidades de cada aluno.
A partir de agora, estudaremos as três dimensões dos
conteúdos aplicados à Educação Física.

6. CONTEÚDOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA EM SUAS TRÊS


DIMENSÕES: CONCEITUAIS, PROCEDIMENTAIS E ATIͳ
TUDINAIS
Os conteúdos conceituais compreendem a aprendizagem
dos fatos e conceitos; contudo, ela não pode ser trabalhada de
forma isolada em relação às demais dimensões dos conteúdos, ou
seja, em relação aos procedimentos e atitudes. Para a aprendiza-
gem de fatos e dados, é necessária a repetição para a memoriza-
ção, porém, esta é insuficiente para a aprendizagem dos conceitos
que demandam, também, a compreensão.
Dentre os conceitos, podemos caracterizar os princípios, que
são conceitos muito gerais e de alto nível de abstração, e os con-
ceitos específicos, como, por exemplo, o conceito de democracia,
energia e combustão (COLL et al., 1998).
Na Educação Física, trabalhar a dimensão conceitual nos diferen-
tes conteúdos da cultura corporal do movimento é fundamental e
pode ser concretizado quando o professor cria condições para que os
alunos conheçam as transformações por que passou a sociedade em
relação aos hábitos de vida, como diminuição do trabalho corporal
em função das novas tecnologias e relacionem estas transformações
com as necessidades atuais de atividade física; permitindo que os
alunos conheçam as mudanças pelas quais passaram os esportes e
conhecer os modos corretos de execução de vários exercícios e prá-
ticas corporais cotidianas, como: levantar um objeto do chão, sentar-
-se à frente do computador e como realizar um exercício adequada-
mente (DARIDO in DARIDO; RANGEL, 2005, p. 65-66).

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72 © Fundamentos e Métodos do Ensino da Educação Física

É interessante destacar que também trabalhamos essa di-


mensão do conteúdo (conceitual) ao incentivar os jovens ao há-
bito de leitura de jornais e revistas, nos quais é possível observar
críticas e reportagens sobre danças, esportes, lutas e ginásticas, a
assistir a filmes, documentários, reportagens de televisão e rádio,
a fazer análise e discutir sobre, por exemplo, a inclusão de pessoas
em esportes, jogos, lutas e danças; ademais, quando cultivamos a
cultura corporal de movimento por meio da cultura corporal (re-
gional, folclórica etc.) e quando informamos aos alunos sobre as
variadas manifestações da cultura em diferentes contextos e épo-
cas, permitindo que eles compreendam essas experiências (GAS-
PARI in DARIDO; MAITINO, 2004).
Segundo Coll et al. (1998), os conteúdos procedimentais
compreendem um conjunto de ações ordenadas, orientadas para a
consecução de uma meta; esses autores ensinam, ainda, que o pro-
cedimento se refere a uma atuação, embora esta seja ordenada e
se oriente pela consecução de uma meta. Dessa forma, a aprendiza-
gem dos alunos deve ser orientada para a execução de um conjunto
de ações cuja realização permita chegar a determinadas metas.
Nas aulas de Educação Física, a dimensão procedimental
pode ser trabalhada por meio da:
[...] vivência e aquisição de alguns fundamentos básicos dos es-
portes, danças, ginásticas, lutas, capoeira; vivência de diferentes
ritmos e movimentos relacionados às danças, como as danças de
salão, regionais e outras; vivência de situações de brincadeiras e
jogos (DARIDO in DARIDO; RANGEL, 2005, p. 66).

Os conteúdos atitudinais são caracterizados pela aprendiza-


gem de atitudes. Segundo Coll et al. (1998, p. 121):
uma atitude é formulada sempre como uma propriedade da perso-
nalidade individual, por mais que a sua gênese se deva a fatores so-
ciais. Uma atitude é menos duradoura que o temperamento, mas é
mais duradoura que um motivo ou um humor ou estado de ânimo.
Embora os determinantes principais das atitudes sejam entendidos
em termos de influências sociais, tais como normas, papéis, valores
ou crenças, isso não as distingue por completo de outros constru-
tos de personalidade.
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Assim, ainda de acordo com esses autores, as atitudes po-


dem ser definidas como:
[...] tendências ou disposições adquiridas e relativamente duradou-
ras a avaliar de um modo determinado um objeto, pessoa, aconte-
cimento ou situação e a atuar de acordo com essa avaliação (COLL
et al., 1998, p. 122).

A formação e a mudança das atitudes operam sempre com


três componentes que se relacionam:
• Cognitivo (conhecimentos e crenças).
• Afetivo (sentimentos e preferências).
• Conduta (ações manifestas e declarações de intenções).
Na Educação Física, trabalhamos a dimensão atitudinal
quando criamos condições para que:
[...] os alunos valorizem o patrimônio dos jogos, brincadeiras e de-
mais manifestações da cultura corporal do movimento; quando en-
sinamos a respeitar os adversários ou parceiros e resolver os pro-
blemas com atitudes de diálogo e não violência; quando se dispõe
a participar de atividades em grupos, cooperando e interagindo
com os colegas; quando reconhecem e valorizam atitudes não pre-
conceituosas quanto aos níveis de habilidades, sexo, religião, etnia,
etc. (DARIDO in DARIDO; RANGEL, 2005, p. 66).

Darido (in DARIDO; RANGEL, 2005) ressalta, ainda, que não


há como dividir, na prática docente, esses conteúdos nas três di-
mensões, uma vez que eles se apresentam inter-relacionados.

7. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Confira, a seguir, as questões propostas para verificar o seu
desempenho no estudo desta unidade:
1) Vimos, nesta unidade, que existem três dimensões presentes no ensino da
Educação Física Escolar. Apresente quais são elas e as características de cada
uma. Confira sua resposta retomando o conteúdo do Tópico 5.

2) Os Parâmetros Curriculares Nacionais de Educação Física do Ensino Funda-


mental apresentam os conteúdos organizados em blocos que se relacionam

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74 © Fundamentos e Métodos do Ensino da Educação Física

entre si. Você seria capaz de descrever quais são esses conteúdos e selecio-
nar um deles? Poderia dar informações pormenorizadas a respeito daquele
que foi selecionado? Se não ficou claro esses pontos, é preciso que você
retome o conteúdo estudado, a fim de tirar todas as suas dúvidas.

8. CONSIDERAÇÕES
Nesta unidade, estudamos os conteúdos da Educação Física
na escola, considerando a Cultura Corporal de Movimento e como
esses conteúdos podem ser desenvolvidos em suas três dimen-
sões: conceituais, procedimentais e atitudinais.
Apresentamos, ainda, uma série de propostas de atividades
que podem ser desenvolvidas tanto na Educação Infantil quanto
nos anos iniciais do Ensino Fundamental.
Pudemos perceber, portanto, que o processo de ensino-
-aprendizagem dos conteúdos da Educação Física deve se voltar
à preparação dos alunos, para que estes enfrentem as exigências
da vida social, para o exercício da cidadania e para as lutas pela
melhoria das condições de vida, do trabalho e do lazer.

9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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fundamental – educação física. 2. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2000.
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C. A. Educação física na escola: implicações para a prática pedagógica. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2005.
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