Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Teoria Da Resposta Ao Item Aplicada Ao Inventário de Depressão Beck
Teoria Da Resposta Ao Item Aplicada Ao Inventário de Depressão Beck
Teoria Da Resposta Ao Item Aplicada Ao Inventário de Depressão Beck
O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UFRGS na reunião nº 37, ata nº 117,
de 30 de outubro de 2008.
Correspondência: Stela Maris de Jezus Castro. Rua João Mendes Ouriques, 650, Ipanema, Porto
Alegre, RS - CEP: 91760-450. E-mail: stela.castro@ufrgs.br.
The Beck Depression Inventory (BDI), a scale Variáveis latentes, referidas por traços
that measures the latent trait intensity of latentes, são entidades não observáveis e
depression symptoms, can be assessed by devem ser inferidas a partir da observa-
the Item Response Theory (IRT). This study ção de variáveis secundárias que tenham
used the Graded-Response model (GRM) to relação com ela. Para isso são em geral uti-
assess the intensity of depressive symptoms lizados instrumentos de medidas (escalas)
in 4,025 individuals who responded to the compostos por um conjunto de itens, cujas
BDI, in order to efficiently use the informa- respostas são categorias (ordenadas ou
tion available on different aspects enabled não) que servem para estimar as variáveis
by the use of this methodology. The fit of this secundárias, podendo, assim, estimar os
model was done in PARSCALE software. We traços latentes dos indivíduos.
identified 13 items of the BDI in which at O Inventário de Depressão Beck (BDI)1
least one response category was not more é um exemplo deste tipo de instrumento
likely than others to be chosen, so that the- de medida, pois é composto por um grupo
se items had to be categorized again. The de itens que pretende medir o traço latente
items with greater power of discrimination intensidade de sintomas depressivos, o qual
were sadness, pessimism, feeling of failure, é de extrema relevância para se verificar o
dissatisfaction, self-hatred, indecision, and estágio da depressão e avaliar o seu desfe-
difficulty of work. The most serious items cho. A depressão é um construto psicoló-
were weight loss, suicidal ideas, and social gico, biológico e social de alta prevalência.
withdrawal. The group of 202 individuals Estudos epidemiológicos apresentam a
with the highest levels of depressive symp- prevalência anual da depressão na popu-
toms was comprised by 74% of women and lação geral, variando entre 3% e 11%2,3, e a
almost 84% had a diagnosis of a psychiatric prevalência para a vida inteira em 16,2%3.
disorder. The results show gains resulting No Brasil, os estudos apontam a prevalência
from use of IRT in the analysis of latent traits. da depressão para a vida inteira entre 2,8%
e 19,2%4,5.
Keywords: Item Response Theory. Latent Até recentemente, a modelagem esta-
trait. Intensity of depressive symptoms. tística mais utilizada na estimação do traço
Beck Depression Inventory. latente era a Teoria Clássica de Teste (TCT)6,
que utiliza o escore total como estimativa
para o traço latente do indivíduo. Uma revi-
são desta metodologia pode ser encontrada
no trabalho de DeVellis7. Apesar de a TCT
ter tido grande importância e ter sido extre-
mamente útil, diversos autores têm citado
várias limitações do método8, as quais estão
solucionadas na teoria de medida chamada
Teoria da Resposta ao Item9.
A Teoria da Resposta ao Item (TRI), já
bastante utilizada na área psiquiátrica10-12,
compreende um grupo de modelos lineares
generalizados e procedimentos estatísticos
associados que descrevem a relação entre
as respostas aos itens (amostra de compor-
tamento) e um traço latente. O alvo de um
modelo TRI é o encontro de um indivíduo
com um item. O padrão de respostas do
Rev Bras Epidemiol Teoria da resposta ao item aplicada ao Inventário de Depressão Beck
2010; 13(3): 487-501
488 Castro,S.M.J. et al.
indivíduo a um particular grupo de itens conforme os itens do BDI). Estes modelos
fornece a base para a estimativa do traço também são diferenciados de acordo com
latente. Nos modelos da TRI, os parâme- seu número de parâmetros. Eles podem ter
tros dos itens e os níveis do traço latente 1, 2 ou 3 parâmetros, sendo: um parâme-
do indivíduo são independentes; eles são tro de dificuldade do item (gravidade do
expressos no nível da resposta observada sintoma depressivo, no caso do BDI), um
do item; a contribuição de cada item para parâmetro de discriminação do item, e um
a escala pode ser determinada através da parâmetro que representa a probabilidade
informação TRI; estão disponíveis métodos de os indivíduos apresentarem o sintoma
poderosos para detectar funcionamento di- depressivo descrito pelo item, mesmo quan-
ferencial de item (DIF) ou viés do item entre do têm baixo nível do traço latente.
populações ou subgrupos; e os escores dos Todos os itens do BDI têm quatro cate-
indivíduos podem ser equacionados (com- gorias de resposta e, por isso, um modelo
parados) mesmo quando eles respondem a unidimensional para resposta politômica
itens diferentes13. se mostra mais adequado. Além disso, di-
A TRI é de extrema relevância na análise ficilmente os 21 itens do BDI discriminam
de traços latentes, pois propicia um maior a população quanto ao traço latente com a
aproveitamento da informação, trabalhan- mesma intensidade; portanto, um modelo
do não somente com a classificação dos que permita que cada item tenha um valor
indivíduos quanto ao traço latente, como diferente para a discriminação, isto é, conte-
também trazendo informações sobre os nha o parâmetro de discriminação do item,
instrumentos de medida como um todo e, parece se adequar melhor. Diante disso, o
principalmente, item a item. Sendo assim, presente estudo tem por objetivo caracteri-
a TRI é um procedimento mais sofisticado zar o modelo da TRI de Resposta Gradual de
que aproveita melhor a informação dispo- Samejima (1969)14, aplicando-o na avaliação
nível nos itens, podendo melhorar sensi- da intensidade de sintomas depressivos de
velmente a medida do traço latente, pois indivíduos que responderam ao BDI, de
este é calculado considerando diferentes modo a explorar a informação disponível
pesos para os itens de acordo com sua nos diferentes aspectos possibilitados pelo
importância em relação ao traço que está uso desta metodologia.
sendo medido.
Os modelos da TRI podem ser divididos Método
em modelos cumulativos e modelos de
desdobramento. Os modelos da TRI cumu- Fonte de dados
lativos podem ser classificados de acordo
com sua dimensionalidade (unidimensio- Os indivíduos são provenientes de um
nais ou multidimensionais). Os modelos da estudo transversal conduzido para realizar
TRI unidimensionais descrevem a relação a adaptação, normatização e validação para
entre as respostas observadas ao item e o português das Escalas Beck, em um estudo
um traço latente, usualmente simbolizado conduzido pela Dra. Jurema Alcides Cunha
por q, que forma a base destas respostas. e publicado em 200115. Os 4.025 sujeitos do
Eles são apropriados para dados nos quais estudo estão distribuídos em três grandes
um único fator comum está sendo avaliado grupos: grupo 1 - pacientes psiquiátricos (n
pelos itens. Entre os modelos unidimensio- = 1.138); grupo 2 - pacientes de clínica médi-
nais encontram-se os modelos para dados ca (n = 490); grupo 3 - amostra não-clínica,
dicotômicos (que apresentam o sintoma constituída por grupos da população geral
depressivo ou não apresentam o sintoma (n = 2.397).
depressivo, o sucesso ou o fracasso) e os Todos os participantes responderam
modelos para dados politômicos (itens ao BDI, composto por uma escala de auto-
com mais de duas categorias de resposta, relato de 21 itens, cada um com quatro afir-
Rev Bras Epidemiol Teoria da resposta ao item aplicada ao Inventário de Depressão Beck
2010; 13(3): 487-501
490 Castro,S.M.J. et al.
4.1. Neste, a estimativa dos parâmetros do (curva 2) e os indivíduos com intensidade de
modelo GRM é feita de modo que os bi,k sintomas depressivos entre 1,280 e 1,897 são
entre categorias são particionados em dois mais prováveis de escolherem a categoria 3
termos: um parâmetro de posição (bi) para (curva 3). Por último, a maior probabilidade
cada item, e um grupo de parâmetros ci,k de responder a categoria 4 (curva 4) é dos
para cada item, ou seja, bi,k = bi – ci,k . No caso indivíduos com intensidade de sintomas
do traço latente Intensidade de Sintomas depressivos a partir de 1,897.
Depressivos, os parâmetros de posição (bi) A partir dos modelos da TRI também
podem ser interpretados como uma medida são produzidas as Curvas de Informação do
de gravidade do sintoma avaliado por um Item, que são bastante utilizadas em con-
determinado item 19 e os parâmetros c i,k junto com as Curvas de Categoria de Res-
representam as distâncias entre os pontos posta, e a Curva de Informação do Teste. As
de interseção entre as curvas de categorias Curvas de Informação do Item (construídas
de resposta para cada item. a partir das funções de informações do item)
A escala das estimativas de intensidade permitem analisar quanto um item contém
de sintomas depressivos (nomeadas aqui de informação para a medida do traço
de escores da TRI) é arbitrária, onde o que latente; isto é, aqui elas indicam a quan-
importa são as relações de ordem existentes tidade de informação psicométrica com
entre seus pontos e não necessariamen- que um determinado sintoma depressivo
te sua magnitude. Assim, pode assumir contribui para a medida de intensidade de
qualquer valor real entre –∞ e +∞, havendo sintomas depressivos e, mais ainda, em que
necessidade de se definir uma origem e uma intervalo desta medida este sintoma é mais
unidade de medida para a mesma. Neste informativo. É com esta característica que
estudo, foi definido que os escores TRI tives- se pode avaliar quais sintomas depressivos
sem média zero e desvio padrão um (escala discriminam melhor a população quanto
(0,1)). O parâmetro de gravidade do sintoma à intensidade de sintomas depressivos17.
(bi) é medido na mesma unidade dos escores Nos modelos da TRI politômicos, a quan-
TRI, sendo assim comparável a eles. tidade de informação que um item fornece
Na Figura 1a está a representação gráfica depende tanto da magnitude do parâmetro
deste modelo para o item 1 (tristeza) do BDI, de inclinação (ai) como da distribuição dos
com 4 categorias de resposta medindo a pontos de interseção entre as categorias de
intensidade de sintomas depressivos com resposta bi,k ao longo do continuum traço
as seguintes estimativas dos parâmetros: â1 latente. Por exemplo, a curva de informação
^ ^ ^
= 1,478, b1,1 = 0,153, b1,2 = 1,280 e b1,3 = 1,897, do item 1 do BDI (Figura 1b) mostra que
onde as categorias de resposta são: a região de maior concentração da infor-
mação está entre, aproximadamente, 0,7
1 Não me sinto triste. e 1,7 na escala de intensidade de sintomas
2 Eu me sinto triste. depressivos. Isto significa que o sintoma
3 Estou sempre triste e não consigo sair depressivo tristeza discrimina melhor os
disto. indivíduos que têm sua intensidade de sin-
4 Estou tão triste ou infeliz que não con- tomas depressivos neste intervalo.
sigo suportar. A Curva de Informação do Teste é
uma representação gráfica da função de
Pode-se observar nesta figura que os informação do teste. Esta é uma função
indivíduos com intensidade de sintomas aditiva do grupo de itens que compõe o
depressivos até 0,153 têm a maior proba- teste (por exemplo, o BDI), de modo que
bilidade de responder à categoria 1 (curva resume a contribuição de cada item deste
1), indivíduos com intensidade de sintomas para a informação total. A quantidade total
depressivos entre 0,153 e 1,280 têm maior de informação fornecida por um grupo de
probabilidade de responder à categoria 2 itens para cada nível do traço latente está
Rev Bras Epidemiol Teoria da resposta ao item aplicada ao Inventário de Depressão Beck
2010; 13(3): 487-501
492 Castro,S.M.J. et al.
modelos TRI possam ser utilizados. Em vista dade dos indivíduos declarou-se branca e
disso, foi avaliada a unidimensionalidade pouco mais da metade é solteira. Quanto à
do BDI através do procedimento conhecido escolaridade, eles se distribuem quase que
como Análise Paralela20,25-28, viabilizada atra- igualmente nas categorias até ensino médio
vés do uso de uma macro29 do SAS versão completo, sendo menos frequentes aqueles
9.1.3 (SAS Institute, Cary, NC, USA). Este com ensino superior completo. A idade
procedimento envolve a comparação dos média dos indivíduos é de 32 anos (desvio
autovalores de uma análise de componen- padrão de 15,1 anos), sendo que o grupo da
tes principais feita com os dados reais com clínica médica é, em média, o mais velho.
uma estatística resumo dos autovalores de O resultado da análise paralela mostrou
amostras de dados simulados com o mes- que a suposição de unidimensionalidade
mo número de observações e variáveis dos pode ser considerada suficiente19,30, pois foi
dados reais (neste caso, 4.025 observações encontrado um fator preponderante com
e 21 variáveis). As amostras simuladas são 38,7% de explicação da variação total.
não correlacionadas e são geradas através O ajuste do modelo de Resposta Gradual
do método de Monte Carlo (foram geradas mostrou, a partir das curvas produzidas pela
5.000 amostras e a estatística resumo utili- expressão (1), que, para treze dos vinte e
zada foi a mediana). um itens do BDI, pelo menos uma das ca-
tegorias de resposta não tem probabilidade
Resultados maior do que as outras de ser respondida
para nenhum nível de intensidade de sin-
As características demográficas da tomas depressivos, como pode ser visua-
amostra encontram-se na Tabela 1. Os indi- lizado na Figura 2a para o item relativo ao
víduos estão divididos quase que igualmen- pessimismo (item 2). Uma das possíveis
te entre homens e mulheres, com pequena explicações para este fato é que os itens
vantagem para as últimas. A quase totali- relativos a pessimismo, insatisfações, culpa,
Figura 2 - Curvas de categoria de resposta para o item 2 do BDI, cujos escores significam:
(a) Curva 1: Não estou especialmente desanimado quanto ao futuro. Curva 2: Eu me sinto
desanimado quanto ao futuro. Curva 3: Acho que nada tenho a esperar. Curva 4: Acho o futuro
sem esperança e tenho a impressão de que as coisas não podem melhorar. (b) Curva 1: Não
estou especialmente desanimado quanto ao futuro. Curva 2: Eu me sinto desanimado quanto
ao futuro. Curva 3: Acho que nada tenho a esperar. Acho o futuro sem esperança e tenho a
impressão de que as coisas não podem melhorar.
Figure 2 - Category of Response Curve of item 2 of the BDI, mean scores: (a) Curve 1: I am not
particularly discouraged about the future. Curve 2: I feel discouraged about the future. Curve 3: I think
I have nothing to expect. Curve 4: I think there is no hope in the future and I have the impression that
things can not improve. (b) Curve 1: I am not particularly discouraged about the future. Curve 2: I feel
discouraged about the future. Curve 3: I think I have nothing to expect OR I think there is no hope for
the future and I have the impression that things can not improve.
Rev Bras Epidemiol Teoria da resposta ao item aplicada ao Inventário de Depressão Beck
2010; 13(3): 487-501
494 Castro,S.M.J. et al.
do modelo de Resposta Gradual para o BDI que os itens relacionados à culpa (item
com itens recategorizados, as estimativas 5) e idéias suicidas (item 9) também têm
dos parâmetros do modelo estão apresen- suas estimativas do parâmetro de incli-
tadas na Tabela 2. nação maiores do que 1 (â5 = 1,172 e â9 =
A partir da Curvas de Informação do 1,078 - Tabela 2); no entanto, sua curva de
Item, que são fortemente influenciadas informação do item revela que estes itens
pelo parâmetro de inclinação (ai - Tabela são pobres em relação à capacidade de
2), observa-se que, considerando como discriminação. O item relativo à irritabi-
ponto de corte o número um16,19 nas esti- lidade (item 11) é o que menos contribui
mativas deste parâmetro para identificar com informação para a medida de inten-
os itens como tendo boa discriminação (ai sidade de sintomas depressivos. Traçando
> 1), os itens relativos à tristeza, pessimis- uma linha horizontal no ponto igual a 1 da
mo, sentimento de fracasso, insatisfação, função de informação do item, observa-se
auto-aversão, indecisão e dificuldade de que o item relativo a sentimento de fra-
trabalhar (itens 1, 2, 3, 4, 7, 13 e 15, res- casso tem maior poder de discriminação
pectivamente) são aqueles que mais infor- da população quanto à intensidade de
mação fornecem à medida de intensidade sintomas depressivos quando o escore
de sintomas depressivos, podendo, deste da TRI está no intervalo de [0,7;2], o que
modo, melhor discriminar a população equivale aproximadamente ao intervalo
quanto a este traço latente. Cabe ressaltar [21;35] na escala do escore total. O item
Rev Bras Epidemiol Teoria da resposta ao item aplicada ao Inventário de Depressão Beck
2010; 13(3): 487-501
496 Castro,S.M.J. et al.
entram com o mesmo peso13. vai de 1,3 a 2,2, o que equivale a 27 a 37
Outro ganho substancial dos mo- no escore total.
delos da TRI é a geração das curvas de Já no estudo de Uher et al.11 são utiliza-
categoria de resposta, as quais permitem dos outros pontos de corte para o parâme-
que se observe a relação entre o nível de tro de inclinação do item (ai), este sendo
intensidade de sintomas depressivos e utilizado diretamente como o parâmetro
a probabilidade de se escolher uma de- de discriminação do item no modelo de
terminada categoria, pois através delas resposta gradual. Estes pontos de corte
pode-se constatar se algum item está com classificam os itens em três grupos: itens
categorias mal dimensionadas, como foi o com baixa discriminação (ai < 65); itens
caso neste estudo. Este achado sugere que com discriminação moderada (0,65 ≤ ai
os indivíduos que responderam o BDI não ≤ 1,34), e itens com alta discriminação
conseguem distinguir algumas afirmações (ai > 1,34). Considerando este critério, os
nas categorias de resposta de determina- itens que apresentam alta discriminação
dos itens, mostrando a necessidade de se são tristeza, pessimismo, sentimento
repensar o dimensionamento da escala. de fracasso, insatisfação e auto-aversão
Aqui, este problema apareceu em treze (Tabela 2), sendo que, com exceção do
itens, entre os quais dois que se referem a último, estes itens também estão classifi-
sintomas que carregam uma grande quan- cados neste grupo no trabalho de Uher et
tidade de informação psicométrica sobre al.11 Indecisão e dificuldade de trabalhar
a intensidade de sintomas depressivos: ficam, agora, no grupo com moderada
pessimismo e insatisfações. Uma solução discriminação junto a todos os outros,
possível foi a que se fez uso neste estudo, com exceção de irritabilidade e perda de
ou seja, juntar categorias de resposta peso, que são os únicos itens classificados
adjacentes àquela com problema, pois é como tendo baixa discriminação por este
provável que os indivíduos não tenham critério (Tabela 2).
distinguido os conteúdos das afirmações O valor encontrado para o percentil
contidas nestas categorias. 95 do escore da TRI, equivalente a 31 no
A definição de quais itens carregam escore total, se enquadra na classificação
maior quantidade de informação psico- moderada para a intensidade de sintomas
métrica sobre a intensidade de sintomas depressivos. Neste grupo, onde todos os
depressivos, sendo desta forma aqueles 202 indivíduos são classificados como ten-
que mais discriminam a população quan- do intensidade de sintomas depressivos de
to ao traço latente, pode se basear no pon- moderada a grave (seus escores da TRI são
to de corte igual a 116,17 para as estimativas no mínimo iguais ao percentil 95), quase
da função de informação do item, pois 75% são mulheres, o que está de acordo
esta é influenciada pela magnitude das com a evidência de que a prevalência de
estimativas do parâmetro de inclinação depressão em mulheres é de duas a três
no modelo de Resposta Gradual. Neste vezes a dos homens31.
contexto, é interessante observar que, As estimativas dos pontos de interse-
dos sete itens que melhor discriminam ção (bi,k) são particionadas em dois ter-
os indivíduos quanto à intensidade de mos, sendo um deles (bi ) um parâmetro de
sintomas depressivos, seis têm sua melhor posição que pode ser interpretado como
performance na região deste traço latente uma medida da gravidade do sintoma
classificada como de intensidade de sin- depressivo representado por um deter-
tomas depressivos moderada15. Apenas o minado item do BDI. Isto possibilita que
item relativo à auto-aversão se mantém se façam comparações de resultados com
discriminando bem também na região modelos TRI para respostas dicotômicas,
da intensidade de sintomas depressivos tais como os modelos de dois ou três parâ-
graves, pois seu intervalo no escore TRI metros (ambos incluem parâmetros de in-
Rev Bras Epidemiol Teoria da resposta ao item aplicada ao Inventário de Depressão Beck
2010; 13(3): 487-501
498 Castro,S.M.J. et al.
Quadro 1 - Quadro comparativo do respectivo escore TRI* para indivíduos com escore total 10, com diferentes padrões
de resposta.
Chart 1 - Comparative table of IRT scores* for individuals with total score 10 and different patterns of response.
Referências
1. Fleck MP, Lafer B, Sougey EB, Del Porto JA, Brasil 4. Theme-Filha MM, Szwarcwald CL, Souza-Junior PR.
MA, Juruena MF. [Guidelines of the Brazilian Medical Socio-demographic characteristics, treatment coverage,
Association for the treatment of depression (complete and self-rated health of individuals who reported six
version)]. Rev Bras Psiquiatr 2003; 25: 114-22. chronic diseases in Brazil, 2003. Cad Saúde Pública 2005;
21: 43-53.
2. Kessler RC, Berglund P, Demler O et al. The
epidemiology of major depressive disorder: results from 5. Lopez AD, Mathers CD, Ezzati M, Jamison DT, Murray
the National Comorbidity Survey Replication (NCS-R). CJ. Global and regional burden of disease and risk
JAMA 2003; 289: 3095-105. factors, 2001: systematic analysis of population health
data. Lancet 2006; 367: 1747-57.
3. Almeida-Filho N, MariJ.J., Coutinho E, et al.
Brazilian multicentric study of psychiatric morbidity. 6. Beck, AT, Steer, RA. Beck Depression Inventory. Manual.
Methodological features and prevalence estimates. Br J San Antonio, TX: Psychological Corporation; 1993.
Psychiatry 1997; 171: 524-9.
7. Lord, FM, Novick MR. Statistical theories of mental test
scores. Reading, MA; 1968.
10. Chachamovich, E. Teoria de Resposta ao Item: Aplicação 25. Glorfeld LW. An improvement on Horn´s Parallel
do modelo Rasch em desenvolvimento e validação de Analysis Methodology for selecting the correct number
instrumentos em saúde mental [tese de doutorado]. Rio of factors to retain. Educational and Psychological
Grande do Sul: Faculdade de Medicina da UFRGS; 2008. Measurement 1995; 55: 377-93.
11. Uher R, Farmer A, Maier W et al. Measuring depression: 26. Hayton JC, Allen DG, Scarpello V. Factor Retention
comparison and integration of three scales in the Decisions in Exploratory Factor Analysis: a Tutorial on
GENDEP study. Psychol Med 2008; 38: 289-300. Parallel Analysis. Organizational Research Methods 2004;
7: 191-205.
12. Nuevo R, Dunn G, Dowrick C, Vazquez-Barquero JL,
Casey P, Dalgard OS et al. Cross-cultural equivalence of 27. Ledesma RD, Valero-Mora P. Determining the Number
the Beck Depression Inventory: A five-country analysis of Factors to Retain in EFA: an easy-to-use computer
from the ODIN study. J Affect Disord 2008. program for carrying out Parallel Analysis. Practical
Assessment, Research & Evaluation 2007; 12.
13. Uttaro T, Lehman A. Graded response modeling of the
Quality of Life Interview. Eval Program Plann 1999; 22: 28. Franklin SB, Gibson DJ, Robertson PA, Pohlmann JT,
41-52. Fralish JS. Parallel Analysis: a method for determining
significant principal components. J Vegetation Sci 1995;
14. Samejima, F. Estimation of latent ability using a response 6: 99-106.
pattern of graded scores. Psychometrika Monograph 17;
1969. 29. Determining the Dimensionality of Data: A SAS Macro
for Parallel Analysis. [Portland.: SUGI 28, Paper 90-28;
15. Cunha JA. Manual da versão em português das ESCALAS 2007].
BECK. São Paulo; 2001.
30. Kirisci L, Moss HB, Tarter RE. Psychometric evaluation
16. Andrade, D. F., Tavares, H. R., & Valle, R. C. Teoria of the Situational Confidence Questionnaire in
da Resposta ao Item: conceitos e aplicações. IN: 14º adolescents: fitting a graded item response model.
Simpósio Nacional de Probabilidade e Estatística; 2000 Addict Behav 1996; 21: 303-317.
jul 28; Caxambu (BR). ABE - Associação Brasileira de
Estatística. 31. Beyer JL, Nash J, Shelton R, Loosen PT. Transtorno
Depressivo maior. In: Artmed Editora, ed. Manual
17. Embretson SE, Reise SP. Item Response Theory for Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. 4 ed.
Psychologists. New Jersey: Lawrence Erlbaum Associates, Porto Alegre; 2000. p. 288-324.
Inc.; 2000.
32. Dickens C, McGowan L, Percival C et al. Depression is a
18. PARSCALE. [computer program]. Versão 4.1. Chicago risk factor for mortality after myocardial infarction: fact
(Illinois): Scientific Software International, Inc.; 2003. or artifact? J Am Coll Cardiol 2007; 49: 1834-40.
19. Cúri M. Análise de questionários com itens 33. Bogner HR, Morales KH, Post EP, Bruce ML. Diabetes,
constrangedores [tese de doutorado]. São Paulo: Instituto depression, and death: a randomized controlled trial of
de Matemática e Estatística da USP; 2006. a depression treatment program for older adults based
in primary care (PROSPECT). Diabetes Care 2007; 30:
20. Hays RD, Morales LS, Reise SP. Item response theory and 3005-3010.
health outcomes measurement in the 21st century. Med
Care 2000; 38: II28-42. 34. Collins-McNeil J, Holston EC, Edwards CL, Carbage-
Martin J, Benbow DL, Dixon TD. Depressive symptoms,
21. McHorney CA, Cohen AS. Equating health status cardiovascular risk, and diabetes self-care strategies
measures with item response theory: illustrations with in African American women with type 2 diabetes. Arch
functional status items. Med Care 2000; 38: II43-59. Psychiatr Nurs 2007; 21: 201-209.
22. Chan KS, Orlando M, Ghosh-Dastidar B, Duan N, 35. Golden SH, Lee HB, Schreiner PJ et al. Depression
Sherbourne CD. The interview mode effect on the and type 2 diabetes mellitus: the multiethnic study of
Center for Epidemiological Studies Depression (CES-D) atherosclerosis. Psychosom Med 2007; 69: 529-36.
scale: an item response theory analysis. Med Care 2004;
42: 281-9. 36. Kamphuis MH, Geerlings MI, Tijhuis MA et al. Physical
inactivity, depression, and risk of cardiovascular
23. Kim Y, Pilkonis PA, Frank E, Thase ME, Reynolds mortality. Med Sci Sports Exerc 2007; 39: 1693-9.
CF. Differential functioning of the Beck depression
inventory in late-life patients: use of item response 37. Knol MJ, Heerdink ER, Egberts AC et al. Depressive
theory. Psychol Aging 2002; 17: 379-91. symptoms in subjects with diagnosed and undiagnosed
type 2 diabetes. Psychosom Med 2007; 69: 300-5.
Rev Bras Epidemiol Teoria da resposta ao item aplicada ao Inventário de Depressão Beck
2010; 13(3): 487-501
500 Castro,S.M.J. et al.
38. Li C, Ford ES, Strine TW, Mokdad AH. Prevalence of 39. Moussavi S, Chatterji S, Verdes E, Tandon A, Patel V,
depression among U.S. adults with diabetes: findings Ustun B. Depression, chronic diseases, and decrements
from the 2006 behavioral risk factor surveillance system. in health: results from the World Health Surveys. Lancet
Diabetes Care 2008; 31: 105-7. 2007; 370: 851-8.