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JAPÃO
Processos históricos,
culturais e educacionais
Caio Rangel Rodrigues
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS – UFMG
HARPA NO JAPÃO
Processos históricos, culturais e educacionais
Belo Horizonte
2021
Caio Rangel Rodrigues
HARPA NO JAPÃO
Processos históricos, culturais e educacionais
Belo Horizonte
2021
AGRADECIMENTOS
Desde que me aventurei pelo mundo da harpa, houve pessoas que foram pioneiras em
meu aprendizado e, portanto, devo a elas meus agradecimentos. Quando uso o termo
aprendizado, não me refiro somente ao que aprendi academicamente, mas às novas concepções
que se abriram, ainda mais ao que tange as minhas percepções sobre o mundo, sobre o que é
real e sobre o que importa para mim. Devo minha eterna gratidão ao Doutor Marcelo Penido,
que foi responsável pela minha orientação neste trabalho e na realização do meu sonho em
estudar harpa. Sou grato a minha família, que sempre me apoiou e acreditou em meus estudos.
Agradeço profundamente aos meus amigos japoneses e chineses que, mesmo do outro
lado do mundo, apoiaram-me e confiaram em minhas habilidades. Ph.D. 河野真理江 Marie
Kono, por ser uma constante ajuda japonesa, pelas traduções e aconselhamentos. Juris Doctor
莫菲 MO Fei, por ser uma grande amiga, por estar comigo em decisões difíceis e por uma
doação financeira considerável para me ajudar e motivar minha carreira enquanto harpista.
Karinne Melo, por ter sido a base fundamental que me apoia nos meus estudos e planos futuros,
por ter me aconselhado e auxiliado de forma significativa neste trabalho. Thairo Rocha por me
guiar em meus aprendizados com a língua japonesa. E também, por fim, gostaria de deixar
minha imensa gratidão aos Caios de cada dia, que mesmo sendo diferentes uns dos outros, eles
coexistem em função da realização de um só propósito em minha vida, levando-me em direção
a um grande sonho.
Ainda que eu não o tenha visitado, o Japão me trouxe uma experiência única e imersiva
em cultura, educação e esperança por um futuro repleto de música, amizades, desenvolvimento
e mudanças. Por isso, a ele dedico este trabalho.
RESUMO
A música é essencial à cultura de todos os povos. No Japão, ela vem se manifestando há séculos
através do uso de vários instrumentos muito semelhantes à harpa ocidental, além dela mesma.
É possível afirmar que esse país foi influenciado culturalmente por vários outros e, a partir de
uma releitura, recriou estilos e instrumentos musicais ao seu modo. O objetivo deste trabalho é
observar como essas manifestações se deram ao longo do tempo e como as influências externas
moldaram a música, a cultura e a educação musical no país. Para isso, foi realizada uma revisão
bibliográfica em vários artigos, livros e outros meios de comunicação, a fim de comparar as
evidências e mapear os resultados pesquisados. O produto dessa investigação foi uma extensa
linha do tempo que aponta a grande influência estrangeira, como da China e dos países
ocidentais, desde os primórdios até os dias atuais. Além disso, destacam-se a elitização do
aprendizado dos instrumentos musicais e a notoriedade feminina no meio. Pode-se concluir que
a harpa, e suas variantes orientais, são de máxima importância à cultura japonesa e que as
influências estrangeiras não são modernas, mas, sim, fazem parte das raízes culturais do país,
que as absorve e as transforma a seu próprio gosto.
Music is essential to the culture of all nations. In Japan, it has been manifesting for centuries
through the use of various instruments very similar to the western harp, besides itself. It is
possible to claim that this country was culturally influenced by several others and, through a
rereading, it recreated styles and musical instruments in its own way. The objective of this work
is to observe how these manifestations took place over time and how external influences shaped
music, culture and musical education in the country. For this, a bibliographic review was carried
out in various articles, books and other media, in order to compare the evidences and map the
researched results. The product of this investigation was an extensive timeline that points to
great foreign influence, such as from China and Western countries, from the beginning to the
present day. Moreover, stand out the elitization of the musical instruments learning and the
female notoriety in this field. It can be concluded that the harp, and its oriental variants, are of
utmost importance to Japanese culture and that foreign influences are not modern, but are part
of the cultural roots of the country, which absorbs and transforms them in its own taste.
Figura 7 – Fuyuhiko Sasaki tocando o kugo, uma harpa ancestral japonesa, no seu trabalho “To
Be Human,” parte de uma série de programas apresentados no Merkin Concert Hall …...….19
1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................................09
2. MÚSICA TRADICIONAL JAPONESA...............................................................................10
2.1 Gagaku ..................................................................................................................10
2.2 Outros estilos tradicionais japoneses.....................................................................14
3. A HARPA NO JAPÃO..........................................................................................................16
3.1 O Koto...................................................................................................................20
3.2 História do Koto....................................................................................................21
3.3 Koto – período clássico..........................................................................................24
4. A CULTURA EDUCACIONAL QUE ATRAI O LADO OCIDENTAL E
ORIENTAL...............................................................................................................................29
5. CONCLUSÃO ......................................................................................................................34
REFERÊNCIAS........................................................................................................................37
9
1. INTRODUÇÃO
A Música tradicional japonesa é uma arte que se preocupa em combinar sons vocais
ou instrumentais para se expressar emocionalmente, valorizando a beleza da história e cultura
carregadas pelo país ao longo dos anos. A Coreia trouxe para o Japão muitas ideias musicais
chinesas, bem como exerceu influência por meio de sua cultura musical e músicas da corte
(A'ak). Apesar disso, em virtude do arquipélago que forma o Japão, é possível ressaltar que o
isolamento dessas ilhas permitiu que o país desenvolvesse suas próprias características sem as
intensas influências dos chineses e mongóis, tão evidentes nas outras culturas dos países
presentes no continente asiático. Portanto, podemos dizer que todos os elementos “estrangeiros”
falados neste trabalho são colocados na matriz de tradições e estilos que são caracteristicamente
japoneses.
O termo geral para música de orquestra da corte é chamado Gagaku. Esse termo é
herdado da China e Coreia, sendo assim é meramente uma pronúncia japonesa para os mesmos
caracteres usados na China para Yayue e na Coreia para A'ak – ambos se referem à musica
ritualística da corte. À medida que o Japão absorvia mais e mais do mundo exterior, a música
da corte foi recebendo uma variedade crescente de estilos. O estilo musical dominante do
gagaku inicial era, naturalmente, da China e foi chamada de música Tang (tōgaku). O nome foi
herdado da dinastia de mesmo nome (Tang), que governou a China de 618 a 907 d.C.
Apesar da influência de países estrangeiros, a manutenção dos estilos musicais e sua
longa estadia no país possibilitaram aos ouvintes da época escutar versões nostálgicas de peças
famosas de outros países com o toque japonês, fazendo assim com que ela quase fosse esquecida
de seus países de origem. Um exemplo desse caso de apropriação musical é que há vários nomes
de peças musicais e danças realizadas no Japão que são encontradas nas listas do estilo tang.
Ao contrário da China, muitas dessas obras foram mantidas até os dias atuais, alguns dos trajes
e máscaras originais usados naquela época foram preservados e são reproduzidas por todo o
Japão em rituais religiosos, culturais e entre famílias (MALM, 2021).
2.1 Gagaku
corte Xintoísta Kagura (御 神 楽, Mi-kagura), mas com algumas exclusividades que não são
encontradas em nenhum outro gênero de hogaku (Música nacional japonesa).
Além disso, cada instrumento presente neste estilo musical tem seu próprio conjunto
de ornamentos e articulações estilísticas que nos traz sensações de natureza, impacto e,
principalmente, uma profundidade orquestral com toque asiático. Assim como a música
ocidental, os instrumentos e vozes podem estabelecer um diálogo musical entre si de pergunta
e resposta.
Segundo o livro Japanese Music & Musical Instruments (MALM, 1959), o gagaku
possui uma estrutura definida pelas sílabas “Jo-ha-kyu”. A sua forma musical tem um início
lento, acelerando-se posteriormente. Ao longo de sua execução, ocorrem variações do tema, até
que ocorra o ápice. A partir daí, o seu andamento é diminuído lentamente até o fim da música.
De forma específica, segundo Malm, podemos dividir em seções as sílabas “Jo-ha-
kyu”:
a) Jo: introdução/abertura – introduzida pelos instrumentos sho, hichiriki, flauta,
kakko, biwa ou koto;
b) Ha: desenvolvimento/exposição – utilizando flauta ou percussão no tutti,
aumentando sua velocidade;
c) Kyu: Coda – diluição e diminuição da massa instrumental, terminando com o
instrumento biwa ou koto.
a) Bugaku (舞 楽): com dança ("bu" indica dança), geralmente mais rápido, mais
animado, sem instrumentação de cordas e faz uso do da-daiko (peça central com
tambor gigante pendurado que emana batidas graves e estrondosas);
b) Kangen (管弦): sem dança (ex. Etenraku);
c) Kayo: canções vocais e poesia cantada. Nessa forma, o vocal principal e as baquetas
de madeira (shakubyoshi) tocam o solo da primeira frase, e na segunda frase da
música ou refrão, o conjunto completo de instrumentos realizam o Tutti.
O gagaku também pode ser categorizado por três tipos de subcategorias (ritual, corte
e informal ou semi-privado):
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a) RITUAL:
i. Seigaku (声 楽): É composto por peças vocais e danças japonesas executadas
principalmente em cerimônias Shinto particulares ou sazonais.
Os cantores são acompanhados pelos instrumentos musicais, com exceção da
bateria. No entanto, os instrumentos de sopro e de cordas são conduzidos por um
shakubyoshi (instrumento com função similar à batuta do maestro), e a melodia
pode ser ouvida no sho. As peças vocais e instrumentais também podem ser
chamadas de kokufu kabu (“Dança da canção japonesa”, “Canto e dança da corte”
ou “Santuário indígena”).
ii. Mi-kagura ou Kagura-uta (神 楽 歌): são realizados para louvar a virtude dos
deuses (especialmente durante as cerimônias xintoístas). O sufixo “uta” significa
canção ou poema. Mi-kagura é considerada uma das formas de música mais sagrada
do Japão e é tocada no coração do Palácio Imperial desde o século XI.
O ritual se consiste em quatro seções:
• Purificação do local do ritual;
• Recepção de um deus;
• Entretendo o deus;
• Vislumbrando o deus.
b) CORTE:
i. Kigaku (器 楽): a forma mais popular de Gagaku, são peças instrumentais
importadas dos séculos VII a IX e danças do continente asiático.
ii. Tôgaku (ou Kara-gaku): de origem chinesa da Dinastia Tang, posteriormente
incluindo peças indianas e algumas japonesas. Também são conhecidas como
"música da esquerda" e incluem as formas de dança kangen e bugaku sem cordas.
Melodicamente, existem 6 modos do Tôgaku:
• Modos Ryo (Figura 1. Mixolídio):
o Ichikotsu-chô: Função harmônica tônica de D;
o Sô-jô: tom de G;
o Taishiki-chô: tom de E.
• Modos Ritsu (Dórico):
o Hyô-jô: tonalidade de E;
o Ôshiki-chô: tom de A;
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o Banshiki-chô: tom de B.
O objetivo dos modos é que as peças possam ser tocadas em diferentes registros de
afinação.
c) INFORMAL OU SEMI-PRIVADO:
Kayo: Poesia japonesa ou chinesa cantada em formas Kokufu kabu (conjunto vocal
acompanhado), realizada principalmente no Japão do século IX. Essas obras foram
executadas principalmente para nobres de alto escalão em cerimônias da corte,
sendo bastante informais e fazendo uso de conjuntos instrumentais gagaku com
exceção da bateria.
14
Noh é uma forma musical de drama que se tornou popular durante o século XIV e teve
sua própria música, chamada Nohgaku, acompanhada por uma dança conhecida como Shimai.
O estilo tradicional japonês de Noh consiste em música vocal (yōkyoku) com um
conjunto instrumental conhecido coletivamente como hayashi. O canto é feito pelos atores ou
por um coro uníssono (jiutai). Os quatro instrumentos do hayashi são compostos por uma flauta
(nō-kan), um tambor (taiko), um pequeno tambor de ampulheta (ko-tsuzumi) segurado no ombro
direito e um tambor maior (ō-tsuzumi) colocado ao lado do quadril. As melodias do Noh contêm
várias fórmulas e ornamentações, cujos nomes muitas vezes refletem as tradições anteriores do
canto budista e das canções seculares da corte.
Durante o período de Azuchi-Momoyama (1573-1603), várias formas musicais
japonesas se consolidaram com instrumentos musicais como o shakuhachi, koto e shamisen
(Figura 2). Alguns desses instrumentos foram interpretados pelos sacerdotes budistas além da
corte e eram executados durante os festivais e cerimônias religiosas (MALM, 2021).
Figura 2 – Mulheres tocando instrumentos musicais japoneses, Yanagawa Shigenobu (Japão, 1787-1832).
1
Disponível em: https://www.alamy.com/women-playing-music-artist-yanagawa-shigenobu-japanese-1787-
1832-culture-japan-dimensions-8-14-x-11-116-in-21-x-281-cm-date-19th-century-museum-metropolitan-
museum-of-art-new-york-usa-image212914673.html. Acesso em: mar. 2021.
15
O koto está inserido na história japonesa desde os mais antigos registros históricos,
sendo praticado até mesmo pelos imperadores e nobres do país. Ele se tornou um dos mais
tocados estilos musicais tradicionais japoneses e também se encontra presente em um dos
maiores tesouros históricos do país, o Shōsō Repository (Figura 3).
The textiles of Shoso-in have been formed into a variety of different objects.
There are Buddhist instruments (...) such as banners, canopies, flower plaques
(花鬘), and priests' robes (袈裟); clothing such as bugaku dance costumes,
belts, ornaments, and working clothes (浄衣); items of furniture such as textile
screens (...), kinds of armrests (挟軾), curtains (幕), partition curtains (帳),
mats on the desk (褥), covers (幞), and flower-patterned felt rugs (花氈) (...);
and bags for items such as medicines, screens, gigaku masks, swords, musical
instruments. The musical instruments are for example a flute, a biwa-lute, a
koto, and a kind of harp. (OGATA, 2012)
Além do valioso arsenal musical milenar que o Japão possui, este valioso tesouro
chamado Shōsō-in ou Shōsō Repository, construído com os bens domésticos do imperador
Shōmu após sua morte no ano de 756, é repleto de mais de 600 itens, que incluem objetos rituais
budistas, móveis, instrumentos musicais, têxteis, trabalhos em metal, trabalho em laca (resina
resultante da secreção de insetos, como Coccus lacca), cloisonné, vidro, cerâmica, telas
pintadas, caligrafia e mapas. Em meio ao tesouro de Shōmu, pôde-se encontrar cerca de 21
instrumentos de percussão, 12 de cordas e 12 de sopro, além de máscaras de dança, notações e
desenhos.
Uma curiosidade sobre esse tesouro é que alguns dos materiais são importados da
China ou da Coreia, enquanto outros são feitos no Japão. A harpa chinesa em arco, do antigo
Oriente Médio (em japonês, kugo) e o koto também foram preservados nesta coleção (OGATA,
2012).
16
3. A HARPA NO JAPÃO
A harpa no continente asiático tem sua presença marcada por influência dos povos do
mediterrâneo, e se espalhou por toda a Ásia até os dias de hoje como instrumento de forte
expressão cultural. O uso da harpa sempre permaneceu ligado a um contexto da vida social
peculiarmente religioso e à corte, mas hoje em dia este instrumento está mais difundido entre a
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população. No entanto, nos povos da Ásia ele se desenvolveu dentro de cada cultura de forma
especialmente particular.
No Japão, a harpista e pesquisadora Tomoko Suguwara decidiu reconstruir a harpa
mais antiga encontrada, o kugo, a partir de uma pintura que estava guardada em uma relíquia
asiática feita durante o século VI ou VII. Esse instrumento é de um período extraordinariamente
longo, de 1900 a.C a 1700 d.C, e, na maior parte desse tempo, esteve confinado à Ásia. É
possível encontrar o kugo em pinturas rupestres budistas centenárias e em representações de
artistas de vários países ao longo da rota comercial conhecida como Rota da Seda.
Sugawara iniciou seus estudos em Harpa Celta e Harpa de Concerto, até que, em 1991,
teve contato com o kugo, a versão japonesa da antiquíssima Harpa Angular (Figura 5), e se
tornou uma das principais pesquisadoras e harpistas a tocar o instrumento. Ela também lançou
o primeiro CD fazendo uso do kugo solo, Along the Silk Road. Pesquisou sua história e técnica
de execução ancestral e estabeleceu um repertório moderno para o instrumento (SUGAWARA,
2017).
Figura 5 – Sugawara e Kugo. Aniversário de 50 anos da Asian Cultural Council na residência da embaixada
japonesa.
Segundo Sugawara, o kugo foi a mãe de todas as harpas, tocado 3.000 anos antes das
harpas europeias. O instrumento, também conhecido como a “harpa chinesa em arco”, surgiu
2
Disponível em: https://www.kugoharp.com/biography-studied-modern-harp-and-r. Acesso em: mar. 2020
18
na Mesopotâmia por volta de 1900 a.C. Ele foi se espalhando rapidamente pelos países do
Oriente Próximo até que se tornou um dos instrumentos favoritos pela cultura islâmica.
(...) the ancient harp that once was heard from one end of the Silk Road to the
other, but which had fallen into disuse until Ms. Sugawara undertook to
reintroduce it to the contemporary world. Not only her research, but the
quality of her performances is impressive and is very much appreciated.
She has generously shared her knowledge and her musical talents with others,
including the Historical Harp Society, and as the editor of the publication for
that organization, I look forward to further contributions on her part.
(MILLIGAN, 2017 apud SUGAWARA, 2017)
Pesquisas e registros históricos apontam que o kugo foi levado pela Rota da Seda e
alcançou a China por volta de 500 d.C (Figura 6). Após a chegada do instrumento no país, a
Coreia e o Japão tiveram contato com o mesmo até que ele se deu como desaparecido do
Extremo Oriente em 1100. O Egito também se deleitou pelas músicas tocadas pelo kugo e o
adotou em meados de 1400 a.C. O instrumento se tornou uma representação bela e nobre por
sua forma e som.
Figura 6 – Kugo (esquerda) e guqin, dinastia Tang (618-907), desenterrado na cidade de Jiuquan. Museu da
Província de Gansu.
Fonte: Wikiwand3.
3
Disponível em: https://www.wikiwand.com/en/Konghou. Acesso em: mar. 2021.
19
Outro importante nome que podemos citar é Fuyuhiko Sasaki, compositor que teve
como estreia de sua obra para kugo, voz e haisho chamada To Be Human, uma de duas novas
peças que foram tocadas e dedicadas para Iitate, uma vila japonesa (Figura 7). De acordo com
o jornal The New York Times, o vilarejo, que já foi um centro agrícola e leiteiro com 6.200
residentes, foi transformado quase em uma cidade fantasma pela contaminação da usina nuclear
danificada de Fukushima Daiichi.
Figura 7 – Fuyuhiko Sasaki tocando o kugo, uma harpa ancestral japonesa, no seu trabalho “To Be
Human,” parte de uma série de programas apresentados no Merkin Concert Hall.
3.1 O Koto
The koto is one of the most popular traditional instruments in Japan and one
of the best-known outside of that country. Although many people think of it
as an ancient instrument whose music has not changed for generations, in fact
it is a vibrant, living tradition. The koto repertoire has a wealth of
compositions from 17th-century classics to innovative contemporary works.
(PRESCOTT, 2004)
Figura 8 – Kogo no Tsubone. A amante do imperador tocando koto em uma xilogravura japonesa.
Murasaki's husband died in 1001 CE, and she then became a lady-in-waiting
(nyobo) to Empress Akiko (aka Shoshi) where she displayed great talent in the
arts, particularly calligraphy, the harp (koto), painting, and poetry. Besides the
novel, other surviving works by Murasaki include poems and her diary.
(CARTWRIGHT, 2017)
A autora da obra é considerada uma nobre da corte imperial com o nome de Murasaki
Shikibu. Ela escreveu o romance ao longo de vários anos, retratando a vida de uma mulher
imperial e suas tarefas artísticas, políticas e domésticas. Durante a época desse livro, o koto se
tornou popular pelas mulheres de classe alta que serviam na corte.
O Conto da Princesa Kaguya, ou Kaguya-hime no Monogatari, no original, é um filme
do famoso estúdio de animação japonesa Studio Ghibli, lançado em 2013. Vencedor de vários
prêmios, indicado ao Oscar de Melhor Filme de Animação e sucesso de público e crítica, o
filme foi baseado num antigo conto japonês, 竹取物語 Taketori Monogatari.
Vemos no filme todo o drama que levou à decadência da personagem e seu
silenciamento enquanto uma mulher da corte. Ela, antes uma cidadã pertencente à margem
social de baixa renda financeira, torna-se uma nobre em razão da sua beleza imprescindível e
precisa ceder às modificações em seu próprio corpo para se adequar aos padrões da época,
mesmo que esse processo seja doloroso. Suas sobrancelhas são arrancadas, sua pele é pintada
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completamente de branco e seus dentes escurecidos. Além disso, ela precisa fazer aulas de
música, tocando o instrumento koto, que no filme é visto como um dos dotes principais para ser
uma mulher nobre (Figura 9).
O fato de o koto ser um instrumento tocado apenas para fins religiosos, nobres ou pela
família do imperador, durante séculos até os dias atuais, marcou na cultura japonesa uma forte
educação musical dentro do âmbito familiar, principalmente por mulheres. Séculos depois
desde a chegada do koto no Japão, as famílias japonesas tendem a colocar suas mulheres (filhas
e mães) para estudaram o instrumento em famosas escolas no país ou de forma hereditária,
dentro de sua própria casa (Figura 10).
In the 1600s, a small shop outside of Shogoin temple developed the crunchy
cookie (allegedly!). They named the shop after the temple and the cookie after
Kengyo Yatsuhashi, a blind songwriter famous for playing the koto harp.
(JACKSON, 2018)
No final da era Muromachi, o monge Kengyō Yatsuhashi, de Fukuoka, que deu origem
aos famosos doces de Kyoto, compôs várias canções baseadas em gagaku. Yatsuhashi era um
músico que perdeu a visão quando era ainda criança e estudou com seu mestre Hōsui, discípulo
de Kenjun (Figura 11).
He was originally called Jōhide (with the rank of zato), in 1636 he became
Yamazumi (with the rank of kōtō) and in 1639 he became known as Kaminaga
Kengyō Zyōdan (Kengyō being the highest-ranked title in the guild). Finally,
some time before 1657 he changed his name to Yatuhasi Kengyō.
(TOKUMARU, 2001)
The 16th-century priest Kenjun is credited with the creation of the school and
its first compositions. The tradition became more secular when it appeared in
Edo. There a 17th-century blind musician named Jōhide, who was a student
of Hōsui, himself a student of Kenjun, developed his own version of such
music. (MALM, 2021)
Após sua última autonomeação, Yatsuhashi se tornou mais popular por suas novas
composições repletas de escalas diferentes e novos idiomas musicais, até que criou a sua própria
escola de koto, chamada Yatsuhashi School of Koto. Sua mais antiga peça de koto e talvez a
uma das mais importantes e populares é chamada Rokudan no Shirabe, tocada solo como uma
composição eterna que está em constante mudança, pois até os dias atuais ela continua sendo
escrita, uma vez que cada parte da Rokudan no Shirabe, após Yatsuhashi, foi escrita por um
compositor de uma época diferente.
Segundo Malm, com a disseminação do koto na sociedade, outras escolas do “popular”
ou “vulgar” koto, aquele que não é tocado pelos nobres, foram criadas também em consequência
da cultura mercantil da era Edo. Em 1695, Ikuta Kengyō, proveniente também dos estudos de
4
Disponível em: https://www.japanesekotoclub.com/koto-history-c14j7. Acesso em: mar. 2021.
26
koto do mestre Kenjun, criou sua própria escola: Ikuta School. O diferencial maior dessa escola
é que a maioria de seus estudantes já eram adolescentes ou mulheres nobres que gostariam de
aprender o koto para serem consideradas esposas prósperas e habilidosas.
A Yamada School também não fica para trás em sua popularidade nessa era. Yamada
Kengyō (1757-1817) desenvolveu seu próprio estilo de tocar koto, conhecido como Yamada-
riû. As escolas desse período se distinguiam muito umas das outras por esses diferentes estilos
de tocar o instrumento, além das escalas musicais, ornamentos e acessórios utilizados na prática
musical. O tamanho do koto também se dissemelhava entre elas. Apesar dos padrões musicais
serem parecidos, as escolas raramente tocavam um repertório da outra, além disso, sua forma
de tocar é facilmente notada por serem distintas. De forma honrosa e tradicional, ambas as
escolas continuam sendo as maiores escolas de koto no Japão até os dias de hoje.
Elas também foram pioneiras na cultura remanescente do passado no Japão. Joruri são
narrativas baseadas em sentimentos humanos com fantoches que eram populares em Kyoto.
Yamada se inspirou nelas e fez composições escolares para os Joruri em Edo (Tóquio). Além
disso, Ikuta estudou a estrutura do koto e aprimorou a forma de afinação das cordas e a maneira
de tocar para se adequar ao conjunto com o Shamisen (instrumento tradicional japonês).
Comerciantes de classe alta também fizeram suas filhas aprenderem koto e isso se tornou um
costume entre elas nessa época.
Durante a era Edo até a Restauração Meiji, que aconteceu em 1868, o Japão ficou
muito isolado do resto do mundo e as pessoas não tiveram a oportunidade de escutar novas
músicas da China ou de outros países. Em adicional, a cultura musical era mais focada em
imitação do que inovação, então ela não mudou muito durante esse período.
O Japão moderno nasceu pela Restauração Meiji e as técnicas de composição foram
influenciadas pela música ocidental. As canções compostas antes desse período começaram a
ser chamadas de clássicas. Importando estilos de vida e formas de pensar ocidentais, novos
valores foram trazidos para o mundo do koto. Meiji Shinkyoku (“as novas canções da era
Meiji”), que foram compostas durante a era Meiji, costumavam usar a técnica da música
ocidental, tais como ornamentos sonoros tocando as cordas com unhas e pizzicatos.
De acordo com Malm, talvez o compositor mais óbvio e bem-sucedido na nova música
tradicional (shin hōgaku) após a Primeira Guerra Mundial foi Miyagi Michio (1894–1956), um
professor cego de koto na escola Ikuta.
Depois da Segunda Guerra Mundial, a música pós-moderna japonesa começou a ser
reconhecida e, então, o koto foi apresentado aos países ocidentais, e estes o aceitaram.
Após o período, muitas mudanças radicais foram implementadas na música do koto.
Os compositores que trabalhavam com a música tradicional japonesa criaram um grande corpo
de literatura contemporânea para o instrumento. Entre os compositores mais inovadores e
influentes do século XX, Tadao Sawai (1937-1997) se destaca por suas obras em formas
5
Disponível em: https://myibmusicinvestigation.tumblr.com/post/83690507793/michio-miyagi-1894-1956.
Acesso em: mar. 2020.
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tradicionais, bem como obras de vanguarda e experimentos de novas maneiras de tocar o koto.
Ele também escreveu muitas obras para estudantes iniciantes e intermediários, e suas
composições se tornaram populares entre as escolas atuais do instrumento.
Diferentemente da música ocidental, em que a harmonia tem um planejamento e um
caminho a ser seguido, na música tradicional japonesa, quando duas ou mais notas soam ao
mesmo tempo, não significa que elas estão necessariamente juntas, elas podem estar trilhando
um caminho totalmente diferente e individual. Essas estratégias são importantes presentes do
conhecimento musical passado para que os novos compositores modernos escrevam peças
interessantes para koto.
Enquanto o Japão experimentava um rápido crescimento econômico, houve uma
explosão de procura por de aulas de música para crescimento e valorização individual e o koto
se tornou popular entre as famílias modernas. Recentemente, por estar além dos gêneros, o
estilo tradicional japonês chama a atenção de artistas e grupos que buscam combinar
instrumentos japoneses com pop, jazz e rock. Sua atitude de buscar um novo estilo de música é
cada vez mais comum.
29
Figura 13 – Patterson ensinando o koto para estudantes da quinta série na Yokohama International School.
Patterson fala a respeito da sua composição Sunday Afternoon: “Se você fechar os
olhos e ouvir a música, pode pensar que não estou tocando o koto” que traz o estilo celta ao
koto e não deixa com que o instrumento oriental descaracterize o estilo ocidental celta
(TOMMASINI ,2012).
Figura 14 – Estudantes ajoelhados no carpete, fazendo dedilhados e sendo ensinados por Patterson.
Patterson ensina como tocar e compor peças para o koto para alunos do ensino
fundamental ao médio na Yokohama International School. A música sempre foi valorizada e
entendida como essencial para o desenvolvimento do cidadão japonês e sua integridade
enquanto ser humano. O koto desempenha um grande papel no currículo musical de todos os
alunos da quarta e quinta série dessa escola e, à medida que os estudantes avançam nos estudos,
eles podem optar por manter o koto como seu instrumento principal ao longo de sua educação
no curso de música.
“Sempre fico surpreso com a rapidez com que essas crianças pegam o instrumento e
entendem seu poder de comunicação”, diz Patterson (TOMMASINI, 2012). Através de sua
metodologia para ensinar o koto, seus alunos desenvolvem uma audição e autonomia na hora
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de tocar o instrumento. A partir de suas classes, jovens artistas de koto ganharam prêmios em
nível nacional.
O Japão também se destaca por seu ensino de harpa ocidental, com técnicas e estilos
novos de usar o instrumento. Esse país também teve o prazer de receber a presença de Josef
Molnar (1929–2018), que aos 23 anos de idade se mudou de sua cidade, Vienna, para o Japão
para trabalhar na NHK Symphony Orchestra. Ele foi o fundador e presidente da Nippon Harp
Society, da Karuizawa Music School, do Soka International Harp Festival e do Nippon Harp
Competition e se tornou um dos representantes mais proeminentes da história da harpa no Japão
(BOLDACHEV, 2018).
Outra harpista a se dedicar à harpa de pedais é Miyabi Matsuoka, uma popular harpista
no país, onde já foi citada várias vezes em jornais, na internet e também se apresentou em
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Disponível em: http://miyabi-method.co.jp/profile.html. Acesso em: mar. 2021.
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The harp is a simple instrument in that you touch the strings directly with your
fingers, that means your state of mind and your personality traits are more
directly reflected in your sound than in other stringed instruments. I can tell
whether the players are impatient, tough-minded or faint-hearted. (OTAKE,
2013)
Com a mente livre dos desejos de tocar harpa e se aprimorar no instrumento, Miyabi
argumenta que é a melhor forma para que seja possível relaxar no instrumento. Aplicando uma
força zero às cordas, a harpa retornaria com uma resposta 100% sonora. “Você precisa se dar
para a harpa, é quase como se você não existisse enquanto toca e a harpa toca por si mesma.”
(OTAKE, 2013)
Apesar dos diversos prêmios ganhados em sua jornada de harpista, ela perdeu o
interesse em ascender em sua carreira. Hoje, ela quer somente que a harpa tenha um uso
terapêutico capaz de curar as mentes e almas das pessoas, a partir do Método Miyabi, ela
acredita que isso pode ser possível.
Miyabi diz ao Japan Times que “No Japão, a maioria dos professores diz aos alunos
para tocar as cordas apenas com os dedos (e não mover os pulsos)”, enfatizando que os
professores japoneses se preocupam sobre os alunos tocarem as notas corretas de forma perfeita,
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mas ela acredita que este estilo de tocar harpa é capaz de machucar o pulso dos alunos, podendo
causar reumatismo, bolhas nas pontas dos dedos e até mesmo danificar as vértebras cervicais
da coluna.
Dentre os muitos estilos de performance que a harpista conheceu em sua jornada
musical por outros países, todos eles são diferentes da técnica que ela ensina no Método Miyabi.
Matsuoka disse ao The Japan Times que o seu método incorpora vários estilos de performance
e técnicas que ela aprendeu ao longo de sua carreira, todos os quais são distintamente diferentes
dos métodos padrões usados no Japão.
Ela também disse ao jornal que ficou tão obcecada com seu desejo de conseguir um
som melhor enquanto tocava a harpa, que nunca se incomodou com o estilo de vida exótico que
sua mãe lhe impôs durante anos. Ela se levantava pouco depois das cinco horas da manhã para
ir a uma igreja praticar harpa antes de ir para a escola. Depois de voltar do colégio, por volta
das 15h, ela praticava o instrumento com poucas pausas até a meia-noite, todos os dias: “nada
de compras, nada de namoro e nada de sair com os amigos”, disse Miyabi.
Em adicional aos muitos prêmios e competições em que ela participou, Matsuoka
lançou cinco CDs e se apresentou nas maiores salas de concerto do Japão. Mas ela diz que
começou a se sentir angustiada. Sentindo falta de ser feliz, aos 33 anos de idade, rebelou-se
contra a sua mãe. Vendeu uma de suas melhores harpas para alugar um apartamento e começar
sua escola de música sem a interferência de sua mãe. Embora não soubesse nada sobre como
dirigir uma escola, tinha o desejo de promover um estilo único de tocar harpa, que nunca havia
sido ensinado no mundo.
Ainda não satisfeita com suas realizações, Matsuoka decide criar um livro com 30
peças, que vão desde pequenas canções de ninar até J-pop para pequenas harpas celtas, que
antes eram indicadas somente para crianças, e não usadas para adultos. As harpas de pedal são
muito caras e isso faz com que apenas as famílias ricas possam ter condições de aprender o
instrumento. Além disso, custa muito dinheiro ir a uma faculdade de música no Japão ou no
exterior, fazendo com que muitas pessoas desistam de estudar o instrumento. Então, iniciar os
estudos de harpa com uma pequena harpa celta se tornaria mais acessível para os japoneses que
sonham em tocar o instrumento. Ela acredita que, dessa forma, estará ajudando a corrigir a
estratificação social no mundo da harpa, sendo que qualquer pessoa, independente do seu
talento ou experiência, pode tocar o instrumento. “Para nós, o importante é que os harpistas
desejem deixar as pessoas felizes com sua música”, finaliza Miyabi.
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5. CONCLUSÃO
Pode-se dizer, então, que o sentimento comum entre aprender e ensinar harpa são
compartilhados por músicos e professores dos dois lados do mundo: o Ocidente e o Oriente. A
cultura japonesa se destaca na prioridade sobreposta durante a criação das crianças,
principalmente mulheres, em aprender harpa. Desde séculos passados, o instrumento agrega
valor pessoal ao público feminino e sua procura se torna ainda maior. Isso aconteceu em virtude
da história da música tradicional no Japão, onde os imperadores e nobres, amantes da música
tocada pelas vibrantes cordas do koto, eram deleitados por suas esposas praticando o
instrumento.
Porém, o amor das mulheres em tocar harpa não se resume apenas à responsabilidade
imposta pelos outros em aprender o instrumento, assim como é dito por Murasaki Shikibu, uma
nobre da corte imperial. Um dos poucos momentos prazerosos que ela tinha era quando se
abstinha das responsabilidades como esposa e ia praticar o instrumento. A música do koto lhe
abraçava assim como o vento rodeia nossa pele em um dia caloroso e as notas musicais subiam
aos céus como estrelas no cair da noite.
A partir da história do koto, fica implícito o seu impacto na cultura japonesa. Desde a
sua chegada da China ao Japão, foi usado pela corte para a realização de diversos rituais
presentes no gagaku, que antes, eram provenientes da China, e, a partir dos músicos e
compositores japoneses, tornou-se característico do Japão pelas suas composições no koto e
instrumentos que ele acompanhava. Assim como a harpa ocidental foi e ainda é um instrumento
elitizado, apreciado pela corte, o koto carrega as mesmas características em suas cordas.
O ocidente também teve o seu lugar no Japão. Sendo atraído por sua cultura diferente,
hoje a Harpa Celta e a Harpa de Pedal são ensinadas em muitas das escolas de ensino
fundamental japonesas, como um dos instrumentos bases da grade curricular, pois a música é
vista de forma intrínseca ao cidadão japonês e ao ser humano.
A cultura ocidental se misturou com a cultura oriental no Japão desde os estilos
clássicos até os modernos J-pop e J-rock e mesmo as músicas folclóricas como さくらさくら
(Sakura Sakura) são tocadas na Harpa Ocidental em muitos lugares no país.
No vídeo intitulado por “さくらさくら (Sakura sakura) on lever harp”, podemos ver
uma performance maravilhosa de Tamsin Dearnley, tocando a música folclórica na harpa celta,
com vários ornamentos que são característicos do koto. Ambos lados Ocidente e Oriente,
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mesmo sendo muito diferentes entre si, através da música, unificam-se em sua performance e
sentimentos.
Figura 16 – Tamsin Dearnley tocando さくらさくら (Sakura sakura) em uma harpa de levers.
Fonte: Youtube7.
O Japão é um país repleto de tradições que se conservam fielmente até os dias atuais.
Portanto, é comum de se imaginar que deve ser difícil um estrangeiro chegar ao país e dar aula
de um instrumento tradicional japonês, mas Josef Molnar e Curtis Patterson provam o contrário.
A Harpa (incluindo o koto) e sua música mais uma vez se torna um divisor de barreiras e abre
portas para novas experiencias culturais.
Um destaque é que apenas no ano de 2002 tornou-se obrigatório para os alunos do
ensino médio aprenderem a tocar pelo menos um instrumento tradicional japonês como o koto,
a flauta de bambu ou o shamisen nas aulas de música. Antes desta obrigação, desde meados do
século XVIII, a educação musical nas escolas japonesas estavam cada vez mais centradas na
música clássica ocidental, em vez da música tradicional japonesa, e os instrumentos musicais
comumente vistos eram flautas transversais, pianos e instrumentos de cordas como violino e
violoncelo. De acordo com Prescott (2004), os alunos japoneses muitas vezes não têm acesso
às performances, em tempo real, das músicas tradicionais japonesas na escola, pois os
professores, por sua formação europeia, não sabem tocar esses instrumentos ou não há
instrumentos tradicionais suficientes para os alunos.
Nos últimos anos, gerações mais jovens de instrumentistas tradicionais estão
alcançando mais público por tocarem covers com arranjos ocidentais. Dito isso, os japoneses
tendem a estar mais familiarizados com a música ocidental para a realização de seus gostos
7
Disponível em: https://youtu.be/8Jd245PwcIU. Acesso em mar. 2021.
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pessoais do que com a música tradicional japonesa, que tem sido ensinada e estudada por
tradição ou responsabilidade no âmbito familiar e escolar, principalmente pelo público
feminino. Os instrumentos convencionais europeus também têm sido usados para tocar música
no estilo oriental, o que é mais uma oportunidade das pessoas se interessarem pela música
tradicional japonesa. A fusão do Oriente com o Ocidente e as inovações que estão por vir
possuem inúmeras combinações que podem fazer com que futuras gerações usufruam da música
sem que seja dividida por dois lados.
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REFERÊNCIAS
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