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NATAL
2010
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NATAL
2010
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CDU 78:37
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Banca Examinadora:
_____________________________________________
Professor Dr. Francisco Nabuco de Almeida Barreto Neto
UFRN/DEPEC
__________________________________________
Professora Mestra Germanna França da Cunha
UFRN/ESCOLA DE MÚSICA
__________________________________________
Professor Mestre Cleber da Silveira Campos
UFRN/ESCOLA DE MÚSICA
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AGRADECIMENTOS
A meu pai, por tudo que fez e faz para melhorar minha vida;
À minha mãe pelo mesmo motivo e por construir meu primeiro pandeiro de lata de
doce e tampinhas de garrafa;
A meu irmão, pelas primeiras notas no contrabaixo que larguei um tempo depois;
Aos meus amigos percussionistas Kléber Moreira, Eliel Espíndola, Edmilson Drebes,
Aninha Morais, Leandro Claudino, Sushi, Valdo, Diogo, e todos que possivelmente
estou esquecendo, mas que sempre sacrificam seu tempo me ajudando. Aos meus
professores da graduação. Todos, sem exceção, contribuíram muito para minha
formação.
Ao professor Cléber Campos, por estar somando tanto nesse ano em que se fez
presente na EMUFRN e na minha vida percussiva.
À minha querida e admirável professora Germanna, por ser nossa mestra e amiga e
por nos ensinar não só sobre percussão, mas também sobre como devemos ser.
Aos meus alunos, pois com eles aprendi e continuo aprendendo imensamente.
Ao meu orientador nesta monografia, professor Francisco Nabuco, por ter sido
presente, e ter feito sua presença ser tão rica em informações que me serviram não
só para elucidar dúvidas sobre este trabalho, mas também para aumentar meu
conhecimento de mundo sobre diversos assuntos. Por ter sido, além disso, um
amigo, daqueles verdadeiros, que não apenas agradam, mas que também sabem a
hora certa de cobrar de nós algumas atitudes diferentes. Obrigada por tudo;
Agradeço finalmente à Phillip por toda a força e motivação que me deu, e por ter
“segurado todas as pontas” para que eu pudesse me dedicar à resolução e
finalização desse ciclo da minha vida.
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RESUMO
ABSTRACT
This paper presents some specific aspects related to the Brazilian cultural identity
and exposes how the music fits in this context. What degree of importance it has in
the development of this identity and how the Brazilian percussion, and more
specifically the tambourine, is crucial for this achievement. States, especially the
importance of the formal education mainly focused on the percussion and
tambourine, because it is the element that will lead (on behalf of all its popularity,
national and international) the introduction of other percussive elements in this formal
education context in order to create a strengthening of this cultural identity for us to
attain the internationalization of Brazilian music really consolidated worldwide. It also
presents this event as a key factor for the social and economic development of
Brazil.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO..................................................................................... 11
2 BREVE HISTÓRIA DO PANDEIRO.................................................... 13
2.1 DIFERENTES FORMAS...................................................................... 13
2.2 SUAS ORIGENS................................................................................. 16
3 O PANDEIRO NO BRASIL.................................................................. 19
3.1 O PANDEIRO NO CHORO E NO SAMBA .......................................... 19
3.2 O PANDEIRO NO FORRÓ.................................................................. 22
3.3 A “BATERIA DE BOLSO”..................................................................... 23
4 A INFORMALIDADE DO ENSINO NO BRASIL.................................. 25
5 A FORMALIZAÇÃO DO ENSINO DO PANDEIRO.............................. 30
5.1 CONSIDERANDO DOIS ASPECTOS FUNDAMENTAIS .................... 30
5.2 A FORMALIZAÇÃO DO ENSINO DO PANDEIRO.............................. 31
5.3 A AULA DE PANDEIRO...................................................................... 32
5.4 MÉTODOS DE PANDEIRO COMO ELEMENTOS FORMAIS DE
APRENDIZADO .................................................................................. 34
6 O PANDEIRO E O DESENVOLVIMENTO ......................................... 36
7 FUNDAMENTAÇOES PARA A FORMALIZAÇÃO DO ENSINO DO
PANDEIRO – O QUE FALTA PARA O BRASIL SISTEMATIZAR O
SEU ENSINO?....................................................................................... 45
8 CONCLUSÃO........................................................................................ 50
REFERÊNCIAS.....................................................................................
. 52
PARA PARA
11
1 INTRODUÇÃO
É fato que o Brasil enfrenta desde sua “descoberta” uma forte e lasciva
influência estética oriunda de várias culturas. Os portugueses trouxeram consigo,
invariavelmente, uma forte carga cultural imergida no universo árabe e africano
devido ao processo de invasão e colonização islâmica sofrida por toda a península
ibérica por aproximados 800 anos. Agregado a isso, outro ponto determinante foi a
vinda dos negros escravos para o Brasil, o que causou um encontro com a
musicalidade negra entranhada na miscigenada cultura portuguesa. Todos esses
elementos em conjunto formaram um tipo de sonoridade singular, que ainda em
formação, não possuía forças para abarcar a imposição européia sobre o que de
fato ainda nem amadurecido estava.
Em decorrência desse processo a música tipicamente européia começou a
ser vista como a verdadeira música e como um padrão de qualidade sobrepujando-
se à musicalidade brasileira que ainda dava seus primeiros passos. E foi dentro
desse cenário que o Brasil cresceu, tendo como referencial de qualidade tudo o que
viesse da Europa. Essa visão empregada erroneamente se perpetuou durante
muitos séculos e tomou conta de vários segmentos. Na moda, por exemplo, a
imposição européia, não só no Brasil, mas também em todos os outros países
colonizados, foi tão determinante que em países essencialmente tropicais, nos quais
no verão se beirava os quarenta graus, para estar dentro dos padrões impostos, a
população vestia-se com fraques, casacas, cartolas, golas bufantes, saias de várias
camadas de tecidos e para isso sofriam com o desconforto causado pelo calor
excessivo. Aqui mesmo no Brasil, já num registro mais recente pode-se constatar
que Lampião, que de alguma maneira se fez ícone de uma “nordestinidade”, usava
em sua indumentária tão conhecida elementos oriundos da moda Européia, como
pura seda chinesa, artigo indispensável nas mais finas roupas utilizadas na Europa.
E não só. A arma predileta do famoso cangaceiro era uma Luger nove milímetros de
fabricação alemã e sua bebida preferida não era a cachaça nordestina, mas sim o
uísque escocês White & Horse. Enfim, fatos contundentes como esses revelam a
severa influência européia que sofreu e sofre até hoje o Brasil. No contexto da
música é necessário dizer, embora já seja do conhecimento de todos, que o Brasil
vive até hoje, especialmente no âmbito das academias, sendo mera imitação de um
12
Figura 1: Adufe
Fonte: Google, 2010
14
Figura 3: Pandeirão
Fonte: Google, 2010.
de metal para segurar a tensão imposta por esse tipo de membrana e, por esse
motivo, torna-se muito mais pesado, o que traz certo desconforto ao executante do
instrumento.
O pandeiro de dez polegadas com pele de couro tornou-se muito popular por
ser, timbristicamente falando, o mais completo dos instrumentos de percussão e, por
conseguinte, o mais versátil dos pandeiros. E, com o desenvolvimento do apuro
técnico de luthieria voltado à fabricação de pandeiros, pode-se obter timbres ainda
mais definidos do instrumento. Os pandeiros de dez polegadas e pele de couro
(fabricados por luthies), hoje em dia, possuem aro de madeiras como cedro e
imbuia, que, por serem mais resistentes, propiciam mais durabilidade ao
instrumento; pele de cabra que possibilita uma maior projeção do som grave e
platinelas feitas com aço inox, bronze fósforo, latão, tinânio, flandres ou chapas de
alumínio, sendo as de latão e bronze fósforo as mais utilizadas quando o intuito é
obter um som mais definido.
Questões sobre sua origem são discutidas por muitos pesquisadores e gera
muitas opiniões diversas, a começar pela origem de seu nome. O nome “pandeiro”
provavelmente tem origem no latim tardio “pandorius” o que já vem a derivar do
grego “pandoûra” ou “pandoriun”. Porém, enquanto a busca pela origem de seu
nome só remonta deste período, a origem do instrumento em si encontra registros
no período neolítico (mais conhecido como idade da pedra polida), no qual o
pandeiro já se mostrava como instrumento bastante difundido e executado na
Europa, Ásia e África. No Egito o pandeiro era utilizado em cerimônias lúgubres
manifestando o luto do povo. O povo israelita, por sua vez, o utilizava de maneira
diversa. O pandeiro era utilizado em sinal de júbilo e representava sempre alguma
coisa muito positiva. Já para o povo do Oriente Médio pré-islâmico o pandeiro era
usado nas duas situações, tanto para a comemoração em momentos festivos,
quanto para cerimônias de luto. Encontram-se registros da existência do pandeiro
em ritos festivos e religiosos na Mesopotâmia, no Egito, na Grécia e em Roma onde
principalmente mulheres tocavam o pandeiro.
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a diversidade rítmica dos batuques africanos nas senzalas, teve início o processo de
desenvolvimento da técnica “pandeirística”.
O pandeiro provavelmente se inseriu na roda de batuques dos negros
espontaneamente, assim como vários outros elementos trazidos pelos brancos que
foram incorporados à sua cultura. Os batuqueiros adaptaram o pandeiro que viam
sendo tocado nas festas dos seus senhores à sua realidade musical e isso,
provavelmente, foi a mola propulsora da evolução das possibilidades rítmicas a
serem executadas no instrumento.
Com o surgimento do Choro no final do século XIX o pandeiro atingiu outro
patamar. O pandeiro definitivamente ganhou o status que jamais teve em outra
formação. O Choro, gênero musical derivado do lundu (ritmo criado a partir da
mistura entre os batuques dos escravos Bantos trazidos de Angola e os ritmos
portugueses) e da polca (estilo musical em compasso binário originário na Áustria no
início do século XIX), adotou o pandeiro, depois de certo tempo, como instrumento
indispensável. No início, os grupos de Choro eram compostos apenas por
instrumentos de cordas e sopro, depois o pandeiro se somou a essa formação
adquirindo seu espaço e mesmo patamar de relevância nos grupos. Desde então os
grupos tradicionais de choro (conhecidos como Regionais de Choro) não dispensam
em sua formação o pandeiro. No Choro esse é o principal instrumento de percussão,
tendo em vista a inserção de novos instrumentos, como surdo e tamborim, com o
decorrer do tempo.
O Choro deu origem ao samba que conhecemos hoje e entregou para este o
legado conquistado pelo pandeiro. O samba herdou a formação instrumental do
choro, naturalmente com a inserção de outros instrumentos de percussão, porém em
suas várias vertentes, o pandeiro é colocado em posição de destaque e hoje em dia
é o instrumento que melhor representa esse gênero.
No forró também não é diferente. O pandeiro tem o seu lugar em todas as
formações de grupos de forró e, todos os ritmos compreendidos nessa manifestação
podem ser e são executados nesse instrumento. A tradição do pandeiro no Nordeste
deriva das duplas de emboladores de coco e dos repentistas que se apresentavam
em festas e em feiras livres numa formação reduzida onde o pandeiro muitas vezes
era o único instrumento de percussão e por vezes até o único instrumento.
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3 O PANDEIRO NO BRASIL
No chorinho o pandeiro demorou certo tempo para surgir, visto que, no início
esse gênero era integrado apenas por instrumentos de sopro e cordas, e, por esse
motivo, os grupos que representavam esse gênero ficaram conhecidos como grupos
de “pau e corda”, referindo-se a união da flauta de ébano aos instrumentos de corda.
O pandeiro foi incorporado ao choro tendo como principal ofício, segurar a base
rítmica nas formações conhecidas como regionais de choro, que são grupos
compostos por instrumentos de harmonia, percussão (na maioria deles apenas o
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pandeiro) e instrumento solista que tanto pode ser um instrumento de sopro quanto
de corda. O pandeiro hoje em dia é figura indissociável numa formação mais
tradicionalista de choro. Alguns grupos, com concepções mais modernas do estilo já
incorporaram a bateria como instrumento de base, assumindo o posto que antes era
tão somente do pandeiro. Outros grupos que não fugiram á formação original
utilizam a sonoridade do pandeiro com mais ousadia do que era comum nas
sonoridades mais antigas, exemplos disso são os grupos Murmurando da cidade de
Fortaleza e o grupo Tira Poeira do Rio de Janeiro.
O pandeiro nos antigos grupos de choro (ou até mesmo nos atuais grupos
que conservam a proposta de perpetuar a sonoridade dos antigos) tinha um papel
menos. Ele jamais poderia se sobrepor a qualquer outro instrumento de suporte
harmônico ou de melodia. O soar das platinelas era o único som permitido ao
instrumento, e este jamais poderia fugir a sua condição de condutor rítmico, jamais
se poderia deixar de fazer soar as semicolcheias agudas das platinelas. O som da
pele muito pouco era ouvido, e o tapa (som provocado através de um tapa desferido
sobre a região central do pandeiro) era algo inconcebível na sonoridade do choro
tradicional. Hoje em dia os grupos de choro mais modernos, que conservam a
formação que contempla o pandeiro como instrumento de base requerem do
pandeirista um apuro técnico equivalente ao dos outros músicos, pois mesmo com o
papel de condutor que o pandeirista exerce ele não se restringe mais apenas ao
soar das platinelas, ele deve explorar os demais timbres, agindo no grupo como um
instrumento que dialoga com a melodia e os demais elementos da música de
maneira livre e criativa, claro que sem perder o foco principal da manutenção da
base para todos os instrumentos. Um dos precursores dessa nova forma de se
executar o pandeiro foi o “Jorginho do Pandeiro” que incorporou à sonoridade já
conhecida desse instrumento, elementos novos começando a inserir o timbre grave,
provocado pelo contato entre o polegar (ou dedo médio) com a pele do pandeiro, de
maneira mais veemente. Outra característica pontual na sonoridade peculiar ao
pandeiro de Jorginho e que foi um marco da maneira de executá-lo, foi a idéia de
fazer variações com a disposição do grave na levada padrão do samba/choro. Ele
tirou o grave da sua posição comum (no primeiro e no segundo tempo, sendo o
primeiro tempo fraco ou fechado e o segundo tempo forte ou aberto) e começou a
trazê-lo para o contratempo, ocupando com o grave os espaços que seriam
preenchidos pelo som agudo das platinelas. Essa nova disposição timbrística
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tão grande, o papel do mestre provavelmente era assumido por um amigo, por
alguém da família, pelo pandeirista da feira, ou até mesmo pelo músico que tocava
em algum grupo de forró, chorinho, capoeira ou qualquer outra manifestação da
cultura na região. Logo, o referencial desse estudante restringia-se completamente
por conta da dificuldade de acesso a outras informações pandeirísticas, e isso o
fazia discípulo tornando nítida a influência do mestre no seu modo de tocar o
pandeiro. De qualquer maneira a execução instrumental em questão era muito mais
ligada a questões ritualísticas do que mesmo preso a questões musicais, o que
tornava secundária a necessidade de um processo de ensino mais rebuscado.
Assim como os ogãns nos rituais do candomblé, que aprendiam a tocar os
atabaques e o faziam apenas com o intuito de reverenciar orixás e se tornavam
virtuoses naqueles tambores, com os pandeiristas também não era diferente. A eles
era atribuída a missão de disseminar o ritmo característico de sua região, levar a
frente o seu regionalismo musical, manter viva as origens, perpetuar a sonoridade
oriunda de sua ancestralidade, e isso se fazia muito mais importante do que
simplesmente o apuro técnico que hoje em dia é o objetivo da maioria dos
pandeiristas. Na verdade, a questão “tocar tambor” se fez mesmo como que por
necessidade de manutenção da vida daquele povo, é como se fosse uma
respiração. Essa motivação, embora mais rara nos dias atuais, ainda se faz
presente.
Com o transcorrer do tempo novas informações foram chegando, porém o
modelo de aprendizagem autodidata se perpetuou e foi se fortalecendo em paralelo
com as informações recebidas através do processo de desenvolvimento dos meios
de comunicação. Com a chegada do rádio essas distâncias começaram a encurtar,
porém ainda assim existia a barreira visual que é considerável num processo de
aprendizagem informal. Os aspirantes à pandeiristas podiam ouvir nos programas de
rádio outros pandeiristas de outros grupos que não só os de sua cidade ou região e,
dessa maneira, podiam acessar outras sonoridades, outras maneiras de se tocar o
pandeiro. Esse processo de aprendizagem “de ouvido” era um tanto limitado, pois
não se podia ver de que maneira o músico realizara tal efeito ou qual movimento era
necessário para produzir tal ritmo, mas por outro lado essa metodologia trabalhava
muito a percepção auditiva, o que é muito positivo quando tratamos de temas
musicais. Nesse período a aprendizagem se dava à medida que o estudante
aguçasse mais a sua percepção. Este podia ouvir no rádio o pandeirista tocando
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com o seu grupo musical e tentaria imitá-lo o mais fielmente que conseguisse,
porém essa imitação restringia-se à sonoridade, pois os movimentos utilizados pelo
músico para produzir tal ritmo, por não poderem ser vistos, eram adaptados a seu
modo, respeitando sempre a sonoridade que conseguira captar.
Logo mais, com a chegada e popularização da televisão no Brasil, durante a
década de 50, com o surgimento da PRF3-TV ou mais popularmente conhecida
como TV Tupi, primeira emissora brasileira e com programas brasileiros, foi que as
distâncias entre o estudante informal do pandeiro e as informações foram diminuindo
ainda mais e, logo se podia ver e ouvir os grupos tocando ao vivo em programas de
TV, o que permitia ao estudante ter acesso não só ao som que o músico produzia
em seu instrumento, mas também ver como ele realizara um movimento para
conseguir executá-lo. Nesse momento pode-se dizer que o processo de
aprendizagem era ainda autodidata, mas com referenciais que permitiam a
incorporação de gestual e trejeitos oriundos do músico que foi assistido na TV. Não
que essa influencia não seja principalmente sentida na questão sonora, mas somado
à postura no tocar o pandeiro se tornam ainda mais nítidas as características de
quem o influencia. Por exemplo, nesse momento, muitos grupos de chorinho e
samba podiam se apresentar em programas de TV dessa emissora, logo os
pandeiristas que compunham esses grupos certamente podem ter sido responsáveis
por boa parte das características sonoras e de postura dos pandeiristas que se
formaram na época. Assim como, já na década de 70, ao ver na TV Jackson do
pandeiro ou Nereu do Trio Mocotó, muitos pandeiristas se influenciaram por suas
maneiras peculiares de tocar esse instrumento.
Ao longo desse tempo que ligou a invenção da TV até os dias atuais com toda
essa democratização da informação que vivemos hoje, democratização essa sem
paralelos decorrentes da internet, muitas coisas aconteceram. Continuou se
fortalecendo o ensino mais informal, mas em paralelo com o surgimento de métodos
e a inserção do pandeiro num contexto mais formalizado de ensino. Ademais, hoje
em dia podemos constatar também a existência de outro recurso que tem sido
bastante difundido no universo do ensino musical, que são as vídeos-aula. Elas têm
sido uma opção muito utilizada por estudantes que decidem estudar por conta
própria um instrumento. Esses vídeo-aulas são aulas gravadas em fitas de vídeo ou
DVD, que mostram passo a passo as técnicas do pandeiro e como executar os
ritmos, porém também configura-se como metodologia de ensino informal, pois o
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professor não pode avaliar o desempenho do seu aluno e nem corrigi-lo caso este
esteja cometendo algum erro de postura ou execução. Esse recurso é
especialmente interessante para os que já têm em mãos os princípios sobre postura
e noções acerca da sonoridade peculiar a cada toque desferido nas diferentes
regiões do pandeiro, pode-se de fato aproveitar as informações contidas nos vídeos
aulas de maneira integral, sem correr o risco de estar pulando etapas tão
importantes. Já para os iniciantes, a maioria das vídeo-aulas não dispõe tempo
necessário ao esclarecimento dessas informações que são tão necessárias na
iniciação ao pandeiro ou a qualquer instrumento.
Hoje em dia, com o advento da Internet, informações sobre o pandeiro têm se
disseminado ainda mais facilmente. Após a revolução provocada pelo You Tube (site
de compartilhamento de vídeos de todos os tipos na internet) qualquer tipo de
informação sobre música, ou sobre qualquer outro tipo de assunto, pode ser
acessado através de vídeos que tanto podem ter sido caseiramente produzidos,
quanto podem também ser fruto de uma rebuscada pesquisa científica. Nesses
vídeos expostos, por vezes informalmente por usuários da internet de diversos
países do mundo, o aluno tanto pode ter acesso à vídeo aulas postadas por esses
usuários como também podem ter acesso à shows e à pequenos vídeos que os
próprios músicos gravam dos seus estudos individuais ou de recitais realizados por
eles mesmos. Essa invenção veio a democratizar ainda mais o acesso ao
conhecimento musical e, mais especificamente voltado a aprendizagem do pandeiro,
agregou muito ao processo que as vezes ocorre sem qualquer referencial, o que é
comum numa aprendizagem autodidata. Não se pode dizer, porém, que esse
recurso vem a suprir toda a necessidade de um estudante do instrumento, haja visto
que, devido à inexistência de critérios de quem administra o site, são postados
vídeos de várias procedências. No site em comento tanto são postados vídeos de
boa qualidade e relevância como também são postados vídeos de amadores e
pessoas que não têm muita propriedade para falar sobre técnicas e as deturpam ou
apenas transmitem suas adaptações sem mostrá-las integralmente. Então, esse
recurso merece certa atenção e sensibilidade do estudante para que este tenha
condições de julgar se a informação está lhe acrescentando positivamente. De
qualquer maneira, tratando da possibilidade de aprendizagem informal, essa
inovação que a internet trouxe consigo, ampliou muito os horizontes do músico
pandeirista e dos demais instrumentistas também.
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Como foi dito no capítulo anterior, deve-se considerar dois fatores num
processo de ensino aprendizagem no âmbito musical que aspire uma completude.
Um não deve se dissociar do outro em nenhuma circunstância.
a) O fator informalidade que une a percepção auditiva e visual a uma busca por
informações oriundas dos meios de comunicação ou de pessoas do convívio;
b) Fator da formalidade que consiste na aplicação de métodos, na busca por
escolas e professores que possam simplificar e encurtar a distância existente
entre quando ainda se é um aspirante a músico e almeja-se ser o músico
profissional apto a desempenhar qualquer trabalho em qualquer segmento
musical.
É claro que o desenvolvimento técnico também é possível quando se é
autodidata, pois dessa maneira pode-se explorar muito mais a percepção de uma
forma geral. Porém, esse processo tende a demandar mais tempo e acontece sem
referências, além de às vezes limitar as possibilidades de um indivíduo que pretende
estar apto a qualquer trabalho.
Em qualquer processo de aprendizagem é necessária a existência da figura
do professor que acompanha o desenvolvimento do aluno e tem a possibilidade de
sugerir-lhe exercícios bem como intervir em procedimentos inadequados e corrigir
quando for necessário que isso aconteça. Sobretudo, uma das principais atribuições
dadas ao professor de música é a de trabalhar atento e sensível às diferenças
passíveis de acontecer dentro de uma sala de aula. As dificuldades de alguns não
podem ser encaradas como „falta de aptidão‟, sob hipótese alguma. E jamais deve-
se propor a desintegração de um aluno que apresente menos facilidade em realizar
certas atividades como sugere Dalcroze quando se refere a uma criança que não
possui voz boa e bom ouvido “[...] deveria ser removida da classe, como nós
excluiríamos um homem cego de uma aula de tiro, ou um homem sem pernas de
uma aula de ginástica [...]” (DALCROZE, 1967. p. 13).
31
5.2 A FORMALIZAÇÃO
O professor deve atentar para não transformar a aula de pandeiro numa ação
burocrática, cheia de barreiras nada musicais nas quais os alunos podem esbarrar,
por simplesmente terem dificuldades de executar certo exercício, e se
desestimularem a ponto de desistir. A aula de pandeiro, assim como qualquer aula
de música, deve ser, sobretudo, prática e, no caso de ser uma aula para mais de
uma pessoa, também deve ser inclusiva. Não é aconselhável incentivar um aluno
que se desempenha bem, enquanto critica-se outro que possui mais dificuldades de
absorção. “Qualquer método de ensino de Música deve ter como princípio a inclusão
em seus processos de ensino-aprendizagem de todo aquele que da Música queira
se aproximar” (CIAVATTA, 2009. p. 7).
Na aula de pandeiro devem-se explorar os diferentes timbres do instrumento
deixando bem claro de que maneira deve-se fazê-los soar, mas deixando também
bem claro que adaptações podem ser feitas de acordo com cada pessoa.
Os ritmos, no início, devem ser utilizados como recurso musical de
estudar os timbres, pois do contrário a aula tende a ficar monótona e repetitiva, sem
contar que é importante para o aluno que na primeira aula ele já consiga tocar algum
ritmo, pois a autoconfiança adquirida nesse momento o ajudará no processo de
aprendizagem.
O estudo dos ritmos é um ponto muito importante que deve caminhar em
paralelo com o aperfeiçoamento técnico do aluno de pandeiro iniciante. Enquanto
esse aluno se esmera em conseguir produzir cada vez mais o melhor som possível
no seu instrumento (o que é possível apenas com muita prática), ele deve estar
33
métodos mais elaborados e que já não são mais de nível elementar. Tais métodos já
partirão do pressuposto que o aluno já sabe tocar pandeiro e que pretende apenas
se aperfeiçoar e adquirir novas técnicas para atingir novas sonoridades. O
desenvolvimento das técnicas expandidas que levam à novas sonoridades também
pode ocorrer pelo estudo individualizado, pelo simples ato de parar e tentar explorar
a maior quantidade de sons que o instrumento possa oferecer. Parte simplesmente
de abstrair as sonoridades já exploradas e tradicionais, para tentar tocar tudo de
outra forma. Tem de fazer constantes revisitações ao seu próprio modo de tocar o
pandeiro.
Nesse patamar técnico os aspectos não formais do ensino do pandeiro, como
o You Tube, por exemplo, são muito mais funcionais, e esses alunos voltam a utilizá-
los agora muito mais conscientes de como conseguir tal sonoridade e tal
movimentação. Nesse momento já não há mais dúvidas que atrapalhem o processo
de aprendizagem. Mas no início do processo de aprendizagem do instrumento o
papel do professor é essencial para que se criem referências. Nesse sentido
também se deve destacar a importância do professor tocar para que o aluno o veja e
identifique a maneira correta de executar o pandeiro.
6 O PANDEIRO E O DESENVOLVIMENTO
assim como fazem no nosso. Pode-se dizer que é uma permuta que vise o
benefício geral e não apenas as vantagens de um país sobre o outro. É como
compôs Gordurinha na canção Chiclete com Banana imortalizada por Jackson
do Pandeiro:
de repertório de marimba, tímpano, caixa clara, etc. Mas eles, alvo algumas
exceções, continuam tão somente apreciando nossa música, por vezes tocando,
mas jamais passando anos de suas vidas dedicando-se a estudar o samba ou o
baião, por exemplo, enquanto que nós, muitas vezes nem temos tempo de conhecer
elementos da nossa musicalidade ocupados em compreender cada vez melhor a
deles.
Essa visão mais apurada sobre questões como essas é o que falta ao poder
público para que atinem para a importância de fomentar iniciativas sérias de ensino
de percussão popular. Ao falar em ensino voltado ao pandeiro brasileiro é bom
deixar claro que se trata de um ensino formal, tal e qual o que se tem voltado para o
violino, ou piano e à própria percussão erudita. A sistematização do ensino voltado à
percussão popular é o que irá tirá-la do contexto em que se encontra. Na verdade,
hoje em dia quando se fala em aula de percussão popular, na maioria dos casos,
ainda se pensa em batucada, em grupos de projetos sociais. Essa visão é muito
deturpada, porém a mais difundida Brasil afora. Pensa-se que o professor de
percussão é um recreador ou um animador que tem por finalidade alegrar as
crianças e fazer com que elas desgastem suas energias “batendo tambor”. Essa
idéia é tão difundida que já é quase um pressuposto quando o assunto é percussão
popular. A imensa maioria dos projetos de ensino de percussão popular realizados
no Brasil tem esse caráter de grupos de percussão, onde todos tocam ao mesmo
tempo sem que haja um estudo aprofundado de técnicas no instrumento. Não que
esse formato seja negativo. Não o é. É apenas uma outra vertente, mas que não
deve ser confundida com ensino formal de percussão popular. A maioria dos
anúncios de escolas que procuram um professor para percussão não explicam bem
que eles querem, na verdade, um organizador de um grupo de percussão, e que na
maioria das vezes nem instrumentos convencionais esse professor irá ter a seu
dispor. Não que o fato de trabalhar com instrumentos alternativos não seja um
processo interessante de formação percussiva, mas essa atividade, pelos motivos
citados, não deve se configurar como um processo de ensino formal. Até por que
nesse processo de aprendizagem, como antes dito, não há o intuito de formar um
percussionista, mas sim um executor de um instrumento específico. Muitas vezes,
inclusive, sem uma técnica bem definida, pois como normalmente a formação é
dada através de naipes de instrumentos, existe sempre aquele que se apóia no
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visinho e muitas vezes nem se dá conta disso ou mesmo de que está tocando
errado, como explica Lucas Ciavatta a respeito da autonomia do aluno:
ocorridos aqui mesmo no Brasil. O próprio povo brasileiro pode reconhecer, como
elemento de auto-estima nacional o pandeiro como um símbolo, e para isso, assim
como os Estados Unidos fizeram em relação à bateria, o Brasil deve fazer enxergar
e valorizar o potencial do pandeiro, e como processo natural, formalizar o seu
ensino.
50
8 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
ALFAYA, Mônica; PAREJO, Enny. Musicalizar: uma proposta para a vivência dos
elementos musicais. Brasília: Musimed, 1987.
ALVARENGA, Oneyda. Música popular brasileira. São Paulo: Duas Cidades, 1982.
ANDRADE, Mário de. Ensaio sobre a música brasileira. São Paulo: Martins Fontes,
1972.
CAZES, Henrique. Choro: do quintal ao Municipal. 1. ed. São Paulo: Editora 34,
1998.
DALCROZE, Emile Jaques. Rhythm, music and education. London: The Dalcroze
Society, 1967.