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Universidade Federal de Mato Grosso do Sul

Tião Carreiro: A importância do pagode de viola para a música de


viola caipira contemporânea e sua prática em Mato Grosso do Sul

Maycon Vianna Silveira

Campo Grande – MS

Novembro/2019

1
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul

Tião Carreiro: A importância do pagode de viola para a música de


viola caipira contemporânea e sua prática em Mato Grosso do Sul

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à


Universidade Federal de Mato Grosso do Sul como
parte do requisito para a obtenção do grau de
licenciado em música.

Orientador: Prof. Dr. Evandro Rodrigues Higa

Maycon Vianna Silveira

Campo Grande – MS

Novembro/2019

2
RESUMO

A presente pesquisa tem como objeto de estudo o pagode de viola caipira de Tião
Carreiro e sua importância para a música de viola caipira contemporânea. O que
denominamos “música caipira” é uma das principais características culturais do homem
do campo do Brasil. Essa prática, que até sua inserção no mercado fonográfico, não
tinha fins lucrativos, está presente nas festas religiosas, desafios, cantigas de rodas, no
trabalho e lazer. A viola caipira que estava inserida nesse processo e no cotidiano do
homem do campo, hoje está nas salas de concertos e grandes shows de música sertaneja.
Além da pesquisa bibliográfica, foi realizada uma pesquisa de campo, que teve como
base o trabalho de pesquisa do PIBIC voluntário. Nessa pesquisa de campo, foram
entrevistados, violeiros amadores e profissionais, professores e alunos praticantes de
viola caipira da região de Campo Grande MS. Com base nessa pesquisa pode-se
perceber a importância do pagode viola caipira para violeiros de diferentes gêneros
musicais e sua importância na consolidação da viola caipira na música sertaneja.

Palavras chave: Viola Caipira, Pagode de viola, Tião Carreiro, Campo Grande, Mato
Grosso do Sul.

3
ABSTRACT

The current study has as its objective of study the "pagode de viola Caipira" by Tião
Carreiro and its importante to contemporary viola caipira music. One of the main
cultural characteristics of countryman in Brazil is what we call "musica capira". It was
not profitable at all, till its recent insertion in the current phonografic market. Now its
often seen in religious parties, meetups, "viola" challenges, at work, and recreational
time. What was once just a day-to-day countryman's life, today can be seen in big
concert halls, and mainstream country music concerts. Besides biographic research,
field research was done, which had its foundation on a voluntary institutional program
of undergraduate scolarships research. Many students, professional and amateur viola
players were interviewed, near the Campo Grande - Mato Grosso do Sul area. In this
research we found that the "pagode de viola caipira" had great meaning for different
viola players from different musical genres and its importance on the consolidation of
"viola caipira" in country music.

Keywords: Viola Caipira, Pagode de viola, Tião Carreiro, Campo Grande, Mato Grosso
do Sul.

4
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...............................................................................................................6

1 CAPÍTULO I........................................................................................................9

1.1 Viola caipira e sua história....................................................................................9

1.2 Caipira ou Sertanejo?.........................................................................................12

2 CAPÍTULO II.....................................................................................................18

2.1 Tião Carreiro – Rei do Pagode...........................................................................18

2.2 O pagode de viola.................................................................................................22

2.3 Prática do pagode de viola em Campo Grande – MS.......................................25

2.3.1 Pesquisa de campo (PIBIC).............................................................................27

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................31

REFERÊNCIAS............................................................................................................32

ANEXOS........................................................................................................................35

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO...............................35

ENTREVISTA MARCOS ASSUNÇÃO.....................................................................37

ENTREVISTA ALBERTINA CARVALHO..............................................................43

ENTREVISTA JORGE PRIÉSLEY CÁCERES.......................................................46

ENTREVISTA GABRIEL RODRIGUES..................................................................48

5
INTRODUÇÃO

Buscando em minhas memórias, lembro-me de certa vez que entrei na casa de


meu avô (Alcides Fernandes), revirei suas gavetas de discos e escolhi um pela capa, a
imagem estampada era de um homem com um violão apoiado entre as pernas. Logo
pedi para meu pai colocar no toca discos e comecei a ouvir. Que fascinante aquela
música! Meu avô me disse que se chamava “Sons de Carrilhões” e que aquele moço ali
tocando se chamava Dilermando Reis.
Cresci em uma família de classe média baixa, sendo que meu pai (pintor de
paredes) não terminou o 4º ano da educação fundamental e minha mãe (diarista) não
cursou o ensino superior, porém sempre fui incentivado a estudar e posso dizer que tive
uma boa infância.
Para que meus pais pudessem trabalhar, eles me colocaram em um projeto
social: Instituto Moinho Cultural Sul Americano (IMC)1. Quando vi o panfleto do
projeto o que me atraiu a principio foram as aulas de street dance, por ser uma novidade
na época. Porém, quando percebi, já estava em uma sala de ballet clássico e logo depois
em uma sala de música.
Clave de sol, notas musicais, coisas que eu nem sonhava aprender, até que
chegou o dia em que peguei um violão pela primeira vez. Logo percebi que era aquilo
que queria. Tive vários professores, aprendi repertórios variados, mas o que meu avô
mais gostava que eu tocasse eram os choros. Talvez pela forte influência carioca na
cidade, pois tinham muitos marinheiros que vinham do Rio de Janeiro para Ladário,
cidade vizinha.
Eu gostava muito de músicas como “Sons de carrilhões”, “Se ela perguntar” e
“Tico tico no fubá”. Meu olhar pela música ia se ampliando e acabei conhecendo o Sr.
Agripino Magalhães2, talvez o mais importante tocador de viola de cocho de Mato
Grosso do Sul. Quando percebi já estava tomado pelo mundo da música, tocando viola
de cocho, violão e posteriormente me tornei professor do Moinho Cultural.

1
O Instituto Moinho Cultural Sul Americano, é uma organização, não governamental sem fins lucrativos,
que atende 360 crianças, da cidade de Corumbá, Ladário e das cidades bolivianas de Puerto Quijarro e
Puerto Soarez. Desenvolvendo, atividades culturais e tecnológicas. Hoje o Instituto conta com uma
orquestra e uma companhia de dança, tendo como integrantes alunos e ex-alunos do projeto.
2
Agripino Magalhães, cururueiro, “tocador” de siriri, nasceu em 1918 na cidade de Várzea Grande
interior de Mato Grosso. Ele foi um dos responsáveis por trazer a viola de cocho para o Mato Grosso do
Sul. Construiu mais de 300 violas de cocho e foi professor de viola no IMC. Hoje, com 101 anos, não
constrói mais violas e não da aulas, devido a idade.

6
No IMC surgiu a primeira oportunidade de aprender viola caipira influenciado
por Almir Sater3 padrinho do instituto. Através da internet comecei aprender os acordes
e posteriormente surgiu a oportunidade de participar de uma aula com o maestro da
Orquestra Paulistana de Viola Caipira: Rui Torneze4. Foi então que minha paixão pela
viola começou ao vê-lo tocar aqueles duetos, modas, cururus, toadas e os pagodes de
viola, juntamente com seu filho Lucas Torneze.
Tudo o que eu queria era aprender o pagode de viola e me tornar um “violeiro de
verdade”, porque o que eu mais ouvia é que quem não toca pagode de viola não é
violeiro. Eu tinha que aprender a tocar o pagode, queria ser igual aquele que chamavam
de “rei do pagode”: Tião Carreiro.
Posteriormente me mudei de Corumbá para Campo Grande para cursar
licenciatura em música pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Com o passar
do tempo percebi que haviam poucos estudos sobre o assunto, e então resolvi pesquisar
sobre esse tema. Dos muitos nomes que se sobressaiam nesse estilo musical escolhi
falar de José Dias Nunes, o Tião Carreiro, porque atualmente percebesse muito de sua
influencia em duplas, músicos solistas, pesquisadores e interpretes. Ele que foi
responsável por “criar” o pagode de viola: gênero musical formado pela mistura de dois
ritmos populares brasileiros. Entretanto até onde Tião Carreiro levou sua música? Qual
a importância dela para o desenvolvimento da música sertaneja? Qual a importância do
pagode de viola para a permanência da viola caipira no cenário musical brasileiro atual?
Hoje a viola caipira está presente no sertanejo caipira, no sertanejo universitário
e também nas salas de concertos com músicos como Fernando Deghi, Roberto Corrêa e
Ivan Vilela, grandes interpretes e pesquisadores que divulgam a viola no Brasil e no
mundo. Quero com essa pesquisa mostrar que em 1993 morreu um homem que deixou
um legado para muitos violeiros que se sentem orgulhosos em dizer que Tião Carreiro
nos ensinou um jeito novo de tocar viola.

3
Almir Eduardo Melker Sater nasceu em Campo Grande MS. É músico, cantor, compositor e violeiro e
compositor de músicas icônicas como: Comitiva Esperança, Luzeiro e Trem do Pantanal. Ganhou maior
projeção em sua carreira após participar da novela “Pantanal” pela TV Manchete. Em julho de 2019,
recebeu o título, pela UFMS, de Doutor Honoris Causa, título concedido por suas contribuições para a
música no cenário nacional e regional.
4
Rui Torneze nasceu em São Paulo em 1963, foi um dos pioneiros no ensino estruturado de viola
caipira, possuindo 4 livros didáticos. Foi professor de viola caipira na Universidade Livre de Música, hoje
denominada Escola de Música do Estado de São Paulo (EMESP) Tom Jobim, e fundador e regente da
Orquestra Paulistana de Viola Caipira (OCVC).

7
No capítulo um buscamos entender melhor o surgimento da viola caipira no
Brasil, com considerações gerais sobre esse instrumento e suas possíveis origens, bem
como levantamos questões relacionadas à dicotomia música caipira/música sertaneja.
No capítulo dois traçamos um panorama sobre a vida e obra de Tião Carreiro,
bem como do surgimento do pagode de viola e sua realização técnica. Finalizamos esse
capítulo com registros de depoimentos colhidos em entrevistas realizadas com quatro
músicos de Campo Grande, constatando que não apenas a viola caipira está presente no
cenário musical local, mas também o reconhecimento da importância de Tião Carreiro e
seu pagode de viola.

8
1 CAPÍTULO I

1.1 Viola caipira e sua história

A viola caipira é o instrumento que representa o homem do campo, pode ser


também denominada viola de arame, viola brasileira, viola de dez cordas, etc. Essa viola
que tão bem traduz a vida rural brasileira tem sua “origem” à partir de uma construção
histórica, culturalmente hibridizada.
Na Península Ibérica, existiam instrumentos de cordas como as harpas e citaras
grego romanas. Os árabes trouxeram o alaúde árabe, esse que era um instrumento com
cinco pares de cordas uníssonos, instrumento que foi o primeiro de cordas dedilhadas,
podendo modificar as notas no braço do instrumento. O alaúde foi o percursor dos
instrumentos de cordas dedilhadas, segundo Vilela (201, p.35), “a partir do alaúde árabe
e da guitarra latina, surgiram as vihuelas, na Espanha, e as violas de mão, em Portugal.”
As violas de mão em Portugal, passaram por transformações em cada região. Eram
muitas as violas, entre elas a viola braguesa, viola amarantina, viola toeira, viola
campacina, etc.

Figura 1 - Três Violas Braguesas Figura 2 - Viola Beiroa e Viola Toeira

Fonte: Cantando a própria história, Vilela, Ivan 2011, p. 119.

As violas vieram de Portugal, para serem usadas na catequização dos indígenas


no Brasil. Para os índios, o português era conhecido como caapir, caa (mato) e pir (que
corta)5, talvez dai veio o nome viola caipira ou a viola caapir, ou viola do caapir. Foi
no Brasil que essa viola se modificou. Em um relato do Padre José de Anchieta,
percebe-se que os índios estavam com as violas na mão, mas não há uma clareza se eles
tocavam ou não aquela viola.
5
FERRETE, 1985 : p 21

9
Os meninos índios fazem suas danças à portuguesa [...] com tamboris e viola,
com muita graça, como se fosses meninos portugueses, e quando fazem estas
danças põem uns diademas na cabeça, de pena de pássaros de varias cores e
desta sorte fazem também os arcos e empenam e pintam o corpo
(ANCHIETA apud CORREA, 2014, p.27).

É muito difícil dizer que viola seria essa. Seriam as violas portuguesas
tradicionais, que perduraram no Brasil? Infelizmente os documentos não descrevem
com clareza essa viola. O que é certo é que “viola” era um nome comum utilizado tanto
para instrumentos de cordas flexionadas quanto para instrumentos de cordas dedilhadas,
como diz Manuel Morais:

Em Portugal, pelo menos desde meados do século XV a inícios do XIX, que


o vocabulário Viola é empregue como nome genérico de uma família de
instrumentos de corda com braço. De acordo com a maneira de os tocar, estes
cordofones podem dividir-se em dois grupos distintos mas aparentados entre
si quanto à sua morfologia e tipologia
- cordofones de cordas dedilhadas (ou palhetada): Violas de mão (Violas de
mão que em Espanha chamaõ Guitarra); Port. Viola, violla ou viula, viola de
mão; viola acústica, guitarra; Esp. Vihuela, vihuela de siete órdenes, viguela
ou biguela, biguela hordinaria, guitarra, guitarrilla, guitarra de cinco
órdenes, guitarra española; Cat. Viola de mà(?); It. (Nápoles) viola, viola a
mano(o vero liuto), chitarra; Fra. Guiterne, guiterre, guitere, guitarre; Ing.
gittern, guitteron, guitar, AL. Guitare). - cordofones de corda friccicionada:
violas d’arco (Port. Viola de arco tiple, viola de arco contrabaixa, rabeca,
rabecão, violino, violeta ou viola d’arco, violoncelo, contrabaixo; Esp.
Viuelas de arco). (MORAIS, 2008, p. 393-394, apud CORREA, 2014, p. 24-
25).

Percebesse certa dificuldade para saber ao certo de que instrumento Anchieta


estava falando, considerando que o termo viola era utilizado de modo geral para vários
instrumentos, tanto de cordas friccionadas, quanto de cordas dedilhadas ou palhetadas.
As violas no Brasil seguem características parecidas com suas ancestrais
portuguesas: 5 pares de cordas, cavaletes trabalhados e cravelhas de madeira, e essas
características se mantiveram até o século XX. Percebe-se semelhanças que se
mantiveram na viola de Queluz.
´

Figura 3 - Viola Queluz Mineira

10
Fonte:< http://juniordaviolla1.tempsite.ws/historiadaviolacaipira2.htm>
Acesso em: 15 jul. 2018.

A viola Queluz é um instrumento considerado patrimônio histórico de Minas


Gerais, e manteve as características dos instrumentos portugueses.

Originalmente, o encordoamento das violas era feito com cordas de tripa de


animais. A primeira notícia que temos do uso de encordoamento de metal
data do final do século XVIII; 5 sendo, hoje, a opção mais difundida.
Geralmente, as cordas da viola caipira são dispostas em 10 cordas
combinadas em cinco pares, dos quais dois pares mais agudos são afinados
na mesma frequência fundamental, isto é, a mesma nota e mesma altura
(uníssono), enquanto os demais pares são afinados na mesma nota, mas com
diferença de uma oitava na altura (oitavada) eram utilizadas cordas de tripas
com o passar dos anos mais de 20 afinações foram aparecendo. (PAIVA,
2013, p.4)

No Brasil existem muitas afinações, segundo Ivan Vilela (2013), são


aproximadamente vinte afinações diferentes. Em geral cada afinação tem um nome
diferente: boiadeira, cebolão, rio abaixo, paulistinha. Dessas as mais comuns são a
cebolão E (mi), cebolão Eb (mi bemol) cebolão D (ré), rio abaixo e natural.

Tabela 1 - Tipos de afinação mais comuns para viola caipira

Fonte: Paiva (2013, p.5)


A afinação em Mi Bemol não aparece no quadro acima, todavia era muito
utilizada por Tião Carreiro, conforme será abordado no capitulo II, essa que era uma
afinação característica dos solos de pagode de viola. “A afinação Cebolão, ganhou esse
nome por que as mulheres choravam ao ouvir o dedilhado dos tocaderes”.6

6
Conforme afirmou Rui Torneze em um workshop de viola caipira, de que participamos, em Corumbá
MS.

11
A viola, que no início foi utilizada como um instrumento para a catequização
teve a companhia de outros instrumentos indígenas e portugueses que foram essenciais
para a configuração da música caipira. “A música caipira nunca aparece só, enquanto
música. Não apenas por que tem sempre acompanhamento vocal, mas por que é sempre
acompanhamento de ritual de religião, de trabalho e de lazer.” (MARTINS, 1975, p.105
apud MARIANO, 2012, p.1).
A prática musical que ficou conhecida como “música caipira”, tem estreita
relação com práticas religiosas e com a rotina do caipira, sendo que a viola caipira não
poderia faltar nas cantorias, giros, bailes, e festas tradicionais como a Folia de Reis,
Festas do Divino, Festa de São Gonçalo, São João, São Sebastião entre outras.

1.2 Caipira ou Sertanejo?

A música no meio rural é um instrumento de manifestação cultural e espiritual,


mas existem muitas discussões sobre o que é música caipira, ou o que é música
sertaneja. Sertaneja por que veio do sertão? Caipira por que veio da roça? A análise das
referências históricas é essencial para tentar entender um pouco mais de como esses
conceitos foram construídos, já que a tradição oral sempre foi muito presente no campo
e essa tradição foi herdada de trovadores portugueses, que tocavam suas violas,
contando histórias que se perpetuariam no tempo.
Para chegar ao conceito de sertanejo, é necessário entender o homem caipira,
esse homem do campo que foi alvo de preconceitos por não saber ler, por falar diferente
ou mesmo por ter seus próprios hábitos.
Monteiro Lobato (1882-1948) foi um escritor e editor brasileiro de grande
importância, que nasceu em Taubaté, São Paulo em 18 de abril de 1882. Destacou-se
por suas obras literárias, e infantis. Quem não leu, assistiu ou ouviu falar do “Sítio do
Pica Pau Amarelo”, “Jeca Tatu”, “Urupês” entre outras fábulas e obras. Ao retratar o
homem caipira, Monteiro Lobato criou o personagem “Jeca Tatu” um herói sem
medalha, um homem tomado pela preguiça, doente com amarelão, que não quer por
nada trabalhar.
Este funesto parasita da terra é o Caboclo, espécie de homem baldio,
seminômade, inadaptável à civilização, mas que vive à beira da penumbra
das zonas fronteiriças. À medida que o progresso vem chegando com a via
férrea, o italiano, o arado, a valorização da propriedade, vai a ele refugindo
em silêncio, com o seu cachorro, o seu pilão, a pica-pau e o isqueiro, de
modo a sempre conservar-se fronteiriço, mudo e sorna. Encoscorado numa

12
rotina de pedra, recua para não adaptar-se. (LOBATO, 2001, p.161 apud
VILELA, 2011, p.151).

Conforme a citação, Monteiro Lobato associa o caipira a uma espécie de


“parasita da terra”, que não vai crescer junto com a modernização. Essa análise de
Lobato é etnocêntrica, pois julga o caipira através de sua própria cultura urbana, uma
visão de um homem letrado e que tem seus próprios ideais, enquanto que, para o caipira,
a cultura letrada não lhe está presente como uma ferramenta para seu trabalho, pois
precisa lidar com a enxada e com o arado. Essa foi à imagem construída do caipira no
meio urbano brasileiro. Por outro lado, Valdomiro Silveira, foi um dos percursores do
regionalismo e escritor que trouxe um olhar positivo da cultura caipira.
Valdomiro Silveira (1873-1941) foi escritor, promotor público, advogado e
jornalista. Como escritor tenta retratar o caboclo, aquele que ainda não havia sido
tomado pela modernização do país. Tratou a fala do caipira como algo literal, não vendo
como um jeito de falar errado. Fez muitas viagens para o interior para saber mais sobre
o assunto e buscava retratar cenas bucólicas. Valdomiro Silveira é conhecido com o
precursor do regionalismo, tendo em vista que seu trabalho também tem indícios de um
trabalho antropológico. Em 1920 publicou “Os caboclos”, “Nas serras e nas furnas”
(1931), “Mixuangos” (1937), “Leréias” (1945), entre outros livros com contos regionais
e caipiras. Segundo Nepomuceno (1999) nesse mesmo ano (1920) Amadeu Amaral de
Capivari, primo de Cornélio Pires, publicou “Estudos brasileiros: dialeto caipira”.
Outro personagem fundamental na música brasileira foi Cornélio Pires, que
nasceu em 13 de julho de 1884, foi jornalista, escritor, folclorista e cantor. Como um
homem que buscava a valorização da cultura caipira, Cornélio Pires queria mostrar a
música “autêntica caipira”, não queria que cantores que não fossem da roça cantassem
as modas caipiras.

Até então, sua música era cantada por artistas urbanos, como Francisco
Alves. O Rei da Voz – que gravou 983 discos e ganhou alentado estudo de
Abel Cardoso Junior – até o final dos anos 20 havia lançado pela Odeon as
toadas Chuá Chuá, Dengosa, a canção Na roça e o cateretê Cunhaçã.”
(NEPOMUCENO,1999, p.109).

Cornélio Pires então se mobilizou para que fosse possível a gravação dessa
“música autêntica” do caipira, após superar diversos obstáculos pelo caminho, por fim
seus discos se transformaram em um grande sucesso como cita Nepomuceno:

13
Em 1929, finalmente, requisitou a ajuda do sobrinho, Arildo Pires que
arranhava o inglês, e foi procurar Mr. Wallacy Downey, engenheiro de
gravação da Columbia, empresa americana representada aqui por Byington &
Cia. Este o levou ao chefão, o brasileiro Byington Jr. Ao propor levar a
caipirada para o estúdio, o homem sorriu: quem compraria esses discos? O
público gostava de ouvir Francisco Alves e Paraguassu cantando aquelas
toadas e cateretês Foi categórico: “Não há mercado, não interessa”. Cornélio
propôs pagar a prensagem dos discos. Menos de Mil cópias não seria
possível, desencorajou Bryington. E isso custava dinheiro vivo. O produtor
saiu dali e foi procurar um amigo, um certo Castro, no centro da cidade,
retornando com o dinheiro emprestado. O pacote de notas foi postado sobe a
mesa de Byington: era a continha suficiente para pagar alguns milhares de
discos. Cornélio ainda surpreendeu, pois queria, para o primeiro suplemento,
cinco discos, cada qual com cinco mil cópias. Aquilo era uma loucura, 25 mil
discos! Nem os astros saíam com essa tiragem. Byington deu de ombros, com
pena do ingênuo que certamente, se estropiaria nessa jogada. Cornélio exigiu
um selo próprio, com numeração exclusiva. Assim e maio de 1929, saía a
famosa série vermelha – os selos eram dessa cor, escritos em dourado – com
numeração de 20.000 a 20.005, totalizando seis discos, com cinco mil cópias
cada um, portando 30 mil 78rpms. (NEPOMUCENO,1999, p.110)

Naquela época havia um preconceito com a cultura caipira. Byington jamais


imaginaria que Cornélio Pires venderia seus discos, pois, quem compraria disco com um
“bando de caipiras cantando?” Contudo, Cornélio surpreendentemente vendeu todos os
discos, que custavam mais caro que os valores cobrados nas lojas. Ele não teve
dificuldade em vender, pois as pessoas faziam filas para comprar seus discos.
Cornélio Pires conseguiu mostrar a música caipira em grande escala. Mas será
que seu objetivo maior seria realizado? Levar a música “autêntica” caipira? Esse termo
é pouco conservador, pois aquela música que ele fazia já não era a mesma tocada pelos
caipiras no contexto rural, a começar pela formatação dos discos 78 rpm. As modas, na
roça, duravam muito tempo, se constituíam de grandes narrativas e desafios, que ao
serem passadas para o disco, já perderiam as sequências romanceadas.

Tonico e Tinoco em entrevista ao programa Ensaio, na TV Cultura, disseram


que quando eram jovens cantavam modas na fazenda. As modas eram tão
longas que no meio da narrativa, paravam para tomar café e comer bolo.
Cornélio estipulou a colocação de começo meio e fim nos romances cantados
para que coubessem no disco (VILELA 2013, p.98).

Não se pode negar a importância de Cornélio Pires para a propagação da música


caipira e também da viola caipira, que já vinha aparecendo mais no nascente mercado
fonográfico brasileiro. Com o avanço da chamada “Era do Rádio” e o crescimento das
gravadoras, a música caipira se transformou e é impossível dizer a data certa, ou quando
a música caipira passou a ser denominada de música sertaneja.

14
Segundo Caldas (1979) a indústria cultural, começa a sentir interesse por essa
música, começando a lançar as primeiras duplas sertanejas como Zico Dias e
Ferrerinho, Mandioca e Sorocabinha, Mariano e Caçula. Essas duplas faziam parte da
chamada Turma do Cornélio Pires, os mesmos que gravaram os primeiros discos 78
rpm em 1929. “Estava, assim, lançado um novo produto no mercado de consumo: a
música sertaneja.” (CALDAS, 1979, p.4). Caldas afirma que a partir de então a música
sertaneja viria a “perder as malhas”, pois, a indústria cultural mudará os traços rurais
que essa música tinha, trazendo apenas a música como produto.

A música caipira, após sua urbanização (música sertaneja), passa a exercer,


quase que exclusivamente, o papel do instrumento da ideologia burguesa,
desvinculando inteiramente de sua condição de elemento catalisador das
relações sociais do campo. (CALDAS, 1979, p.146 apud ARAUJO 2011,
p.1)

Segundo Higa (2013 p. 94) “Em nosso trabalho, consideramos música sertaneja
como a música associada de alguma forma ao universo rural principalmente em função
das práticas e do espaço social e simbólico de seus agentes, e que, mediada por suportes
de gravação, é convertida em produto comercializável”.
É possível considerar a partir disso como marco zero, as primeiras gravações da
turma do Cornélio Pires em 1929, e essa música sertaneja se transformou de uma forma
muito rápida. A música caipira nas décadas de 1940/50 ficou marcada por duplas
acompanhadas de viola e violão e com vozes mais timbradas, como Tonico e Tinoco, Zé
Carreiro e Carreirinho e, posteriormente, Tião Carreiro e Pardinho, trazendo a novidade
chamada “pagode caipira”. Segundo Ivan Vilela (2013, p.113) “a partir da década de
1960 a música sertaneja se fundiu com o rock, mudando o jeito de se vestir dos cantores
e a sonoridade dos instrumentos: “essa vertente ocupou, no mercado do disco, parte do
espaço de vendagem da autêntica música sertaneja e utilizou também o nome musica
sertaneja”.
A música caipira passou por várias fases, e é entre elas que tenta-se buscar a
construção do conceito da música sertaneja. Pode-se dizer que a música caipira se
transformou a partir das primeiras gravações de Cornélio Pires, assim como pode-se
considerar que foi devido a influência com o country, que se modificaram os jeitos de
tocar e de vestir das duplas. Ao analisar Higa (2013), percebe-se que a ruptura da
música caipira/sertaneja, se constrói ao longo de três fases.

15
A primeira são as gravações de Cornélio Pires, que serviram como um impulso
para mostrar a música caipira. Cornélio não quis mudar a música caipira e sim deixá-la
autêntica, porém, nessa iniciativa foram realizadas modificações, conforme já citado, ele
teve que diminuir o tamanho das músicas, pois, eram muito grandes para caber em um
disco 78 rpm, o que leva a considerar que as condições técnicas dos suportes de
gravação influenciaram no formato das canções populares de um modo geral.
A segunda fase de importante aspecto foi a entrada da música estrangeira
(especialmente latina) no cenário musical brasileiro. A dupla Cascatinha e Inhana em
1952 gravou as músicas “Índia” e “Meu primeiro amor”, guarânias paraguaias que
despertaram intensa admiração nos ouvintes e ao mesmo tempo estranheza, como cita
Higa:
Na década de 1950, embora o mercado fonográfico ainda não estivesse
totalmente consolidado, o campo da música sertaneja já estava constituído e
em processo de transformação. O imenso sucesso das guarânias paraguaias a
partir da gravação de “Índia” e “Meu primeiro amor” por Cascatinha e Inhana
em 1952, ao mesmo tempo em que os consagrou, suscitou a desconfiança dos
defensores do nacionalismo musical. (HIGA, 2013, p. 96)

Como citou Higa, a música sertaneja estava em processo de transformação e esse


disco abriu as fronteiras, contribuindo para transformar ainda mais a música caipira.
Gêneros musicais latinos já estavam presentes no cenário nacional desde 1930, porém
essa gravação do disco de Cascatinha e Inhana foi fundamental para a consolidação
dessa música no Brasil.
Como podemos ver na Revista Sertaneja publicada no final da década de 50:

16
Figura 4 - Cascatinha e Inhana: Revista sertaneja de julho de 1958

Fonte: Peripato (2008)

As Revistas Sertanejas foram o terceiro ponto para a consolidação da música


sertaneja, pois, como seu próprio nome diz (Revista Sertaneja), esse rótulo “sertanejo”
fica, mas forte a partir dela, mesmo que as revistas tenham circulado por apenas dois
anos (1958-1959). Com a consolidação das indústrias fonográficas, a partir do final da
década de 50 a música caipira e suas vertentes se transformam no que viria a ser
denominada música sertaneja (e mais recentemente sertaneja universitária), seguindo
assim os avanços do mercado e cada vez mais se tornando um produto comercializável.

17
2 CAPÍTULO II

2.1 Tião Carreiro – Rei do Pagode

No dia 13 de dezembro de 1934 nasceu José Dias Nunes, mais conhecido como
Tião Carreiro. Na infância viveu no norte de Minas Gerais, em Monte Azul, distrito de
Montes Claros (PINTO, 2008, p. 33). Teve contato com a viola caipira apenas quando
se mudou para o interior de São Paulo. Trabalhou na roça até formar sua primeira dupla:
Zezinho e Lenço Verde, no início da década de 1950. Participou também de outras
duplas que não duraram muito. Nesse período, os circos eram o principal palco para
apresentações das duplas sertanejas. Foi, portanto, no circo que Tião Carreiro teve
contato com a afinação da viola caipira, e as afinações que os violeiros utilizavam 7, cada
um com aquela que “casava” melhor com suas vozes.

Segundo Pinto (2008, p. 34) ao assistir a apresentação de Tonico e Tinoco, Tião


Carreiro aprendeu a afinar a viola apenas ouvindo a dupla. Foi em 1954 que ele
conheceu Antônio Henrique de Lima, mais conhecido como Pardinho, que viria mais
tarde ser seu principal parceiro.

Ainda de acordo com Pinto (2008, p. 35) Tião Carreiro e Pardinho eram fãs da
dupla Zé Carreiro e Carreirinho. Tião Carreiro e Pardinho conheceram o Carrerinho,
que os convidou para irem a São Paulo, onde nesse mesmo ano de 1956, viriam a gravar
seu primeiro disco de 78rpm, com músicas do produtor e compositor Teddy Vieira, na
Gravadora Columbia.

Logo após a gravação desse disco, a dupla Tião Carreiro e Pardinho se separou e
acabou trocando de duplas com Zé Carreiro e Carreirinho, vindo a se formar as duplas:
Pardinho e Zé Carreiro e Tião e Carreirinho. Segundo Malaquias (2013, p. 42), em 1959
Tião e Carreirinho gravam uma música chamada “O pagode”, palavra essa que era
comum na linguagem caipira, pois se referia a uma festa no fundo do quintal. Apesar do
nome “O pagode”, a música foi registrada como um recortado8. Em 1960, Tião Carreiro,

7
Os violeiros utilizavam varias afinações, entre elas as mais usadas eram: Rio Abaixo G (Sol maior),
Cebolão D e E (Ré e Mi maior); Tião Carreiro utilizava também a Cebolão Meia Abaixo Eb (Mi bemol).

8
O recortado, repique de viola, repicado ou recorte, era um ritmo feito pelos violeiros entre os versos
das músicas duetadas pela voz, geralmente acompanhado da catira ou sendo executado
separadamente. (PINTO, 2008, p. 90).

18
volta a fazer dupla com Pardinho e gravaram a música “Pagode em Brasília”, de autoria
de Teddy Vieira e Lourival dos Santos.

Surgia assim o gênero “pagode de viola”. Tião Carreiro passa a ser chamado de
“rei do pagode”, título esse que aparece em vários LPs. Pode se notar na música “A
majestade: o pagode” de autoria de Tião Carreiro, gravada no ano de 1988. Nesse
pagode, ele afirma que “Pagode em Brasília” foi a primeira música gravada no ritmo de
pagode de viola caipira.

“Com meu primeiro pagode uma bomba que explodiu


Foi o Pagode em Brasília que até hoje não caiu
Nasceu no som da viola está no som do pandeiro
Lá na casa do ibope fala o pagode primeiro
Nasceu em Três Corações aquele que é o rei da boa
Rei do pagode nasceu no braço desta viola”.

Segundo Pinto (2008, p. 38) Tião Carreiro, em seus LPs, gravava tanto as
músicas de massa (tango, baladas, milongas, rancheiras guarâneas, rasqueados) quanto
músicas mais “caipiras” (toadas, cururus, pagodes de viola e etc.), todavia ao analisar
seus LPs, percebe-se que o que mais predominava eram as músicas caipiras. Tião
Carreiro, por mais que quisesse manter seu padrão caipira, não poderia fugir das
tendências modernizantes e urbanas. Pode-se observar os LPs “Em tempo de avanço” de
1969 e no compacto “Tião Carreiro e Pardinho” , os músicos com roupas sociais.

Figura 5 - LP Em tempo de avanço (Chantecler-Continental 1969) e


Compacto Tião Carrreiro e Pardinho (Chantecler-Continental 19??)

Fonte: < http://tiaocarreiro.com.br/discografia/>.


Acesso em: 15 out. 2019.

19
Com o avanço da tecnologia nos estúdios de gravação, tanto Pardinho quanto
Tião Carreiro começaram a gravar seus instrumentos separadamente, e com isso havia
músicos do estúdio que gravavam o violão para o Pardinho e a viola para o Tião
Carreiro. Um dos violeiros muito conhecido da época foi o Bambico, que gravava a
viola para Tião Carreiro. Bambico foi muito importante, pois gravava de maneira
rápida, e tinha uma boa memória musical como cita Luiz Farias em texto de Amaral
Pinto.
(...) durante uns dez anos, no mínimo, todas as introduções de viola, na
gravação, quem fazia era o Bambico(...) O Bambico era assim: o Tião
demorava um dia, dois pra criar, aí criava, chamava o Bambico, fazia uma
vez, ele falava ‘faz de novo’, ele vazia a segunda vez, pronto, já ia gravar. Ele
pegava na hora, era bom de cabeça. (PINTO, 2008, p. 42)

Tião Carreiro além de grande compositor e interprete, surpreendeu a todos com


seu LP instrumental: “É isto que o povo quer” de 1976. Esse LP continha seleções de
pagodes e cururus como “Menino da porteira”, “Canoeiro” entre outros. Em 1979 viria
a lançar outro LP Instrumental chamado “Tião Carreiro em solo de viola caipira”.

Figura 6 - LP É isso o que o povo quer (1976, Chantecler-Continental)

Fonte: <
http://tiaocarreiro.com.br/discografia/>Acesso em: 15 out. 2019.

Figura 7 - LP Tião Carreiro em solos de viola caipira (1979, Chantecler-Continental)

Fonte: < http://tiaocarreiro.com.br/discografia/>.Acesso em: 15 out. 2019.

20
Com o passar dos anos, Tião Carreiro e Pardinho fizeram cada vez mais sucesso,
atingindo o público de oito mil pessoas, em estádios, circos e cinemas. As gravações de
LPs aumentaram, chegando a gravar de dois a cinco por ano. Em meio ao auge, Tião
Carreiro se separou novamente de Pardinho em 1978, formando dupla com Paraiso,
com quem viria a gravar alguns LPs como “Viola Divina” (1978), “Seleção de Ouro”
(1979), “Homem até em baixo d’água”(1980) e “Prato do dia” (1981). Foi em
1981 que Tião Carreiro voltou a fazer dupla com Pardinho, gravando o disco “Modas de
Classe A”.

Figura 8 - LPs Viola Divina (Chantecler-Continental 1978) e Seleção de Ouro


(Chantecler-Continental 1979)

Fonte: < http://tiaocarreiro.com.br/discografia/>. Acesso em: 15 out. 2019.

Tião Carreiro continuou a produzir vários discos, tanto com pagode e músicas
caipiras quanto com boleros, sambas, tangos e chamamés. Todavia, veio a falecer em 15
de outubro de 1993, devido a complicações com a diabetes. Deixou para os violeiros seu
legado maior: o pagode de viola. Ritmo esse que ele tanto se orgulhava de ter criado,
conforme descrito nos versos da primeira estrofe da música “Viola e violeiro” gravada
em 1962 com Carreirinho:

“Tem gente que não gosta da classe de violeiro


No braço desta viola defendo meus companheiros
Pra destruir nossa classe tem que me matar primeiro
Mesmo assim depois de morto ainda eu atrapaio
Morre um homem, fica a fama e minha fama da trabaio”.
21
2.2 O pagode de viola

O pagode de viola ou o pagode caipira foi criado por Tião Carreiro, segundo
Pinto (2008, p. 81). Em uma entrevista na Rádio Cultura de Maringá, nos anos de 1960,
Tião Carreiro diz ter gravado o ritmo do violão e fez o ritmo da viola de trás pra frente,
surgindo assim o pagode de viola. Malaquias (2013, p.54) também fala sobre essa
entrevista.

[...] foi em 1960, numa viagem a Maringá, norte do Paraná, apresentando-se


na Rádio Cultura, que tanto mexeu e remexeu nas cordas da viola que
descobriu um jeito diferente de tocá-las, numa outra levada. “Primeiro gravei
uns acordes de violão e depois os mesmos acordes, de trás pra frente, na
viola”, explicou. Em Minas, contou, pagode era sinônimo de baile, e quando
mostrou aquele batidão diferente a Teddy e a Lourival dos Santos, outro dos
seus compositores preferidos, eles lhe perguntaram por que não adotava
“pagode” para definir aquele toque. “O Tião chegou com aquele batidão de
viola, misturando o ritmo de coco9 com o calango10 de roda, um tipo de
calango que tem lá na nossa região. Aí fundiu os dois estilos. Botou o violão
fazendo a batida do coco, e a viola, a do calango de roda. Isso é que virou o
pagode, um dos ritmos mais tradicionais da cultura sertaneja-raiz, do sul do
Brasil”, explica outro violeiro do norte de Minas, Téo Azevedo. E veio então
uma série de pagodes-caipiras, alguns irresistíveis, como “Pagode”, perola do
humor interiorano, gravada em 1967 no LP Rancho dos Ipês.
(NEPOMUCENO, 1999 p. 341 apud MALAQUIAS, 2013, p.54)

Não podemos descartar o processo de hibridização cultural presente no pagode


de viola. Malaquias (2013, p.54) faz um comparativo da visão de vários autores sobre a
origem do pagode de viola. Segundo Alaman, o pagode de viola é uma ramificação do
recortado da catira, já para Vilela Pinto, o pagode vem da síntese de dois ritmos
caipiras, o recortado e o cururu11. Para Nepomuceno o ritmo vem de uma mistura do
coco com o calango e cururu, destacando que essa hibridização é importante, pois essa
mistura de ritmos e estilos de tocar dão essa característica ao pagode, que é peculiar e
própria de cada violeiro.

9
O Coco é uma espécie de samba rural muito difundido no litoral do nordeste. Essa nomenclatura,
substituindo a palavra samba, pode ter surgido na ocasião em que os brancos começam a digerir a
música afrodescendente. (MALAQUIAS, 2013, p. 59).
10
Martinho da Vila, fluminense de Duas Barras, compôs e gravou alguns calangos, puxados na viola e
com instrumentos percussivos como: “Calango longo” no disco “Batuque na cozinha” em 1972 pela RCA
Victor. (MALAQUIAS, 2013, p. 60).
11
O cururu é um gênero originado de um dança ameríndia, embora também seja parte de uma serie de
festas religiosas, como festas de São João, São Benedito e etc. Já no Mato Grosso, o cururu aparece
como dança de roda, tocada pelos cururueiros, acompanhada pela viola de cocho e o caracaxá. (PINTO,
2008. P. 75,76).

22
Figura 9 - Viola fazendo o recortado e violão fazendo o cipó preto

Fo
nte: o autor. (2019)

Figura 10 - Pagode em Brasília: (Compasso 1 a 4. Solo de viola e nota do pedal)

Fonte: Malaquias, (2013), p.72

Seus pagodes de viola tinham como características a utilização de pizzicatos,


staccatos, apojaturas, mordentes, notas percutidas, etc. “Nove e nove” foi o primeiro
pagode com um ritmo peculiar a ser gravado em 1961 no modo mixolídio. Em seguida
Tião Carreiro lançou o pagode “Chora viola”, composto em 1973, no LP “Caminho do
Sol”, outro sucesso gravado do mesmo modo. Podemos observar a utilização do
pizzicato, na figura 11:

23
Figura 11 - “Pagode do Ala”. Compasso 84 a 93. Pizzicato

Fonte: AMARAL PINTO, 2008, p.31. Apud MALAQUIAS, 2013, p.85.

Figura 12 - Transcrição de Fernando Deghi do solo da viola na introdução da música “Nove e nove”.
Trecho no modo mixolídio.

Fonte: MALAQUIAS, 2013, p.89.

As letras dos pagodes geralmente descrevem situações corriqueiras, que


remetem ao campo, ao cotidiano caipira, ao trabalhador, aos desafios e também presta
homenagens a pessoas importantes de sua época. Observe que os versos da música
“Pagode em Brasília” mostra a admiração do povo pelo presidente Juscelino
Kubitschek.

“Bahia deu Rui Barbosa,


Rio grande deu Getúlio
Em Minas deu Juscelino,

24
De são Paulo eu me orgulho
Baiano não nasce burro
e gaúcho é o rei das coxilhas
Paulista ninguém contesta
é um brasileiro que brilha
Quero ver cabra de peito
pra fazer outra Brasília”.

2.3 Prática do pagode de viola em Campo Grande – MS

Conforme o pesquisador e professor do curso de música da Universidade Federal


de Mato Grosso do Sul, Evandro Higa (2013, p.196):

“tem contribuído para a música brasileira com nomes importantes, como


Almir Sater e Helena Meireles. No âmbito regional, muitos artistas tem se
destacado pelo virtuosismo de suas interpretações, como o sanfoneiro Dino
Rocha e o violonista Marcelo Loureiro, sendo que recentemente jovens
cantores e compositores vem entrando no rol de grandes estrelas da musica
sertaneja nacional como João Bosco e Vinícius, Michel Teló e Luan
Santana.”

Em Campo Grande, a música caipira/sertaneja, está presente tanto nos centros


quanto nos bairros. Os grandes propagadores dessa música são as mídias, como a
internet, rádios e mídias áudio-visuais como os CDs e DVDs. Também contribuíram
com a propagação da música os estabelecimentos comerciais e casas noturnas como a
Valey, Rancho do Barba, Sheriff Bar e Bartholomeu, pelas quais passam varias duplas
sertanejas e caipiras.

Percebe-se grandes nomes da música sertaneja e caipira no estado de Mato


Grosso do Sul. Em Campo Grande foi originado o denominado Sertanejo Universitário.
Segundo Alessio (2015, p.19), o sertanejo universitário começa a ser praticado entre os
anos 1996 e 1997. O sertanejo universitário contribuiu também para a permanência da
viola caipira no cenário da música em Campo Grande, sendo utilizada por duplas como
Alex e Ivan, e Jads e Jadson. A dupla Jads e Jadson utiliza a viola caipira em seus
shows, e no DVD “Balada bruta” do ano de 2017, fazem uma música com viola caipira,
chamada “Respeita os caipira”.

25
Tião Carreiro influenciou vários músicos, entre eles, o campo-grandense Almir
Sater, violeiro, cantor e compositor. Em 1981, quando o Almir Sater gravava seu
primeiro disco “Estradeiro”, sem querer encontrou o Tião Carreiro nos corredores da
gravadora Continental12, de onde resultou uma parceria e um disco chamado “No quintal
de casa”. Anos depois, em um programa de televisão na TV Cultura do ano de 1993,
Almir toca com o Tião e disse ter sido influenciado por ele.

(...) Esse moço vocês não devem conhecer muito bem, o que eu trouxe
aqui hoje, esse é o responsável pelo verdadeiro resgate da viola
caipira. É o homem que influenciou uma grande geração de violeiros,
inclusive o toque de viola que eu faço, é todo inspirado no Tião
Carreiro13.

Diversas duplas da atualidade como Lucas Reis e Thácio, Maiky e Lian, Jads e
Jadson, Breno Reis e Marcos Viola, em seus shows, fazem seleções de pagodes como
homenagem ao “mestre Tião Carreiro”. Segundo Antunes (2012, p. 12) “talvez nem
mesmo os astros sertanejos do passado imaginassem um futuro tão glorioso para o
gênero que defendiam apaixonadamente”. Todavia, Tião Carreiro dizia em suas
músicas, que a viola é seu legado, ele sempre lutou para deixar seu espaço, para mostrar
seu trabalho.
Mato Grosso do Sul possui uma grande influência das músicas de fronteira,
sendo elas: chamamés, polcas e guarânias. Como já citado no capítulo um, a guarânia
“Índia” composta por volta de 1926 pelo compositor paraguaio José Asuncion Flores,
foi uma música importante para a entrada e permanência das músicas latinas no Brasil.

Se em meados da década de 1930 foram feitas as primeiras gravações


guarâneas paragauais em São Paulo (por Augistim Cáceres), 17 anos
depois (em 1952) uma guarânia – a mais emblemática delas para a
configuração de uma identidade musical do Paraguai – atingiu um
sucesso que surpreendeu os produtores, críticos e comunicadores. E
não podemos deixar de registrar que parece ter sido após esse boom
que a guarânia no Brasil foi paulatinamente sendo apropriada por
interpretes não sertanejos e enquadrada no rótulo de música
romântica, dissociando-se em parte, de sua identificação com o campo
de música sertaneja no pais (HIGA, 2019. p 208).

12
Malaquias descreve o encontro e a parceria que Tião Carreiro faz com Almir Sater. (MALAQUIAS, 2013,
p.95)
13
CAIPIRADOSERTAO1. Almir Sater e Tião Carreiro. Disponível em <https://youtu.be/Z56sIU5fllE>.
Acesso em 16.10.2017.

26
Tião Carreiro também gravou várias guarânias e chamamés. No ano de 1979 no
LP “Tião Carreiro em solos de viola caipira”, a faixa 24 era uma seleção de polcas e
uma polca chamada “Cidade Morena”, composição de Tião Carreiro, Lourival do
Santos e Alberto Calçada. É possível que essa polca seja uma alusão a cidade de Campo
Grande.

2.3.1 Pesquisa de campo (PIBIC)

Entre junho e julho de 2019, realizamos a pesquisa campo, para a qual foram
convidados um músico profissional (Marcos Assunção), uma musicista amadora
(Albertina Carvalho) e dois instrutores de música e de viola caipira (Jorge Cáceres
Priesley e Gabriel Rodrigues). As entrevistas foram realizadas nas residências e outros
locais determinados pelos entrevistados. Todas as entrevistas foram gravadas em áudio,
por um gravador e um celular. Posteriormente, essas entrevistas foram transcritas e
analisadas.

A pesquisa teve como foco o pagode de viola realizado em Campo Grande, por
isso, os entrevistados precisavam tocar viola e apresentar pelo menos uma das
características abaixo:

1. Ser violeiro (a) residente em Campo Grande


2. Ser professor de viola caipira
3. Ser aluno praticante de viola caipira
4. Ser músico profissional
5. Ser acadêmico da Universidade Federal

Ao procurar violeiros com perfis diferentes, podemos perceber similaridades e


diferenças nas entrevistas.

Para ser possível mapear o pagode de viola em Campo Grande e compreender


sua importância dentro do cenário da música sertaneja, foram elaboradas as seguintes
perguntas como roteiro para as entrevistas semiestruturadas:

1. Fale um pouco sobre sua história e sua família.


2. Onde você estudou?

27
3. Como você aprendeu a tocar viola?
4. Na sua família ou círculos de amigos tem mais gente tocando viola?
5. Você toca pagode de viola?
6. O que é o pagode de viola para você?
7. Por que você toca pagode de viola?
8. O que você sabe sobre o Tião Carreiro?
9. Você toca os pagodes de viola do Tião Carreiro? Quais?
10. Além dos pagodes de viola, que outros ritmos você toca?
11. Quais os violeiros que você mais gosta?
12. Você estudou música em algum momento da sua vida?

Dos quatro entrevistados, Marcos Assunção é o que tem mais projeção regional,
já que além de músico profissional, com CDs gravados, é formado em música pela
UFMS e toca viola caipira de um jeito particular, utilizando-a para suas composições e
arranjos de estilos musicais como jazz, blues, guarânias, cururus, siriris e sambas.
Mesmo admitindo não incorporar aspectos do pagode de viola e nem de Tião Carreiro
em suas músicas, não descarta a importância do Tião Carreiro e o vê como um
revolucionário da viola.

(...) Tião Carreiro é porque assim ele... ele é um cara importante, não é
por que eu não toco Tião Carreiro que ele não é um cara importante.
Separar as coisas, também tem muita gente do lado erudito que eu não
quero tocar.

(...) Se eu não fosse fazer minha música a do Tião Carreiro eu não ia


fazer, não é minha praia, tem violeiro que só toca Tião Carreiro,
maravilha, é difícil. Admiro quem gosta, ele é um revolucionário da
viola, eu entendo, Tião Carreiro, assim como Garoto foi para o violão
brasileiro ele foi para a viola.

O instrutor de viola caipira e violinista Gabriel Rodrigues, conta que o pagode


de viola é como um divisor de águas:

É... o que define a viola caipira, como viola caipira, é o divisor de


aguas dela, sem o pagode de viola, acho que a viola caipira não seria o
que ela é hoje.

(...) Sem o pagode de viola, a viola seria apenas mais um instrumento,


mas com esse ritmo a viola veio pra mostrar sua posição no meio
musical brasileiro.

28
Ao analisar violeiros de estilos e costumes diferentes, podemos perceber muitos
pontos em comum. O mais marcante deles é o fato de que a maioria dos violeiros
entrevistados aprendeu a tocar viola sozinho (autodidata) e todos tiveram músicos e
violeiros no seu ciclo familiar e de amizades. Mais especificamente três dos músicos,
eram autodidatas, um dos quatro fazia aula particular, e os quatro em familiares e
amigos músicos, sendo a penas dois dos entrevistados que tinham familiares que
tocavam viola caipira.

Os dados colhidos a partir das entrevistas em anexo poderão subsidiar futuras


pesquisas sobre os processos de aprendizado de viola caipira e a transmissão de
conhecimento de música caipira/sertaneja na região sul matogrossense.

A priori, por ser resultado da influência fronteiriça na cidade de Campo Grande,


a viola caipira também é utilizada para tocar outros gêneros musicais, tais como o
cururu, toadas, guarânias e polcas. Todos os entrevistados, tocavam guarâneas e polcas
paraguaias na viola caipira, bem como outros ritmos (cururu e pagode de viola).

Essa variedade de gêneros musicais tocados pelos entrevistados mostra uma


maior relevância dos gêneros cururu, pagode de viola, guarânia e polca paraguaia. Os
dois primeiros gêneros conectados com o universo caipira/sertanejo e os dois últimos à
música fronteiriça. O que é preciso notar é que, como objeto deste trabalho, o pagode de
viola tem grande importância para a vida cultural regional, o que nos leva a considerar
seu amplo alcance na cultura musical brasileira como um todo.

A aluna de viola caipira e musicista amadora Albertina Carvalho, tem a


percepção do senso comum ao dizer, sobre Tião Carreiro:

Desde criança, eu sempre ouvi ele tocar. As modas, eu também sou encantada,
pelas letras, ele é uma pessoa assim... que o aprendizado dele veio de, veio
muitas vezes assim, aprendeu veio hereditário, não sei a história, autodidata, é
pra mim sou encantada, por que pra mim ninguém faz o som igual ele, a gente
fica admirada, e hoje tem muitos seguidores, né, muitos seguidores do Tião
Carreiro essas pessoas eu acredito... ele ainda ficará por muito e muito tempo,
por que ele é um mito.

O músico e acadêmico de música Jorge Priesléy Cáceres é categórico ao afirmar


que: “Tião Carreiro... pra mim ele é o pai do pagode, da viola caipira, por que a maioria
dos violeiros que a gente conhece hoje, teve alguma influência do Tião Carreiro”. Na
sua percepção, o pagode de viola:

É um ritmo bem característico na música de viola, a gente vê bastante


nas músicas dele, já que foi criado por ele né... o pagode de viola. E... é
29
onde a viola deixa de ser um instrumento de acompanhamento somente,
e ela passa a ser um instrumento solo, onde os violeiros tem ali que
estudar mais, para que tenha uma fluência melhor né? E... a gente nota
bastante o modo mixolidio, nesses solos de viola.

Como afirma Gabriel Rodrigues: “sem o pagode de viola, a viola seria apenas
mais um instrumento, mas com esse ritmo a viola veio pra mostrar sua posição no meio
musical brasileiro”.

Por sua vez, o músico Marcos Assunção, mesmo afirmando que não toca a
música de Tião Carreiro, afirma que o considera um “revolucionário da viola”, e que
“assim como Garoto foi para o violão brasileiro, ele foi para a viola”. Sobre o pagode de
viola, Marcos Assunção assegura que:

Pagode é uma batida, sincopada, muito difícil de ser tocada e você passar isso
para o aluno iniciante, você corre o risco de frustrar ele. É muito difícil existe
uma técnica apurada até dos bordões aqui do polegar eu é... é uma música,
música... que foi criada acredito, de uma forma intuitiva, por... por músicos...
músicos da sua essência. Ai que tá a beleza da essência né. Que não se pensava
em mercado né e simplesmente em expressar né, um contexto cultural da
época, e um dos ritmos... um... um dos... mais de vinte e nove ritmos se não me
engano. Riquíssimos que temos na nossa música brasileira, dentro da música
caipira.

Ao avaliar todos os entrevistados, por mais que eles atuem profissionalmente em áreas
diferentes, todos reconhecem a importância do Tião Carreiro, para a musica caipira e a
música de viola no cenário atual de Campo Grande.

30
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Quando comecei os estudos com a viola caipira, tinha influencias musicas


regionais com base no repertório de Almir Sater. Foi quando um senhor que trabalhava
comigo em Corumbá, pediu para que eu tocasse uma música do Tião Carreiro. Tião
Carreiro? Não sabia quem ele era, ou quais eram as suas músicas, então ele me
respondeu: “Se você não toca Tião Carreiro, você não é violeiro”. Fiquei com essa frase
na memória e fui ouvir as músicas do Tião Carreiro. Foi o meu primeiro contato com o
pagode de viola.

Descobri um mundo de técnicas, pizzicatos, ligaduras, glissandos, recortados,


repiques, a polirritimia do cipó preto e o modo mixolidio. Através de conversas com
músicos e da analise de textos, percebe-se que o violeiro que não toca o pagode de
viola, ao menos sabe algo respeito. Foram realizadas entrevistas com violeiros de
Campo Grande dentro de um projeto de pesquisa do PIBIC voluntário, que trouxe
subsídios para aprofundar o tema visando a preparação deste trabalho de conclusão de
curso. Observou-se que a aceitação dos violeiros quando se fala do pagode é muito
grande. O pagode de viola não só modificou o jeito de se tocar viola, como consolidou-
se como uma prática musical importante no meio caipira/sertanejo.

A parir desta pesquisa pode-se afirmar que o legado do Tião Carreiro é


fundamental para a compreensão da música caipira/sertaneja no Brasil e novas
pesquisas, que aprofundem o tema, serão muito bem-vindas para a construção de um
corpus acadêmico sobre a viola caipira e, especificamente, sobre o pagode de viola.

31
REFERÊNCIAS

ALESSIO, Vinicius. DA MÚSICA CAIPIRA AO SERTANEJO


UNIVERSITÁRIO: um estudo sobre o sertanejo universitário em Campo Grande.
Monografia (Graduação em Música) – Universidade Federal de Mato Grosso do Sul,
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FUNARTE, Instituto Nacional de Música, Divisão de Música Popular, 1985.

HIGA, Evandro Rodrigues. “Para fazer chorar as pedras”: o gênero musical


guarânia no Brasil – décadas de 1940/50. Tese (Doutorando em Música) –
Universidade Estadual Paulista, Instituto de Artes, 2013.

HIGA, Evandro Rodrigues. “Para fazer chorar as pedras”: guarâneas e rasqueados


em um Brasil fronteiriço – Campo Grande, MS : Ed. UFMS, 2019.

MALAQUIAS, Denis Rilke. O PAGODE DE VIOLA DE TIÃO CARREIRO:


configurações estilísticas, importância e influencias no universo da música violeiristica
brasileira. Dissertação (pós-graduação em música) – Universidade Federal de Goiás,
Goiânia, 2013.

MARIANO, Neusa. Nas Rimas do cururu do Médio Tietê (SP), Porto Alegre, volume
6 Número 2, P. 155-162, JUL./DEZ. 2012, disponível em
:<http://seer.ufrgs.br/paraonde> Acesso em: 15 out. 2017.

NEPOMUCENO, Rosa. Música caipira: ao rodeio. – São Paulo: Ed 34, 1999.

PAIVA, Orelli, Análise modal vibroacústica da caixa de ressonância de uma viola


caipira. Dissertação (Mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de
Engenharia Mecânica, Campinas, SP : [s.n.], 2013

32
PEPIRATO, S. C. (15 de 09 de 2008). REVISTA SERTANEJA. Acesso em 20 de 06
de 2018, disponível em Recanto Caipira:
http://www.recantocaipira.com.br/revistas/revista_sertaneja/revista_sertaneja.html
PINTO, João Paulo do Amaral. A VIOLA CAIPIRA DE TIÃO CARREIRO.
Dissertação (Mestrado em Música) - Universidade Estadual de Campinas, Campinas,
2008.

VILELA, Ivan. Cantando a própria história. Tese (Doutourado - Pós-Graduação em


Psicologia. Área de Concentração: Pscicologia Social) - Instituto de Pscicologia da
Universidade de São Pulo, São Paulo, 2011. /

VILELA, Ivan. Cantando a própria história: Música Caipira e Enraizamento/ Ivan


Vilela; prefácio, Alfredo Bosi. - 1. ed. Reimpr. - São Paulo: Editora da Universidade de
São PAulo, 2015.

33
34
ANEXOS

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Você está sendo convidado a participar da pesquisa “A importância do pagode de viola


para a música de viola caipira contemporânea e sua prática em Mato Grosso do Sul”.

O objetivo dessa pesquisa consiste em fazer um levantamento sobre a importância do


pagode de viola para a música de viola caipira e sua prática em Mato Grosso do Sul,
incluindo os músicos que se dedicam a esse gênero musical.

Você será esclarecido (a) sobre a pesquisa em qualquer aspecto que desejar. Você é
livre para recusar-se a participar, retirar seu consentimento ou interromper a
participação a qualquer momento. A sua participação é voluntária e a recusa em
participar não irá acarretar qualquer penalidade ou perda de benefícios. Está garantida a
manutenção do sigilo e da privacidade dos participantes da pesquisa em todas suas
fases.

Você participará deste estudo durante o período de coleta de dados documentais,


entrevistas, depoimentos e possíveis performances musicais que serão utilizadas para as
finalidades desta pesquisa e posterior publicação acadêmica. Uma cópia deste
consentimento informado será arquivada no Curso de Música da UFMS e outra será
fornecida a você.

A participação no estudo não acarretará custos para você e não será disponível nenhuma
compensação financeira adicional.

Eu, ________________________________________ fui informado (a) dos objetivos


da pesquisa acima de maneira clara e detalhada e esclareci minhas dúvidas. Sei que em
qualquer momento poderei solicitar novas informações e motivar minha decisão se
assim o desejar.

Em caso de dúvidas poderei chamar o pesquisador Maycon Vianna Silveira no telefone


(67) 9218-5600 ou o Comitê de Ética da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul,
no campus da UFMS, Av. Costa e Silva s/n, Campo Grande, MS, fone 3345-7187, e-
mail: cepconep.propp@ufms.br.

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Declaro que li e entendi este formulário de consentimento e todas as minhas dúvidas
foram esclarecidas e que sou voluntário a tomar parte neste estudo.

Assinatura do voluntário: __________________________________________________

Telefones: _____________________________________________________________

E-mail: ________________________________________________________________

Data: __________________________________________________________________

Assinatura do pesquisador: ________________________________________________

Roteiro para entrevista semi-estruturada:

1. Fale um pouco sobre sua história e sua família.


2. Onde você estudou?
3. Como você aprendeu a tocar viola?
4. Na sua família ou círculos de amigos tem mais gente tocando viola?
5. Você toca pagode de viola?
6. O que é o pagode de viola para você?
7. Por que você toca pagode de viola?
8. O que você sabe sobre o Tião Carreiro?
9. Você toca os pagodes de viola do Tião Carreiro? Quais?
10. Além dos pagodes de viola, que outros ritmos você toca?
11. Quais os violeiros que você mais gosta?
12. Você estudou música em algum momento da sua vida?

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ENTREVISTA MARCOS ASSUNÇÃO

M1: Maycon Vianna (Entrevistador)

M2: Marcos Assunção

M1 Estou aqui com Marcos Assunção, é... a gente já assinou os termos né. Ai a gente .

M2 assinadíssimo

M1 Pretendo fazer umas perguntas no roteiro que a gente preparou lá na federal, a


primeira pergunta é pra você falar um pouco sobre sua história, sua família, assim sobre
a questão da viola.

M2 Ah tá, como eu tive contato, vou falar diretamente com a viola né, tive contato com
a, até chegar na viola. Eu tive contato com a música aos sete anos que eu ingressei na
Banda Marcial da escola. E nesse período é, com 9 anos eu quis aprender violão, então
iniciei, os estudos do violão, violão popular, e meu avô, saudoso avô Duarte Assunção,
ele tocava moda de viola, tocava música moda de viola, ai que que acontece. Eu tive
um contato com a música caipira com ele, aprendi as músicas, e eu também é cantava
afinado né, Então tinha essa percepção musical desde criança. H avia uma facilidade
natural existe, existia algo natural , a pesar de toda minha família não, possuir ninguém
música né, é... no caso é.. nem profissional e nem que tocasse algum instrumento em
casa, eu não tive referência, dos meus pais né. Ai até então meu avô da parte de Minas,
lembro de algumas viagens que fazia com a família pra Minas, era muito crianças, o
pessoal reunia com o acordeom o violão e... mais a viola caipira em se eu fui ter
conhecimento mesmo ter um encontro com a viola quando um amigo meu de escola me
deu de presente uma viola.

M2 E.. como eu tocava violão entre os dez, onze, doze anos esse amigo meu meu um
dia eu fui lá, e falou olha essa viola tá parada que leva para você, aí me deram essa
viola aí eu tive esse contato. Mas até então num... tinha um interesse assim pela viola
ouve esse encontro. Foi estudar guitarra né, com os treze anos aí eu como todo qualquer
adolescente que se preze, naquela época eu queria mais era montar uma banda né. É...
uma banda de Rock, tocar na escola tocar em festival e já tinha toda essa, essa, essa
coisa essa paixão pela música né.

M2 Mas não, não havia no caso nenhuma a... in... entendimento vamos falar de
entendimento não havia nem um entendimento que música poderia ser uma profissão.
Que eu poderia me dedicar, não havia nem faculdade de música aqui. E pelo fato da
família também não tem nenhum musicista, nem um músico né. aí eu... eu iniciei,
meus estudos um pouco tarde né, fui conseguir mesmo entender a música como
profissional aos dezessete anos, que eu decidi estudar e nesse período também não

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havia faculdade de música ainda, mas eu fui estudar teoria fui estudar guitarra
improvisação comecei todos os todos esses estudos e acabei entrando no Jazz .

M2 Aonde uma vez passando na loja americana, olhei Jorge Benson, coloquei o CD,
falei poxa... eu não sei porque a gente não explica, mas aquele tipo de guitarra que eu
queria tocar, aquele tipo de som que eu queria fazer. E de lá então é... comecei a atuar
profissionalmente como professor, na no ... arte viva na escola centro arte viva, aonde
eu tive um encontro com vários é... músicos profissionais é... graduados em música
ah... e eu fiquei no arte viva até 2000, eu acredito porque até 2001 arte viva trabalhando.
Foi quando iniciou o curso de música, mesmo assim eu já atuava profissionalmente,
mas como eu tocava guitarra, tocava muita guitarra voltada ao Jazz e nem pensava em
fazer música. Foi então que eu formei do com violonistas né com, alguns violonista.
Devido ao contato com Arte viva, por esse meio erudito comecei a ouvir muito né, ai...
e a ler sobre assuntos sobre os compositores do período Barroco, clássico, romantismo,
comecei a me interessar muito pelo assunto. Foi até então que em 2007 eu me ingressei
na Universidade Federal e havia estudado um pouquinho de, violão sozinho né,
autodidata então como eu sabia ler parttura, na faculdade com os professores de violão
eu tive uma noção um pouco... Assim... é... eu tive uma melhor noção do que é se tocar
violão, como tocar violão, mas também assim é... abandonar tudo que eu fiz pra ser..
vio... por essensia ser violonista é algo também, que não era minha praia. Tinha que ser
um violonista erudito, que vai estudar peças do período, taa... que vai tocar é
justamente com aquelas expressões, que eu sempre gostei é muito de improvisar de
compor né. Então em 2005 tive um Duo com Eduardo Martinelli guitarra e violão né.
também foi uma coisa muito importante né. Aqui nos estado, hoje Maestro da
Sinfônica, depois disso, também eu tive um trio de Jazz chamado, toca trio. Aí... Mas
em 2008 aí...vem eu te contei da viola e falei varias... outras coisas outros
acontecimentos a viola... foi inserida lá no inicio né. Eu passando em frente uma loja de
instrumentos musicais, eu olhei aquela viola lá e entrei, na hora que eu entrei, eu não
sei.. eu não... eu sabia que era afinação em Mi, outra afinação sabia desde criança que
ela acorda solta era um acorde pertado era outro, mas como eu já havia estudado
Harmonia eu comecei a... tentar transpor, eu tava na loja à vontade né... transpor Luiza
do Tom Jobim pra viola, então lembro que consegui fazer um Ré menor trim....
(solfejando a melodia) ai foi fazendo as colocações... de... de. De... da primeira
Cadência da música e aquilo me despertou, Meu Deus cara, acho que eu vou pegar a
viola, que eu vou fazer o que eu faço, na viola. Mas nunca tive intenção de ser Violeiro,
né apesar de ter toda, toda... acredito.. uma, uma... contrução musical desde aqueles
período onde eu cantava ali as musicas de raiz né sua essência. Foi então que eu
comprei investimento e em 2008 teve o projeto Pixinguinha eu compus duas músicas
na viola, e me escrevi no projeto Pixinguinha com essas composições, foi então que eu
fui contemplado pelo projeto Pixinginha e justamente com a viola. Com uma coisa
muito nova né... da minha vida, aí eu decidi me dedicar, aí eu fui pra... fui dar uma
pesquisada, estudar mesmo pouco, fui lá no Pagode, fui é que é...

M2 O que é a referência maior... com... comecei a ver outros Violeiros do Brasil


Contemporâneo, como Ivan Vilela, Roberto Correia né que... que foram os que eu tive
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até, mais proximidade porque eu conheci eles pessoalmente também. Aí eu fui ouvir os
disco do Almir Sater dá uma olhadinha na musica regional, é... tocar alguma coisa
regional, mas eu sempre esteve na minha intensão era usar a viola pra música
instrumental, nunca é... eu tive a intenção de ser visto ou lembrado como Violeiro, né
eu sempre vi uma lacuna muito grande né, e grandes Violeiros do Brasil trabalhando
sério para diminuir essa lacuna, que é a das metodologias, da questão da viola caipira é..
no universo mais acadêmico reunindo um material é...vamos se dizer... importante
pra... para se estudar né.. Para dar oportunidade para aluno também desenvolver outras
coisas.

M2 Mas a viola é muito forte né muito fincada na zona rural, né porque fi aonde ela
mais se desenvolveu. Então é isso então eu.... havia, eu... depois dessa questão do
Pixinguinha veio o segundo CD, também Eu a viola e ele. Aonde eu também toco a
viola toca guitarra. Depois eu mandei fazer um instrumento tem a viola e violão sete
cordas, justamente posse dessa vertente, vertente de jazz. Eu nunca fiz um concerto
puramente de viola toca viola, quando eu toco a viola eu sinto que as pessoas logo não
compreendem esse tipo de viola. Eu fico super feliz porque essa sempre foia proposta
principal.

M1 Legal, então você respondeu algumas perguntas como onde você estudou? como
você aprendeu a tocar viola?

M2 Eu respondi em partes.

M1 Assim você quer responder? Na sua família o círculo de amigos tem mais gente
tocando viola?

M2Tá eu falei muito né mas, é eu posso fazer o seguinte...

M1 Sim pode falando. Onde você estudou viola?

M2 É... eu estudei viola autodidata com... com essa... acredito com essa... internet aí...
possibilitou facilitou demais né, temos materiais e é... mais como eu já tocava o violão
clássico, conhecido como clássico, eu comecei a transpor algumas coisas para viola, Eu
o... Vi alguns outros Violeiros, também na internet que fazem isso, não tô inventando
roda, não tô fazendo nada de novo, vi que não tava fazendo nada de novo, mais uma
coisa que eu notei é que... eu como o guitarrista eu estou sempre ligada improviso né.
Sempre minha música está voltada à improvisação. Então assim, só a viola em si ela não
era o suficiente, então a viola sempre tava... quando eu pegava na viola pra tocar era
uma continuidade dos meus pensamentos musicais com outros instrumentos.

M1 Entendi.

M2 Mesmo músico com outro instrumento.

M1 É como se fosse uma.. é extensão...

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M2 É uma extensão, sim é como se eu pegasse um instrumento com outra afinação, não
to respeitando nenhum parâmetro estipulado, na construção do instrumento.

M1 Você aprendeu autodidata.

M2 Sim

M1 Na sua família na sua família você falou que não tem músico né?

M2 Não, tem meu avô, que ele. Eu posso falar essa aqui especificamente.

M1 Sim pode falar

M2 Ta gravando ai né.

M1 Sim

M2 Então, na minha família por parte da minha mãe que é Mineiro, só que eu tive
encontro com a música, que foi com parentes em Minas é irmão do meu avô o pessoal
se reúne fazenda, que nem eu lembro que eu fui na fazenda do Tio Oliveira, e lá era
roda de sanfona com viola com.. teve um encontro em Minas aí eu... que eu ouvi o Tião
Carreiro, as músicas do Tião Carreiro lá.

M1 Legal, Você toca pagode de viola?

M2 Muito pouco então, muito pouco, então como eu pesquisei, algumas coisas né eu
fui afinco é...como... como pesquisador como músico instrumentista, a gente vai ver o
que é. Eu fico impressionado com algumas coisas assim, em mixolidio, né que ele faz
né, algumas composições dentro dessa... dessa, linha e a viola como solista um... um
instrumento solo ali nos bordões. Com que... como que enfatiza bem os temas né. Dá
para se reconhecer uma música do Tião Carreiro pelo solo da introdução, é
impressionante isso ai, mas na verdade é só como material de pesquisa, eu nunca... eu
nunca compus um pagode. Nunca tive vontade.

M1, O que é o Pagode de Viola? O que você entende como Pagode de Viola.

M2 Pagode é uma batida, sincopada, muito difícil de ser tocada e você passar isso para
o aluno iniciante, você corre o risco de frustrar ele. É muito difícil existe uma técnica
apurada até dos bordões aqui do polegar eu é... é uma música, música... que foi criada
acredito, no uma forma intuitiva, por... por músicos... músicos da sua essência. Ai que
tá a beleza da essência né. Que não se pensava em mercado né e simplesmente em
expressar né, um contexto cultural da época, e um dos ritmos... um... um dos... mais de
vinte e nove ritmos se não me engano. Riquíssimos que temos na nossa musica
brasileira, dentro da música caipira. Segundo Ivan Vilela “Existe mais de 29 tipos
diferentes de ritmos na nossa música caipira” catalogados né.

M1 Oque você sabe sobre o Tião Carreiro?

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M2 Muito pouco, muito pouco sobre Tião Carreiro, É... eu... eu sei, de algumas
discografias, alguns CDs ele assim, porque eu já ouvi mesmo né, da música dele, mas
a história, a biografia da vida dele é muito pouco, uma coisa que eu sei da vida dele, é
que ele perdeu tudo que tinha, não deixou nada para família, assim não sei se é
verdade... é... são contos... é o que contam or aí em eventos de Viola o pessoal trouxe
para mim acredito que deve ter, um funde de verdade. Então é um cara que não teve
posse, e apesar da música dele estar em todo canto do Brasil é algo assim...
inadmissível, como que um cara que tem uma obra dessa, a família não é aparada né...
E por que não tinha esse cuidado, Toda obra dele foi vendido se não me engano... pra
uma...

M1 Gravadora?

M2 Uma gravadra. Então o que eu sei é que nem a família dele tem casa própria.

M1 Além dos pagdes de viola que você toca... você... aprendeu por que estava
estudando, um pouco né... você foi pesquisar isso. Você toca outros ritmos na viola né.
Quais são esses ritmos que você mais gosta de tocar com a viola?

M2 Na minha viola é... por exemplo no meu CD tem a Polca tem, a Guarânea tem o
Jazz, tem o... Afoxé, tem o... cururu tem o Siri, né. No meu último CD agora que eu
gravei, as minhas composições, tem o baião tem o... o.... samba tem o choro tem um
frevo música brasileira em geral, Como eu falei a viola pra mim é utilizada como um
instrumento que materializam minhas idéias sonoras. Então assim tem o Pop, tem desde,
Beatles, e o Rock in Roll, Blues, compus agora uma musica que se chama Estudo em
Blues tá no meu CD agora o último, ..e você não vai sair daqui sem ele não tem um
aí....

M1 Opa obrigdo... Quais são os violeiros que você mais gosta?

M2 Violeiro que eu mais gosto tirando eu? (Sarcasmo)

M1 Concerteza rsrs... (risada)

M2 Bom eu curto muito Ivan Vilela e... eu curto muito CDs instrumental do Almir
Sater, no caso os dois CDs instrumental dele.

M1 Ele fez até Villa ne?

M2 Ele toca até Villa, é eu.. eu curto ai, cheguei até ai. É o que eu gosto.

M1 É essa vertente mais Erudita, mais instrumental. Trabalhado né?

M2 Mas na linguagem que eu curto mesmo, é só quando eu escuto meus CDs mesmo.
Eu não ouvi ninguém gravando. Ainda um Jazz na Viola, uma coisa mais voltada pra
essa área ai um improviso. algum guitarrista que toque viola, ainda não vi.

M1 Você estudo musica lguma vez na sua vida, nesse caso mais voltado a teoria?

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A vida toda estudei música, eu eu... iniciei meus estudos teóricos com música, foi um
pouco tarde, mas antes tarde do que nunca né. Mas... eu lembro que eu estudava oito
horas por dia, oito à nove, as vezes até meu pai uma vez, bateu na janela, lá falou para o
filho você vai ficar louco. Ficava lá estudando solfejo, escala, o dia inteiro até hoje eu
tenho um prazer imenso assim de pegar uma escala diminuta e tentar pensar uns doze
acordes transpondo os intervalos sabe que eu gosto dessas coisas assim, um pouco
Sonomasoquista, eu curto manter meus estudos compor também.

M1 Queria agradecer você por tudo!

M2 Acho interessante essa pesquisa aqui busquei ser sincero porque se eu falar que aí
eu amo Tião Carreiro é porque assim ele... ele é um cara importante, não é por que eu
não toco Tião Carreiro que ele não é um cara importante. Separar as coisas, também
tem muita gente do lado erudito que eu não quero tocar. Eu entendo a música como algo
peculiar e sua, quem não consegue fazer sua vai ter que fazer de alguém! Se eu não
fosse fazer minha música a do Tião Carreiro eu não ia fazer, não é minha praia, tem
violeiro que só toca tião carreiro, maravilha, é difícil. Adimiro que gosta, ele é um
revolucionário da viola, eu entendo, Tião Carreiro, assim como Garoto foi para o violão
brasileiro ele foi para a viola. Entendeu? E falar que a musica dele influencia no que eu
toco, não é cabível, é só ouvir meu CD que você não vai ver Tião Carreiro lá. O próprio
Almir Sater, entendeu, ele faz uma, ai tem toda uma questão politica. Se você falar que
não tem nada de Tião Carreiro na sua musica, você vai arrumar briga com um monte de
violeiro, mas é a verdade. Eu vou falar que minha musica tem Tião Carreiro?

M1 Obrigado Marcos .

M2 A pesar de admirar não tem né. O que eu quer dizer pra você é que o Almir não
tem, mas ele tem que falar que tem se não um monte de violeiro vai odiar ele.

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ENTREVISTA ALBERTINA CARVALHO

M1: Maycon Vianna (Entrevistador)

F1 : Albertina Carvalho

M1 Hoje é dia seis de Junho, estou com a Albertina, ela topou a assinar os termos. E....
Albertina, fale um pouco sobre a historia da sua família.

F1 Bom, a minha, família... é... de história de mineiros né...que vieram de Minas Geras
pra Campo Grande, aqui se estabeleceram e acabou que formou um povoado aqui e
acabaram se expandindo, um povo ficou em Minas, em Liberdade, na Região Sul
também de... Minas Gerais. E... nós somos uma família simples... que gostamos das
coisas tradicionais... Meus irmãos, é... aqui em casa a gente valoriza muito, o ensino a..
que os filhos... meus pais sempre colocaram, que tinham que estudar. Pra ter uma vida
melhor, pra ter uma educação, que era o que ele mais, é... que ele mais acreditava. Que
as pessoas tem que ter educação, é se você tem educação, é ai qe vc tem grandes
conquistas, você consegue chegar aqui e ai, vc tem boa amizades, é... por que o mundo
hoje em dia, é um mundo que esta cheio de muita violência, as pessoas que muitas
vezes, a gente tem medo de confar. Então assim foi uma amizade mais assim em
família, os amigos ter boas amizades, ter uma vida tranquila, ser feliz com o que a gente
tem, sem ter ganancia por dinheiro. E assim a gente vve todo mundo bem com saúde,
né... É assim minha Familia.

M1 Muito Bom Albertina, é onde você estudou?

F1 Eu estudei em uma escola particular, chamada na época, como era conhecida, uma
escola. Que se chamava São Luiz, e depois também, eu tive uma breve passagem, pelo
colégio São José, um colégio de Freiras. É fiz, é... nesse colégio São Luiz e acabei
retornando, e voltei e terminei o ensino médio, fiz facu... é fiz uma preparação para o
magistério, por que eu gostaria de ser professora, e enfim eu acabei optando na
faculdade, pelo curso de letras, mas eu sou bacharel é... e sou bacharel e inglês, sou
tradutora e interprete, e depois e acabei entrando para a saúde pública, hoje sou
Sanitarista e formada em... e sou especialista em saúde publica, pelo ministério da
saúde, né... uma especialização. Na escola de saúde publica. E sou formada em leras e
sanitarista.

M1 Bom... e.. como, você aprendeu a tocar Viola?

F1 É o gosto pela viola começou, é por que meu pai tocava, quando ele trabalhava na
fazenda, depois ele chegava... esse era meu ai biológico, eu fui criada... sou filha
adotiva, e tocava viola, sempre gostei, e o tempo foi passando, antes a gente não tnha
condições, de ter uma aula de viola, tudo, o tempo foi passando e agora quando foi
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meado dos meus quarenta e sete anos, i eu resolvi aprender a tocar viola. Comecei em
uma escolinha, ai depois eu comecei com outro professor, e até então comecei com esse
atual professor que é o professor Maycon, gostei muito, e hoje eu sou apaixonada, acabe
realizando meu sonho, graças a Deus encontrei uma pessoa, que pudesse, completar
esse sonho.

M1 Na sua família ou circulo de amigos tem mais gente que toca viola?

F1 É... na minha família nem tanto, na minha família tem assim... te um que toca violão,
né ele toca violão ele é musico, musicista, e eu sempre gostei e viola não tem é somente
eu que tenho essa paixão, é como eu contei, veio de herança do meu pai né.

M1 Você toca pagode de Viola?

F1 Toco, aprendi graças a Deus (risada)...

M1 Oque é o pagode de viola pra você?

F1 Eu gosto do pagode de viola, por que ele tem aquela batina, né todo violeiro gosta
daquela batida, tem o dedilhado que é bonito e eu também, gosto muito do Tião
Carrerio, então tem essa paixão, tem outros músicos assim que eu tenho.

M1 Você sabe alguma coisa sobre o Tião Carreiro, você conheceu alguém da família
dele pra contar pra gente?

F1 Não, assim conhecer a família não, mas desde criança, eu sempre ouvi ele tocar. As
modas, eu também sou encantada, pelas letras, ele e uma pessoa assim... que o
aprendizado dele veio de, veio muitas vezes assim, aprendeu veip hereditário, não sei a
história, autodidata, é pra mim sou encantada, por que pra mim ningupem faz o som
igual ele, a gente fica admirada, e hoje tem muitos seguidores, né, muitos seguidores do
Tião Carreiro essas pessoas eu acredito... ele ainda ficará por muito e muito tempo, por
que ele é um mito.

M1 Além dos Pagodes de viola, você toca outros ritmos? Quais?

F1 Sim, eu gosto muito da Guarânea, assim tenho uma dificuldade na valsa, mas estou
melhorando, e... também, é.. cururu, é uma das coisas que eu queria ter aprendido até,
gosto muito de tocar, outra Almir Sater também, nossa gosto muito de tocar Almir
Sater, sou super fã dele.

M1 Quais são os violeiros, que você mais gosta?

F1 Então.. Almir Sater e Tião Carreiro, e a Adriana Farias também...

M1 Você estudou musica em algum momento da sua viada...

F1 Ah... ainda tem o Eduardo Costa

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M1 Eduardo Costa, muito bom (risada) não pode esquecer do Eduardo... Você estudou
música, essa questão seria mais em questão de teoria assim...

F1 Nunca havia pego em um instrumento musical, e até um outro professor falou que eu
tinha que aprender violão antes de tudo para eu ter uma base e eu fiz violão.

M1 Então, Albertina a entrevista era essa mesmo, estou fazendo essa pesquisa voltada a
importância que o tião Carreiro teve, eu queria agradecer a você por ter participado, por
que você tem uma visão bastante, boa, por que você ouve muita música.

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ENTREVISTA JORGE PRIÉSLEY CÁCERES

M1: Maycon Vianna (Entrevistador)

M2: Jorge Caceres (Entrevistado)

M1 Estou agora com Jorge 27 de Maio, ele aceitou a particiapar da entrevista semi
estruturada, sore a Importância do Pagode de Viola de Tião Carreiro para a música de
viola caipira contemporânea e sua prática em Mato Grosso do Sul.

Fale um pouco sobre a sua família?

M2 É... nós somos mesmos aqui de Campo Grande, meu pai é descendentes de
Corumbaense, minha mãe é descendente de Paraguai, e... eu nasci aqui mesmo em
Campo Grande e passei minha infância na fazenda.

M1 Onde você estudou, pode falar pra a gente?

M2 Estudei música?

M1 No contesto Geral.

M2 Eu, esudei sempre em escola pública né, estudei na escola... estudei na escola, Padre
Franco Belpiano, escola estadual, que é uma escola assim... qeme agradou bastante na
minha época. Por que é uma escola introduzida dentro do Hospital São Julião, que é
toda em volta por fazenda.

M1 Como você aprendeu a tocar viola?

M2 A viola não foi meu primeiro instrumento eu comecei tocando violão, em um


projeto social, logo depois foi acrescentando outros instrumentos, violoncelo contra
baixo, violino e.. mais a frente o projeto ganhou uma viola, então eu peguei por
curiosidade e comecei a tocar, por curiosidade, foi indo por influência de colegas, fui
aprendendo aos poucos.

M1 Na sua família ou círculos de amigos, tem mais gente tocando viola?

M2 Tem, tem alguns colegas meus, amigos que também toca viola.

M1 Na família tem algum músico?

M2 Na família tem um tio do meu pai que toca harpa paraguaia.

M1 Você toca pagode de viola?

M2 Eu toco, acho que a maioria dos violeiros toca, mesmo os que não gosta, toca.

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M1 Você sabe me explicar, o que é um pagode de viola? Pra você assim, o que é um
pagode de viola?

M2 O pagode de viola, é um ritmo bem característico, na música de viola, a gente, vê


bastante nas músicas dele, já que foi criado por ele né... o pagode de viola. E... é onde a
viola deixa de ser um instrumento de acompanhamento somente, e ela passa a ser um
instrumento solo, onde os violeiros, tem ali que, estudar mais, para que tenha uma
fluência melhor né? E... a gente nota bastante o modo mixolidil, nesses solos de viola.

M1 O que você sabe sobre o Tião Carreiro?

M2 Tião Carreiro... pra mim ele é o pai do pagode, da viola caipira, por que a maioria
dos violeiros que a gente conhece hoje, teve alguma influencia do Tião Carreiro.

M1 É... Você toca pagodes de viola do Tião Carreiro pode citar algum?

M2 Toco, pagode do ala... pagode em brasilia, viola pagodeira, entre outros muitos
outros.

M1 Legal... Além de pagodes de viola, você toca outros, ritmos na viola caipira. Toca
outros estilos de musica diferente?

M2 Eu toco assim, só que eu mais toco na viola mesmo é o pagode de viola, a moda de
viola, solos duetados, musicas do Almir Sater por exemplo.

M1 Quais são os violeiros que você mais gosta hoje em dia, pode citar alguns?

M2 Bom, é... como eu gosto muito de música caipira mesmo eu gosto mais dessa área
mesmo do pagode de viola, do... um dupla de violeiros, Lucas Reis e Thácio, Marco
viola, da dupla, Breno Reis e marco viola.

M1 Você já estudou música em algum momento da sua vida?

M2 Já estudei música, já estudei, comecei na música popular, e depois estudei musica


erudita.

M1 Atualmente você estuda?

M2 Estudo, tô terminando a faculdade agora, faculdade de música, é... mas eu continuo


estudando música.

M1 Além dos ritmos de pagode de viola, você pode citar algum, outro violeiro que
toque viola caipira?

M2 Fora desse contexto, acredito que Ivan vilela, Roberto Correa

M1 Então é isso, muito obrigado Jorge, acredito que vai ajudar bastante a gente nessa
entrevista. Muito obrigado!

M2 Valeu, obrigado.

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ENTREVISTA GABRIEL RODRIGUES

M1: Maycon Vianna (Entrevistador)

M2: Gabriel Rodrigues

M1: Hoje, vinte e sete de maio, estou com Gabriel Rodrigues, e ele já assinou os termos
e topou participar das entrevistas, tudo certo né Gabriel?

M2 Com toda certeza.

M1 Fale um pouco sobre a sua história e a da sua família.

M2 Me chamo Gabriel, tenho vinte e cinco anos, nasci na cidade de Campo Grande,
sou de uma família, tradicional, sul mato-grossense, e isso ai.

M1 Onde você estudou?

M2 Música?

M1 Não, na escola.

M2 Estudei, na Escola João Nepomuceno, a minha... meu fundamental inteiro e na...três


escolas o ensino médio, escolas estaduais, Consuelo Miller, Araci Dolciki e José
Antônio Pereira.

M1 Como você aprendeu a tocar viola?

M2 Eu era de um projeto social, fundação Barbosa Rodrigues, aonde eu aprendi a tocar


violino. E como eu sempre tive um estilo sul mato-grossense os caras tiravam sarro, que
eu tocava violino, então eu descidi aprender a tocar viola, quando meu professor,
Maestro Eduardo Martinelli, me deu de presente, essa viola aqui (Tocou a viola) de
presente e eu comecei a estudar sozinho, e depois tive o auxilio de um amigo chamado
Jorge.

M1 Na sua família ou circulo de amigos, tem mais gente tocando viola?

M2 Sim, com toda certeza, o Jorge, o João Franco que é um primo meu, Eduardo
Toraze, que também é um outro primo meu.

M1 Você toca pagode de viola?

M2 Com toda certeza.

M1 O que é o pagode de viola para você? Poderia definir?

M2 É... o que define a viola caipira, como viola caira, é o divisor de aguas dela, sem o
pagode de viola, acho que a viola caipira não seria o que ela é hoje.

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M1 É, por que que você toca pagode de viola?

M2 Como eu disse, na resposta anterior, é exatamente isso. Sem o pagode de viola, a


viola seria a penas mais um instrumento, mais com esse ritmo a viola veio pra mostrar
sua posição no meio musical brasileiro.

M1 O que você sabe sobre o Tião Carreiro?

M2 Sei que é José Dias Nunes, li algumas histórias, dizendo que ele aprende a afinar a
viola, tocando na viola Tonico e Tinoco, lá quando eles iam apresentar no circo, e dali
ele começou a sua história.

M1 Você toca pagodes de viola do Tião Carreiro, pode dizer algum?

M2 Sim, de praste, Pagode em Brasília com toda certeza, Pagode do Ala, Chora, viola e
assim por diante.

M1 Além do Pagodes de viola, que outros ritmos você toca também?

M2 Cururu, Guarânea, toada...

M1 Quais violeiros, você mais gosta?

M2 Primeira mente e sempre, Tião Carreiro, depois Almir Sater, por ser aqui da minha
Terra, depois Bambico, goiano e Paranaense, que eu esquec qual é o que toca viola.E da
atualidade, Lyan e o Lucas Reis e Thácio.

M1 Legal, você estudou música em algum momento da sua vida, estudo formal,
partitura.

M2 Sim, estudei, no projeto social que eu fiz parte desde 2005 até 2012, que até,2012
foi quando a gente gravou o DVD, é a gente levou, é apresenntou o show do DVD, e
finalizou, e agora sou música profissional.

M1 Então você trabalha com musica hoje?

M2 Sim, sou professor de violino, e também de viola caipira.

M1 Então Gabriel, queria agradecer você, vai contribuir bastante, mas eu tenho uma
ultima pergunta. A ideia dessa pesquisa minha foi que sempre quando, a gente encontra
um violeiro pedem pra tocar uma musica do Tião Carrerio. E lá atrás, quando eu toca
viola, eu toca muitas musicas de Almir Sater, ai um senhor, falou “toca Tião Carreiro
ai!” Eu falei, não sei tocar, e ele me respondeu “Então você não é violeiro’’ “Por que só
é violeiro quem toca Tião Carreiro”, Qual a sua resposta, você acredita que só é violeiro
quem toca Tião Carreiro?

M2 Com toda certeza, não sendo tão extremista assim, mas com toda certeza. É a base
da base, quem não toca pagode, vai tocar o que?

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