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ESCOLA DE MÚSICA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MÚSICA
DOUTORADO EM MÚSICA – EXECUÇÃO MUSICAL – CLARINETA
SALVADOR
2009
i
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
ESCOLA DE MÚSICA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MÚSICA
DOUTORADO EM MÚSICA - EXECUÇÃO MUSICAL - CLARINETA
SALVADOR
2009
ii
Cantão, Jacob Furtado,
O “Toque” da clarineta: um estudo realizado em três bandas de música
CDD - 22 “Rodrigues dos Santos”, “31 de Agosto” e “União Vigiense” da Região do
Salgado – PA / Jacob Furtado Cantão — 2009
xx, 186 fls. il.
Orientador, Joel Luis da Silva Barbosa.
Tese (Doutorado) - Universidade Federal da Bahia, Escola de Música,
Programa de Pós-Graduação em Música, Salvador, 2009.
1. Clarineta. 2. Clarineta – Instrução e estudo. 3. Clarineta com banda.
4. Bandas (Música) – Salgado, Região (PA). I. Título.
ed. 788.62098115
iii
© Copyright by
Jacob Furtado Cantão
Novembro, 2009
iv
v
Dedicado ao meu Pai (in memorium) Esdras de Melo Cantão, Vigiense,
pescador, homem simples de um caráter irretocável e a todas as pessoas
que dedicaram suas vidas ao ensino e a prática da clarineta nas bandas de
música do Estado do Pará.
Jacob Cantão.
vi
AGRADECIMENTOS
vii
RESUMO
Esta pesquisa tem como objeto de estudo a execução da clarineta em três bandas:
Estado do Pará. Ela descreve a maneira de se tocar clarineta nestas bandas. A metodologia
tocar dos clarinetistas. Os dados aqui apresentados foram obtidos através de trabalho de
clarinetistas.
uma maneira particular de tocar clarineta. Por apresentar características diferentes das
essa maneira particular de se tocar de “O toque da clarineta”. Isso demonstra que no Brasil,
mais precisamente no Pará, a execução da clarineta se mostra como um mosaico e não como
viii
execução da clarineta. O estudo amplia a discussão de como abordar pedagogicamente a
características essenciais dessa tradição musical dessas três bandas e que devem ser
considerada como uma maneira particular de execução e não como um conjunto de elementos
ix
ABSTRACT
This study focus on the clarinet performance in three bands: Rodrigues dos Santos, 31
de Agosto and União Vigiense, located in the Salgado area of the State of Pará, Brazil. It
describes the manner of clarinet playing in these bands and employed the multicase method.
The study presents the geographic, historic and cultural contexts of the cities, the physical,
administrative and pedagogic infra-structures of the band, the process of oral transmission of
the music knowledge, the clarinet teaching and the clarinetists’ manner. The data were
the bands through their individual recordings of music passages of the band repertoire. They
evaluates the variables of tone, dynamic, intonation and articulation. The analyses of the
instrumental technique included mainly hand position and embouchure of the same
clarinetists, this manner of playing was called “The clarinet´s toque” – the Portuguese word
“toque” having double meanings: playing and touch. These findings show that the manner of
clarinet playing in Brazil is a mosaic.It is not static and alike in the different regions.
Afterwards, the study makes a reflection on the academic model of the clarinet
technique and performance and on the "the clarinet toque" founded in the bands, considering
a likely need of re-signifying the values of teaching, learning and perform clarinet. The
x
The results delineated that those clarinetists' current manner of playing is part of the
essential characteristics of these bands' tradition and it should be considered as a peculiar way
of playing and not as a group of deficiencies of the locality. Besides, the results point out the
necessity of deepening the understanding of the instrument teaching of the bands in its own
cultural context.
xi
SUMÁRIO
AGRADECIMENTOS ....................................................................................................vii
ABSTRACT ....................................................................................................................... x
GLOSSÁRIO ................................................................................................................... xx
INTRODUÇÃO
CAPÍTULO I
xii
CAPÍTULO II
2. METODOLOGIA .............................................................................................. 26
2.1 Procedimentos metodológicos ....................................................... 28
2.2 Coleta de Dados ............................................................................. 30
CAPÍTULO III
xiii
3.5 As Atividades Artísticas - "Funções" ............................................ 67
3.6. Educação e Musicalização ............................................................ 71
3.7. Processos de Ensino e Aprendizagem da Clarineta ...................... 79
3.7.1 Iniciação à Clarineta na Rodrigues dos Santos ................ 80
CAPÍTULO IV
xiv
ANEXO
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
FIGURAS
xv
GRÁFICOS
LISTA DE TABELAS
xvi
ANEXOS
Anexo A - Fotos ................................................................................ 144
Anexo B - Questionário ..................................................................... 149
Anexo C - Entrevista ......................................................................... 152
Anexo D - Ficha de Avaliação .......................................................... 153
Anexo E - Transcrições das Entrevistas ............................................ 154
xvii
Anexo G - Vídeos e Áudios (Vide CD anexo)
Faixa 01 - Bater a lição
Faixa 02 - Sapatilhas artesanais
Faixa 03 - Afinação durante o ensaio de banda (Vídeo)
Faixa 04 - Movimento de Hiper-extensão (Vídeo)
Faixa 05 - Movimento de contração isométrica (Vídeo)
Faixa 06 - Posição dos dedos (Vídeo)
Faixa 07 - Respiração (Vídeo)
xviii
Faixa 25 - Sujeito 4 - União Vigiense (Vídeo)
Faixa 26 - Sujeito 5 - União Vigiense (Vídeo)
xix
GLOSSÁRIO
Abafado: Termo local usado para referir-se a vedação dos orifícios do instrumento pelo uso
de pequenos botões chamados de sapatilhas ou abafadores.
Apitar: Guinchar
Bater ou bater a lição: Leitura rítmica. Esta prática é feita com a voz pronunciando os nomes
das notas, sem entoá-las, e com o movimento das mãos realizando diferentes diagramas para
cada fórmula de compasso.
Força na embocadura: Expressão que significa a capacidade que o aluno tem de extrair um
som, na concepção local “bom”, “forte” e “alto”.
Mecânica: Termo muito usado no interior do Estado para se referir à destreza motora, ou seja,
a habilidade nos movimentos dos dedos. Mecânica está relacionada também a expressão
“estudo de mecanismo” encontrada nos métodos de clarineta.
Musicalização: significa o aprendizado dos nomes das notas na pauta, dos nomes e valores
das figuras e os principais signos musicais, isto é, conhecer os rudimentos elementares da
gramática e musical que é chamada, na banda, de “teoria musical”.
Pegar embocadura: Refere-se ao período de adaptação que cada indivíduo realiza ao tentar
extrair um som de um determinado instrumento. Essa adaptação individual tem suas
particularidades como a musculatura labial, formato do rosto e o aspecto psicológico.
Tirar: Na região, se usa a expressão “tirar uma música” para se referir ao aprendizado da
execução das notas de uma música no instrumento.
Traves: são as linhas verticais que se formam nos cantos da boca. O músculo que é
solicitado e sofre essa contração é o orbicular da boca e o bucinador.
xx
1
INTRODUÇÃO
“fazer musical” revelando abordagens sonoras e particularidades na execução, fato este que a
musicais constituídos em seu ambiente, como e porque os clarinetistas paraenses tocam assim.
Portanto, é provável que as características musicais dos clarinetistas em toda a sua dimensão
sua forma de tocar com o contexto social trazem à reflexão a questão do surgimento de um
forma de tocar está correta ou não, considerando a ótica acadêmica instrumental ou a prática
de execução musical, ela é uma prática que possui seus valores culturais e sociais.
A maneira de se tocar clarineta nas bandas do interior pode ter algumas peculiaridades
que devem ser investigadas, para isso levantaram-se alguns questionamentos: é possível que o
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
"
Salles (1983, 20-37) cita Theodoro Braga, Vieira (1900), a chronica da companhia de Jesus (1909) onde
se conclui que os primeiros instrumentos introduzidos na Amazônia foi a Trombeta, Tuba, Tromba ou trompa.
Há registros de pífano, gaita, desde o século XVII. A charamela também é citada até o final do século XVIII. A
fabricação de clarinetas em Portugal data de 1807, de acordo com Freitas (1946). O modelo Português de Banda
que vigoraria no Brasil está indicado na portaria de 16.12.1815 na qual consta a presença de clarinetistas.! No
Pará, de acordo com o Arquivo Nacional, seção de manuscritos, Cód. IG 1 -14 (1853-1866) há uma relação de
instrumentos da Banda de Música do Arsenal de Guerra, então existentes, que estavam “em mau estado” entre
eles, constam 6 clarinetas em si bemol. É provável que estes instrumentos já circulassem no Pará, alguns anos
anteriormente. !
!
2
podem apontar uma provável re-significação dos valores de ensino, aprendizagem e execução.
É possível que este conhecimento possa dar alguma base para ampliar a discussão de como
perder suas características essenciais? Até que ponto a execução atual desses clarinetistas são
características essenciais dessa tradição musical e não devem ser impactadas com processos
pedagógicos externos? Portanto, estas questões tornam esta pesquisa relevante para a área de
mosaico e não como um fato estático semelhante em todo o país. Do ponto de vista de
sonoras desenvolvidas nestas bandas ou melhore, caso a direção da banda busque uma
mudança de sonoridade.
resultados podem servir de elementos norteadores para compreender que existem outras
formas de prática musical com metodologias próprias para desenvolver habilidades que não
prática musical devem ser entendidas não como um problema, mas como uma alternativa de
três bandas: A Banda da Sociedade Artística Beneficente Rodrigues dos Santos, do Município
Vigia de Nazaré: a Banda Clube Musical 31 de Agosto, conhecida como “31”, e a do Clube
Musical União Vigiense, também chamada de “União”. A distância entre os dois municípios
é de aproximadamente 12 km.
corporações. Como indicado por esta metodologia, foi levando em consideração o próprio
adotados para estabelecer rigor científico. Faz referência sobre a técnica de investigação e
relata as etapas percorridas. É feita também uma abordagem de análise e sistematização sobre
4
sonoridade dos clarinetistas. Apresenta o parecer dos cinco avaliadores sobre os aspectos
O terceiro capítulo traz uma trajetória da ambientação onde ocorreu a pesquisa. Parte
da descrição dos municípios fazendo uma abordagem histórica sobre as três bandas. Descreve
a estrutura organizacional das corporações estudadas assim como as atividades artísticas que
fazem parte das suas atividades culturais. Conclui com um relato sobre suas abordagens
colocados para justificar a necessidade de se compreender e refletir sobre este modo de tocar.
Estas características não são encontradas no modelo de ensino acadêmico, o que leva o
pesquisador a propor que este modo de tocar seja denominado de o “toque” da clarineta por
_______________________________________CAPÍTULO 1
REVISÃO DE LITERATURA
Este estudo teve como objetivo compreender a técnica (maneira) de se tocar a clarineta
por clarinetistas de três bandas paraenses. Este capítulo apresenta os estudos realizados sobre
banda, com suas atividades musicais e pedagógicas, e os contextos cultural e social em que
ambos se inserem, buscou-se entender a relação entre eles revendo algumas linhas de
aptos para dirigir eficazmente uma atividade qualquer.” Ferreira (2004) definiu a técnica
como “a maneira, jeito ou habilidade especial de executar ou fazer algo.” Dentro do contexto
musical, Pino (1980: 64-65), ao se referir à técnica, evidencia que o assunto ainda é mal
compreendido pelos clarinetistas que a colocam longe de suas prioridades, sobretudo no que
elementos, porém neste estudo vamos considerar a contribuição da postura do corpo, posição
clarinetistas que ensinam, pesquisam e atuam como performers. Eles tratam cada aspecto da
técnica com a intenção de instruir alunos e professores nos principais conceitos do mesmo.
Entre os estudos sobre a técnica da clarineta destacam-se os textos de Stein (1958), Stubbins
(1954), Pino (1980), Weston (1982), Mazzeo (1990), Colwell (1992), Pay (in Lawson, 1995),
Lawson (1995), Reffeldt (1994), Klug (1997), Kycia (1999) e diversos artigos e teses. Para a
maioria dos estudiosos, os fatores que se relacionam com a técnica são: embocadura,
maneira geral, a questão técnica permanece como uma preocupação constante de estudiosos.
Pino (1980, 51-52) classifica três sistemas indispensáveis para se tocar clarineta que
Para ele uma boa técnica é a coordenação do sistema som-gerador (músculos responsáveis
pela corrente de ar, traquéia, embocadura, palheta e boquilha), com o sistema técnico (chaves,
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3
Perhaps technique is best thought of, then, as being the manner in which hands, fingers, and tongue, acting
upon the exterior of the clarinet, coordinate their actions with those of the air and embouchure. In other words,
technique is really nothing more than control, and control is really nothing more than coordination! To have
good technique means that you must adequate control of yourself, your instrument, and the music you are
playing.
7
posição das notas, língua, braços e dedos) são os elementos que contribuem para a realização
Para Stubbins (1974, 192-193) a técnica básica para se tocar a clarineta é definida em
comenta que “o som inicial é controlado pela embocadura e respiração; a técnica se preocupa
com a manipulação do mecanismo, facilmente descrita como posição das mãos; e a língua que
se refere à articulação.”4 Para ele é impossível estudar esses elementos sem a existência de
e a posição das mãos e dedos são abordadas por professores e instrumentistas como elemento
essencial no ensino do instrumento (Klug, 1997, 60). A postura de segurar a clarineta não diz
conscientização corporal. Enquanto não existe esta conscientização, os músculos podem ser
fisioterapeutas concordam que qualquer postura que se configura num ponto inicial de
estresse pode levar a tensão. O pescoço, braços, mãos e dedos do instrumentista podem ser
afetados diretamente pela tensão, o que dificulta sua movimentação. Portanto, professores e
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!!!!!!!!4! The tone being controlled by the embouchure and the breath; the technique being concerned with the
manipulation of the mechanism, easily described as hand-position; and the tongue which is concerned with the
articulation#
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musical.
mecanismo é descrita como posição das mãos. A posição mais natural dos dedos não é plana e
estendida, mas ligeiramente encurvada. Colwell (1992, 248), observa que “para se obter uma
boa postura para segurar o instrumento é fundamental o uso e posicionamentos dos dedos e
das mãos”.
Segundo Klug (1997, 17), a mão esquerda é responsável por 60% do mecanismo da
clarineta e apresenta mais problemas do que a mão direita. Além de não ter apoio. O polegar
esquerdo trabalha com a chave de registro e com o anel do orifício na parte inferior do
instrumento (Weston, 1980, 41). A seqüência das notas realizadas dentro de uma determinada
passagem musical, que envolva o anel do orifício na parte inferior da clarineta e a chave de
contato com duas importantes chaves 10 e 11 (tabela de dedilhados do Método Completo para
esquerdo e direito, Stubbins (1954, 214-215) enfatiza: “o dedo indicador esquerdo deveria
tocar a chave do sol # com a ponta da articulação superior da segunda junta e a chave do LÁ
natural próximo à chave do sol # deveria ser tocada com o canto interior da primeira junta
deste mesmo dedo”. O dedo indicador direito deve ser um pouco inclinado em direção às
chaves laterais de forma que a junta do dedo possa acionar essas chaves.
mesmo, neste sentido Colwell (1992, 250-251) comenta que: “o polegar direito deve ser
firme, mas não deve empurrar o clarinete na boca. Marcas profundas de dentes na boquilha
indicam pressões excessivas do polegar direito”. Este polegar tem a função de ser o ponto de
9
30), “a meio caminho entre a articulação de fim e a unha”. Pino (1980, 67) recomenda colocar
instrumento. Para Stubbins (1954, 215), “as pontas dos dedos mínimos, de ambas as mãos,
deveriam tocar as pontas das chaves.” As mãos devem trabalhar de forma a possibilitar a
liberdade no movimento dos dedos e eliminar movimentos desnecessários. Pay (in Lawson
1999, 119) recomenda movimentos pequenos dos dedos quando necessário e movimentos
maiores quando isso não significa uma atitude danosa para a execução. Existem clarinetistas
de grande capacidade que realizam trechos musicais sem levantar demasiadamente os dedos,
com movimentos em curtas distâncias, porém há outros que podem ser tão fluentes quantos
cuidado que se deve ter com a naturalidade dos movimentos dos dedos. Por isso, a posição é
de fundamental importância para a técnica da clarineta, neste sentido Stubbins (1974, 212)!
explica:
execução.
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5
Every effort to assume a comfortable and natural position should be made. ...!A poor hand-position can
generally be described as an unnatural use of the hands and a distortion of the natural curve and flexibility of the
fingers.
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1.1.2 EMBOCADURA
instrumentistas tocavam com a palheta sob o lábio superior e, depois, substituíram esta
maneira por outra forma: tocar com a palheta sobre o lábio inferior. Segundo Shackleton
(1980, 436-437), durante o século XIX, boa parte da Europa já adotava esse estilo de tocar
boca: a embocadura dupla (os lábios superiores e inferiores são ligeiramente dobrados, sem
são dobrados internamente e os dentes superiores ficam sobre a boquilha). Ainda no século
XIX, segundo Kycia (1999, 36), a embocadura dupla6 era muito popular na França. Weston
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6
No Pará até as décadas de 1970, o pesquisador ainda observava que alguns músicos do interior tocavam
com a embocadura dupla.
7
In the early days embouchure was always double lip, that is to say both lips were tucked over the teeth.
The teeth could not have been allowed in contact with mouthpieces of the time, for the latter were made of wood
and this would have become damaged. Wood was an unsatisfactory medium in other ways too, for it tended to
crack and warp, thus ruining the lay. Many experiments were therefore made with other materials and in the
1870s ebonite was found to be a suitable substitute. Now there was no reason to continue the top lip’s discomfort
when playing with it tucked over the teeth.
11
Weston (1980, 21) diz que “Carl Baermann8 foi um dos primeiros a adaptar-se a
embocadura simples, mostrando agora, que era possível, com maior resistência ter
embocadura dupla continua sendo usada, porém por uma minoria. Já a embocadura simples é
instrumentos de sopro, apresenta suas dificuldades. Pino (1980, 134-135) defende que o
má, será de qualquer uso. A definição do termo embocadura feita por Pino (ibid., 53) retrata a
tocar. O fato de não entender esse mecanismo acarretará no surgimento de vários problemas.
Para Stein (ibid. 12), essa busca, quando devidamente supervisionada, pode auxiliar na
formação de uma embocadura que desenvolve a autoconfiança do aluno, caso contrário, esta
confiança se transforma em um vício de apertar a boquilha com os dentes; chamada pelo autor
Bonade, o fundador da escola americana de clarineta, citado por Kicia (1999, 38)
recomenda não apertar os lábios superiores nem inferiores, evitando morder no momento de
tocar. Weston (1982, 55) afirma que embocadura significa o controle das mandíbulas, lábios e
dos músculos laterais da face. A combinação entre esses elementos proporciona uma melhoria
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
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The lip and surrounding facial muscles required in performing- is the heart of clarinet playing. When the
embouchure begins to function correctly, the way is cleared for success in tonal entrance (tonguing), tone
development and response in general. A faulty embouchure will inevitably result in laying problems.
12
Biting pressure is a vicious habit in that it immediately shortens amplitude of reed vibration which, in
turn, limits flexibility of tone. It also spreads tenseness rapidly to other playing areas. Once used, this “bite” is
almost impossible to break away from without re-learning embouchure habits completely.
13
Klug (1997) fala sobre o “ponto de controle na boquilha”14 que, segundo ele, é o local
exato onde os dentes devem estar apoiados na boquilha evitando prejudicar o movimento da
Weston (ibid., 20) destaca também que “A afinação dos sons é controlada pelo grau de
pressão de mandíbula contra a palheta.” A pressão deve ser controlada durante o tempo que o
instrumentista executa o seu instrumento e a pressão não pode ser diretamente na ponta da
palheta, mas somente no meio da boquilha. Pay (apud Lawson 1999, 117) faz citação do
afinação.”
acústico da clarineta moderna permitiu que fosse possível realizar algumas experiências
acústicas (sons múltiplos, microtons). A técnica da clarineta também se expandiu neste novo
mundo fazendo surgir uma nova técnica de clarineta, entretanto para Richards (1992, iii) nada
disso seria possível se essa nova tendência não tivesse uma fundamentação robusta na técnica
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13
The word embouchure applied to a wind instrument denotes the position and control of the jaws, lips and
surrounding muscles in tone production. Given a good embouchure, good quality tone and good intonation will
result. These are balancing factors and the successful production of one will give the other.
14
“Control point on the mouthpiece” - expressão utilizada por Howard Klug (1997, 51).
15
Segundo Richards (1992), em 1960 Bruno Bartolozzi publicou, em Milão (Itália), um trabalho
significante de possibilidades acústicas para vários instrumentos entre eles, a clarineta. O problema é que a
experiência foi realizada com o sistema “Full-Boehm System”, pouco utilizado por clarinetistas fora da Itália. A
crítica a esse trabalho é também a sua natureza empírica que domina grande parte da investigação, sem levar em
consideração os princípios da acústica. Outro estudo importante ocorreu por volta dos anos 70 por Phillip
Rehfeldt, com a obra New Directions for Clarinet. É o primeiro trabalho mais abrangente para os instrumentistas
que utilizam o sistema padrão Boehm. A obra The clarinet of the twenty-first century, de Richards, expande e
difere dos trabalhos anteriores por: 1) organizar os sons múltiplos de acordo como esses sons são produzidos e
como são formados (princípios acústicos), classificando 463 sons múltiplos; 2) dividir os microtons em
intervalos menores de quarto de tons, apresentando 478 categorias de alturas; 3) comparar e classificar os
timbres dos sons simples (não múltiplos) e as posições alternativas de dedilhados. 4) apresentar 103 exemplos
musicais; e 5) discutir o conhecimento histórico e acústico da clarineta, os métodos e exercícios para os
clarinetistas atingir novas técnicas, e a teoria da técnica dos dedos como base para explorações posteriores.!
14
tradicional básica que, segundo ele, é focada no controle da embocadura e na digitação. Não
acordo com o seu ponto de vista, julga o que considera mais favorável. Para Stein (1958, 12),
Stein recomenda ao aluno confirmar se o mento17 (queixo) está esticado para baixo e
devem permanecer flexíveis. Klug (1997, 51) diz que “uma boa embocadura é composta de
músculos que distendam em direções opostas.” A embocadura pode ser descrita de inúmeras
arredondamento dos músculos em volta dos lábios. Os cantos da boca e os músculos da “maçã
do rosto” (bochecha) devem ser atraídos em direção aos lados da boquilha. O resultado desta
de maneira natural ou por falta de orientação, uma bolsa de ar. Uns na “maçã do rosto”
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
16
Begin by closing the lips and holding them easily together while gently lowering the jaw approximately
3/8 of an inch. Notice that in keeping the line in the center. The lower lip in particular seems to rise and reach
directly upward, bending outward past the lower teeth instead of lapping over them.
17
Anat. Porção inferior e média da face, saliente, e que se localiza abaixo do lábio inferior: Novo
Dicionário Eletrônico Aurélio versão 5.11
!
!
15
ato de tocar é um importante dado que afeta a embocadura (Pino 1980, 67; Colwell 1992, 248;
Kycia 1999, 30-32). O ângulo está relacionado à postura do clarinetista tanto sentado quanto
em pé e este detalhe técnico é de extrema importância no aprendizado, pois se não for bem
orientado, poderá causar problemas físicos e de execução musical que acompanhará o aluno
durante toda a sua vida. Dizer qual o ângulo mais adequado para o aluno é uma questão que
deve ser visto individualmente, pois o tamanho e formato da boca e dos dentes afetam a
maneira de segurar a clarineta. Segundo Colwell (1992, 248), cada estudante tem hábitos de
Quanto ao ângulo, Bonade (apud Kycia, 1999, 30) recomenda que “a boquilha deveria
ser posta no lábio inferior e sobre uma polegada e meia da ponta da palheta, a um ângulo de
45º.” Pino (1980, 67) propõe um ângulo entre 35º e 40º. Stubbins (1954, 212) recomenda que
a postura para segurar a clarineta não pode ser menos de 30º e nem mais de 60º, a distância
harmonia.
1.1.3 RESPIRAÇÃO
Os fisiologistas classificam que a respiração é uma atividade que envolve duas ações:
função da respiração na atividade instrumental (Weston 1982, 52-53; Pino 1980, 47-48).
16
Segundo Souchard (1989) a inspiração, responsável pela entrada de ar nos pulmões, ocorre
interna força o ar a entrar nos pulmões. Ainda segundo o mesmo autor, a expiração, que
músculos da respiração.
Kycia (1999, 44) relata a abordagem pedagógica da respiração feita por Bonade onde
Segundo Kycia (1999), Bonade dizia que o apoio da respiração envolvia duas ações:
inalação e exalação. Ao inalar, o diafragma de uma pessoa relaxa para baixo e a parte o corpo
que ajuda expelir o ar. Usando apoio de respiração, ainda segundo Bonade, o som da clarineta
Stubbins (1954, 193) comenta que o fundamento de se tocar clarineta envolve uma
ação física abrangendo o som, a técnica e a articulação e que “o som inicial é controlado pela
qualidade do som (Pino 1980, 47-48; Klug 1997, 56; Pay apud Lawson 1995, 108-109). A
respiração em música, porém, pode ter outra utilização, a respiração no fraseado musical.
interferir na afinação, na articulação e na qualidade do som”. Klug (1997, 56) menciona que o
modo como usamos o ar pode ter grande influencia na emissão de um bom som, na
de staccato.
1.1.4 SONORIDADE
sonoridade da clarineta pode ser compreendida através das leis da acústica ou pelo enfoque
Ao se referir sobre as características do som, Henrique (2002, 169) observa que sua
classificação não é rigorosa, pois fundi características psicológicas e físicas. Sobre esse
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
19
Charles Schulueter, professor e trompetista americano. Palestra proferida no dia 01 de junho de 2009, em
Belém para a classe de trompete e trompa dentro da Programação do Festival Internacional de Música do Pará
promovido pela Fundação Carlos Gomes.
18
Nattiez (1984, 219) define som como “uma sensação regular e periódica de
vibrações”. O som é um conjunto de atributos musicais analisado por Menezes (2004, 94)
como “Uma totalidade de aspectos” que passou a ser suscetível de uma decomposição em
estímulo e traduz a sensação auditiva que nos permiti ordenar os sons do grave ao agudo.”
Para Wisnik (1989, 18) “as freqüências sonoras se apresentam basicamente em duas grandes
categorias: as durações e as alturas”. Já Menezes (2004, 96) destaca que “dentre todos os
Havard brief dictionary of music (1960, 305) define o timbre como “uma qualidade particular
do som emitido por um instrumento ou voz. Para Menezes (2004, 95-199) o timbre é definido
da seguinte forma:
Para Henrique (2002, 871-872) “timbre é uma característica subjetiva do som que nos
permite diferenciar dois sons de alturas e intensidades iguais.” Como decorrência desta
subjetividade, músicos usam expressões que representam determinadas analogias com outras
sensações como: sons estridentes, redondos, aveludados, brilhantes entre outras adjetivações.
Loureiro (2001), em seu trabalho sobre a variação do timbre da clarineta, diz que:
1.1.5 ARTICULAÇÃO
fonética, compreende o funcionamento fisiológico dos órgãos da fala. Nos níveis de capitação
dos fatos fônicos, distinguem-se a fonética articulatória (ao nível da emissão), a fonética
acústica (ao nível da transmissão), e a fonética auditiva (no plano da Recepção), (Greimas e
Para Mazzeo (1990, 69) existem muitas formas de se tocar a clarineta, quase todos os
clarinetistas usam a língua para iniciar o som, porém, alguns não a usam. Nesta pesquisa, a
abordagem de execução vai considerar o uso da língua em forma de “ataque” para auxiliar o
som junto com o ar, neste sentido Stubbins (1954, 208) explica:
Pino (1980, 82-83) faz referência sobre o uso do termo “ataque” dizendo que
clarinetistas experientes e professores usam o termo para descrever a ação do inicio do som
através da língua. Ele aconselha usar o termo “tonal entrance” (início do som) e complementa
“Airflow is what causes tonal entrance” (a corrente de ar é o que causa a entrada do som).
A articulação inclui ataque de notas com e sem uso de língua, ligaduras, acentos,
staccato, portato e tenuto, cada uma produzida com diferentes forças da língua e pressão do
ar. A preparação para o início do som é um fator crucial. Larry Bocaner, citado por Kycia
(1990), salienta que primeiro vem o ar e depois a intervenção da ponta da língua na ponta da
palheta (Lawson 1995, 128; Bonade apud Kycia 1999, 50). A articulação ocorre com a
movimentação da língua para frente, em direção a ponta da palheta, e o recuo da mesma. Para
divergem quanto à sílaba a ser utilizada. Há uma variedade muito grande de sílabas como “ti”,
“te”, “ta”. Já alguns preferem “du” enquanto outros “tu”. Pay (apud Lawson 1999, 128)
entende que a sílaba “du” é mais elegante e explica que a respiração, embocadura, dedos e
língua devem ser trabalhados de forma coordenada com a articulação para controlar o
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
20
Articulation on the clarinet is produced by the action of the tongue against the reed which produces a
momentary stoppage of the vibration of the reed as well as an interruption of the air-stream, and thus produces a
consequent interval of silence.
21
ataque,21 peso e níveis dinâmicos das notas. Estes elementos são fundamentais para auxiliar
triplo e o frulatto que não serão abordados neste trabalho. A importância de articulação está
meados do século XVIII, os estudos relacionados à cultura têm sido fundamentais para o
americano Allan Merriam, com a obra Anthropology of Music em 1964, estabelece um marco
interação social”. A música não pode ser definida apenas como som, “envolve o
consentimento social das pessoas que decidem o que pode e não pode ser.” (Merrian, ibid.,
27). Outro ponto interligado pelo contexto, diz respeito ao processo de ensino e aprendizagem
que, assumem formas distintas e apresenta particularidades que caracterizam o seu próprio
fazer musical (Merrian,1964; Blacking, 1973; e Netll, 1983). A cultura tem formas de
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
21
A articulação e o uso da sílaba caracterizam o início do som no instrumento.
22
nativos Venda, observa que a produção musical destes é resultado não apenas do fator cultural
Fazendo uma analogia com as atividades musicais nas bandas, observa-se a relevância
do contexto cultural. Neste universo temos uma rede de parentesco familiar, o gosto por
conceitos são utilizados, nesta pesquisa, para compreender o universo da música, dos
clarinetistas e de sua atuação nas bandas. Não isolamos nesta pesquisa, o fazer musical de seu
contexto cultural. Música e cultura são elementos absolutamente necessários para ampliar o
nosso olhar sobre outras formas de performance musical que não seja exatamente um padrão
A literatura sobre a música no Pará, escrita por jornalistas e historiadores, entre eles
Baena (1883), Braga (1919), Hurley (1933), Rocque (1978), Furtado (1978;1980 ) e Ildone
(1991), faz uma abordagem geral sobre as manifestações culturais e musicais, além de
identificar alguns dos importantes músicos. No entanto, não tratam da execução e técnica da
clarineta.
Até o presente momento tudo que se sabe sobre bandas no Pará, de maneira mais
entre vários artigos e livros publicou a obra Sociedade de Euterpe (1985). Esta obra faz uma
abordagem histórica das bandas civis e militares na capital e no interior do estado, citando
Apenas uma observação se faz necessária à obra Sociedade de Euterpe, ela não relata a
atividade dos músicos evangélicos22 tanto do interior do Pará como da capital. A Igreja
Evangélica Assembléia de Deus de Belém tornou-se a primeira igreja evangélica que adotou o
uso de banda dentro do serviço litúrgico23. Desde o final da década de 1930, as igrejas
instrumentos de sopro. Esse modelo propagou-se pelo interior do Estado à medida que as
Outra obra importante de Vicente Salles é “Música e Músicos no Pará” (1970). Este
trabalho reúne biografias de figuras que se destacaram no cenário artístico paraense durante os
mestres de banda e doze clarinetistas, além de fazer citação de uma comédia regional
Outra referencia é a pesquisa de Uchoa (2003) que em sua dissertação de mestrado faz
uma abordagem biográfica sobre a vida e a obra do mestre de banda Oscar Santos, músico
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
22
A Igreja Evangélica Assembléia de Deus em Belém do Pará foi fundada em 1911 pelos Missionários
Suecos Daniel Berg e Gunnar Vingren. Considerada igreja-mãe em todo o Brasil. Em 18 de março de 1936 já
contava com uma pequena orquestra formada de 2 flautas, 1 clarineta, 1 piston, 2 violino e 1 bandolin. A igreja
contrata um professor de música para lecionar a gramática musical. A idéia deu bons resultados. Nos anos 40, a
orquestra dá lugar à banda de música. A utilização de uma banda no culto transforma-se num fato inédito jamais
visto no Pará. Tal acontecimento influenciou muitos jovens evangélicos na capital, no interior e nos outros
estados que passaram a adotar práticas musicais semelhantes, centradas no ensino da música e na formação de
bandas. A partir dos anos 60 muitas igrejas evangélicas do interior investiram em pequenas escolas e na criação
de bandas.
!!!!!!!!23! Em 1910, chegou a Vigia de Nazaré como Vigário o Padre Alcides Batalha Paranhos, se aproximou e
reorganizou a banda 31 de agosto. Ele estabeleceu a orquestra de coro para acompanhar as missas solenes e as
ladainhas. A orquestra era formada de 7 músicos de sopros todos componentes da 31 de agosto (Neves, 2008).!
24
paraense que desenvolveu uma intensa atividade de ensino musical em Macapá e em alguns
municípios do Pará. Compôs inúmeras músicas para banda e outras formações instrumentais.
Cardoso (2006) realizou uma pesquisa em que descreve “As transformações ocorridas
uma mudança de ensino musical e instrumental percebida por meio de suas observações e
experiências como instrumentista. Ele faz um relato geral de como era e como é desenvolvido
apontando fatos que marcaram a vida da banda no município e do trabalho musical de seus
ilustres mestres. Costa e Silva (2008) abordam o contexto histórico do compositor e regente
Serafim dos Anjos Raiol Filho e seu trabalho no Clube Musical União Vigiense. Esta
inicia-se apresentando o carimbó em seu contexto histórico-cultural com sua música, dança,
formação dos clarinetistas que atuam nesta dança. A análise aponta que embora haja
que indica aspectos comuns na execução da clarineta nesta manifestação. Por fim, o trabalho
Como leitura complementar duas pesquisas realizadas sobre bandas fora do estado do
pesquisa desenvolvida no Rio de Janeiro por Alves (1999). Este trabalho faz um panorama
dissertação “A banda de Música: retratos sonoros brasileiros”. Nesta, Pereira (1999) faz uma
humanos e materiais.
26
_________________________________CAPÍTULO 2
METODOLOGIA
Para investigar como se toca a clarineta nas bandas estudadas, utilizou-se o método de
da pesquisa.
variáveis. A pesquisa qualitativa considera que há uma relação dinâmica entre o mundo do
objeto e a subjetividade do sujeito que não pode ser traduzido apenas por números, entende
que o ambiente natural é a fonte direta para a coleta de dados e o pesquisador é o instrumento-
chave, segundo Bogdan (1982, 27-29). A abordagem qualitativa adotada por pesquisadores
educacionais (Creswell, 2007, 202) tem sido freqüentemente utilizada em estudos voltados
empíricos, que podem ser estudos de caso, experiências pessoais, histórias de vida, produções
vida humana em grupos (César, 2007). Casey (1992, 115) afirma que “junto com a pesquisa
tradicional das ciências sociais” e defende que a descrição é fundamental para a ciência.
Autores como Bogdan (1982), Lehfeld (1986) e Casey (1992) enfatizam no estudo descritivo
análise de dados. Nesta pesquisa, as técnicas citadas fazem parte deste estudo não para
explicar o fenômeno descrito embora, em muitos casos, essa possibilidade possa existir. O
27
envolvidas na pesquisa e suas variáveis existentes. Para Chizzotti (2005, 79) “o objeto não é
um dado inerte e neutro; está possuído de significados e relações que sujeitos concretos criam
em suas ações”.
Segundo Yin (2005, 32), um estudo de caso é “uma investigação empírica que
investiga um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto da vida real, quando os limites
entre o fenômeno e o contexto não estão claramente definidos”. De acordo com o autor, o
estudo de caso possui duas variações, o estudo de caso único ou estudo de casos múltiplos ou
relevantes; a segunda refere-se ao número de casos relacionados à certeza de que se quer ter e
não a critérios estatísticos relacionados a níveis de significância (Cesar, 2007, 3). Dentro deste
uma vez que se identificou e caracterizou, em mais de uma unidade organizacional, o maior
comparações e sim traçar relações mais gerais, porquanto cada caso se caracteriza por suas
próprias particularidades (Stake, 1994). De acordo com Yin (2005, 26), a preferência pelo uso
do estudo de caso deve ser dada quando do estudo de eventos contemporâneos, em situações
nos quais os comportamentos relevantes não podem ser manipulados, mas é possível se fazer
manipulação das informações pelo pesquisador para se beneficiar dos resultados; o não
28
quantidade de documentos e relatórios que não permite uma análise objetiva do fenômeno
estudado. Porém, segundo Yin (2005, 29-30) e Fachin (2001, 147), essas questões podem
estar presentes em qualquer método de investigação desde que o pesquisador não tenha
habilidade nem treinamento suficiente para realizar estudo de natureza científica, portanto
mantém com dificuldades. Das 13 bandas, três foram escolhidas para este estudo: Rodrigues
dos Santos do município de São Caetano de Odivelas; União Vigiense e 31 de Agosto, ambas
atuantes nas três bandas. 15 sujeitos integraram a amostragem, sendo cinco sujeitos
participantes por banda. A escolha de cinco sujeitos se deve ao fato de serem membros fixos,
efetivos e que são modelos para os demais clarinetistas iniciantes. As ações da pesquisa e se
concentraram nas sedes das bandas. Os sujeitos não foram isolados de sua banda, pois este é o
visual pode comprovar determinadas “verdades” e fatos passados oralmente ou por meio da
palavra escrita e que não condizem realmente com os fatos, (Bogdan, 1982, 103).
segunda, observou-se o ambiente e a rotina de ensino na sede das bandas; e na terceira fase,
analisou-se a maneira de se tocar clarineta. A pesquisa foi realizada entre 2006 e 2009. Foi
divulgar os dados da mesma neste trabalho. O pesquisador não atuou nem tocando nem
orientado os clarinetistas, assim, não exerceu influencia sobre o grupo, mantendo apenas o
pesquisa, sua natureza, freqüência, causas e relações - abordagem referendada por Cervo &
Bervian. (apud Gonçalves, 2005, 91). O pesquisador manteve contatos com os regentes
Marcio Cardoso e Wanelson Batista de São Caetano de Odivelas e Delson Brito, José Vale,
este tema e nenhum outro estudo referente à maneira de se tocar clarineta em outra parte do
país foi encontrado. A literatura regional trouxe informações históricas e do contexto social
das bandas, porém nenhum dado sobre a técnica de se tocar clarineta e seu uso nas bandas.
30
A primeira compreende postura do corpo, posição das mãos e dedos, embocadura, respiração
e articulação. A segunda inclui timbre, afinação e intensidade. Um dos critérios de escolha das
indicados pela bibliografia revisada. O outro foi que as variáveis do primeiro grupo fazem
maneira, os critérios para a escolha das variáveis do segundo grupo foram determinados pelas
corporação. Para isso, estabeleceu-se um roteiro de visitação às bandas para a coleta de dados.
Foi aplicado um questionário com 22 perguntas abertas destinadas aos clarinetistas iniciantes
pesquisa.
31
instrumental e acessório.
em áudio e audiovisual. Convém observar que houve vários registros do som dos clarinetistas
tocando junto com suas respectivas bandas e uma gravação em áudio reunindo todas as
bandas da região do Salgado. O pesquisador teve o cuidado de, em vários momentos, registrar
o som da banda tanto nas apresentações como nos ensaios. Tais gravações possibilitaram
reconhecimento da sonoridade das bandas. A gravação individual dos clarinetistas serviu para
A escolha das músicas ficou a critério de cada banda. A coleta de dados da sonoridade
dos clarinetistas da Banda Rodrigues dos Santos baseou-se em trecho gravado e executado do
dobrado “Pequenino” (Anexo F, pág. 168), onde os cinco sujeitos executaram a parte do
“canto”. As gravações foram realizadas por dois sujeitos experientes com idade entre 18 e 27
anos e três menos experientes com idade de 14 a 18 anos. Na União Vigiense escolheu-se o
trecho do dobrado “Saudade da minha terra” (Anexo F, pág. 170), executada por dois sujeitos
experientes com idade de 18 a 30 anos e três sujeitos menos experientes com idade de 16 a 19
anos. A banda 31 de Agosto optou pela execução do trecho do dobrado “22 de Novembro”
32
(Anexo F, pág. 172). Esta gravação contou com dois sujeitos experientes com idade entre 25 e
28 anos e três menos experientes com idade entre 15 e 18 anos. Todos os 15 sujeitos
de tal forma a não identificar a que banda os sujeitos pertenciam. Por isso, os mesmos foram
representados por números de 1 a 15. Essas gravações foram examinadas por cinco
paraibano. Os paraenses são: Marcos Jacob Cohen, mestre em clarineta (Missouri University
Orquestra Sinfônica do Teatro da Paz – PA; Natanael Santos, técnico em instrumento pela
experiência e contato direto com bandas deste a sua formação musical.Todos, portanto são
A coleta de dado referente à avaliação da sonoridade pelos avaliadores foi feita através
de medições verbais. De acordo com Fuks (1993, 49), “o uso de adjetivos na descrição de
sons pode ser considerado espontâneo e apresenta boa uniformidade nas apreciações de
33
indivíduo para indivíduo, abrindo caminho para as medições verbais do timbre”. Helmholtz
(1954) adotou a sistemática da utilização de meios verbais para descrever sons complexos,
sugerindo termos como: brightness (brilho), sweetness (doçura), fullness (plenitude) etc.
Outros estudos examinaram o tema como os de Grey (1975), Jost (1967) e Campbell (1988).
Segundo Jost (1967 apud Fuks, 1993, 50), as dimensões verbais referentes à volume e
prática clarinetística acadêmica, são signos verbais e escritos que carregam valores,
significados, conceitos, crenças e historia de uma cultura musical. Essa cultura se dá onde
prática profissional dos clarinetistas (orquestra, grupo de música de câmara etc). Por meio
musicais. Eles também são utilizados por pesquisadores na literatura sobre técnica, execução,
Sendo assim, este estudo limitou-se em fazer uma descrição da “maneira como se toca
a clarineta” através de uma análise perceptiva do pesquisador e dos avaliadores e não de uma
análise acústica. O objetivo não foi realizar uma análise espectral da sonoridade da clarineta e
sim congregar esforços para entender que a constituição desta “maneira” de tocar é resultado
A análise acústica não seria por si mesma suficiente para entender os significados da
maneira de se tocar clarineta dentro do contexto cultural estudado. Entretanto, ela é uma das
desta análise são citadas neste trabalho. Um exemplo seria analisar espectralmente a afinação.
34
Portanto, analisar espectralmente a afinação destes clarinetistas seria encontrar o óbvio, sérios
A junção das duas análises (perceptiva/subjetiva e acústica) seria ideal, entretanto, não
da análise acústica. Garcia (2005) enfatiza que é preciso ter muito cuidado com o controle do
ou calibragem da mesa de som pode gerar resultados espectrais totalmente diferentes. Garantir
Universidade Federal do Pará. O fato de retirar esses sujeitos do seu contexto traria também
uma perda de dados por não ser aquele local o ambiente onde é produzido o fenômeno sonoro,
vídeo no seu contexto sócio-cultural, ou seja, no local de ensaio das bandas, inclusive
propaganda móvel, som nas ruas da rádio comunitária, pois é nesse ambiente que ocorre o
feita apenas pelo pesquisador que analisou fotos, vídeos e fatos presenciados in loco (pesquisa
No que se refere à respiração, a análise verificou-a enquanto técnica de se tocar e não como o
à região onde a pesquisa foi realizada e não aos outros municípios do Estado do Pará.
36
___________________________________CAPÍTULO 3
AS TRÊS BANDAS
pessoas. As bandas de música no Pará são partes integrantes da cultura deste Estado. No
interior, assistir uma banda representa a oportunidade que a população tem de apreciar a
música instrumental e o empenho dos músicos em mostrar sua arte. Tal acontecimento leva a
instrumental. A banda contribui para expandir a tradição musical através do seu próprio
discurso sonoro.
presença feminina e a presença de componentes cada vez mais jovens, contrastam com as
décadas passadas que tinham em seus quadros, instrumentistas adultos e do sexo masculino.
Se no início do século XX as bandas foram segundo Mammì (1999) “um dos agentes
principais” da difusão da musica popular brasileira, nos tempos atuais a banda tenta manter
essa tradição. A nova geração de instrumentistas tenta conciliar o repertório tradicional com
as músicas que são tocadas nos meios de comunicação mantendo desta forma uma
identificação com o passado e com o presente. Do ponto de vista cultural, a banda continua a
37
promover a tradição musical popular brasileira ao valorizar seus dobrados, sambas, chorinhos,
maxixes, frevos, carimbós e músicas que tocam na mídia: sertanejo, forró e brega24.
A própria função da banda no interior mudou. Antes a banda atendia toda uma
atividade cultural do município, agora ela se expande para outro campo – a educação
inclusiva. O foco não está apenas no ensino musical visando à banda, mas nas aulas de música
Uma das regiões que se destaca como celeiro de boas bandas e formadora de bons
concentração de grupos musicais que surgiram como conseqüência da ação das missões
e de caranguejos que deu origem a vários povoados, vilas e cidades, atraindo um grande
Município de Vigia de Nazaré até 1935. Essa ligação política refletiu na relação musical entre
mesorregião Nordeste Paraense. Possui uma área total de 5.784,561 km!. Sua população
estimada em 2006 pelo IBGE em 238.830 habitantes está dividida em onze municípios,
Odivelas, São João da Ponta, São João de Pirabas, Terra Alta e Vigia de Nazaré.
Seus onze municípios possuem quinze bandas26 com dezenove escolas de música e dois pólos
de Magalhães Barata).27
Nazaré e São Caetano de Odivelas estão classificadas como região metropolitana do Guamá28,
pelos jesuítas na qual está erguida a cidade de São Caetano, (Braga 1919, 529). Braga afirma
que “a denominação de Odivelas foi imposta pelo Governador Mendonça Furtado quando em
a época Colonial, na região do Rio Mojuim, município de Vigia, Zona do Salgado, (ibid., 529;
Roque 1980, 245). Em 1833, a fazenda chegou à categoria de Freguesia e em 1872, assumiu a
condição de Vila de São Caetano, oportunidade em que o seu território tornou-se desanexado
1895, por força de dispositivos contidos na Lei nº 324, de 6 de julho, a sua sede municipal
obteve o título de Cidade, ( ibid., 529; Ferreira, 2003, 624). Em 1930, o município de São
Em 1933, pelo Decreto Estadual nº 931, de 22 de março, São Caetano aparece como
Curuçá e Vigia. Hoje, o município de São Caetano de Odivelas acha-se configurado por três
presença portuguesa no Pará é razoável dizer que a origem do nome São Caetano está
relacionada com Portugal. O nome São Caetano é uma freguesia do Município de Cantanhede
suportes da economia local e da cadeia alimentar juntamente com o peixe e outros recursos
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
29
Sousel, Portel, Óbidos, Vizeu, Porto de Mós, Soure, Melgaço, Vila do Conde, Santarém, Ourém,
Bragança, Almeirim, Alter do Chão, Chaves, Oeiras, Faro e Alenquer.
40
alimentares de manguezais como: mexilhões, siris, caracas (da família dos balanídeos) e turus
latitude sul e 48º 01'03'' de longitude a oeste de Greenwich. Os limites são ao norte o Oceano
Atlântico, a leste os municípios de Curuçá, São João da Ponta e Terra Alta, e ao sul e oeste o
Alguns autores acreditam que Vigia seja a mais antiga de todas as cidades da
Amazônia, tendo sido fundada por Francisco Caldeira Castelo Branco durante sua expedição
índios Tupinambás, que ergueram no local a aldeia Uruitá, no tupi-guarani: Uru = cesto; Ita =
pedras, ou seja, “cesto de pedras”, as mesmas informações são reforçadas por Rocque (1992).
Ildone, (apud Ernesto Cruz) nos informa que “as terras da aldeia Uruitá foram doadas por
D.João V, entre os anos de 1645 e 1654, ao fidalgo português D. José Gomes dos Álamos, a
quem se deve a colonização do povoado”. (Ildone 1991, 12; Ferreira, 2003, 675). Nessa antiga
aldeia, o governo colonial construiu um posto fiscal para proteger, fiscalizar e vigiar as
originou o nome do município, (Braga, 553; Rayol, 1970). Em 1693, concederam à Vigia,
foro de Vila e em 25 de agosto de 1734 o seu território, concedido por carta de Sesmaria,
tornou-se Município. Com a expulsão dos jesuítas pela Lei Pombalina, uma Carta Régia de 11
de junho de 1761 transformou Vigia em paróquia secular. No dia 2 de outubro de 1845, a Lei
41
Provencial número 252 elevou Vigia a categoria de cidade. Em 1871, Vigia passou a
categoria de Comarca por meio da Lei Provincial n. 6774 (Rocque, 1978, 256; Ferreira, 2003,
675-676). Em 1889, com a Proclamação da República, Vigia fez sua adesão ao novo regime e
produção pesqueira que é um dos suportes da economia local e forma a base da cadeia
sul e uma longitude 48º08'30" oeste, estando a uma altitude de 6 metros. Os limites são ao
norte o Atlântico e São Caetano de Odivelas, leste: São Caetano de Odivelas e Castanhal; sul:
Santo Antônio do Tauá; e oeste: Colares e Baía do Marajó. O censo de 2000 realizado pelo
40.176,00 de habitantes.
A cidade, palco de fatos importantes da história paraense teve filhos ilustres entre eles
intelectuais, poetas, artistas e escritores. Não é em vão que é considerada por seus habitantes e
admiradores como uma importante referência artística e cultural, pois tem uma das mais ricas
culturas do Estado. A festa de Nossa Senhora de Nazaré é o círio mais antigo do Pará e traz
além da existência de monumentos e Igrejas do século XVIII. Vigia de Nazaré possui duas
bandas em destaque o Clube Musical 31 de Agosto e o Clube Musical União Vigiense. O círio
da cidade é notável e conhecido em todo o Estado do Pará o que contribui para dar destaque
as duas corporações musicais. As antigas “retretas”30 são revividas nos quinze dias de festas,
fazendo com que os músicos se sintam valorizados e! estimulados pela comoção da fé católica
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
30
Apresentação musical da banda na praça ou no coreto.
42
que toma conta das ruas da cidade e pela importância que a organização da festa dá as duas
bandas
Segundo o documento elaborado pela diretoria, a banda Rodrigues dos Santos nasceu
1881. Cezarino tocava requinta e se destacou pela insistência na criação de uma atividade
musical. Em homenagem a ele, a banda recebeu o nome de banda Cezarino das Chagas. Em
43
1886, o Sr. Cel. João Rodrigues dos Santos, político Monárquico, depois republicano, muito
Acharam justo colocar o nome da sociedade artística beneficente Rodrigues dos Santos pelos
relevantes serviços que o Sr. Cel Rodrigues dos Santos prestou a esta instituição musical.
historiador Theodoro Braga na qual cita que neste município há “várias associações musicaes
e beneficentes” Braga (1919, 531). Segundo nos informa Baena (1883, 12) há uma citação
sobre a atividade instrumental da banda desde o século XIX, mediante um levantamento feito
para o ministério da justiça das Províncias do Pará, quando faz referencia ao Município e
de ser extinta. Nesta época, ela contava com 9 componentes e era chamada carinhosamente de
Jeep, referência ao veículo pequeno, forte e adequado para transpor as dificuldade das
estradas. A banda conseguiu se erguer graças ao empenho e a dedicação dos músicos, Manoel
Belém pela Fundação Nacional de Arte e Secretaria de Cultura do Estado do Pará (Secult).
Nesta época, outro músico importante da banda se destaca o mestre Silvano de Souza Garça,
máscaras, para os quais ele fez várias composições. Seus dobrados mais tocados são Um
pássaros e missas que estão registradas em uma coletânea sob a guarda de sua esposa, Dona
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
31
Marcio Cardoso, entrevistado pelo autor, gravação em fita de áudio, Belém, PA, 18 de Abril de 2006.
44
Militar, Paulo Roberto Melo da Silva, que organizou a escola de música com o nome de
professor Roger Mares de Albuquerque. Para assumir a direção da escola e da banda, Paulo
Este projeto trouxe benefícios segundo a diretoria. A banda recebeu flautas doces para o
o mesmo documento, o convênio trouxe uma nova visibilidade no cenário musical do estado,
o que levou a banda a ser freqüentemente convidada para participar dos eventos culturais na
projeto Pôr-do-sol da Secult, nas festividades do Círio de Nazaré em Belém e Vigia, além de
receber inúmeros convites de outros municípios. A agremiação também conta com corpo de
A sede da sociedade que é o local de ensaio da banda. Ela começou a ser reformada e
ampliada em 2007 e foi concluída no dia 28 de Fevereiro de 2009. Sua estrutura física é uma
das melhores do nordeste paraense. A escola é formada por um salão para ensaio, uma sala de
musicalização, três pequenas salas para treinamento individual de alunos (sendo estas salas
um avanço em matéria de organização), uma sala de instrumentos, uma secretaria, uma copa e
quadro magnético e um quadro com o retrato dos presidentes e regentes da banda. A sede
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
32
São raros os documentos que registram a passagem de outros regentes e presidentes como: Manoel
Marcílio, trompetista e regente da banda, Hélio Macedo e José Vandir, ambos presidente da Rodrigues.
33
Projeto de revitalização das bandas do Governo do Estado do Pará gerenciado pela Fundação Carlos
Gomes (FCG).
45
angariar recursos.
A Rodrigues dos Santos é composta dos seguintes grupos: banda principal, banda de
iniciantes, grupo de flauta doce, quinteto de saxofone, grupo de chorinho, grupo de clarinetes
e banda carnavalesca. Em fevereiro de 2008 a banda completou 128 anos de lutas para
A origem das bandas em Vigia é documentada na obra de Salles (1985) quando este se
refere ao mapa que descreve a composição militar na Vigia na época da Cabanagem. Salles
Podemos perceber que a banda de música enviada para o interior nesta época era
membros. Da origem da banda militar, os documentos citam duas bandas civis cujas origens
são imprecisas. Segundo o historiador José Ildone (1991, 36), em 1876 duas “bandinhas”
Vigia no relatório feito em 1883 sobre as comarcas do Pará, Antonio Baena (ibid., 11) cita “. .
Salles (ibid., 125) comenta que para manter a banda fundou-se o Clube Musical e
Vigia à independência do Brasil. Francisco Rezende tornou-se o seu primeiro regente. Fazia
parte desta nova banda Isidoro de Castro Assumpção (Vigia 1858 - Belém 1925), compositor
do dobrado “Saudade de Minha Terra” que, segundo Ildone (ibid, 37), é o mais famoso e
Padre Alcides Batalha da Silva Paranhos, mestre de capela e diretor do coro do Seminário
com a banda 31 de Agosto. Acredita-se que muitos músicos foram instruídos pelos padres
Rede Globo de televisão. Ainda hoje é comentado pelos músicos à apresentação da banda no
Em 1984, o Instituto Nacional de Música, tendo como diretor Edino Krieger, faz
ciente a direção do Clube Musical 31 de Agosto que o dobrado Saudade da Minha Terra
passava a fazer parte do 1º Inventário Nacional de Música. Este dobrado fez parte de uma
seleção de 1.500 músicas que integraria o levantamento da memória musical das bandas
Peixe e Altamiro Carrilho entre outros. Na carta circular de 20 de Agosto a comissão informa
que:
Houve muita comemoração em Vigia de Nazaré com este fato, pois o dobrado já havia
sido gravado por algumas bandas no sul e sudeste do país sem identificação do autor ou dando
48
como autoria outras pessoas, gerando dúvidas quanto ao seu autor34. Esse documento veio
Nos anos 90 a banda assinou convênio com a Fundação Carlos Gomes35 com a
em eventos culturais na capital. O clube musical, nas décadas passadas, contava com a ajuda
financeira dos associados, mas com o passar dos tempos e por vários motivos, os
Entre as três bandas pesquisadas, a sede da 31 de Agosto é que tem o maior espaço
para ensaio com um salão amplo contendo um quadro com pauta musical, várias cadeiras,
duas mesas, um suporte com água mineral, um pequeno palco, uma imagem da Santa Cecília
(padroeira dos músicos), alguns diplomas de premiação da banda, uma sala para guardar
multifuncional sendo seu espaço utilizado para várias atividades como: cerimônias, bazares,
ventiladores de teto e um painel com as fotos dos músicos ilustres da 31 de Agosto, entre eles,
o Mestre Silvino Pinheiro, músico e regente homenageado pelos seus relevantes serviços
e banda carnavalesca, também participa do famoso bloco “Gurijubal”. Hoje, a “31” recebe
uma ajuda da Fundação Carlos Gomes que mantém quatro monitores com uma ajuda de custo
de um salário mínimo. Em 2008 teve ajuda da Assembléia Legislativa do Estado do Pará que
como primeiro regente o sr. Tertuliano Zacarias Palheta. Ildone (1991) relata que alguns
estatutos da banda. Neste período, Serafim Raiol, compositor e regente, tornou-se um baluarte
vigiense. Nos anos 70, a banda participou do II Encontro de Bandas do Pará. Em 1978, sob a
assinou convenio com a Fundação Carlos Gomes e, por 10 anos, recebeu atenção e incentivo
do Projeto de Interiorização.
Copland (sax) e Barry Ford (trompete), além de Olieg Vladimirouvich Adriev (clarinetista
russo), Gabriel Gallo e Daniel Parriello (saxofonistas argentinos). Esses professores estavam
com outras entidades e artistas, possibilitando ao público vigiense assistir bons espetáculos
maestros Barry Ford (USA), Andi Pereira (Porto Alegre), Ricardo Cabreira (Colômbia), Zen
Obara (Japão) e Martin Bergeé (USA). Em 1997, a banda representou a região amazônica no
Concurso Rotary de Bandas de Música realizado em Brasília sob a regência de José Maria
Vale.
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
36
Clarinetista e regente da “União”. Compôs inúmeros dobrados entre eles, “Fé, esperança e caridade”
(Silva, 2008, 43).
37
Ligado a Fundação Carlos Gomes (FCG), o Instituto desenvolve intenso trabalho de educação musical na
área instrumental e vocal, alem de abrigar o curso técnico e bacharelado em música. O Instituto anteriormente
era chamado de Conservatório Carlos Gomes é considerada a terceira instituição oficial mais antiga de ensino da
música no Brasil, criado em 24 de fevereiro de 1895.
51
Entre os anos de 1990 a 2006, o mestre Vale, como é conhecido, prestou relevantes
serviços à “União”. Vale, natural de Vigia, estudou regência com o mestre Sami, da banda 31
de regência com Zen Obara (Japão), Ana Pinto Coelho (MG), Luis Oliveira Maia (PA) e
curso de formação de banda com os professores Martin Bergue (USA) e Joel Barbosa (SP).
município de Vigia, entre eles, a formação de uma banda e o grupo de Jazz Vigiense.
Um salão de ensaio. Neste salão tem-se na parede central uma galeria de fotos de importantes
mestres que dirigiram a União e na parede oposta, alguns instrumentos que estão pendurados.
uma mesa com computador, um arquivo, instrumentos, estantes e um banheiro. A sede desde
52
a sua fundação ainda não passou por uma ampliação por isso a atual diretoria está trabalhando
madeira estudam em uma sede alugada, o Esporte Clube Luzeiro. O ensaio da banda
na sede da “União”.
A União Vigiense é composta dos seguintes grupos: banda principal, banda “B”
(iniciantes), grupo de flauta doce, quarteto de saxofone, quarteto de metais, grupo de chorinho
A “União” recebe ajuda da FCG que mantém quatro monitores. Em 2008 a banda
contou com uma ajuda financeira da Assembléia Legislativa do Estado do Pará que, através
de consumo.
3.4 ORGANIZAÇÃO
3.4.1 AS DIRETORIAS
agremiação possui uma constituição diferente. A faixa etária dos membros da diretoria se
Nas três bandas a reunião da diretoria é mensal, porém quando necessário pode haver
uma convocação extraordinária. De dois em dois anos ocorre eleições para a presidência,
banda e dos filiados. No estatuto da 31 de Agosto lemos como uma das finalidades:
No capítulo III do estatuto lemos: “Dos deveres e diretos sociais. São deveres dos
diretoria; artigo 8º a) comparecer em todos os ensaios e tocatas para [os quais] que forem
[foram] previamente avisados pelo regente”. A assembléia geral tem por finalidade segundo
autorizar a alienação, vendas ou permutas de bens móveis ou imóveis”. Lemos no artigo 15º,
prestação rigorosa de contas a quem convier; ocupar o cargo pelo espaço de dois anos, com
direito à reeleição”. No capitulo VII temos: “da diretoria e sua competência: convocar,
Tesoureiro, Relações Públicas e o Regente da Banda que exerce o cargo por nomeação.
com Silva (2008), em 04 de março de 2008, o estatuto do Clube Musical União Vigiense foi
atualizado de acordo com o Novo Código Civil. Tendo como Capítulo l- Da denominação e
13 de maio de 1916, é uma associação civil de direito privado sem fins lucrativos ou
Art. 2º - São fins principais do Clube Musical União Vigiense § 1º- Primar pela
Manter uma Escola de Música; § 3º - Manter uma Banda Musical com a mesma denominação
social, ou seja, Clube Musical União Vigiense; § 4º- Promover, dentro de suas possibilidades
3.4.2 OS REGENTES
Antes de fazer uma abordagem sobre os regentes é interessante verificar que alguns
nomes eram utilizados para designar o responsável musical pela banda como mestre,
caracteriza uma pessoa que é perita numa determinada ciência ou arte. Este termo é também
peculiar no meio musical e significa uma pessoa que é líder e professor de música em sua
comunidade. O termo “mestre” tem sido substituído pela palavra professor, o próprio
dirigente da banda é mais conhecido, entre os alunos iniciantes, como professor de teoria ou
Batista, monitor da Rodrigues dos Santos, nos informa que a designação “mestre” continuou
55
persistindo pela imposição dos professores de música, que décadas passadas, obrigavam os
Odivelas “quem dirige a banda é o professor Marcio e não o mestre ou maestro Marcio”,
conclui. Já na “União”, Silva, atual dirigente da banda, esclarece que regente é o termo mais
Nos anos 80, segundo Jairo Wilkson, ex-componente da banda e clarinetista, a União
Vigiense era dirigida pelo músico mais adiantado, neste caso o trompetista, que ia pra frente
dava um sinal e todos começavam a tocar. Para finalizar, uma marcação do bumbo indicava o
apresenta um relativo domínio da gramática musical e sabe exercer a função de líder. Nas
três corporações pesquisadas, o regente acumula a função de presidente, portanto além das
Ele planeja, organiza, seleciona o repertório, trata dos contratos ou funções39 do grupo e
decide se a banda pode ou não se apresentar, além do trabalho com serviços burocráticos,
empenho e dedicação.
passa o ritmo dos dobrados [treina a parte de leitura rítmica] e, em alguns casos, explica
sobre a articulação e a forma de começar e terminar a música. Ele tem que provar sua
capacidade de controlar o grupo nos ensaios, nos desfiles, nas procissões, em fim, no
Portanto, o regente tem que ter pulso para se impor perante o grupo e liderar seus
comandados. Esta forma de pensar tem uma ligação com a concepção militar que quase
sempre esteve presente nas agremiações e na formação das bandas civis do Pará.
São músicos que tiveram sua formação na própria banda e passaram muitos anos envolvidos
nas atividades musicais. Hoje eles buscam melhorar a sua qualificação profissional por meio
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
40
Delson Brito, entrevistado pelo autor, gravação em fita de áudio, Vigia de Nazaré, Pa, 14 de novembro de
2006.!
57
Já o regente da Rodrigues dos Santos”, Cardoso, é formado pelo curso “Mestres de Banda”41
da Fundação Carlos Gomes. Cardoso, que é clarinetista, tem participado de alguns cursos de
tradição da família que tem prestado relevantes serviços à banda 31 de Agosto. Estudou
clarineta no Instituto Estadual Carlos Gomes (IECG) e fez cursos de monitor e de prática de
alternativa se não enfrentar os desafios e ensinar música mesmo com tantas limitações de
material. As ferramentas mais eficazes eram as posições das notas no instrumento e as escalas
3.4.3 OS MONITORES
ser usado com mais freqüência no interior. O Projeto visava revitalizar as bandas e apoiar a
abertura de novas escolas de música no Estado do Pará em parceria com as Prefeituras. Cada
banda tem um número de monitores que são mantidos pelo projeto de interiorização da
Fundação Carlos Gomes quanto pela banda. A aquisição das bolsas de monitorias está
prefeituras com apoio das agremiações é implantar uma escola de música, na qual a Fundação
se compromete com envio de material didático e ajuda de custo dos monitores. O número de
relatório sobre as atividades musicais que justificam tal pedido. Essa solicitação é analisada
pela coordenação do Projeto Música Interior e depois é dado o parecer da equipe técnica da
2007, manteve as bolsas de monitoria das bandas conveniadas com a FCG. Em 2007 o projeto
O projeto criou também um curso para monitor em Belém no Instituto Carlos Gomes.
instrumentistas escolhidos pela diretoria para trabalhar com o ensino musical e instrumental.
Os monitores recebem uma bolsa da Fundação Carlos Gomes no valor de um salário mínimo,
que se destaca musicalmente, demonstra dedicação, presta serviço orientado pela direção da
escola ou pelo regente de banda, ajuda o iniciante na prática instrumental e pode conduzir os
ensaios de naipe. Segundo Brito, o monitor ao trabalhar com os naipes vem contribuindo
muito para o crescimento técnico e numérico das bandas. A faixa etária dos monitores vai de
16 a 25 anos de idade. O quadro abaixo mostra o número de monitores nas três bandas até o
ano de 2008.
com uma cerimônia no qual o músico é apresentado para a sociedade como integrante do
grupo. Esta cerimônia conta com a participação de autoridades do município e com a presença
responsabilidade e no final se apresentam tocando com a banda. A “31” não realiza essa
círculo de amizade, o gosto por determinados repertórios e tudo que se relacionava à banda
estava diretamente ligado à idade dos músicos. Os jovens também participavam da banda,
Os aprendizes tinham determinadas limitações como não poder viajar e não tocar em
determinadas ocasiões. Hoje, ocorre uma renovação no perfil do componente da banda, pois a
sua maioria é formada de jovens de ambos os sexos. Vale ressaltar que a inserção da presença
feminina42 veio somar e levou a diretoria a adotar um ajuste de conduta para receber esses
novos componentes.
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42
A primeira mulher a fazer parte da banda Rodrigues dos Santos foi Lucimar Cavalcante, clarinetista que
atuou na banda de 1995 a 1999, segundo Marcio Cardoso.
60
os músicos das décadas passadas e a nova geração de jovens iniciantes. Há por essa razão
alguns conflitos entre os jovens e os mais “antigos”, como a escolha da roupa e de repertório
que sempre causam algum tipo de discussão. Brito salienta que alguns integrantes jovens já
não querem tocar dobrados. Na gestão do professor Vale, a “União” diminuiu a freqüência de
arranjos com temas de músicas eruditas, conhecidos pelos integrantes como “clássicos”. Com
a saída do professor Vale, o seu substituto Marinildo Silva continuou com o repertório atual,
“Rodrigues”, acrescenta que na banda é unânime o gosto pelo repertório popular já que o
repertório “clássico” não faz parte do contexto cultural. Batista, graduado em música pela
tem sido contornada pelos regentes por intermédio da execução de dobrados, música popular
e “clássica”.
comportamentos e, destes, alguns que são tolerados e outros não. A quebra das regras
significa o desligamento da banda, portanto pela necessidade dos jovens conviverem juntos,
todos preferem respeitar essas normas para manter seu círculo de amizade. Tal situação
facilita os trabalhos na banda. Segundo Brito, o convívio constante dos componentes na sede
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
43
Wanelson Batista, entrevistado pelo autor, gravação em fita de áudio, Belém, Pa, dia 10 de junho de
2008.!
61
da agremiação com objetivo de estudar e ensaiar estabelece uma relação em comum “é como
determinada agremiação musical é provar que a pessoa adquiriu certo respeito e habilidade
distinção (status social) entre os demais alunos. Essa distinção gera uma disputa entre eles,
que se estabelece no convívio diário. É o momento que alguns tentam conquistar respeito
pela forma de tocar um dobrado de memória ou um chorinho que impressione os demais, pela
De maneira natural uns ajudam os outros, ou seja, quem sabe mais ajuda quem sabe menos.
profissionalização. Raybert Ataíde, componente da Rodrigues dos Santos, fala com emoção
possível profissão. Silvana Saraiva, mãe de um componente novato nos dá a seguinte opinião:
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
44
Raybert Ataíde, entrevistado pelo autor, gravação em fita de áudio, Belém, PA, 5 de setembro de 2006.!
62
instrumento, pela motivação de conviver em grupo e fazer novas amizades. Hoje muitos
integrantes da banda visualizam trabalhar nas forças armadas, atuar na rede de ensino
municipal, na escola de música ou em outros ofícios. Enquanto isso, a banda é um corpo que
dá visibilidade para esses jovens, reforçam as relações sociais e promovem uma possível
melhoria de vida.
cidade. Muitos vêm de localidades e vilas próximas e são provenientes de classes populares
significativa mudança nos últimos anos. Alguns jovens estão concluindo o ensino médio e
Há uma renovação anual dos componentes das bandas. A cada começo de ano os
regentes avaliam quem sai e quem fica na banda. Muitos precisam viajar para Belém para
Alguns músicos vão prestar concursos nas bandas militares e uma parte abandona a música.
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
45
Silvana Saraiva, entrevistado pelo autor, gravação em fita de áudio, São Caetano de Odivelas, PA, 26 de
fevereiro de 2006.
63
escola de música que gera novos membros. Tal idéia é compartilhada por Silva, regente da
Fica claro que a banda possui um relativo corpo estável e que a cada ano há uma
alteração nos quadros de seus membros. Em média a banda perde de três a cinco membros por
ano e uma quantidade igual ou maior ingressa na banda. No quadro abaixo apenas a “União”
Muitos músicos resolveram abandonar a “União” para fazer parte da nova banda de música
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
46
Marcio Cardoso entrevistado pelo autor, gravação em fita de áudio, São Caetano de Odivelas, PA, 18 de
Dezembro de 2008.!
64
Os alunos, na sua grande totalidade, são jovens com faixa etária entre oito a dezesseis
distantes dos municípios. Eles ingressam na escola por iniciativa própria, alguns são
motivados por amigos e outros são encaminhados pelos familiares. Os pais acreditam que eles
vão aprender na banda uma profissão e se afastarão dos perigos da “rua.” Nos municípios
paraenses praticamente não há atividades recreativas ou artísticas. A vida desde cedo se torna
para muitos jovens sem interesse o que deixa esses adolescentes em constante processo de
vulnerabilidade social. Ser aluno da escola de música é, portanto, uma das poucas opções que
avaliações são efetuadas logo após o aluno passar a lição, principalmente, a da leitura métrica
que quando o aluno é chamado para realizar a leitura métrica e sente alguma dificuldade, o
professor pede para ele “parar, voltar para treinar mais um pouco” e retornar, em seguida, até
concluir a lição. A prática instrumental inicia com a flauta doce47 e é um processo de transição
para a introdução dos instrumentos de banda. Quando a flauta foi implantada, os resultados
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
47
União Vigiense e Rodrigues dos Santos adotaram o uso de flauta doce na década de 1990, já a 31 de
Agosto mais recentemente (2008).
65
foram excelentes devido à aceitação, o valor e a praticidade. No entanto Hédrios Rayol faz o
seguinte comentário:
para o número de alunos existentes na escola. Os meninos desistem da música porque são
obrigados a dividir um instrumento com dois ou três alunos e isso gera uma desmotivação. Os
regentes Cardoso, Silva e Brito concordam que o maior problema que os alunos enfrentam é a
falta de instrumentos. Para diminuir esse problema, a banda 31 de Agosto, às vezes compra o
instrumento e depois repassa para o aluno pagar do jeito que for possível, comenta Brito.
O quadro abaixo mostra que as duas escolas de música de Vigia, União Vigiense e 31
de Agosto tiveram uma diminuição de matriculas devido a falta de infra-estrutura como falta
de espaço e investimentos para pagamento dos monitores. Já a Rodrigues dos Santos de São
31 DE AGOSTO
2007 32 04
2008 40 05
2009 30 03
UNIÃO VIGIENSE
2007 150 15
2008 170 15
2009 110 10
Tabela 3 - Relação do número de alunos matriculados e de evasão escolar.
esses dados. Para diminuir a evasão de alunos, a “União” vem utilizando uma estratégia de
alunos são convidados a assistir os ensaios da banda para terem uma noção do papel de cada
nas aulas de teoria. A 31 de Agosto tem o cuidado de não perder o controle e manter a
como mantenedora da própria existência da banda. No final de cada ano há uma saída natural
regentes. Para ser um bom aluno é preciso obedecer e trazer as lições prontas. Apesar de
tantas dificuldades, os alunos conseguem paulatinamente formar uma grande família, o que
possibilita uma motivação maior para enfrentar as adversidades. Larissa, aluna de clarineta
diz que:
O que motiva a procura pela música não é apenas o gosto pela banda ou pela música, a
rede de parentesco, muito menos pelos instrumentos que são poucos e com muitos anos de
uso. O que motiva é o círculo de amizade que vai se estabelecendo entre os jovens. Interesses
em comum, gosto em comum, objetivos parecidos, idades próximas. Esses detalhes vão
contrato são chamados de “funções” ou “tocata”. Quando a banda não está completa e existe
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
48
Larissa Cristina Moraes Rabelo, entrevistada pelo autor, gravação em fita de áudio, Vigia de Nazaré, PA,
18 de Fevereiro de 2008.
68
de referência para quem procura contratar um instrumentista para “tocar” nas festas populares
Cada banda tem sua agenda anual de atividades artísticas na qual observam-se pontos
Salgado incluindo a “Rodrigues”. Brito, regente da “31”, fala sobre a participação da banda
no Círio da Vigia de Nazaré: “os ensaios são diretos, sexta de manhã, sábado de manhã e à
estendem por quinze dias, neste período, a “31” e a “União” “se revezam nos festejos da
quadra Nazarena com muita devoção e música”. Terminado os festejos do mês de agosto,
segue um período de poucas apresentações, Brito explica: “Agora parou os ensaios porque
não tem nada pra gente, já se esgotaram os períodos de festas.” A banda mantém apenas um
dia de ensaio que acontece aos sábados pela manhã. Neste período, geralmente, os músicos
mais experientes são dispensados e os mais novos continuam ensaiando. No mês de abril, a
comunidade e para os pais dos alunos, com a participação dos alunos de flauta doce. É um
tocar nos bailes de carnaval. O repertório deste período é composto por “marchinhas”, frevos
69
e sambas. No ano de 2007, duas bandinhas de carnaval foram formadas; uma com 12 músicos
e outra com 10. Sobre os instrumentos que fazem parte dessa bandinha, Brito comenta:
A banda Rodrigues dos Santos dirigido por Cardoso está sempre viajando para outros
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
$%
!Delson Brito, entrevistado pelo autor, gravação em fita de áudio, Vigia de Nazaré, Pa, 14 de novembro de
2006.!
50
É uma variação do boi-bumbá, única no Brasil. Este boi não apresenta a tradicional narrativa de “Catirina
e Pai Francisco”. Retrata a cultura popular local dentro do contexto dos festejos de São João com toda tradição
amazônica e a força da identidade do povo paraense. Existem pelo menos vinte bois de máscaras tanto na cidade
como nas vilas. Segundo Hélio Pereira Filho, brincante do boi de máscaras, há seis grupos em São Caetano: Boi
Tinga, Boi Faceiro, Garrote, Mascote, Novilho, Resolvido e 14 grupos nos interiores, a saber: Caribu, Alce,
Bode, Touro, Zebra, Leão, Boi do Aê, Boi do Pererú, da Boa Vista, da Ponta, do Cabo Pomeri, da Ilha, do
Madeira, da Espanha, todos de localidades próximas. Em 2007 o Boi Tinga completou 70 anos.
70
que acontece também com as “31” e a “União”. A “União” participa ativamente do carnaval
que é puxado pela “fanfarra” - bandinha de carnaval. Em 2008, o bloco “Os Sobreviventes do
Frevo” criado pelos diretores da agremiação, teve como objetivo reviver e manter os antigos
A “União” tem se destacado na região, pelas suas inúmeras viagens realizadas, durante
representar as bandas do Pará. Entre os anos de 2002 a 2005 tornou-se a anfitriã de quatro
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
51
Jornal O Libera, edição de 14.12.2008, caderno: atualidades.
52
Caminhão equipado com potentes caixas de som cujo objetivo é reproduzir música ao vivo, que é
executada em um palco sobre o veículo por um conjunto de instrumentos elétricos, percussivos além de cantores
com a finalidade de “puxar” uma multidão de foliões.
53
Evento promovido pela Secretaria Especial de Promoção Social e Fundação Carlos Gomes com apoio da
Secretaria de Educação, Instituto de Arte do Pará, Funtelpa e Detran.
71
(UFPB) Joel Barbosa (UFBA), Wilton Matos (FCG), Jacob Cantão (FCG/UFPA), Ayrton
Benk (UFPB), Ricardo Cabreira (Colômbia), Andi Pereira (Porto Alegre) e Bejamin Monterio
(FCG). Da Universidade de Missouri (EUA) visitaram Vigia, Martin Bergee, Holly Copland e
Berry Ford, além da visita de inúmeros grupos artísticos como Quinteto Brasil e Quarteto de
As inúmeras atividades das três bandas são formas de expor o lado artístico dos
músicos e contribui para dar visibilidade, oportunidades e convites para atuarem em outros
eventos. Este ciclo de atividades e compromissos é que mantém as bandas atuando nos
cultural da cidade.
bandas, objeto desta pesquisa, não fogem à declaração de Salles (1985, 11) ao dizer que:
Iniciando-se pelos aspectos sociais, o “conservatório do povo” tem uma função que
vem a cada ano ganhando força, a inclusão social. Nas décadas passadas, o ofício de ensinar
música não se resumia apenas na formação profissional, atingia todas as classes sociais e
72
sociais são muito visíveis, pois cresce o abuso a crianças e adolescentes, há uma proliferação
especiais, das quais citamos o Braz Guilherme, 32 anos, portador da Síndrome de Down que
foi recebido de braços abertos na escola, e desde 1998 faz parte da banda tocando com o seu
banda.
consciência que a melhor forma de diminuir os danos psicológicos é promover uma educação
que acolha pessoas com ou sem dependência ou deficiência. Sánchez (2005, 10) reforça a
idéia de que “a educação inclusiva é antes de tudo uma questão de direitos humanos”.
73
Cardoso lembra como a banda tem um significado especial em sua vida e, da mesma
forma, ele acredita que um dos objetivos principais da escola é a formação do cidadão, neste
sentido comenta:
prática (ensino instrumental). O termo “musicalização” vem das escolas de música de Belém
que, segundo a professora Itacy Silva começou a ser empregado na década de 1970. Os
bandas pesquisadas, o termo musicalização significa o aprendizado dos nomes das notas na
pauta, dos nomes e valores das figuras e os principais signos musicais, isto é, conhecer os
intuitivo para se chegar ao conceitual. Também não evolvem atividades como composição e
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
54
Marcio Cardoso, entrevistado por Juliana Oliveira in “Música de Raiz”. Revista Latitude. Ano I nº3,
maio de 2008. Belém-Pa.!
74
individualmente. Esta prática é feita com a voz pronunciando os nomes das notas, sem entoá-
las, e com o movimento das mãos realizando diferentes diagramas para cada fórmula de
compasso. Um exemplo pode-se ser verificado no Vídeo n.1 anexado neste trabalho. O aluno
Ele utiliza o Método Completo para Divisão Pasquale Bona (1970)55 ou lições elaboradas
menos freqüência a utilização dos exercícios para treinar com os alunos, o solfejo entoando as
alturas das notas. As lições são usadas também para treinar o nome das notas, os valores das
dura em média de seis a oito meses, culminando com uma avaliação de “teoria”, “divisão
musical” e flauta doce para definir os alunos aptos a ingressarem na fase posterior.
transforma nos futuros naipes madeiras e metais da banda. Os monitores das madeiras vão
metais vão trabalhar com os alunos de trompete, sax-horn, trombone, bombardino e tuba.
No início, o monitor faz uma abordagem geral sobre postura, posições das notas e
embocadura. Também, neste período, ele fica a disposição dos alunos para esclarecer
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
55
Pasquale Bona nasceu em Cerignola no dia 3 de novembro de 1808 e morreu em Milão no dia 2 de
dezembro de 1878. Foi um compositor e teórico musical italiano. Em 1838 fixou-se em Milão onde ensinou
canto, teoria musical e teoria (desde 1838), e canto harmônico feminino (1851) e canto masculino (desde 1859)
no Conservatório Real.
75
Os procedimentos que orientam os exercícios de flauta doce, tais como contar quatro
tempos antes de cada exercício e executar as escalas maiores usando as seguintes figuras:
semibreve, mínimas e semínimas, também são utilizadas nas aulas de clarineta. Estes
exercícios anteriormente praticados na flauta são revistos nas aulas de clarineta. Depois de
dois a três meses de prática em naipes, os alunos passam a fazer parte da banda de iniciantes
banda União Vigiense). Nesta fase, os alunos vão treinar e decorar os hinos religiosos com o
objetivo de participar do círio ou de outras festividades religiosas, atuando junto com a banda
Rodrigues dos Santos, conta com 160 alunos matriculados (levantamento de 2008). É cobrada
uma taxa mensal de 15,00 reais, porém a diretoria oferece bolsas para quem não tem
condições de pagar.
As aulas de teoria (gramática musical) e flauta doce ocorrem três vezes por semana
(segunda, quarta e sexta-feira) em dois turnos, manhã e tarde. As aulas dos instrumentos de
palhetas (clarineta, saxofone alto e saxofone tenor) e metais (trompete, bombardino, trombone
e tuba) são realizadas duas vezes por semana (terças e quintas) também em dois turnos,
manhã e tarde. Para oferecer cursos de todos esses instrumentos, a escola conta com sete
monitores, dos quais seis recebem ajuda de custo da FCG. Além dos instrumentos de banda, a
escola oferece também o curso de violão popular. A duração da aula teórica e instrumental é
76
A cidade de Vigia de Nazaré conta com três escolas de música: “31”, “União” e a
escola Maestro Vale. Esta última antes vinculada à “união” tornou-se uma escola particular.
regente José Maria Vale. Em 2001, a Universidade Estadual do Pará – UEPA implantou na
Vigia de Nazaré o curso de licenciatura em música por conta do grande número de músicos de
banda observados nesta região. Com a inclusão da licenciatura, alunos, monitores, professores
dependendo da situação o aluno pode ficar isento desta taxa. As aulas de teoria ocorrem duas
Entre 2007 e 2008, a direção da banda foi sentindo que o ensino já estava ficando
muito ultrapassado e que seria necessário reformulá-la. Neste sentido foi elaborado um
projeto pelo professor Daniel56 com apoio de Brito. O título do projeto foi - “A furiosa vai à
forra” e tem uma explicação: por tocar exclusivamente hinos e dobrados, a banda era
chamada, por alguns músicos de Vigia de Nazaré, de charanga ou furiosa. Para responder a
estas provocações a banda partiu para uma ação que resultou neste título. Para entender como
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56
Bruno Daniel, entrevistado pelo autor, gravação em fita de áudio, Vigia de Nazaré, PA, 23 de novembro
de 2007.
77
era a instrução musical praticado na banda, Daniel procurou conversar com alguns membros
idosos da banda para entender como era o ensino nas décadas anteriores e concluiu:
monitores e a segunda para desenvolver o projeto na prática. Sobre a primeira etapa, ele
explica a necessidade dos professores passarem por uma adaptação e se adequarem à idéia do
que para ele “é uma tomada de conhecimento e de aprendizagem entendida segundo as novas
formas de pensar e agir ante os novos tempos de estudos e inovações musicais desta região”.
Daniel comenta que o objetivo da nova estrutura foi “criar situações de aprendizagem;
da música em diversos níveis tais como clássico, popular, erudito e desenvolver o habito de
estudo de métodos”. Este projeto está sendo testado mesmo contrariando alguns músicos da
“31” que não concordam com essas mudanças. Delson entende a resistência inicial, mas acha
que é a hora de mudar e esclarece “queremos melhorar o nosso ensino e, por isso, estamos
interessadas por música já chegou a 400 alunos, o que tornou inviável por falta de infra-
estrutura. Vale, o então regente e professor da “União”, em virtude desta situação, sugeriu um
exclusivamente para a prática instrumental. Assim sendo, alugou-se uma casa que passou a
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
!!!!!!!57 Bruno Daniel, entrevistado pelo autor, gravação em fita de áudio, Vigia de Nazaré, PA, 18 de Janeiro de
2008.!
78
funcionar como escola entre os anos de 2002 a 2006. Em 2007, Vale deixa a direção da
banda “União”, e cria a sua própria escola denominada Escola de Música Maestro Vale58
sede do Clube Luzeiro, alugada para as aulas de música em 2008. De acordo com Marinildo
Silva, a escola cobra uma taxa mensal de quinze reais (15,00) e conta com um total de 140
alunos (dados de 2008) distribuídos nos seguintes cursos: musicalização (teoria/flauta doce)
com 100 alunos; curso de cordas que incluem violão, guitarra e contrabaixo elétrico com 30
dificuldade do pagamento das mensalidades59. Raiol diz que, “às vezes, a mãe quer matricular
mais de um filho, porém não tem condições de pagar,” neste caso, ele procura ajudar, isenta
um filho ou diminui o valor da mensalidade, porém a escola tem despesas e essa situação gera
Segue a distribuição das atividades teóricas e práticas desenvolvidas nas três bandas.
revitalização das bandas promovida pelo Governo do Estado do Pará e Fundação Carlos
Gomes (FCG), que recebeu o nome de Projeto de Interiorização, aproximou o Instituto Carlos
visitar Vigia de Nazaré. Além disso, o Instituto Estadual Carlos Gomes passou a abrir vagas
freqüentar os cursos do Instituto Carlos Gomes. Em 2005, a então diretora artística da FCG,
formas de conjuntos musicais como orquestra, banda sinfônica, grupos de câmaras, quartetos
e quintetos de sopro. A União Vigiense neste aspecto foi privilegiada por receber,
principalmente, na década de 90. As outras bandas da região não foram contempladas com
estas visitas.
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60
“Vigia reúne 600 músicos de bandas”. Amazônia Hoje: Caderno Show. Belém: 20 de setembro de 2005,
pág 8.
80
dinâmica de trabalho com características particulares, geradas pelo contexto cultural, com
sobre postura, posição das mãos, respiração, embocadura e posição das notas. A explanação
Segundo Ildone (1991: 32) o ensino da música já era citada no Compêndio das Eras,
de “ler, escrever e cantar, e mais, de língua latina, filosofia, teologia e solfa. . .” Solfa era o
estudo da música e da arte de cantar as notas musicais. Entre os anos de 1780 e 1783 há uma
ensino educacional (ensino formal). Não se tem documentos explicando com detalhes como
aconteceu esse ensino, apenas citação da existência de aulas de música para meninos
O que se pode afirmar é que hoje existe um ensino instrumental baseado na posição
das notas no instrumento, nas escalas, na leitura rítmica e no treinamento do repertório. Tal
parte teórica. A partir da década de 1990, esse modelo começou a mudar com a utilização da
nas três bandas, como musicalização (conhecimento rudimentar de teoria musical e divisão
depois de definido o instrumento, segue o início da prática instrumental que é dividida em três
níveis, de acordo com a elaboração feita por ele com a cooperação do regente Cardoso.
vezes não importa como.” São ensinados, a principio, cinco notas, do “SOL3 descendo até a
nota DÓ3”.
dificuldades no início dos estudos. Leandro Cardoso Dias, aluno de clarineta, diz: “Quando eu
comecei tinha muita dificuldade, mas com o tempo eu fui me interessando mais e aprendendo
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
61
Na região, se usa a expressão “tirar uma música” para se referir ao aprendizado da execução das notas de
uma música no instrumento. Essa execução concentra nos dedilhados e ritmos das notas sem, necessariamente,
considerar os aspectos de articulação.
82
mais coisas. Hoje estou na banda e estou gostando de tocar meu instrumento.”62 O regente da
banda elabora as primeiras lições usando semibreves, mínimas e semínimas. Natan Ferreira
Cardoso, 14 anos, estudando música há três anos afirma: “as lições são os métodos mais
utilizados em São Caetano.”63Outros métodos usados são: Método para Clarineta Domingos
Na fase da adaptação o aluno é orientado a ter uma postura para segurar o instrumento
e conhecer as posições das notas nos registro médio, grave e depois agudo. O monitor explica
a importância das notas longas para melhorar o som, tornando-o “bom, forte e alto”.
Posteriormente, é feita uma avaliação pelo regente ou monitor que usa a sua experiência para
clarineta,” explica Cardoso. Caso contrário, ele deve experimentar outros instrumentos.
aprimoramento de leitura métrica”. Os alunos são motivados a tocar duos, trios, escalas e
exercício de técnica baseado no método de Fritz Kroepsch64. Neste nível são introduzidas as
primeiras músicas: hinos religiosos e dobrados de nível fácil. No final de cada mês, Batista
avaliação, Batista, leva em consideração a freqüência às aulas e a participação dos alunos nos
recitais.
também o uso dos métodos Domingos Pecci e Kroespch. Como o objetivo é tocar na banda,
repertório devem ser decorados. O repertório faz parte do ensino da clarineta e, como
como concertos para clarineta e orquestra, duos, trios, e choros. Os alunos também têm acesso
“adaptação”. Nesta fase são trabalhadas a posições das notas, escalas diatônicas e cromáticas,
cada aluno.
como qualquer iniciante é difícil, mas agora tudo está ótimo. Mas ainda existem desafios”65.
Thiago Pinheiro da Silva, outro aluno de clarineta da “31”, reforça a colocação sobre as
difícil, mas agora estou controlando mais a clarineta e aperfeiçoando o som”.66 Extrair o som
do instrumento é um dos momentos mais difícil e traumático para os alunos. Brito comenta
que “os alunos ficam ansiosos para tocar qualquer melodia, como acontece na flauta doce,
quando não conseguem, começam a ficar nervosos, com mãos geladas”. Os alunos apertam
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
65
Respostas extraídas do Questionário produzido pelo pesquisador e utilizado em Vigia de Nazaré na data
de 20 Março de 2006.
66
Respostas extraídas do Questionário produzido pelo pesquisador e utilizado em Vigia de Nazaré na data
de 20 Março de 2006.
84
muito a boca e os dedos no instrumento, outros ficam com a marca dos orifícios na polpa dos
dedos. Brito aconselha o aluno a gravar a posição das notas, o som do instrumento e não
mexer muito a boca. É comum o aluno “se mexer [mover] e a posição da boquilha sair do
instrumento que vão tocar por meio de um teste. O aluno recebe orientação de como soprar e
segurar o instrumento. Durante duas semanas, ele permanece treinando na sede da banda
aparentemente sozinho, entretanto neste período, ele conta com o apoio do monitor e de
outros instrumentistas que estão sempre à disposição para ajudá-lo. Depois é submetido a uma
instrumento. Caso o regente perceba que ele se adaptou ao instrumento, a escolha está
facilidade do aluno “tirar” o som. Brito, regente da 31 de Agosto explica que os alunos
chegam com suas preferências por um determinado instrumento, mas nem sempre essa
preferência é confirmada. Brito faz questão de frisar que, seja qual for o motivo de
desistência, incentiva o aluno a não interromper os estudos da música, mesmo que ele
preferência.
fundamentos: embocadura, postura e escalas. Brito enfatiza que os iniciantes são obrigados a
fazer notas longas por quinze minutos todos os dias para “se adaptar ao som, pegar
Hyacinthè Klosé e Método Completo de Divisão Musical Paschoal Bona. As lições são
85
usadas para o treinamento de leitura e das posições das notas na região grave e média. Na
Vencida estas fases o aluno inicia a leitura do repertório da banda. Brito explica que
aluno pode tocar um determinado “dobrado”, enquanto que outro pode encontrar muitas
dificuldades. Brito complementa que “tem alunos que pegam logo e não tem muitas
familiarizando com o repertório da banda e com as escalas, até surgir à oportunidade de entrar
instrumental com o chefe de naipe por mais ou menos um ano. Essa orientação é basicamente
de leitura rítmica das músicas. Os alunos trabalham, nesta fase, os métodos Klose e Kroespch
e são orientados a decorar os dobrados. Desta forma, os alunos seguem adquirindo habilidades
“mecânica.” Algumas expressões ouvidas nas bandas são: “tenho pouca mecânica”, “estou
com o dedo duro” ou “o que os músicos almejam é melhorar a mecânica, a divisão, decorar as
músicas do modo mais rápido, como diz o pessoal, o modo”. Tais expressões são comuns no
De maneira geral, a 31 de Agosto conta com três monitores de clarineta, Brito e Daniel
para atender os iniciantes e Marleno Silva68, clarinetista e chefe de naipe, para os mais
adiantados. Daniel, monitor dos alunos iniciantes, tem a tarefa de ensinar embocadura,
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
!!!!!!!!!67 Termo muito usado no interior para se referir à destreza motora, ou seja, a habilidade nos movimentos
dos dedos.
68
Por motivos internos, Marleno Silva e Renan Altamir Santos foram desligados da corporação em 2009.
Os dois eram os clarinetistas mais experientes da banda.
86
respiração, postura, posição das notas. Quanto à atividade diária de ensinar, Daniel relata
Daniel comenta que o professor ou o monitor ensina, incentiva, motiva, toca, ajuda e
Daniel responde: “É difícil falar em técnica. O termo técnica aqui pra gente é pouco usado. O
que a gente emprega é não sei tocar, estou aprendendo a tocar e já sei tocar.”
A citação nos ajuda a compreender que, neste caso, não interessa o termo técnica e sim
concretiza em quem consegue tocar e quem não consegue. Para Daniel, outra questão é a
sonoridade do clarinetista de banda que não deve ser comparada com a ensinada nas Escolas
tocar dos clarinetistas destas bandas é, sem dúvida, resultado da somatória de fatores que
envolvem as explicações orais dos monitores, a percepção, a repetição e o treino. Todos esses
banda para assistir o concerto da Orquestra Sinfônica do Teatro da Paz (OSTP) na praça
matriz. No dia seguinte o monitor conversou sobre a apresentação da OSTP e ouviu dos
Julian Monteiro comentou que: “O som do clarinete que eu vi [ouvi] não era o som do
clarinete que eu ouço na banda”. Julielson Passos, outro aluno diz que: “ouvi mais não parecia
som de clarinete”.
dos fatores que influenciam na sonoridade dos clarinetistas. A presença de uma orquestra com
uma sonoridade de clarinete diferente pode trazer muitos significados. Existe uma hierarquia
que aponta que o som correto da clarineta é o som produzido na orquestra e que isso significa
Daniel teve que dizer que por se tratar de orquestra se exigia um som diferente, com
palhetas, boquilhas e instrumental diferenciado e acrescentou: “não quer dizer que o nosso
som daqui da terra seja pior ou inferior aos deles”. Ele explicou ao pesquisador a questão do
som da clarineta relembrando que quando ele ia ouvir o som de clarineta em CD, ele achava
que não tinha o som da clarineta, ele se achava inferior. Ele ouvia falar de boquilhas boas,
Tal citação reforça que dentro do processo de ensino e aprendizagem, o som da clarineta é
resultado do que é produzido e ouvido na sede da banda, nos treinos, nos ensaios, e por fim do
alunos são orientados a experimentar todos os instrumentos da banda e tornar essa escolha a
mais natural possível. Eles podem exercitar os instrumentos de madeira e de metais todos os
porque segundo Alexandre Lobato, quando o aluno passa da flauta doce para um instrumento
dois meses de experimentação, o monitor ou o regente realiza um teste para formalizar ou não
a escolha.
O passo seguinte é a fase do treinamento com o instrumento. Nesta fase, os alunos vão
receber orientação sobre notas longas, escala cromática, escalas maiores e menores. Eles
aprendem primeiro as notas sol3, fa3, mi3, re3 e do3 da mão esquerda e depois as notas
graves da mão direita (sib, lá, sol, fa). Lobato diz que a aprendizagem tem que ser rápida
porque todo ano muitos músicos saem da banda. Segundo Monteiro, a cada ano que passa, a
banda vai absorvendo, cada vez mais, alunos, e os membros experientes da banda vão se
evadindo. Atualmente a banda é formada por 60% de alunos, uma estatística bem diferente
dos anos de 1990, quando a União Vigiense era formada por vários músicos experientes.
clarinetistas que estão na banda, Monteiro usa o mesmo método de escalas ampliando, apenas,
a extensão dos registros para duas oitavas e os 167 Exercícios de Fritz Kroepsch, vol.1.
89
O Método elaborado por Monteiro não é editado. É organizado em dois níveis que ele
chamou de “book 1” e “book 2”. No “book 1” temos exercícios de notas longas, escala
Os monitores Monteiro, Lobato, Raiol afirmam que os alunos estudam mais escalas,
notas longas e lições para o desenvolvimento dos mesmos. Depois eles seguem para os
ensaios de naipes. Caso o aluno tenha dificuldade em executar uma passagem, o professor
pode ajudá-lo no final dos ensaios de naipes. Os três monitores concordam que os alunos
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
70
Entrevista concedida ao pesquisador na cidade de Vigia de Nazaré em 20 de Novembro de 2008.
71
Entrevista concedida ao pesquisador na cidade de Vigia de Nazaré em 20 de Novembro de 2008.
90
Lobato diz que “a pessoa tem que dar um jeitinho até chegar [treinar sozinho até
confirma que a falta de palheta é o que mais dificulta as aulas e Monteiro aponta como uma
das maiores dificuldades do aluno a maneira de colocar as mãos no instrumento dizendo que:
Outro detalhe observado por Monteiro é que o aluno não deve “deixar os dedos retos
o aluno não vai ter tempo de posicionar os dedos, ou seja, as mãos devem estar sempre
As aulas de clarineta são realizadas em salão aberto e não em salas fechadas. Há por
isso, a propagação de vários ruídos externos: veículos, barcos, carros de propaganda e rádio
“União”.
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
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Entrevista concedida ao pesquisador na cidade de Vigia de Nazaré em 20 de Novembro de 2008.
!
91
queixo para tirar a pressão da garganta”. Também recomenda fazer uma leve pressão nos
cantos da boca. Ele pede ainda para relaxar os lábios, não dobrar muito os lábios inferiores
para dentro da boca, deixar os dentes superiores apoiados na boquilha, não apertar a palheta,
não colocar muita força dos dentes inferiores nos lábios para evitar os indesejáveis “apitos”. É
Os clarinetistas que eram antes orientados a puxar os cantos dos lábios, hoje são
orientados a fechar bem os cantos dos lábios. Eles recebem orientações sobre a importância
Santos há uma preocupação neste sentido, segundo Cardoso, corrigir a posição das mãos e
dedos é um trabalho árduo, pois mesmo explicando aos alunos, alguns esquecem as
orientações.
pesquisa de campo, a orientação dos monitores quanto à mão direita sempre esteve ligada à
indicação básica de que o polegar direito é o apoio principal do instrumento. Muitos destes
movimento da musculatura dos dedos. Neste sentido, Stein (1958, 28) alerta para as falhas
encontradas no posicionamento das mãos e dos dedos observando que: “tensão indevida no
corpo . . . é susceptível de ser transmitida aos punhos, mãos e dedos. Inversamente, áreas
Concluindo segue uma síntese das fases do ensino da clarineta nas três bandas.
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
73
Undue tenseness in the body, such as hard embouchure or neck muscles, is likely to be transmitted to the
wrists, hands, and fingers. Conversely, relaxed areas influence other areas beneficially.
92
1. PERÍODO DE ADAPTAÇÃO
Escolha do instrumento: feita pelo Escolha do instrumento: “fazer o A escolha do instrumento: ocorre
aluno, ele treina com o instrumento teste”. Ocorre depois da durante a musicalização mediante
um mês e meio antes da confirmação musicalização mediante uma uma avaliação realizada pelo
da escolha. avaliação. regente.
Duração da adaptação: De três a Opção de escolha: Feita pelo Opção de escolha: Do aluno e a
seis meses. regente, o aluno poderá trocar de avaliação o habilita.
Ensino coletivo. instrumento posteriormente. Ele O aluno treina com o instrumento
Fundamentos: postura, embocadura treina com o instrumento de duas a um mês antes da definição desta
e escalas. Notas usadas: SOL3 ao três semanas antes da definição da escolha.
DÓ3. escolha. Duração da adaptação: dois
Exercícios: lições elaboradas pelo Duração da adaptação: de três a meses.
regente ou monitor. Figuras musicais seis meses. Ensino coletivo.
usadas: semibreve, mínimas e Ensino coletivo. Fundamentos: postura,
semínimas. Fundamentos: postura, embocadura embocadura e escalas. Notas
e escalas. Notas longas. longas.
Avaliação: baseado na freqüência e
Exercícios: baseados em escalas e Exercícios: baseados em escalas.
participação dos alunos nas aulas.
hinos religiosos e dobrados de nível
fácil.
2. PRÁTICA INSTRUMENTAL
________________________________________CAPÍTULO 4
APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS
análise de 15 sujeitos membros clarinetistas das três bandas (cinco de cada banda estudada).
categorias analisadas estão divididas em postura do corpo e posição das mãos e dedos,
deste fato, a questão postural interfere na execução e possibilita uma posição confortável para
104
o desempenho instrumental. Klug (1997, 60), Colwell e Goolsby (1992, 258), concordam que
tanto a angulação da clarineta em relação ao corpo quanto o posicionamento das mãos e dedos
são relevantes para estabelecer uma boa postura e facilitar a execução da clarineta.
Entre os cinco sujeitos representantes da banda Rodrigues dos Santos, observou-se que
a angulação entre a clarineta e o corpo do instrumentista está assim distribuída: Dois sujeitos
apresentaram uma angulação de aproximadamente 40º e três uma angulação de 55º. O que nos
permiti afirmar que a angulação predominante, nesta banda, tende a ser um pouco aberta com
clarinetistas profissionais como Pino (1980, 67, 138), Stubbins (1954, 212) e Klug (1997, 60),
!55º!
clarinetistas eleva o cotovelo para frente ampliando sua angulação. Também a posição da
cabeça do indivíduo está um pouco curvada. A posição está afetando o ângulo da boquilha em
relação aos dentes, atingindo aproximadamente 90º. Bonade (apud Kycia, 1999, 30)
recomenda que “a boquilha deveria ser posta sobre o lábio inferior e a uma polegada e meia
da ponta da palheta, a um ângulo de 45º.” Stubbins (1954, 212) recomenda que a postura para
segurar a clarineta não pode ser menos de 30º e nem mais de 60º, a distância satisfatória é
105
manter um ângulo de aproximadamente 45º graus do corpo. Pino (1980, 67) propõe um
que pode deixar a musculatura dos ombros, braços menos relaxada. Caso ele corrija essa
cabeça, mantendo o olhar para o horizonte, e diminuir o ângulo entre a clarineta e os dentes.
Pino recomenda que a cabeça e o pescoço do aluno devem estar relaxados, bem como seus
ombros, cotovelos, punhos e dedos. Ele orienta que a cabeça deve estar ereta. (1980, 138).
Entre os sujeitos da Rodrigues dos Santos, o posicionamento das mãos e dedos está
relacionado com seus tamanhos, com a força da polpa dos dedos aplicada na clarineta e com a
qualidade do material manipulado por essas mãos, neste caso, geralmente, instrumentos em
mal estado de conservação e com vazamento. Este fato foi observado pelo avermelhamento
aprendizagem instrumental, os instrumentos cedidos aos alunos são geralmente com muitos
anos de uso. Por isso, em muitos casos, ao utilizar um instrumento com vazamento, o iniciante
é obrigado a pressionar com força as polpas dos dedos contra os orifícios e anéis do
instrumento para diminuir possíveis vazamentos. O clarinetista se acostuma com essa pressão,
mesmo que futuramente venha a usar um instrumento bem abafado82. Em decorrência desses
fatos 80% dos sujeitos da Rodrigues dos Santos apresentaram hiper-extensão nas falanges
distal83, uns nos dedos da mão direita, outros nos da mão esquerda, principalmente o médio e
anelar, como podemos observar no Vídeo n.4, anexado a este trabalho. Para Pino (ibid., 138),
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
82
Na região da pesquisa se usa o termo abafado para se referir à vedação dos orifícios do instrumento pelo
uso de pequenos botões chamados de sapatilhas ou abafadores.
83
A estrutura óssea dos dedos é composta de três falanges. A 1ª falange, mais próxima da mão, é chamada
de proximal (FP), a 2ª média (FM) e a 3ª de distal (FD).
106
os dedos deveriam estar em um formato arredondado e sem muita pressão contra os orifícios.
Portanto o ideal seria um movimento isotônico dos dedos arredondados e não esticados ou
quase retos.
clarineta. Apenas três dos cinco sujeitos da Rodrigues dos Santos apresentam posições
afirma que a posição correta deste dedo deveria formar um “X” em relação à posição do
indicador esquerdo. Ou seja, estes dedos juntamente com a clarineta deveriam formar um
triângulo eqüilátero (Ver a Figura n.13). O polegar forma um ângulo de 45º em relação ao
!!P!
!!!I!
sujeitos uma angulação de aproximadamente 40º entre o instrumento e seu corpo. Esta
angulação segue as recomendações de clarinetistas profissionais como Pino (1980, 67, 138),
40º!
Agosto tocam com os dedos menos encurvado, portanto, mais reto e com hiper-extensão nas
falanges distal dos dedos médio e anelar da mão esquerda. Foi observado também que 30%
dos sujeitos apresentavam uma contração isométrica84 no dedo mínimo da mão esquerda,
resultado: três sujeitos apresentaram uma angulação de aproximadamente 45º e dois de 15º.
LÁ, foi assim observado: Três deles apresentam um posicionamento dos dedos no formato de
X conforme recomendado por Stubbins (1954, 212), e dois com angulação de 80º. Esta
angulação distancia as mãos do corpo superior da clarineta dificultando a ação mais rápida do
indicador esquerdo nas chaves próximas. A angulação de 45º é mais fechada e aproxima as
mãos do corpo do instrumento tornando mais fácil a ação do indicador nas chaves. Sendo
Na União Vigiense, dos cinco sujeitos analisados três apresentaram uma angulação
entre 20º e dois de 30º. Portanto, a predominância, neste contexto foi do uso de ângulo
clarinetistas profissionais, a que mais se aproxima é a de Klug (1997, 60) que indica um
!!20º!
Sobre as posições dos dedos verificou-se que, apesar das recomendações dos
monitores sobre a forma arredondada dos dedos (Vídeo n.6), 40% dos sujeitos apresentaram
109
os dedos retos com tendência a hiper-extensão nas falanges distal dos dedos médio e anelar da
mão esquerda. Observou-se também que o angulo do indicador esquerdo predominante foi de
apresentam uma posição entre, estes dedos, próxima do formato do X, proposto por Stubbins.
4.1.2 EMBOCADURA
!Fazer uma abordagem sobre embocadura é levar em consideração que cada pessoa
tem seu próprio formato de rosto, de arcada dentária, de lábios e de mento (queixo),
elementos também é único em cada um. Esses fatores, junto com o período de “adaptação” ao
A pesquisa de campo evidenciou que nenhum clarinetista das três bandas pesquisadas
usa embocadura dupla. Segundo Pino (1980, 59) embocadura dupla é aquela em que o lábio
um, cada clarinetista tem uma embocadura peculiar. A fim de facilitar o estudo, as
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
!!!!! 85 Retrognatismo (queixo pequeno para dentro ou pouco desenvolvido) e Prognatismo (queixo grande para
fora).
110
quase flácida e 3) embocadura com enrugamento por tensão. Foi também observado que
na maça do rosto. O aparecimento destas duas formas se deve a reação natural dos músculos
da face ante a ação de soprar o instrumento. Quando a musculatura não está devidamente
tensa formam-se as bolsas de ar no mento ou na maçã do rosto. Um dos motivos que levam
entre a palheta e a boquilha para facilitar a produção do som. Ele utiliza a força dos músculos
e da mandíbula, muitas vezes associada a do mento, para carregar a palheta para mais
próximo da boquilha, ou seja, ele realiza uma “força de carregamento” para por a palheta em
vibração.
A embocadura em forma de “U” ou oval vertical recebe este nome quando o mento
adquire este formato ao soprar. Pino (1980, 135) recomenda aos alunos que pense no formato
oval vertical para dar controle e segurança para a musculatura da boca e influenciar de
maneira positiva a formação da embocadura. Este tipo de embocadura foi observada em seis
dos 15 sujeitos analisados, dois da Rodrigues dos Santos, dois da União Vigiense e dois da 31
de Agosto. Considerando os cinco sujeitos cada banda, pode-se afirmar que este tipo de
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
86
Nos anos de 1970, tanto na capital como no interior do Estado, existiam duas maneiras de formar a
embocadura para soprar o instrumento: 1) a embocadura dupla caracterizada pelos lábios superiores e inferiores
levemente dobrados em direção à parte interna da boca; e 2) a embocadura simples com dentes superiores
apoiados na boquilha e os lábios inferiores levemente dobrados. Este último modelo se fixou no Estado do Pará e
o primeiro caiu em desuso.
111
“U” que são as “traves”. Elas são as linhas verticais que se formam nos cantos da boca. O
músculo que é solicitado e sofre essa contração é o orbicular da boca e o bucinador (Lossow,
1990, 159). Não se pode afirmar que a embocadura em formato de “U” é o modelo ideal. O
formato “U” é recomendado por Klug (1975), Pino (1980) e Stein (1982).
pouco esticada. Entre os sujeitos analisados três são da “União”, dois da 31 de Agosto e um
da Rodrigues dos Santos. Portanto, 40% dos sujeitos utilizam este formato, sendo a maioria
da União Vigiense.
rígida. Contudo, nesta terceira classificação incluímos apenas aquelas onde o enrugamento do
mento se dá por tensão muscular e que geram força de carregamento excessivo. Alguns
112
fatores contribuem para o aluno adquirir essa forma, entre eles estão os que dificultam a
produção do som: a boquilha muito aberta, a dureza excessiva da palheta e a falta de pressão
de ar suficiente para soprar o instrumento. Devido o recuo do mento, o aluno ao tentar emitir
Entre os analisados apenas dois sujeitos da Rodrigues dos Santos apresentaram este
formato, se forem considerados apenas os indivíduos da Rodrigues dos Santos, isto representa
tensão.
representando 60%. Segundo Bonade, os dentes superiores devem estar apoiados na boquilha
aproximadamente à meia polegada (12,7 mm) de sua ponta. Nas Figuras 19 e 20, pode-se
Na Figura 20, os cantos da boca estão bem fechados tencionando o músculo orbicular,
contudo o mento está contraído e empurrando os lábios contra a boquilha. Apesar disso, pode-
!
Fig. 20 – Área do mento (queixo) com enrugamento
Lossow (1990, 159) diz que “ a compressão das bochechas pode também forçar o ar
entre os lábios, o que contribui para a origem do nome do músculo (bucinador é a palavra
latina para trombeteiro)”. Entende-se então que o músculo bucinador da figura 21 está com
Nas três bandas, todos os sujeitos apóiam os dentes superiores na boquilha. Alguns
clarinetistas exageram na pressão tanto dos maxilares como das mandíbulas chegando a
formam marcas de mordidas dos dentes na boquilha como se observa na figura 22. Bonade, o
fundador da escola americana de clarineta, citado por Kicia (1999, 38) recomenda não apertar
114
os lábios superiores nem inferiores contra a boquilha e palheta, evitando morder no momento
4.1.3 RESPIRAÇÃO
no corpo por gases externos que são requeridos”. Ele comenta que o corpo vibracional do
instrumento é ativado pela respiração do executante que, por sua vez, é a energia inicial capaz
boquilha, a vibração necessária para produzir o som. O domínio da respiração requerido para
tocar é maior do que o requerido para manter as funções orgânicas do corpo. Primeiramente, o
ato de tocar requer que o aluno acostume a soprar constantemente. Isto exige muito mais força
que o simples ato de exalação. Depois, ele demanda o controle do sopro (da quantidade e da
campo. Quando o aluno pergunta como é que se sopra o instrumento, a resposta quase sempre
“fôlego” (capacidade de soprar ou reter o ar nos pulmões). Eles dizem que os alunos precisam
respirar bem para realizar um determinado exercício de escalas ou notas longas, sem explicar
como ela se dá. Nesta concepção a respiração é uma atividade física que não necessita de
emissão do som têm que ser feita de maneira natural sem nenhum tipo de preparo especial ou
de teorias fisiológicas. As evidencias colhidas na pesquisa de campo parece apontar para esta
tendência.
compense tanto a oxigenação que ele necessita quanto a necessidade de manter a coluna de ar
Na banda Rodrigues dos Santos o tema respiração segue os mesmos procedimentos que
se verifica na 31 de Agosto. Respiração passa a ser uma experiência individual e não uma
resultante do ensino do instrumento. Não ocorre o ensino específico dela (teórico ou prático),
ou soprar na boquilha, pela primeira vez, que exige do aluno uma inspiração mais
contundente dos pulmões. A respiração, mesmo com raras explicações aos alunos, vai sendo
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
87
A palestra foi realizada em 20 de fevereiro de 2009 no Instituto Estadual Carlos Gomes e envolveu
principalmente assuntos relacionados às pesquisas da Dr. Janete Kagarice cujo conteúdo refere-se aos problemas
físicos e musculares da embocadura.!
116
202) confirma que “respirar é um processo involuntário que pode ser modificado por ação
voluntária”.
respiração (Vídeo n.7). Durante uma aula de clarineta, o monitor de clarineta Monteiro faz
questão de detalhar como deve ser a respiração para se tocar a clarineta. Ele faz as seguintes
demonstrações:
Apesar de falhas nas declarações acima, o que o monitor quer explicar está de acordo
respiração diafragmática e seu controle. Para isso, ele informa que não se devem suspender os
ombros (respiração superior) ao inalar e que os músculos da barriga devem controlar o sopro
dos processos físicos e que o gerador de energia para a respiração é o diafragma. Em seu
compedium, citado por Kycia, Bonade escreveu: “o som do clarinetista deve vir do
controle do som são bastante detalhados por Stubbins (1954), o mesmo acontecendo com
Stein (1958), Pino (1980), Weston (1982), Pay (1995), Klug (1997) e Kycia (1999).
Pode-se concluir que nas bandas visitadas, a variante respiração ocorre de maneira
espontânea. Muitos dos clarinetistas respiram mais pelas necessidades fisiológicas do que
4.1.4 ARTICULAÇÃO
um assunto pouco abordado pelos monitores de clarineta e regentes. As poucas vezes que o
pesquisador observou alguma explicação sobre o assunto foi no início da adaptação do aluno
“ataque de língua” - e durante alguns ensaios das bandas. Raramente o regente ou monitor dá
uma atenção maior para esse tipo de fundamento. Na prática, os alunos entendem a
articulação como sendo o som “batido” (termo local) ou o ligado. Como mencionado na
revisão de literatura, no tópico sobre articulação, Pino (1980, 82-83) faz referência sobre o
uso do termo “ataque” dizendo que clarinetistas experientes e professores usam o termo para
descrever a ação do inicio do som através da língua. Ele prefere o termo “tonal entrance”
(início do som) e completa “Airflow is what causes tonal entrance” (a corrente de ar é o que
causa o início do som). O que faz gerar o som é a corrente de ar e não a língua. Por isso, o
Nas bandas, a emissão do som se confunde com o ataque do som, com o golpe curto
feito pelo contato da língua na palheta. Os regentes e monitores ensinam que se deve usar a
língua para golpear a palheta, afirmando que isso facilita a emissão do som, sendo um
impulso dado para a nota não falhar. Esta maneira se transformou em uma prática de
118
execução. Apesar das explicações dos regentes e monitores, nota-se que o uso da língua nem
sempre é uma regra, alguns clarinetistas usam a garganta. Tanto a Escola de Música da
Universidade Federal do Pará como o Instituto Estadual Carlos Gomes recebem alunos do
interior do Estado. Os professores destas instituições admitem que boa parte dos clarinetistas
Como mencionada na Metodologia, este estudo optou por analisar a variável articulação
a partir dos termos da prática da clarineta em vez da utilização da análise espectral, com a
referir aos diferentes tipos de articulação. Esses termos são utilizados na literatura
harsh tonguing” (articulação pesada e rude). Ele salienta que um dos problemas mais
a articulação quanto à clareza e outros aspectos que considere relevante”. Os termos utilizados
por eles e que foram incorporados nos parâmetros de análise foram: a clareza de articulação
das notas ligadas e separadas, e a dificuldade de realizar tal articulação88. Em relação à forma
foram considerados por serem usual na pedagogia acadêmica. Alguns avaliadores fizeram
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
88
!Entenda-se clareza como o modo de pronunciação do som.
119
abaixo. Antes de apresentá-los, é importante relembrar que são cinco clarinetistas por banda.
Cada clarinetista gravou um trecho de uma música, gravando o que foi sugerido pelo seu
regente ou o que desejava. Cada gravação foi avaliada cinco vezes por cinco avaliadores,
Em relação à Rodrigues dos Santos, 48% das avaliações (ou 12 das 25 avaliações)
indicam que os clarinetistas apresentam clareza nas articulações das notas ligadas e separadas,
enquanto que 52% (13 delas) demonstram que eles têm dificuldades de articulação. Seis
avaliações notaram o uso de ataque de língua, uma o ataque de garganta, três alternância entre
60 !
Articulação
52%!
50 ! 48%!
40 !
Rodrigues
dos Santos
30 ! CLAREZA (NOTAS
LIGADAS E SEPARADAS)!
DIFICULDADE
20 ! DE ARTICULAÇÃO!
10 !
0 !
SUJEITO 1! SUJEITO 2! SUJEITO 3!SUJEITO 4! SUJEITO 5! %!
!
Já na banda 31 de Agosto, 28% das avaliações são do parecer que há clareza de
articulação nas notas ligadas e separadas, enquanto 72% dizem haver dificuldade de
articulação. As notas separadas nos registros agudos foram uma das dificuldades observadas
em 20% das avaliações. Alguns avaliadores citaram que as dificuldades encontradas poderiam
120
ser causadas pelas condições inadequadas dos instrumentos, boquilha, palhetas ou pelo pouco
80 !
Articulação 72%!
70 !
60 !
31 de Agosto
50 !
CLAREZA (NOTAS
LIGADAS E SEPARADAS)
40 ! !
DIFICULDADE DE
ARTICULAÇÃO
30 ! 28% !
20 !
!
10 ! !
0 !
SUJEITO 1!SUJEITO 2! SUJEITO 3!SUJEITO 4!SUJEITO 5! %!
Observou-se também que em alguns trechos musicais, as notas ligadas eram realizadas
trecho musical sem ligadura que o sujeito executa de maneira ligada. O mesmo ocorria
quando havia uma seqüência de notas de curta duração, ou rápidas. Os sujeitos experientes
habilidade para articular com a língua, mesmo que o fraseado musical não fosse rápido. Há,
preocupação principal, mas sim a simples necessidade de executar as alturas e ritmos corretos
evasão dos clarinetistas ainda em formação. Eles deixam a banda com pouco tempo de
treinamento, não tendo tempo suficiente para se dedicar a articulação. O mesmo ocorre com
121
os outros instrumentos. Consequentemente, o maestro não tem como exigir uma articulação
dificuldade na mesma, sendo desses, 24% nos registros agudos. Os fatores que implicaram
neste resultado foram o grau da dureza da palheta, habilidade instrumental de dois sujeitos (4
60 !
Articulação !
50 !
44%!
40 !
União Vigiense
30 ! CLAREZA (NOTAS
LIGADAS E SEPARADAS)
DIFICULDADE DE
! ARTICULAÇÃO
10 ! !
!
0 !
SUJEITO 1! SUJEITO 2! SUJEITO 3! SUJEITO 4 SUJEITO 5! %!
Nas três bandas, os alunos aprendem graficamente a diferença entre notas ligadas e
partitura. A dificuldade é diferenciar essa execução na prática. Para eles, muito mais
importante do que a articulação é a capacidade de “tirar” uma música. Havendo ou não notas
separadas ou ligadas, cada clarinetista deve procurar encontrar um jeito de usar a língua ou a
garganta, ser prático e obter resultados. O trecho musical executado por sujeitos da mesma
banda pode ter diferentes procedimentos para articular. As 15 gravações anexadas neste
4.1.5 SONORIDADE
bandas nasce e se desenvolve na própria localidade. Os clarinetistas locais não sabem explicar
como é esse som, afinal pra quê explicar? O músico de banda tem uma facilidade de
perceber e identificar, de acordo com os seus conceitos, o que “soa como som de clarineta” e
o que “não soa [como som da clarineta]”. Os regentes orientam os iniciantes a “parar”
(prestar atenção) e “escutar o som” (observar a execução) dos clarinetistas mais experientes,
aqueles que se destacam no instrumento. São eles que se tornam o padrão de referência. Ter
um som forte é uma das qualidades exigida e apreciada. Ter um som fraco já “não soa como
clarinete”. A orientação é ter um som “forte” e “alto”. Quem não consegue atingir este
dos instrumentos que eles acham aceitável, de acordo com um padrão que se estabeleceu há
interferência.
meio de suas próprias habilidades de percepção auditiva. Esses são clarinetistas, professores
deste instrumento com formação acadêmica e atuam ou têm atuado em orquestra e em escolas
sonoridade dos 15 sujeitos. De maneira geral, o que se pôde concluir é que o resultado sonoro
quatro a seis meses, teve um peso considerável no timbre da clarineta. Dos sujeitos, 30%
como: boa sonoridade, som escuro, brilhante ou estridente. Garcia (2005) diz que:
Para analisar o timbre da clarineta dos 15 sujeitos os termos usados pelos avaliadores
clarineta, utiliza termos como: “an edge, or bite sound” (som perfurante ou cortante), “a
large, full sound” (som cheio e encorpado), “good tones” (bom som), “tone is. . .thin and
small. . .sweet and pleasing” (som é. . . fino e pequeno. . .doce e agradável) e também “small,
entre os registros. Alguns avaliadores observaram que a falta de controle de afinação estava
relacionada com o pouco tempo de estudo dos sujeitos, a gradação da rigidez da palheta, a
Ainda quanto à questão da afinação, Pino (1980, 114) afirma que “Clarinetas, como
outros instrumentos de sopro, são impossíveis de tocar perfeitamente afinado a toda hora e em
diz que:
ênfase em algumas notas. Os parâmetros usados na tabela de dados foram: realce nas notas e
sem variação de intensidade. Como determinante indireto destes resultados observa-se que o
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
89
Clarinets, like other wind instruments, are impossible to play perfectly in tune at all times and in all
registers of the instrument.
!!!!90!Such a clarinet would have a beautifully pitched low register, but the middle and high registers would be out
of tune because they are based on the use of the upper partials of the harmonic series, each one of which has its
own cantankerous tendency to go sharp or flat.!!
!
125
Para a avaliação sobre o timbre da clarineta dos cinco sujeitos da Rodrigues dos
suas avaliações da Rodrigues dos Santos, consideraram que os sujeitos tocam com
possuem som estridente/nasal. Portanto, pode-se afirmar que de acordo com os resultados
90 ! ! !!!!!!!!!!!!!!!!!
Timbre
80%!
80 !
70 !
60 ! Rodrigues
dos Santos
50 !
ESTRIDENTE /
NASAL!
40 !
ESTABILIDADE
30 ! DE PROJEÇÃO
20%!
20 ! !
10 !
0 !
SUJEITO 1! SUJEITO 2! SUJEITO 3! SUJEITO 4! SUJEITO 5! %!
nesta banda. Seus lábios inferiores se posicionam bem próximo à abraçadeira, dificultando a
afinação. A dificuldade de afinação observada entre os registros foi em 32% das avaliações,
principalmente, no registro agudo, com notas geralmente baixas. 12% das avaliações
qualidade do instrumento e acessórios. 56% das avaliações não comentaram sobre os motivos
de tais dificuldades.
60 !
Afinação 52%!
50 ! 48%!
40 !
Rodrigues
dos Santos
30 ! CONTROLE DE
AFINAÇÃO
!DIFICULDADE
20 ! DE AFINAÇÃO
10 !
!
%!
0
SUJEITO 1! SUJEITO 2! SUJEITO 3! SUJEITO 4! SUJEITO 5!
!
apresentaram uma “intensidade constante”, enquanto que 20% demonstraram que há realce
80 ! ! 76%!
Intensidade
70 !
60 !
Rodrigues
50 ! dos Santos
INTENSIDADE
40 ! CONSTANTE!
REALCE DE NOTAS!
30 !
CONTRASTE
DE DINÂMICA!
20 ! 20%!
10 !
4%!
0 !
SUJEITO 1! SUJEITO 2! SUJEITO 3! SUJEITO 4! SUJEITO 5! %!
avaliações indicam que os sujeitos têm boa sonoridade e 64% que eles não possuem
registro agudo foi o mais citado com termos: “um pouco aberto” ou “sem controle focal”.
70 ! !
64%!
Timbre
60 !
50 !
40 ! 31 de Agosto
36%!
ESTABILIDADE DE
PROJEÇÃO!
30 !
SEM ESTABILIDADE
DE PROJEÇÃO!
20 !
10 !
0 !
SUJEITO 1! SUJEITO 2! SUJEITO 3! SUJEITO 4! SUJEITO 5! %!
70 ! !
Afinação 60%!
60 !
50 !
40%!
40 ! 31 de Agosto
CONTROLE DE AFINAÇÃO!
FALTA DE CONTROLE
30 ! DE AFINAÇÃO!
20 !
10 !
0 !
SUJEITO 1! SUJEITO 2! SUJEITO 3! SUJEITO 4! SUJEITO 5! %!
Quanto à intensidade, 64% das avaliações verificaram uma intensidade constante, 20%
avaliadores, esta tendência pode ser explicada pela falta de apoio na respiração e pela dureza
da palheta. Um aspecto que chamou a atenção foi a ênfase dada com crescendo súbito nos
finais das notas longas, principalmente, nas notas graves localizadas nos fins das frases.
70 ! !
64%!
Intensidade
60 !
50 !
31 de Agosto
40 !
INTENSIDADE
CONSTANTE!
30 ! REALCE DE NOTAS!
CONTRASTE
20%! DE DINÂMICA!
20 !
16%!
10 !
0 !
SUJEITO 1! SUJEITO 2! SUJEITO 3! SUJEITO 4! SUJEITO 5! %!
uma boa sonoridade e 48% uma sonoridade sem estabilidade. Desta última porcentagem
predominava o timbre de som mais aberto ou brilhante principalmente no registro agudo. Vale
ressaltar que a qualidade dos instrumentos utilizados pelos indivíduos da “União” é superior
às demais banda.
129
60 !
Timbre 52%!
50 ! 48%!
40 !
União Vigiense
30 ! ESTABILIDADE
DE PROJEÇÃO!
SEM
20 ! ESTABILIDADE!
10 !
0 !
SUJEITO 1! SUJEITO 2! SUJEITO 3! SUJEITO 4! SUJEITO 5! %!
Já quanto à variável afinação, 72% das avaliações revelaram que os sujeitos possuem
controle de afinação e 28 % que eles apresentam falta de controle de afinação, sendo que 24%
dessas referem-se a problemas de afinação entre registros. Foi verificado, na maioria das
Afinação 72% !
70 !
60 !
50 !
União Vigiense
40 ! CONTROLE DE AFINAÇÃO!
20 !
10 !
0 !
SUJEITO 1! SUJEITO 2! SUJEITO 3! SUJEITO 4! SUJEITO 5! % !
!
130
em algumas notas.
100 !
Intensidade 88%!
90 !
80 !
70 !
60 ! União Vigiense
INTENSIDADE
50 ! CONSTANTE!
REALCE DE
40 ! NOTAS!
CONTRASTE
30 ! DE DINÂMICA!
20 !
8%!
10 !
4%!
0 !
SUJEITO 1! SUJEITO 2! SUJEITO 3! SUJEITO 4! SUJEITO 5! %!
execução musical dos clarinetistas. A intensidade constante sem variação de dinâmica não
da banda remete a um repertório específico para ser executado nas ruas, compreende-se então
que a dinâmica não é usual. Geralmente os músicos são aconselhados a tocar sempre na
dinâmica forte. Há exceções, principalmente quando a banda é convidada para fazer uma
!
93
instrumentista no interior, mas revela um universo surpreendente de superação que poucos são
banda. Por isso, os alunos se submetem a tocar com instrumentos de dez a quinze anos de uso
Fig. 6 - Braçadeira/presilha
Muitos instrumentos são manuseados com vazamentos, alguns funcionam com liga ou
com elásticos, outros com palhetas com muito tempo de uso e quebradas. Os instrumentos
são, em sua maioria, da marca Weril, porém há alguns chineses e outros poucos Yamaha,
Selmer e atualmente os da marca Júpter. As clarinetas em geral são instrumentos com muitos
anos de uso. A banda “União Vigiense” é a que possui o maior número de clarinetas das
Vandorem B45. As palhetas mais utilizadas são Rico Royal números 2" e 3, além de algumas
da Vandoren. Estas palhetas são utilizadas pelo período de seis a oito meses, chegando
mesmo a ficarem saturadas. Quando, por algum motivo, a ponta da palheta é danificada,
quebradas ou eram palhetas com vários meses de uso. É visível a má condição de algumas
condições de comprar ou testar palhetas novas, quando aparece uma palheta , na maioria das
mediante as necessidades, é algo que se torna menos importante. Há um esforço das bandas
95
em comprar palhetas novas. Custear palhetas para doze a quinze clarinetistas está fora da
desafio na produção do som, quase um obstáculo. A palheta quebrada, por exemplo, tende a
se tornar dura e requer, normalmente, mais esforço para ser posta em vibração. A palheta
necessita de uma força de carregamento para atingir a vibração, o executante usa a mandíbula
para apertar ou afrouxar, apertando, a parte livre da palheta tende a diminuir a entrada de ar
próximo a ponta da boquilha, o que dificulta o seu movimento de vibração. Com este
aprendizagem. Os acessórios inadequados podem fazer com que os alunos adquiram vícios na
técnica de se tocar. Em 2008, entre as três bandas, apenas a banda Rodrigues dos Santos
surgiram os profissionais (luthier) que consertam instrumentos de sopro.74 Nos anos 70 para
resolver a falta de sapatilhas, por exemplo, os músicos usavam a ova de aranha, ooteca75. Para
era comum usar o óleo de Mutamba77, segundo informação do senhor Caetano Néri Cardoso,
segundo seu Caetano, o óleo era usado para consertar a clarineta, lubrificar as chaves e molhar
a sapatilha para “deixar o som macio e fácil de sair.” Quando alguma chave da clarineta era
chave quebrada. Hoje as sapatilhas (botão utilizando para vedar) são restauradas com
plásticos ou fita veda-rosca78 (também conhecida como fita de pvc), conforme demonstrado
(bambu). Na década de 1990 não se ouvia mais falar nesta prática.! Jairo Wilkson, clarinetista
palhetas, quer pela falta delas no comércio local ou por seu custo elevado. Por isso, no
interior, a solução para a falta delas era, e talvez seja ainda hoje, fazê-las artesanalmente. Em
2006 o pesquisador conseguiu na região do salgado uma palheta de sax feita de cana de café
som. É comum serem utilizados para execução instrumentos com vazamento ou sem
resultado sonoro e pode desestimular o aluno ou dificultar a continuação de seus estudos, caso
criatividade. Quando o instrumento está com vazamento, eles refazem os abafadores com uso
de saco plástico para conter a saída do ar. A limitação de materiais não é determinante para
forçar a estagnação dos trabalhos musicais nessas bandas. A vontade de tocar supera todas as
barreiras e mantém viva a atividade instrumental. Um exemplo disso é o fato dessas bandas
existirem a mais de cem anos (Rodrigues dos Santos 128 anos, completados em 2009; 31 de
Agosto, 133 anos e União Vigiense com 93 anos), e possuírem um alto número de
do questionário aplicado aos alunos iniciantes. Por meio da avaliação deste questionário foi
possível observar que a totalidade dos alunos considera a passagem la3-si3 como sendo a
mais difícil da clarineta, e as mais fáceis: la2-sib2 (20%), do3-re3 (40%), re3-mi3 (20%) e
mi3-fa3 (20%). Com relação à dificuldade ao! soprar pela primeira vez o instrumento, 95%
responderam que a dificuldade estava em “tirar o som da clarineta” e 5% afirmaram não ter
encontrado dificuldade. Quanto aos registros que mais agradavam e que menos agradavam:
80% responderam que não se agradam do registro agudo e 20% do registro médio, enquanto
que 90% indicaram sua preferência pelo registro grave e 10% pelo registro médio.
individual não é uma atividade exclusivamente isolada. Ela é compartilhada entre professores,
99
de teoria musical e das bases da técnica instrumental. A aprendizagem é mais abrangente, pois
nota no registro agudo que nunca foi experimentado. Quando há uma passagem no trecho
musical que o aluno desconhece, geralmente ele pede para um clarinetista experiente
demonstrar como se toca, então o aluno vê como se faz, ouve, memoriza e repete inúmeras
vezes aquele som percebido. O aluno desenvolve a prática individual vendo e ouvindo outros
clarinetistas que são referenciais ou modelos. Da mesma forma ocorre com a prática em
os alunos com a seguinte observação: “quando tiver alguém tocando melhor do que você pare
e escute o som”. O treinamento da clarineta continua nos ensaios de naipes e nos ensaios da
ensaios de naipes, do repertório, dos ensaios da banda e do seu interesse em aprender uma
música nova. Perguntado sobre como se adquire a técnica da clarineta, Renner Pinto, com 11
anos experiência na banda “União” e monitor da mesma responde: “nós nos espelhamos uns
nos outros”.81
músicas. Essa prática promove não apenas o desenvolvimento da memorização, mas também
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
80
Depoimento concedido ao autor em 22 de Junho de 2007, na sede da banda em São Caetano de Odivelas-
Pa.
&"
!!!!! !Depoimento concedido ao autor em 12 de Julho de 2008, na sede da banda em Vigia de Nazaré - Pa.
!
100
O repertório tem um objetivo tanto artístico como pedagógico. À medida que o professor o
é composto por hinos, dobrados e música brasileira (samba e chorinho). Os hinos são
utilizados por serem de fácil leitura. Os dobrados são colocados numa fase mais adiantada e
vezes isso não é seguido à risca. Por falta de componentes, o aluno é convidado a preencher
No decorrer do processo de execução, outras notas vão surgindo e posições novas vão sendo
introduzidas. Isso ocorre em relação ao repertório ou às músicas que ele tem acesso. Pequenas
melodias vão sendo “tiradas de ouvido”, o que vai ampliando o gosto do aluno pelo
instrumento.
Uma música nova traz muitas informações, tais como uma tonalidade nova, um
pelo contrário, como membro da banda o aluno continua seu treino nos ensaios de naipes,
tendo como repertório as músicas da banda. Assim ele pode encontrar uma passagem difícil,
101
um ritmo novo, uma articulação ainda não experimentada, e treinar para vencer o desafio,
solicitando o auxílio de outros quando necessário. Segundo o professor Bruno, “há alunos que
praticando o instrumento há oito meses como também é possível encontrar clarinetistas com
cinco anos de instrumento com dificuldades de execução. O tempo de prática pode ou não
Há uma tendência dos alunos de clarineta comparar o ensino desenvolvido nas bandas
com o ensino acadêmico oferecido em Belém. A União Vigiense, através de seu regente
buscou se aproximar da instrução musical acadêmica por decisão de seu regente José Maria
Vale. A explicação está no fato que ele, sargento músico da Polícia Militar teve contato com
outros repertórios de banda quando atuava como membro da banda sinfônica da Polícia
Militar do Estado do Pará. Vale estudou no Instituto Carlos Gomes participou de inúmeros
cursos de regência e se formou no curso técnico. Ele teve um longo contato com diferentes
grupos de sopros e percussão da Fundação Carlos Gomes entre os anos de 1980 a 2002. Nos
anos de 1990, Vigia era uma referencia de boa música instrumental no interior sendo visitada
banda se acostumou a receber essas visitas. Muitos músicos da “União” passaram a estudar
no Instituto Carlos Gomes. Como conseqüência desta aproximação entre a banda e o ensino
que era ensinado em Belém, porém mantiveram uma maneira particular de ensino. O que não
mudou foi a função da banda no município, que continuava tocar nas retretas e acompanhar
procissões.
102
As duas outras bandas, Rodrigues dos Santos e 31 de Agosto continuaram com sua
instrumental da banda.
4.2 DISCUSSÃO
Apesar das avaliações dos 15 sujeitos serem realizadas de forma individual percebe-se
que o modo de tocar não é um resultado unidimensional e sim uma conseqüência proveniente
ocorrem mais adiante. Os iniciantes têm uma maneira semelhante de tocar, embora já se pode
musical. Por fim, cada clarinetista tem suas características pessoais de tocar (toque) e certas
características são comuns com outros de sua banda, contudo pode não ser as mesmas de
outra banda.
Ao analisar as avaliações das três bandas emitidas pelos avaliadores, elas revelaram os
Estes aspectos não podem ser considerados um problema dentro do contexto estudado. Essas
avaliam. São alheios a esta tradição musical. São clarinetistas de uma prática, tanto
clarineta na banda.
numa conclusão inequívoca se não fosse o fato de que a banda não está a serviço do universo
outra forma de execução além desta, mesmo que essa não atenda aos critérios acadêmicos.
Acredito que esta forma particular de execução encontrada neste estudo seja, tanto quanto o
são considerados clarinetistas? O que nos parece é que há uma falta de aceitação deste
“toque” de clarinete. Então o que eles são? Será que são “clarineteiros”? Ou possuem sons
sem perfis? No nosso entender, são anônimos excluídos que só ganham respeito quando
constrangedora para o clarinetista de banda, pois tudo o que ele acredita ser verdadeiro e
vista de uma concepção sonora trabalhada academicamente. O que se discuti não é o fato de
impedir que qualquer clarinetista das bandas possa ter acesso ou contato com a execução aqui
133
chamada de acadêmica, mas sim que esse “toque” da clarineta possa ser respeitado por ter
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O propósito desta pesquisa foi descrever a maneira de se tocar clarineta nas três
mostraram que existe uma maneira particular de tocar nestas bandas representado pela forma
de realizar a articulação; pelo timbre nasal, estridente e aberto com sons não homogêneo entre
os registros; na afinação aproximada sem preocupação com as exigências acústicas e sim com
“toque” da clarineta.
Este “toque” sempre existiu à margem da pesquisa, sem aceitação, e mesmo assim
produziu experiências musicais que revelaram jovens talentosos “na surdina” da doce vida da
região do salgado. Muitos não concordam que o “toque” da clarineta seja um estilo de
clarinetistas das bandas continuam sua saga, tocando e tocando, cultivando a arte na
comunidade, pois o tempo é tão curto que não há tempo para pensar em comprar um
adequada à sua força de carregamento, de estudar todas as lições dos métodos indicados, pois
na banda) e fim ao credenciar o aluno como “integrante da banda”. É neste contexto que a
instrumental.
135
“toca” clarineta na região do Salgado e confirmar que a execução deste instrumento no Brasil,
semelhante em todo o país. Como contribuição, este estudo pode ser utilizado entre as bandas
e por professores das escolas de música, dando subsídios norteadores de como entender e
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143
ANEXOS
144
Anexo A – Fotos
Fig. 27 – Banda União Vigiense em frente a sua Sede, com o Regente Marinildo à esquerda
Anexo B
NOME: ____________________________________
NOME DA BANDA__________________________
IDADE:_____
PROF._____________________________________
9. Você costuma treinar seu instrumento individualmente? Caso a resposta seja sim, por
quanto tempo, quantas vezes por semana e o que você treina, métodos, lições do
Bonna ou as músicas da banda?
10. Você recebeu orientação sobre a embocadura? Caso a resposta seja sim, comente.
12. Você gosta do seu som na clarineta? Você já pensou sobre isso? Comente.
13. Você costuma tocar exercícios com notas curtas e ligadas frequentemente? Comente
15. Você recebeu alguma orientação de como afinar o seu instrumento? Caso sua resposta
seja sim, explique.
18. O instrumento que você utiliza é seu ou da banda? Cite a marca do instrumento,
boquilha e numeração de palheta que você usa.
151
23. O que você gosta mais? Tocar clarineta ou fazer parte da banda?
152
Anexo C
ENTREVISTA COM OS REGENTES E MONITORES.
!
1. Qual o objetivo do ensino de música na sua banda?
!
153
Anexo D
Ficha de Avaliação
AVALIADOR: _______________________________________________
Data: _____/____/_____
INDIVÍDUO Nº____
Comentários gerais:
154
Anexo E
______________________________Márcio Cardoso
PRESIDENTE, REGENTE E MONITOR DE CLARINETA DA RODRIGUES DOS SANTOS!
Pesquisador: Marcio, qual o objetivo do ensino da música na sua banda? A escola tem
deste processo de ensino, ajudar na formação na educação pra que no futuro ele seja uma
pessoa de bem, quer dizer um trabalho sócio-cultural educacional. Agente procura fazer este
trabalho pra que no futuro o músico seja tanto profissional quanto uma pessoa de bem.
passa pela flauta doce, depois da flauta doce, os meninos vão pegar o instrumento e aí eles
vão fazer um teste, depois a gente faz um período de um mês de adaptação, com embocadura
pra vê se ele tem aptidão para tocar clarineta e depois deste processo a gente começa então o
estudo da escala, da clarineta e depois a gente vai pro processo das outras escalas assim
Pesquisador: Como você fala sobre embocadura, postura e respiração para o iniciante?
A gente faz um trabalho da seguinte forma: a forma de colocar a boquilha na boca, de sentar,
de pegar no instrumento, a posição correta do instrumento e tudo mais. A gente tem algumas
dificuldades porque é . . . alguns formatos dos lábios, da embocadura ser diferente em relação
a isso porque os meninos fazem assim . . . é um queixo um pouco mais pra baixo, mais
redondo, isso é uma dificuldade muito grande. Na escola a gente faz o que pode né! Mais a
gente faz o trabalho desta forma, ensinando a maneira correta de pegar no clarinete.
155
muito importante. A gente faz o trabalho de mecânica com as escalas. Pega primeiro a escala
do clarinete (notas do registro grave, médio e agudo) e depois com as outras escalas
(sustenidos e bemóis, maiores e menores) a gente faz um trabalho assim. A gente considera
importante sim, porque o músico de clarineta exige bastante a mecânica e aí a gente faz um
Pesquisador: Os alunos utilizam métodos? Utilizam. Nós começamos com . . . depois das
escalas, tanto da clarineta quanto das escalas, a gente faz um trabalho com o método Nabor
Pires, que é um método bem simples pra iniciante, depois a gente faz o trabalho com D
método Domingos Pecci até chegar no kroespch, que é um método bem mais avançado.
Pesquisador: Quais as qualidades para ser um bom clarinetista? Além da dedicação dele
no instrumento, tem de se dedicar e estudar bastante, tem uma boa mecânica, uma boa
Os alunos aprendem primeiro, dobrados, hinos ou lições? Eles estudam primeiro as lições
com pequenas melodias depois eles vão pros hinos religiosos e depois os dobrados, que já é
Como é organizado o ensaio da banda? Nós ensaiamos duas vezes na semana toda a banda,
mas além do ensaio da banda nós dividimos os naipes: em metais e palhetas, e nós ensaiamos
em dias diferentes: só metais [e] outro dia só palhetas, com [tocando] a música que nós vamos
ensaiar. A gente faz esse processo pra que na hora do ensaio a gente não tenha dificuldade
tanto de divisão métrica. . . vamos só concertar dinâmica, esses negócios todos [detalhes
musicais].
é um grande motivo pra eles, pra continuarem estudando, mas principalmente as viagens que
156
a banda faz. A banda sempre viaja pra apresentações, não só aqui na nossa cidade, mas fora,
em outras cidades do estado, como na capital também, isso é um grande motivo pra que eles
de um dia poderem seguir a carreira profissional mais a diante na capital, nas forças armadas.
_______________________________Delson Brito
Qual o objetivo do ensino de música na sua banda? Educar as crianças para uma
Como é o ensino da clarineta? Nós começamos com as lições básicas, escalas, até
chegar na partitura.
Primeiramente, antes de cada aula, fazemos dez minutos de notas longas pra que o som
possa sair melhor, respiração, compasso por compasso . . . ter uma preparação suficiente
Quais as qualidades para ser um bom clarinetista? O estudo, tem que estudar o
Os alunos aprendem primeiro, dobrados, hinos ou lições? Primeiro as lições, parte dos
métodos, e a cada momento que eles vão se aperfeiçoando eles vão pegando lições mais
difíceis até chegar no dobrado porque se torna mais fácil pra eles, a partir do dobrado as
naipe, pra depois a gente chegar no ensaio, porque se jogar a música sem nem estudar
ver cada um deles, de apresentar música, de ter um futuro melhor, um meio de vida
Tô [estou] trabalhando primeiro com eles [alunos de clarineta], pra tirar o som do
instrumento. . . só quero que tu tire o som . . . pra eu ir vendo [ouvindo]. . . Aperta aqui,
faz o FÁ, aí tira. . . até eles chegar[em] a tirar [tocar] a escala natural [seqüência diatônica
do FÁ3 ao MI2], aquela grave [registro chalemeau] depois eu passo pra média [registro
médio]. . . só pra eles tirarem [tocarem] o som. . . tirou o som [tocou a nota] dessa
posição, não esquece essa posição, pra não dá [dar] mais trabalho, porque eles mexem
[tiram o dedo do lugar] e não tira mais [eles não conseguem emitir o som]. Aí começa a
apitar o instrumento, não! Isso daí não é assim [está errado]. Você quer vê prof.
[pesquisador] a mão deles chega gela! Fica fria, é porque eles ficam muito nervosos, né! .
. . aí eu digo: calma que vocês vão quebrar o instrumento, fica a marca do instrumento
[nos dedos], não é assim [desta forma] é assim [ele mostra como deve fechar os orifícios].
Aí eles vão se soltando, começam a levantar, a soprar [ficar mais relaxados e andar pelo
O primeiro dia é . . . ainda mais aqueles que querem logo chegar tocar e tirar, aí
não conseguem e ficam agoniados [aflitos]. . . tem que ter bastante paciência. Se não fosse
esse trabalho a banda tinha caído. . . [teria dificuldades para funcionar]. Vamos dizer,
vamos supor a banda é de jovens, pegando os 17 anos eles vão se alistando e vão embora
158
[se transferem para Belém] quer dizer quem vai ficar no lugar deles se não tivesse a
escola? Antes [décadas anteriores] a banda era formada de músicos de São Caetano,
Colares, Mocajatuba e os que estivessem aqui. Tocar em cima da hora [convidar a banda
para se apresentar sem aviso prévio] significava pegar um taxi e ir até São Caetano pegar
reforços. Hoje não temos mais essa despesa. Os músicos são formados pela própria escola.
___________________________________________Bruno Daniel
alunos na sede, nos ensaios, nas apresentações e nas procissões. É algo cultural. É o nosso
jeito [maneira] de tocar. Esse estilo só pode sofrer mudança se algum professor da
comunidade trazer [trouxer] uma outra idéia de som e influenciar tanto os iniciantes quantos
os clarinetistas da banda. A Orquestra Sinfônica do Theatro da Paz veio tocar em Vigia e pedi
para os meus alunos de clarinete assistirem. No outro dia os comentários foram: “Gostamos
menos o som do clarinete que achamos esquisito e muito diferente do som que conhecemos”.
Eu expliquei que por se tratar de orquestra se exigia um som diferente, com palhetas,
boquilhas e instrumental diferenciado, isso não quer dizer que o nosso som daqui da terra seja
pior ou inferior aos deles. Eu achava que não tinha o som da clarineta, eu me achava inferior.
Eu ouvia falar de boquilhas boas, palhetas ótimas, mas não tinha nada disso. Comecei a
prestar atenção de que não era só eu que tinha esse som, eram todos. Foi isso que se criou
aqui, foi isso que sempre teve [houve] aqui. . . o som da clarineta na orquestra é muito bom, o
Eu percebi quando fazia os cursos em Belém que eles ensinavam uma coisa [um
assunto sobre técnica de clarineta] que era como se fosse uma outra coisa [não entendia
daquela forma], eles não partiam do que a gente sabia [como ensinávamos a maneira de
tocar], eles partiam do que eles sabiam. Era difícil pra mim compreender porque tinha que
contrariar tudo aquilo que eu tinha aprendido. Agora se tivesse um estudo que partisse daqui
[nossa realidade] pra chegar nesse ponto [o que é ensinado em Belém] seria bacana. Só que a
maioria vem pra conflitar com isso aqui. . . não é questão do som ser mais bonito, mais
brilhante, é uma coisa mesmo que nasce no lugar. O nosso primeiro maestro Menezes dizia:
“soprem alto porque o clarinete é um instrumento baixo [tem pouco volume de som quando
comparado com os instrumentos de metais] e vocês têm que soprar alto pra poder aparecer o
Pesquisador: E nas outras bandas como funciona? São Caetano e Colares por ser
antes [terem sido] parte de Vigia, teve [tiveram] esse contato muito próximo com o[s]
músico[s]. A “31” mandava buscar músicos em Colares e São Caetano. Eles iam fazendo esse
intercâmbio, sem perceberem que eles estavam fazendo esse intercâmbio e iam divulgando o
mesmo estilo de um lugar para o outro e continua até hoje. Quem sabe se daqui a alguns anos
possa ser que haja uma diferença grande, mas hoje não tem.
Pesquisador: E a técnica? . . . Nós não usamos o termo “técnica” o que a gente fala é
______________________________Kelso Monteiro
Qual o objetivo do ensino de música na sua banda? ... além de ser uma profissão, do
pessoal ter uma profissão com música, tentar ter uma carreira. . . as pessoas vão mais pro lado
militar, uma parte também pela parte financeira de ter uma profissão e ter um lugar no
mercado de trabalho e a parte também educacional, cultural e o trabalho social aqui da cidade,
Como é o ensino da clarineta? A gente tenta fazer o ensino básico, pelo menos tentar fazer
um ensino com um pouco de técnica também, esse é o grande diferencial assim . . . com a
banda . . . de algumas outras, além de ensinar o básico mas também pensar em ensinar um
pouco mais de conhecimento pros alunos, um pouco mais de técnica, de digitação, de estudo,
Como você fala sobre embocadura, postura e respiração para o iniciante? A embocadura,
a gente explica muito sobre resistência, aquilo que vai proporcionar ao aluno pra ele conseguir
tocar no futuro, eu falo pra eles que sem resistência eles não vão conseguir tocar, não adianta.
clarineta, pra ter mais resistência, respiração, a sonoridade é isso que vai proporcionar
Os alunos utilizam métodos? Eu utilizo muito partes de métodos que eu mesmo organizei
como ‘Book 1’ e ‘Book 2’ com bastante escalas arpejos, escalas e exercícios de intervalos.
paciência.
161
mecânica, escalas, aí já começa a pegar nos hinos porque vem o círio das crianças e a gente
Como é organizado o ensaio da banda? Agora a gente está trabalhando muito por naipe
porque o regente tá ocupado né! Antigamente não dava muito certo né! Geralmente a gente
faz esses ensaio de naipe com os alunos só pra dar aquela pincelada primeiro ai pra poder
Porque ai vem o círio das crianças e todos já querem pegar as partituras da banda.
Os alunos estudam mais escalas, notas longas e lições. Se o aluno sente dificuldade de
execução nos ajudamos, porém o aluno precisa “se virar” [resolver seus problemas de
execução]. A gente deixa eles se virarem um pouco, pra eles irem andando um pouco com as
suas próprias pernas para não ficarem dependendo toda hora do professor.
instrumento. Quando um aluno vai pegar um exercício que a rapidez é maior, então ele tem
muitas dificuldades nesses [nos] dedos indicadores porque ele sempre tem o costume de
levantar esses dedos. Esse movimento é desnecessário. Quando se vai tocar uma passagem
com muita velocidade, o ideal é não levantar muito os dedos e deixando, assim, a mão no
formato mais circular, deixando os dedos mais livre, para ter mais agilidade.
O aluno não deve deixar os dedos retos ou quebrados nas articulações porque tudo
[isso] vai atrapalhar na mecânica. A posição dos dedos é importantíssima porque na hora da
música, o aluno não vai ter tempo de posicionar os dedos, ou seja, as mãos devem estar
da garganta fazendo uma leve pressão nos cantos da boca. Isso com os lábios relaxados em
dobrar muito os lábios inferiores para dentro da boca. Deixe os dentes superiores apoiados na
boquilha, não aperte a palheta, nem coloque muita força dos dentes inferiores nos lábios para
evitar os apitos.
Muitos vêem para conhecer a parte arquitetônica das igrejas, das ruas. Ninguém vem pra ver a
Pará] vem pra vê a parte história aquela coisa toda. . . os pontos turísticos da Vigia. E na parte
de cultura, tem as bandas de música que são centenárias. Vigia tem aquela tradição né. . .As
pessoas vem na sede e pedem pra tocar música. Aí vem a questão do repertório, eles
perguntam que estilo de música a gente toca e a gente responde que tocamos do popular ao
erudito, mas também a gente trabalha com a música regional, música que está sendo tocada no
cotidiano. Então a gente faz uma mesclagem de repertório pra agradar a todos. . .então a gente
toca um samba, um choro e leva na descontração. Então o pessoal sai da banda e diz: poxa
legal o trabalho de vocês. Aí eles perguntam: - com relação ao apóio, o que vocês tem? – Aí a
gente coça a cabeça. . .música todo mundo gosta mais o nosso apoio! A cidade fica conhecida,
Pesquisador: fale sobre a escola. A gente começou a observar que muitos alunos ficavam
desestimulados, flauta doce é uma coisa e o instrumento [de banda] já é outra. O instrumento
163
[clarineta] já tem aquela questão mais delicada e mais meticulosa com relação à embocadura,
principalmente com relação à embocadura. Um aluno desse pega [possui] uma flauta doce
Quando ele começa um instrumento desse a concepção dele ele é a mesma coisa de
tocar flauta doce, quando ele vai ver [experimentar] fica desestimulado. . . Aquela coisa toda.
Então a gente começou a perceber uma evasão. Então resolvemos durante a musicalização
O meu contato com o instrumento foi através do Batista que era um saxofonista que
tocava no conjunto do meu pai e no conjunto do Pinduca. Eu ficava olhando ele montar o
clarinete aí uma vez meu pai disse – você vai aprender música. Me ensinou o violão, eu disse:
eu não gosto deste instrumento. Eu tentei a bateria e depois a guitarra e eu não gostei. Meu pai
instrumento e daí eu tirei a primeira nota e disse “essa é minha voz, esse vai ser o meu
instrumento”. O meu pai me colocou numa escola da prefeitura (projeto Erac) com o
professor Paulo Coutinho, estudei um ano, e o professor falou: o teu filho não tem talento. Eu
não desistir sempre perguntava para o Batista as posições das notas e o Batista ia me
ensinando. Meu pai me colocou na banda e quando eu dei por mim eu estava tocando na
“União”. O prof. Marcus Vinicius (clarinetista) foi um dos meus instrutores por que ele já
estava lá. A banda precisava de músicos, eu entrei pra fazer número. Eles ensaiavam na forma
164
de roda. Um dia o Prof. Marcus resolveu passar para o saxofone e eu tive que me virar no
instrumento.
Procurei métodos mais existia um grande problema: não havia palheta. Eu tinha um
“toco” [pedaço] de palheta muito duro. Tinha o Dito, chamado de “RÉ-Colher”, ele tinha um
RÉ sustenido feito com o cabo da colher. Ele fazia a palheta do galho do café. Eu fui lá com
ele e pedi que ele me ensinasse como fazer uma palheta e ele disse: “tudo bem é muito fácil”.
Cortou, raspou e disse: “agora lixa e toca”, o som era muito feio, mas era melhor do que o
“toco” que eu tinha. Depois eu procurei o Prof. Benjamin, fui estudar com ele. Eu já sabia ler
um pouquinho, tocava escalas de MI bemol, mas não sabia o que era MI bemol nem RÉ
sustenido. Comecei a vim de Vigia para Belém de carona nos caminhões que transportavam
verduras e pagava as aulas com um quilo de Gurijuba [peixe da região]. Foi ele que me
introduziu como segurar o instrumento, me deu uma palheta e uma boquilha. Daí eu fui
Mozart (Disco do Karl Lasten) e eu fui escutando, escutando e assimilando aquele timbre. O
meu pai me deu um disco do Paulo Moura, Beny Goodman e Paquito de Rivera. Aquilo foi
sendo assimilado. Aprendi mais a tocar de ouvido com um material (palheta) muito duro, com
a posição dos dedos de qualquer jeito, e fui desenvolvendo até me matricular no conservatório
e estudar com o prof. russo Olig Adrianev. Aí comecei a saber [entender] como é a verdade [
outra maneira de tocar]. Mais mesmo assim com problemas de embocadura, devido a palheta
muito dura, com aquela coisa que o som fica bonito com a palheta dura.
Pesquisador: Jairo, se você fosse ensinar hoje os meninos de Vigia como você
ensinaria a parte técnica? Por exemplo, a embocadura? Isso seria fácil. Eu percebo que
eles têm o mesmo problema que eu tinha. Primeiro que a gente não tem noção do ângulo da
165
clarineta em relação ao queixo. Essa preocupação não existe. O que a gente quer é tocar.
Outro problema é a noção que a gente tem de apertar [a boca] para tirar a nota aguda fácil. É
fácil quando a gente toca forte. Os jovens querem tocar rápido, estão cheios de informações,
se a embocadura já está feita daquele jeito, a gente não pode dizer que está errado, se não a
pode fazer você desistir muito fácil, ele guincha, você não consegue fazer a passagem do lá
para o si, você vai tocar no agudo, o RÉ é muito difícil, então eles vão para o sax, que em
sonoridade], por isso eu investir em equipamentos, procurei materiais próximo daquilo que eu
precisava, material duro e boquilhas mais fechadas pra eu tocar mais relaxado. A minha
iniciação eu não sabia o que era escala. O Rosendo [clarinetista do exército e luthier] foi quem
Um dos mestres que passaram mais tempo na frente da banda foi Serafim Raiol. Ele
não saiu da Vigia. Ele era comerciante e na época trabalhou como oficial de justiça. Hoje
você encontra muito repertório, naquela época não tinha. Os mestres tinham que fazer o
repertório mesmo, tinha que compor. Ele nasceu em 1896 e morreu em 1962 e compôs
dobrados, valsas, marcha fúnebre, cantigas de roda e músicas sacras. Por causa do Padre
166
Alcides Paranhos que tomava conta da 31 de Agosto, eles faziam aquela disputa. Enquanto o
padre fazia uma composição, ele [Serafim Raiol] fazia duas, três. Ele pegava o violão, quando
fechava o comercio, a energia ia embora cedo, aí ele ficava. . . pegava uma lamparina, um
tinteiro com aquelas canetas [ de pena] e o papel do próprio comercio que ele embrulhava pão
aí fazia a composição dele até altas horas da madrugada. A gente vê que os dobrados que ele
fazia era meio melancólico. Ele jogava muito a melodia para as palhetas, clarineta, sax.
Colocava a clarineta para tocar no grave, ficava muito bonita. Eu consegui resto de partitura
dele. Algumas músicas dele eu encontrei em São Caetano de Odivelas, lá com o Márcio.
Existiam sete bandas no município de Vigia. Antigamente São Caetano era distrito de Vigia,
outro, aí você sabe que nesse negócio de muda pra cá [lugar] e pra lá [outro local] se perde
muito material, e se perdeu. Na sede 5 de Agosto [antiga sede beneficente onde funcionou por
um tempo a escola de musica da “União”] tinha muito material, fizeram uma faxina, uma
ABC musical. Do clarinete e dizia essa é a tal nota, esse era o recurso que tinham na hora, não
tinha outro. Desenhava o instrumento no quadro. Em 1918 ele começou a estudar clarineta na
banda, dois anos depois começou a trabalhar como professor e regente da banda.
167
Anexos F
Partituras
168
169
170
171
172
173
174
175
176
177
178
179
180
181
182
183
184
185
186
187