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UFPA VER-O-CELLO:
performance e formação musical
BELÉM
2023
MECIA LOUISY SILVA NEPOMUCENO
UFPA VER-O-CELLO:
performance e formação musical
BELÉM
2023
MECIA LOUISY SILVA NEPOMUCENO
UFPA VER-O-CELLO:
BANCA EXAMINADORA:
_______________________________
Prof. Dr.
José Maria Carvalho Bezerra
_____________________________
Prof. Me.
Jonathan Guimarães e Miranda
_______________________________
Profa. Dra.
Sonia Maria Moraes Chada
Dedicado a Márcia Cristina Teixeira Silva, Nency Roberta Silva Nepomuceno e Ramon
Mateus Pinheiro Mendes.
AGRADECIMENTOS
Agradeço eternamente à minha mãe Márcia Cristina Teixeira Silva, por todas as
renúncias, dando suporte aos meus estudos, onde nunca me permitiu desistir e me orientou
sabiamente e carinhosamente durante todos os dias de minha vida. À minha irmã Nency
Roberta Silva Nepomuceno e toda a minha família que sempre torcem por meu sucesso.
Ao meu namorado Ramon Mateus Pinheiro Mendes por toda ajuda e apoio emocional,
seu amor, carinho e, principalmente, por estar sempre enfatizando que sou capaz.
Às minhas pets Juju, Pipoca e Kathucia que trouxeram alegria, paz e carinho nos
momentos conturbados de sobrecarga.
Murray Schafer.
RESUMO
Este trabalho tem como finalidade de estudo o “UFPA Ver-o-Cello", um grupo de violoncelos
criado por Cristian Brandão na Escola de Música da Universidade Federal do Pará. O objetivo
geral é investigar como o grupo UFPA Ver-o-Cello tem contribuído para a formação de
violoncelistas em Belém do Pará. Os procedimentos de coleta de dados adotados foram:
entrevistas com o criador do grupo e integrantes das formações antigas e atuais do grupo, e
levantamento de documentos relacionados ao “UFPA Ver-o-Cello”, como programas de
recitais, artigos e sites. Concluiu-se que a realização deste trabalho poderá ajudar músicos a
entenderem como funciona a estrutura e funcionamento de um grupo musical. Destacamos
também a importância histórica do grupo e sua trajetória dentro do âmbito acadêmico e
performático dos violoncelistas que o integraram, e a contribuição da música de concerto em
nosso estado.
This work aims to study the “UFPA Ver-o-Cello”, a cello group created by Cristian Brandão
at the School of Music of the Universidade Federal do Pará. The general objective is to
investigate how the UFPA Ver-o-Cello group has contributed to the training of cellists in
Belém do Pará. The data collection procedures adopted were: interviews with the group's
creator and members of the group's former and current formations, and collection of
documents related to the “UFPA Ver-o-Cello”, such as recital programs, articles and sites. It
was concluded that carrying out this work could help musicians understand how the structure
and functioning of a musical group works. We also highlight the historical importance of the
group and its trajectory within the academic and performance sphere of the cellists who were
part of it, and the contribution of concert music in our state.
INTRODUÇÃO 1
METODOLOGIA 5
EMUFPA 6
GRUPOS DE VIOLONCELOS 9
UFPA VER-O-CELLO 11
CONSIDERAÇÕES FINAIS 24
ANEXOS 26
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 37
1
INTRODUÇÃO
Figura 1: Cartão de Matrícula para o segundo ano no Programa Cordas da Amazônia (Módulo II)
2
Com planos para uma educação musical abrangente, o professor Dr. Áureo De
Freitas, em 2006, implementou o Projeto Cordas da Amazônia: Violoncelo em
Grupo Como um projeto de extensão da Escola de Música da Universidade Federal
do Pará (PCA EMUFPA). O Programa Cordas da Amazônia (PCA) surgiu como
uma proposta de educação musical para crianças, adolescentes e adultos interessados
em estudar música por meio do violoncelo. (RODRIGUES, 2012, p. 17-18).
Participei do processo seletivo para o curso técnico em orquestra, não fui aprovada,
porém, fui chamada para integrar o naipe de violoncelos da Orquestra de Cordas Paulo
Keuffer (OCPK). E lá, após um ensaio de naipe, ministrado pelo professor Cristian Brandão,
fui convidada pelo mesmo a ter aulas individuais de violoncelo, como preparatório para o
processo seletivo para o curso técnico em Instrumento Musical. Como aluna do professor
Cristian, obtive um forte impacto no que diz respeito à minha relação com o violoncelo e vida
musical, pois ocorreram uma série de adaptações desde a técnica ao pensar e fazer musical
individual e, posteriormente, em grupo. O período de estudos na EMUFPA foram valiosos, fiz
concertos e shows com diversas formações de grupos musicais, como quartetos, trios, duos,
orquestra de cordas e sinfônica; Fiz viagens com a Orquestra Sinfônica Altino Pimenta
(OSAP) para fora do estado; fiz recitais juntamente à classe e recital solo; executei peças em
masterclasses1 para professores renomados; entre outras atividades.
Em 2015 o professor Cristian criou o grupo UFPA Ver-o-Cello, para fornecer à sua
classe uma nova formação de música de câmara e, também, um novo formato de avaliação,
pois, além das aulas individuais e recitais, seus alunos deveriam participar ativamente dos
ensaios e concertos do grupo de violoncelos. Durante as atividades do grupo, considerei um
grande avanço em minha percepção musical tais como também de meus colegas de classe. No
começo, de minha parte, havia preocupação somente em acertar as notas, porém, de maneira
geral, esta não é a única preocupação que se deve ter quando executamos uma peça
coletivamente, essa prática me levou ao entendimento de que a atenção à dinâmica indicada
na partitura, afinação, conexão e interação das frases juntamente com as outras vozes, dentre
outros aspectos básicos da música de câmara, são e foram fundamentais para essa
compreensão. A citação a seguir reforça esse entendimento: “apesar de ser uma prática de
conjunto, proporciona ao aluno possibilidades infinitas no estudo individual de um
instrumento, fomentando inclusivamente a descoberta da sua individualidade e personalidade
musical.” (CARVALHO e RAY apud GÓIS, 2019).
1
Masterclasses, de acordo com SARAIVA (2021), consistem em aulas individuais abertas, com a presença de
um público e/ou alunos de diferentes níveis técnicos que apreciam as aulas dos outros colegas. Em 1850 Franz
Liszt iniciou esta forma de ensino, onde organizava uma espécie de aulas abertas em sua residência a partir de
quatro alunos não só de piano, mas de outros instrumentos.
4
Assim, entendo que a pesquisa trará contribuições para o entendimento das atividades
musicais do grupo UFPA Ver-o-Cello, proporcionando uma possível catalogação e
organização de dados sobre este grupo que, ainda se faz presente na memória e história
vividas pelos músicos que passaram por ele, além de ajudar outros músicos a entenderem
como funciona a estrutura de um grupo musical. Com esta proposta pretendo contribuir com
temáticas semelhantes e os resultados obtidos contribuirão para a historiografia da música em
2
O grupo iniciou em 2015 como UFPA Octo-cellos, por se tratarem de apenas oito integrantes. No ano seguinte,
com o crescimento da turma de violoncelos da EMUFPA e violoncelistas convidados, passou a se chamar UFPA
Cello Ensemble. Em 2023, denominou-se UFPA Ver-o-Cello para promover a EMUFPA e um dos pontos
turísticos mais populares da região norte, o Mercado do Ver-o-Peso.
5
Belém do Pará. Este trabalho também torna-se relevante por apresentar as progressões da
construção da performance do UFPA Ver-o-Cello, não somente pelo aspecto interpretativo,
mas também pelo o que envolve a rotina do grupo e o processo de preparação para concertos e
avaliações no geral.
METODOLOGIA
A coleta de dados foi realizada por meio de levantamento bibliográfico sobre o tema;
levantamento documental de fotos, vídeos, áudios e partituras; registros escritos sobre o grupo
UFPA Ver-o-Cello; e, mediante a entrevistas com integrantes e ex-integrantes do UFPA
6
Ver-o-Cello, assim como o seu coordenador. As entrevistas foram destinadas a cinco pessoas:
um integrante, três ex-integrantes, e o coordenador do grupo. Estas entrevistas foram
realizadas com consentimento dos entrevistados, via e-mail.
EMUFPA
Nivaldo Santiago resolveu fundar uma orquestra, constituída por um pequeno grupo de
músicos em Belém. Conforme observações de Nivaldo, a maioria dos instrumentistas da
região já possuía uma idade avançada e fazia-se necessário formar novos músicos para
integrar a orquestra. Desta forma, após reuniões com o reitor da Universidade Federal do
Pará, onde o mesmo mostrou-se favorável à sugestão de criar um centro de atividades que
formasse músicos em Belém, foi criado, em 1970, o Centro De Atividades Musicais – CAM.
Dado este primeiro passo, a Universidade Federal do Pará iniciava um processo de criação de
7
diversos grupos musicais e formação de instrumentistas de alto nível. (Cf. BRITO, 2010, p.
14).
Sob direção de Altino Pimenta, a EMUFPA passou a se chamar Serviços de Atividades
Musicais - SAM. Entre suas iniciativas implementou o ENARTE, um evento que mobilizou
pensadores e artistas em busca de respostas à crise cultural da cidade, e é considerado um de
seus projetos mais eficiente e até hoje faz parte do calendário cultural de Belém. O mesmo a
considerava um sucesso devido ao tipo de público que participava, composto principalmente
por jovens:
O SAM, atual EMUFPA era então um departamento criado para possibilitar que
professores, alunos e pessoas ligadas à universidade exercessem atividades musicais.
Partiu dele a guinada artística de uma nova geração de instrumentistas do Pará, além
de grande movimento artístico, com a criação dos “Encontros de Arte” (ENARTE) e
as “Semanas Pró-Arte” e a vinda de grandes artistas brasileiros para Belém.
(OLIBERAL apud VIANA, 2008, p. 14).
Grupos de Violoncelos
Nos dias de hoje a formação de grupos de violoncelos tem se tornado muito comum
nas universidades brasileiras e instituições de ensino musical, podendo variar amplamente em
números de integrantes e, também, em seus níveis de performance. Suas primeiras aparições
remetem aos primeiros grupos de viola da gamba, porém, com o violoncelo que adquiriu
características físicas que o distinguiu em termos visuais e sonoros:
O termo francês Ensemble, segundo o Dicionário Grove de Música, designa um
conjunto de executantes e/ou cantores (1994, p. 299). Logo, o termo cello ensemble,
de maneira genérica, refere-se aos grupos que dispõem apenas de violoncelos em sua
formação instrumental, e que buscam alcançar excelência em suas performances,
executando composições e arranjos elaborados para esta formação. (QUEIROZ,
SANTOS e PRESGRAVE, 2016, p. 5).
simplificado pois não há tempo para muitos ensaios; O grupo profissional estabelecido, que é
formado por violoncelistas profissionais, que dedicam maior número de dias e horários de
ensaios, além de fazer encomendas de composições e/ou arranjos para realização de gravações
e concertos. No Brasil, pode-se citar o Rio Cello Ensemble, que foi fundado pelo violoncelista
David Chew, da Orquestra Sinfônica Brasileira, o conjunto destaca-se como o primeiro
conjunto profissional estabelecido no Brasil; os grupos das instituições de ensino formal isto
é: conservatórios, universidades, entre outros, onde há um professor e uma classe de alunos de
violoncelos que inicialmente torna-se mais fácil de reunir violoncelistas e formar o grupo.
(HOEFS e SUETHOLZ, 2018, p. 19).
Ainda conforme Hoefs e Suetholz (2018), no Brasil, quase todas as grandes
universidades e conservatórios com professores e estudantes de violoncelo têm um conjunto
de violoncelos, regular ou ocasionalmente. Além destes, também encontramos, embora com
menos frequência, o grupo de violoncelos que faz parte de uma orquestra profissional, que se
reúnem normalmente para executar as Bachianas Brasileiras n. 1 ou n. 5 de Villa-Lobos, na
maioria das vezes com regente.
Fazer parte de um grupo de violoncelos torna-se relevante para o violoncelista em
formação devido o mesmo ter a oportunidade de praticar a música de câmara, trocar
experiências com os outros integrantes do conjunto e, executar peças e arranjos escritos
exclusivamente para esta formação e, assim, crescer musicalmente com mais uma experiência
para consideráveis avanços em sua performance tanto em conjunto quanto individual:
Ao longo da história, a formação de grupos de violoncelo tem sido uma prática em
grande ascensão nas universidades brasileiras e instituições de ensino musical. Tal
prática deve-se principalmente a dois fatores: como eficaz ferramenta pedagógica
para a prática de música de câmara, fazendo uso da técnica trabalhada nas aulas de
instrumento aplicadas no repertório para grupo e, também, pela existência de um
vasto repertório escrito para esta formação, seja original ou arranjado. (BRANDÃO
e NEPOMUCENO, 2020, p. 62).
UFPA VER-O-CELLO
Fonte: Exercício exemplificado por Mecia Nepomuceno, no aplicativo online de edição e confecção
de partituras Flat Editor.
Ainda conforme minha experiência como bolsista PIBEX, pode-se considerar que o
professor Cristian se mostra paciente e disposto a ajudar a classe conforme necessidade, vale
lembrar que ainda hoje, o grupo é formado por alunos de diferentes níveis, alguns com mais
dificuldade que outros. Considero também que o mesmo frequentemente reforça o“fazer
musical”, em ações práticas já descritas anteriormente.
Almeida assevera sobre a postura do professor perante o ensino coletivo:
Como é que alguém pode ter a coragem de ensinar música sem fazer música desde o
primeiro instante? Por que ter maior preocupação com o ‘’saber’’ e esquecer-se
do‘’fazer’’? ‘’O fazer musical’’ deve preceder sempre ‘’o saber musical’’. Não há
nenhuma justificativa sócio psicopedagógica, nem econômica e prática que nos
autorize a pensar o contrário. O ensino coletivo de instrumentos permite que o saber
musical, passo a passo, acompanhe o fazer musical numa combinação prática,
harmoniosa e proveitosa, e deve ser ministrado de maneira simples e agradável.
(ALMEIDA, 2004, p. 27).
A dinâmica dos ensaios preparatórios para o concerto costuma ser bastante gestual e
exemplificada pelo professor. Deste modo, o grupo tem referência em busca de facilitação da
performance, ou seja, sugestões de dedilhados, arcos, e conteúdos técnicos relacionados. Os
concertos em algumas vezes são regidos pelo próprio professor, ou professores e/ou maestros
convidados. Os concertos duram cerca de quarenta minutos. Os integrantes chegam ao local
da apresentação por volta de uma hora antes do horário estabelecido no programa,
posicionam-se no palco e repetem algumas etapas trabalhadas nos ensaios, como afinação a
partir da nota Lá de referência do professor ou do primeiro violoncelo, e os exercícios de
escalas. Quando há necessidade, é executado algum trecho da obra mais trabalhosa do
programa, procurando não causar tensões ou ansiedade aos integrantes antes da performance.
Como mencionado anteriormente, os concertos podem ser regidos por professores ou
maestros convidados. Além do professor Cristian, os que mais se apresentam são: o professor
Rodrigo Santana e o maestro Miguel Campos Neto, ambos também da EMUFPA. Aldrovandi
destaca sobre a importância da regência para a educação musical, e consequentemente para a
performance:
Costumamos aprender música por meio do gesto corporal, do gesto que se aplica a
um instrumento musical, à voz ou, então, a partir do gesto da regência. Não será
preciso, portanto, afirmar e justificar a importância da prática gestual na educação
musical e na produção de grande parte dos sons e da música, mesmo com as recentes
transformações tecnológicas. Como vimos, a partir de Aristóteles, nossa educação é
basicamente mimética, ela se dá ao imitar e seguir o que observamos em outras
pessoas, na natureza ou em determinados conteúdos, indicações linguísticas, regras
etc. Com o gesto e o comportamento físico do corpo não é diferente. Aprendemos a
tocar um instrumento musical a partir de práticas mais ou menos comuns,
compartilhadas, assimilando movimentos, dedilhados, articulações, leituras etc. Essa
Prática mimética do gesto corporal pode parecer-nos mais evidente, a da assimilação
de movimentos apropriados e condicionados para determinados fins auditivos, não
sem pensar nas singularidades a que cada sujeito pode chegar com ela. É essa a
mimese que a performance musical envolve e que é discutida desde a
antiguidade.(ALDROVANDI, 2019, p. 187-188).
De acordo com Ventura (2014), reger sempre esteve presente ao longo da história. As
regências mais antigas possuíam como método os batimentos de mãos, golpes de sapatos de
madeira ou de paus. Deste modo, até os dias de hoje o maestro é considerado o mais
competente dentre todos os músicos, pois, seu gestual técnico influencia e executa funções de
alta qualidade da música, como andamento, dinâmicas, frases e articulação. Assim, como
informado anteriormente, durante os ensaios do UFPA Ver-o-Cello, se faz necessário o auxílio
do professor como regente do grupo, podendo estender para o concerto, ao ponto de trazer
17
professores convidados à reger. Por se tratar de um grupo constituído pela maioria alunos do
curso técnico, apresentava algumas deficiências na prática de conjunto, a interação tornava-se
ausente em obras de cunho trabalhoso, então se tornava necessária a presença de um maestro
para dirigir tais concertos. Contudo, é indispensável enfatizar que a atuação do maestro nos
ensembles não é direcionada somente para a execução de notas ou indicação de andamento, e
sim para fornecer conteúdo formal, e assim facilitar a performance ao grupo. (Cf. Ventura,
2014, p. 12-16)
Outro evento criado a partir do grupo foi a Semana do Violoncelo do Pará, que surgiu
em novembro de 2020, no formato online devido a pandemia do vírus COVID-19, como
ferramenta para o aprendizado, progresso, troca de experiências e socialização entre alunos de
violoncelo e professores de instituições brasileiras e estrangeira, dando continuidade ativa à
prática das oficinas de música ainda que em tempos de pandemia. Este evento, diferente da
Mostra de Violoncelos, teve somente uma edição. Foram promovidas palestras, e masterclass
por plataformas de chamadas de vídeo ministradas pelos professores: Felipe Avellar, Diego
Cardoso, Frederico Nable, Meryelle Maciente, e Rodolfo Borges. Todos trazendo temas
proveitosos e agradáveis, promovendo várias reflexões em seus ouvintes, e em seguida as
masterclasses. Foram abordados os seguintes temas: “Alguns dos princípios
técnico-interpretativos do pensamento de Janos Starker”, “Dicas e experiências de estudo do
violoncelo na França”, “O início tardio no violoncelo: possibilidades para quem começa
depois dos quinze anos”, “Estratégias de enfrentamento para a ansiedade da performance
musical”, “A importância de estudar os excertos orquestrais e desenvolver uma leitura
dinâmica dentro de uma orquestra”.
brasileiro de música, pois muitos ainda acreditam que para se estabilizar como músicos e/ou
professores de música no Brasil é necessário ir em busca de diplomas de instituições
estrangeiras, usando como exemplo o violoncelista Hugo Pilger, que é brasileiro e formado
academicamente por instituições brasileiras.
Figura 4: Masterclass com Bruno Valente. Professor da Fundação Vale Música, na época primeiro
violoncelo da Orquestra Sinfônica do Theatro da Paz.
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Resumo das entrevistas - Foi realizada uma entrevista, via e-mail, com o coordenador do
UFPA Ver-o-Cello, e alguns de seus integrantes e ex-integrantes. A seguir, está um compêndio
dessas falas, para melhor entendimento do funcionamento e de como cada entrevistado se ver
como parte do projeto estudado. O coordenador, prof. Me. Cristian Brandão aponta que o
grupo “foi formado com objetivo de criar uma ação extraclasse que possibilitasse aos
participantes uma interação para além das aulas promovidas na grade curricular do curso
técnico”. São realizados ensaios coletivos, ensaios de naipe, afinação conjunta, harmonia de
vozes, leitura e expressividade de repertório, além de concertos realizados de formas
esporádicas em eventos dentro e fora da EMUFPA, com uma diversidade de repertório para
apresentar o violoncelo e enfatizar que o mesmo pode executar quaisquer gêneros musicais.
metodologia era usada para que todos conhecessem as vozes do outro, tornando parte de sua
rotina de estudos, praticando a leitura e os fazendo explorar as diferentes regiões do
violoncelo, servindo de grande ajuda à produtividade e objetividade dos ensaios, pois, o aluno
mais experiente poderia ser considerado referência na compreensão para os demais alunos.
Contudo há quem discorde, por reforçar a competitividade dentro do ambiente e assim,
resultar em controvérsias e evasões.
Deste modo, é comum o ambiente ser competitivo, porém no UFPA Ver-o-Cello, como
se trata de um grupo musical formado por alunos, muitos não possuem maturidade musical e
acabam por terem atitudes ofensivas e desmotivadoras aos outros integrantes, resultando em
bloqueios na interação social. Na minha opinião, a competição entre estudantes de música é
recorrente, e até certo ponto necessária, pois, todos são músicos a fim de se profissionalizar, e
observar e superar os colegas considerados avançados é crucial e objetivo. Mas quando
ocorrem situações de constrangimento, inveja, discussões ou situações prejudiciais aos demais
integrantes não torna-se parte da competição saudável e objetiva, e é considerada nada mais
que uma atitude antiprofissional. Nestes casos, entendo que é inevitável a intervenção do
professor, para não haver bloqueios e assim facilitar o convívio entre alunos, em razão de
todos os músicos serem importantes para o grupo, assim como todas as vozes são necessárias
para a composição, e cabe ao professor reforçar tais importâncias aos estudantes, os fazendo
compreender e adquirir a postura profissional. Durante os ensaios, o professor Cristian reitera
que cada integrante é indispensável, especialmente quando ocorrem faltas, todavia, ainda
3
Concertino é o músico que ocupa a cadeira ao lado do chefe de naipe. Os concertinos também possuem
relativo status, e além de sentarem na primeira cadeira, devem estar sempre preparados para substituí-los, caso
seja necessário. (PICHONERI, 2006, p. 90)
23
Com todos estes relatos, indaguei ao professor se todos os seus objetivos com o grupo
e alunos foram alcançados. Em resposta, afirmou ter alcançado com êxito, dado que a maioria
de seus alunos concluíram o curso técnico e ingressaram na graduação, sendo licenciatura ou
bacharelado em música, e permanecem tocando profissionalmente. Ou seja, o UFPA
Ver-o-Cello é uma ferramenta pedagógica imprescindível, que abrange ensino, interação
social e vivências musicais que estão vivas na memória de todos que passaram por ele.
4
Relato fornecido por Cristian Brandão, em resposta ao questionário elaborado por mim, via e-mail, em 02 de
novembro de 2023.
24
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho teve como objetivo investigar como o grupo UFPA Ver-o-Cello tem
contribuído para a formação de violoncelistas em Belém do Pará. Para alcançar este objetivo
foram realizadas pesquisas em documentos, sites, e elaboração de um questionário via e-mail
com o coordenador, integrantes e ex-integrantes do grupo. A elaboração do questionário para
o coordenador focou objetivamente no entendimento dos procedimentos do cronograma de
ensaios e concertos, e também nos resultados do projeto. No caso do questionário para os
alunos, focou no entendimento da sua atuação no projeto e em suas opiniões, onde o ensemble
contribuiu para suas carreiras. Os resultados foram proveitosos e esclarecedores, trazendo
reflexões e pontos positivos e negativos que fizeram esta pesquisa ainda mais entusiasmante.
O processo para confecção desta pesquisa foi desafiador e demasiadamente acelerado.
A iniciar pela escolha do tema, que desde a decisão de estudar violoncelo efetivamente fez
parte de minha trajetória. Deste modo, o grupo de violoncelos sempre esteve presente em meu
cronograma de compromissos, então decidi acatar o tema proposto pelo orientador, tendo em
vista de que eu gostaria de abordar um assunto relacionado à performance no violoncelo.
Recordo-me dos primeiros ensaios, onde me encontrava apreensiva por não ter fluência na
leitura e uma técnica bem estabelecida e comparo com os dias atuais. As atividades do grupo
foram relevantes para meu desenvolvimento, definindo a violoncelista que sou hoje. Adquiri
responsabilidades, aperfeiçoei meus conhecimentos performáticos, aprendi como me
comportar em um grupo profissional, refletindo no que fazer e no que não fazer como
instrumentista e como professora. No decorrer do processo de confecção deste trabalho, ainda
ocorreu uma troca de orientação, e considero esta mudança muito positiva, pois, esclarecemos
vários pontos, fizemos reuniões muito proveitosas, e a produção do trabalho fluiu com êxito.
O UFPA Ver-o-Cello tem uma rotina de dois ensaios semanais, e esta prática faz com
que o grupo seja reconhecido não só por sua dedicação, mesmo sendo um grupo composto por
alunos, mas também pelo importante papel na divulgação e na propagação do instrumento e
do vasto repertório nacional e internacional executado pelo violoncelo. No que tange a
interpretação, o grupo necessita trabalhar mais. A conexão visual ainda não está bem
estabelecida e os aspectos da prática de conjunto ainda não estão claros aos estudantes, e
faz-se relevante um maior número de concertos. Este ponto está sendo trabalhado e estudado
pelo docente para ocorrer de forma clara e objetiva aos discentes. Os discentes permanecem
dedicados, participando de confecção de trabalhos para o 50° ENARTE Acadêmico, além de
sugerir e elaborar arranjos de repertórios para o futuro cronograma.
25
A realização deste trabalho pode servir de referência aos músicos a entenderem como
procede o funcionamento de um grupo musical. Destaca-se também a importância histórica do
grupo e sua trajetória dentro do âmbito acadêmico e performático dos violoncelistas que o
integram, e a contribuição da música de concerto em nosso estado.
Este trabalho também torna-se relevante a todos que integram e/ou integraram ao
grupo de violoncelos porque a maioria decidiu seguir no âmbito profissional musical. Assim
como eu, muitos ingressaram no ensino superior de música, sendo bacharelado ou
licenciatura. Outros participaram como convidados na Orquestra Sinfônica do Theatro da Paz,
posteriormente participaram do processo seletivo da mesma, não foram aprovados devido ao
número de vagas, mas foram bem classificados. Outros alunos alcançaram o primeiro lugar do
concurso Dóris Azevedo. Outros ex-alunos já atuam profissionalmente no mercado de
trabalho dentro e fora do estado, como professores de violoncelo. Outros alunos participaram
de festivais como o Festival Campos do Jordão; Festival Internacional de Música de
Londrina; Academia Jovem Concertante; Mostra Internacional de Violoncelos de Natal; entre
outros. Mesmo que indiretamente, o grupo fez parte da formação profissional, tais como
também na atuação performática de cada um.
Esta pesquisa é, além das publicações do coordenador do UFPA Ver-o-Cello, uma das
primeiras a trazer contribuições para o entendimento das atividades musicais do grupo UFPA
Ver-o-Cello, proporcionando uma catalogação e organização de dados sobre este grupo que,
ainda se faz presente na memória e história vividas pelos músicos que o integraram.
1. O que você desejava alcançar quando pensou na formação do UFPA Cello Ensemble?
Inicialmente, o grupo foi formado com objetivo de criar uma ação extraclasse que
possibilitasse aos participantes uma interação para além das aulas promovidas na grade
curricular do curso técnico. Os ensaios do grupo promoviam tanto a interação humana quanto
a preparação profissional pois, todos eram estudantes de violoncelo com objetivo de alcançar
o meio profissional da música por meio do instrumento.
2. No grupo havia uma mobilidade de naipes/vozes constante. Qual era o objetivo dessa
ação e quais resultados você alcançou com essa metodologia?
que por meio do seu artigo: Música, neurociência e desenvolvimento humano ajudou muito a
organizar as atividades dentro do grupo de violoncelos por meio de comandos vinculados a
neurociência aliados a conceitos da música de câmara pois, o objetivo sempre foi buscar
elementos dessa formação musical para os concertos. E por fim, trazer a luz um pouco da vida
profissional por meio de experiências empíricas e colaborações pedagógicas por meio de
professores convidados.
Na minha concepção, os objetivos foram alcançados com muito êxito. Muitos seguiram suas
carreiras no meio da música e continuaram a desenvolver ações que certamente foram
impulsionadas pelas experiencias adquiridas ao longo das suas vivências dentro do projeto
UFPA Cello Ensemble. Durante os seis anos do projeto, ocorreram importantes resultados aos
participantes como por exemplo, admissões em processos seletivos em instituições de ensino
superior, inserção no mercado de trabalho e por fim, e não menos importante, as relações
sociais adquiridas por meio do projeto. Em 2023, o grupo mudou o nome para UFPA
28
Ver-O-Cello com o propósito de promover um dos mais importantes cartões postais da região
norte, o Mercado Ver-O-Peso por meio do grupo de violoncelos.
29
3. No grupo havia uma troca de vozes/naipes constante. Na sua opinião, quais eram os
objetivos dessa metodologia usada pelo professor?
Constantemente tínhamos que trocar de naipe, acredito que isso servia para termos a noção
das vozes presentes na música por inteiro.
5. De que forma você teve conhecimento e como ingressou no UFPA Cello Ensemble?
No período eu fazia parte da classe de violoncelo do professor Cristian Brandão, então era
algo natural os alunos dele em nível mais avançado poderem participar do grupo por convite
dele.
31
3. No grupo havia uma troca de vozes/naipes constante. Na sua opinião, quais eram os
objetivos dessa metodologia usada pelo professor?
A alternância entre os naipes podem ser consideradas por diversos fatores. O fator principal
seria por desenvolvimento técnico, onde através da experiência coletiva o aluno iria
adquirindo conhecimento necessário para alternar para as vozes desafiadoras, de acordo com
32
sua necessidade como instrumentistas. Em contrapartida, o aluno mais experiente poderia ser
encaminhado para as vozes de nível inferior técnico, para que esse aluno pudesse servir de
ajuda na compreensão para os demais alunos.
A estrutura dos concertos ficavam muitas vezes sobre um seleto grupo organizado pelo
professor, onde os mais próximos ou bem desenvolvidos tecnicamente, obtiam a oportunidade
de escrever arranjos, realizar solos e até mesmo ajudar na organização de naipes. Por se tratar
de um grupo de extensão da universidade, a EMUFPA disponibilizava de uma equipe de
apoio para a arrumação de estantes e cadeiras em concertos. Fazendo com que os alunos
responsabilizassem apenas em ir para o concerto, seja através de meios de transporte cedidos
pela escola ou muitas vezes de maneiras independentes, indiferente do local ou horário.
5. De que forma você teve conhecimento e como ingressou no UFPA Cello Ensemble?
Em 2016 eu recebi um convite de uma antiga participante para prestigiar o concerto no qual
ela estava. E por eu ter tido o contato com o instrumento anteriormente, prontamente me
dispus a ir. Após o concerto, fiquei animado com a possibilidade de eu fazer parte do grupo
em algum momento futuro. Fato esse que incentivou a fazer curso livre e posteriormente o
técnico na mesma instituição a qual eu havia prestigiado o concerto.
33
A UFPA Celio Ensemble, simplesmente foi um dos meus campos de estágio, que contribuiu
diretamente no andamento do meu curso de licenciatura em música na UEPA em 2022.
3. No grupo havia uma troca de vozes/naipes constante. Na sua opinião, quais eram os
objetivos dessa metodologia usada pelo professor?
A troca de vozes permitia com que os integrantes conhecessem a música em sua integralidade,
assim, cada um sabia a parte de outro, além disso, desenvolvia-se a técnica do aluno em
diferentes regiões do violoncelo.
apenas para o repertório do grupo mas para o crescimento acadêmico e profissional desses
alunos.
5. De que forma você teve conhecimento e como ingressou no UFPA Cello Ensemble?
Estive nos primeiros momentos do UFPA Cello ensemble, ingressei a partir do curso técnico
em violoncelo e após o convite do professor Cristian Brandão, nesse primeiro momento
(2016) atuei como arquivista do grupo juntamente com mais alguns alunos
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Ajudou artisticamente com prática de repertório nacional, internacional e o contato direto com
professores atuantes na área da educação
3. No grupo havia uma troca de vozes/naipes constante. Na sua opinião, quais eram os
objetivos dessa metodologia usada pelo professor?
Enxergo a participação dos alunos como fundamental para adquirir habilidades extremante
necessarias para o mercado profissional como: elaboração de arranjo, prazo para prepáros de
repertório, compromisso com ensaios
5. De que forma você teve conhecimento e como ingressou no UFPA Cello Ensemble?
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Fui aluno do professor responsável pelo grupo desde de meus primeiros contatos com o
instrumento e em determinado ponto de meus estudos ele me convidou a fazer parte do
coletivo
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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