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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA ARTE


FACULDADE DE MÚSICA
LICENCIATURA PLENA EM MÚSICA

MECIA LOUISY SILVA NEPOMUCENO

UFPA VER-O-CELLO:
performance e formação musical

BELÉM
2023
MECIA LOUISY SILVA NEPOMUCENO

UFPA VER-O-CELLO:
performance e formação musical

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


ao Curso de Licenciatura Plena em Música
como requisito parcial à obtenção do Título de
Licenciado em Música.
Orientador: Prof. Dr. José Maria Carvalho
Bezerra

BELÉM
2023
MECIA LOUISY SILVA NEPOMUCENO

UFPA VER-O-CELLO:

performance e formação musical

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Licenciatura Plena em Música da


Universidade Federal do Pará como requisito para obtenção do Título de Licenciado em
Música.

Aprovado em: Belém, ____/ ________________ de 2023.

BANCA EXAMINADORA:

_______________________________
Prof. Dr.
José Maria Carvalho Bezerra

_____________________________
Prof. Me.
Jonathan Guimarães e Miranda

_______________________________
Profa. Dra.
Sonia Maria Moraes Chada
Dedicado a Márcia Cristina Teixeira Silva, Nency Roberta Silva Nepomuceno e Ramon
Mateus Pinheiro Mendes.
AGRADECIMENTOS

Agradeço eternamente à minha mãe Márcia Cristina Teixeira Silva, por todas as
renúncias, dando suporte aos meus estudos, onde nunca me permitiu desistir e me orientou
sabiamente e carinhosamente durante todos os dias de minha vida. À minha irmã Nency
Roberta Silva Nepomuceno e toda a minha família que sempre torcem por meu sucesso.

Ao meu namorado Ramon Mateus Pinheiro Mendes por toda ajuda e apoio emocional,
seu amor, carinho e, principalmente, por estar sempre enfatizando que sou capaz.

Às minhas pets Juju, Pipoca e Kathucia que trouxeram alegria, paz e carinho nos
momentos conturbados de sobrecarga.

À empresa Amaral Comércio de Produtos Alimentícios, pela oportunidade e toda a


flexibilidade de horário e rotina semanal de trabalho que encaixaram-se aos meus estudos.

Ao meu orientador José Maria Carvalho Bezerra profissional em excelência,


competente, sempre disposto a ajudar e contribuir para minha pesquisa com todas as
orientações e esclarecimentos.

Ao professor Cristian de Paula Brandão, meu professor de violoncelo pela amizade e


auxílio ao longo de todos estes anos.

À EMUFPA por todo conhecimento e experiência.

À Universidade Federal do Pará e a maioria dos professores do curso de licenciatura


em música que contribuíram para meu crescimento intelectual, me fazendo enxergar o meio
profissional musical com outros olhos.
A mais importante composição musical de nosso tempo está sendo
executada no palco do mundo.

Murray Schafer.
RESUMO

NEPOMUCENO, Mecia. UFPA Ver-o-Cello: performance e formação musical. 2023. Trabalho de


Conclusão de Curso - Licenciatura em Música, UFPA, Belém.

Este trabalho tem como finalidade de estudo o “UFPA Ver-o-Cello", um grupo de violoncelos
criado por Cristian Brandão na Escola de Música da Universidade Federal do Pará. O objetivo
geral é investigar como o grupo UFPA Ver-o-Cello tem contribuído para a formação de
violoncelistas em Belém do Pará. Os procedimentos de coleta de dados adotados foram:
entrevistas com o criador do grupo e integrantes das formações antigas e atuais do grupo, e
levantamento de documentos relacionados ao “UFPA Ver-o-Cello”, como programas de
recitais, artigos e sites. Concluiu-se que a realização deste trabalho poderá ajudar músicos a
entenderem como funciona a estrutura e funcionamento de um grupo musical. Destacamos
também a importância histórica do grupo e sua trajetória dentro do âmbito acadêmico e
performático dos violoncelistas que o integraram, e a contribuição da música de concerto em
nosso estado.

Palavras-chave: UFPA Ver-o-Cello. Ensino Coletivo de Violoncelo. Performance.


ABSTRACT

NEPOMUCENO, Mecia. UFPA Ver-o-Cello: performance e formação musical. 2023.


Trabalho de Conclusão de Curso – Licenciatura Plena em Música, UFPA, Belém.

This work aims to study the “UFPA Ver-o-Cello”, a cello group created by Cristian Brandão
at the School of Music of the Universidade Federal do Pará. The general objective is to
investigate how the UFPA Ver-o-Cello group has contributed to the training of cellists in
Belém do Pará. The data collection procedures adopted were: interviews with the group's
creator and members of the group's former and current formations, and collection of
documents related to the “UFPA Ver-o-Cello”, such as recital programs, articles and sites. It
was concluded that carrying out this work could help musicians understand how the structure
and functioning of a musical group works. We also highlight the historical importance of the
group and its trajectory within the academic and performance sphere of the cellists who were
part of it, and the contribution of concert music in our state.

Keywords: UFPA Ver-o-Cello. Collective Cello Teaching. Performance.


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 1

METODOLOGIA 5

EMUFPA 6

ENSINO COLETIVO DE INSTRUMENTO 8

GRUPOS DE VIOLONCELOS 9

UFPA VER-O-CELLO 11

RESUMO DAS ENTREVISTAS 20

CONSIDERAÇÕES FINAIS 24

ANEXOS 26

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 37
1

INTRODUÇÃO

Este trabalho tem como finalidade de estudo o “UFPA Ver-o-Cello", um grupo de


violoncelos criado por Cristian Brandão na Escola de Música da Universidade Federal do
Pará (EMUFPA), e fornecer informações acerca do grupo; relatos das atividades elaboradas e
executadas enquanto funcionamento, e suas contribuições para a formação de violoncelistas
em Belém do Pará, visto que seus integrantes atualmente dão continuidade como profissionais
e/ou estudantes de nível superior da área da música. Em determinados momentos irei me
referir a “UFPA Cello Ensemble”, ou a “UFPA Octo-Cellos” por estar condizente ao contexto
histórico do grupo, informo que há situações diversas ocorridas quando este ainda não se
chamava UFPA Ver-o-Cello. Com todos estes atributos observados acerca dos resultados
desta prática refletidos nos integrantes e/ou ex-integrantes, ocorreu-me o interesse de realizar
esta pesquisa.

Este trabalho está organizado em seis seções: a primeira fornece informações da


Escola de Música da UFPA; a segunda aborda o ensino coletivo; a terceira expõe
conhecimentos contextualizados sobre os grupos de violoncelos; a quarta consiste em
informações sobre o UFPA Ver-o-Cello; a quinta seção abrange um resumo dos relatos da
entrevista elaborada; e a sexta seção retrata a Mostra de Violoncelos do Pará e a Semana do
Violoncelo do Pará, ambos projetos desenvolvidos a partir do UFPA Ver-o-Cello.

Figura 1: Cartão de Matrícula para o segundo ano no Programa Cordas da Amazônia (Módulo II)
2

Fonte: Acervo pessoal de Mecia Nepomuceno

Sou paraense, nascida em Ananindeua e meus estudos no violoncelo iniciaram por


volta dos oito anos de idade, no Programa Cordas da Amazônia – PCA, da Escola de Música
da Universidade Federal do Pará - EMUFPA, programa coordenado pelo Prof. Ph.D.Áureo de
Freitas. As aulas eram ministradas pelo professor, de maneira coletiva.

Com planos para uma educação musical abrangente, o professor Dr. Áureo De
Freitas, em 2006, implementou o Projeto Cordas da Amazônia: Violoncelo em
Grupo Como um projeto de extensão da Escola de Música da Universidade Federal
do Pará (PCA EMUFPA). O Programa Cordas da Amazônia (PCA) surgiu como
uma proposta de educação musical para crianças, adolescentes e adultos interessados
em estudar música por meio do violoncelo. (RODRIGUES, 2012, p. 17-18).

De acordo com Cruvinel (2003) dentro do ensino de instrumento musical, há dois


modelos de ensino: o ensino tutorial e o ensino coletivo. O ensino tutorial consiste na atuação
individual, somente o professor e um aluno em sala de aula, modelo bastante utilizado em
conservatórios e escolas especializadas em música. Já no ensino coletivo, as aulas são
ministradas em grupos de alunos e podem acontecer de várias formas, dependendo da
particularidade de cada instrumento. Dentro do ensino coletivo podemos destacar o “ensino
heterogêneo”, que é quando há vários instrumentos diferentes. E, o “ensino homogêneo”, que
é quando há vários do mesmo instrumento (CRUVINEL apud BRIETZKE, OLIVEIRA e
PRESGRAVE, 2018).

No programa cordas da amazônia as aulas eram divididas em prática, e o básico de


teoria musical, apenas como introdução à leitura da partitura. Permaneci neste Programa por
volta de 4 anos consecutivos, e lá realizamos vários concertos, alguns destes no Theatro da
Paz. Normalmente o programa era composto por peças do método Suzuki. Estes concertos
foram realizados dentro da programação do Encontro de Artes de Belém (ENARTE). Aos 12
anos fui estudar individualmente com a professora Jéssika Rodrigues no Instituto R3. Lá,
havia aulas de instrumento com a professora Jéssika, e aulas de teoria musical separadamente
com a professora Pamella Rodrigues. Por todo este período, de minha parte não havia tanto
interesse pelo violoncelo, não possuía uma rotina diária de estudos e costumava priorizar
outras atividades. Passaram-se cerca de dois anos e as professoras ficaram impedidas de
ministrar aulas no Instituto R3, por terem sido aprovadas no concurso para professores da
Universidade do Estado do Pará (UEPA), e as atividades do mesmo foram encerradas. Com
isto, fui indicada para participar de um concerto da Orquestra de Cordas Helena Maia,
3

coordenada pela professora Silvia Matos. Ali, retornando à EMUFPA, e ensaiando,


despertou-me grande interesse pelo violoncelo e por estudar música, desta vez de maneira
mais efetiva.

Participei do processo seletivo para o curso técnico em orquestra, não fui aprovada,
porém, fui chamada para integrar o naipe de violoncelos da Orquestra de Cordas Paulo
Keuffer (OCPK). E lá, após um ensaio de naipe, ministrado pelo professor Cristian Brandão,
fui convidada pelo mesmo a ter aulas individuais de violoncelo, como preparatório para o
processo seletivo para o curso técnico em Instrumento Musical. Como aluna do professor
Cristian, obtive um forte impacto no que diz respeito à minha relação com o violoncelo e vida
musical, pois ocorreram uma série de adaptações desde a técnica ao pensar e fazer musical
individual e, posteriormente, em grupo. O período de estudos na EMUFPA foram valiosos, fiz
concertos e shows com diversas formações de grupos musicais, como quartetos, trios, duos,
orquestra de cordas e sinfônica; Fiz viagens com a Orquestra Sinfônica Altino Pimenta
(OSAP) para fora do estado; fiz recitais juntamente à classe e recital solo; executei peças em
masterclasses1 para professores renomados; entre outras atividades.

Em 2015 o professor Cristian criou o grupo UFPA Ver-o-Cello, para fornecer à sua
classe uma nova formação de música de câmara e, também, um novo formato de avaliação,
pois, além das aulas individuais e recitais, seus alunos deveriam participar ativamente dos
ensaios e concertos do grupo de violoncelos. Durante as atividades do grupo, considerei um
grande avanço em minha percepção musical tais como também de meus colegas de classe. No
começo, de minha parte, havia preocupação somente em acertar as notas, porém, de maneira
geral, esta não é a única preocupação que se deve ter quando executamos uma peça
coletivamente, essa prática me levou ao entendimento de que a atenção à dinâmica indicada
na partitura, afinação, conexão e interação das frases juntamente com as outras vozes, dentre
outros aspectos básicos da música de câmara, são e foram fundamentais para essa
compreensão. A citação a seguir reforça esse entendimento: “apesar de ser uma prática de
conjunto, proporciona ao aluno possibilidades infinitas no estudo individual de um
instrumento, fomentando inclusivamente a descoberta da sua individualidade e personalidade
musical.” (CARVALHO e RAY apud GÓIS, 2019).

1
Masterclasses, de acordo com SARAIVA (2021), consistem em aulas individuais abertas, com a presença de
um público e/ou alunos de diferentes níveis técnicos que apreciam as aulas dos outros colegas. Em 1850 Franz
Liszt iniciou esta forma de ensino, onde organizava uma espécie de aulas abertas em sua residência a partir de
quatro alunos não só de piano, mas de outros instrumentos.
4

Quando ocorreram os primeiros ensaios e concertos ainda como UFPA Octo-Cellos2,


devido minha pouca experiência e dificuldade técnica no instrumento, o sentimento de
insegurança e complexo de inferioridade em relação ao restante da turma eram constantes,
fatos estes que resultaram em ausência nos ensaios, retardando meu bom desempenho no
instrumento. Porém, após a interação com o restante da turma, surgiu a possibilidade de
compartilhar experiências, adquirir instruções para melhoria técnica e sonora e, assim, alterar
minhas errôneas opiniões. Deste modo, em minha concepção como violoncelista, posso
afirmar que os grupos transferem variados tipos de conhecimentos e experiências
fundamentais na formação profissional de todo músico. Como exemplo, pode-se evidenciar a
constante busca por crescimento, a motivação e a autoestima de cada integrante do conjunto:

Dar os primeiros passos na música a partir do ensino coletivo é extremamente


motivador. O aprendizado musical é mais agradável quando feito em grupo, e as
razões para isso encontram-se no fato de que o aluno compartilha suas dificuldades
com os colegas, se sente parte de uma orquestra, e a qualidade musical é maior
quando comparado ao estudo individual. (OLIVEIRA, 2008 apud DANTAS, 2016,p.
126).

Considerando as influências do grupo UFPA Ver-o-Cello na formação de


violoncelistas no estado do Pará, esta pesquisa tem como questão norteadora: Como o grupo
UFPA Ver-o-Cello tem contribuído para a formação de violoncelistas em Belém do Pará?
Sendo assim, esta pesquisa tem como objetivo geral: Investigar como o grupo UFPA
Ver-o-Cello tem contribuído para a formação de violoncelistas em Belém do Pará, e os
objetivos específicos são: fornecer informações contextualizadas sobre o grupo UFPA
Ver-o-Cello; descrever as atividades realizadas pelo grupo UFPA Ver-o-Cello; apontar as
principais contribuições do grupo UFPA Ver-o-Cello para a formação de violoncelistas.

Assim, entendo que a pesquisa trará contribuições para o entendimento das atividades
musicais do grupo UFPA Ver-o-Cello, proporcionando uma possível catalogação e
organização de dados sobre este grupo que, ainda se faz presente na memória e história
vividas pelos músicos que passaram por ele, além de ajudar outros músicos a entenderem
como funciona a estrutura de um grupo musical. Com esta proposta pretendo contribuir com
temáticas semelhantes e os resultados obtidos contribuirão para a historiografia da música em
2
O grupo iniciou em 2015 como UFPA Octo-cellos, por se tratarem de apenas oito integrantes. No ano seguinte,
com o crescimento da turma de violoncelos da EMUFPA e violoncelistas convidados, passou a se chamar UFPA
Cello Ensemble. Em 2023, denominou-se UFPA Ver-o-Cello para promover a EMUFPA e um dos pontos
turísticos mais populares da região norte, o Mercado do Ver-o-Peso.
5

Belém do Pará. Este trabalho também torna-se relevante por apresentar as progressões da
construção da performance do UFPA Ver-o-Cello, não somente pelo aspecto interpretativo,
mas também pelo o que envolve a rotina do grupo e o processo de preparação para concertos e
avaliações no geral.

METODOLOGIA

Esta pesquisa classifica-se como pesquisa qualitativa, onde “compreende um conjunto


de diferentes técnicas interpretativas que visam a descrever e a decodificar os componentes de
um sistema complexo de significados” (NEVES, 1996, p. 1). Os métodos qualitativos somam
ao trabalho de pesquisa um conjunto de procedimentos de cunho racional e intuitivo capazes
de contribuir para a melhor compreensão dos fenômenos. (POPE e MAYS apud NEVES,
1996, p. 2)
Em relação aos objetivos define-se como pesquisa exploratória. De forma geral,
enquadram-se na categoria dos estudos exploratórios todos aqueles que buscam descobrir
ideias e intuições, na tentativa de adquirir maior familiaridade com o fenômeno pesquisado
(SELLTIZ apud OLIVEIRA, 2011, p. 20). Esta pesquisa também é classificada como
descritiva, pois pesquisas deste tipo visam aspectos descritivos de certa comunidade,
ocorrência, entre outros. Há vários estudos que podem ser inseridos neste tema e um de seus
atributos engloba a utilização de técnicas personalizadas de coleta de dados. Segundo Gil
(2008, p. 28) “dentre as pesquisas descritivas salientam-se aquelas que têm por objetivo
estudar as características do grupo: sua distribuição por idade, sexo, procedência, nível de
escolaridade, nível de renda, estado de saúde física e mental”.
No que concerne aos procedimentos técnicos, esta pesquisa consiste em um estudo de
caso. O estudo de caso é descrito pelo estudo detalhado de um ou mais artefatos, que permite
o seu conhecimento vasto e preciso. Yin afirma que:
O estudo de caso é um estudo empírico que investiga um fenômeno atual dentro do
seu contexto de realidade, quando as fronteiras entre o fenômeno e o contexto não
são claramente definidas e no qual são utilizadas várias fontes de evidência. O
estudo de caso vem sendo utilizado com frequência cada vez maior pelos
pesquisadores sociais, visto servir a pesquisas com diferentes propósitos. (YIN apud
GIL, 2008, p. 58)

A coleta de dados foi realizada por meio de levantamento bibliográfico sobre o tema;
levantamento documental de fotos, vídeos, áudios e partituras; registros escritos sobre o grupo
UFPA Ver-o-Cello; e, mediante a entrevistas com integrantes e ex-integrantes do UFPA
6

Ver-o-Cello, assim como o seu coordenador. As entrevistas foram destinadas a cinco pessoas:
um integrante, três ex-integrantes, e o coordenador do grupo. Estas entrevistas foram
realizadas com consentimento dos entrevistados, via e-mail.

EMUFPA

Fundada em 1963, a Escola de Música da Universidade Federal do Pará é uma


instituição de ensino especializada que oferece curso técnico em Regência, Canto,
Composição e Arranjo e, curso técnico em Instrumento Musical. Além disso, oferece também
o curso de especialização técnica de nível médio; e, o curso livre, que é um projeto de
extensão que dispõe aulas de instrumentos musicais e/ou canto na fase inicial, a fim de
desenvolver o nível necessário para o ingresso no curso técnico. A EMUFPA é uma
instituição de ensino específico, atualmente integra a Rede Federal de Educação Profissional,
Científica e Tecnológica do Ministério da Educação, oferecendo educação profissional de
nível médio em música em diferentes habilitações (CONTENTE, 2021).
Inicialmente a EMUFPA era referida como Centro de Atividades Musicais - CAM,
nome sugerido por Nivaldo Santiago, seu primeiro diretor, que chegou com projetos
inovadores que foram fundamentais para o crescimento da instituição, um deles foi a criação
da Orquestra e o Coral da UFPA, em março de 1964:
Com o objetivo de promover a formação de músicos que viessem a participar da
orquestra, Nivaldo sugeriu a criação de um Centro de Atividades Musicais, o
CAM.Depois de verificar a proeminência do ensino de piano na cidade de Belém,
Nivaldo Pretendia incentivar os jovens a estudar instrumentos de orquestra,
vislumbrando a formação de novos instrumentistas para manter os conjuntos
existentes e os que viessem a ser criados. Os cursos livres de música foram criados
em 1964,juntamente com os grupos artísticos, e eram ministrados pelos próprios
membros da orquestra. Funcionavam a partir do interesse que alguém manifestasse
em aprender determinado instrumento, sendo um músico da orquestra designado
para ensinar a tocá-lo. Havia uma certa flexibilidade no programa a cumprir: o aluno
deveria apontar um determinado programa em um prazo estabelecido; cumprindo
este,avançava de nível. Também esse prazo era flexível, pois adaptava-se às
possibilidades do aluno. (Site oficial da EMUFPA, 2023. (Disponível em:
<https://www.emufpa.ufpa.br/a-emufpa/historia>)

Nivaldo Santiago resolveu fundar uma orquestra, constituída por um pequeno grupo de
músicos em Belém. Conforme observações de Nivaldo, a maioria dos instrumentistas da
região já possuía uma idade avançada e fazia-se necessário formar novos músicos para
integrar a orquestra. Desta forma, após reuniões com o reitor da Universidade Federal do
Pará, onde o mesmo mostrou-se favorável à sugestão de criar um centro de atividades que
formasse músicos em Belém, foi criado, em 1970, o Centro De Atividades Musicais – CAM.
Dado este primeiro passo, a Universidade Federal do Pará iniciava um processo de criação de
7

diversos grupos musicais e formação de instrumentistas de alto nível. (Cf. BRITO, 2010, p.
14).
Sob direção de Altino Pimenta, a EMUFPA passou a se chamar Serviços de Atividades
Musicais - SAM. Entre suas iniciativas implementou o ENARTE, um evento que mobilizou
pensadores e artistas em busca de respostas à crise cultural da cidade, e é considerado um de
seus projetos mais eficiente e até hoje faz parte do calendário cultural de Belém. O mesmo a
considerava um sucesso devido ao tipo de público que participava, composto principalmente
por jovens:
O SAM, atual EMUFPA era então um departamento criado para possibilitar que
professores, alunos e pessoas ligadas à universidade exercessem atividades musicais.
Partiu dele a guinada artística de uma nova geração de instrumentistas do Pará, além
de grande movimento artístico, com a criação dos “Encontros de Arte” (ENARTE) e
as “Semanas Pró-Arte” e a vinda de grandes artistas brasileiros para Belém.
(OLIBERAL apud VIANA, 2008, p. 14).

Ainda conforme o site oficial da EMUFPA, atualmente lista-se os seguintes projetos


artísticos: a Banda Sinfônica da EMUFPA, Duo Irmãos Azulay, Grupo de Percussão da
EMUFPA, EMUFPA Jazz Trio, Euparatu, Orquestra de Violoncelistas da Amazônia,
Orquestra Infantil de Violinistas da EMUFPA, Orquestra Infanto-Juvenil Helena Maia,
Orquestra Sinfônica Altino Pimenta, Pará Trompas, Quarteto de Cordas da EMUFPA e, UFPA
Cello Ensemble.
A EMUFPA oferta anualmente, os cursos de: Canto (popular, lírico e coral);
composição e arranjo, e curso técnico em instrumento musical. Para o curso técnico em
instrumento musical oferece: Banda Sinfônica (bombardino, clarinete, flauta, oboé percussão,
saxofone alto, saxofone tenor, saxofone barítono, trombone, trompete, trompa e tuba); Música
popular (Bateria, baixo elétrico, violão popular, piano/teclado, trombone, trompete e
saxofone); Orquestra e Música de Câmara (violino, viola, violoncelo, contrabaixo, clarinete,
fagote, flauta, oboé, percussão, trombone, trompete, piano e violão clássico); e Curso Técnico
em Regência (Coral, Orquestral, e Banda Sinfônica). Para participar do processo seletivo para
o curso técnico, o candidato deve ter o ensino médio concluído ou em andamento e, realizar
um Exame de Habilidades Musicais (Cf. Carneiro, 2020, p. 9). Em concordância ao edital
02/2022, o exame de habilidades normalmente exige uma peça de livre escolha e uma leitura
à primeira vista, podendo avaliar por meio de vídeos e posteriormente presencialmente nas
dependências da EMUFPA.

No que concerne à formação técnica musical em Belém, atualmente, listam-se três


instituições de ensino especializadas: o Instituto Estadual Carlos Gomes – IECG; a Faculdade
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Teológica Batista Equatorial - FATEBE; e a Escola de Música da Universidade Federal do


Pará – EMUFPA (SANTOS e SOUSA, 2020, p. 3). Nesta proposta, a Escola de Música da
Universidade Federal do Pará será apontada frequentemente, por ser a instituição ao qual o
UFPA Ver-o-Cello pertence.

ENSINO COLETIVO DE INSTRUMENTO


Como mencionado anteriormente, no ensino coletivo as aulas são ministradas em
grupos de alunos e podem acontecer de várias formas, obviamente à depender da
particularidade de cada instrumento. No caso do violoncelo, em concordância com Brietzke,
Oliveira e Presgrave (2018, p. 1), a maioria dos professores adota o modelo tutorial de ensino
como principal ferramenta para o ensino e aprendizagem, em resistência ao ensino coletivo.
Este fator se dá pela crença no mito da atenção exclusiva ao aluno e acaba por relutar ao
ensino coletivo, onde é possível compartilhar conhecimento, espaço e interação.
(TOURINHO, 2007, p. 1).
Uma pesquisa feita por LIMA (2022, p. 7-9), que observa a metodologia das aulas
coletivas do Projeto Guri, afirma que alguns alunos antes e depois de comparecerem às aulas
coletivas, desenvolveram a concentração, criatividade, sensibilidade auditiva, disciplina,
conhecimento de diferentes culturas e amplitude de repertório. O modelo de ensino tutorial é
relevante por valorizar a técnica, desempenho, teoria e domínio do instrumento, porém não
facilita a interação social, e torna o aluno introspectivo. Em contrapartida, alunos que
praticam aula em conjunto, adquirem maior comunicação, expressividade e autoconfiança.
Uma das atividades do projeto foi a colaboração mútua: os alunos experientes ajudavam os
alunos com maiores dificuldades, obviamente com o intermédio do professor. No UFPA
Ver-o-Cello, haviam alunos que ao integrarem, apresentavam dificuldades na prática de
conjunto, alunos estes que costumavam alcançar as maiores notas em recitais individuais.
Mas, os mesmos serviam de grande apoio na sugestão de dedilhados e arcos para os demais.
Suas dificuldades pareciam ser referentes à prática de conjunto, e perdurou por um tempo até
ocorrer a socialização e a prática neste novo modelo de ensino.
Outro exemplo de prática de ensino coletivo, é o Projeto Villa-Lobinhos que promove
a educação musical a jovens entre doze e vinte anos. O projeto fornece aulas de percepção
musical, prática instrumental, prática de conjunto e informática, e os alunos também recebem
apoio pedagógico para aulas da escola regular. Para a prática de conjunto, o projeto oferece a
Orquestra Villa-Lobinhos e organização de grupos musicais espontâneos formados pelos
próprios alunos. Em entrevistas com alunos, a autora chegou à conclusão de que “todos os
9

entrevistados citaram o encontro como um marco importante na sua história de vida,


relacionando o Projeto como uma especial oportunidade para o seu desenvolvimento
musical.” (Cf. KLEBER, 2006, p. 127-129)
Tolir o aluno de práticas coletivas desde o início do aprendizado, pode vim a ser um
fator retardante ao desenvolvimento no instrumento, pois, no momento em que o mesmo tem
a oportunidade de integrar a um grupo, acaba por apresentar dificuldades que não possui
quando está praticando individualmente, especialmente nos elementos básicos desta
modalidade, a prática em conjunto: ouvir o outro, respeitar seu tempo, trabalhar a dinâmica,
entre outros.
Ainda de acordo com Cruvinel, dentro do ensino coletivo destacamos o “ensino
heterogêneo”, que é quando há vários instrumentos diferentes. E, o “ensino homogêneo”, que
é quando há vários do mesmo instrumento, e é onde o UFPA Ver-o-Cello se enquadra.
(CRUVINEL apud BRIETZKE, OLIVEIRA e PRESGRAVE, p. 1, 2018)
De acordo com Brazil (2012, p. 73), há uma situação no ensino coletivo onde alunos
não possuem instrumentos, e a aula pode ser o único momento de estudo e prática. No caso do
grupo de violoncelos, a maioria possui seu próprio instrumento, e os que não possuem
utilizam o instrumento fornecido pela escola encaixando em sua agenda de compromissos um
outro horário para estudo individual na escola, além do momento de ensaio com o UFPA
Ver-o-Cello. E esta situação não prejudica a performance do grupo, seus integrantes
conseguem se organizar e entregar bons resultados.

Grupos de Violoncelos
Nos dias de hoje a formação de grupos de violoncelos tem se tornado muito comum
nas universidades brasileiras e instituições de ensino musical, podendo variar amplamente em
números de integrantes e, também, em seus níveis de performance. Suas primeiras aparições
remetem aos primeiros grupos de viola da gamba, porém, com o violoncelo que adquiriu
características físicas que o distinguiu em termos visuais e sonoros:
O termo francês Ensemble, segundo o Dicionário Grove de Música, designa um
conjunto de executantes e/ou cantores (1994, p. 299). Logo, o termo cello ensemble,
de maneira genérica, refere-se aos grupos que dispõem apenas de violoncelos em sua
formação instrumental, e que buscam alcançar excelência em suas performances,
executando composições e arranjos elaborados para esta formação. (QUEIROZ,
SANTOS e PRESGRAVE, 2016, p. 5).

É possível classificar os conjuntos de violoncelos em três tipos: O grupo organizado


durante um festival, que contém violoncelistas de vários níveis, entre eles intermediários e
iniciantes. E, pelo decorrer agitado do evento, consiste em um repertório relativamente
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simplificado pois não há tempo para muitos ensaios; O grupo profissional estabelecido, que é
formado por violoncelistas profissionais, que dedicam maior número de dias e horários de
ensaios, além de fazer encomendas de composições e/ou arranjos para realização de gravações
e concertos. No Brasil, pode-se citar o Rio Cello Ensemble, que foi fundado pelo violoncelista
David Chew, da Orquestra Sinfônica Brasileira, o conjunto destaca-se como o primeiro
conjunto profissional estabelecido no Brasil; os grupos das instituições de ensino formal isto
é: conservatórios, universidades, entre outros, onde há um professor e uma classe de alunos de
violoncelos que inicialmente torna-se mais fácil de reunir violoncelistas e formar o grupo.
(HOEFS e SUETHOLZ, 2018, p. 19).
Ainda conforme Hoefs e Suetholz (2018), no Brasil, quase todas as grandes
universidades e conservatórios com professores e estudantes de violoncelo têm um conjunto
de violoncelos, regular ou ocasionalmente. Além destes, também encontramos, embora com
menos frequência, o grupo de violoncelos que faz parte de uma orquestra profissional, que se
reúnem normalmente para executar as Bachianas Brasileiras n. 1 ou n. 5 de Villa-Lobos, na
maioria das vezes com regente.
Fazer parte de um grupo de violoncelos torna-se relevante para o violoncelista em
formação devido o mesmo ter a oportunidade de praticar a música de câmara, trocar
experiências com os outros integrantes do conjunto e, executar peças e arranjos escritos
exclusivamente para esta formação e, assim, crescer musicalmente com mais uma experiência
para consideráveis avanços em sua performance tanto em conjunto quanto individual:
Ao longo da história, a formação de grupos de violoncelo tem sido uma prática em
grande ascensão nas universidades brasileiras e instituições de ensino musical. Tal
prática deve-se principalmente a dois fatores: como eficaz ferramenta pedagógica
para a prática de música de câmara, fazendo uso da técnica trabalhada nas aulas de
instrumento aplicadas no repertório para grupo e, também, pela existência de um
vasto repertório escrito para esta formação, seja original ou arranjado. (BRANDÃO
e NEPOMUCENO, 2020, p. 62).

Quando o músico é inserido em conjuntos musicais diversos desde o início do


aprendizado no instrumento, desenvolve mais cedo habilidades essenciais para seu
crescimento, como por exemplo, a percepção musical. Seu ouvido torna-se mais crítico para
afinação, dinâmica, andamento, entre outros aspectos básicos presentes em quaisquer
composições:
Quando vários aprendizes tocam juntos, tudo muda do ponto de vista musical, um
ouve o outro – e desenvolvemos, de maneira mais eficiente, a mais importante
habilidade para um músico – a educação do ouvido relativo. Por outro lado,
estaremos trabalhando o temperamento do som do grupo. A uniformização da
qualidade tímbrica do som é muito desejável quando organizamos um conjunto
instrumental. Portanto, desenvolver no aprendiz a capacidade de tocar sons de
diversas cores, garantir-lhe a habilidade de fazer o seu som se harmonizar com os
11

sons de seus companheiros deve ser objeto de preocupação de quem trabalha


coletivamente a música. Tocar junto desde o início do aprendizado proporciona a
todos o desenvolvimento da capacidade crítica de cada um de avaliar a qualidade de
seu som em relação aos sons de seus companheiros de conjunto. (ALMEIDA, 2004,
p. 23-24).

De acordo com Cruvinel, o ensino coletivo é um objeto de suma importância para o


processo de democratização do ensino musical onde considera que a música é parte integrante
da formação do ser humano. E, supõe-se que para iniciar tal processo, deve partir
primordialmente do educador musical, o mesmo deve assumir um posicionamento crítico e
reflexivo no sentido de intervenção social. “Ele deve ter consciência de qual papel
desempenha na sociedade e que tipo de ser humano/cidadão pretende formar.” (CRUVINEL,
2004, p. 35):
Comprovou-se, via pesquisa (Cruvinel, 2003), a eficiência do ensino coletivo de
instrumento musical, a partir das seguintes evidências: 1) é eficiente como
metodologia na iniciação instrumental; 2) é acelerado o desenvolvimento dos
elementos técnico-musicais para a iniciação instrumental; 3) o resultado musical
ocorre de maneira rápida, motivando os alunos a darem continuidade ao estudo do
instrumento; 4) a teoria musical é associada à prática instrumental, facilitando a
compreensão dos alunos; 5) há baixo índice de desistência; 6) desenvolve a
percepção auditiva, a coordenação motora, a concentração, a memória, a raciocínio,
a agilidade, a relaxamento, a disciplina, a autoconfiança, a autonomia, a
independência, a cooperação e a solidariedade, entre outros; 7) contribui para o
desenvolvimento do senso crítico, da consciência política e da noção de cidadania e
para mudança positiva de comportamento dos sujeitos envolvidos; 8) o desempenho
em apresentações públicas traz motivação, segurança e desinibição aos alunos; 9) as
relações interpessoais do processo de ensino-aprendizagem coletiva contribuem de
maneira significativa no processo de desenvolvimento da aprendizagem, da
expressão, da afetividade, da autovalorização, da autoestima; do respeito mútuo, da
cooperação, da solidariedade e a união do grupo; 10) a didática e a metodologia de
ensino devem ser adequadas ao perfil e às necessidades de cada grupo.
(CRUVINEL, 2004. p. 30).

UFPA VER-O-CELLO

O UFPA Ver-o-Cello nasceu no ano de 2015, conforme o desejo do professor Cristian


Brandão de formar um grupo de violoncelos com alunos de sua classe, que contava com
discentes do curso livre, técnico e licenciatura da Universidade Federal do Pará. O objetivo do
grupo inicialmente era oferecer aos alunos de violoncelos da Escola de Música da UFPA a
oportunidade de apresentar o trabalho técnico e musical adquirido nas aulas individuais com o
professor Cristian e nos ensaios do grupo através de concertos didáticos. Esta atividade trouxe
muitos benefícios para o crescimento dos alunos, pois adquiriram experiência com os outros
integrantes e, obtiveram avanço em sua performance individual no palco (BRANDÃO e
NEPOMUCENO, 2020, p.63).
12

O professor Cristian Brandão, ao estabelecer o UFPA Ver-o-Cello, baseou-se no


UFRN Cellos da Universidade Federal do Rio Grande do Norte sob coordenação do professor
Fábio Presgrave, e no grupo de violoncelos Yale Cellos, da Yale University (EUA), ensemble
implantado e coordenado pelo renomado violoncelista brasileiro, Aldo Parisot. Segundo Ole
Akahoshi “os alunos de violoncelo da Yale têm como parte obrigatória do currículo a
participação no Yale Cellos e creditamos muito do sucesso dos nossos alunos à participação
no grupo” (AKAHOSHI apud PRESGRAVE, 2016, p. 495). Neste caso, os alunos de sua
classe tinham como parte da avaliação a participação e frequência nos ensaios e concertos do
grupo de violoncelos.
Primeiramente o grupo chamava-se “UFPA OctoCellos”, por se tratar de apenas oito
integrantes da classe, similar ao UDI Cello Ensemble, da Universidade Federal de Uberlândia.
Foi realizado o primeiro concerto ainda como “UFPA OctoCellos” na igreja Santo Alexandre,
porém, ao longo do tempo a classe foi se ampliando e concluiu-se que era mais adequado e
interessante adotar o UFPA Cello Ensemble como nome do grupo, visto que a turma de
violoncelos aumentaria a cada ano com os novos alunos e/ou violoncelistas convidados.
Posteriormente, em 2023 denominou-se UFPA Ver-o-Cello para destacar a EMUFPA que é
instituição de ensino do qual pertence, e também destacar um dos pontos turísticos da região
norte, o Mercado do Ver-o-Peso.
De acordo com minha experiência como bolsista PIBEX e integrante do UFPA
Ver-o-Cello, os ensaios acontecem duas vezes na semana, com duração de duas horas,
obviamente podendo aumentar conforme necessidade para os concertos. Os ensaios ocorrem
de maneira dinâmica, sempre abertos a sugestões dos próprios integrantes em relação à
escolha dos repertórios e adaptações acerca de aspectos estilísticos de cada obra a ser
apresentada, além de realizar, apenas entre alunos, reuniões e ensaios extras para o
crescimento do grupo, tais como o seu individual. Outro ponto relevante é que os alunos
também podem criar arranjos e adaptações de repertório para os concertos, esta prática
costuma ser frequente e o próprio professor conta com alunos para adaptações para os
concertos. Presgrave afirma:
Tocar em conjunto requer adaptações constantes entre os membros do grupo. Apesar
das concepções de afinação, tempo e timbre se apresentarem diferentes para cada
pessoa, é possível afirmar que a prática de conjunto promove a experimentação e,
consequentemente, a aquisição de aumento da capacidade de reflexo nesses
aspectos. Notamos que muitas vezes alunos com técnicas bem desenvolvidas têm
dificuldade em tocar partes simples em conjunto, e também podem apresentar
dificuldades para ouvir e reagir à afinação ou ritmo em passagens que não
apresentam grande dificuldade. (PRESGRAVE, 2016, p. 495).
13

Para maior produtividade dos ensaios, como mencionado no parágrafo anterior,


comumente, entre os intervalos de aulas diversas, os integrantes realizam entre si pequenos
ensaios extras, com duração podendo variar de trinta minutos a uma hora. Nestes ensaios é
feita uma troca de experiências acerca de dedilhados, arcadas, fraseados, entre outros. Este
hábito reflete de maneira positiva nos dias de concerto onde entregam uma performance
relativamente aprazível. O grupo, de maneira geral, exprime mais segurança e maior nível de
concentração, notoriamente é resultado do estudo individual e dedicação ao projeto e, não só
nos concertos do UFPA Ver-o-Cello, mas também em momentos de recitais e concertos com
outros grupos de diferentes instrumentos e formações.
Os ensaios são organizados em quatro momentos: o primeiro é focado na afinação,
onde o professor ou o primeiro violoncelo executa a nota Lá de referência de afinação aos
demais. A nota Lá pode estar afinada em 440hz ou 442hz, ficando a critério do professor ou o
primeiro violoncelo; o segundo momento é focado nos exercícios de aquecimento para
equilibrar a afinação do conjunto, controle de arco, entre outros aspectos relevantes à
performance; o terceiro momento foca na prática e ajustes das obras que já estavam sendo
trabalhadas ao longo do semestre; e o quarto momento foca na leitura de uma nova obra.
Como forma de aquecimento, é executado um exercício de escala de três oitavas. Os
dedilhados da escala são de acordo com o método de Julius Klengel. Primeiramente é tocado
em uníssono e em seguida em cânone, podendo ser dividido por naipes, individual, duplas,
entre outras formações à critério do professor, variando também para outras tonalidades, e
outras articulações de arco. Após este exercício, segue para a leitura das obras selecionadas
para o concerto. Os exercícios de escala se estendem para o dia da apresentação, como
aquecimento preparatório para performance. Abaixo um exemplo do exercício na escala de ré
maior, dividido por naipes:

Figura 2: Escala de Ré Maior, exercício em cânone.


14

Fonte: Exercício exemplificado por Mecia Nepomuceno, no aplicativo online de edição e confecção
de partituras Flat Editor.

As obras executadas consistem em arranjos e composições majoritariamente para a


formação de quarteto de violoncelos, desta forma em cada naipe cabem dois ou mais
violoncelistas. Ao que se refere a formação desses naipes, cabe ao professor Cristian defini-la
de acordo com o nível técnico de cada aluno, e ele costuma modificá-la constantemente, em
meu caso participei de todos os naipes sendo fila ou chefe de naipe. Esta mobilidade
possibilita o conhecimento das dificuldades de cada voz dentro do contexto de preparação
para os concertos, praticar a leitura à primeira vista, e, aos que ficam como chefes de naipe
além desses atributos, ainda se trabalha a liderança. O chefe de naipe no UFPA Ver-o-Cello
tem a função de ser a referência ao seu naipe, facilitando arcadas e dedilhados, este também
marca ensaios de naipe, conforme a necessidade e disponibilidade. Um dos exercícios para
trabalhar a liderança durante os ensaios ocorre nos momentos iniciais das músicas, quando há
um determinado solo ou quando a composição indica o naipe a iniciar a obra. Neste caso,
cabe ao chefe ser a referência aos demais para executar a frase principal e/ou indicar a entrada
inicial da música ao seu e demais naipes.
Assim, essa prática coopera com o crescimento individual no processo de formação
musical, incluindo este repertório na rotina de estudos do aluno. Silva reforça sobre a
importância do estudo diário:
A prática diária do instrumento é um exercício essencial para a preparação de um
músico. O tempo dispensado para tal prática é subjetivo, pois depende da disposição
e do conhecimento do músico. O êxito e a habilidade musical são adquiridos a partir
de muitas horas de estudo e isso se torna um fator determinante na escolha de uma
possível carreira como instrumentista. (SILVA, 2019, p.19).
15

Ainda conforme minha experiência como bolsista PIBEX, pode-se considerar que o
professor Cristian se mostra paciente e disposto a ajudar a classe conforme necessidade, vale
lembrar que ainda hoje, o grupo é formado por alunos de diferentes níveis, alguns com mais
dificuldade que outros. Considero também que o mesmo frequentemente reforça o“fazer
musical”, em ações práticas já descritas anteriormente.
Almeida assevera sobre a postura do professor perante o ensino coletivo:
Como é que alguém pode ter a coragem de ensinar música sem fazer música desde o
primeiro instante? Por que ter maior preocupação com o ‘’saber’’ e esquecer-se
do‘’fazer’’? ‘’O fazer musical’’ deve preceder sempre ‘’o saber musical’’. Não há
nenhuma justificativa sócio psicopedagógica, nem econômica e prática que nos
autorize a pensar o contrário. O ensino coletivo de instrumentos permite que o saber
musical, passo a passo, acompanhe o fazer musical numa combinação prática,
harmoniosa e proveitosa, e deve ser ministrado de maneira simples e agradável.
(ALMEIDA, 2004, p. 27).

O repertório executado pelo UFPA Ver-o-Cello é composto por arranjos e peças


estritamente para esta formação e, como mencionado anteriormente, o coordenador também
permite que os alunos escrevam arranjos de algumas peças para o grupo, evidentemente quem
estiver disposto. O grupo já realizou concertos em salas importantes de Belém, como Theatro
da Paz, Igreja Santo Alexandre, Museu da UFPA, Museu Emílio Goeldi, auditório Benedito
Nunes, entre outros e, pode-se destacar o concerto em comemoração ao 70º aniversário do
SESC, em Belém, onde o grupo contou com a participação do maestro Miguel Campos Neto e
da soprano Dione Colares (BRANDÃO e NEPOMUCENO, 2020, p. 64).
Dentre os vários concertos, possuo grande apreço pelo ocorrido em comemoração ao
70° aniversário do SESC Boulevard, por ter sido desafiador e gratificante à começar pelo
repertório, que dentre as obras do programa executamos as Bachianas Brasileiras No 5
completa, e o segundo movimento da Bachiana No 1, ambas de Heitor Villa-Lobos. A agenda
de ensaios para este concerto estendeu-se, e com isto exigiu mais do estudo individual. Neste
período minha interação social com os colegas se fortaleceu mais ainda, pois a fim de entregar
o melhor resultado para os ensaios e concerto com o maestro e a solista, todas as dúvidas
foram sanadas com o professor durante os ensaios, e com os colegas em outros horários. Fazia
parte da minha rotina de estudos ouvir outras gravações, solfejar e solicitar ajuda aos colegas.
Para este concerto fiz parte do naipe de terceiros violoncelos, mas solicitava ajuda das pessoas
que integravam os demais naipes. E assim, com toda a dedicação e contribuições do maestro,
evidentemente a performance foi excelente.
O UFPA Ver-o-Cello também favorece indiretamente projetos de pesquisas e extensão
desenvolvidos dentro da EMUFPA. Podemos citar o Sarauparauara, e a Orquestra
16

Infanto-Juvenil Helena Maia, ambos projetos contam com a participação de integrantes do


grupo de violoncelos em seus concertos.

A dinâmica dos ensaios preparatórios para o concerto costuma ser bastante gestual e
exemplificada pelo professor. Deste modo, o grupo tem referência em busca de facilitação da
performance, ou seja, sugestões de dedilhados, arcos, e conteúdos técnicos relacionados. Os
concertos em algumas vezes são regidos pelo próprio professor, ou professores e/ou maestros
convidados. Os concertos duram cerca de quarenta minutos. Os integrantes chegam ao local
da apresentação por volta de uma hora antes do horário estabelecido no programa,
posicionam-se no palco e repetem algumas etapas trabalhadas nos ensaios, como afinação a
partir da nota Lá de referência do professor ou do primeiro violoncelo, e os exercícios de
escalas. Quando há necessidade, é executado algum trecho da obra mais trabalhosa do
programa, procurando não causar tensões ou ansiedade aos integrantes antes da performance.
Como mencionado anteriormente, os concertos podem ser regidos por professores ou
maestros convidados. Além do professor Cristian, os que mais se apresentam são: o professor
Rodrigo Santana e o maestro Miguel Campos Neto, ambos também da EMUFPA. Aldrovandi
destaca sobre a importância da regência para a educação musical, e consequentemente para a
performance:
Costumamos aprender música por meio do gesto corporal, do gesto que se aplica a
um instrumento musical, à voz ou, então, a partir do gesto da regência. Não será
preciso, portanto, afirmar e justificar a importância da prática gestual na educação
musical e na produção de grande parte dos sons e da música, mesmo com as recentes
transformações tecnológicas. Como vimos, a partir de Aristóteles, nossa educação é
basicamente mimética, ela se dá ao imitar e seguir o que observamos em outras
pessoas, na natureza ou em determinados conteúdos, indicações linguísticas, regras
etc. Com o gesto e o comportamento físico do corpo não é diferente. Aprendemos a
tocar um instrumento musical a partir de práticas mais ou menos comuns,
compartilhadas, assimilando movimentos, dedilhados, articulações, leituras etc. Essa
Prática mimética do gesto corporal pode parecer-nos mais evidente, a da assimilação
de movimentos apropriados e condicionados para determinados fins auditivos, não
sem pensar nas singularidades a que cada sujeito pode chegar com ela. É essa a
mimese que a performance musical envolve e que é discutida desde a
antiguidade.(ALDROVANDI, 2019, p. 187-188).

De acordo com Ventura (2014), reger sempre esteve presente ao longo da história. As
regências mais antigas possuíam como método os batimentos de mãos, golpes de sapatos de
madeira ou de paus. Deste modo, até os dias de hoje o maestro é considerado o mais
competente dentre todos os músicos, pois, seu gestual técnico influencia e executa funções de
alta qualidade da música, como andamento, dinâmicas, frases e articulação. Assim, como
informado anteriormente, durante os ensaios do UFPA Ver-o-Cello, se faz necessário o auxílio
do professor como regente do grupo, podendo estender para o concerto, ao ponto de trazer
17

professores convidados à reger. Por se tratar de um grupo constituído pela maioria alunos do
curso técnico, apresentava algumas deficiências na prática de conjunto, a interação tornava-se
ausente em obras de cunho trabalhoso, então se tornava necessária a presença de um maestro
para dirigir tais concertos. Contudo, é indispensável enfatizar que a atuação do maestro nos
ensembles não é direcionada somente para a execução de notas ou indicação de andamento, e
sim para fornecer conteúdo formal, e assim facilitar a performance ao grupo. (Cf. Ventura,
2014, p. 12-16)

Com intuito de fortalecer o ensino e reconhecimento do violoncelo através de


concertos em eventos e espaços culturais, o UFPA Ver-o-Cello fomentou o surgimento de
eventos relacionados ao violoncelo no contexto da performance musical, onde trouxe
docentes de importantes universidades nacionais e internacionais à EMUFPA, que são a
Mostra de Violoncelos do Pará e a Semana do Violoncelo do Pará. Aos parágrafos a seguir um
esboço sobre estes eventos, baseado em informações dos sites oficiais, e em meus relatos de
experiências pessoais.

A Mostra de Violoncelos do Pará e a Semana do Violoncelo do Pará surgiram


contando com a cooperação de professores da EMUFPA, e com a colaboração de professores
da Escola de Música da UFRN, Instituto de Artes da Universidade Estadual de Campinas – IA
Unicamp, Escola de Música da UFMS, Escola de Música da UFPB, Escola de Música da
UFRGS, Fundação Amazônica de Música, Conservatório Carlos Gomes, Estonian Academy
of Music and Theatre, Conservatoire Maurice Baquet à Noisy-Le-Grand e Escola de Música
de Brasília. O primeiro evento foi a Mostra de Violoncelos do Pará ocorrendo em 2016, com
objetivo de fornecer a estudantes de violoncelo novas experiências artísticas e culturais
através de aulas, palestras e concertos. Suas edições trouxeram ilustres professores que
contribuíram para o desenvolvimento de todos os violoncelistas inscritos. Podemos citar os
professores Fábio Presgrave, Diego Paixão, Milene Aliverti, Diego Carneiro, Antonio Del
Claro, e Henry-David Varema. Desde seu surgimento, a Mostra de violoncelos do Pará
promove ações extensionistas por meio da EMUFPA com o apoio da Pró-Reitoria de
Extensão da Universidade Federal do Pará – PROEX, e também conta com o apoio da
Associação Brasileira de Violoncelistas – ABRACELLO.

Figura 3: Mostra de Violoncelos 2017


18

Fonte: Site oficial da IV Mostra de Violoncelos do Pará.

Outro evento criado a partir do grupo foi a Semana do Violoncelo do Pará, que surgiu
em novembro de 2020, no formato online devido a pandemia do vírus COVID-19, como
ferramenta para o aprendizado, progresso, troca de experiências e socialização entre alunos de
violoncelo e professores de instituições brasileiras e estrangeira, dando continuidade ativa à
prática das oficinas de música ainda que em tempos de pandemia. Este evento, diferente da
Mostra de Violoncelos, teve somente uma edição. Foram promovidas palestras, e masterclass
por plataformas de chamadas de vídeo ministradas pelos professores: Felipe Avellar, Diego
Cardoso, Frederico Nable, Meryelle Maciente, e Rodolfo Borges. Todos trazendo temas
proveitosos e agradáveis, promovendo várias reflexões em seus ouvintes, e em seguida as
masterclasses. Foram abordados os seguintes temas: “Alguns dos princípios
técnico-interpretativos do pensamento de Janos Starker”, “Dicas e experiências de estudo do
violoncelo na França”, “O início tardio no violoncelo: possibilidades para quem começa
depois dos quinze anos”, “Estratégias de enfrentamento para a ansiedade da performance
musical”, “A importância de estudar os excertos orquestrais e desenvolver uma leitura
dinâmica dentro de uma orquestra”.

Dentre as palestras ministradas na Semana do Violoncelo, destaco “O início tardio no


violoncelo: possibilidades para quem começa depois dos quinze anos”, ministrada pelo
professor Frederico Nable. Este tema trouxe várias reflexões acerca do estigma de que bons
violoncelistas devem iniciar o estudo no instrumento ainda na infância, e valorizou o ensino
19

brasileiro de música, pois muitos ainda acreditam que para se estabilizar como músicos e/ou
professores de música no Brasil é necessário ir em busca de diplomas de instituições
estrangeiras, usando como exemplo o violoncelista Hugo Pilger, que é brasileiro e formado
academicamente por instituições brasileiras.

Considero o período da Mostra de Violoncelos e da Semana do Violoncelo uma grande


fonte de conhecimento, há programações esplêndidas em vários momentos como concertos,
palestras, masterclasses e ensaios com os professores convidados. Dentre estas programações,
ainda ressalto as masterclasses, que consistem em aulas abertas com professores convidados,
onde executei várias obras e adquiri diversos elementos para melhoria técnica e sonora destas
obras, além da interação social com violoncelistas de diferentes instituições e níveis técnicos.
Além disso, as orquestras e grupos de violoncelos formados para estes eventos são outras
grandes fontes de aprendizado e experiências. Os professores convidados normalmente são
chamados para executarem obras solo ou juntamente aos inscritos. No caso das orquestras,
elas são formadas somente para o evento, para os professores convidados estarem
devidamente acompanhados. Já os grupos de violoncelos, que também são formados somente
para o evento, o professor convidado executa juntamente aos inscritos. Como os eventos
contam com mais de um professor, cada um é inserido a um naipe como chefe, e assim
podemos observar e extrair grandes lições para o desenvolvimento musical próprio.

Figura 4: Masterclass com Bruno Valente. Professor da Fundação Vale Música, na época primeiro
violoncelo da Orquestra Sinfônica do Theatro da Paz.
20

Fonte: Site oficial da IV Mostra de Violoncelos.

Resumo das entrevistas - Foi realizada uma entrevista, via e-mail, com o coordenador do
UFPA Ver-o-Cello, e alguns de seus integrantes e ex-integrantes. A seguir, está um compêndio
dessas falas, para melhor entendimento do funcionamento e de como cada entrevistado se ver
como parte do projeto estudado. O coordenador, prof. Me. Cristian Brandão aponta que o
grupo “foi formado com objetivo de criar uma ação extraclasse que possibilitasse aos
participantes uma interação para além das aulas promovidas na grade curricular do curso
técnico”. São realizados ensaios coletivos, ensaios de naipe, afinação conjunta, harmonia de
vozes, leitura e expressividade de repertório, além de concertos realizados de formas
esporádicas em eventos dentro e fora da EMUFPA, com uma diversidade de repertório para
apresentar o violoncelo e enfatizar que o mesmo pode executar quaisquer gêneros musicais.

De acordo com os entrevistados, participar de um ensemble de violoncelos contribuiu


com diversos fatores para sua atuação profissional, tais como a diversidade de repertório,
pois, o grupo realiza vários gêneros de obras populares, eruditas, brasileiras, estrangeiras,
peças presentes em filmes e/ou séries de televisão, entre outras. Outros alunos mencionam que
participar de um ensemble, auxiliou na definição de área de atuação profissional, pois, o
grupo foi seu primeiro contato para o desenvolvimento de habilidades técnico-instrumental, a
exploração de diferentes timbres, harmonização, afinação, percepção auditiva e, leitura e
21

escrita. Outros destacam que o grupo contribuiu na interação social e na capacidade


interpretativa. O coordenador ainda reforça que “os ensaios do grupo promoviam tanto a
interação humana quanto a preparação profissional, pois, todos eram estudantes de violoncelo
com objetivo de alcançar o meio profissional da música por meio do instrumento.” Os
preparativos para as apresentações se iniciam com a elaboração de um cronograma para a
temporada de concertos, e posteriormente a parte de organização das funções. Com o
cronograma elaborado e os locais de concertos definidos, as produções continuam com a
escolha do repertório, que consiste em obras nacionais e internacionais com níveis de
complexidade diversificados para aproximar o público do grupo de violoncelos.

Assim, a contribuição dos integrantes e da Escola de Música da UFPA são importantes


para o fortalecimento das ações musicais do grupo. Tanto na parte da produção quanto na
parte da logística que são integralmente organizados e realizados pelo coordenador e os
participantes do projeto. Os integrantes além de fornecerem arranjos, podem auxiliar na
produção: organização do palco, na escolha do repertório e locais de concerto, na divulgação
do concerto, na definição da indumentária, dentre outros aspectos, à lembrar da EMUFPA
para fornecer materiais de suporte para as apresentações como cadeiras, estantes, programas, e
sala para realização dos ensaios.

Segundo o coordenador, as atividades cogitadas para a construção do pensamento


artístico em um grupo de música de câmara dentro de um grupo homogêneo implicam alguns
desafios. Um deles é equilibrar os níveis técnicos de cada integrante, tendo ciência que cada
participante possui sua experiência musical individual e isso pode ser importante para o
crescimento sem causar constrangimentos ou até mesmo a evasão por razões extras musicais.
Para equilibrar, foram utilizados conceitos básicos da técnica do instrumento, como exercícios
de escalas realizadas em uníssono ou ampliadas para vozes diferentes, conhecimento do
controle de arco para questões timbrísticas, e controle de respiração para diminuir os níveis de
ansiedade e adrenalina durante a performance. Ou seja, durante os ensaios é comum iniciar
com estudos de escalas, exercícios de controle de arco, entre outros.

Ao que se refere à mobilidade de vozes no grupo, o coordenador afirma que esta


metodologia possibilita o conhecimento das dificuldades de cada voz dentro do contexto de
preparação para os concertos. Boa parte de seus integrantes concorda, e mencionam que esta
22

metodologia era usada para que todos conhecessem as vozes do outro, tornando parte de sua
rotina de estudos, praticando a leitura e os fazendo explorar as diferentes regiões do
violoncelo, servindo de grande ajuda à produtividade e objetividade dos ensaios, pois, o aluno
mais experiente poderia ser considerado referência na compreensão para os demais alunos.
Contudo há quem discorde, por reforçar a competitividade dentro do ambiente e assim,
resultar em controvérsias e evasões.

Ao longo da trajetória de estudos a maioria dos alunos de instrumentos de cordas


friccionadas visam estar nas primeiras estantes, sendo chefe de naipe ou concertino3 ainda em
grupos pedagógicos, como preparatório para âmbitos profissionais, onde estes cargos além de
promover destaque e grau de decisão, remuneram mais que os demais músicos. Lima e
Salgado (2014) explicam tal hierarquia:

Cada pequeno naipe é dividido segundo modelos de hierarquia próprios a cada


grupo de músicos. As posições no espaço físico em que o instrumentista está
localizado definem o poder e o grau de decisão; por exemplo, músicos da primeira
estante têm uma representação política maior que os da segunda estante, e assim
sucessivamente, até chegar aos músicos das extremidades. (LIMA e SALGADO,
2014, p. 146)

Deste modo, é comum o ambiente ser competitivo, porém no UFPA Ver-o-Cello, como
se trata de um grupo musical formado por alunos, muitos não possuem maturidade musical e
acabam por terem atitudes ofensivas e desmotivadoras aos outros integrantes, resultando em
bloqueios na interação social. Na minha opinião, a competição entre estudantes de música é
recorrente, e até certo ponto necessária, pois, todos são músicos a fim de se profissionalizar, e
observar e superar os colegas considerados avançados é crucial e objetivo. Mas quando
ocorrem situações de constrangimento, inveja, discussões ou situações prejudiciais aos demais
integrantes não torna-se parte da competição saudável e objetiva, e é considerada nada mais
que uma atitude antiprofissional. Nestes casos, entendo que é inevitável a intervenção do
professor, para não haver bloqueios e assim facilitar o convívio entre alunos, em razão de
todos os músicos serem importantes para o grupo, assim como todas as vozes são necessárias
para a composição, e cabe ao professor reforçar tais importâncias aos estudantes, os fazendo
compreender e adquirir a postura profissional. Durante os ensaios, o professor Cristian reitera
que cada integrante é indispensável, especialmente quando ocorrem faltas, todavia, ainda
3
Concertino é o músico que ocupa a cadeira ao lado do chefe de naipe. Os concertinos também possuem
relativo status, e além de sentarem na primeira cadeira, devem estar sempre preparados para substituí-los, caso
seja necessário. (PICHONERI, 2006, p. 90)
23

continua certo ar de competitividade que pode se tornar proveitosa, no sentido de cada


integrante ter seus estudos em dia, uma vez que todos almejam estar nas primeiras estantes
e/ou ser o primeiro violoncelo, e para isso é necessário dominar sua parte atual.

Com todos estes relatos, indaguei ao professor se todos os seus objetivos com o grupo
e alunos foram alcançados. Em resposta, afirmou ter alcançado com êxito, dado que a maioria
de seus alunos concluíram o curso técnico e ingressaram na graduação, sendo licenciatura ou
bacharelado em música, e permanecem tocando profissionalmente. Ou seja, o UFPA
Ver-o-Cello é uma ferramenta pedagógica imprescindível, que abrange ensino, interação
social e vivências musicais que estão vivas na memória de todos que passaram por ele.

Na minha concepção, os objetivos foram alcançados com muito êxito. Muitos


seguiram suas carreiras no meio da música e continuaram a desenvolver ações que
certamente foram impulsionadas pelas experiências adquiridas ao longo das suas
vivências dentro do projeto UFPA Cello Ensemble. Durante os seis anos do projeto,
ocorreram importantes resultados aos participantes como por exemplo, admissões
em processos seletivos em instituições de ensino superior, inserção no mercado de
trabalho e por fim, e não menos importante, as relações sociais adquiridas por meio
do projeto. (Informação escrita em resposta ao questionário)4

4
Relato fornecido por Cristian Brandão, em resposta ao questionário elaborado por mim, via e-mail, em 02 de
novembro de 2023.
24

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho teve como objetivo investigar como o grupo UFPA Ver-o-Cello tem
contribuído para a formação de violoncelistas em Belém do Pará. Para alcançar este objetivo
foram realizadas pesquisas em documentos, sites, e elaboração de um questionário via e-mail
com o coordenador, integrantes e ex-integrantes do grupo. A elaboração do questionário para
o coordenador focou objetivamente no entendimento dos procedimentos do cronograma de
ensaios e concertos, e também nos resultados do projeto. No caso do questionário para os
alunos, focou no entendimento da sua atuação no projeto e em suas opiniões, onde o ensemble
contribuiu para suas carreiras. Os resultados foram proveitosos e esclarecedores, trazendo
reflexões e pontos positivos e negativos que fizeram esta pesquisa ainda mais entusiasmante.
O processo para confecção desta pesquisa foi desafiador e demasiadamente acelerado.
A iniciar pela escolha do tema, que desde a decisão de estudar violoncelo efetivamente fez
parte de minha trajetória. Deste modo, o grupo de violoncelos sempre esteve presente em meu
cronograma de compromissos, então decidi acatar o tema proposto pelo orientador, tendo em
vista de que eu gostaria de abordar um assunto relacionado à performance no violoncelo.
Recordo-me dos primeiros ensaios, onde me encontrava apreensiva por não ter fluência na
leitura e uma técnica bem estabelecida e comparo com os dias atuais. As atividades do grupo
foram relevantes para meu desenvolvimento, definindo a violoncelista que sou hoje. Adquiri
responsabilidades, aperfeiçoei meus conhecimentos performáticos, aprendi como me
comportar em um grupo profissional, refletindo no que fazer e no que não fazer como
instrumentista e como professora. No decorrer do processo de confecção deste trabalho, ainda
ocorreu uma troca de orientação, e considero esta mudança muito positiva, pois, esclarecemos
vários pontos, fizemos reuniões muito proveitosas, e a produção do trabalho fluiu com êxito.
O UFPA Ver-o-Cello tem uma rotina de dois ensaios semanais, e esta prática faz com
que o grupo seja reconhecido não só por sua dedicação, mesmo sendo um grupo composto por
alunos, mas também pelo importante papel na divulgação e na propagação do instrumento e
do vasto repertório nacional e internacional executado pelo violoncelo. No que tange a
interpretação, o grupo necessita trabalhar mais. A conexão visual ainda não está bem
estabelecida e os aspectos da prática de conjunto ainda não estão claros aos estudantes, e
faz-se relevante um maior número de concertos. Este ponto está sendo trabalhado e estudado
pelo docente para ocorrer de forma clara e objetiva aos discentes. Os discentes permanecem
dedicados, participando de confecção de trabalhos para o 50° ENARTE Acadêmico, além de
sugerir e elaborar arranjos de repertórios para o futuro cronograma.
25

A realização deste trabalho pode servir de referência aos músicos a entenderem como
procede o funcionamento de um grupo musical. Destaca-se também a importância histórica do
grupo e sua trajetória dentro do âmbito acadêmico e performático dos violoncelistas que o
integram, e a contribuição da música de concerto em nosso estado.
Este trabalho também torna-se relevante a todos que integram e/ou integraram ao
grupo de violoncelos porque a maioria decidiu seguir no âmbito profissional musical. Assim
como eu, muitos ingressaram no ensino superior de música, sendo bacharelado ou
licenciatura. Outros participaram como convidados na Orquestra Sinfônica do Theatro da Paz,
posteriormente participaram do processo seletivo da mesma, não foram aprovados devido ao
número de vagas, mas foram bem classificados. Outros alunos alcançaram o primeiro lugar do
concurso Dóris Azevedo. Outros ex-alunos já atuam profissionalmente no mercado de
trabalho dentro e fora do estado, como professores de violoncelo. Outros alunos participaram
de festivais como o Festival Campos do Jordão; Festival Internacional de Música de
Londrina; Academia Jovem Concertante; Mostra Internacional de Violoncelos de Natal; entre
outros. Mesmo que indiretamente, o grupo fez parte da formação profissional, tais como
também na atuação performática de cada um.

Esta pesquisa é, além das publicações do coordenador do UFPA Ver-o-Cello, uma das
primeiras a trazer contribuições para o entendimento das atividades musicais do grupo UFPA
Ver-o-Cello, proporcionando uma catalogação e organização de dados sobre este grupo que,
ainda se faz presente na memória e história vividas pelos músicos que o integraram.

Atualmente, o grupo passou por um processo de atualizações e está em pausa por


motivo da ausência do professor Cristian para o doutorado. Em 2023, o UFPA Cello
Ensemble passou a se chamar UFPA Ver-O-Cello, que tem o propósito de promover um dos
mais importantes cartões postais da região norte, o Mercado Ver-O-Peso por meio do grupo de
violoncelos. E seguirá executando obras brasileiras, dando continuidade na formação de todos
os violoncelistas que frequentemente passam por ele.
26

ANEXO A - Questionário da Entrevista ao Coordenador do UFPA Ver-o-Cello

1. O que você desejava alcançar quando pensou na formação do UFPA Cello Ensemble?

Inicialmente, o grupo foi formado com objetivo de criar uma ação extraclasse que
possibilitasse aos participantes uma interação para além das aulas promovidas na grade
curricular do curso técnico. Os ensaios do grupo promoviam tanto a interação humana quanto
a preparação profissional pois, todos eram estudantes de violoncelo com objetivo de alcançar
o meio profissional da música por meio do instrumento.

2. No grupo havia uma mobilidade de naipes/vozes constante. Qual era o objetivo dessa
ação e quais resultados você alcançou com essa metodologia?

A mobilidade dos participantes no grupo de violoncelos possibilitou a experiência de


conhecer as dificuldades de cada voz dentro do contexto de preparação para os concertos. Isso
contribuiu para o crescimento individual no processo de formação musical pois, a partir das
experiencias em palco, as decisões musicais interpretativas ficaram cada vez mais claras e
com isso ajudou no crescimento musical de cada integrante.

3. Quais as atividades foram pensadas para a construção do pensamento artístico num


grupo de música de câmara?

As atividades dentro de um grupo formado pelo mesmo instrumento implicam alguns


desafios. O primeiro deles é a questão de equalizar os níveis técnicos de cada integrante. Sabe
se que cada participante tem a sua vivência musical diferente e como isso pode ser importante
para o crescimento sem causar quaisquer constrangimentos ou até mesmo a saída do grupo
por razões de extramusicais. Para isso, foram utilizados conceitos básicos da técnica do
instrumento como por exemplo exercícios de escalas realizadas em uníssono ou ampliadas
para vozes diferentes, conhecimento do controle de arco para questões timbrísticas e controle
de respiração para diminuir os níveis de ansiedade e adrenalina durante a performance. Outra
questão está relacionada a processo de preparação para a performance. Essa informação, as
vezes é apresentada de forma abrupta e sem qualquer conhecimento. Existem estudos voltados
a performance musical pautada na neurociência a exemplo do pesquisador Mauro Muszkat
27

que por meio do seu artigo: Música, neurociência e desenvolvimento humano ajudou muito a
organizar as atividades dentro do grupo de violoncelos por meio de comandos vinculados a
neurociência aliados a conceitos da música de câmara pois, o objetivo sempre foi buscar
elementos dessa formação musical para os concertos. E por fim, trazer a luz um pouco da vida
profissional por meio de experiências empíricas e colaborações pedagógicas por meio de
professores convidados.

4. Como são feitas as produções para os concertos? Repertório, logística, indumentária,


condução, o que couber.

As ações se iniciam com a construção do cronograma da temporada e posteriormente a parte


de organização das funções. Ao longo do projeto, já com o cronograma definido e locais de
concertos, as produções inicialmente parte com escolha do repertório de obras nacionais e
internacionais com níveis de complexidade diversificadas com o propósito de aproximar o
público do grupo de violoncelos. Além disso, são levadas em consideração obras compostas e
arranjadas pelos integrantes e/ou por compositores que possam a vir dedicar obras ao grupo.
Posteriormente são organizadas o material (partituras) e atribuições de atividades a serem
desenvolvidas pelos integrantes. Durante os anos a qual foram realizadas as ações do grupo, a
cooperação dos integrantes e o apoio da Escola de Música da UFPA foram importantes para o
fortalecimento das ações musicais do grupo de violoncelos. Tanto a parte da produção quanto
na parte da logística foram integralmente organizados e realizados pelos participantes do
projeto.

5. Os seus objetivos foram alcançados?

Na minha concepção, os objetivos foram alcançados com muito êxito. Muitos seguiram suas
carreiras no meio da música e continuaram a desenvolver ações que certamente foram
impulsionadas pelas experiencias adquiridas ao longo das suas vivências dentro do projeto
UFPA Cello Ensemble. Durante os seis anos do projeto, ocorreram importantes resultados aos
participantes como por exemplo, admissões em processos seletivos em instituições de ensino
superior, inserção no mercado de trabalho e por fim, e não menos importante, as relações
sociais adquiridas por meio do projeto. Em 2023, o grupo mudou o nome para UFPA
28

Ver-O-Cello com o propósito de promover um dos mais importantes cartões postais da região
norte, o Mercado Ver-O-Peso por meio do grupo de violoncelos.
29

ANEXO B - Questionário da Entrevista ao Ex-integrante I

1. De acordo com levantamentos e observações, concluí que muitos foram para


universidades de música (Licenciatura e/ou Bacharelado), outros fizeram festivais
internacionais, outros participaram de orquestras profissionais como convidados, etc.
Neste caso, de que forma o UFPA Cello Ensemble te ajudou artisticamente e/ou
academicamente?

Sempre busquei novas formas na música de me atualizar na minhas performances, então


poder tocar junto de músicos com novas formas de criar música acaba contribuindo para
nossa vida artística, em formas de como tocar em conjunto, ou como conseguir olhar para a
música sem ser somente pela partitura, de forma acadêmica o costume que temos nos ensaios
e acabamos adquirindo técnicas de leitura e até mesmo de percepção musical.

2. Quais são/foram as principais atividades realizadas pelo UFPA Cello Ensemble?

O grupo tinhamos constantes apresentações, e até mesmo masterclass somente realizados


entre os membros.

3. No grupo havia uma troca de vozes/naipes constante. Na sua opinião, quais eram os
objetivos dessa metodologia usada pelo professor?

Constantemente tínhamos que trocar de naipe, acredito que isso servia para termos a noção
das vozes presentes na música por inteiro.

4. De que forma professor e aluno se fazem presentes na produção artística dos


concertos?

Normalmente, além nos apresentarmos, alguns ajudavam na produção de compartilhamento,


na questão logística dos nossos concertos, até mesmo certos alunos criavam adaptações de
músicas para ficarem no acervo do grupo.
30

5. De que forma você teve conhecimento e como ingressou no UFPA Cello Ensemble?

No período eu fazia parte da classe de violoncelo do professor Cristian Brandão, então era
algo natural os alunos dele em nível mais avançado poderem participar do grupo por convite
dele.
31

ANEXO C - Questionário da Entrevista ao Ex-integrante II

1. De acordo com levantamentos e observações, concluí que muitos foram para


universidades de música (Licenciatura e/ou Bacharelado), outros fizeram festivais
internacionais, outros participaram de orquestras profissionais como convidados, etc.
Neste caso, de que forma o UFPA Cello Ensemble te ajudou artisticamente e/ou
academicamente?

O grupo de violoncelos me auxiliou na definição de área de atuação profissional. Foi o


primeiro contato necessário para o desenvolvimento das seguintes habilidades: Técnica
instrumental, exploração de diferentes timbres, harmonização, afinação, postura, percepção
auditiva, leitura, escritas, ampliação e conhecimento de repertório de diferentes épocas e
gêneros musicais. O ambiente entre os músicos instrumentistas tende a ser competitivo e
exclusivo, o ambiente de rivalidade proposta pelo docente, fazia com que os alunos
buscassem o auto desenvolvimento técnico ,através de estudos e participação ativa em
ensaios. Os desafios proposto a mim, como músico completo, me levou a seguir a carreira
acadêmica de música, pois em certa ocasião, ao ser incentivado a estudar o repertório do
grupo, foi desafiada a minha competência como músico. Em busca do desenvolvimento
pessoal na área o qual o grupo de cellos me apresentou, optei por entrar academicamente na
área a qual tenho tanto apreço.

2. Quais são/foram as principais atividades realizadas pelo UFPA Cello Ensemble?

Ensaios coletivos, ensaios de naipe, afinação conjunta, harmonia de vozes, leitura e


expressividade de repertório. Além de concertos realizados de formas esporádicas em
ambientes diversos.

3. No grupo havia uma troca de vozes/naipes constante. Na sua opinião, quais eram os
objetivos dessa metodologia usada pelo professor?

A alternância entre os naipes podem ser consideradas por diversos fatores. O fator principal
seria por desenvolvimento técnico, onde através da experiência coletiva o aluno iria
adquirindo conhecimento necessário para alternar para as vozes desafiadoras, de acordo com
32

sua necessidade como instrumentistas. Em contrapartida, o aluno mais experiente poderia ser
encaminhado para as vozes de nível inferior técnico, para que esse aluno pudesse servir de
ajuda na compreensão para os demais alunos.

4. De que forma professor e aluno se fazem presentes na produção artística dos


concertos?

A estrutura dos concertos ficavam muitas vezes sobre um seleto grupo organizado pelo
professor, onde os mais próximos ou bem desenvolvidos tecnicamente, obtiam a oportunidade
de escrever arranjos, realizar solos e até mesmo ajudar na organização de naipes. Por se tratar
de um grupo de extensão da universidade, a EMUFPA disponibilizava de uma equipe de
apoio para a arrumação de estantes e cadeiras em concertos. Fazendo com que os alunos
responsabilizassem apenas em ir para o concerto, seja através de meios de transporte cedidos
pela escola ou muitas vezes de maneiras independentes, indiferente do local ou horário.

5. De que forma você teve conhecimento e como ingressou no UFPA Cello Ensemble?

Em 2016 eu recebi um convite de uma antiga participante para prestigiar o concerto no qual
ela estava. E por eu ter tido o contato com o instrumento anteriormente, prontamente me
dispus a ir. Após o concerto, fiquei animado com a possibilidade de eu fazer parte do grupo
em algum momento futuro. Fato esse que incentivou a fazer curso livre e posteriormente o
técnico na mesma instituição a qual eu havia prestigiado o concerto.
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ANEXO D - Questionário da Entrevista ao Ex-integrante III

1. De acordo com levantamentos e observações, concluí que muitos foram para


universidades de música (Licenciatura e/ou Bacharelado), outros fizeram festivais
internacionais, outros participaram de orquestras profissionais como convidados, etc.
Neste caso, de que forma o UFPA Cello Ensemble te ajudou artisticamente e/ou
academicamente?

A UFPA Celio Ensemble, simplesmente foi um dos meus campos de estágio, que contribuiu
diretamente no andamento do meu curso de licenciatura em música na UEPA em 2022.

2. Quais são/foram as principais atividades realizadas pelo UFPA Cello Ensemble?

Do ano de 2016 a 2018 quando participei do grupo, atuávamos Em algumas apresentações na


EMUFPA, na mostra de violoncelo e também em outros lugares de Belém, pois o principal
objetivo do grupo era popularizar o violoncelo a partir da música de câmara, apresentando o
instrumento e evidenciando que o mesmo é capaz de tocar qualquer tipo de música,
quebrando o estereótipo de apenas música clássica.

3. No grupo havia uma troca de vozes/naipes constante. Na sua opinião, quais eram os
objetivos dessa metodologia usada pelo professor?

A troca de vozes permitia com que os integrantes conhecessem a música em sua integralidade,
assim, cada um sabia a parte de outro, além disso, desenvolvia-se a técnica do aluno em
diferentes regiões do violoncelo.

4. De que forma professor e aluno se fazem presentes na produção artística dos


concertos?

O professor era o principal incentivador e peça importante para o desenvolvimento do grupo,


porém, todos no grupo eram artistas, não se via uma hierarquização, os alunos, além de tocar,
faziam também arranjos e composições para o grupo, o que contribuiu com certeza não
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apenas para o repertório do grupo mas para o crescimento acadêmico e profissional desses
alunos.

5. De que forma você teve conhecimento e como ingressou no UFPA Cello Ensemble?

Estive nos primeiros momentos do UFPA Cello ensemble, ingressei a partir do curso técnico
em violoncelo e após o convite do professor Cristian Brandão, nesse primeiro momento
(2016) atuei como arquivista do grupo juntamente com mais alguns alunos
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ANEXO E - Questionário da Entrevista ao Integrante

1. De acordo com levantamentos e observações, concluí que muitos foram para


universidades de música (Licenciatura e/ou Bacharelado), outros fizeram festivais
internacionais, outros participaram de orquestras profissionais como convidados, etc.
Neste caso, de que forma o UFPA Cello Ensemble te ajudou artisticamente e/ou
academicamente?

Ajudou artisticamente com prática de repertório nacional, internacional e o contato direto com
professores atuantes na área da educação

2. Quais são/foram as principais atividades realizadas pelo UFPA Cello Ensemble?

Apresentações e pratica de grupo/câmara

3. No grupo havia uma troca de vozes/naipes constante. Na sua opinião, quais eram os
objetivos dessa metodologia usada pelo professor?

4. De que forma professor e aluno se fazem presentes na produção artística dos


concertos?

Enxergo a participação dos alunos como fundamental para adquirir habilidades extremante
necessarias para o mercado profissional como: elaboração de arranjo, prazo para prepáros de
repertório, compromisso com ensaios

Ao professor sempre cabia as orientações dos trabalhos feitos dentro do grupo,também a


elaboração de arranjos, seleção de repertório, viabilização dos espaços e organização para
apresentações

5. De que forma você teve conhecimento e como ingressou no UFPA Cello Ensemble?
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Fui aluno do professor responsável pelo grupo desde de meus primeiros contatos com o
instrumento e em determinado ponto de meus estudos ele me convidou a fazer parte do
coletivo
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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