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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ - UECE

WILLIAN APARECIDO CIRIACO DA SILVA

A MÚSICA DE CÂMARA PARA GRUPOS DE SAXOFONE COMO


EXPERIÊNCIA FORMADORA DE MÚSICOS E PLATEIA: O CASO DO
QUARTETO SAX IN CENA (FORTALEZA-CE)

FORTALEZA - CE
2014
1

WILLIAN APARECIDO CIRIACO DA SILVA

A MÚSICA DE CÂMARA PARA GRUPOS DE SAXOFONE COMO


EXPERIÊNCIA FORMADORA DE MÚSICOS E PLATEIA: O CASO DO
QUARTETO SAX IN CENA (FORTALEZA-CE)

Monografia apresentada ao Curso de


Bacharelado em Música Popular –
Habilitação em Saxofone do Centro de
Humanidades da Universidade Estadual
do Ceará, como requisito parcial para
obtenção do título de Bacharelado .

Orientadora: Prof. Me. Luciana Rodrigues


Gifoni.

FORTALEZA - CE
2014
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação
Universidade Estadual do Ceará
Biblioteca Central Prof. Antônio Martins Filho
Bibliotecário(a) Responsável – Giordana Nascimento de Freitas CRB-3 / 1070

S586m Silva, Willian Aparecido Ciriaco da


A música de câmara para grupos de saxofone como experiência
formadora de músicos e plateia: o caso do quarteto sax in cena (Fortaleza-
CE) / Willian Aparecido Ciriaco da Silva. — 2014.
CD-ROM. 72 f. : il. (algumas color); 4 ¾ pol.

“CD-ROM contendo o arquivo no formato PDF do trabalho acadêmico,


acondicionado em caixa de DVD Slin (19 x 14 cm x 7 mm)”.
Monografia (graduação) – Universidade Estadual do Ceará, Centro de
Humanidades, Curso de Graduação em Música, Fortaleza, 2014.
Orientação: Profa. Me. Luciana Rodrigues Gifoni.

1. Sax in cena. 2. Grupos de câmara. 3. Concertos didáticos. I. Título.

CDD: 780
WILLIAN APARECIDO CIRIACO DA SILVA

A MÚSICA DE CÂMARA PARA GRUPOS DE SAXOFONE COMO


EXPERIÊNCIA FORMADORA DE MÚSICOS E PLATEIA: O CASO DO
QUARTETO SAX IN CENA (FORTALEZA-CE)

Monografia apresentada ao Curso de


Bacharelado em Música Popular –
Habilitação em Saxofone do Centro de
Humanidades da Universidade Estadual do
Ceará, como requisito parcial para
obtenção do título de Bacharelado .

Aprovada em: _07_/_03_/_2014_.


3

“Simplicidade é a realização máxima”.

(Chopin)
4

AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus, pelo dom que me foi ofertado.

À Professora Me. Luciana Rodrigues Gifoni, pela competência na direção desse


trabalho e pelas preciosas orientações, além da grande paciência.

Aos saxofonistas Enelruy Lira, José Rocha, pela prontidão e generosidade nas
respostas aos tão frequentes questionamentos que surgiram nessa caminhada.

A Profa. Ms. Elídia Clara Aguiar Veríssimo, pelo enorme apoio em minha jornada
acadêmica.

Ao Prof. Dr. Alfredo Jacinto de Barros pela grande ajuda durante meu curso e por
aceitar o convite de participação da banca.

A Profa. Ana Paula pelo incentivo e apoio, com correções e palavras de


motivação.

A Welligton Sousa pela amizade e ajuda constante.

Ao Sgt. Marcos Aurélio, meu primeiro professor de música, pelos seus


ensinamentos musicais e de vida.

Aos meus pais, em especial meu avô Benedito Ciriaco, a quem devo muito e
sempre foi um pai para mim; A minha namorada e sempre companheira Paula
Queiroz, e a todos meus amigos que me apoiaram durante todo o curso.
5

RESUMO

Os quartetos e outras formações de saxofones estão cada vez mais


atuantes no cenário musical brasileiro. Dentre esses está o quarteto Sax in
Cena, que há sete anos vem atuando na formação de plateia e difusão do
Saxofone na cena musical fortalezense. O presente estudo busca analisar e
apresentar a história, estrutura e criação de repertório para estas formações.
Tomamos como objeto de análise o quarteto de saxofones Sax in Cena de
Fortaleza (CE), levando em consideração os aspectos relevantes desde sua
criação em 2006 até a atualidade (2014), enfocando a função de incentivo à
criação de outros grupos e ao trabalho didático realizado em concertos e
criação de acervo.

Palavras-chave: Sax in Cena. Grupos de Câmara. Concertos Didáticos.


6

SUMÁRIO

AGRADECIMENTOS ................................................................................................ 4
LISTA DE FIGURAS ................................................................................................. 7
LISTA DE GRÁFICOS .............................................................................................. 8
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 9
2 SAX, CARACTERÍSTICAS E O SEU CRIADOR ............................................ 11
2.2 O Criador .................................................................................................................. 13
2.3 O Instrumento: Características organológicas, classificações ................. 19
2.4 A Família .................................................................................................................. 24
2.5 Afinação ................................................................................................................... 27

3 ESCOLAS DE FORMAÇÃO E PERCURSO HISTÓRICO-CULTURAL ...... 30


3.1 Primeiros mestres e centros formadores ........................................................ 30
3.2 No Brasil................................................................................................................... 35
3.3 No Ceará ................................................................................................................... 38

4 O FAZER MUSICAL DENTRO DO QUARTETO SAX IN CENA .................. 40


4.1 In cena? .................................................................................................................... 40
4.2 Atuação do grupo, concertos e projetos ......................................................... 44
4.3 Acervo ....................................................................................................................... 46
4.4 Arranjos .................................................................................................................... 48
4.4.1 Adaptações .......................................................................................................... 49
4.4.2 Extensão e textura ............................................................................................. 50
4.4.3 Ornamentos .......................................................................................................... 50
5 RELAÇÃO COM O PÚBLICO ................................................................................... 52

6 CONCLUSÃO ....................................................................................................... 63
7 BIBLIOGRAFIA .................................................................................................... 64
APÊNDICES ............................................................................................................. 67
APÊNDICE A – Questionário aos integrantes ........................................................ 67
APÊNDICE B – Questionário ao público ................................................................. 69
APÊNDICE C – Programas de concerto .................................................................. 70
7

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1: Ophicleide.............................................................................. 12

FIGURA 2: Clarone.................................................................................. 13

FIGURA 3: Adolph Sax............................................................................. 18

FIGURA 4: A família de saxofones, conforme descrito na patente #3226 de


21 de março de 1846................................................................................ 18

FIGURA 5: Saxofone alto desmontado..................................................... 20

FIGURA 6: Todel de um Sax Tenor......................................................... 20

FIGURA 7: Boquilha, Palheta e Braçadeira.............................................. 23

FIGURA 8: Correia.................................................................. ................. 23

FIGURA 9: Parte da família dos saxofones............................................... 25

FIGURA 10: Soprano curvo, alto reto e tenor reto..................................... 26

FIGURA 11: Quarteto de saxofones, da esquerda para direita: Sax alto em


Mib, Sax Tenor em Sib, Sax Barítono em Mib e Sax Soprano em Sib..…. 27

FIGURA 12: Partitura de Sax Soprano em Dó, no trecho inicial da Sinfonia


Doméstica de Richard Strauss.................................................................. 28

FIGURA 13: Marcel Mule..................................................................... .... 32

FIGURA 14: Quatuor de la Garde Republicaine....................................... 32

FIGURA 15: Daniel Deffayet................................................................. ... 33

FIGURA 16: 1º ensaio do SC 5 de julho de 2006 no palco do TJA........... 40

FIGURA 17: Formação atual do quarteto Sax in Cena.............................. 42

FIGURA 18: Comparação entre a extensão do Sax soprano e Violino...... 48

FIGURA 19: Trecho entre os compassos 9 e 15 da peça Turkish


March.............................................................................................. ....... 49
8

LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO 1 Conhecimento do público sobre o grupo Sax in Cena.......... 51

GRÁFICO 2 Formas de conhecimento da apresentação......................... 52

GRÁFICO 3 Opiniões sobre o trabalho do grupo.................................... 53

GRÁFICO 4 Conhecimento de outros grupos de câmara....................... 54

GRÁFICO 5 Opiniões sobre a frequência das apresentações............... 55

GRÁFICO 6 Opiniões sobre as formas de divulgação das apresentações 56

GRÁFICO 7 Influência gerada em relação ao gosto musical.................. 57

GRÁFICO 8 Influência das apresentações na formação de jovens........ 58

GRÁFICO 9 Percentual de pessoas que realizaram comentários.......... 59


9

1 INTRODUÇÃO

O saxofone é um instrumento relativamente novo em relação aos


demais instrumentos de sopros e cordas. A aceitação desse instrumento no
meio musical se tornou relativamente rápida devido à inclusão do mesmo
nas mais variadas formações e estilos como Jazz, Pop, Lounge e mais
propriamente na música de nossa região do país: o Forró. Normalmente é
utilizado como solista ou como parte de trio de metais (Saxofone, Trompete
e Trombone). Por sua vez a formação de quarteto de Saxofones não é muito
comum para o público local.
O objetivo deste trabalho é destacar a formação camerística de
quarteto de saxofones, tomando como base a trajetória e experiências do
grupo Sax In Cena, do qual faço parte. Além de características do
instrumento, serão abordados pontos como o ensino do instrumento,
repertório, apresentações e relação do grupo com público.
O Sax in Cena atua na cidade de Fortaleza, Ceará, como grupo
musical desde 2006. Este estudo aborda algumas problemáticas nesse
período. Entre as dificuldades que o grupo vem encontrando em sua
trajetória artística, estão os problemas na trajetória do instrumento em si
desde sua invenção.
Outro ponto a ser abordado nesse trabalho, é o da prática de música
de câmara em nosso estado. Com fatos reais e relevantes, como a falta de
conteúdos teóricos e históricos, acervos, métodos técnicos adequados para
o instrumentos, no caso no quarteto, o Saxofone. Buscar compreender o
grupo em que atuo desde janeiro de 2012. E, assim poder auxilia-lo em seu
desenvolvimento artístico.
Esta pesquisa aborda portanto, aspectos como a formação, tanto do
grupo, como do instrumento, levando em consideração fatos históricos e
culturais de época. Aspectos sobre criador do instrumento, figura
fundamental para a existência do objeto dessa pesquisa, não somente no
âmbito de criador mas também como pedagogo. Além de um pequeno
10

levantamento sobre compositores que se interessaram e compuseram para


Saxofone.
Outros pontos voltados para o ensino do instrumento, o percurso que o
mesmo percorreu desde de sua criação até os dias atuais e como ele foi
difundido no meio musical acadêmico e não acadêmico, principalmente no
Brasil, e especificamente no Ceará.
Serão apresentadas experiências vividas pelo como ensaios,
concertos, projetos e pretensões futuras. Uma visão do grupo pelo grupo, e
uma pelo público. Público que sempre está entre as prioridades do grupo,
visto que ao realizar um trabalho de formação de plateia, a opinião e
participação do público é fundamental e indispensável.
11

2 SAX, CARACTERÍSTICAS E O SEU CRIADOR

Não trataremos da história do saxofone em sua totalidade, história


essa que ainda vem sendo construída com grandes instrumentistas,
compositores contemporâneos e novos luthiers. Para um melhor
entendimento das dificuldades encontradas pelo grupo Sax in Cena em sua
carreira, e de tantos outros grupos e/ou instrumentistas de saxofone, faz -se
necessário chamar a atenção para alguns fatos históricos que marcam a
trajetória desse instrumento. Alguns aspectos em especial trazem à tona
algumas observações como o fato de o saxofone ser um instrumento
relativamente novo, considerando de ter nascido em meados do século XIX,
mais precisamente em 1840. Alguns autores o consideram o instrumento
mais recente da história da música (excluindo os instrumentos elétricos) até
o início do Século XX 1.
Outro ponto é que, embora seu inventor tenha unido elementos de
instrumentos de duas famílias (as madeiras e os metais), o saxofone ainda é
tratado como um instrumento que foi inventado, ou seja, não possui
antecessores diretos, como é o caso de outros instrumentos como a flauta, a
trompa e o clarinete. Seu nascimento se deu após uma adaptação de um
bocal de Ophicleide 2, uma boquilha de clarinete. Outro instrumento que se
assemelha ao Saxofone é o Clarone 3, entre muitas outras, as principais

1
Disponível em: <<http://acjazz.com.br/downloads/articles/workshops/saxofone-historico.pdf>>
Acesso em: 06 de dezembro de 2013.

2
Ophicleide: Instrumento de sopro da família dos metais. Trompa com chaves e bocal, tubo cônico
dobrado sobre si mesmo, em uso durante o século XIX. Foi patenteado pelo fabricante francês
Halary em 1821. A palavra "Ophicleide", do francês Ophicléide provém do grego "Ophis", que
significa serpente e "kleis", que quer dizer tampa ou abafador, combinação que pode ser traduzida
como "serpente de chaves". Disponível em:
<<http://www.bibliotecavirtual.sp.gov.br/especial/docs/200712-dicionariomusica.pdf>>

3 Clarone: Instrumento de sopro de madeira, de tubo essencialmente cilíndrico. O mesmo que


clarinete baixo. É uma espécie de Clarinete em si bemol ou lá, uma oitava abaixo do clarinete
soprano. A exemplo da flauta e do saxofone, o clarinete forma uma família com instrumentos de
várias tessituras (com uma grande variedade de tamanhos). Disponível em:
<<http://www.bibliotecavirtual.sp.gov.br/especial/docs/200712-dicionariomusica.pdf>>
12

diferencias são: o corpo do Clarone é mais alongado, e o mesmo é fabricado


em madeira.
Quando abordamos a história do saxofone, devemos considerar que a
aceitação diante do público, de um instrumento concebido, é diferenciada de
um instrumento modificado ou evoluído. Pois o mesmo nos leva a
compreender que o instrumento foi aperfeiçoado. Sendo assim, mais
facilmente as pessoas o aceitarão. Temos então, um dos desafios
enfrentados por Adolphe Sax, seu inventor.

Figura 1: Ophicleide
13

Figura 2: Clarone

2.2 O Criador

O nome Adolphe, na realidade era um apelido que foi lhe dado, seu
nome era Antoine Joseph Sax. Uma das primeiras curiosidades do saxofone
é que ele carrega em seu nome, uma referência a seu inventor. Sax nasceu
em 6 de novembro de 1814 em Dinant, umas das cidades mais
industrializadas da Bélgica, filho de M. J. Masson, (sua mãe, da qual pouco
se sabe) e Charles Joseph Sax, que era Luthier de instrumentos e com quem
Sax aprendeu o seu oficio desde de muito novo.
Sax começou seus estudos em música no Conservatoire Royal de
Musique de Bruxelles, onde estudou Flauta e o Clarinete. Existem relatos
que Sax possuía uma excelente execução no Clarinete, instrumento que
sempre acompanhou seu desenvolvimento como inventor e como
instrumentista, e que poderia ter construído uma boa carreira como
clarinetista se não tivesse mergulhado no negócio de seu pai como
construtor de instrumentos. Um caminho no qual Sax percorreu muito bem,
14

chegando a ser nomeado o “Luthier Imperial”, por Napoleão III, segundo


Bruno Homem:

Mas não foi só pelo saxofone que Adolphe Sax foi mestre da
inovação. Melhorou o sistema de cilindros dos metais, é
responsável pelo clarinete baixo moderno e por bastantes
inovações no clarinete soprano, foi o melhor Luthier de tubas
e trompas do seu tempo, por fim admirado por Berlioz. 4

Sax ficou mundialmente famoso pela construção de instrumentos de


sopros. Embora tenha construído vários outros como violões, harpas,
violinos, pianos e instrumentos de percussão, era nos sopros que seu talento
se destacava. Com o desenvolver dos estudos no clarinete por exemplo, Sax
notou alguns pontos no instrumento que o incomodavam. E assim, começou
a aperfeiçoá-lo.
Mesmo enfrentando algumas dificuldades financeiras, em 1835 Sax
consegue participar oficialmente pela primeira vez na Exposição Nacional de
Bruxelas, onde apresentou o seu clarinete com 24 chaves. Lima (2004, p. 9):

O trabalho deste fabricante foi apoiado por muitas


personalidades estrangeiras tais como Georges Kastner
(autor de obras pedagógicas e algumas composições), Fétis
(fundador da Revue Musical), Habeneck (que estreou as
sinfonias de Beethoven em Paris), Savart (professor do
Colégio de França), Berlioz e o general Rumigny. (id., ibid.)

Sax passou a contar com um apoio financeiro do governo belga no ano


de 1842. Logo em seguida mudou-se para Paris residindo na rua Neuve-
Saint-Georges. Naquela época Paris era a cidade onde residiam grandes
nomes da música como Berlioz, Meyerbeer, Chopin, entre outros. Tomando
conhecimento da presença desses compositores, Sax começou a convidá-

4
Disponível em: <<http://ocantodosax.blogspot.com.br/2012/11/adolphe-sax.html>> Acesso em: 19
de dezembro de 2013.
15

los para conhecerem seus inventos. Mesmo com seu grandioso talento a
situação financeira de Sax continuava precária:

Já em Paris, viu-se economicamente condicionado, pois só


tinha 30 francos com ele. Era até satiricamente visto como um
homem rico em ideias, mas economicamente pobre. (id., ibid.)

Nessa época já estava em seus projetos, o protótipo do principal


invento, o Saxofone. Prova disso foi uma publicação de Berlioz em um jornal
da época:
"Seu som não se compara ao de nenhum outro instrumento
agudo comum. Ele é encorpado, suave, vibrante, de uma
força enorme e apropriado para o uso com surdina. Na região
superior, gera notas de tal pungência que se torna ideal para
expressões melódicas". 5

Em 1843 após um empréstimo obtido com o flautista Dorus, Sax consegue


adquirir um espaço para desenvolver seus trabalhos, o que graças a seu
talento e uma boa aceitação dos músicos da época veio a se tornar em 1848
uma grande fábrica. Contava com 191 trabalhadores e de onde saíram
20.000 instrumentos entre os anos de 1843 e 1860. De acordo com Lima (id.,
ibid.)

A aceitação dos seus produtos foi rápida: em Outubro do


mesmo ano a Revue et Gazette Musicale fala do interesse
despertado pelo clarinete baixo de Sax nos clarinetistas da
ópera de Paris.

Além da grande fábrica de instrumentos e berço do saxofone, Sax


construiu no mesmo local uma sala de concertos, atraindo ainda mais os

5
Disponível em: <<http://www.dw.de/1846-concedida-a-patente-do-saxofone/a-297908>> Acesso
em: 20 de fevereiro de 2014.
16

músicos e compositores daquela época. Porém atraiu também para si maus


comentários e intenções. Começou a ser visto como um grande concorrente
para outros fabricantes de instrumentos que lá residiam. Além de que, desde
a criação do Saxofone, Adolphe enfrentou vários problemas com os
construtores franceses que não queriam que fosse reconhecida a patente do
instrumento. Existem relatos que os mesmos construtores chegaram a
subornar músicos da época para boicotar os instrumentos de Adolphe.
Mesmo com esses vários problemas e processos judiciais, as acusações
contra Adolphe foram definidas como calúnias. E, em 28 de junho de 1846,
Sax recebe o certificado francês de patente, válido para toda a família de
instrumentos denominados “Saxofone”.
Seguindo sua jornada, Sax realiza outros melhoramentos no Clarinete
Baixo, o que novamente chamou a atenção de Berlioz, que convida Sax para
interpretar sua peça Requiem em seu novo instrumento. "Nenhum
instrumento que conheço possui essa estranha sonoridade situada no limite
do silêncio", afirma H. Berlioz 6.
Algum tempo depois, novamente Berlioz demonstrando confiança nos
feitos de Sax, organiza uma concerto na sala Herz de Paris, onde Sax teve a
oportunidade de apresentar um conjunto de seis de seus inventos, na peça
Chant Sacré de Berlioz, transcrita pelo próprio. Sax era um profundo
conhecedor da Lei das proporções, De acordo com Lima (2004, p. 10):

Sax demonstrou que o timbre de um instrumento está


determinado, não pela natureza do material que o instrumento
é construído, mas sim pela proporção de ar que é emitida
para dentro deste. Bom entendedor dessa lei, conhecida
como Lei das proporções, Sax aperfeiçoou, engrandeceu e
completou grande parte dos instrumentos de sopro, madeira
ou metal. Inventou novos tipos de instrumentos.

6 Disponível em: <<http://www.csr.com.br/saxofone2.htm>> Acesso em: 19 de dezembro de 2013.


17

Dentre uma enorme variedade de instrumentos inventados por Sax,


podemos citar alguns como: bombardinos, família de seis membros.
Instrumento que se utilizou em bandas com frequência e foi patenteado em
1843, Saxhorn, família de sete membros patenteada em 1845, Saxofones,
família de 14 membros registada em 1846 e Saxtubas, patenteada em 1849.
Sobre a variedade de instrumentos, Lima observa ainda:

Sax também se interessou por instrumentos de percussão e,


durante os anos de 1852 e 1863, registou uma série de
patentes relativas a timbales, bombos e tambores. (id., ibid.)

Não há dúvidas que Sax marcou a história dos instrumentos musicais.


As provas para tal afirmação está contida em seus inventos que continuam
sendo utilizados, aperfeiçoados e tornados inspiração para outros
construtores, músicos e compositores. Embora tenha realizado grandes
feitos Sax continuava sofrendo ataques por parte dos outros construtores de
instrumentos da época que não aceitavam sua tão rápida ascensão. Essas
investidas contra Sax continuaram até 1870, quando expira a patente obtida
em 1846, Sax já havia declarado bancarrota em 1856, e então após expirar
sua licença ele volta a declarar bancarrota em 1873 afundando cada vez
mais em dívidas e em batalhas judicias pela patente de seu instrumento. Até
que em 1894, já no final de sua vida, a pedido de três compositores
sensibilizados com a sua situação, Sax passa receber pequena pensão do
Ministro francês de Belas Artes. Os compositores eram Emmanuel Chabrier,
Jules Massenet e Camile Saint-Saens, esse auxilio foi o “sustento” de Sax
até o seu falecimento em quatro de Fevereiro de 1894, com 80 anos de
idade. 7

7
Disponível em: <<http://musicaeadoracao.com.br/25187/a-historia-do-saxofone/>> Acesso em: 12
de janeiro de 2014.
18

Figura 3: Adolph Sax

Figura 4: A família de saxofones, conforme descrito na patente #3226 de 21 de março de


1846.
19

2.3 O Instrumento: Características organológicas,

classificações

O Saxofone possui um formato de cachimbo. Possui duas curvas


principais, uma superior e outra inferior, essa é a forma mais popular do
instrumento embora existam versões retas do mesmo, que se assemelha ao
clarinete. O Sax é normalmente dividido em duas partes, a primeira é o
corpo, um tubo cônico de latão, possuindo 26 orifícios que são “tampados”
por abafadores de couro 8. O acionamento desses abafadores é feito por um
mecanismo constituído de 23 chaves também em latão. Esse belíssimo e
funcional mecanismo, torna a digitação do instrumento próxima a do
clarinete e da flauta, ou sistema Boehm, criado pelo inventor Theobald
Boehm 9. O tubo do instrumento inicia-se com uma determinada espessura e
que ao longo da extensão vai aumentando baseando-se na proporção 1 para
18, passando por uma curva e chegando a “boca” do instrumento chamada
de Campana, por onde sai a maior parte de som do instrumento, visto que os
sons também saem pelos próprios orifícios do corpo em notas mais agudas.
A outra parte, menor mas não menos importante, é o Todel, também
conhecido como cachimbo, trata-se da primeira curva do instrumento. O
Todel funciona como ligação entre a boquilha (onde o instrumentista sopra o
instrumento) e o corpo com os mecanismos já mencionados. Feito
normalmente do mesmo material do corpo, existem alguns instrumentista s
que utilizam variações como o banho de prata e ouro, o que melhora
significativamente a emissão de som do instrumento. Muitas marcas de

8
Nos instrumentos mais modernos, nas versões mais antigas esses abafadores eram fabricados
com uma espécie de pelica enrolada em feltro, em ambos os casos os abafadores possuem em
seu centro um ressonador de plástico ou metal.
9 O alemão Theobald Boehm é o inventor do sistema moderno da flauta transversal. Isso foi em

1832. O sistema dele foi aproveitado para melhorar também a clarineta, o oboé e o fagote. Esta
mudança corresponde à era industrial quando era comum todo tipo de invento. Aí surgiu o Sax e
outros tipos de flauta. O sistema Boehm foi o que, digamos “vingou”. Disponível em:
<<http://www.aflauta.com.br/hist/hist02.html>> Acesso em: 15 de fevereiro de 2014.
20

instrumentos da atualidade já comercializam instrumentos com essas


alterações.

Figura 5: Saxofone alto desmontado.

Figura 6: Todel de um Saxofone tenor.


21

2.3.1 Partes extras do instrumento

Além das partes principais, para a execução do instrumento são


necessárias alguns outros componentes, um dos mais importantes e também
característico do instrumento é a palheta, que no caso do Saxofone é
simples, diferente do Oboé e Fagote por exemplo que possuem palheta
dupla. Ela é responsável pela emissão do som, obtido através de sua
vibração reagindo a uma coluna de ar gerada pelo sopro do instrumentista.
Normalmente fabricada em Bambu ou Cana, porém atualmente existem
palhetas feitas em matérias sintéticos ou semissintéticos como algumas
espécies de fibras. Não existe somente um tipo de palheta em relação a
espessura, elas além de serem de numerações diversas, essas mesmas
numerações variam de fabricantes para fabricante. Quanto maior o número,
maior a espessura e, de acordo com a relação com a boquilha, maior será o
esforço do instrumentista para a emissão de som. Essa relação explica-se
pelo fato de que para som ser produzido a palheta necessita vibrar, e de
acordo com a espessura, essa vibração será maior ou menor. Esse é o
motivo da indicação para os músicos iniciantes as palhetas de numeração
mais baixas (leves), pois a mesmas terão uma maior facilidade de vibração.
Então, por que usar palhetas de numerações altas? Da mesma forma que a
palhetas leves vibram mais facilmente, elas também estão mais sujeitas as
variações de embocadura do instrumentista, e com isso torna-se mais
complexo manter e controlar a afinação do instrumento. Por esse motivo as
palhetas de numeração mais alta (duras), são a escolha de músicos que
necessitam de maior precisão na afinação, pois as mesmas reagem menos
as variações de embocadura.
Outra parte necessária é a boquilha. Feita de diversos materiais, as
boquilhas formam um leque de opções para músicos instrumentistas. As
mais comuns são as fabricadas em massa plástica (de menores custos), e
as de metal. Embora existam boquilhas fabricadas em acrílico, madeira,
vidro e até mesmo osso. As feitas em metal, assim como o Todel, possuem
22

variações de materiais e banhos, prata e ouro. O formato também varia, e


essas variações influenciam drasticamente na sonoridade do instrumento. O
que torna a escolha de uma boquilha uma escolha extremamente pessoal .
Não existe regras para essa escolha, muito embora alguns pontos possam
ser observados, como observa Oliveira:

Não existe um padrão entre as fábricas. A “grosso modo”


duas medidas internas são definidas: a altura da abertura e a
sua profundidade. Quanto maior for a abertura e menor a
profundidade, mais estridente será o som produzido, já o
contrário resulta num som abafado e pequeno. (Introdução ao
Estudo de Saxofone erudito). 10

O componente que faz a ligação entre boquilha e palheta é a


braçadeira. Peça muitas vezes desprezada pelos executantes do
instrumento por se tratar apenas um “acessório da boquilha”. Porém, este
componente aplica uma direta ação junto a relação boquilha/palheta, pois é
ela responsável pela pressão em que a palheta vai ser fixada na boquilha. E
essa pressão influencia também na vibração da palheta, pois caso esta seja
fixada com uma forte tensão, ela enfrentará maior resistência para vibrar.
Inclusive algumas marcas de boquilhas como as Ottolink e Theo Wanne por
exemplo, já vêm de fábrica com suas braçadeiras próprias e/ou fixadas ao
corpo da boquilha, impedindo assim o uso de outro tipo de braçadeira e
posteriormente o comprometimento da proposta sonora da boquilha.
O último componente é a correia, ela é responsável pela sustentação
do instrumento ao corpo do instrumentista, pois em ordem crescente de
tamanhos, a partir do Sax Alto e Tenor o peso do instrumento faz com que
se torne praticamente impossível uma boa execução sem o auxílio da
correia. Além desse papel importante, a correria serve como reguladora do
eixo entre o instrumento e corpo do instrumentista, e também regula a altura
em que a boquilha do instrumento chegará a boca do executante. Essa

10
Disponível em: <<http://ccbteoriamusical.weebly.com/uploads/4/8/2/6/4826455/guia_de_sax_-
_introduo_ao_estudo_de_saxofone_erudito.pdf>> Acesso em: 15 de fevereiro de 2014.
23

altura de extrema importância, pois caso a correia esteja alta, ela diminuirá a
pressão sobre o maxilar inferior, fazendo com que o músico tenha quase que
inclinar a cabeça para trás e um pouco para cima. E se a correria estiver
baixa, ela fará o contrário, ou seja, ela empenhará todo o peso do
instrumento sobre o maxilar inferior, fazendo que o mesmo fique tensionado,
perdendo o contato dos dentes superiores com a boquilha. Além de diminuir
a colunar de ar e o espaço entre boquilha e palheta.

Figura 7: Boquilha, Palheta e braçadeira.

Figura 8: Correia
24

2.4 A Família

Assim como acontece em praticamente todos os instrumentos de


sopro, no saxofone de acordo com o tamanho do tubo do instrumento,
ocorrem duas principais variações, afinação e altura. À medida que temos
instrumentos com tubos menores, a sonoridade emitidas por eles será
aguda, e respectivamente quando temos instrumentos com grandes tubos, a
sonoridade dos mesmos será grave, e essas variações nos tubos afetam
diretamente a afinação dos instrumentos. Em sua patente original de 1846,
Sax previa uma família composta de 14 instrumentos, seguindo uma ordem
crescente de tamanhos temos:

 Sopranino em F;
 Sopranino em Mi bemol;
 Soprano em C;
 Soprano em Si bemol;
 Alto em F;
 Alto em Mi bemol;
 Tenor em Dó (C melody);
 Tenor em Si bemol;
 Barítono em Fá;
 Barítono em Mi bemol;
 Baixo em Dó;
 Baixo em Si bemol;
 Contrabaixo em F.
 Contrabaixo em Mi bemol.
25

Figura 9: Parte da família dos saxofones

Com o passar dos anos essa grande família foi se desfazendo, no caso
dos contrabaixos por exemplo, eles tornavam inviável seu transporte
pelos músicos por conta de seu enorme tamanho, tendo em vista que um
saxofone contrabaixo chega a ser maior do que uma pessoa adulta em
pé. Os instrumentos em Fá e Dó, incialmente foram pensados para o uso
em peças orquestrais, pelo fato da facilidade na leitura de partituras
escritas para cordas ou outros instrumentos afinados em Dó. Porém
esses instrumentos também acabaram caindo em desuso. Com essas,
reduções, a família foi passando de 14 para sete instrumentos
(contrabaixo, baixo, barítono, tenor, alto, soprano e sopranino). Porém,
desde o final do século XIX e início do século XX, somente são
26

fabricados seis desses (baixo, barítono, tenor, alto, soprano e sopranino).


O contrabaixo somente é encontrado em museus ou em coleções
particulares como a do saxofonista clássico canadense Paul Brodie, já
falecido, que contém um único exemplar do saxofone alto em Fá feito por
Adolphe Sax. Praticamente não existem relatos de ainda existirem outros
como o primeiro feito por Adolphe Sax, o saxofone baixo em Dó. Outro
saxofone que foi abandonado, embora tenha sido usado na peça original
do Bolero de Ravel, foi o sopranino em Fá. Ainda existem instrumentos,
que seguem a mesma afinação, porém em formatos diferentes, como é o
caso do Soprano curvo em Si bemol, do Alto reto em Mi bemol e o Tenor
reto em Si bemol,

Figura 10: Soprano curvo, alto reto e tenor reto.

Embora existam seis espécies de saxofone, a maior


concentração dos fabricantes e dos músicos gira em torno de um
quarteto, formado por soprano em Si bemol, alto em Mi bemol, tenor em
Si bemol e barítono em Mi bemol.
27

Figura 11: Quarteto de saxofones, da esquerda para direita: Sax alto em Mib, Sax
Tenor em Sib, Sax Barítono em Mib e Sax Soprano em Sib.

2.5 Afinação

Embora o Saxofone tenha, até então, sido criado para uso em bandas
e orquestras, ele conseguiu se difundir em outros meios e cenários da
música como o teatro musical, as operetas e muito fortemente no jazz
(gênero musical que talvez mais tenha popularizado o Saxofone). Adolph
Sax pensou inicialmente Saxofones afinados em Fá e Dó, voltados para
orquestras e Saxofones afinados em Si bemol e Mi bemol, voltados para as
bandas militares. Os instrumentos afinados em Fá e Dó, primeiramente
conseguiram despertar o interesse de alguns compositores como Berlioz,
Kastner, Richard Strauss e Joseph Holbrooke, esse compositores utilização
desses os saxofones das mais variadas formas. Suas aparições em peças
foram feitas pelos compositores Berlioz e Kastner, já na Exposição Industrial
de Paris de 1855, o Saxofone alto em Fá é mencionado na lista de
instrumentos referentes a Adolphe. No mesmo ano na Grand Traite
28

d’Instrumentations et Orchestre Moderne, são mencionados por Berlioz o


mesmo Saxofone alto em Fá juntamente à um Saxofone barítono afinado em
Dó. O Saxofone alto em Fá teve uma tímida aparição em orquestra, Kastner
o utilizou em três peças:

 Polka Carnavalesque (1857): utiliza dois Saxofones alto em Fá e dois


Saxofones tenor em Dó;
 Overture de Festival (1860): utiliza dois Saxofone altos em Fá;
 La saint-ulien des Menetriers (1866): utiliza dois Saxofone altos em
Fá, dois Saxofones tenores em Dó e um Saxofone alto em Mib.

Richard Strauss compôs a obra mais conhecida para Saxofones em Fá


e Dó, a Sinfonia Domestica. Nessa obra o compositor faz a utilização do que
hoje é considerado a formação francesa de quarteto de Saxofones (Soprano,
Alto, Tenor e Barítono), porém, nesta época ele utilizou: Saxofones soprano
e tenor em Dó e alto e barítono em Fá.

Figura 12: Partitura de Sax Soprano em Dó, no trecho inicial da Sinfonia Doméstica de
Richard Strauss.
29

Esses instrumentos afinados em Fá e Dó, apesar da utilização em


orquestra, não conseguiram obter uma completa aceitação como os
instrumentos em Si bemol e Mi bemol. Suas últimas aparições foram em uma
obra orquestral intitulada Les Hommages (Sinfonia nº 1) do compositor
Inglês Joseph Holbrooke, no ano de 1910. Esse compositor já havia escrito
várias obras para saxofones como uma sonata, um concerto e várias obras
de câmara, em sua obra orquestral ele faz uso dos instrumentos: soprano
em Sib, alto em Mib e Fá, tenor em Sib e barítono em Mib e Fá.

Na contramão desse declínio dos instrumentos em Fá e Dó, esta vam


os instrumentos em Si bemol e Mi bemol, primeiramente pensados por
Adolph Sax para uso em Bandas militares. No ano de 1845, Adolph, tendo
conhecimento da pouca qualidade que possuía a banda de infantaria
francesa, propôs uma disputa entre a mesma composta por 35 músicos na
formação tradicional da época onde não existiam saxofones, contra uma
outra banda formada por 28 músicos, contendo em sua formação alguns
saxofones, e outra de suas criações como Saxhorns em Mi bemol e Si
bemol. O resultado dessa experiência foi surpreendente, pois a banda que
continha saxofone conseguiu um resultado sonoro bem superior a banda
tradicional. Após esse experimento, no dia 19 de Agosto de 1845, por
decisão do ministro francês, foram incluídos nas bandas de música dos
regimentos de infantaria, dois tipos de saxofones, o saxofone barítono e o
alto em Mi bemol, ocupando o lugar dos Fagotes, Oboés e trompas. Essa
decisão durou três anos, sendo suspensa por conta da revolução de 1848 .
Porém seis anos depois, um novo decreto imperial instituiu uma nova
reforma na formação das bandas de música e regimentos, a qual incluía oito
saxofones, dois saxofones barítonos em Mi bemol, dois tenores em Si bemol,
dois altos em Mi bemol e dois sopranos em Si bemol, fortalecendo ainda
mais a ascensão e popularização desses instrumento.
30

3 ESCOLAS DE FORMAÇÃO E PERCURSO HISTÓRICO-

CULTURAL

Um dos principais, se não o principal fator motivador para a


criação do quarteto Sax in Cena, foi a necessidade extrema de viabilizar
uma forma de dar continuidade aos estudos no instrumento, saxofone. O
ensino desse instrumento no Brasil e principalmente em nosso estado, do
Ceará, é muito precário devido a fatores como a: falta de professores
especializados na área erudita do Saxofone, falta de materiais didáticos
próprios para o instrumento e falta de acesso a instrumentos de boa
qualidade a preços acessíveis.
No Ceará, há uma escassez de escolas que formem saxofonistas,
assim como outros instrumentos de sopros, a formação se dá quase sempre
por intermédio das bandas de músicas. Há uma grande tradição dessas
bandas nos municípios do interior, tradição que teve início com a centenária
banda de música da Polícia Militar, que formou muitos maestros que aos
poucos foram formando suas bandas em cidades fora da região
metropolitana. E foi graças a essas bandas que muitos músicos, incluindo os
componentes do quarteto, tiveram acesso ao aprendizado de diversos
instrumentos.

3.1 Primeiros mestres e centros formadores

Adolph Sax foi o primeiro professor de seu invento, porém passou


muito tempo sem lecionar devido às suas complicações na justiça com
outros fabricantes e inventores de instrumentos da época. Em 14 de
fevereiro de 1847 Sax começa a lecionar na primeira escola a ofertar aulas
31

de saxofone em Paris, a Gymnase Musical, fundada em 1836 11. As aulas


nesta instituição eram exclusivas para alunos militares.
Após esse período, mais precisamente em 1858, Sax começar a
lecionar a cadeira de Saxofone no Conservatório de Paris 12, onde lecionou
por muitos anos. Após a saída de Sax, e de seu falecimento, Paris passou
por uma época sem possuir professores de saxofone. O ensino ficou restrito
aos ensinamentos obtidos através das banda militares, muito parecido a
realidade de nosso estado até o início do século XXI. Setenta e dois anos
depois do início das aulas de Adolph no Conservatório de Paris, a disciplina
de Saxofone passou a ser ministrada pelo músico Marcel Mule no ano de
1942, sob a nova direção de Delvincourt. Mule apresentou bons resultado s
como professor e instrumentista, sendo considerado um dos pioneiros no
desenvolvimento do saxofone no meio clássico, e também considerado
responsável pela tradição da escola francesa de Saxofone 13. Mule executou
várias peças mundialmente famosas escritas para Saxofone. Como a
Rhapsodie Orientale para Saxofone e Orquestra (1955) de Debussy 14. Outro
ponto relevante sobre Mule, é o fato dele provavelmente ter criado o primeiro
quarteto de saxofones do mundo, o Quatuor de la Garde Republicaine
fundado em 1927. Como na época não existia repertório para essa nova
formação, Mule transcreveu algumas peças de compositores clássicos como
Mozart, e a peça Sevilla da Suíte Española op. 47 de Albéniz. Após essa
iniciativa de Mule, outros compositores da época como Gabriel Pierné,
Florent Schmitt e Alexander Glazunov, passaram a escrever para essa
formação, resultando em uma maior aceitação desse novo instrumento, e o
estabelecimento dessa nova formação musical. Logo após a saída Mule em

11
Disponível em:
<<http://en.wikisource.org/wiki/A_Dictionary_of_Music_and_Musicians/Gymnase_de_Musique_Milit
air>>Acesso em: 19 de fevereiro de 2014.
12
Disponível em: <<http://musiced.about.com/od/lessonsandtips/a/saxhistory.htm19>> Acesso em
19 de fevereiro de 2014.
13
Disponível em: <<http://music.indiana.edu/giving/scholarships/scholarships-mule.shtml>> Acesso
em 19 de fevereiro de 2014.
14
Disponível em: << http://pastdaily.com/2012/08/27/marcel-mule-plays-the-music-of-debussy-
1955-past-daily-weekend-gramophone/>> Acesso em 20 de fevereiro de 2014.
32

1968, após 25 anos de ensino, as aulas de saxofone passaram a ser


ministradas por Daniel Deffayet, ex-aluno de Mule.

Figura 13: Marcel Mule

Figura 14: Quatuor de la Garde Republicaine.


33

Deffayet sempre prezava por dar continuidade a forma de ensino


criada por Mule. Não somente na docência, mas também nas atuações como
instrumentista, Deffayet passou a substituir Mule diversas vezes em
compromissos na Opéra Comique, sendo regido por muitos maestros
famosos, incluindo o brasileiro Villa-Lobos. Além do Conservatório de Paris,
Deffayet atuou como professor em várias outras instituições, incluindo uma
em especial que foi o Conservatório do Distrito 10, primeiro conservatório
municipal de Paris, facilitando assim o acesso ao ensino do instrumento a
alunos não militares. Embora não tenha obtido o mesmo sucesso do grupo
criado por Mule, Deffayet também criou um quarteto de Saxofones intitulado
Quatuor de saxofones Daniel Deffayet. O grupo realizou importantes
concertos, e uma grande turnê pelos países Inglaterra, Suécia, Alemanha,
Suíça, Canadá, Estados Unidos, Japão e Coréia, vindo a se desfazer
somente em 1988.

Figura 15: Daniel Deffayet


34

Paralelo a essa evolução no ensino do instrumento na França e na


Europa como um todo, o Saxofone é bastante utilizado nos Estados Unidos
através dos grupos e músicos de Jazz. Na Europa o ensino seguia a linha de
pensamento da chamada música erudita 15. Ao chegar nos EUA, embora
ainda com uma ligação muito forte com as bandas militares, a linha de
pensamento era outra, representada principalmente pelo Jazz, o Saxofone
passou a ser visto de uma forma mais “popular”. Segundo Capistrano (2006,
p. 4), embora muito utilizado pelas bandas militares, foi popularizado pelos
músicos de jazz norte-americanos partir de 1930. Após essa época o
sucesso do saxofone ganhou grandes proporções:

O sucesso chegou durante a Primeira Guerra Mundial: nos


bares de jazz de Chicago, o saxofone começou a superar a
clarineta; esteve presente na fase final do jazz de Nova
Orleans e na grande era das big bands. Não se poderia
imaginar a música de Glenn Miller, de Benny Goodman ou de
Duke Ellington sem o saxofone. E, posteriormente, ele se
tornou também o instrumento de improvisação de grandes
solistas do jazz, como John Coltrane, entre outros 16.

Não irei aprofundar-me em relação ao jazz, pois como já mencionado,


o Sax in Cena se utiliza da formação francesa, e nos Estados Unidos a
formação de quarteto é um pouco diferenciada, além de repertório mais
jazzístico, a formação do quarteto também é diferente. Na formação francesa
são usados sax soprano sib, sax Alto sib, sax tenor sib e sax barítono em

15
VANNUCCHI (1999, p.33), lembrando que o termo “erudito” vem de “rus-ruris, significando ex-
rude”, observa que “erudito é aquele que saiu do estado rude, rústico, rural, porque esses três
adjetivos vêm do latim rus-ruris, que significa campo”. Outros termos/expressões encontrados
foram “Música Culta”, “Música de Concerto”. Como não existe ainda um termo que
satisfatoriamente expresse essa cultura e música, numa circunstância que, apesar do inevitável
fenômeno da “circularidade cultural”, remete também a um locus de produção cultural, continuo
utilizando as habituais expressões “cultura erudita”, “música erudita”, “dimensão erudita”.
Disponível em:
<<http://books.google.com.br/books?id=c3_4RmYQPJYC&printsec=frontcover&hl=pt-
BR&source=gbs_ge_summary_r&cad=0#v=onepage&q&f=false>> Acesso em 20 de fevereiro de
2014.

Disponível em: <<http://www.dw.de/1846-concedida-a-patente-do-saxofone/a-297908>> Acesso


16

em 20 de fevereiro de 2014.
35

mib, já na americana ao invés do soprano são usados dois alto s, ou,


somente um alto com dois tenores.

3.2 No Brasil

Na inserção do Saxofone na música brasileira, vemos o mesmo


vínculo do instrumento com as bandas. No Brasil do século XX, a difusão e
popularização do saxofone continuaram relacionadas, sobretudo, à sua
intrínseca relação com grupos musicais como bandas militares, e as bandas
de baile. Ainda como nesse início de século XXI, o repertório para quarteto
de saxofone permanecia muito limitado, na maioria das vezes feito através
de adaptações e transcrições de peças originalmente escritas para ou tros
instrumentos. O que deixa a desejar na originalidade idiomática e exploração
de técnicas e recursos próprios do Saxofone. No âmbito popular da música
brasileira, o Saxofone veio a ter um melhor aproveitamento e destaque em
meados do século XX com sua inserção no choro, feita pelo músico e
compositor Alfredo da Rocha Vianna Filho, o “Pixinguinha”, no grupo Os Oito
Batutas fundado em 1919. Como afirma Cazes (apud AMORIM 2012, pag.15,
16):

Esse grupo, que se tornou conhecido como um dos primeiros


grupos de músicos a se profissionalizar no país, no ano de
1922 entrou em contato com o jazz numa viagem realizada a
Paris. Voltou dessa viagem com uma formação instrumental
completamente diferente, que incluía o saxofone.

No “popular”, iniciava-se a atuação e reconhecimento do saxofone no


Brasil. Já no âmbito da música “erudita”, as investidas por parte dos
compositores vinham de uma forma mais intensa. Com o fato histórico da
semana da Arte Moderna em 1922, os compositores iniciaram um movimento
que visava a valorização da música nacionalista. Um dos melhores exemplos
desse movimento que impulsionou o aparecimento do Saxofone nas grandes
36

salas de concerto brasileiras foi Heitor Villa-Lobos, que, ao lado de Radamés


Gnattali, construíram um vasto repertório escrito especificamente para
Saxofone.
Dentre as obras escritas por Villa-Lobos podemos citar uma das mais
famosas do repertório de Saxofone, a Fantasia para saxofone em si bemol
de 1948. Dentre as peças de Radamés podemos citar o Concertino para
saxofone alto e orquestra, de 1954, e a Brasiliana nº. 7 para saxofone tenor
e piano, de 1956. A partir dessas aparições, o saxofone foi despertando o
interesse de novos instrumentistas e compositores. Embora, assim como na
Europa, não se via grandes investimentos em seu uso, e o instrumento ainda
continua sem um lugar definitivo dentro das orquestras até esse início de
século XXI. Um outro compositor, Mário Ficarelli, ao receber uma
encomenda de uma peça para Saxofone, teve uma reação que talvez retrate
o pensamento de muitas pessoas naquele momento, embora seu
pensamento tenha mudado completamente posteriormente, em entrevista
concedida a Rydlewski (1999, p. 166):

“Dentro de mim, desmoronou tudo: eu queria escrever para


orquestra! Imagina! Saxofone é instrumento para acompanhar
Strip-Tease! Com perdão aos saxofonistas, não é.... não
tenho nada contra, até gosto de um Strip-Tease, mas é
instrumento para isso, porque todo mundo toca! Nossa, no
que é que eu fui me meter?”

Como dito antes, Ficarelli mudou sua forma de pensar. A obra que lhe
foi encomendada era para ser executada pelo grande saxofonista Dale
Underwood, um virtuosíssimo saxofonista, considerado em publicação do
Washington post "o Heifetz do saxofone alto" 17. Ao ouvir uma gravação deste
saxofonista, Ficarelli se encantou com as possibilidades que o instrumento
possui. E, a partir daí, iniciou sua composição com muita dedicação como
ele mesmo afirma.

17
Disponível em: http://daleunderwood.net/ Acesso em 20 de fevereiro de 2014.
37

“...mas a execução dele eu achei fantástica! Eu fui conhecer o


outro Saxofone, que não é instrumento de Strip-Tease. Eu fui
conhecer o saxofone alto. Me entusiasmei pela ideia e me
pus a escrever com muita garra, com muito entusiasmo.
Aquilo se transformou, e ai, então, veio a história do
intérprete, é um sujeito muito aplicado que valoriza
extremamente o seu instrumento e jogou o instrumento dele
na mesma posição dos demais. Daí me entusiasmou e escrevi
o Concertante para ele: Dale Underwood”. (RYDLEWSKI, op.
cit., p.167).

Assim como Ficarelli, várias outras pessoas passaram a pensar de


uma forma mais respeitosa para com o Saxofone. Isso tem sido de extrema
importância para difusão desse instrumento no meio acadêmico e para o
conhecimento do público.
Sobre o ensino do instrumento atualmente, hoje contamos com vários
cursos de nível básico e técnico em grandes escolas de música espalhadas
por todo o país como a Escola Música Brasil, Tom sobre Tom, Expressarte.
Além dos renomados conservatórios como o Conservatório de Tatuí,
Conservatório Musical de São Caetano do Sul, Conservatório Brasileiro de
Música e Conservatório Musical Souza Lima. Esses centro já formaram
grandes músicos e representantes do instrumento no país.
A nível de ensino superior, o Brasil hoje conta com mais de 10 cursos
de graduação e/ou habilitação em saxofone espalhados nas diversas
Universidades Federais ou Estaduais do país. Dentre eles podemos citar
alguns principais como:

 Curso de saxofone, UFMG - universidade federal de minas


gerais;
 Bacharelado em música / Habilitação em Saxofone, UNB –
Universidade de Brasília;
 Bacharelado em música - práticas interpretativas – Saxofone,
UFPB – Universidade Federal da Paraíba;
38

 Bacharelado em Instrumento / Saxofone, UNIRIO -


Universidade do Rio de Janeiro;
 Bacharelado e Licenciatura em Saxofone. UFRGS,
Universidade Federal do Rio Grande do Sul

3.3 No Ceará

Em nosso estado, ensino percorreu um caminho basicamente único


até final do Século XIX, mais precisamente final do anos 80 e início dos anos
90. Como citado antes ensino era centralizado no movimento das bandas de
música, movimento que se deu origem com a centenária Banda de Música
Major Xavier Torres da Policia Militar do Estado do Ceará, que nesse ano de
2014 completará em 28 de outubro 160 anos de atuação. Graças à atuação
dessa banda, e o empenho de vários maestros oriundos da mesma, o
movimento de bandas de música no estado tomou grandes proporções. Até
o ano de 2012, foram contadas entre 200 e 240 bandas em nosso estado,
demonstrando a força desse movimento. E graças a esse, o ensino de
Saxofone foi a levado ao interior do estado através das grandes bandas que
se formarão. Dentre as bandas de música formadoras de músicos em nosso
estado, podemos citar algumas que obtiveram bons resultados como a
Banda Municipal de Amontada, Banda de Música Municipal Joaquim Catunda
Sobrinho em Ipueiras, Banda de Música Maestro João Inácio da Fonseca em
Maranguape, OSP – Orquestra de Sopros de Pindoretama dentre outras. Essas
bandas são exemplos de escolas formadoras, não somente de Saxofonistas mas
como vários outros instrumentos de sopro em nosso estado. Na capital não
podemos deixar de citar o importantíssimo papel desempenhado pelo Centro
Educacional da Juventude Padre João Piamarta, ou a famosa Banda de Música
do Piamarta. Essa banda além formar gerações e gerações de músicos em nosso
estado, foi uma das principais escola que exportaram músicos cearenses para
outros países como Itália e França.
39

A nível de ensino superior em nosso estado, possuímos o curso de


Bacharelado em Música Popular / Saxofone, na UECE – Universidade Estadual do
Ceará, no qual estou me graduando. O curso é ministrado pelo professor Ms.
Márcio Resende. Trata-se de um curso relativamente novo, visto que sou o
primeiro aluno a se forma no mesmo. Embora encontrados alguns problemas na
estrutura funcional do programa do curso, acredito que o mesmo seja uma grande
conquista para o estado, que além das Bandas, possui um curso de nível superior
no instrumento.
40

4 O FAZER MUSICAL DENTRO DO QUARTETO SAX IN CENA

O grupo foi fundado em 5 de julho de 2006. E, desde de então, não


interrompeu suas atividades. O que, graças ao empenho e interesse de seus
integrantes, fizesse com que o grupo se tornasse o primeiro quarteto de
saxofones do Estado do Ceará. A principal frente de atuação do grupo está
na formação de plateia. Com concertos didáticos e repertório sempre
variado, indo do erudito ao popular, o Sax in Cena tenta colaborar na
transformação do público espectador em público ativo. Para que com isso o
objetivo maior seja alcançado, que é de um público mais interessado em
apreciar a música de câmara em nosso estado. Além dessa frente, o grupo
procura atuar também no auxílio da formação de novos grupos, sempre
incentivando-os a dar continuidade aos seus trabalhos, ou auxiliando os
jovens músicos na criação de grupos.
Em 2007 o grupo passou a fazer parte dos grupos de câmara da
orquestra Eleazar de Carvalho, a convite do então regente titular, o maestro
Marcio Spartaco Landi. Após essa integração, o grupo passou a ter uma
agenda fixa de apresentações, dentro da “Série Música de Câmara”, vindo a
se apresentar no Teatro do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura.

4.1 In cena?

Originalmente, a concepção era a formação de um “grupo de estudos”


de saxofone. A ideia de criação do grupo partiu do músico, arranjador e
regente Enelruy Lira (Sax Tenor), que ao realizar uma viagem à cidade de
Natal-RN para participar como aluno do Painel FUNARTE, teve a inspiração
para a criação do grupo.
41

“Vi um grupo de saxofonistas, alunos da Banda de Música da


cidade de Cruzeta/RN tocando quartetos, trios e duos, de
cara me chamou muita atenção, estes alunos me cederam
algumas partituras. Neste Painel assisti a apresentação do
quarteto de saxofones da Paraíba o JP Sax. Estes dois
eventos: o grupo de alunos estudando numa formação
camerística para saxofone e o grupo profissional, JP Sax,
foram o que me motivou para a criação de um quarteto de
saxofones”. Enelruy Lira em entrevista concedida a mim,
realizada no dia 26 de fevereiro de 2014.

No início do grupo não havia a aspiração de se criar um grupo de Saxofones


profissional.

“A ideia inicial, foi reunir quatro amigos, com afinidades e


interesses em comum, para estudar o saxofone em uma
formação e estilo ainda inédita no estado, o estudo de música
de câmara para saxofones, no nosso caso quarteto, com
peças eruditas e populares” . Enelruy Lira em entrevista
realizada no dia 26 de fevereiro de 2014.

Porém com o passar do tempo e dos estudos, o grupo começou a


receber convites para apresentações. O primeiro foi feito pelo músico e
compositor Argemiro Correia Neto, que convidou o grupo para se apresentar
no Centro Cultural Tasso Jereissati no município de Horizonte, a 40 Km de
Fortaleza. Outra apresentação do início do grupo foi feita no projeto Natal de
Luz na Praça do Ferreira, em 2007. Esses convites foram se tornando mais
frequentes, e começaram a exigir mais do grupo, em relação à frequência de
ensaios e repertório. Com isso, o grupo, que até então era de estudos
passou a atuar como grupo artístico.
Inicialmente o grupo não possuía o nome Sax in Cena. O primeiro nome do
grupo foi Quarteto 4x4. Como o primeiro ensaio foi realizado no palco
42

principal do Theatro José de Alencar, por ideia de um de seus fundadores,


José Rocha, o nome do grupo foi alterado.

“Juntei a ideia de um grupo de Saxofones ensaiando em um


palco de teatro, com ideia do local ser o local de cena dos
espetáculos. E ainda fazendo uma “referência” a cena
musical, mudamos o nome para Sax in Cena”. José Rocha em
entrevista concedida a mim, no dia 26 de fevereiro de 2014.

Nesse início o grupo se utilizava do Theatro José de Alencar para os


ensaios. Nesta época a formação era americana: dois Altos (José Rocha e
Ricardo Marques) um Tenor (Enelruy Lira) e um Barítono (Daniel Mesquita).
Mas não por opção do grupo, e sim por falta de recursos, visto que o mesmo
não possuía Sax soprano e o Sax Barítono era emprestado da Banda de
Música da Policia Militar.

Figura 16: 1º ensaio do quarteto Sax in Cena 05.07.2006 no palco do TJA.


43

Essa formação praticamente não se alterou. Com exceção da função


no Sax alto, que sofreu várias alterações. Dentre os músicos que passaram
pelo quarteto nessa função podemos citar os ex-integrantes: Ricardo
Marques (1ª formação), Arley França, Thiago Buriti, Robson Soares e, até o
final do ano de 2013 estive ocupando essa posição. Outra função no grupo
que sofreu alterações foi a percussão. O primeiro percussionista do grupo foi
o músico Ricardo Simões. Após sua saída, o músico Glauber Pereira foi
convidado a integrar o grupo e se mantém até hoje. Além dessas alterações
de formação o grupo ainda contou com as participações eventuais de alguns
músicos como: Willian Ciriaco – Sax Alto, Leonardo Oliveira – Sax Tenor,
Marlon Moura – Sax Tenor, André Leano – Sax tenor, Frank Jardilino –
Trombone e Consultor.
No início do ano de 2014 o grupo sofreu mais uma alteração. O
músico Daniel Mesquita (Sax Barítono), por conta de seu emprego na Força
Aérea Brasileira teve que ser transferido para a cidade de Florianópolis. Com
a saída de Mesquita, que exercia a função de Barítono desde o início do
grupo, foram feitas as seguintes alterações: foi convidado o músico Marlon
Mouta para a função de Sax Alto, e fui transferido para a função de Sax
Barítono. E com essa formação o grupo inicia seus projetos neste ano de
2014.
44

Figura 17: Formação atual do quarteto Sax in Cena. Foto de no dia 6 de fevereiro de 2014,
em apresentação do Foyer do Theatro José de Alencar.

4.2 Atuação do grupo, concertos e projetos

O Sax in cena desempenha um papel de extrema importância para a


formação de novos grupos musicais, principalmente de saxofones. Esse
trabalho se dá através da criação, adaptação e recuperação de repertório
para o instrumento, e a realização de concertos de forma didática, ou seja,
durante as apresentações, realizando pausas para comentários e
explicações ao público, sempre focando no público jovem. Essas frentes de
atuação do grupo, acabam gerando um retorno positivo tanto para o mesmo,
quanto para o fazer de música de câmara em Fortaleza.
45

Por fazer parte dos grupos de câmara da Orquestra Eleazar de


Carvalho, o quarteto tem, em sua agenda desde 2012, apresentações fixas
no Theatro José de Alencar 18. O primeiro ponto dessa forma de concerto é a
escolha do local, os concertos são realizados no Foyer do Theatro,
tornando-o mais próximo do público, ao contrário do palco principal onde a
distância entre músicos e plateia é bem maior. Durante o concerto, o público
tem total liberdade e é convidado a participar da apresentação formulando
perguntas, sejam elas sobre os instrumentos, sobre as peças, compositores,
sobre o trabalho do grupo ou com sugestões de repertório. O grupo procura
sempre deixá-los bem à vontade para esclarecimento de qualquer dúvida ou
curiosidade. Essa forma de trabalhar tem funcionado relativamente bem,
tendo em vista que sempre existem rostos que se repetem nas
apresentações e cada vez mais interessados pela proposta dos concertos.
No repertório dessas apresentações, a proposta é mesclar o erudito
com popular. O concerto sempre é iniciado com uma ou mais peças eruditas.
Normalmente fazendo uma homenagem à algum compositor em especial,
relacionado com a data do concerto com o mês de nascimento ou de morte
do compositor, sempre conversando com o público sobre a peça, o período,
a forma e sobre o compositor em si. Na segunda parte, é dedicada à música
popular e principalmente a música popular brasileira, também esclarecendo
dúvidas ou curiosidades sobre as peças e compositores e/ou arranjadores.
O quarteto também participou em concertos fora desta série de
concertos do Teatro do Dragão do Mar e Theatro José de Alencar, sempre
quando possível na forma didática. Dentre os concertos realizados podemos
citar alguns como: O Dia do Ceará na primeira capital cearense, Aquiraz, em
comemoração aos seus 209 anos, em 2007; Projeto Concerto Solidário em
2007; Festival Nordestino de Teatro de Guaramiranga (FNT), em 2008;
Projeto Ponto e Contraponto dos Clássicos da França no Brasil em 2009,
onde o grupo participou da programação de intercâmbio cultural; Projeto

18
Desde o início de 2012 as apresentações ocorrem na primeira quinta-feira de cada mês, sempre as 19:30
min,
46

Concerto Universitário na Universidade Estadual do Ceará, em 2010; No


mesmo ano o grupo participou da programação artística em comemoração
ao Centenário do Theatro José de Alencar.
No ano de 2007, por intermédio do “IV Edital de Incentivo às Artes”, o
quarteto foi contemplado na categoria “Apoio a Álbum Fonográfico Inédito
(Estúdio)”, viabilizando a gravação do primeiro CD, intitulado “Brasil in
Cena”, focando no repertório brasileiro. No ano de 2012, embora não tenha
se obtido a captação de recursos, o quarteto teve um projeto intitulado “ Sax
in Cena - Concertos Didáticos” aprovado no Programa Nacional de Apoio à
Cultura – PRONAC.

4.3 Acervo

Há algum tempo, um dos principais fatores negativos para a criação e


ascensão de um grupo de câmara no estado, é a falta de repertorio
específico. Normalmente, o repertório desses grupos é criado com
adaptações, ou seja, são utilizadas peça que não foram elaboradas para tal
formação ou especialidades dos instrumentos. Fator que não ocorre somente
com grupos de saxofones, mas também grupos formados por outros
instrumentos como Quarteto de Trombones, Quinteto de Madeiras, de
Metais, dentre outros. Porém, de encontro a essa realidade, alguns grupos
persistiram e acabaram conseguindo romper essas barreiras. Alguns
conseguiram seus acervos investindo financeiramente ou conseguindo com
parceiros da mesma área espalhados por todo o país. Já outros grupos,
realizam algo além, que é a criação de seu próprio acervo, além de
transcender esse entrave, conseguiram colaborar com os outros grupos que
passavam pelo mesmo dilema, grupos como JP Sax e Monte Pascoal
Quarteto de Saxofones.
Dentre esses grupos, está o Sax in cena, que no ano de 2014
completará 8 anos de criação, e conta em seu acervo um total de mais de
47

500 partituras, com cerca de 25 arranjos próprios e cerca de 30 adaptações


para formação. Como explica Lira descrevendo as principais dificuldades do
grupo em seu início:

“A falta de arranjos e composições de música brasileira para


quartetos de saxofones, pois já haviam em nosso acervo várias
peças eruditas e de música popular americana (jazz, standard
etc.), como sentíamos falta e queríamos valorizar a música
brasileira, tivemos que fazer arranjos próprios para suprir esta
necessidade. Outro ponto foi a desafinação de alguns
instrumentos, pois eram velhos e sucateados”. Enelruy Lira em
entrevista concedida a mim, no dia 26 de fevereiro de 2014.

Todo esse acervo é sempre disponibilizado gratuitamente, seja


pessoalmente com os integrantes, ou em sites como de um dos parceiros do
grupo, o músico, arranjador e compositor Argemiro Correia 19. Esse trabalho
de divulgação, funciona não somente como uma forma contribuir com outros
grupos que tenham o mesmo interesse pela música de câmara, mais
também, fazer despertar nesses grupos o interesse e a atitude de também
criarem próprios acervos e assim possamos contar com mais grupos
dispostos a trabalhar a boa música nas suas respectivas cidades.
No caso especifico do Sax in Cena, o papel de desenvolver a parte
criação e readaptação de partituras para o grupo, desde o começo , foi
realizado por um de seus fundadores, o músico e regente Enelruy Lira (Sax
tenor), que sempre se preocupou com o desenvolvimento do grupo e de seu
acervo. Com esse empenho, o grupo pôde iniciar suas atividades e dar-lhes
continuidade, o que foi um ponto crucial para que o grupo no ano de 2014
completasse oito anos de atividade.
O grupo contou também com vários outros colaboradores externos,
músicos, arranjadores, compositores, maestro e pessoas que se
interessaram pelo trabalho do grupo e colaboraram seja com arranjos

19
<< http://portal.brasilsonoro.com/>>
48

próprios, ou doações de partituras ou outros tipos de apoio, dentre elas


podemos citar: Dr. Liduino Pitombeira, Jardilino Maciel, Argemiro Correia, Dr
Alfredo Barros, Paulo Lenilson, João Paulo, Jorge Nobre, Wellington Sousa,
Associação Artística de Concertos do Ceará (AACC), Eduardo Fideles, Ms.
Costa Holanda, Rodrigo Capistrano e Costinha (Heleno Feitosa). Atualmente
o grupo realiza seus trabalhos de criação de acervo ainda com o seu
fundador Enelruy Lira, com outro de seus fundadores José Rocha e com a
minha colaboração, desde 2012.

4.4 Arranjos

Parte do acervo do grupo contempla arranjos e adaptações elaboradas


por seus próprios membros. Sobre este trabalho, em seu início foi feito
baseado nas experiências adquiridas por seus componentes ao longo de
seus anos de carreira, ou seja, de forma empírica. Não eram tomando como
referência métodos ou autores que tratam de teoria do arranjo de modo
teórico ou sistemático, principalmente especializados na formação de
quartetos de saxofones. O que soma-se às demais dificuldades do ensino
do instrumento em nossa região. Integram o acervo alguns arranjos que
foram de grande relevância no aspecto criativo e dentre eles alguns
entraram no repertorio do primeiro CD do grupo (Brasil em Cena, 2010).

01. A voz do morro – Zé Kéti


02. Asa Branca – Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira
03. Chega de saudade – Antônio Carlos Jobim e Vinícius de Moraes
04. Carinhoso - Pixinguinha
05. Brejeiro – Ernesto Nazareth
06. Diana no Frevo - Manoel Ferreira Lima
07. Ela é Carioca - Antônio Carlos Jobim e Vinícius de Moraes
08. Espinha de Bacalhau - Severino Araújo
49

09. Gaúcho (Corta Jaca) – Chiquinha Gonzaga


10. Lamentos – Pixinguinha e letra de Vinícius de Moraes
11.Os Flagelados – Joaquim Pereira de Oliveira

Entre os arranjos do acervo do grupo, alguns fazem maior relevância


para a história do grupo, como citado por Enelruy:

“Para mim foram o Looney Toons – Theme from Warner Bros.


Cartoons, por ter sido a primeira peça ensaiada pelo Sax in Cena e
a Serenade No. 11 in Eb, K.375 de Mozart, por ter sido a primeira
peça erudita em 5 movimentos ensaiada e apresentada no palco
principal do Theatro José de Alencar”. Enelruy Lira em entrevista
concedida a mim, no dia 26 de fevereiro de 2014.

4.4.1 Adaptações

Como citado antes, o grupo atua utilizando a formação francesa (Sax


Soprano, Alto, Tenor e Barítono), Comparada à formação americana (Sax
Alto 1, Alto 2, Tenor e Barítono ou Sax Alto, Tenor 1 e 2, e barítono) essa
formação é a que mais se aproxima das formações “base” (Quarteto vocal e
quarteto de cordas). Com isso o trabalho de adaptação, no que se trata da
escrita de peças originalmente escritas para essas formações, se torna
relativamente menos complexa. Porém, o arranjador e o grupo, encontram
outros entraves, que se apresentam no momento da execução das peças.
Como não elaboradas especificamente para o instrumento (Saxofone), e
normalmente são originais para instrumentos de cordas, um dos primeiros
pontos a se pensar é o controle da respiração, o grupo terá que pensar onde
ficaram as respirações de forma mais coerente com a peça. Em muitos
casos são encontradas peças com notas muito longas, em um instrumento
de arco, o sustento delas digamos é muito mais fácil e simples. Ainda mais
se precedida dessa nota encontrasse uma frase longa e complexa. No
50

saxofone, talvez essa frase não soe tão bem, se aquela nota anterior não
tiver sido trabalhada de forma calculada.

4.4.2 Extensão e textura

Os saxofones que compõem o quarteto (Soprano, Alto, Tenor e


Barítono), possuem a mesma extensão, basicamente duas oitavas e meia,
igual a toda família do saxofone. Cada um possui tessitura que se inicia no
Si bemol ao Fá, com exceção do barítono que inicia da nota Lá natural. Essa
extensão comparada aos instrumentos de cordas por exemplo é
relativamente pequena, fazendo uma simples e superficial comparação entre
o Sax soprano com o violino, nota-se uma certa diferença onde o violino
possui maior quantidade de notas.

Figura 18: Comparação entre a extensão do Sax soprano e Violino .

4.4.3 Ornamentos

Em uma certa quantidade de arranjos elaborados para quarteto de


cordas, existem certos elementos pensados além das notas propriamente
ditas. Esses elementos algumas vezes estão relacionados a especialidades
dos instrumentos como pizzicato, snap pizzicato ou pizzicato bartók,
harmônicos naturais etc. Tais técnicas expressivas tornam naturalmente a
51

execução mais complexa no saxofone por não terem sido pensadas para o
mesmo. Nesse caso algumas adaptações são necessárias para uma
execução mais próxima do original. Em outros elementos extras, por serem
mais amplos e comuns a praticamente todos os instrumentos, alguns
oriundos de estudos harmônicos ou da própria escrita musical, são mais
fáceis a execução, como: Trinado, Appoggiatura etc. Normalmente menos
complexos para execução no saxofone ou em outros instrumentos de sopro.
São inclusive mais utilizados na composição de arranjos, podemos observar
por exemplo na peça Turkish March de Beethoven de elementos
ornamentais sendo utilizados na formação utilizada pelo Sax in Cena.

Figura 19: Trecho entre os compassos 9 e 15 da peça Turkish March.


52

5 RELAÇÃO COM O PÚBLICO

Pelo fato das apresentações do grupo ocorrerem com carácter menos


formal, focando na formação de plateia, o grupo tem obtido uma boa relação
com o público. Embora as apresentações aconteçam durante a semana, o
que gera uma certa disparidade entre o quantitativo de uma apresentação e
outra, o público presente se mostra bastante interessado na apresentação e
em obter conhecimentos relativos aos instrumentos do grupo.
Foram levantados alguns dados através de um questionário realizado
no Theatro José de Alencar, nos dias três de outubro de 2013, e seis de
fevereiro de 2014. Um total de 23 pessoas aceitaram responder ao
questionário 20, que continha nove questões, das quais sete eram objetivas,
uma semiaberta, e uma aberta.
Observou-se a relação do grupo com o público em diversos aspectos.
A primeira questão havia a seguinte indagação: “Você já conhecia o trabalho
do grupo? se sim, de onde?”, o resultado foi o seguinte:

Conhecimento da existência do grupo

35%
Sim
Não
65%

Gráfico 1 - Conhecimento do público sobre o grupo Sax in Cena.

20
O questionário aplicado ao público encontra no Apêndice B.
53

Foi observado que um total de 15 pessoas das 23 não conhecia o


grupo, ou seja, era a primeira vez que ouviam o quarteto Sax in Cena ou
mesmo um quarteto de Saxofones. Dentre as pessoas que responderam que
tinham conhecimento do grupo, das oito, cinco delas apontaram conhecer o
grupo através do próprio teatro, ou seja, já estiveram em apresentações do
mesmo anteriormente, três ainda mencionaram a internet, porém esses
ainda não haviam presenciado nenhuma apresentação ao vivo.
Assim como o conhecimento do grupo, o conhecimento da
apresentação em si, data, horário e local, foram questionadas na segunda
pergunta que era: “Como você ficou sabendo desta apresentação?” eis o
resultado:

Forma de conhecimento da apresentação

12

10

0
Amigos TV Internet Programação Outros
do Teatro

Gráfico 2 - Formas de conhecimento da apresentação

Novamente as respostas foram semelhantes, no caso, 10 pessoas


apontaram a programação do teatro como a forma mais comum, embora
também foram mencionadas outras formas que devem ser levadas em
54

consideração como internet, apontada por quatro pessoas, e amigos, por


seis pessoas, e também quatro pessoas marcaram a opção “Outros”.
Esses dados mostram que um dos principais objetivos do grupo, a
formação de plateia, está sendo alcançado. Visto que após a forma
“programação do teatro”, a segunda forma de divulgação mencionada é a de
“amigos”, ou seja, pessoas que assistiram a apresentação e indicaram para
que seus amigos e familiares fizessem o mesmo.
Sobre a aceitação do grupo, a terceira questão perguntava: “O que
acha do trabalho do grupo?” e o resultado foi:

Opiniões sobre o trabalho do grupo


18
16
14
12
10
8
6
4
2
0
Ruim Interessante Bom Ótimo Não opinaram

Gráfico 3 – Opiniões sobre o trabalho do grupo

Das 23 pessoas, um total de 17 demostraram uma boa aceitação do


grupo respondendo “Ótimo” em relação do trabalho do grupo, duas acharam
bom, uma achou interessante e três não opinaram, prevalecendo as opiniões
positivas, inclusive nos comentários da questão aberta, expostos mais
adiante.
A quarta questão tratava de um assunto importante, o conhecimento
de outros grupos: “Você conhece outros grupos como o Sax in Cena? Se sim
quais?”.
55

Conhecimento de outros grupos de câmara

17%

Não
Sim

83%

Gráfico 4 – Conhecimento de outros grupos de câmara

Além do não conhecimento do trabalho do quarteto pelo público,


foi observado um outro dado preocupante não só para o grupo em si, mas
também de uma certa forma para o cenário da música de câmara em
Fortaleza. Foi observado que, um grande número de pessoas presentes nos
dias de pesquisa, mais precisamente 19, não possuem conhecimento de
outros grupos de câmara. É um dado preocupante, visto que Fortaleza conta
com vários projetos voltados para a música de câmara dentre os quais
podemos destacar: Camerata Eleazar de Carvalho, Sax in Cena, Quarteto
Cearense e Camerata de Sopros de Pindoretama (vinculados a Orquestra
Eleazar de Carvalho), Camerata da Unifor, a Orquestra Sinfônica da UECE –
OSUECE possui o projeto chamado Série Concertos de Câmara, com
apresentações mensais, além de outros, através de dois principais grupos,
Siara Quarteto e Quinteto de Metais da OSUECE. Ainda o próprio curso de
música da Universidade Estadual do Ceará – UECE, possui programas de
música de câmara através dos cursos de graduação em música como curso
de Bacharelado em Flauta Transversa. Ainda sobre os grupos da cidade,
lembramos um que talvez seja do mais antigos a atuarem que é o grupo
Syntagma, que foi criado no Ceará em meados dos anos 80.
56

Das pessoas mencionaram ter conhecimento, apenas um entrevistado


mencionou um nome, no caso o Quarteto Cearense que também é vinculado
aos grupos de câmara da Orquestra Eleazar de Carvalho. Isso nos remete a
uma questão importante: se as apresentações de grupos pequenos, que
normalmente pelas facilidades logísticas são menos complexas de serem
organizadas, tornando-as mais frequentes, ocorre esse desconhecimento,
como podemos almejar um público consciente e participante nas grandes
apresentações?
Por esse motivo o grupo sempre retoma e defende a questão de
formação de plateia, acreditando que as apresentações menores possuem
um alto poder de despertar a curiosidade das pessoas. Como muitas das
peças executadas são adaptações de peças compostas originalmente para
orquestra, o público começa a refletir de como seria a mesma peça
executada pela orquestra em sua instrumentação original. Esses pontos são
o que fazem o grupo se manter e continuar fazendo música, para que um dia
os dados de uma pesquisa como essa sejam diferentes.
Na quinta questão foi abordado a regularidade das apresentações em
relação a opinião do público, com a indagação: “Qual frequência você acha
que deveriam acontecer apresentações desse tipo?”.

Opiniões sobre a frequência das apresentações


9
8
7
6
5
4
3
2
1
0
Semestralmente Mensalmente Quinzenalmente Semanalmente

Gráfico 5 – Opiniões sobre a frequência das apresentações .


57

Até o mês de dezembro de 2013 as apresentações do grupo


ocorriam uma vez por mês, sempre na primeira quinta-feira de cada mês, as
19:30 no Foyer do Theatro José de Alencar. Na pesquisa, as opiniões se
dividiram, oito pessoas opinaram em manter as apresentações mensalmente,
sete delas opinaram em que ocorressem quinzenalmente, e oito delas
opinaram em apresentações semanais. Números bem próximos mas que
expressam o interesse do público em novamente assistir às apresentações.
A partir de janeiro de 2014, o grupo fará duas apresentações mensais, uma
mantendo a primeira quinta-feira do mês no Theatro, e incluindo a primeira
quarta-feira do mês dessa vez no auditório do Centro Dragão do Mar de Arte
e Cultura as 19:00.
Ainda sobre as apresentações, o público respondeu, na sexta questão,
sobre a forma de divulgação dessas apresentações. A pergunta era: “Como
deveriam ser divulgadas as apresentações desse tipo?”, eis o resultado:

Formas de divulgação

8% 6%

Cartazes

26% TV
Rádio
42%
Internet
Outros

18%

Gráfico 6 - Opiniões sobre as formas de divulgação das apresentações


Obs. O número de opiniões dessa questão foi maior por conta das pessoas apontarem
mais de uma opção.
58

Essa questão, assim como a número quatro, teve um resultado


interessante também para outros grupos e, para o próprio Theatro. Foi
observado que embora com o avanço das tecnologias nessa primeira década
do século XXI, e das diferentes formas de divulgação, a TV foi apontada 21
vezes como a mais eficaz, contrariando a expectativa de ser a Internet (que
ficou em segundo lugar com 13 votos), a forma mais funcional para a
divulgação. Ainda houve nove votos para o Rádio, três votos para cartazes e
quatro votos para a opção “Outros”, onde somente um deles mencionou a
forma “Jornais”.
Seguindo a pesquisa, foi abordado na questão número sete, outro
assunto relevante. Foi questionado a possibilidade de apresentações de
câmara como as dos quarteto, gerarem influência no gosto musical. A
questão era a seguinte: “Em relação ao gosto musical atualmente, como
você avalia a atuação do quarteto?”, o resultado:

Influência gerada pelas apresentações


14

12

10

0
Não gera nenhuma Pode gerar influência Gera influência Gera uma forte
influência influência

Gráfico 7 - Influência gerada em relação ao gosto musical.

O gosto musical é muito particular e suscetível à diferentes aspectos


como região de moradia, época e até influências familiares das pessoas. O
resultado da pesquisa foi animador para o grupo. Visto que das 23 pessoas,
20 apontaram que as apresentações do geram influencia no gosto musical.
Sete delas apontaram “Gera uma forte influência” e 17 apontaram “Gera
59

influência”. Ainda duas pessoas apontaram “Pode gerar influência” e apenas


uma opinou “Não gera nenhuma influência”. Embora estamos tratando de
uma pequena pesquisa devido ao número de participantes, acredito isso
possa significar um início e, um aspecto que deveria ser mais abordado, e
levantadas novas questões no sentido “Como esses tipos de apresentação
afetam o gosto musical das pessoas?”.

Na oitava questão foi abordado o tema da formação de jovens com a


música, a questão era: “Sobre a formação de jovens com a música,
apresentações mais frequentes como essa, poderiam ajudar nesse
processo?”.

Influência das apresentações no Processo de


formação de jovens
18
16
14
12
10
8
6
4
2
0
Não ajudaria o Talvez ajudaria o Ajudaria o processo Ajudaria muito o
processo processo processo

Gráfico 8 - Influência das apresentações na formação de jovens com a música .

Novamente o resultado foi animador, 17 pessoas apontaram que as


apresentações desse tipo acontecendo com mais frequência, ajudariam
muito o processo de formação de jovens através da música. Isso , levando
em consideração os princípios do quarteto, que também incluem a influência
na a formação de novos grupos de jovens, é um resultado altamente
relevante. O grupo acredita a criação de novos grupos formados por jovens,
60

é a forma mais eficaz de uma garantia da preservação do fazer musical de


forma séria. É muito frequente encontrarmos casos de grandes nomes da
música que tiveram acesso aos conhecimentos musicais em casa, com seus
familiares. Isso é uma realidade muito boa, porém precisamos memorar
também nos jovens que não tiveram essa oportunidade em casa. Eles
também possuem as mesmas capacidades intelectuais e criativas dos
outros, porém as vezes necessitam apenas de um pequeno estímulo para o
desenvolvimento dessas habilidades. E pensando nisso que o grupo acredita
que não somente as suas apresentações mas, num contexto geral,
apresentações musicais devem cada vez mais estar acessíveis aos jovens.
A nona e última questão era aberta a comentários do público e
perguntava “Gostaria de dizer algo mais sobre o grupo?

Comentários abertos

Não Comentaram
48% Comentaram
52%

Gráfico 9 – Percentual de pessoas que realizaram comentários.

Por se tratar de uma questão em que as pessoas teriam que opinar na


forma discursiva, era esperado um número pequeno de pessoas
participantes, porém em um total de 23 pessoas, 12 delas opinaram sobre o
grupo. Entre os participantes obtivemos os mais variados comentários. Parte
destes parabenizando o grupo pelo trabalho como “Parabens!!!” (sic), e
“Muito Bom, Parabéns!”.
61

Outros, mais elaborados também demonstraram um certo afeto pelo


grupo como: "Excelentes profissionais.”; “Foi muito Interessante, gostei
muito de ver”; “um grupo organizado, dedicado, muito profissional de
conteúdo variado.”; “São instrumentistas de excelentes formação musical
com repertorio da melhor qualidade seja erudito ou popular.” (sic); “Grupo
tem muita sensibilidade musical e muito domínio rítmico e leveza nos
movimento além de versatilida de estilo” (sic); “Que espero que sigam
sempre adiante com seus sonhos, dons e projetos nos brindando com tão
preciosa arte. obrigado!” (sic).

Haviam também comentários fazendo sugestões ao grupo, o que para


o mesmo é muito importante, visto que se as apresentações são elaboradas
para o público, nada melhor do que a opiniões e sugestões do público para
uma melhor relação. Dentre os comentários podemos citar: “A iniciativa do
grupo é excelente. Deverice haver apresentações no bairros para incentiva
nos jovens”. (sic). Essa foi uma boa sugestão, visto que como as
apresentações ocorrem sempre no Teatro, ou seja no centro da cidade, os
jovens de bairros mais distantes não possuem o mesmo acesso das demais
pessoas. Outra sugestão seria no sentido da divulgação: “Achei muito bom o
trabalho, necessita de mais divulgação apenas”. (sic). A questão da
divulgação realmente tem sido uma questão bastante discutida nas reuniões
do grupo. Com o avanço na internet, o grupo tenta acompanhar esse
crescimento criando novas formas de divulgação como o blog do grupo 21 e
em uma página do Facebook com o nome “Sax in Cena”. Criando uma
aproximação maior entre o público e facilitando a divulgação de concertos.
Em especial surgiram dois comentários que demonstram a
funcionalidade do quarteto nos concertos didáticos, além de exemplificar a
divulgação feita através do próprio público. São eles: “Que apesar de assistir
pela 1º. vêz e a convite do meu filho foi surpreendente ouvir o som de outro
instrumento que nunca vi antes – Parabens.” (sic) ; “O grupo é muito bom,

21
<<http://saxincena.blogspot.com.br/>>
62

além de tocar belas musicas ainda nos explica, e responde perguntas, nos
fazendo sentir realmente a musica.” (sic).
63

6 CONCLUSÃO

O grupo ainda tem um longo caminho a trilhar, onde várias outras


adversidades irão surgir como as apresentadas nesse trabalho. Porém, após
percorridos sete anos, o grupo se mostra muito mais focado e determinado
em difundir seus conhecimentos adquiridos com outros músicos e novos
grupos, e cada vez mais difundir a música de câmara em nosso estado.
Neste ano de 2014 o grupo completará oito anos ininterruptos de
existência, com muitas vitórias e alguns tropeços, mas sempre seguindo em
frente. E constatando que de alguma forma seu trabalho tem influenciado as
pessoas que já participaram do grupo, ou apenas apreciaram apresentações
do mesmo. Uma das vitórias consideradas do grupo, consiste na formação
de seu acervo, contendo mais de 500 partituras. Além de manter um
repertorio sempre variado, contribui com os outros grupos que procuram o
quarteto em seus inícios de atividades. Além das partituras compartilhadas,
o grupo sempre buscar apoiar na forma de passar adiante as experiências
vividas, a fim de facilitar a ascensão desses novos grupos. Outro ponto
positivo nessa jornada, foi a gravação do primeiro CD. Em um país onde a
música instrumental vem cada vez mais sendo massacrada pela indústria
das gravadoras, uma gravação como essa é motivo de muita alegria para
qualquer grupo de música instrumental.
Por fim, acredito que a música de câmara em si no Ceará, tem
grandes chances de se desenvolver e se ampliar. Ocupando não somente a
capital, mas se espraiar em todo o interior do estado. Acredito que o
incentivo aos grupos que já atuam na cidade deve ser constante para que os
mesmos possam, além de dar continuidade aos seus trabalhos, possam
cada vez mais incentivar a formação de outros grupos na cidade. Além
incentivo em espaços como o Theatro José de Alencar e o Centro Dragão do
Mar de Arte e Cultura, que são os principais instrumentos de estreitamento
da relação entre o público e os grupos de câmara como o Sax in Cena.
64

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MUSICAL ERUDITO BRASILEIRO SOB O ENFOQUE DO
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Universidade Federal de Goiás, 2012.

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TRADICIONAIS DE ARRANJO EM BLOCO. 136p. Dissertação (Mestrado em
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BARROS, Alfredo. Princípios de Harmonia, Composição e Arranjo. 26p.


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entre 1808-1889. 135p. Dissertação (Mestrado em Musicologia) - Instituto de
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volumes, Lisboa, Edição Cosmos, 1956.

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65

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Leduc, (s/d). Paris
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MILITAR: MÚSICA E MÚSICOS NO CEARÁ (1854-1954). 14p. Artigo, 2012,
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66

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WEINSTEINJ, Joe. Allard's Saxophone a nd Clarinet Principles. Seattle,


WA.RIA Business Concept's.1988
67

APÊNDICES

APÊNDICE A – Questionário aos integrantes

1) Como foi o início do quarteto?

2) Qual foi a ideia inicial?

3) O que motivou a criação do quarteto?

4) Quais foram as principais dificuldades enfrentadas no início?

5) Para você, o que foi decisivo para o grupo se manter até os dias de hoje?

6) Quais pessoas foram determinantes para grupo se manter e evoluir


musicalmente?

7) Sobre o CD, qual foi a importância para o quarteto?


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8) Sobre os arranjos, quais foram os mais marcantes para grupo?

9) Atualmente, como você vê a qualidade musical do quarteto?

10) Sobre os ensaios, como você vê a funcionalidade deles?

11) Como você analisa as apresentações do quarteto musicalmente, e em


relação a reação do público?

12) Como você o futuro do quarteto em relação ao cenário musical de nosso


estado?

13) Em seu ponto de vista, o que ainda falta ao grupo?


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APÊNDICE B – Questionário ao público


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APÊNDICE C – Programas de concerto


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