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Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo

Faculdade de Biblioteconomia e Ciência da Informação

Aline Cristini CAMBUR

PARTITURA MUSICAL COMO DOCUMENTO: UMA ANÁLISE DO CICLO DE VIDA


ARQUIVÍSTICO

São Paulo
2016
Aline Cristini CAMBUR

PARTITURA MUSICAL COMO DOCUMENTO: UMA ANÁLISE DO CICLO DE


VIDA ARQUIVÍSTICO

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado à Escola Pós Graduada de
Ciências Sociais da Fundação Escola de
Sociologia e Política de São Paulo para
obtenção do título de especialista em
Gestão Arquivística.

Orientador: Prof. Me. Charlley Luz

São Paulo
2016
C186p Cambur, Aline Cristini
Partitura musical como documento : uma análise de ciclo de vida arquivístico /
Aline Cristini Cambur. -- 2016.
46f.

Orientador: Charlley Luz.


Trabalho de conclusão de curso (especialização) – Faculdade de Biblioteconomia
e Ciência da Informação da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo
Inclui bibliografia

1. Arquivística 2. Funções arquivísticas 3. Arquivos musicais. 4.Partituras Luz,


Charlley III. Título

CDD 025.172
Autora: Aline Cristini Cambur

Partitura musical como documento: uma análise do ciclo de vida arquivístico

Trabalho de conclusão de curso apresentado a Fundação Escola de Sociologia e


Política de São Paulo – FESPSP, como requisito para obtenção do título de
especialista em Gestão Arquivística.

Conceito:

Parecerista:

Professor
Assinatura:
____________________________________________________

Professor Orientador Charlley Luz


Assinatura: _______________________________

Data da aprovação: ___/___/___


Dedico esse trabalho a Deus, para quem todas as coisas devem ser oferecidas com
excelência, e a todos aqueles que se aventurarem pelo campo dos documentos
musicais. A vocês espero que esse trabalho possa ser de alguma ajuda.
AGRADECIMENTOS

Acredito que todo este trabalho não estaria completo sem que fossem
mencionados aqueles que, direta ou indiretamente, contribuíram para que eu
conseguisse chegar até aqui. Bem poderia dizer que essa trajetória teve participação
de uma enorme equipe de pessoas. Deixarei muitos nomes de lado para dedicar-me
àqueles a quem devo minha gratidão.
A Deus (como não citá-lo?), que concedeu-me tantas dádivas, e me preencheu
com coragem, força e inspiração em todos os momentos, mesmo os mais difíceis.
Serei eternamente grata pelo modo tão perfeito em que todas as coisas foram
dispostas em meu caminho, e nesse momento posso enxergar o Seu agir.
Ao meu orientador, prof. Charlley Luz, por sua imensa paciência, tendo
ajudado a trazer à tona todo o tema do trabalho, mesmo quando ainda se
encontrava em um caótico e vago estágio embrionário. Grata por sua direção
sempre segura, as sugestões mais do que úteis e pelas injeções de ânimo.
A todo o grupo universitário dos Convictvs. Vocês me receberam e apoiaram
incondicionalmente e em todos os sentidos, e sei que tenho em cada um irmão e
precioso companheiro de batalha. Sou grata pela vida de cada um de vocês, em
especial Mari, que tem me acompanhado e aconselhado sabiamente, tendo o seu
próprio TCC para fazer ainda por cima (a vitória é nossa!). Devo à Audrey e você
muito da pessoa que hoje sou. Grata a todos pela paciência em me ouvirem falar do
TCC todo dia e hora. Cris, você tem sido uma amiga incrível e surpreendente,
aprendo com você a cada dia, obrigada.
Agradeço a vocês, Paula, Cássia e Luciana, por terem sido minhas
companheiras por todo o período da pós, em todas as aulas, em todos os trabalhos,
até durante meus surtos de ansiedade. Sei que mais que colegas de trabalho tenho
em vocês amigas para a vida toda. Também agradeço a todos os colegas de classe,
Milena, Wagner, Alice, Sandra, Giuliane, Tayná, os dois Felipes e Andreia. Nenhuma
turma foi tão empenhada nem tão divertida. Enfrentamos juntos inúmeros percalços
(sabem do que estou falando) e espero que nos encontremos em breve. De
qualquer modo, vocês estarão sempre em minha memória (com duplo sentido
proposital).
Agradeço também à equipe do Centro de Documentação Musical Maestro
Eleazar de Carvalho e à direção da OSESP, ao permitir o acesso ao seu arquivo e
por serem tão diligentes e abertos ao compartilharem comigo toda a informação
sobre suas atividades e rotina de trabalho. A gentileza, a prontidão e o
profissionalismo de vocês são uma inspiração para todos os profissionais. Meu
muito obrigada à Thamiris, pois sem sua ajuda a visita não teria sido possível, e ao
César, por ter me exposto pacientemente todo o processo das partituras dentro do
arquivo e me guiado dentro dessa instituição monstro que é a OSESP. Igualmente
grata a Heron, Felipe, Guilherme, Leonardo e Rafael.
“Tudo está escrito numa partitura, exceto o essencial”.
Gustav Mahler
RESUMO

Trata da partitura musical enquanto documento arquivístico e seu ciclo de vida no


contexto das atividades de uma orquestra profissional. Apresenta as principais
tipologias de partituras e a formação tradicional de orquestra sinfônica, para que
sejam compreendidas as atividades de um arquivo musical. Expõe, a partir de
pesquisa bibliográfica, os conceitos e funções arquivísticas, explicando a
terminologia da área. Analisa o ciclo de vida das partituras musicais e as atividades
do Arquivo Musical pertencente ao Centro de Documentação da Orquestra Sinfônica
do Estado de São Paulo, realizando uma reflexão a respeito dos problemas
existentes no tratamento documental de partituras e a falta de padronização para tal
tratamento. Como principal achado, frisa a necessidade de interdisciplinaridade
entre Arquivística e Música, e do conhecimento especializado por parte dos
profissionais de arquivos de partituras a fim de identificar e recuperar a informação
contida nessa espécie de documento.

Palavras-chave: Arquivística. Funções arquivísticas. Arquivos musicais. Partituras.


ABSTRACT

It deals with the musical score as an archival document and its life cycle in the
context of the activities of a professional orchestra. It presents the main typologies of
scores and the traditional formation of symphony orchestra, so that the activities of a
musical archive are understood. It exposes, from bibliographic research, the
concepts and archival functions, explaining the terminology of the area. It analyzes
the life cycle of musical scores and the activities of the Musical Archive belonging to
the Documentation Center of the Symphonic Orchestra of the State of São Paulo,
performing a reflection on the problems in the documentary treatment of scores and
the lack of standardization for such treatment. The main finding, he emphasizes, is
the need for interdisciplinarity between Archival and Music, and the specialized
knowledge on the part of the professionals of music files in order to identify and
recover the information contained in this kind of document.

Keywords: Archival Science. Archival functions. Music archives. Music score.


LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIGURA 1 – DISPOSIÇÃO ESPACIAL DOS INSTRUMENTOS DA ORQUESTRA


FIGURA 2 – NAIPES DA ORQUESTRA
FIGURA 3 – PARTITURA DE REGÊNCIA – EXEMPLO
FIGURA 4 – PARTE PARA VIOLINO– EXEMPLO
FIGURA 5 – PARTITURA DE REGÊNCIA COM MARCAÇÕES
FIGURA 6 – PARTE PARA VIOLINO COM MARCAÇÕES
FIGURA 7 – ORCHESTRA PLANNING ADMINISTRATION SYSTEM – ARQUIVO
LISTA DE SIGLAS

FESPSP FUNDAÇÃO ESCOLA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA DE SÃO PAULO

ISAD (G) GENERAL INTERNATIONAL STANDARD ARCHIVAL DESCRIPTION

NOBRADE NORMA BRASILEIRA DE DESCRIÇÃO ARQUIVÍSTICA

OPAS ORCHESTRA PLANNING ADMINISTRATION SYSTEM

OSE ORQUESTRA SINFÔNICA ESTADUAL

OSESP ORQUESTRA SINFÔNICA DO ESTADO DE SÃO PAULO

PDF PORTABLE DOCUMENT FORMAT

SCIELO SCIENTIFIC ELETRONIC LIBRARY ONLINE

UFPB UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.........................................................................................................14

1.1 Objetivos..............................................................................................................15

1.2 Metodologia.........................................................................................................16

2 ELEMENTOS MUSICAIS.........................................................................................18

2.1 Orquestra.............................................................................................................18

2.2 Tipos de partituras..............................................................................................22

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA...............................................................................25

3.1 Documento e documento arquivístico..............................................................25

3.2 Ciclo de vida dos documentos de arquivo.......................................................27

4 A INSTITUIÇÃO – HISTÓRICO DA OSESP...........................................................29

5 O ARQUIVO MUSICAL...........................................................................................34

5.1 Criação e uso do documento partitura.............................................................35

5.2 O acervo do Arquivo Musical.............................................................................40

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS.....................................................................................43

REFERÊNCIAS...........................................................................................................45
14

1 INTRODUÇÃO

Dentre as diferentes formas de manifestação artística desenvolvidas pela


humanidade no curso de sua história, pode-se ter a música como, provavelmente, a
mais antiga, estando intrinsecamente ligada à cultura e à vida das mais diversas
civilizações, em todos os tempos e lugares. À música o homem atribuiu variados
usos: religioso, místico, militar, educativo, terapêutico, de entretenimento, abstrato,
dentre outros; fato é que o ser humano usa a música como meio frequente para a
expressão de sentimentos.
Derivada do grego musiké téchne – a arte, ou técnica, das musas – é definida,
em sentido lato, como a arte da organização de sons harmonizados e silêncio em
um determinado intervalo de tempo. É considerada uma arte temporal, ou “re
criativa”, o que quer dizer que sua existência é limitada ao tempo em que está
ocorrendo e que, portanto, cada vez que se apresenta é única:

Na definição clássica de que a música é uma arte “temporal”, tem-se


um corolário instigante: ao se apresentar enquanto tempo, a música se
propõe sempre como ação. Aduziria que é da essência da música ser
práxis, já que ela só existe enquanto é. (…). Vem daí porém que, ao
contrário, por exemplo, da pintura, que preexiste em sua realidade ao
ser apreciada por um expectador (o mesmo que lhe dá vida, ou
movimento), a música só se realiza em sendo enquanto se faz.
(SQUEFF, 1990, p. 47)

Por essa razão, para que possamos apreciá-la mais de uma vez e a
preservarmos como parte da cultura, da memória e como objeto de estudo, a música
necessita de registro em algum tipo de suporte. O registro escrito da música em um
suporte ganha o nome de partitura.
Constituída por uma série de sinais dentro de uma linguagem própria, a
partitura é, além de documento na concepção mais abrangente, como “qualquer
elemento gráfico, iconográfico, plástico ou fônico pela qual o homem se expressa”
(BELLOTTO, 2007, p. 35), o principal produto e ferramenta de trabalho das
orquestras, atualmente as mais relevantes intérpretes do repertório musical, tanto
15

erudito como popular. Para a realização de suas atividades, as orquestras


profissionais hoje mantém seus próprios acervos de partituras, com estas últimas
possuindo função e características de documentos arquivísticos, pois além de
oriundas de uma atividade (no caso, musical), possuem organicidade, unicidade,
proveniência, além de um ciclo de vida que as distingue. É com base nestas
características e princípios que a Arquivística se apresenta, sendo a responsável
pela organização, uso, guarda, preservação e difusão dos documentos de arquivo,
de sua produção até sua destinação final.
Este trabalho visa, por meio do estudo de caso das atividades realizadas no
arquivo de uma orquestra profissional, analisar o ciclo de vida de uma partitura
musical enquanto documento de arquivo, de sua produção e tramitação até a
finalização de seu objetivo, com a guarda ou eliminação, bem como as
particularidades desta espécie de documento.
O trabalho será apresentado em capítulos. No primeiro capítulo, propõe-se a
elucidar as diferentes tipologias de partituras, bem como da formação típica de uma
orquestra sinfônica, para melhor compreensão do funcionamento de um arquivo
musical nos capítulos seguintes. No capítulo seguinte serão descritos os preceitos
da ciência Arquivística, relacionando-os à partitura e apresentando-a como
documento arquivístico gerado na situação de uma ação, e por fim, exemplificando o
processo de uso com o tratamento dado às partituras dentro do Arquivo Musical do
Centro de Documentação da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo.

1.1 Objetivo

O presente estudo tem por objetivo geral realizar uma reflexão a respeito dos
arquivos de partituras e das peculiaridades referentes ao ciclo de vida documental
destas, exemplificando-o por meio de diagnóstico realizado no Arquivo Musical da
OSESP, com base no princípio arquivísticos das três idades.
A fim de atingir o objetivo mais amplo do trabalho, estabeleceram-se os
objetivos específicos abaixo:
16

a) Apresentar a formação e a disposição de orquestra sinfônica, assim como sua


hierarquia e as diferentes tipologias de partituras;
b) apresentar a partitura musical como documento de arquivo, relacionando-a aos
preceitos da Arquivística que a caracterizam como tal;
c) demonstrá-lo através do caso do Arquivo Musical do Centro de Documentação da
OSESP.

1.2 Metodologia

A metodologia consiste no estudo do método, no corpo de regras e


procedimentos estabelecidos para se realizar uma pesquisa, como afirmam Gerhardt
e Silveira (2009, p. 11). O presente estudo se caracteriza como pesquisa de técnica
de documentação direta, por realizar o levantamento de dados no próprio campo a
ser estudado, e como pesquisa de campo, pois se dedica a “observação de fatos e
fenômenos tal como ocorrem espontaneamente, na coleta de dados a eles
referentes e no registro de variáveis que se presume relevantes, para analisá-los”
(LAKATOS; MARCONI, 2010, p. 188).
A pesquisa se organizou da seguinte forma: iniciou-se um levantamento
bibliográfico a respeito da apresentação de partituras musicais na literatura da
Arquivologia, no acervo da biblioteca da Faculdade Escola de Sociologia e Política
de São Paulo (FESPSP), e logo depois em bases de dados online de periódicos, a
Scientific Eletronic Library Online (SciELO) e o Portal de Periódicos Científicos
Eletrônicos da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), em especial na revista
Archeion. Foi consultado também o periódico português Boletim do Arquivo da
Universidade de Coimbra.
Buscou-se, após o levantamento bibliográfico, uma orquestra – dando-se
preferência às profissionais – que não apenas possuísse um acervo de partituras,
algo como uma coleção, mas que desenvolvesse atividades características de
arquivo. A escolha do objeto de análise desta pesquisa recaiu então sobre o Arquivo
Musical do Centro de Documentação da OSESP, onde se realizou visita e entrevista
não-estruturada com seus profissionais, isto é, com roteiro de tópicos relativos ao
tema, porém sem estrutura formal.
17

Decidiu-se pela elaboração de um capítulo concernente à formação e


disposição de uma orquestra sinfônica, bem como sobre as tipologias de partituras
para melhor compreensão do trabalho, visto que a Música, bem como a Arquivística,
possui sua própria terminologia. Para tal, tomou-se como base para os conceitos o
Dicionário Grove de Música, o Dicionário de Termos e Expressões da Música, de
Henrique Autran Dourado, bem como Introdução à Música, de Otto Károly, este
último escolhido por sua abordagem didática.
Essa pesquisa se deu como evolução de tema já tratado pela autora em seu
Trabalho de Conclusão de Curso da graduação, e a um intento de aproximar a duas
áreas, Arquivística e Música. Se justifica também por esse ser um tema ainda não
aprofundado na literatura científica, carecendo de trabalhos dedicados ao assunto,
como se notou durante o levantamento bibliográfico.
18

2 ELEMENTOS MUSICAIS

Para melhor entendimento da análise da instituição pesquisada e das


atividades do Arquivo Musical, este capítulo tratará do histórico, formação,
disposição e hierarquia de orquestra sinfônica, assim como dos tipos de partitura,
pois a área musical, e nisso incluímos as orquestras, possuem sua própria
terminologia, da qual se exige conhecimento prévio por parte dos profissionais nela
envolvidos. Este capítulo baseia-se nas definições encontradas no Dicionário de
Termos e Expressões da Música, de Henrique Autran Dourado, no Dicionário Grove
e em Introdução à Música, de Otto Károly.

2.1 Orquestra

Compreende-se orquestra como um agrupamento organizado de instrumentos


musicais de corda com arco, com mais de um músico para interpretar cada parte,
podendo incluir instrumentos de sopro ou percussão. O termo advém do antigo
teatro grego (orkhéstra, “lugar de dança”), e “designava o espaço semicircular
situado em frente ao palco, onde o coro cantava e dançava” (DICIONÁRIO..., 1994,
p.685). Porém o termo só se aplicaria aos músicos em grupo por volta do século
XVIII da nossa era.
A origem da orquestra como conjunto musical propriamente dito remonta ao
Renascimento do século XVI, à música desenvolvida nas cortes do período e à
padronização dos grupos instrumentais e da fabricação dos próprios instrumentos.
Cabe dizer que ainda aí a formação fixa da orquestra ainda não existia, nesta havia
grande variação, de compositor para compositor. A formação atual da orquestra
ocorreria no século XVIII e se firmaria no século XIX, com o aumento no número de
instrumentos e consequentemente, na potência sonora.
Cabe ainda esclarecer os termos “sinfônica” e “filarmônica”, que costumam
ocasionar dúvidas. Ambos se referiam, há algum tempo, à orquestra profissional,
chamada sinfônica, e à amadora, chamada por sua vez de filarmônica. Hoje usa-se
“sinfônica” para se referir àquelas mantidas pelos órgãos públicos, e “filarmônicas”
para se referir às mantidas por organizações privadas. Em si, as orquestras não
19

diferem no que se refere à formação.


Uma orquestra atualmente possui constituição típica formada por, segundo o
Dicionário Grove, 32 violinos, 12 violas de braço, 12 violoncelos, 8 contrabaixos, 4
instrumentos dos sopros de madeira (flauta, oboé, clarinete e fagote), 8 trompas, 4
trompetes, 3 trombones, 1 tuba e percussão diversificada. O número de executantes
pode variar pouco e outros instrumentos serem acrescentados dependendo da peça
executada. Em outro caso, também dependendo da peça, pode ser acrescentado
um instrumento solista.

FIGURA 1 – DISPOSIÇÃO ESPACIAL DOS INSTRUMENTOS DA ORQUESTRA1

Fonte: Britânica escola.

Outras formações para orquestra são possíveis, como a de câmara, com


número de instrumentos e executantes reduzido (geralmente 18), para execuções
em locais fechados e/ou com acústica de alcance menor; e também os duetos, trios,
quartetos, quintetos e sextetos de instrumentos diversos. Conjuntos musicais para
execução de música barroca ou antiga também diferem em sua formação.
Tanto para organização quanto para aproveitamento e equilíbrio da acústica, a

1 Disponível em: <http://media.escola.britannica.com.br/eb-media/54/172354-073-93849607.jpg>.


Acesso em: 17 out. 2016.
20

orquestra encontra-se dividida em naipes, ou famílias. Naipe é “em um conjunto


instrumental ou vocal, grupo de executantes com o mesmo tipo de instrumento ou
classificação vocal” (DOURADO, 2004, p. 223). Os instrumentos integrantes de cada
naipe compartilham características comuns aos de sua família, da seguinte forma,
como afirma Otto Károly (2002, p. 143):

 Cordas: compõe-se dos instrumentos de arco, em que as cordas do


instrumento são friccionadas com uma vara flexível de madeira e crina de
cavalo, os de cordas beliscadas ou picadas, e os de teclado. Encontram-se
dentre eles o violino, a viola de arco, o violoncelo, o contrabaixo, a harpa, o
cravo e o piano. Os violinos estão divididos entre si como primeiros e
segundos violinos;
 Sopro: comumente são divididos entre madeiras e metais. Das madeiras
fazem parte a flauta, o oboé, o corne-inglês, o clarinete e o fagote. Os metais
são constituídos por trompa, trompete, trombone e tuba.
 Percussão: refere-se a todos os instrumentos que produzem som ao serem
diretamente golpeados ou sacudidos pelo executante. Compõe-se de
tímpanos, caixa clara, bombo, pratos, tamborim, triângulo, carrilhão, xilofone,
dentre outros.
21

FIGURA 2 – NAIPES DA ORQUESTRA2

Fonte: Audiophile News.

Dentro de uma orquestra encontramos também sua própria hierarquia,


representada pelo maestro ou regente no topo. O maestro é responsável pela
direção de uma execução musical através de gestos visíveis destinados a garantir
coerência e unidade de execução e interpretação, como afirma o Dicionário Grove.
Atualmente, a função do maestro se estendeu para além da regência musical,
incluindo toda a unidade de expressão artístico musical do grupo e, não raro, o
maestro titular de uma orquestra ocupa também o cargo de diretor artístico. Embora
no Brasil o termo italiano “maestro” seja o mais utilizado, o termo “regente” é
equivalente e também usado, embora mais recorrente em países de língua
anglófona.
Abaixo do maestro na hierarquia, encontra-se o chamado spalla. O spalla,
conforme definição do Dicionário Grove, designa o principal primeiro-violino de uma
orquestra, que se assenta na cadeira externa da primeira fila do naipe dos primeiros
violinos e é responsável pelas indicações técnicas dadas pelo maestro. O spalla
também pode executar trechos para violino solo, servir como regente substituto,
organizar o ensaio de cada naipe, sendo o elo entre a orquestra e a direção dela.

2 Disponível em: <http://2.bp.blogspot.com/


zQg6AtpzucU/TbhWweTpbqI/AAAAAAAAADw/E6aGMaWQ8XE/s1600/orquestra.jpg>. Acesso em: 17
out. 2016.
22

Logo após o spalla, hierarquicamente estão os chefes de naipe, que podem ser
descritos como sub-spallas, cada um responsável pelos ensaios e afinação de seu
próprio naipe de instrumentos, respectivamente.

2.2 Tipos de partituras

Pode-se entender partitura como a música em sua manifestação, ou registro,


escrita. Károly (2002, p. 179) a descreve como a “apresentação escrita da música
tocada por um conjunto, disposta de tal maneira que seu leitor possa ver todas as
partes e, portanto, toda a música (…)”. Dourado (2004, p. 702), nos dá uma
definição mais técnica, afirmando que partitura é a “forma de música escrita ou
impressa em que pentagramas são normalmente ligados por barras de compasso
alinhadas na vertical, de maneira a representar visualmente a coordenação musical”.
As partituras existem dos mais variados tipos e tamanhos, adaptadas para
atender à peça que se deseja executar. A lista de partituras abaixo foi composta
dando foco aos principais tipos, segundo Dourado:

 partitura de regência: partitura para orquestra contendo ao detalhes


completos de uma obra, tal como se pretende que seja executada. Também
chamada grade orquestral;
 partitura miniatura: impressa em formato de bolso, para uso particular;
 partitura aberta: mostra cada parte de uma composição em uma pauta
separada;
 redução para piano: arranjo para piano de uma composição para um
conjunto de instrumentos. Pode designar “partitura de canto e piano”, caso as
partes vocais constem na íntegra;
 partitura condensada: em que linhas instrumentais e/ou vocais dividem o
mesmo pentagrama.

As partituras destinadas à execução por orquestra formam um conjunto


composto pela partitura de regência e pelas partes, as partituras individuais para
cada músico, o chamado setting da orquestra. Em seguida temos dois exemplos de
partituras, uma para regência e outra parte para violino, ambas da Abertura de
23

Fidélio, de Beethoven:

FIGURA 3 – PARTITURA DE REGÊNCIA – EXEMPLO3

Fonte: www.dominiopublico.gov.br

3 Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/pm000252.pdf>. Acesso em: 3


nov. 2016.
24

FIGURA 4 – PARTE PARA VIOLINO– EXEMPLO4

Fonte: www.dominiopublico.gov.br

4 Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/pm000260.pdf>. Acesso em 3


nov. 2016
25

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A fim de se pensar a partitura arquivisticamente e caracterizá-la como


documento arquivístico, faz-se necessário apontar os principais preceitos e
definições da disciplina. O capítulo embasa-se nas concepções definidas por
Rosseau e Couture em Os Fundamentos da Disciplina Arquivística, Schellenberg em
Arquivos Modernos: Princípios e Técnicas, e Heloísa Liberalli Bellotto em Arquivos
Permanentes: Tratamento Documental.

3.1 Documento e documento arquivístico

Concebe-se documento como a “unidade de registro de informações, qualquer


que seja o suporte ou formato” (ARQUIVO NACIONAL, 2005, p. 72), ou seja, a
informação vinculada a algum tipo de suporte físico, independente de qual, em que
esteja registrada. Gomes (1967, p. 5) o conceitua como “(…) peça escrita ou
impressa que oferece prova sobre um assunto ou matéria qualquer”. Dito isso,
podemos afirmar que a humanidade, desde seus primórdios, teve o hábito e a
necessidade de manter o registro de suas atividades para uso futuro, tornando-se os
registros mais complexos e elaborados desde a invenção da linguagem escrita e de
sua evolução. É a partir desse momento que nascem os primeiros documentos
administrativos e os primeiros arquivos, numa linha histórica que remonta à Alta
Antiguidade no Oriente e se estende para o Ocidente, de onde derivam os usos
administrativos que originaram nossos comportamentos contemporâneos, como nos
afirma Gagnon-Arguin (1998, p. 30).
Entretanto, os documentos arquivísticos diferem dos demais documentos por
se definirem como aqueles produzidos e/ou recebidos por uma instituição ou pessoa
no decorrer de suas atividades, constituindo prova destas e revelando como foi
criado e como se deu todo o seu processo, podendo, como diz Duranti (1994, p.50),
estabelecer o seu sentido histórico.

Os documentos de arquivo são os produzidos por uma entidade


pública ou privada ou por uma família ou pessoa no tratamento das
funções que justificam sua existência como tal, guardando esses
documentos relações orgânicas entre si (…). Sua apresentação pode
ser manuscrita, impressa ou audiovisual; são em geral exemplares
26

únicos (…). (BELLOTTO, 2007, p.37).

Embora esta concepção nos remeta a documentos administrativos e jurídicos,


os de valor legal, afirma Paes (2006, p. 26), o aumento recente de novos tipos de
arquivos, uma gama variada de suportes e tipos documentais nos levam a uma
ampliação do conceito de documento arquivístico, que engloba também sua função
cultural e informativa. Schellenberg nos traz uma definição mais abrangente:

Todos os livros, papéis, mapas, fotografias ou outras espécies


documentárias, independentemente de sua apresentação física ou
características, expedidos ou recebidos por qualquer entidade pública
ou privada no exercício de seus encargos legais ou em função das
suas atividades e preservados ou depositados para preservação por
aquela entidade ou por seus legítimos sucessores como prova de suas
funções, sua política, decisões, métodos, operações ou outras
atividades ou em virtude do valor informativo dos dados neles
contidos. (SCHELLENBERG, 2006, p. 41)

Ainda dentro desta definição, o conceito de “entidade” a que Schellenberg se


refere é expandido, podendo bem ser associação comercial, igreja, liga, firma ou
família.
Os documentos arquivísticos também se distinguem por possuir uma série de
características inerentes a eles, segundo as quais pode-se analisá-los. Ei-las,
conforme Duranti (1994, p. 51-52):

 Imparcialidade: quer dizer que os registros documentais são “inerentemente


verdadeiros”, isto é, íntegros. As razões e as circunstâncias de sua criação e
produção certificam que não foram elaborados com o objetivo de serem
expostos ou para a posteridade, constituindo parte real dos fatos, não
estando sujeitos a interesses estranhos ao seu contexto.
 Autenticidade: quer dizer que os registros documentais são criados,
mantidos e preservados sob custódia segundo procedimentos regulares que
podem ser comprovados.
 Naturalidade: está ligada à acumulação contínua e progressiva, espontânea,
dos registros documentais dentro de suas atividades, sendo seu oposto a
coleção ou coleta artificial.
27

 Inter-relacionamento: refere-se à ligação dos documentos entre si, sua


interdependência, ocorrida no decorrer do andamento das transações e
conforme suas necessidades, sendo necessária à sua própria existência e
tornando-os um conjunto indivisível.
 Unicidade: quer dizer que cada registro documental assume um lugar único
dentro da estrutura à qual pertence.

3.2 Ciclo de vida dos documentos de arquivo

Dentro das bases da disciplina Arquivística, destaca-se o chamado ciclo de


vida ou ciclo vital dos documentos de arquivo como os três períodos, denominados
idades, correspondentes ao seu tipo de uso, frequência de consulta e prazo de
vigência ou legal. Trata-se de uma metodologia estratégica de organização e
recuperação da informação dentro dos arquivos:

O conceito de ciclo de vida transforma um conjunto de documentos


quantitativamente demasiado importante, desmedido em relação aos
meios que se dispõem para lhe fazer face, em subconjuntos que
apresentam diferentes características. Isto facilita uma redistribuição
dos documentos que compõe o conjunto e deixa entrever uma
problemática que é então possível abordar com pragmatismo e
alguma hipótese de sucesso. (COUTURE; ROSSEAU, 1998, p.111)

As três idades do ciclo de vida dos documentos correspondem às seguintes,


conforme definido por Couture e Rosseau (1998, p. 114-115):

 Arquivos correntes ou período de atividade: é a primeira fase da existência


do documento, em que é mantido para cumprir com a função para que foi
criado, sendo “indispensáveis à manutenção das atividades cotidianas de
uma administração”. Couture e Rosseau afirmam que estes documentos, por
seu uso frequente, devem permanecer o mais perto possível do utilizador,
sendo rápidos e facilmente acessíveis.
 Arquivos intermédios ou período de semiatividade: corresponde à fase
em que o documento ainda cumpre com sua função, mas que deve ser
mantidos por razões administrativas, legais ou financeiras, não tendo que ser
utilizados para assegurar a manutenção das atividades cotidianas da
28

administração, e não justificando ser mantido próximo ao seu utilizador.


 Eliminação ou conservação como arquivos definitivos ou período de
inatividade: corresponde ao período em que o documento deixa de ter valor
previsível para a organização que o produziu e terminou de cumprir com a
função para que foi criado, destinando-se à guarda definitiva, por seu valor de
testemunho, ou a sua eliminação.

Vemos então a passagem do documento, de sua criação, tramitação e


destinação final, por seu duplo valor, primário e secundário, sem os quais os
períodos de atividade e inatividade permaneceriam imprecisos. O valor primário está
relacionado à “razão de ser dos documentos”, segundo Couture e Rousseau (1998,
p. 117), baseado no uso imediato que lhe foi dado no momento de sua criação e
sendo algo temporário, enquanto que o valor secundário consiste em uma qualidade
mais subjetiva, baseado em um uso informativo, histórico ou investigativo, em seu
valor de testemunho, quando o documento já cumpriu com seu objetivo.
29

4 A INSTITUIÇÃO – HISTÓRICO DA OSESP

Tendo este estudo como proposta analisar o ciclo de vida do documento


partitura no contexto das atividades de uma orquestra, convém apresentar a
instituição custodiadora do arquivo em que a pesquisa foi realizada. Firmada como
importante órgão no cenário musical brasileiro, a Orquestra Sinfônica do Estado de
São Paulo – OSESP -, vêm ao longo de sua existência “lançando projetos criativos e
vanguardistas que, por alguns períodos, sustentaram o desenvolvimento de algumas
gerações de músicos e formaram grandes plateias” (MINCZUK, 2005, p. 8).
Criada oficialmente em 1954, embora tenha iniciado suas atividades já em
1953, pela Lei nº 2733 como Orquestra Sinfônica Estadual (OSE), promulgada pelo
então governador Lucas Nogueira Garcez, tendo como seu primeiro regente titular o
maestro, compositor e pianista João de Souza Lima. Há relativamente poucas
informações sobre a orquestra em seus primeiros anos, sabendo-se que sofreu
interrupções devido às dificuldades de encontrar músicos capacitados e por ter
baixos salários, como afirma Minczuk (2005, p. 16). A Orquestra passaria ainda por
dois períodos de recessão, ocorridos durante a regência do maestro Bruno Roccella:
de 1956 a 1964 e de 1967 a 1971, devido principalmente a problemas gerados pela
falta de um sistema eficiente de administração e de um orçamento, segundo Leite
(2014, p.44).
O ano de 1973 é marcado por uma total reestruturação da orquestra, com a
vinda do maestro Eleazar de Carvalho para o comando da OSE. Recém-chegado
dos Estados Unidos, o maestro possuía visão moderna e consciência do que a
orquestra necessitava, tanto artisticamente quanto em relação à sua administração,
para seu sucesso, tomando iniciativa, decisões para que as reformas realmente se
efetuassem, e passando confiança a seus músicos. Diz Minczuk (2005, p. 22), que
Eleazar de Carvalho “sabia dar autonomia para que o músico expusesse sua
concepção sobre a obra”. Deu-se início ao processo para contratação de novos
músicos e a ampliação das atividades da orquestra, com sua presença no Festival
de Inverno de Campos do Jordão, hoje consolidada como parte tradicional do
evento, e a transmissão das execuções da orquestra por emissoras públicas de
rádio e TV.
30

A orquestra contudo carecia de um local fixo para seus ensaios e


apresentações e, sem uma sede, transitou por uma série de espaços, a maioria
impróprios para execuções musicais de tal porte, entre eles o Cine Copan, Teatro
Cultura Artística, Teatro Sérgio Cardoso, Memorial da América Latina e Centro
Cultural São Paulo, até por fim ocupar o Teatro São Pedro, à época em péssimo
estado de conservação (MINCZUK, 2005, p. 23) e sem condições para sediar a
orquestra. Porém, com todas as dificuldades, as atividades da orquestra
prosseguiram, tendo sua programação de concertos apreciada por um grande
número de pessoas.
Em 1975 a orquestra conheceria novo período de crise, ocasionado por
problemas de ordem burocrática e política, existindo inclusive rumores a respeito de
uma possível dissolução da orquestra e movimentação dentro da Secretaria de
Cultura para a demissão do maestro, que acumulava as funções de Diretor Artístico
da OSE, do Theatro Municipal de São Paulo e do Festival de Campos do Jordão. A
fase má seria superada pela mobilização da classe artístico-musical em um abaixo-
assinado que reuniu mais de duzentas assinaturas, como as da pianista Guiomar
Novaes, Inezita Barroso, o diretor d'O Estado de São Paulo Rui Mesquita e de Leon
Spierer, spalla da Filarmônica de Berlim, e entregue a Paulo Egydio Martins, o então
Governador do Estado de São Paulo.
A Orquestra Sinfônica Estadual, pelo artigo nº1 do Decreto nº 11.557 de 12 de
maio de 1978, ganha novo nome, passando a se chamar Orquestra Sinfônica do
Estado de São Paulo, denominação que mantém até hoje. O texto que precede o
artigo, segundo Minczuk (2005, p. 27), alega que a antiga denominação “Orquestra
Sinfônica Estadual” não permitia distingui-la de outras quaisquer dos diferentes
Estados. 1978 também é o ano da primeira turnê nacional da OSESP.
Em 1980, o corpo de funcionários da OSESP, tanto músicos como
administrativos, passam a gozar de estabilidade nas relações trabalhistas, ao
integrarem o quadro de funcionários da Fundação Padre Anchieta, porém nova crise
se fazia anunciar, e que desembocaria na greve dos músicos em 1991, como afirma
Leite (2014, p. 41). Também na década de 1990 o maestro Eleazar de Carvalho
adoeceria, vindo a falecer em 1996, com grande comoção de músicos e artistas
brasileiros.
31

A crise que atingiu a OSESP durante a década de 1990 se aprofundaria com a


perda do maestro Eleazar de Carvalho, seu braço forte por vinte e três anos:

Os problemas de administração da orquestra já existentes há alguns


anos, agravaram-se e passaram a comprometer seu nível arístico.
Esses problemas expunham a falta de política cultural, e tinha como
consequência, por exemplo, os baixos salários e a falta de um local
para ensaios e concertos. (MINCZUK, 2005, p. 33).

A fim de que as atividades da OSESP tivessem prosseguimento, a Associação


dos Profissionais da OSESP (APOSESP) solicitou a nomeação de um Diretor
Artístico interino, no caso o regente-assistente Diogo Pacheco, até que os músicos,
por voto interno, indicassem três maestros dos quais um seria escolhido pela
Secretaria do estado da Cultura para assumir a Direção Artística da orquestra.
Assim, no final do ano de 1996, John Neschling, cujo nome já havia sido cogitado
pela Secretaria, foi eleito Diretor Artístico da Orquestra Sinfônica do Estado de São
Paulo.
Com base nas diretrizes desenvolvidas por Eleazar de Carvalho, foi
desenhado pelo novo maestro John Neschling um projeto para a ampla e total
reformulação da instituição, com o intuito de elevar a OSESP a nível internacional. O
projeto contava com os seguintes itens:

1) Construção de uma sala de concerto permamente; 2) triplicar os


salários dos músicos e; 3) através de concurso público, elevar o nível
do pessoal da Orquestra, eliminando dos quadros os menos
competentes e contratando músicos estrangeiros com um nível salarial
internacional. (GALL, 2000, apud MINCZUK, 2005, p. 39).

A implantação do projeto iniciou-se com a busca por um espaço que


atendesse às necessidades técnicas da sede da OSESP, entre espaços diversos
pertencentes à Secretaria do Estado da Cultura. Com o auxílio do engenheiro
acústico Chris Blair, decidiu-se transformar o edifício que abrigava a Estação Júlio
Prestes, da antiga Estrada de Ferro Sorocabana, em uma moderna sala de
32

concerto. Na ocasião o prédio encontrava-se degradado, passando por restauro e


adaptação estrutural e acústica, e hoje é considerada uma das casas de espetáculo
com melhor acústica no mundo, tendo ganho em 2000 o prêmio Honor Award do
United States Institute for Theatre Tecnology. Sobre a Sala São Paulo:

O imponente edifício da Estação de Ferro Sorocabana abriga hoje a


Sala São Paulo, sede da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo
e uma das mais importantes casas de concerto e eventos do país.
Tombada como patrimônio Histórico pelo CONDEPHAAT, a Sala São
Paulo foi inaugurada em 9 de julho de 1999, durante o governo Mário
Covas, tendo Marcos Mendonça à frente da Secretaria da Cultura.
(LEITE, 2014, p. 47).

A reestruturação da OSESP prosseguiu com o processo de seleção dos


músicos, primeiro mediante avaliação daqueles já pertencentes ao corpo da
orquestra, e depois provas externas para a contratação de novos músicos. Sobre a
administração desse período, Leite (2014, p. 45) afirma que a Secretaria da Cultura
responsabilizou-se pela contratação dos músicos e demais funcionários, contando
com o apoio da Fundação Padre Anchieta, amigos do Complexo Cultural Júlio
Prestes, Associação Paulista dos Amigos da Arte (APAA) e também a APOSESP. A
Editora Criadores do Brasil e o Centro de Documentação Musical Maestro Eleazar
de Carvalho – coordenado primeiro por Maria Elisa Pasqualini, e hoje sob a direção
do maestro Antônio Carlos Neves – são criados em 2000.
Nova etapa se inicia com a criação em 2005 da Fundação OSESP,
organização social que tem por missão “democratizar o acesso aos bens culturais
que produz e gere, razão pela qual prioriza os processos de criação e produção
cultural” (LEITE, 2014, p. 65).
A orquestra entra em novo período de mudanças a partir de 2009, com a saída
de John Neschling e as nomeações do maestro francês Yan Pascal Tortelier como
Regente Titular e Arthur Nestrovski como Diretor Artístico. Segundo Leite (2014, p.
45), “esse ano representou a consolidação das mudanças na área artística da
Fundação, com saldo muito positivo em relação ao contínuo processo de
reestruturação artística (...)”. A atual Regente Titular da OSESP é a americana Marin
33

Alsop, nomeada em 2011 pelo Conselho da Fundação OSESP, e também Diretora


Musical da orquestra, a partir de 2013.
Consolidada como verdadeiro polo a serviço da cultura no Estado de São
Paulo, a instituição hoje não abriga apenas a orquestra, como também o Coro da
OSESP, cujas atividades incluem execuções junto à orquestra e concertos a capella,
o Quarteto OSESP e a Academia de Músical, que procura oferecer “um curso com
alto grau de especialização de talentos em formação, em meio à escassez de cursos
dessa natureza no Brasil, assim como diante da necessidade de encontrar músicos
de orquestra brasileiros” (LEITE, 2014, p. 54).
34

5 ARQUIVO MUSICAL

Fundado no ano de 2000 como produto do projeto de reformulação da


Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo iniciado por Eleazar de Carvalho e
levado a cabo pelo maestro e diretor artístico John Neschling, o Arquivo Musical
compõe um dos três setores do Centro de Documentação Musical Maestro Eleazar
de Carvalho, que se propõe, em conjunto com a Editora Criadores do Brasil e a
Mediateca, preservar a memória musical brasileira e difundi-la, tornando-a acessível
a músicos e pesquisadores.
O Arquivo Musical foi criado a fim de atender às necessidades dos corpos
artísticos da OSESP – Orquestra, Coros e Quarteto – e de seus músicos. Segundo o
site da instituição, o Arquivo:

Gerencia, prepara e distribui aos músicos da Orquestra e dos Coros


as partituras devidamente revisadas – repassando as anotações,
dinâmicas, articulações e arcadas feitas pelos spallas, maestros e
chefes de naipe; o Arquivo também fornece suporte e materiais
didáticos aos professores e alunos da Academia de Música da OSESP.
(ORQUESTRA SINFÔNICA DO ESTADO DE SÃO PAULO, 2016).

Na visita realizada em 16 de setembro de 2016, constatou-se que o Arquivo


Musical conta em sua equipe de trabalho, ao todo com oito funcionários: cinco
profissionais com formação superior em Música, um estagiário graduando da mesma
área, uma secretária (sem formação musical) e um responsável pela seção de
áudio, que digitalizará as gravações de todas as apresentações dos corpos
artísticos. O conhecimento técnico-musical tem importância fundamental nas
atividades diárias do arquivo:

No arquivo de orquestra se faz necessário profissionais com tarefas e


habilidades específicas, cujas aptidões são fundamentais para a
compreensão da linguagem musical, sem deixar de ressaltar também
as importantes funções dos arquivistas no que diz respeito ao
tratamento da informação. (MELO; SOUSA, 2009, p. 6)

Entretanto, nenhum dos funcionários possui formação em Arquivística,


treinamento ou capacitação na mesma área, não tendo também trabalhado
35

anteriormente em arquivos, desconhecendo normas para gestão de documentos e


os princípios teóricos da área.

5.1 Criação e uso do documento partitura

Detectou-se que a principal atividade da instituição OSESP, realizar


apresentações musicais com repertório sinfônico, coral e de câmara, produz um
único tipo de documento: a partitura musical. A partitura musical, por não ser gerada
por ato jurídico ou administrativo, e portanto não possuir valor probatório, é
identificada por Bellotto (2002, p. 78) como “documento não diplomático informativo”.
Pode-se ainda assim, ser considerada um documento arquivístico, uma vez que,
como observam Souza e Souza (2014, p. 46), “a sua criação é realizada no curso
das atividades (…) de seu autor por razões culturais através de representações
gráficas fixadas em suporte de papel ou digital”.
As peças musicais que serão tocadas pela orquestra ao longo de uma
temporada que terá duração de um ano, são selecionadas através de um trabalho
de curadoria que pode durar até dois anos, e que envolve fora as Direções Artística,
Musical e Executiva da Fundação OSESP, também a Comissão Artística da
orquestra, a Associação de Coro, o spalla da orquestra, os consultores estrangeiros
da OSESP, e a Secretaria de Estado da Cultura, como afirma Nestrovski (2016, p.
5). Somente com o término do trabalho de curadoria da temporada as peças serão
solicitadas ao Centro de Documentação e se dará o processo de entrada do
documento, que se refere ao “ingresso do documento em arquivo, seja por
comodato, compra, custódia, dação, depósito, doação, empréstimo, legado,
permuta, recolhimento, reintegração ou transferência” (ARQUIVO NACIONAL, 2005,
p. 85).
Logo que o documento partitura é adquirido e dá entrada no Arquivo Musical, a
partitura de regência é entregue ao maestro e ao spalla da orquestra, que nele farão
diversas marcações referentes à dinâmica da obra, golpes de arco para
instrumentos de cordas, dentre outras, conforme sua interpretação da obra. Embora
a maior parte dos maestros e spallas faça as marcações à mão na partitura física,
alguns dão preferência por alterá-la digitalmente, em Portable Digital Format (PDF).
Feitas as marcações, a partitura de regência é entregue novamente ao Arquivo, que
36

se encarregará de reproduzir as marcações na parte de cada músico. Junto com a


partitura de regência, o Arquivo deve receber todas as anotações referentes ao
andamento da peça. Esse processo é chamado revisão musicológica. O Arquivo
Musical entregará as partes marcadas aos chefes de naipe, que as repassarão aos
músicos com as instruções.
FIGURA 5 – PARTITURA DE REGÊNCIA COM MARCAÇÕES

Fonte: acervo da OSESP.


37

FIGURA 6 – PARTE PARA VIOLINO COM MARCAÇÕES

Fonte: acervo da OSESP.

Essa fase, a de produção, tramitação e uso do documento partitura coincide


com a primeira idade do ciclo de vida do documento arquivístico ou Arquivo
Corrente, uma vez que são indispensáveis à manutenção da principal atividade da
orquestra e responde perfeitamente ao objetivo para o qual foi criado, conforme
38

Couture e Rousseau (1998, p. 115). A marcação da partitura pelos maestros e


spallas, e posteriormente sua reprodução nas partes pelo Arquivo, corresponde ao
processo de produção do documento, sua elaboração; seu uso frequente se
estenderá até a apresentação da peça pela orquestra, quando cumpre com seu
objetivo. Ainda dentro da fase Corrente, o Arquivo Musical produz as chamadas
cópias de estudo. Sendo que, por questões de segurança, nem a partitura de
regência e as partes originais não devem ser retiradas da orquestra, o Arquivo
produz fotocópias das partes originais e as envia aos músicos para que possam
levá-la consigo para estudo e ensaio.
Após o cumprimento do objetivo do documento partitura, com seu uso final, as
partituras originais são devolvidas ao Arquivo Musical, bem como todas as cópias de
estudo entregues aos músicos. Todos os originais são destinados à guarda
permanente, tanto pela possibilidade da reapresentação da peça no futuro quanto
pela memória da instituição, adquirindo valor secundário e entrando em sua terceira
idade, ou Arquivo Definitivo, segundo Couture e Rousseau (1998, p.116). O Arquivo
se encarregará da eliminação ou da guarda permanente das cópias de estudo junto
das originais segundo critérios preestabelecidos:

 Apenas cinco cópias de estudo do naipe de cordas serão arquivadas para


casos de emergência, sendo uma para cada instrumento (primeiro violino,
segundo violino, viola de arco, violoncelo e contrabaixo). Não se preservam
mais cópias de estudo desse naipe pelas variações que a própria anatomia
dos instrumentos permite que se faça na obra, sendo que cada spalla possui
seu modo de interpretá-la.
 Todas as cópias de estudo do naipe de sopros são arquivadas, por se tratar
de um naipe relativamente pequeno e cujas partes, devido à própria anatomia
do instrumento, não sofrem alteração.
 Todas as cópias de estudo de todos os naipes da orquestra são arquivados
no caso da regência de um maestro convidado.

O conjunto formado pela partitura de regência, as partes e as cópias de estudo


são identificados por notação (chamada pelos funcionários “número de tombo”,
39

devido à ordem de chegada no Arquivo) e são organizados por meio de uma


listagem elaborada em editor de planilhas Microsoft Office Excel, em que estão
registradas a notação, o nome da peça musical, o nome do compositor e a sigla da
editora de música. A General International Standard Archival Description, ISAD (G),
assim como a Norma Brasileira de Descrição Arquivística, NOBRADE, são
desconhecidas dos funcionários do Arquivo Musical. São igualmente desconhecidos
instrumentos de pesquisa, definidos como “ferramentas utilizadas para descrever um
arquivo, ou parte dele, tendo a função de orientar a consulta e de determinar com
exatidão quais são e onde estão os documentos” (LOPEZ, 2002, p. 10), como guias,
inventários e catálogos.
A OSESP como um todo faz uso de um software proprietário para
administração musical de orquestras, o Orchestra Planning Administration System
(OPAS). Este software possui, além de calendário a ser preenchido com todas as
atividades da orquestra, como ensaios, reuniões e apresentações, um banco de
dados a ser alimentado com o acervo da própria orquestra e uma área, denominada
“Arquivo”, para a descrição dos conjuntos de partituras dentro do arquivo. Estes dois
últimos começaram a ser alimentados recentemente, com base na listagem em
Excel já mencionada, por questões de ordem administrativa.
40

FIGURA 7 – ORCHESTRA PLANNING ADMINISTRATION SYSTEM – ARQUIVO

Os conjuntos são arquivadas em estantes de aço deslizantes, localizadas no


mesmo recinto em que trabalham os funcionários do arquivo, identificadas por
notação e acondicionadas em pastas de papel sulfite comum, algumas já
danificadas pelo uso e pela deterioração natural do papel. Há certo número de peças
antigas e raras, porém não recebem identificação especial e são arquivadas junto
das demais, sem receber cuidado ou tratamento para sua conservação, tampouco
acondicionamento especial. O local possui ar-condicionado e as prateleiras
encontram-se fora do alcance da luz solar, porém não há medição da temperatura
do ambiente ou dos níveis de luz.

5.2 O acervo do Arquivo Musical

Trata-se de um arquivo especial, pois gera um único tipo de documento, que é


adquirido fora da instituição. As partituras entram no acervo da OSESP através da
compra ou empréstimo da peça, constituída pela grade orquestral para o maestro e
o setting da orquestra, fornecido pelas editoras de música. A aquisição ocorre em
três modalidades diferentes:
41

 de compositores cujas obras estão sob direito de propriedade das editoras;


 de compositores cujas obras estão em domínio público;
 obras encomendadas de compositores novos, que são alugadas e devolvidas
após o uso.

No último caso, o direito de reprodução da peça é comprado pela Editora


Criadores do Brasil, e a partitura original é fotocopiada, tanto para uso da própria
Orquestra e posterior guarda pelo Arquivo Musical, como para republicação pela
editora citada.
O Arquivo Musical conta em seu acervo com:

 5117 peças de repertório orquestral;


 815 peças de repertório de música de câmara;
 169 métodos musicais para uso da Academia de Música.

Embora não exista uma política de segurança do acervo bem definida, o


acesso ao Arquivo Musical é restrito aos funcionários do mesmo, sendo permitida a
visita monitorada de pesquisadores, que deve ser agendada com antecedência, e os
visitantes identificados na entrada da sede da OSESP. Verificou-se o mesmo
procedimento de segurança e identificação para o ingresso em todo o interior da
sede, com exceção da sala de concerto, constatando-se ser uma política da
instituição como um todo, não exclusivo do Arquivo Musical. O acesso ao Arquivo é
vedado mesmo aos músicos da orquestra, que obrigatoriamente fazem a solicitação
de sua cópia de estudo pelo Portal do Músico no site da instituição. O acesso ao
portal, de igual maneira, possui restrição de acesso, limitada aos músicos e aos
funcionários do Arquivo. Foi permitido à autora que examinasse e fotografasse as
partituras revisadas, por alegar razão de pesquisa por se tratar de um documento
caracterizado como ostensivo, isto é, cuja divulgação não prejudica a instituição.
Por instrumentos de pesquisa arquivísticos serem desconhecidos do corpo de
funcionários do Arquivo Musical, bem como de sua direção, a instituição
desenvolveu um modo alternativo para que seu acervo fosse conhecido por outras
42

orquestras, pesquisadores e pelo grande público, através de sua própria editora


musical. A Editora Criadores do Brasil se dedica a publicar as peças que entram no
calendário de apresentações da OSESP, após o trabalho de revisão musicológica
realizado pelo Arquivo Musical. A Editora prioriza a publicação de peças de música
contemporânea, bem como de compositores brasileiros, comercializando-as de duas
formas: venda de materiais de câmara, partituras de bolso e materiais da orquestra
que já estejam sob domínio público e aluguel das demais obras (FUNDAÇÃO
OSESP, 2011, p. 12).
43

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta pesquisa realizou a análise do ciclo de vida documental de partituras


musicais, um documento com linguagem própria, no contexto das atividades do
arquivo de uma orquestra profissional. Por meio da exposição das particularidades
da tipologia deste documento se caracterizou a partitura como documento de
arquivo com enquadramento nos preceitos da área com o diagnóstico realizado no
Arquivo Musical do Centro de Documentação Eleazar de Carvalho, da Orquestra
Sinfônica do Estado de São Paulo se demonstrou o ciclo de vida deste documento.
Buscou-se uma interdisciplinaridade entre a ciência Arquivística e a área
musical ao longo de todo o estudo, visto que ambas possuem sua própria
terminologia e realidade, e os arquivos musicais permanecem um campo pouco
explorado pelos arquivistas, como constatou-se na busca por bibliografia. Estudos
com o tema ainda são poucos, não sendo identificados na Arquivística
procedimentos específicos para partituras musicais além dos descritos nesse
trabalho.
Assim, procurou-se no primeiro capítulo esclarecer a formação, disposição e
hierarquia de uma orquestra sinfônica, por meio de bibliografia específica da área,
mas com linguagem didática. Isto contribuiu para melhor compreensão das
atividades realizadas dentro do Arquivo Musical da OSESP, bem como dos
diferentes tipos de partituras que poderão ser encontrados em arquivos desta
natureza. O lidar com esse tipo de documento requer conhecimento específico por
parte do arquivista que, segundo Souza e Souza (2014, p. 50), “precisam se
adequar à documentação que está sob sua guarda para que possam ter bom
desempenho em seu trabalho e auxiliem os usuários a realizar suas pesquisas com
eficiência e rapidez”.
No capítulo seguinte procurou-se explanar sobre o conceito de documento
arquivístico, quais características o distinguem como tal e, em especial, seu ciclo de
vida. Aqui fez-se uma apresentação geral dos conceitos e princípios arquivísticos,
ainda que a redação se tornasse mais trabalhosa em razão das definições extensas
que era necessário sintetizar.
A visita e a entrevista realizadas no Arquivo Musical, o objeto de estudo,
44

exigiram planejamento, porém não houve dificuldade ao entrar em contato com a


instituição e ter acesso ao Arquivo e seu pessoal. O acervo da OSESP é constituído
por partituras de regência e partes, que com as cópias de estudo preservadas,
formam um conjunto.
A pesquisa se dedicou a investigar o fluxo documental, como as peças
musicais entravam no Arquivo e como se dava seu trâmite, que mostrou-se como o
verdadeiro ciclo de vida documental, com fase de Arquivo Corrente, em que as
partituras sofrem alterações de ordem musicológica, que podem ser identificadas
como a produção do documento, ou o uso final com a apresentação da obra pela
orquestra, até sua fase de Arquivo Permanente, com critérios para a guarda dos
conjuntos e eliminação das cópias de estudo.
Pela equipe do Arquivo Musical, há ainda uma grande lacuna no que tange à
descrição, recuperação e conservação dos documentos, que encontram-se
organizados de forma precária. A contratação de um profissional da área arquivística
ou capacitação dos funcionários traria melhoras para a gestão e a segurança da
recuperação dos documentos rápida e eficaz, sem o risco de perda que as
constantes atualizações do editor de planilhas em que foi elaborado o registro das
peças do Arquivo podem ocasionar.
A instituição também realiza a difusão de seu acervo, através da
comercialização das obras revisadas publicadas por uma editora ligada ao Centro de
Documentação. Essa alternativa sem dúvida contribui para a difusão e
conhecimento do acervo da OSESP entre orquestras, músicos e demais pessoas e
instituições ligados à música, mas ainda assim as atividades realizadas no Arquivo
Musical, cujo estudo seria de interesse para os profissionais de arquivo, e em
particular para a área de arquivos especiais, permanecem ignoradas. Cabe salientar
que as orquestras podem organizar seus arquivos por outros modos, não sendo
esse o único, porém conhecer e analisar uma em específico foi importante para se
relacionar com a teoria arquivística e verificar o fluxo de uso.
Verificamos assim a necessidade de pesquisas mais aprofundadas a respeito
da partitura como documento arquivístico, para se enxergar os arquivos musicais
como fontes de informação abundantes, tanto para o enriquecimento da Arquivística
quanto para a preservação da memória musical.
45

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