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A nova história do século XIX e a redescoberta da dimensão imaginária da

arquitetura (1)
Marcelo Puppi

Marcelo Puppi é professor do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Estadual de


Londrina, Mestre em História da Arte pela Unicamp e doutorando pela Universidade de Paris 1/Sorbonne.
Publicou Por uma História Não Moderna da Arquitetura Brasileira, Campinas, Pontes/CPHA-IFCH-
Unicamp, 1998

A história da história da arquitetura do século XIX é um objeto revelador. De um lado


porque ela permite compreender melhor as fontes da nossa própria concepção histórica da
arquitetura do período contemporâneo, concepção que foi moldada pelos primeiros
historiadores do movimento moderno, os quais, como sabemos, estavam mais interessados em
fabricar uma genealogia para as vanguardas do século XX que em compreender o passado.
De outro lado porque os estudos recentes sobre a arquitetura do século XIX operaram uma
viravolta metodológica de grandes conseqüências para a pesquisa em história da arquitetura e
cujos resultados ultrapassam o domínio da própria história para participar plenamente do
debate atual sobre o destino da arquitetura no século XXI. Invertendo o processo ocorrido nas
décadas de 70 e 80, quando a reabilitação do historicismo do século XIX foi em grande medida
promovida simplesmente para fundamentar a chamada arquitetura pós-moderna, a ampliação
do conhecimento sobre o assunto está agora, ao contrário, contribuindo para a reflexão sobre a
teoria e a prática contemporâneas da arquitetura. Longe de ser simplesmente o
reconhecimento de um problema já superado, o estudo da evolução metodológica da
historiografia do século XIX é portanto uma maneira de compreendermos melhor nosso próprio
tempo.

Nosso objetivo aqui não é desenvolver um panorama completo dessa evolução, que
será objeto de um estudo mais longo, mas apresentar o estado atual da pesquisa sobre a
arquitetura do século XIX e salientar o potencial crítico e teórico dos métodos e dos resultados
dessa pesquisa. De modo mais preciso, nosso objetivo é, primeiro, mostrar a emergência de
uma nova história cultural da arquitetura do século XIX e, segundo, mostrar que essa nova
história está contribuindo para a redescoberta da dimensão imaginária da arquitetura,
redescoberta por sua vez capaz de modificar a própria concepção e fundamentação teórica da
arquitetura e de originar, a curto e a médio prazo, novas práticas arquiteturais. O
reconhecimento dessa nova história do século XIX e de sua contribuição para a compreensão
da própria arquitetura contemporânea pode também contribuir, por contraste, para evidenciar o
quanto os especialistas ainda são tributários de uma imagem distorcida e formalista do
historicismo, tema que será desenvolvido no estudo mais longo sobre a evolução da
historiografia do período.

A renovação metodológica dos anos 90

Os anos 90 assistem a uma segunda e muito mais radical ruptura metodológica na


pesquisa sobre o historicismo do século XIX. A incorporação do período à história da arte nas
décadas de 70 e 80 tivera duas conseqüências principais: a ampliação dos problemas teóricos
da pesquisa e, mais importante, a consciência que a renovação metodológica tornou-se uma
condição fundamental para a compreensão ela mesma do objeto. Do ponto de vista das
questões teóricas, os historiadores trabalharam na direção de uma abertura cada vez maior ao
contexto histórico: da ênfase dada no final da década de 70 por Middleton e Watkin (2) às
doutrinas arquiteturais, passou-se uma década depois, com Van Zanten (3), ao estudo das
relações entre essas doutrinas e as teorias científicas e sociais da época.

Do ponto de vista metodológico, foi ficando cada vez mais evidente a necessidade de
se abordar o objeto de forma interdisciplinar, isto é, levando em consideração as demais áreas
da conhecimento e estabelecendo as conexões entre o pensamento arquitetural e os
esquemas cognitivos da época. A busca da interdisciplinaridade conduziu por sua vez à
relativização dos métodos particulares da história da arte e à aproximação aos métodos mais
complexos da história cultural, que é por definição uma disciplina interdisciplinar. Enquanto nas
décadas de 70 e 80 a arquitetura do século XIX fora incorporada à história da arte, na década
de 90 os pesquisadores propõem-se a inseri-la no território mais vasto da história cultural,
dando um segundo e decisivo passo para o aprofundamento de sua compreensão. Longe de
ser um simples efeito de moda intelectual, essa inserção e o deslocamento metodológico que
ela implica foram fruto do próprio alargamento dos problemas teóricos da pesquisa e
terminaram por modificar significativamente o conhecimento sobre o período.

A própria emergência da história cultural já constitui um deslocamento metodológico no


conhecimento da história geral. Tomando como referência a definição do historiador francês
Roger Chartier, a história cultural pode ser definida como uma história das representações, isto
é, a história da maneira como os indivíduos e a sociedade concebem (representam) a realidade
e de como essa concepção orienta suas práticas sociais. Segundo Chartier, o método da
história cultural significa a substituição da tradicional história social da cultura, que privilegia as
chamadas estruturas econômicas e sociais na análise da produção material e cultural das
civilizações, por uma história cultural do social, que ao contrário considera o imaginário social
como a fonte das ações individuais e coletivas, materiais e culturais. Esse verdadeira ruptura
metodológica no estudo da história implica igualmente a redefinição do próprio conceito de
cultura: esse conceito não se limita mais à chamada cultura intelectual e artística, mas passa a
englobar toda a produção social, no sentido preciso de que tudo é cultural, isto é, de que toda
prática individual ou coletiva tem uma matriz cultural e só pode ser compreendida como
produto de uma determinada representação do mundo. A expressão “o mundo como
representação” sintetiza justamente para Chartier o método da história cultural (4).

O programa de inserir a arquitetura no território da história cultural tem portanto


conseqüências fundamentais. Vale a pena transcrever, a esse respeito, um balanço do
resultado das pesquisas realizadas na década de 90 e que resume as comunicações
apresentadas em um colóquio reunindo os especialistas no assunto. “O estudo da arquitetura
do século XIX atingiu um estágio no qual se opera uma virada metodológica; duas gerações de
historiadores e de críticos da arquitetura reabilitaram esse século que havia sido reduzido a
uma caricatura pelas polêmicas do modernismo arquitetural. Esta reabilitação desembocou em
uma representação muito mais complexa das questões teóricas e em uma redefinição formal
do período. Nestes últimos anos, vários pesquisadores – sobretudo os historiadores mais
jovens atraídos pelo século XIX – começaram a pôr uma série de questões cada vez mais
interdisciplinares, procurando situar os principais temas e desafios do pensamento e da prática
arquiteturais no contexto das preocupações culturais e epistemológicas mais vastas do
período. Ao invés de uma época de revivalismo banal, o século XIX poderia agora ser
caracterizado como um dos períodos de experimentação mais dinâmicos da história da
arquitetura, um período que explorou continuamente o próprio estatuto epistemológico da
arquitetura enquanto disciplina, um período que pôs em questão sua própria autonomia
procurando novas alianças ou inspirações em outra disciplinas, sejam modos de interrogação
ou sistemas de classificação” (5). Completando as observações acima, pode-se acrescentar,
primeiro, que no conjunto esses estudos já constituem uma nova história da arquitetura do
século XIX e, segundo, que o período tornou-se um caso exemplar na pesquisa em história da
arquitetura, tanto do ponto de vista metodológico quanto do ponto de vista do conhecimento
produzido sobre essa história. De período desprezado a uma das épocas mais dinâmicas,
complexas e esclarecedoras da história da arquitetura, eis em suma a fortuna crítica do século
XIX.

O sinal mais evidente da constituição da nova história cultural da arquitetura é a


emergência de novos objetos de pesquisa. Conseqüentemente, o panorama desses novos
objetos representa muito melhor o trabalho da década que a apresentação um a um dos
autores e obras publicadas nos anos 1990. Três novos objetos se destacam nesse conjunto: a
ligação entre a teoria da arquitetura e as ciências da época; a relação entre o pensamento
arquitetural e as teorias históricas contemporâneas; a influência do pensamento utópico sobre
a teoria e a prática dos arquitetos. Os paralelos existentes entre a teoria da arquitetura e os
modelos de interpretação do real formulados pela ciência constituem de longe o objeto mais
novo e mais revelador dos resultados obtidos pelos novos estudos sobre a arquitetura do
século XIX. De modo mais preciso, as principais pesquisas se dedicaram a estabelecer a
relação entre a teoria racionalista e as ciências biológicas, mostrando que a cultura
arquitetônica esteve como nunca aberta às questões científicas e tecnológicas de seu tempo.
Não se trata aqui de refazer a genealogia da modernidade insistindo na influência da
industrialização e dos novos materiais sobre a forma arquitetônica, mas, ao contrário, de
compreender e demonstrar que a arquitetura rompe os limites de seu território disciplinar para
procurar participar das transformações culturais mais gerais e mais profundas da época e por
sua vez contribuir, usando diferentes estratégias técnicas e estéticas, para a realização do
potencial dessas transformações (6).

A ambição de contribuir para a realização do potencial material, artístico e intelectual


da época nos conduz ao segundo objeto, a apropriação pelos arquitetos das teorias históricas
contemporâneas. Esse novo objeto desvendou igualmente aspectos até então praticamente
ignorados da teoria e da prática do período, e isso é tanto mais surpreendente que a história é
uma preocupação evidente dos arquitetos no século XIX, sejam eles ecléticos ou racionalistas.
Mas a história tinha sido até então considerada um refúgio formalista dos arquitetos para
defender a autonomia do seu trabalho contra as ameaças das transformações técnicas e
sociais do presente. As novas pesquisas revelam exatamente o contrário, isto é, que o
mergulho na história visava justamente inserir a arquitetura no fluxo do tempo que conduzia
ininterruptamente a humanidade para o futuro. Como participar das mudanças bruscas e
aceleradas da história sem compreender o sentido desse fluxo, sem saber de onde viemos e
para onde estamos sendo levados? São essas interrogações que as teorias históricas e
filosóficas contemporâneas procuravam responder, e são essas respostas que os arquitetos
buscam nessas teorias que eles incorporam às suas próprias reflexões. Através da
reconstituição dessas mediações, foi possível demonstrar que na teoria e na prática
arquiteturais do período a visão histórica não era um fim, mas, uma vez mais, um meio
essencial para, primeiro, compreender uma realidade dinâmica e, segundo, para assegurar a
possibilidade da arquitetura participar ativamente desse fluxo cada vez mais dinâmico. Em
suma, esse novo objeto contribuiu para revelar que o historicismo do século XIX foi uma
concepção inteiramente nova e original da arquitetura, uma concepção que visava ultrapassar
os limites tradicionais da autonomia disciplinar para inseri-la plenamente no dinamismo técnico
e cultural da sociedade moderna (7).

O terceiro objeto, a relação entre o pensamento utópico e a arquitetura, é o mais


recente e permite dar um passo ainda mais longo que a revisão histórica já proporcionada
pelos dois outros novos objetos. O tema não é propriamente uma novidade no domínio da
arquitetura, pois, como se sabe, as vanguardas do século XX têm um forte componente
utópico, e o assunto já foi objeto de alguns poucos estudos (8). Mas não se trata de mesma
utopia, isto é, não se trata da mesma abordagem do problema. Nos livros de história da
arquitetura e do urbanismo moderno, que lhe seja atribuído um valor positivo ou negativo, a
influência da utopia é considerada do ponto de vista exclusivo da forma. Ou melhor, parte-se
do princípio que a única relação possível entre a utopia e a prática arquitetônica está no plano
da forma, restringindo-se drasticamente dessa maneira o âmbito do problema. Na perspectiva
da história cultural, a questão toma dimensões bem mais amplas e mais profundas. Longe de
se limitar à prefiguração espacial da sociedade do futuro, aspecto certamente mais visível mas
que é apenas a ponta do iceberg, o pensamento utópico aparece como um projeto de
transformação radical do imaginário social, e isto através da instauração de uma nova relação
entre teoria e prática, ou, nos termos da própria história cultural, entre as representações
mentais e as práticas sociais. Trata-se portanto não da simples redescoberta de um velho
tema, mas da constituição de um novo objeto de pesquisa capaz de lançar novas luzes sobre a
história da arquitetura, tanto do período em questão como também do século XX.

Apesar do caráter aparentemente abstrato do objeto, a abordagem da história da


arquitetura a partir da questão do imaginário social mostra na prática um grande potencial
teórico. Primeiro porque as próprias teorias científicas e históricas que alimentam no século
XIX a concepção da arquitetura estão fortemente impregnadas pelo pensamento utópico, razão
pela qual o estudo da influência da utopia contribui para aprofundar ainda mais a compreensão
da relação entre a teoria e a prática arquiteturais e os modelos epistemológicos de
interpretação da realidade formulados no período. Segundo porque através desse estudo é
possível verificar e estabelecer concretamente as mediações entre os esquemas cognitivos da
época e a formulação de um novo conceito de arquitetura, documentando e esclarecendo seus
fundamentos. Terceiro porque essa perspectiva revela o papel mais profundo atribuído à
intervenção arquitetônica na sociedade industrial, a saber, que essa intervenção pretende agir
mais no plano do imaginário ele mesmo que no plano puramente técnico e funcional. Trata-se
aqui da descoberta de uma dimensão até hoje completamente ignorada da cultura arquitetural
do século XIX, e ainda pouco conhecida no que se refere tanto aos demais períodos da história
da arquitetura quanto ao presente. Quarto porque, em conseqüência, o estudo da dimensão
utópica ou imaginária da arquitetura mostra todo o potencial cultural atribuído à sua prática
pelos próprios arquitetos da época contemporânea, primeiro pelos historicistas e racionalistas
do século XIX e em seguida pelas vanguardas do início do século XX (9).

Tudo somado, os três novos objetos revelam um século XIX até então completamente
desconhecido dos historiadores da arquitetura. Ao invés de um intervalo irrelevante, formalista
e acadêmico na história da arquitetura, surge um período dinâmico e complexo, voltado à
“contínua experimentação sobre a própria natureza da arquitetura, sua capacidade de
representar e de comunicar, e mesmo sua capacidade de afetar e modelar o comportamento”
(10). A nova história cultural da arquitetura, cuja emergência, vimos, é fruto da complexidade
aos poucos descoberta do século XIX, tornou-se um campo de prova da renovação
metodológica da pesquisa em história da arquitetura, e apresenta-se hoje como um dos
canteiros mais produtivos e fecundos dessa pesquisa (11). Não é exagero dizer que os estudos
sobre o século XIX são hoje um modelo metodológico para a prática da história da arquitetura,
e particularmente no que concerne a pesquisa sobre a arquitetura moderna e contemporânea.
E mais ainda, esses estudos podem também contribuir para a formulação da nova concepção
da arquitetura que está emergindo no início do século XXI, após os sinais cada vez mais
evidentes das insuficiências dos ideais moderno e pós-moderno.

A redescoberta da dimensão imaginária da arquitetura

No balanço final do percurso que fizemos acompanhando a evolução metodológica da


historiografia da arquitetura do século XIX, pode-se dizer que, no estado atual desse processo,
a situação inverteu-se completamente em relação ao modo como esse passado foi
considerado ao longo de quase todo o século XX: se entre 1930 e 1980 sua abordagem
decorreu pura e simplesmente de uma estratégia destinada a promover os princípios da
arquitetura moderna e pós-moderna, e cujo resultado foi a construção e a difusão de uma
imagem completamente distorcida do período, hoje é a história do século XIX que, ao contrário,
é uma fonte teórica potencial para a compreensão da arquitetura do presente. Ou, em outros
termos, as questões que os arquitetos do século XIX se puseram e as respostas por eles
encontradas para dar conta de uma sociedade dinâmica e complexa são ainda plenamente
atuais e têm muito a nos ensinar sobre o papel da arquitetura em nosso próprio momento
histórico. Certo, a reflexão teórica sobre a arquitetura contemporânea não começou nem se
limita, longe disso, aos resultados da pesquisa sobre o século XIX, mas os problemas
desvendados por essa pesquisa constituem hoje, sem dúvida, uma das fontes mais ricas para
o esclarecimento dos objetivos teóricos e práticos da arquitetura em uma era na qual o
imaginário ele mesmo da sociedade está em plena transformação.

A nova história cultural do século XIX mostra justamente que a nova concepção
historicista da arquitetura fundamentava-se na possibilidade e na capacidade da arquitetura de
interagir com o imaginário coletivo. Na perspectiva do século XIX, a interação profunda da
arquitetura com a cultura de seu tempo pressupunha que sua própria teoria se elevasse ao
nível dos ideais e dos esquemas cognitivos elaborados pelas ciências mais avançadas de seu
tempo, naturais e históricas. Isso não significava entretanto que a nova arquitetura deveria
transformar-se ela mesma em uma ciência, mas, ao contrário, que essa era uma condição
essencial para que ela pudesse contribuir segundo sua natureza artística para o florescimento
do potencial da sociedade moderna. Alimentando-se dos modelos de interpretação do real
elaboradas pela ciência contemporânea, a arte e a arquitetura em particular tornavam-se, aos
olhos do historicismo, capazes de ultrapassar os limites da própria razão para atingir, através
da imaginação estética, um novo patamar da consciência da natureza e da sociedade, isto é,
uma consciência a um só tempo racional e intuitiva do mundo, uma nova consciência que seria
finalmente capaz de transformar, aperfeiçoando-a, a sociedade.

Mergulhando em uma realidade dinâmica e complexa para compreendê-la, o


historicismo do século XIX visava portanto aperfeiçoá-la liberando todo o potencial material e
intelectual da época. Visava porém regenerá-la não por meio da forma, da técnica ou da
funcionalidade, mas agindo diretamente sobre o imaginário coletivo: desse ponto de vista, a
imaginação estética, e apenas ela, teria o poder de estimular e transformar o imaginário,
iniciando uma reação em cadeia suscetível de conduzir a uma nova consciência do mundo e,
conseqüentemente, a uma nova ordem social mais elevada, mais justa e mais perfeita. Que no
século XIX a imaginação estética se manifeste na forma de uma imaginação histórica, isso era
fruto de uma estratégia para potencializar o poder de ação da arquitetura sobre o imaginário
coletivo e faz parte do contexto cultural da época. Seguindo nisso a lição do historicismo, no
século seguinte as vanguardas substituem a força evocativa da imaginação histórica pela
evidência demonstrativa da imaginação técnica, mas ao preço de reduzir paradoxalmente o
papel cultural da arquitetura. Na época atual de incertezas, a redescoberta da dimensão
imaginária da arquitetura pela nova história cultural do século XIX pode ser assim uma
contribuição valiosa para uma compreensão mais profunda tanto dos fundamentos da
arquitetura quanto do caminho para assegurar sua interação com o fluxo da história.
Notas

1 Este texto constitui a parte final de um artigo mais longo e cuja publicação deve ainda demorar. Como a
parte final do artigo é relativamente independente e trata de questões atuais que interessam tanto à
metodologia de pesquisa em história da arquitetura quanto ao debate sobre os fundamentos teóricos da
disciplina, pode ser útil publicá-la separadamente.

2 R. Middleton e D. Watkin. Neoclassical and 19th Century Architecture. Londres, Academy Editions,
1980. A obra foi publicada pela primeira vez na tradução italiana, com o título Architettura dell’Ottocento,
Milão, Electa, 1977. Traduzido para o francês com o título Architecture Moderne. Du néo-classicisme au
néo-gothique. 1750-1870, Paris, Berger-Levraut, 1983.

3 D. Van Zanten. Designing Paris. The Architecture of Duban, Labrouste, Duc and Vaudoyer. Cambridge
(Mass.), MIT Press, 1987.

4Para a definição do método e dos problemas da história cultural, ver R. Chartier, Au Bord de la Falaise.
L’Histoire entre Certitudes et Inquiétude, Paris, Albin Michel, 1998, e particularmente o capítulo “Le monde
comme représentation”, pp. 67-86.5

5 Coletivo, L’Architecture, les Sciences et la Culture de l’Histoire au XIXe Siècle, Saint-Etienne,


Publications de l’Université de Saint-Etienne, 2001, texto da contracapa. Os trabalhos reunidos nessa
obra formam um verdadeiro panorama da evolução recente da pesquisa sobre a história da arquitetura do
século XIX.

6 Sobre a relação entre arquitetura e ciência no século XIX, ver C. Van Eck, Organicism in Nineteenth-
Century Architecture, Amsterdam, Architectura & Natura Press, 1994; L. Baridon, L’Imaginaire Scientifique
de Viollet-le-Duc, Paris, L’Harmattan/U.S.H.S., 1996; M. Bressani, Science, Histoire et Archéologie.
Sources et Généalogie de la Pensée Organiciste de Viollet-le-Duc, Tese de Doutorado, Universidade de
Paris-Sorbonne/Paris IV, 1997.

7 Sobre a relação entre arquitetura e teoria histórica, e também para a nova abordagem do historicismo,
ver B. Bergdoll, Léon Vaudoyer. Historicism in the Age of Industry, Nova York, The Architectural History
Foundation; Cambridge (Mass.)/Londres, MIT Press, 1994; M. Bressani, Science, Histoire et Archéologie.
Sources et Généalogie de la Pensée Organiciste de Viollet-le-Duc, op. cit.; Coletivo, L’Architecture, les
Sciences et la Culture de l’Histoire au XIXe Siècle, op. cit.; R. Dubbini (org), Henri Labrouste 1801-1875,
Milão, Electa, 2002.

8 Sobre a dimensão utópica das vanguardas, ver F. Choay, O Urbanismo. Utopias e Realidades, São
Paulo, Perspectiva, 1979; e M. Tafuri, Projecto e Utopia. Arquitectura e Desenvolvimento do Capitalismo,
Lisboa, Editorial Presença, 1985.

9 Sobre a influência do pensamento utópico na teoria arquitetural do século XIX ver M. Saboya, Presse et
Architecture au XIXe Siècle. César Daly et la Revue Générale de l’Architecture et des Travaux Publics,
Paris, Picard, 1991; B. Bergdoll, Léon Vaudoyer. Historicism in the Age of Industry, op. cit.; e
principalmente A. Picon, Les Saint-Simoniens. Raison, Imaginaire et Utopie, Paris, Belin, 2002, pp. 223-
296. A tese de doutoramento do autor, em fase de conclusão, é também uma contribuição ao estudo da
dimensão utópica da arquitetura no século XIX.

10 B. Bergdoll, European Architecture. 1750-1890, Oxford/Nova York, Oxford University Press, 2000, p. 3.

11 Sobre o estado dos problemas e métodos de pesquisa em arquitetura, ver A. Picon, “Architecture,
sciences et techniques. Problématiques et méthodes”, Les Cahiers de la Recherche Architecturale et
Urbaine, nos 9-10, janeiro de 2000, pp. 151-160. No Brasil, por enquanto apenas a história urbana
beneficiou-se diretamente da renovação metodológica na pesquisa sobre o século XIX. Ver Heliana A.
Salgueiro, La Casaque d’Arlequin. Belo Horizonte, une Capitale Éclectique au 19e Siècle, Paris, Éditions
de l’École des Hautes Études en Sciences Sociales, 1997, texto ainda não traduzido para o português.

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