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Decisões entre pesquisas quali

e quanti sob a perspectiva de


mecanismos causais*

Charles Kirschbaum

Introdução (ver, por exemplo, Alexander, 1987), o sentimento


de fragmentação persiste (Ianni, 1990). De forma
Os intermitentes “debates paradigmáticos” na correlata, os desencontros paradigmáticos são tra-
sociologia são constitutivos do campo. Como já duzidos para embates entre métodos (Cano, 2012).
apontado por Lee e Wallerstein (2000), a sociologia Nesse artigo, reforço a ideia de que a escolha de
encontra-se entre as ciências naturais e as humani- método não é univocamente ligada à escolha pa-
dades, e provavelmente nunca obteremos ou dese- radigmática. Seguindo nessa linha de pensamento,
jaremos um consenso epistemológico. Os debates abordo a questão de escolha de método sob a abor-
paradigmáticos não se referem apenas aos pressu- dagem de “mecanismos causais”. A escolha de um
postos epistemológicos (condições de aquisição de escopo reduzido é proposital: ao mesmo tempo em
conhecimento), mas traz aspectos normativos na que a escolha dessa abordagem ilustra bem a possi-
aquisição e utilização do conhecimento. Ao mesmo bilidade de combinação de métodos, ela mantém
tempo em que os debates paradigmáticos encon- nossa discussão focada, permitindo aprofundamen-
tram esforços de sínteses e discussões metateóricas to. Ao final do artigo, retornarei a essa escolha ba-
silar, remetendo aos possíveis desenvolvimentos e
* Agradeço Eduardo Marques, Renata Bichir, Nadya
Guimarães e Sérgio Lazzarini pelas discussões que me conexões com outras abordagens.
levaram à elaboração deste texto. Gostaria de dedicá-lo A escolha de entre métodos quali e quanti é em
aos meus orientandos. geral subordinada à discussão entre paradigmas de
Artigo recebido em 12/01/2011 construção de conhecimento nas ciências sociais, le-
Aprovado em 03/04/2013 vando frequentemente a dogmatismos: “Pior ainda­
RBCS Vol. 28 n° 82 junho/2013

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do que as críticas infundadas ou parciais de que produtivo manter a percepção de uma relação uní-
quantitativo-qualitativo é um binômio antitético, voca de paradigma e método. Especificamente, esse
perante o qual é preciso optar” (Cano, 2012, p. 115). artigo aprofunda a discussão sobre a necessidade do
Pesquisas quali são tradicionalmente associadas a uso de métodos quali em pesquisas que almejam
interesses de pesquisa tipicamente subjetivistas. Em a construção de mecanismos causais ao identificar
contraste, pesquisas quanti geralmente respondem instâncias onde as pesquisas quanti produzem re-
às exigências do paradigma “positivista”,1 cujo inte- sultados ambíguos ou de difícil interpretação. Em
resse de pesquisa é centrado no estabelecimento de contraste com uma visão demasiadamente simples
leis causais. da relação entre “paradigma”, “questão de pesquisa”
Manicas (2006) identifica os “mecanismos e “escolha de método”, busco mostrar a importância
causais” como uma abordagem central para a pro- de rever esses vínculos.
posição e o estabelecimento de relações causais. Sob Esse artigo está estruturado da seguinte forma.
essa perspectiva, a escolha de metodologias quali Recupero brevemente o debate entre pesquisadores
pode ser subordinada às necessidades de estipulação que adotam abordagens qualitativas e quantitati-
de relações causais, nem sempre possíveis a partir vas, demarcando clivagens e tentativas de síntese.
de abordagens quanti. Esse artigo busca repensar a A seguir, introduzo a perspectiva de “mecanismos
escolha de método a partir do pressuposto adotado causais” que orientará a discussão subsequente. Na
por uma comunidade crescente de pesquisadores seção seguinte recupero a discussão de escolha de
em ciências sociais. metodologia, agora informada pela ideia de meca-
A discussão sobre “mecanismos causais” tem nismos causais. Ofereço exemplos de metodologias
sido expandida nas ciências sociais (Tilly, 2001; mistas recentemente desenvolvidas que respondem
Mahoney e Goertz, 2006; Ragin, 2006; Gerring, a essa perspectiva. Por fim, retorno à escolha de
2007; Przeworski, 2007; Hedström e Ylikoski, “mecanismos causais” como uma forma produtiva
2010) devido à tentativa de reconciliar a aborda- de discutir a decisão de método.
gem histórica com a identificação de leis universais.
Ou seja, cientistas sociais buscam construir co-
nhecimento que seja a um só tempo “histórico” e Paradigmas e métodos
“científico generalizável”. A abordagem “histórica”
é necessária à ciência social porque eventos únicos e O embate entre métodos quanti e quali acom-
raros como revoluções podem ser explicados como panha matizes distintas de oposições entre abor-
resultado da combinação de uma série de processos dagens teóricas na sociologia. Nessa seção, abordo
que se desenvolvem em paralelo e em longos perío- algumas das clivagens e debates. Uma das aborda-
dos de tempo (Sewell, 2005). Mas ao contrário dos gens mais tradicionais é associada ao choque entre
historiadores, os cientistas sociais buscam encontrar as perspectivas “positivistas” e “interpretacionis-
padrões que possam tornar generalizável o entendi- tas”, nascidas no século XIX (Ringer, 2000; Cano,
mento dos processos (Goldthorpe, 2007). 2012).2 Enquanto os primeiros insistiam em com-
A necessidade de posicionar a abordagem histó- parabilidade e estabelecimento de leis universais e
rica-processualista como central no estabelecimen- neutras em relação ao objeto, os últimos defendiam
to, na revisão e no aprimoramento dos mecanismos a especificidade dos casos. Tentativas de síntese
causais produz dois efeitos importantes. Em primei- eram, antes de tudo, rejeitadas com justificativas
ro lugar, é possível repensar os desenhos de pesquisa ideológicas (Skidelsky, 2009).3
que se propõem a estabelecer estruturas causais para Podemos localizar nos estudos da sociologia da
que introduzam abordagens quali. Por outro lado, ciência tentativas de abordar qualitativamente fenô-
podemos rever a percepção cristalizada entre vários menos tradicionalmente tratados de forma quanti-
pesquisadores de que toda pesquisa quali é necessa- tativa, enfraquecendo a promessa da abordagem
riamente destituída de interesse explicativo causal. positivista de neutralidade científica (Knorr-Ceti-
Corroborando a afirmação de Manzo (2010), não é na, 1981). Knorr-Cetina aponta para três formas

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de argumento nessa linha: negação da aceitação de vista e interpretacionista na orientação das escolhas
fatos brutos (ou seja, todos os fatos são construí- de método. Em muitos casos, os autores apresen-
dos através de lentes teóricas, ver Knorr-Cetina e tam os paradigmas de construção de conhecimento
Mulkay, 1983), evidência de circularidade nas in- como logicamente antecedente da escolha de méto-
terpretações (isto é, conceitos gerados por cientistas do. Pesquisas quali são percebidas como adequadas
sociais passam a circular na sociedade, alterando o a uma abordagem em que o foco do trabalho recai
fenômeno orginalmente observado, ponto trazido sobre a investigação do ponto de vista subjetivo
por Giddens) e a possibilidade de interpretação dos indivíduos e suas formas de interpretação do
vinculada a um contexto específico (o que pode meio social onde estão inseridos (Denzin e Lincoln,
ser também relacionado com o relativismo episte- 2005). Caracterizam-se por estudos flexíveis, me-
mológico). Recuperando ideias do realismo crítico, nos estruturados, em que as descobertas de campo
Knorr-Cetina aponta o problema de localização da levam a desdobramentos que guiam o pesquisador
causalidade em fatos externos à ação humana. em seus passos (Ragin e Becker, 1992). Em con-
Desse ponto de vista, obteríamos uma convi- traste, as pesquisas quanti, reconhecidas como ade-
vência entre as abordagens, mas com baixa preten- quadas ao paradigma positivista, calcam-se sobre
são de desenvolvimento de desenhos mistos. Esse a dedução de hipóteses oriundas da teoria estabe-
tipo de posicionamento fica evidente na abordagem lecida. Dessa forma, o material coletado deve ser
etnometodológica, em que os agregados estatísticos mensurado e condensado em variáveis. A compara-
são tomados como irrelevantes para a ação humana, ção da variação das variáveis de interesse permite ao
ao buscar-se o entendimento de como os indivídu- pesquisador o estabelecimento de leis gerais sobre o
os dão significado para sua ação (Coulon, 1995). comportamento social.
Assim, em algumas abordagens há uma separação Em contrapartida, a dicotomia entre quali
de trabalho tácita – pesquisas quantitativas aborda- e quanti é vista com suspeita por vários autores,
riam questões ligadas aos constructos tradicionais levando à busca de pontes entre os dois campos
ligados à estrutura, enquanto pesquisas qualitativas (Morgan, 2007). Vários autores sugerem que essas
estariam mais ligadas à agência. abordagens não são excludentes e que o pesquisa-
Essa “separação de trabalho” é revista e desafia- dor deve adotar uma postura flexível, consideran-
da por várias abordagens de cunho metodológico e do uma possível integração entre pesquisas quanti
teórico. Do ponto de vista metodológico, podemos e quali (Teddlie e Tashakkori, 2003). É digno de
identificar trabalhos que evidenciam a necessidade nota, por exemplo, a defesa que Bourdieu faz da
dos estudos quantitativos complementados por es- utilização de métodos quantitativos como lacuna
tudos qualitativos, com o objetivo de aumentar a nos estudos da sociologia crítica (Bourdieu, Cham-
validade de seus constructos (Abbott, 2001; Collins, boredon e Passeron, 2004).
1984), ou melhor, especificar os pressupostos “agên- É possível verificar nesta discussão que o deba-
ticos” da teoria (Goodwin e Horowitz, 2002). Uma te em torno do método a ser utilizado é frequente-
estratégia alternativa tem sido rever e propor sínte- mente ligado à discussão teórica, mas cabe o ques-
ses teóricas que informem novas abordagens meto- tionamento se essa vinculação deve ser unívoca,
dológicas (Alexander, 1987). Por exemplo, Bour- de tal forma que a escolha teórica incorra necessa-
dieu discute os limites da abordagem de história de riamente em uma especialização em método. Por
vida quando essa não é informada pelo constructo exemplo, se o pesquisador dedica-se ao estudo de
“campo”, frequentemente operacionalizado de for- desigualdade, isso significa que deverá aprender (e
ma topográfica (Bourdieu, 1986, 2006). apreciar) apenas métodos quantitativos? De forma
No debate nacional, esses posicionamentos ga- correlata, se um pesquisador dedica-se a fenôme-
nham interlocutores que traduzem essas clivagens nos da microssociologia (na linha de Goffman, por
para a nossa realidade.4 A consulta a livros-textos de exemplo), isso significa que poderá simplesmente
metodologia de pesquisa em ciências sociais revela descartar as disciplinas de estatística? Como vimos,
a herança da dicotomia entre as perspectivas positi- dependendo do paradigma adotado, a resposta é

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“sim” para ambas as questões. No entanto, acredito viantes às teorias, Tilly aponta que ela não tem a
que certos interesses de pesquisa e orientações para- pretensão de criar teorias que possam transcender o
digmáticas colocam-se de forma mais agnóstica em local e temporal. Nesse sentido, impõe-se um hiato
relação ao método. entre a explicação causal e a interpretação do sig-
Camic e Gross (1998) mostram que o desen- nificado da ação social (Verstehen) (Manicas, 2006,
volvimento da sociologia não se reduz à síntese, ao p. 10). Essa posição radicaliza a abordagem inter-
refinamento, à expansão, dissolução ou recuperação pretativista descrita anteriormente. Este artigo faz
de teorias. Paralelamente, sociólogos constroem fer- uma escolha explícita e arbitrária a favor de pesqui-
ramentas metodológicas para utilização nas análises sas que se afastam desse posicionamento. Portanto
empíricas e travam diálogo entre abordagens distin- é possível estabelecer o primeiro pressuposto, em
tas. A abordagem de mecanismos causais está liga- contraste com a posição “cética” exposta por Tilly.
da à tradição mertoniana de construção de médio-
-alcance. Embora tenha ganhado maior afinidade Primeiro Pressuposto: A construção de teoria
com a teoria de escolha racional, desenvolvimentos pressupõe a possibilidade de comparação
recentes mostram que a abordagem de mecanismos
não se reduz a essa abordagem (Gross, 2009; Lit- A posição relativa à construção de leis gerais,
tle, 2012). A proposta de mecanismos causais busca tipicamente associada à perspectiva positivista, bus-
propor a construção de teorias que possam forne- ca a descoberta de regras que possam cobrir um
cer explicações causais e ao mesmo tempo evitar grande número de casos e, potencialmente, a tota-
a abordagem positivista tradicional de elaboração lidade de casos possíveis de serem observados (ver
de leis universais. Defensores desse ponto de vis- também DiMaggio, 1995, p. 391). Tilly alerta para
ta argumentam que os mecanismos causais podem o problema de se buscar leis universais (covering
incluir na explicação elementos interpretacionistas laws) nas ciências sociais que se assemelham à pre-
(Gross, 2009). tensão teórica das ciências naturais, visto que essa
abordagem pode levar a uma abstração exagerada,
correndo o risco de perder o poder de explicação, já
Quali e quanti sob a perspectiva de que quando se perde o contexto original dos casos
mecanismos causais coletados (King, Keohane et al., 1994).

Tilly (2001) avalia criticamente cinco possíveis Segundo Pressuposto: A construção de teoria deve
posicionamentos metateóricos para o pesquisador, preservar a especificidade contextual dos fenômenos
sendo os quatro primeiros alternativos à abordagem observados
de mecanismos causais: adotar uma posição de ceti-
cismo, construir leis gerais, construir um sistema so- A pretensão da construção de “sistemas sociais”
cial, estudar a predisposição do ator antes da obser- aparentemente dá conta das limitações anteriores:
vação do comportamento e estabelecer mecanismos inclui indivíduos e estruturas de uma forma liga-
e processos. A discussão a seguir expande a exposi- da e interativa. O exemplo clássico de teoria social
ção de Tilly. Os três pressupostos que antecedem a baseada em sistemas é a sociologia parsoniana (Par-
proposição focada em mecanismos são derivados da sons, 1951) e atende ao projeto de síntese defendi-
discussão dos posicionamentos metateóricos. do por Alexander (1987) e Camic e Gross (1998).
A primeira posição refere-se ao ceticismo em A dificuldade consiste na explicação do status dos
relação à construção de conhecimentos que tenham agentes no sistema: podemos conceber um “siste-
alcance fora de seu contexto particular. Pesquisa- ma social” com necessidades inerentes, como “in-
dores guiados por essa posição tendem a afirmar a tegração”, que demandam a existência de “funções
impossibilidade de comparação, levando ao parti- latentes” acopladas à correta socialização dos atores
cularismo máximo das observações. Embora essa sociais para que o sistema se reproduza? Os escri-
abordagem seja criativa em trazer fenômenos des- tos de Parsons são sempre uma fonte inesgotável

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de exemplos. Na sugestão de que as mulheres de- canismos cognitivos”, encontramos explicações que
vam frequentar cursos superiores mesmo que não incluem termos como “interpreta”, “classifica”, apro-
tenham pretensão ou perspectiva de inserção no ximando-se da lógica do individualismo metodológi-
mercado de trabalho, porque servirão como um co. Por fim, quanto a “mecanismos relacionais”, Tilly
bom modelo (role model) para seus filhos (Parsons, aponta que se utilizam conceitos como “alianças”,
1959), o autor inverte os “sinais”: deduz a moti- “ataques” etc. Esses tipos de mecanismo interagem
vação e a ação individual a partir das necessidades entre si em processos sociais mais complexos e podem
sistêmicas. Mas essa posição é de difícil sustentação informar e ser informados pelos estudos das “preten-
por não incluir de forma completa as consequên- sões teóricas” descritas anteriormente.
cias inesperadas da ação (Merton, 1936). Uma pos-
sibilidade de atenuação dessa tendência é a articu- Terceiro Pressuposto: Causalidade deve ser
lação explícita entre os níveis distintos irredutíveis vinculada a mecanismos causais nos níveis
(Tilly, 2001).5 ambientais, cognitivos e relacionais
Tilly também aponta para o perigo de recortar
a realidade de forma exageradamente reducionista A partir dessa discussão, encaminhamo-nos
e focada no indivíduo. De forma ilustrativa, Cole- para a definição e a apreciação de mecanismos cau-
man (1990) busca entender como efeitos “macro” sais. Gross sintetiza a definição mais usual:
(por exemplo, “estrutura social”) podem ser deri-
vados a partir da agregação do comportamento de Um mecanismo social é uma sequência ou
vários indivíduos. Vários de seus estudos empíricos conjunto de eventos sociais ou processos mais
geraram explicações de comportamento individual ou menos gerais analisados em um nível infe-
que mostravam uma pobre previsibilidade do com- rior de complexidade ou agregação, no qual –
portamento macro em contextos diferentes daquele em certas circunstâncias – alguma causa X ten-
originalmente estudado. Em contrapartida, Elster de a produzir um efeito Y no domínio das re-
(1994) sugere que a ação e a mudança social de- lações humanas. Essa sequência pode ou não
vem ser entendidas a partir da ação individual, e ser reduzida analiticamente às ações desempe-
essas contextualizadas em mecanismos causais. Tal nhadas (enact) pelos indivíduos, pode envolver
abordagem, geralmente associada ao individualis- processos causais instrumentais-formais ou
mo metodológico, tem para Tilly a limitação de substantivos e pode ser observada, não obser-
colocar cores muito fortes no indivíduo, sem dar a vada, ou à princípio não observável (2009, p.
devida atenção às estruturas sociais que circundam 364, tradução do autor).
o agente possibilitando a ação. Um contraexemplo
é oferecido por Tilly ao analisar a obra de Theda Essa definição abarca os seguintes pontos co-
Skocpol (1979) sobre os antecedentes de revolu- mumente articulados na literatura: mecanismos
ções. Nesse estudo comparativo, Skocpol estabelece sociais medeiam a relação de causa e efeito entre
as condições estruturais que permitem aos atores dois fatores, desenvolvem-se em um horizonte tem-
sociais promover uma revolução. poral, são generalizáveis, ainda que em graus dis-
Em comparação a Elster, Tilly (2001) prende-se tintos, e necessariamente incluem elementos anali-
menos à ação individual e busca reintroduzir na ex- sados em um nível de agregação abaixo do nível do
plicação causal mecanismos que possam integrar fe- fenômeno que queremos explicar. Este último as-
nômenos macro. Ele aponta três tipos de mecanismo pecto criou um vínculo entre a abordagem de me-
causal: ambientais, cognitivos e relacionais.6 Sob a canismos sociais e a escola de Escolha Racional. No
égide de “mecanismos ambientais”, os pesquisadores entanto, Little (2012) acredita que mecanismos no
utilizam termos como “desaparece”, “retrai”, “cresce”, nível macro, sem desagregação ao nível micro geram
afetando a disponibilidade material de recursos para boas explicações, na medida em que o pesquisador
a ação individual e informando ao indivíduo as con- constrói suposições plausíveis em relação ao nível
dições de ação no seu ambiente. A respeito de “me- inferior. Em contrapartida, Gross (2009) sugere a

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expansão dessa definição para que os mecanismos rando as três possibilidades: (1) necessária “divisão
sociais possam incluir uma abordagem de ação so- de trabalho” entre as abordagens, (2) justaposição
cial que contemple claramente como grupos de in- das abordagens na mesma pesquisa e (3) possível
divíduos interpretam e dão sentido ao contexto e síntese entre as metodologias.
sua interação. O estabelecimento de “mecanismos causais”
“Causalidade” implica o estabelecimento teó- remete à estipulação de causalidade. Entretanto,
rico de como um fator leva ou influencia (e não pesquisadores oriundos de tradições quali frequen-
apenas “se correlaciona com”) um comportamen- temente discordam dos pesquisadores de tradição
to observado. Um “mecanismo causal” implica a quanti sobre os requisitos para a estipulação de
descrição da sequência de eventos que liga a causa “causalidade”. Mahoney e Goertz (2006) mostram
(fator explicativo) ao comportamento. O exemplo que enquanto pesquisadores quali buscam “causas
ilustrativo a esse respeito é geralmente tomado em- para efeitos observados”,8 pesquisadores quanti bus-
prestado de David Hume.7 Quando lançamos uma cam medir efeitos para as causas preestabelecidas.
bola de bilhar contra a outra, somos capazes de Essa diferença (respectivamente, “dos efeitos para as
observar diretamente o efeito da primeira sobre a causas”, ou “das causas aos efeitos”) leva a diferenças
segunda. O teste empírico de mecanismos causais importantes tanto na linguagem como no método.
com base no ferramental estatístico segue uma série Gerring sugere como primeira dimensão de
de requisitos formais rígidos. Morgan e Winship comparação entre as duas abordagens a capacidade
(2007) estabelecem quatro critérios para avaliar a de gerar ou de testar hipóteses. Enquanto aborda-
validade de um mecanismo causal que ligue o fator gens N-pequeno levariam à geração de explicações
“X” a um fenômeno “Y”: (conexões causais) novas, caberia às abordagens N-
-grande testar as hipóteses que operacionalizam as
R.i Todos os mecanismos causais Zi que ligam conexões causais através de variáveis. Nesta ilustra-
X a Y devem ser mensuráveis. ção de “divisão de trabalho” entre as duas aborda-
gens, somos convidados a visualizar a imagem de
R.ii Zi devem ser caminhos causais necessários uma floresta: nos pontos onde a floresta ainda está
e suficientes entre X e Y. inexplorada, caberia aos “bandeirantes qualitativos”
desbravá-la e apontar novos caminhos e novas pos-
R.iii Se Zi consistem em caminhos diferentes, sibilidades.9 Ao passo que atrás desse primeiro gru-
então esses caminhos devem ser isolados. po, seguiria um exército de pesquisadores quanti,
empossados de ferramentas estatísticas que possam
R.iv Z é causado por X e não por nenhum ou- fornecer maior certeza, isto é, mais segurança para
tro fator espúrio. o que fora afirmado por seus antecessores.
Ao recuperar as dimensões de “validade” e
Esses quatro requisitos são difíceis de susten- “fonte de causalidade”, Gerring alerta para motivos
tar em um desenho de pesquisa quanti, levando a mais próximos das pretensões teóricas que alinhavei
muitos estudiosos do campo estatístico a abando- na seção anterior. Estudos de caso em N-pequeno
nar a pretensão de articulação entre causalidade e permitem a explicitação dos mecanismos causais
generalização (Mahoney e Goertz, 2006). Gerring que melhor se aproximam da explicação causal. A
(2007) contrasta as abordagens quali e quanti em investigação de um estudo de caso busca, com alta
relação à estipulação de mecanismos causais, sa- intensidade de triangulações de fatos e dados, o es-
lientando as características e as limitações de cada gotamento m um determinado contexto. Em con-
abordagem (Tabela 1). Seguindo a nomenclatura trapartida, na medida em que o estudo esgota as
do autor, denomino de N-pequeno os estudos quali fontes de explicação de um fenômeno específico e
e N-grande para uma pesquisa quanti que compara particular, obtemos uma trama de mecanismos que
muitos casos. A partir daí, retomo na próxima se- tornam as conclusões “determinísticas” em vez de
ção a decisão de método quali ou quanti, conside- “probabilísticas”. Se o número de casos analisado

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Tabela 1
Comparação entre as Abordagens N-pequeno e N-grande de Gerring (2006), adaptado pelo autor
Dimensões N-pequeno (quali) N-grande (quanti)
Objetivos de Pesquisa
Explicação e Hipóteses Gera explicações Testa hipóteses
Validade Interna Externa
Fonte de Causalidade Mecanismos causais Efeitos causais
Escopo das Proposições Profundo Amplo
Fatores Empíricos
População em Análise Heterogêneo Homogêneo
Força da causalidade Forte Fraco
Utilidade da Variação Raro Comum
Disponibilidade de dados Concentrada Dispersa

for apenas um, todas as conexões causais se apre- conflito” e “abundância de recursos” são condições
sentarão como determinísticas e fortes. Quando se necessárias e suficientes para prever o crescimento
adicionam mais casos ao estudo é possível migrar de uma associação, isso não corresponde ao mes-
para interpretações probabilísticas, e, portanto, a mo que operacionalizar em uma regressão múltipla
força de causalidade diminui. No procedimento os efeitos que grandezas de “conflito” e “recursos”
de estudo de caso com conclusões determinísticas teriam sobre a variável “crescimento”. Como apon-
(ainda que o pesquisador adicione os usuais alertas tado por Sutton e Staw (1976, p. 377), não pode-
para os limites à generalização), o que se busca é a mos confundir as hipóteses (que relacionam gran-
validade interna do caso estudado10: os mecanismos dezas) com as explicações teóricas que sustentam a
causais identificados e os processos históricos de- conexão dessas grandezas (em nossos termos, me-
vem estar bem articulados na explicação do fenô- canismos causais). Abordagens N-grande tendem a
meno de interesse. favorecer a “inferência causal”, em que a causalida-
Pesquisadores quali buscam identificar no es- de é estabelecida pela diferença entre as estimativas
tudo em questão as causas necessárias e suficientes de variação entre duas populações. Nesse tipo de
para explicar um fenômeno de interesse. Condições desenho de pesquisa, uma delas é tomada como
necessárias devem estar presentes para que obser- “controle”. Ou seja, se o comportamento obser-
vemos um comportamento; entretanto, a simples vado na população que sofreu algum tratamento
presença delas não garante que o comportamento específico for significantemente diferente do com-
será observado. Assim, essas condições devem ser portamento observado na população de controle,
complementadas por outras, a fim de que sejam podemos então estabelecer a relação causal entre
coletivamente necessárias e suficientes para explicar o tratamento e o efeito observado. (King, Keoha-
o comportamento. Em contraposição, condições ne et al., 1994). Em outras palavras, a inferência
suficientes indicam um comportamento determi- causal busca estabelecer diferenças de “volumes”
nado, mas não são exclusivas: outros fatores podem em variáveis mensuráveis e associar essa diferença à
levar ao mesmo comportamento. hipótese derivada da teoria que explica a diferença.
Por outro lado, pesquisadores quanti buscam A partir daí, têm-se a ideia de que a causalidade é
“efeitos causais” ao examinar a variação da variável estabelecida com base nos “efeitos causais” obser-
dependente em relação à variação da variável inde- vados, ao passo que os mecanismos causais perdem
pendente. Por exemplo, se afirmamos que “baixo a centralidade na análise.

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É no contraste entre pesquisas quali e pesqui- amostras, com pretensão de representatividade de


sas quanti e na diferenciação entre “mecanismos uma população. Manicas (2006) observa que en-
causais” e “efeitos causais” que melhor podemos quanto a abordagem qualitativa preserva a integri-
observar o potencial de contribuição das aborda- dade do objeto estudado, concentrando a coleta ao
gens quali aos estudos quanti. Por exemplo, em máximo de informações relevantes para a sua expli-
um texto clássico da “sociologia das organizações”, cação, os estudos estatísticos privilegiam a coleta de
Blau (1970) relaciona o aumento de “tamanho da amostras dispersas, assumindo que os diversos casos
firma” com a “diferenciação interna”. No entanto, em análise se relacionam entre si pela mediação das
a simples relação entre as variáveis, sem incluir na variáveis de interesse.
explicação o sentido da ação para os tomadores de O contraste entre métodos quali e quanti nessa
decisão, aproxima o estudo de Blau às “leis gerais” seção privilegiou as diferenças “vocacionais” das dis-
nomológicas (Turner, 1977; Hedström, 2005). tintas abordagens. Na próxima seção, analiso como
Um pressuposto importante nas abordagens os pressupostos intrínsecos dos modelos quantita-
N-grande é a da homogeneidade das unidades ob- tivos e estatísticos podem levar à problematização
servadas. Se duas unidades sofrem o mesmo trata- das interpretações usuais desses estudos. Passo, as-
mento, deveríamos observar a mesma variação na sim, aos pressupostos “limitações” e “problemas dos
variável dependente. Fora do contexto laboratorial, métodos estatísticos”, que desembocam em uma
onde experimentos não podem ser controlados, é maior interdependência entre as abordagens.
difícil obtermos unidades perfeitamente homogê-
neas. Assim, um procedimento comum é a identi-
ficação de variáveis de “controle” que poderiam ex- Limitações e problemas na abordagem de
plicar parte da variação, de forma independente das N-grande
variáveis explicativas ligadas às hipóteses a serem
testadas. A atribuição dessas variáveis de controle Diversos pressupostos assumidos pelos méto-
às observações não é aleatória, mas correlaciona- dos quantitativos e multivariados podem ser frus-
-se fortemente com as outras variáveis centrais na trados no seu conjunto e em suas ferramentas espe-
análise. Por exemplo, o que realmente significa a cíficas, levando o pesquisador à reconsideração do
variável de controle “continente” quando tentamos instrumento e à solicitação de auxílio a uma abor-
prever a estabilidade de um regime político? Seria dagem N-pequeno. São casos em que o desenho
possível pensar o Brasil “fora” da América Latina? de pesquisa pode ser considerado “indeterminado”
Uma das regras populares das abordagens N- (por imposição do modelo estatístico em uso) ou
-grande é a da busca de observações que levem à va- por graves violações na construção ou pela análise
riação da variável dependente (King, Keohane, et al., dos dados.
1994). Ragin (2006) é contrário a essa estipulação, A disponibilidade de dados suficientes para a
afirmando que o mesmo comportamento pode ser inferência causal (frustrando o pressuposto R.i) é
gerado por processos distintos e, portanto, apenas obviamente a primeira conjectura a ser contempla-
a descrição profunda dos mecanismos causais real- da. Eventos raros (por exemplo, revoluções) são óti-
mente em funcionamento pode explicitar como as mos candidatos a abordagens N-pequeno. Existem,
variáveis explicativas levam ao comportamento ob- no entanto, problemas potenciais subjacentes às
servado. Em contrapartida, a abordagem N-grande abordagens N-grande que podem se beneficiar de
exige que se assuma que aquelas variáveis não obser- abordagens N-pequeno. De forma mais dramática,
vadas não sejam consideradas relevantes para a expli- como aponta Burke (1992), as abordagens quan-
cação (contrariando o pressuposto R.iv. titativas pressupõem a estabilidade do significado
Estudos de caso (N-pequeno) tendem a exau- dos conceitos no tempo e a comparabilidade em
rir as informações disponíveis que se relacionam a contextos distintos. “Classe média”, para citar um
uma observação de interesse. Por outro lado, estu- exemplo, pode ter conotações distintas em momen-
dos estatísticos (N-grande) tendem a coletar amplas tos diferentes, assim como a variável “alfabetizado”

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Decisões entre pesquisas quali e quanti sob a perspectiva de… 187

pode ser interpretada diversamente dependendo do Na melhor das hipóteses, poderíamos falar de “quase
contexto. Em geral, o instrumento de coleta (como experimentos”, onde a “história” estabelece valores
o questionário) pode trazer uma série de problemas às unidades. Segundo seu estudo, existe uma gran-
na sua validação quando aplicado em pontos geo- de coincidência entre “ditaduras” e “pobreza”, o que
gráficos e temporais distintos de sua aplicação ori- dificulta o entendimento dos processos que relacio-
ginal. Em contrapartida, Burke sugere que se adote nam regime político a desenvolvimento econômico.
a etnografia como método de pesquisa, uma vez Przeworski aponta a dificuldade de se estabelecer
que permite acesso privilegiado às práticas concre- uma ordem causal entre as variáveis. Como saber se
tas dos atores sociais. a mesma elite que foi educada para implementar a
Abordagens N-grande pressupõem uma or- democracia não recebeu também treinamento para
dem causal entre as variáveis independente e de- estabelecer instituições que levem ao crescimento
pendente. Entretanto, se esta última pode também econômico? Ou, se as elites treinadas para promover
influenciar a primeira, temos um problema de en- golpes militares não receberam uma carga ideoló-
dogeneidade que encontra limitações de tratamento, gica para desconfiar dos mecanismos econômicos
dependendo da amostragem disponível. Halpern de mercado? Quando a questão da endogenia não
(1993), por exemplo, investigou em livros, jornais é solucionada pela análise estatística, o pesquisador,
e discursos em que medida as ideias dos líderes co- afirma Przeworski, deve apelar para uma abordagem
munistas do Leste europeu antecediam a adoção de N-pequeno que possibilite o pareamento entre as
políticas filo-stalinistas. O problema imposto pela observações, a fim de se aproximar ao máximo de
análise é que a adoção dessas políticas poderia ter unidades que possam ser consideradas homogêneas.
sido forçada pela ocupação soviética nesses países, Como exemplo inspirador de futuras pesquisas, o
e assim a visão das lideranças seria uma racionali- autor cita o texto de Yashar (1997), um empenho
zação retrospectiva para legitimar as decisões ante- para explicar o processo histórico que levou a Costa
riores. Ainda que a autora tenha levado em conta a Rica a adotar a democracia, enquanto a Guatemala
sequência de eventos (por exemplo, a existência de enveredou para a ditadura.
um discurso antes ou depois da adoção de deter- Podemos elencar críticas aos métodos estatísti-
minada política), não conseguiria estabelecer se tal cos quando se trata de abordagens mais populares,
líder estava ou não predisposto à adoção dessa po- mas isso não significa a falência do método. Se-
lítica de forma independente. Para tanto, Halpern gundo Ragin (2006), a maioria dos estudos quan-
foi obrigada a adotar uma abordagem N-pequeno titativos de política comparada utiliza modelos de
e trazer como casos de controle países que tinham regressão lineares, cuja fundamentação teórica da
desenvolvido seus próprios regimes comunistas, interação das variáveis explicativas não é frequente.
sem a intervenção soviética. Halpern, então, iden- Em contrapartida, os pesquisadores quanti criam
tificou que tanto a China como a Iugoslava ado- uma espécie de “competição” entre as variáveis
taram políticas semelhantes às stalinistas, sendo o dispostas em modelos multivariados, a fim de en-
primeiro país de forma independente e o segundo, contrar fatores que expliquem da melhor forma
a despeito da União Soviética. a variável dependente, sem dar a devida atenção
Poderíamos argumentar que o exemplo de Hal- às relações entre elas. Mesmo quando existe uma
pern leva-nos à abordagem N-pequeno por conta da teo­rização, os pesquisadores entendem a interação
raridade de observações. Tomemos então o proble- com “produto” das variáveis explicativas. A lineari-
ma colocado por Przeworski (2007) quanto à rela- dade dos modelos, principalmente quando se trata
ção entre regime (democrático ou ditatorial) e cres- de observações longitudinais, acaba assumindo a
cimento econômico. O autor mostra que a analogia linearidade temporal dos processos sociais (Abbott,
do “experimento” nas ciências sociais é falha, porque 1988). Esta mesma crítica é corroborada por Tilly
as observações não recebem tratamentos aleatórios, (2001), quando afirma que a emersão de processos
rompendo os pressupostos usuais de métodos mul- sociais não se dá de forma linear: alguns processos
tivariados, como a regressão linear (Blalock, 1979). são lentos e demoram às vezes séculos para expres-

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sar seus efeitos. A escolha da abordagem N-peque- mo alemão ou japonês. Isto é, seria “politicamente
no nesse contexto é recomendada por sua vocação incorreto” entender o sindicalismo nesses países
em explicitar de forma menos “automática” as di- como atores centrais na pesquisa, tendo em vista
versas temporalidades em curso na explicação de a Segunda Guerra Mundial. A estratégia analítica
um processo causal, e por deslocar a explicação da de Stinchcombe foi recuperar os índices de gre-
“variável” ao “processo” (Ragin, 2006). ve e identificar os picos de conflito no pré-guerra
Ragin critica ainda a forma “automática” e “irre- (2005, p. 138). Assim pode desenvolver a pesquisa
fletida” de se construir, numa abordagem N-grande, em periódicos nas datas respectivas das greves, para
populações adotando como fronteiras as categorias entender os discursos utilizados e as influências ale-
naturalizadas pelos próprios atores sociais interessa- mãs e japonesas. A pesquisa quantitativa, portanto,
dos. Como exemplo contrastante, vale lembrar como ajuda a identificação de momentos e locais que po-
Abbott (2005) entende o embate dos profissionais no dem vir a ser o foco de análises qualitativas com-
campo da medicina no século XIX nos Estados Uni- plementares, aumentando a validade do estudo, e
dos. Se ele tivesse se restrito à população de médicos, não necessariamente, é importante frisar, sua gene-
perderia de vista outros profissionais que exerciam ralização. Se a validade de um estudo não está bem
atividades compatíveis, como curandeiros e acupun- estabelecida, a generalização torna-se irrelevante.
turistas. Em suma, sugere-se que ao utilizar uma abor- Desse ponto de vista, o estudo quantitativo não é
dagem N-grande se leve em consideração o método utilizado para o estabelecimento de “efeitos cau-
N-pequeno para uma melhor adequação da constru- sais”, mas para mapear a variação de grandezas de
ção da população (e correspondente amostra) à teoria interesse (Abbott, 1998). Mesmo regressões podem
em teste. Essa ponderação leva a uma convergência ser interpretadas como “descrições” e não necessa-
entre Ragin (2006) e King, Keohane et al. (1994), em riamente como “previsões”.
relação à decisão de estabelecimento das fronteiras da Proponho que essa colaboração de abordagens
população: devemos incluir nos estudos indivíduos, se dê de forma pendular: podemos também retornar
cuja variação na variável dependente seja plausível. à abordagem N-pequeno após realizar as análises N-
-grande. Creswell identifica três usos possíveis para
métodos mistos: triangulação, sequenciamento, e
Justaposição e síntese de métodos quanti e transformação. O primeiro, realizando a triangula-
quali ção dos dados, busca aumentar a validade das con-
clusões. O segundo implica em utilizar um método
Na seção anterior foram descritas diversas situ- antes do outro como estratégia de desenho de pes-
ações onde se justifica a combinação de abordagens quisa. Por exemplo, métodos quali podem ser utili-
quali (N-pequeno) e quanti (N-grande), ou mesmo zados em situações onde pouco fora pesquisado so-
o abandono de uma em favor da outra. Preliminar- bre o objeto de interesse (Creswell, 2008). Por fim,
mente, creio que, quando possível, a abordagem o método transformativo envolve a coleta conjunta
quali deve anteceder o método N-grande, já que de dados quali e quanti no desenho de pesquisa.
ajuda a explicitar os mecanismos causais que vão Huff (2008) sintetiza as vantagens e as desvan-
influenciar na coleta de dados e na escolha do ferra- tagens dos métodos mistos em relação às abordagens
mental estatístico da abordagem N-grande. tradicionais. Para a autora, os métodos mistos seriam
É também possível, embora seja raro, identi- mais pragmáticos em combinar materiais com o ob-
ficar análises quantitativas que auxiliam o estabe- jetivo de alcançar um equilíbrio ótimo entre abor-
lecimento da validade de estudos originalmente dagens quanti e quali. Estudos quanti completados
qualitativos. Stinchcombe (2005), por exemplo, por estudos quali podem fornecer maior potencial
mostra a dificuldade de se entender as origens do de interpretação dos fenômenos, principal­mente ao
movimento sindicalista norte-americano através agregar a percepção dos indivíduos no desenho de
de entrevistas individuais, uma vez que elas pode- pesquisa. O inverso garante uma generalização para
riam silenciar as possíveis influências do sindicalis- além do contexto específico de análise, o que im-

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Decisões entre pesquisas quali e quanti sob a perspectiva de… 189

plica uma maior amplitude do estudo. Idealmente, -grande). Com efeito, houve uma explícita escolha
ao combinar abordagens quali e quanti, os pesqui- em direção à centralidade de “mecanismos causais”,
sadores evitariam as fragilidades próprias de cada com o objetivo de diminuir a influência das “guerras
método. No entanto, estudos baseados em métodos paradigmáticas” sobre a discussão (Morgan, 2007).
mistos ainda correm o risco de serem criticados pela Sob a perspectiva de “mecanismos causais”,
superficialidade da análise se comparados aos méto- mostrei como as abordagens são complementares
dos tradicionais de construção de conhecimento nas e mesmo interdependentes: o desenho de pesquisa
distintas comunidades científicas. com uma abordagem N-grande depende de uma
Ragin (1989) é provavelmente um dos princi- imersão em descrições e explicações de casos que
pais defensores de superação dessa divisão. Ele pro- utilizam métodos quali. Em diversas ocasiões, roga-
põe que utilizemos a análise buleana para a descri- -se o abandono da pretensão generalizante de am-
ção de processos causais. Ou seja, tratar as variáveis plo alcance das abordagens “N-grande”.
como dicotômicas e entender a maneira pela qual Apontei também algumas críticas às aborda-
configurações de variáveis explicam o comportamen- gens multivariadas mais comuns, incluindo o recor-
to observado. Existem algumas distinções impor- rente problema de tratamento “linear” da tempora-
tantes dessa metodologia comparada àquela comu- lidade. Vale uma ressalva: as técnicas quantitativas
mente utilizada com ferramentas multivariadas. Em e estatísticas não se limitam aos modelos lineares,
primeiro lugar, é comum a ocorrência nas ciências mas já abarcam possibilidades que tratam a tempo-
sociais da assimetria causal entre as variáveis incluí- ralidade de outras formas, como por exemplo nas
das na construção das matrizes de respostas possíveis. técnicas de modelagem agent-based (Macy e Wil-
Essa possibilidade contrasta com os métodos mul- ler, 2002). Apresentei ainda possíveis alternativas às
tivariados, em que o favorecimento de correlações técnicas multivariadas, incluindo a análise buleana
assume a simetria, dificultando o estabelecimento de proposta por Ragin.
ordem causal. Em segundo lugar, é possível estabele- Não pretendi aqui advogar o abandono das
cer uma ordem cronológica causal entre os eventos, técnicas multivariadas e de outras técnicas associa-
revelando os processos históricos que levam ao surgi- das a N-grande. Ao contrário, para muitas comu-
mento da observação. Esses processos admitem equi- nidades científicas a inferência causal vinculada às
finalidade,11 explicitando assim efeitos multicausais análises multivariadas continuará a ser norteadora
e dispensando o imperativo de variação da variável para a construção de conhecimento científico. O
dependente para a construção de teorias (em con- que proponho como alternativa é um processo heu-
traste com o estudo de King, Keohane, et al., 1994). rístico de “idas e vindas” (Huff, 2008). Essa abor-
Ragin pretendeu aprimorar a distinção entre condi- dagem torna-se necessária principalmente quando
ções necessárias e condições suficientes em um pro- o pesquisador se defronta com modelos incomple-
cesso causal, o que é bastante adequado quando se tos, em que o teste dos caminhos causais através da
trata de identificar todos os fatores que mutuamente abordagem quanti esgota-se. Tomando as palavras
explicam o fenômeno e coletivamente são exclusivos de King, Keohane et al. (1994), não se pretende
na explicação. Isso possibilita considerar irrelevan- defender essa ou aquela técnica, mas propiciar ao
tes as variáveis não observadas e obter o máximo de pesquisador ferramentas que maximizem a alavan-
alavancagem com economia de recursos. Em elabo- cagem da pesquisa.
ração recente, Ragin (2008) propõe a utilização de As limitações, evidentemente, são de ordens di-
fuzzy-sets, isto é, a inclusão de variáveis estocásticas. versas. Em primeiro lugar, assumiram-se a compa-
rabilidade e a generalização como pressupostos do
conhecimento científico. Não há justificativa para
Conclusão que esses pressupostos sejam universalmente acei-
tos, e nem mesmo a possibilidade que sejam sem-
Revimos no decorrer deste texto a separação pre aplicados. Por exemplo, nos estudos de sistema-
entre abordagens quali (N-pequeno) e quanti (N- -mundo, não é possível obter uma comparabilidade

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quando tratamos de um único caso (Collins, 1984; Abbott (1997), para uma definição semelhante.
Wallerstein, 2004). De forma correlata, podería- 2 Pesquisadores que se afiliam à perspectiva interpreta-
mos suspeitar que as observações sobre casos apa- cionista são comumente associados à tradição iniciada
rentemente independentes sugiram epifenômenos12 por Wihelm Dilthey. É central a essa abordagem o
quando levamos em consideração o funcionamento conceito de Verstehen: a compreensão se dá com base
de sistemas mais amplos (Tilly, 1984). Em segun- na empatia com os motivos e desejos do ator social
que o pesquisador busca capturar em sua pesquisa.
do lugar, ao buscar caminhos causais, corre-se o
Desse ponto de vista, os pesquisadores defendem que
risco de enfatizar mecanismos, com menor atenção a subjetividade do ator social e, consequentemente,
ao contexto histórico. Como aponta Reed (2012), sua interpretação do contexto devem ser centrais no
a abordagem de mecanismos pode enfrentar obstá- esforço de pesquisa. O pesquisador nos convida para
culos em dialogar com a sociologia histórica, que um “passeio” através de suas percepções e análises de
enfatiza a interpretação. notas de campo e nos pede confiança na sua sensi-
Além disso, evitei abordar diretamente os de- bilidade para legitimar a coleta de seus dados. Não
bates que lidam com a síntese entre os níveis macro existe uma pretensão de replicabilidade dentro dessa
e micro (Alexander, 1987) ou entre agência e es- tradição, o que introduz atritos inevitáveis no contato
trutura (Bourdieu, 1977; Giddens, 1986). Por um com pesquisadores que buscam o estabelecimento de
generalizações. Ao contrário, a exterioridade da com-
lado, os esforços de síntese (micro/macro e estru-
paração trairia o acesso hermenêutico ao objeto.
tura/agência) são importantes, na medida em que
3 Essa discussão também está no centro da sociologia
propõem conceitos que informam estratégias me-
weberiana, geralmente discutidas sob a égide episte-
todológicas. Por outro, grande parcela desse debate
mológica. A estratégia weberiana é geralmente articu-
tende a enfatizar a taxonomia subjacente às teorias, lar a compreensão do sentido da ação do ator à cons-
dando menor ênfase às implicações metodológicas. trução de tipos-ideais. Nesse sentido, Weber também
Tomado de forma exagerada, uma síntese suficien- fora atacado por afastar-se das abordagens históricas
temente ampla sempre será capaz de encaixar os tradicionais.
achados empíricos em sua taxonomia, mas isso não 4 Para uma consideração crítica das lógicas distintas
significa que poderá explicar a existência de varia- de explicação e compreensão na sociologia, ver Ianni
ção entre os casos. (1990). Para uma reflexão do ponto de vista da forma-
Entretanto, cabe aos pesquisadores a demons- ção de novos pesquisadores, ver Cano (2012).
tração da utilidade dessa abordagem aos projetos de 5 Wallerstein (2010) contrasta o “reducionismo episte-
síntese, para que não fique restrita a uma comuni- mológico” – a ideia de que o todo pode ser explicado
dade limitada de estudiosos (frequentemente liga- pela agregação de suas partes – com a “epistemolo-
dos ao mainstream da ciência política e da sociolo- gia emergentista” – a ideia de que efeitos sistêmicos
gia norte-americana). Esforços recentes de tradução não podem ser previstos e explicados pelas partes. Ver
também Sawyer (2011) para uma crítica análoga a
da lógica dos mecanismos causais para teorias que
Wallerstein. A abordagem que adoto ao longo deste
vão além das abordagens macroestruturais da ciên-
artigo busca ao máximo abarcar essas sugestões, prin-
cia política, ou da escolha racional, já podem ser cipalmente ao elencar exemplos empíricos da ciência
encontrados; exemplo disso são as tentativas de in- política, cujos mecanismos causais remetem princi-
vestigação do conceito de habitus como mecanismo palmente a mudanças estruturais macro.
mediador entre campo e prática (Vaughan, 2009). 6 Para a integração do nível macro, interacional e indivi-
dual, ver também Mouzelis (1995).
7 A Hume também é atribuída a proposição do “efeito
Notas causal”, ligada à ideia de que “conjunção constante”
(correlação) entre variáveis é suficiente para o estabe-
1 Restrinjo o escopo de uma orientação “positivista” lecimento de causação.
para as pesquisas que buscam representar fenômenos 8 De forma menos frequente, encontramos estudos de-
em variáveis e exploram as possíveis explicações para senhados a partir de causas preestabelecidas, manten-
uma variável de interesse (“variável dependente”). Ver do os efeitos em aberto.

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Decisões entre pesquisas quali e quanti sob a perspectiva de… 191

9 Ver Eisenhardt (1989) e Vaughan (1992), como su- BURKE, P. (1992), History and social theory. Lon-
gestões do método de caso para a construção indutiva dres, Polity Press.
de teoria. CAMIC, C. & GROSS, N. (1998), “Contempora-
10 Esse ponto ficará evidente ao final do artigo, quando re- ry developments in sociological theory: current
cuperarei a crítica de Wallerstein ao método comparado. projects and conditions of possibility”. Annual
11 Equifinalidade refere-se à ideia que o mesmo efeito Review of Sociology, 24: 542-576.
pode ser gerado por caminhos causais distintos. CANO, I. (2012), “Nas trincheiras do método: o
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RESUMOS / ABSTRACTS / RESUMÉS  257

DECISÕES ENTRE pesquisas DECIDING BETWEEN QUALI DECISIONS ENTRE RECHERCHES


QUALI E QUANTI SOB A AND QUANTI RESEARCH FROM QUALI ET QUANTI SOUS LA
PERSPECTIVA DE MECANISMOS THE PERSPECTIVE OF CAUSAL PERSPECTIVE DE MECANISMES
CAUSAIS MECHANISMS CAUSAUX

Charles Kirschbaum Charles Kirschbaum Charles Kirschbaum

Palavras-chave: Metodologias quali- Keywords: Quali-quanti methodologies; Mots-clés: Méthode quali quanti; Méca-
-quanti; Mecanismos causais; Mecanis- Causal mechanisms; Social mechanisms. nismes causaux; Mécanismes sociaux.
mos sociais.
Decision in favor of quali or quanti Traditionnellement, le débat entre les
A escolha por métodos quali ou quanti methods is traditionally mediated by the paradigmes de construction du savoir
é tradicionalmente mediada pelo debate debate between paradigms of knowledge sert de médiateur pour le choix des mé-
entre paradigmas de construção de co- construction. In general, the text-books thodes quali ou quanti. Généralement,
nhecimento. Geralmente, os livros-texto on methodology of the research associate les livres-textes sur la méthodologie de
em metodologia de pesquisa associam os the quali methods to the constructivist- recherche associent les méthodes quali au
métodos quali ao paradigma construtivis- phenomenological paradigm, whereas paradigme constructiviste-phénoméno-
ta-fenomenológico, enquanto os métodos the quanti methods are usually associ- logique, tandis que les méthodes quanti
quanti são em geral associados a preten- ated to positivist pretensions. This article sont en général associées à des préten-
sões positivistas. Esse artigo explora o pro- explores the process of decision between tions positivistes. Cet article explore le
cesso de decisão entre metodologias sob a methodologies from the perspective of processus décisionnel entre méthodolo-
perspectiva dos mecanismos causais, que the causal mechanisms, which are being gies sous la perspective des mécanismes
vêm sendo desenvolvidos sob múltiplas developed under multiple orientations. It causaux qui sont développés sous de
orientações. Buscamos aprofundar a dis- also seeks to deepen the discussion over multiples orientations. Nous cherchons à
cussão sobre as implicações da escolha de the various implications of choosing a approfondir la discussion sur les implica-
um determinado método (quali, quanti certain method (quali, quanti, or mixed), tions du choix d’une méthode détermi-
ou misto), examinando suas possíveis examining their possible applications in née (quali, quanti ou mixte) en exami-
aplicações nas ciências sociais. the social sciences. nant ses possibles applications dans les
sciences sociales.

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