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A Juventude Rural brasileira na visão de Elisa G.

Castro

Joe Dorneles Lamberti


2017510282

A maioria dos artigos analisa a questão da saída do jovem do campo para a cidade e o
desinteresse da juventude rural por ficar ali. Já o artigo escrito por Elisa G. Castro quer tratar do
tema de maneira mais ampla, que consiga enfocar “a análise da juventude como uma categoria
imersa em uma complexa configuração social”.

Assim, Elisa Castro começa “Juventude rural no Brasil: processos de exclusão e a


construção de um ator político” pelo resgate dos debates sobre juventude e “juventude rural”,
problematiza essa questão de mais importância que é a saída dos jovens do campo para a cidade e,
posteriormente, vai tratar “dos processos de organização política da juventude em curso nos
movimentos sociais rurais no Brasil”, vai apresentar “algumas reflexões sobre a política pública
para a juventude rural” e, por fim, entra no debate teórico sobre juventude e “juventude rural”
falando de paradigmas para além da juventude como transição da infância à vida adulta –
lembrando que o trabalho apresenta muito essa juventude rural inserida num contexto maior de
movimentos sociais rurais como o MST, MSTR, etc.

Introdução

Na introdução, Elisa coloca uma primeiro desafio que é dessubstancializar as categorias com
que o debate é operado. Sendo um texto de 2009, ela compreende que o debate da juventude ganhou
centralidade, o que talvez não seja mais realidade hoje de novo. De qualquer maneira, mesmo
naquela época o foco estava na juventude do espaço urbano de grandes metrópoles, enquanto a
juventude rural ficou ainda pouco conhecida.

Essa especificação colocada na juventude rural pode advir da ideia dela ser a minoria da
população jovem do país. Mas se vermos nos números, são aprox.8 milhões a população rural de 15
a 29 anos, chegando a quase 5% dos 49 milhões que totalizam a juventude do país. Então, mesmo
que minoritários, são em si uma grande população.

Para Castro, a juventude é uma classificação social que “vem se desenhando […] como uma
categoria marcada por relações de hierarquia social”, e portanto precisa ser estudada “a partir dos
processos de interação social e as configurações em que está imersa” (DE CASTRO, 2009, p. 182).

A típica imagem do jovem desinteressado pelo rural já aparece como “problema” na


literatura clássica sobre campesinato desde o século XIX, com Pestalozzi, e depois com diversos
autores no século XX, aparecendo como movimentação “intrínseca ao processo de reprodução
social do campesinato, e como conseqüência da desvalorização do campo frente à cidade” (Idem).

No Brasil, um elemento diferenciador que corre por fora dessa narrativa advém dos
movimentos sociais rurais, que vêm servindo como palco de surgimento e atuação de diversas
organizações de juventude como ator político, como por exemplo o MST (Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra) e o MSTR (Movimento Sindical de Trabalhadores Rurais), além
também de organizações religiosas evangélicas e católicas (como os Grupos de Jovem, Pastoral da
Juventude, Pastoral Rural, etc).

Aparecido e vivendo nesse contexto, esse jovem rural…

“[…] se apresenta longe do isolamento, dialoga com o mundo globalizado e


reafirma sua identidade como trabalhador, camponês, agricultor familiar,
acionando diversas estratégias de disputa por terra e por seus direitos como
trabalhadores e cidadãos. Assim, jovem da roça, juventude rural, jovem
camponês são categorias aglutinadoras de atuação política. Essa reordenação
da categoria vai de encontro à imagem de desinteresse dos jovens pelo meio
rural” (DE CASTRO, 2009, p. 183).

Juventude, jovem e juventude rural

Durante o artigo, De Castro mostra que a juventude, seja ela “juventude rural”, “juventude
urbana”, ou simplesmente pelas categorias “jovem” e “juventude”, ela aparece na produção
bibliográfica, tanto brasileira quanto internacional, majoritariamente como uma categoria “pré
construída” - como inclusive já era afirmado por Bourdieu (1989, p. 28) – seja a partir de recorte
etário, geracional, comportamental, psicológica, etc.

Grande parte desses recortes são alvo de críticas. Principalmente o talvez mais conhecido
recorte etário, que coloca o “jovem” como uma situação intermediária em um mundo dividido entre
ativos e inativos no mercado de trabalho, o que para alguns analistas acaba mascarando uma
realidade onde existem jovens trabalhadores e jovens desempregados (DE CASTRO, 2009, p. 186).

No Brasil, o debate aparece já com um signo de diversidade, falando em juventudes, no


plural. Ainda assim, o paradigma subjacente é o do lazer e diversão, o que acaba excluindo, de certa
forma, o jovem da classe trabalhadora (Idem).

Há assim uma disputa das representações sociais da categoria “jovem”, que Castro opta
como caminho investigativo pra analisar a juventude localizada na realidade rural, e o termo
“juventude rural” é uma categoria altamente perceptível nessa disputa.

Juventude rural: processo de exclusão social e os muitos significados de “ficar” e “sair”

De início ela já afirma: “Ser jovem rural carrega o peso de uma posição hierárquica de
submissão, em um contexto ainda marcado por difíceis condições econômicas e sociais para a
produção familiar […]” (DE CASTRO, 2009, p. 189).

O resultado principal observável dos problemas do jovem rural, que é a saída pra cidade, é
visto por dois vieses: um, consenso, é a dificuldade laboral e educacional. Outro lê certa “atração”
pela cidade e estilo de vida urbano.

Em pesquisa anterior, De Castro afirma que esses problemas do “jovem rural” tem suas
especificidades mas são também, antes de tudo, problemas enfrentados pelo conjunto dos pequenos
produtores familiares, problemas gerais que, alguns deles, para os jovens aparecem de forma mais
direta, como a dificuldade de acessar uma escola após a quinta série, que ocasiona abandono dos
estudos. Ainda assim, é interessante a grande expectativa e apreço pela educação: os mesmos jovens
que relatam todas as dificuldades afirmam querer continuar os estudos, a maioria quer entrar na
faculdade, etc.

Tanto que “[…] a maioria dos jovens que afirmaram querer ir embora, relacionou esse
desejo a querer viver em um lugar melhor. Podemos afirmar que essa construção é fruto da
percepção do tempo vivido em uma área rural desvalorizada socialmente nos espaços urbanos que
freqüentam, tanto nas referências estigmatizadoras sobre a sua população, quanto pela “exclusão”
ao acesso aos serviços públicos e mesmo aos privados” (DE CASTRO, 2009, p. 192).

Ainda assim, no que é um caso mais específico ou ao menos hegemonicamente comum no


caso de jovens que cresceram em locais rurais com histórico de mobilização social, como no caso
de Assentados, um numero importante afirmou que deseja ficar no interior. Estes inclusive
organizam-se colocando o “jovem” e o “jovem rural” como ator político.

Assim, deve-se “analisar a “escolha” entre permanecer ou sair a partir das condições de
reprodução social da família e de autonomia do jovem […]” (Idem).

Juventude e juventude rural: hierarquias, controle, e participação

Esses jovens rurais, mesmo os que se mobilizam socialmente colocando a perspectiva do


“jovem rural” como ator político e independente, são cruzados também pela hierarquia e autoridade
do paternalismo, que cria mecanismos de vigilância e controle, e mesmo deslegitimação, inclusive
em espaços públicos de tomada de decisão (como associações de moradores, ou em assembleias de
Assentamentos). Isso também “reforça a “saída” de casa e do assentamento como forma de alcançar
autonomia” (DE CASTRO, 2009, p. 193).

Por isso a juventude rural é reveladora dessa questão da hierarquia, onde a categoria
“juventude/jovem associado à transitoriedade do ciclo-de-vida ou mesmo biológico, transfere para
aqueles, que assim são identificados, a imagem de indivíduos, ou grupo de indivíduos que precisam
ser regulados, controlados, encaminhados” (DE CASTRO, 2009, p. 194).

Movimentos de construção de um ator político: a formação da identidade social juventude no


meio rural brasileiro

Nos anos 2000 esses jovens passam a se organizar e se construir como ator politico dentro
dos movimentos sociais do campo. Nestes movimentos reivindicam tanto questões específicas,
como escolas e linha de crédito específica, quanto mais gerais como reforma agrária. Justamente
neste período de tempo que a juventude rural passou a atuar como agente político e a se organizar,
houveram recordes de políticas públicas e ações de ONGs, instituições e Associações voltadas à
juventude rural, demonstrando o fortalecimento da “juventude rural” como ator político e como
categoria social.
Na problematização sobre políticas públicas a autora fala que eles são jovens que também
são produtores familiares/trabalhadores rurais, que enfrentam desigualdades sociais, e então pensar
ação estatal pra “essa” juventude passa por observar suas próprias demandas emanadas deles
enquanto “juventude rural organizada” (DE CASTRO, 2009, p. 201).

Referencial:

CASTRO, Elisa G. “Juventude rural no Brasil: processos de exclusão e a construção de um ator


político” in Revista Latinoamericana de Ciencias Sociales, Niñez y Juventud. v. 7, n.1. Manizales,
2009.

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