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Direito Penal

O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula
ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros
doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais.

Sumário
1. Retrospectiva – Direito Penal – Segundo Semestre de 2014 ................................. 2

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O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula
ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros
doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais.

1. Retrospectiva – Direito Penal – Segundo Semestre de 2014


A presente aula analisará alguns julgados do segundo semestre de 2014, no direito
Penal, mas não só neste período. Sugere-se o conhecimento da jurisprudência com teoria e
realização de exercícios. Sugere-se a conjugação do estudo com esses pontos: teoria,
jurisprudência e exercícios.
DESARQUIVAMENTO DE INQUÉRITO POR NOVAS PROVAS APÓS DECISÃO DE
ARQUIVAMENTO FUNDADA NA EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE
PENAL. PROCESSUAL PENAL. RECURSO ESPECIAL. INQUÉRITO POLICIAL
ARQUIVADO POR RECONHECIMENTO DA LEGÍTIMA DEFESA.
DESARQUIVAMENTO POR PROVAS NOVAS. IMPOSSIBILIDADE. COISA JULGADA
MATERIAL. PRECEDENTES.
1. A permissão legal contida no art. 18 do CPP, e pertinente Súmula 524/STF,
de desarquivamento do inquérito pelo surgimento de provas novas, somente
tem incidência quando o fundamento daquele arquivamento foi a insuficiência
probatória - indícios de autoria e prova do crime.
2. A decisão que faz juízo de mérito do caso penal, reconhecendo atipia,
extinção da punibilidade (por morte do agente, prescrição...), ou excludentes
da ilicitude, exige certeza jurídica - sem esta, a prova de crime com autor
indicado geraria a continuidade da persecução criminal - que, por tal, possui
efeitos de coisa julgada material, ainda que contida em acolhimento a pleito
ministerial de arquivamento das peças investigatórias.
3. Promovido o arquivamento do inquérito policial pelo reconhecimento de
legítima defesa, a coisa julgada material impede rediscussão do caso penal em
qualquer novo feito criminal, descabendo perquirir a existência de novas
provas. Precedentes.
4. Recurso especial improvido.
Comentário: Quando se pensa em extinção de punibilidade, pensa-se, normalmente,
em prescrição, decadência ou perdão judicial. O inquérito policial é o instrumento de
investigação de que o Estado se vale. O MP, quando não encontra elementos suficientes
para propor denúncia, promove o arquivamento do inquérito policial, com a chancela do
juiz. Se este não concordar com a promoção do MP, remete os autos para o procurador
geral, se no estado; se em âmbito federal, para a segunda câmara de coordenação e revisão,
no MPF.
Diante de novas provas, o MP pode pedir o desarquivamento do inquérito policial.
Com base nas novas provas, irá estudar se propõe ou não a denuncia. Ocorre que há certas

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decisões sobre pedido de arquivamento que, segundo a doutrina e jurisprudência, podem


gerar coisa julgada material.
Quando do julgamento pela absolvição por ausência de prova, o réu não pode ser
julgado novamente pelo mesmo fato, em atenção ao princípio do Double Jeopardy (princípio
norte americano aplicado no Brasil). Sugere-se o texto do ex PGR Geraldo Brindeiro, sobre o
tema, que pode ser encontrado na internet.
O mesmo raciocínio acima, não se aplica à decisão de arquivamento do inquérito
policial, por falta de provas. Nesse caso, há a possibilidade de retomá-lo em caso de novas
provas. Porém, em alguns casos, quando o MP fundamenta o pedido de arquivamento do
inquérito policial em algumas situações como, p. ex, fato atípico, sendo o pedido
homologado pelo juiz, se trataria de uma forma de julgamento antecipado, de forma que
faria coisa julgada material, sem a possibilidade de abertura do inquérito policial por novas
provas.
Outro exemplo ocorre quando o MP, diante de provas que o levam a crer se tratar de
um furto, faz promoção do arquivamento do inquérito policial por prescrição da pretensão
punitiva do Estado. E se surgem após novas provas, demonstrando se tratar de roubo e não
furto? Ocorreria a modificação da capitulação do fato típico e, portando, do prazo
prescricional. Poderia, então, o MP pedir o desarquivamento do inquérito policial?
Entendeu-se que não, pois o fundamento do arquivamento do inquérito policial foi a
extinção da pretensão punitiva pela prescrição. Logo haveria coisa julgada material.
No caso acima citado (ver enunciado transcrito), tratava-se de um tiroteio entre
policiais e traficantes, havendo óbito de cidadãos. O MP fez promoção de arquivamento, por
entender que os policiais mataram as pessoas em legítima defesa. Ocorre que
posteriormente a comissão de direitos humanos da ALERJ encontrou provas de que os
mesmos policiais entraram no morro atirando. Logo, os mortos estavam se defendendo,
quando da troca de tiros, o que afastaria a tese de legítima defesa.
No julgamento, entendeu-se que descabe a abertura do inquérito, quando houver
sido declarada a extinção da punibilidade.

CRIMES PREVIDENCIÁRIOS: PARCELAMENTO DO DÉBITO E EXECUÇÃO DA PENA


APÓS O TRÂNSITO EM JULGADO. PENAL E PROCESSO. RECURSO ORDINÁRIO
EM HABEAS CORPUS. PROPRIAÇÃO INDÉBITA PREVIDENCIÁRIA. PRETENSÃO DE
SUSPENSÃO DA EXECUÇÃO DA PENA. CONDENAÇÃO TRANSITADA EM
JULGADO. MATÉRIA SUJEITA À APURAÇÃO PROBATÓRIA. VIA DE COGNIÇÃO
PLENA. RECURSO A QUE SE NEGA PROVIMENTO.

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1. A questão relativa ao reconhecimento de eventual parcelamento do débito


previdenciário, para o fim de suspender a execução da pena, reclama o apuro
probatório típico da via de cognição plena.
2. Inviável o manejo indevido do recurso ordinário em habeas corpus como
sucedâneo recursal ou mesmo revisão criminal, como se fosse esta Corte
terceira instância revisora.
3. Recurso ordinário a que se nega provimento.
Comentário:
O julgado acima trata do crime de apropriação indébita previdenciária, na forma do
artigo 168-A do CP. O crime se consuma com a não pagamento da quantia descontada a
título de contribuição previdenciária.
Art. 168-A. Deixar de repassar à previdência social as contribuições recolhidas
dos contribuintes, no prazo e forma legal ou convencional: (Incluído pela Lei nº
9.983, de 2000)

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. (Incluído pela Lei nº 9.983,
de 2000)

§ 1o Nas mesmas penas incorre quem deixar de: (Incluído pela Lei nº 9.983, de
2000)

I - recolher, no prazo legal, contribuição ou outra importância destinada à


previdência social que tenha sido descontada de pagamento efetuado a
segurados, a terceiros ou arrecadada do público; (Incluído pela Lei nº 9.983, de
2000)

II - recolher contribuições devidas à previdência social que tenham integrado


despesas contábeis ou custos relativos à venda de produtos ou à prestação de
serviços; (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)
III - pagar benefício devido a segurado, quando as respectivas cotas ou valores
já tiverem sido reembolsados à empresa pela previdência social. (Incluído pela
Lei nº 9.983, de 2000)

§ 2o É extinta a punibilidade se o agente, espontaneamente, declara, confessa e


efetua o pagamento das contribuições, importâncias ou valores e presta as
informações devidas à previdência social, na forma definida em lei ou
regulamento, antes do início da ação fiscal. (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)
§ 3o É facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou aplicar somente a de multa
se o agente for primário e de bons antecedentes, desde que: (Incluído pela Lei
nº 9.983, de 2000)

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I - tenha promovido, após o início da ação fiscal e antes de oferecida a


denúncia, o pagamento da contribuição social previdenciária, inclusive
acessórios; ou (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)
II - o valor das contribuições devidas, inclusive acessórios, seja igual ou inferior
àquele estabelecido pela previdência social, administrativamente, como sendo
o mínimo para o ajuizamento de suas execuções fiscais. (Incluído pela Lei nº
9.983, de 2000)
Nos últimos anos foram aprovadas várias leis tratando dos crimes contra ordem
tributária, com previsão de parcelamento do débito tributário. Esse parcelamento importa a
suspensão da pretensão punitiva do Estado. O eventual pagamento do parcelamento
importa a extinção da punibilidade de crime contra a ordem tributária.
Essa regra é tranquila enquanto o Estado propõe a denúncia, exercendo sua
pretensão punitiva. Com a sentença penal condenatória, com trânsito em julgado, surge a
grande questão, na medida em que o Estado passa a exercer a pretensão executória.
Questiona-se se o pagamento, neste caso, já em fase de execução da pena, poderia ensejar a
exintição da pretensão executória.
O professor sustenta que aceitar essa possibilidade, além de incentivar a fraude e
sonegação fiscal, traria uma situação de quebra da isonomia entre crimes cometidos por
“pobres”, sem violência e os crimes de “ricos”. O posicionamento do MPF é no sentido de
que não cabe a extinção de punibilidade na fase executória.
No julgado acima transcrito, entendeu o STJ que o HC não é meio adequado para a
pretensão à suspensão da pretensão executória, face ao pagamento de tributo.
Por outro lado, no mesmo STJ há precedente em sentido contrário. Veja:
II.Uma vez concedido o parcelamento dos débitos previdenciários não obstante
a vedação contidano art.7º da Lei 10.666/03 deve ser reconhecido o direito à
suspensão da pretensão punitiva estatal e da execução penal.
III.Recursoprovido.(REsp884057/RS,MinistroGILSONDIPP,QUINTATURMA,DJ29/
06/2007p.708).

DROGAS: CRIMES DE PERIGO ABSTRATO. BEM JURÍDICO TRANSINDIVIDUAL.


INSIGNIFICÂNCIA.
PENAL. POSSE DE ENTORPECENTE. USO PRÓPRIO. PRINCÍPIO DA
INSIGNIFICÂNCIA. APLICAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE.

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1. Segundo entendimento desta Corte e do STF, não incide o Princípio da


insignificância ao delito de posse de entorpecente para uso próprio, pois é de
perigo abstrato, contra a saúde pública, sendo, pois, irrelevante, para esse fim,
a pequena quantidade de substância apreendida.
2. Recurso ordinário não provido.

RECURSO EM HABEAS CORPUS. PORTE DE SUBSTÂNCIA ENTORPECENTE PARA


CONSUMO PRÓPRIO. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. IMPOSSIBILIDADE.
CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO EVIDENCIADO.
1. Independentemente da quantidade de drogas apreendidas, não se aplica o
princípio da insignificância aos delitos de porte de substância entorpecente
para consumo próprio e de tráfico de drogas, sob pena de se ter a própria
revogação, contra legem, da norma penal incriminadora. Precedentes.
2. O objeto jurídico tutelado pela norma do artigo 28 da Lei n. 11.343/2006 é a
saúde pública, e não apenas a do usuário, visto que sua conduta atinge não
somente a sua esfera pessoal, mas toda a coletividade, diante da
potencialidade ofensiva do delito de porte de entorpecentes.
3. Para a caracterização do delito descrito no artigo 28 da Lei n. 11.343/2006,
não se faz necessária a ocorrência de efetiva lesão ao bem jurídico protegido,
bastando a realização da conduta proibida para que se presuma o perigo ao
bem tutelado. Isso porque, ao adquirir droga para seu consumo, o usuário
realimenta o comércio nefasto, pondo em risco a saúde pública e sendo fator
decisivo na difusão dos tóxicos.
4. A reduzida quantidade de drogas integra a própria essência do crime de
porte de substância entorpecente para consumo próprio, visto que, do
contrário, poder-se-ia estar diante da hipótese do delito de tráfico de drogas,
previsto no artigo 33 da Lei n. 11.343/2006.
5. Recurso em habeas corpus não provido.
Comentário:
Há crimes que não atingem uma só pessoa, mas sim a coletividade, são crimes de
perigo abstrato, como crimes contra o consumidor, tráfico de drogas, ao meio ambiente.
Diferem-se dos crimes de lesão, ou de perigo concreto. O STF já declarou a
constitucionalidade dos crimes de perigo abstrato. Segundo entendimento do STJ e do STF,
não incide o Princípio da insignificância ao delito de posse de entorpecente para uso próprio,

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pois é de perigo abstrato, contra a saúde pública, sendo, pois, irrelevante, para esse fim, a
pequena quantidade de substância apreendida.

CRIMES SEXUAIS
[...]O recorrente, na qualidade de profissional da saúde, abusando de tal
condição, infligiu às suas pacientes a acre experiência da violação sexual
mediante fraude. Após a condenação, com emprego da arma de fogo que
portava em razão de sua profissão de médico perito da Polícia Científica, o
recorrente, descumprindo anterior medida cautelar pessoal decretada,
aproximou-se das testemunhas, causando-lhes temor. A necessidade da prisão
preventiva [...]
(RHC39858/TO,MinistraMARIATHEREZADEASSISMOURA,SEXTATURMA,DJe04/
11/2014)

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. CRIME CONTRA A DIGNIDADE


SEXUAL. ESTUPRO APÓS A EDIÇÃO DA LEI N. 12.015/2009. TIPO MISTO
ALTERNATIVO. CONDUTA PRATICADA CONTRA A MESMA VÍTIMA E NO MESMO
CONTEXTO FÁTICO. RECONHECIMENTO DE CRIME ÚNICO. POSSIBILIDADE.
I - A Lei n. 12.015/2009 promoveu a fusão, em um único delito, dos crimes de
estupro e atentado violento ao pudor, outrora tipificados nos arts. 213 e 214
do Código Penal, respectivamente.
II - Pela nova disciplina normativa, os crimes de estupro e Atentado violento ao
pudor são, agora, do mesmo gênero e da mesma espécie, razão pela qual,
quando praticados no mesmo contexto e contra a mesma vítima, devem ser
reconhecidos como crime único.
III - A Referida alteração aplica-se, inclusive, a fatos praticados anteriormente à
sua vigência, em atenção ao princípio da retroatividade da lei mais benéfica ao
réu.
IV - Agravo Regimental improvido.
Comentário:
O tipo penal do estupro admite várias condutas diversas, sendo classificado como
alternativo. O julgamento acima caracteriza o estelionato sexual. O agressor simula está
fazendo algo, como um exame, mas está atuando sexualmente. O crime de estupro
atualmente conjuga os crimes de estupro (conjunção carnal) e atentado violento ao pudor,

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num só tipo penal. Os dois tipos penais foram reunidos num só. O STJ entende que o tipo
penal é misto alternativo, no qual se poderão verificar vários atos possíveis que, se
praticados num único contexto, haverá só um crime.
Antes da modificação do tipo penal, haveria o concurso material entre estupro e
atentado. Aqueles que foram apenados dessa forma, com a modificação do tipo, poderão
rever suas penas para que respondam por só um crime de estupro.

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