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Leandro Gomes de Oliveira

Assistente Convidado da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra


§ «Corpo de normas (latu sensu) e procedimentos que se dedicam à regulamentação
do estabelecimento de relações jurídicas, à salvaguarda das garantia dos cidadãos
e à efetividade/operacionalidade da justiça»;
§ Ciência social que se dedica ao estudo das interações Jurídico-Humanas;

§ Finalidade Proteção da Vida e do Bem-Estar, promoção da Segurança e


do Desenvolvimento, e salvaguarda do Património;

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Vasos comunicantes
Natureza ordenadora,
Summa divisio entre entre os vários «ramos»
condicionadora e
Direito Público e do Direito - inexistência
originária do Direito
Direito Privado; de compartimentos
Constitucional;
estanques;

A emergência de novos
«ramos» para solucionar
novas questões;

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Direito
Constitucional

Administrativo Civil Comercial Fiscal Penal Processual Trabalho Europeu Internacional

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Administrativo

Funcionalismo Contratação Urbanismo e Segurança


Geral público Pública Ordenamento Ambiente Social Sancionatório

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Civil

Família e
Geral Contratos Obrigações Coisas
Sucessões

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§ De acordo com o Art. 209.º da CRP existem duas categorias paralelas e
equiparadas de Tribunais – os Tribunais Judiciais e os Tribunais
Administrativos e Fiscais;

STJ Relação 1.ª Instância

Constitucional
TAC/TF ou
STA TCA
TAF

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§ 1) Lei – diploma emanado pela Assembleia da República (al. c) do art. 161.º da
CRP)
§ Matérias cuja legislação/regulação compete exclusivamente à AR (reserva absoluta de
competência) – art- 164.º da CRP.
§ Matérias cuja legislação/regulação, em princípio, compete à AR, mas que podem ser
delegadas, mediante uma Lei de autorização, ao Executivo (reserva relativa de
competência) – art- 165.º da CRP.

§ 2) Decreto-Lei – diploma emanado pelo Executivo – art- 198.º da CRP


§ Podem dispor sobre matérias integradas na reserva relativa de competência da AR, quando
autorizados.
§ Competência própria e exclusivamente em matéria de organização e competência.

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§ Projetos de Lei – iniciativa dos Deputados ou Grupos Parlamentares.

§ Propostas de Lei – iniciativa do Executivo.

§ 1.º - votação na generalidade em sessão plenária.

§ 2.º - votação na especialidade (artigo a artigo), feita, regra geral, em comissão.


§ 3.º - votação final global em plenário.

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§ Aprovada pelo Decreto de 10 de Abril de 1976;
§ Revista 7 vezes (1982; 1989; 1992; 1997; 2001; 2004 e 2005;
§ Cada revisão constitucional é concretizada por meio de uma Lei constitucional;

§ Constitui o texto fundamental da III República Portuguesa e prescreve as bases da


organização política, económica, jurídica e social do nosso Estado de Direito
Democrático;
§ Característica programático – Um dos textos fundamentais mais pormenorizados
e «perfeitos» da Europa

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§ A CRP consagra no Título II da Parte I o catálogo de “ Direitos e Deveres fundamentais”, entre os quais os
“Direitos, Liberdades e Garantias Pessoais”; “Direitos, Liberdade e Garantias de Participação Política”;
“Direitos, Liberdades e Garantias dos Trabalhadores”

§ Estado de Direito Democrático (Art. 2.º da CRP): “A República Portuguesa é um Estado de direito
democrático, baseado na soberania popular, no pluralismo de expressão e organização política
democráticas, no respeito e na garantia de efectivação dos direitos e liberdades fundamentais e
na separação e interdependência de poderes, visando a realização da democracia económica, social
e cultural e o aprofundamento da democracia participativa.”

§ Igualdade (Art. 13.º da CRP): ”Todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante
a lei.”

§ Habitação e Urbanismo (Art. 65.º da CRP): “Todos têm direito, para si e para a sua família, a uma
habitação de dimensão adequada, em condições de higiene e conforto e que preserve a intimidade
pessoal e a privacidade familiar.”

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§ Aprovado pelo Decreto-Lei n.º 47344/66;

§ Alterado 79 vezes – A redação atualizada consta da Lei n.º 65/2020;

§ Concretizado judicialmente por meio do processo civil – Lei n.º 41/2013

§ Diploma fundamental da regulamentação do Direito privado – Aquele que


regulamenta as diversas relações jurídicas estabelecidas entre os privados
(contratos; sucessões, família, coisas, obrigações, capacidade e personalidade
jurídica, arrendamento);

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§ O n.º 2 art. 1365.º permite a constituição de uma servidão de estilicídio – direito a «gotejar»
em prédio alheio;

§ O n.º 2 do art. 1363.º prescreve as dimensões das Frestas, Soleiras e Óculos para luz e ar – “As
frestas, seteiras ou óculos para luz e ar devem, todavia, situar-se pelo menos a um metro e
oitenta centímetros de altura, a contar do solo ou do sobrado, e não devem ter, numa das suas
dimensões, mais de quinze centímetros; a altura de um metro e oitenta centímetros respeita a
ambos os lados da parede ou muro onde essas aberturas se encontram.”

§ O (novo) regime de proteção ao animais foi introduzido no código pela Lei n.º 8/2017 que,
entre outras coisas, estabeleceu que os animais são “seres vivos dotados de sensibilidade” e
criou regimes específicos para o divórcio;

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§ Aprovado pelo Decreto-Lei n.º 48/95;

§ Alterado 52 vezes – redação atual nos termos da Lei n.º 58/2020;

§ Diploma base em matéria criminal - é o ramo do direito qualificável como direito


constitucional aplicado;

§ Concretizado por meio do processo penal – Decreto-Lei n.º 78/87

§ De acordo com o art. 41.º e ss só existem 3 espécies de penas: prisão, multa e


proibição do exercício de profissão, função ou atividade;
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§ Coima não é sinónimo de multa – A coima é uma sanção administrativa
aplicada no decurso da prática de um ilícito de mera ordenação social, que não
se confunde com o Direito Penal – Ex: coima por estacionamento indevido ou por
ultrapassagem do limite máximo de circulação rodoviária.

§ O ordenamento jurídico português adota uma perspetiva humanista e


garantística do direito penal, o que se materializa numa panóplia de garantias
processuais quanto à aplicação e efetivação das penas (e medidas de segurança
– incapazes);
§ O processo penal é dividido em 3 fases: inquérito; instrução (eventual) e
julgamento.

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§ Decreto-Lei n.º 4/2015
§ Regula as relações estabelecidas entre a Administração Pública e os Particulares.
§ As decisões administrativas (atos administrativos) são praticados no seguimento
de um Procedimento Administrativo.
§ A Administração, regra geral, intervém dotada de ius emperii – poderes de
autoridade.
§ Os contratos públicos e Administrativos encontram-se previstos no Código dos
Contratos Públicos.
§ Ex: licenciamento urbanístico; pedido de informações;

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Engenharia, uma profissão de confiança pública

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§ O regime jurídico geral da responsabilidade civil em Portugal está disciplinada no
Código Civil

§ Existem 2 modalidades distintas de responsabilidade civil: Responsabilidade


Subjetiva (ou por factos ilícitos) e a responsabilidade objetiva (ou por factos
lícitos/independente de culpa).

§ A responsabilidade subjetiva subdivide-se entre responsabilidade Extracontratual


(art. 483.º e ss do CC) e Contratual (art. 799.º e ss do CC) - Ambas têm como
finalidade a indemnização do lesado pelos danos sofridos

§ A responsabilidade objetiva subdivide-se em vários regimes: responsabilidade pelo


risco (art. 499.º e ss do cc); responsabilidade decorrente de produtos defeituosos
(Decreto-Lei n.º 383/89), entre outras;

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§ A criação de um regime de responsabilidade civil objetiva (sem culpa) justifica-
se por uma certa lógica de socialização do risco. Isto é, numa sociedade de risco
como aquela em que vivemos cada um deverá ser responsável pelos danos que
causar através sua conduta, ainda que esta seja lícita e não esteja associada a
qualquer modalidade de culpa (dolo ou negligência).

§ É um regime excecional que só existe nos casos expressamente previstos na lei –


n.º 2 do art. 483.º do CC

§ Limitação dos danos indemnizáveis – (art. 508.º - 510.º) - muitas vezes assegurados
pela subscrição obrigatória de um seguro (Responsabilidade por veículos de
circulação terrestre).
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§ Existem 5 pressupostos cumulativos que têm de estar preenchidos: conduta,
ilicitude, culpa (apreciada em abstrato e não em concreto – Homem médio) ,
nexo causal e dano;

§ Todos os danos provocados são indemnizáveis (responsabilidade ilimitada) – n.º 1


do art. 483.º do CC – danos patrimoniais (lucros cessantes e danos emergentes) e
não patrimoniais (insuscetíveis de avaliação pecuniária, pelo que não é
indemnização mas compensação);

§ Regime-regra de responsabilidade civil

§ Subdivide-se entre contratual e extracontratual/aquiliana

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§ Deriva do incumprimento ou cumprimento defeituoso de uma obrigação
(maxime um contrato);

§ O regime jurídico encontra-se previsto nos art. 798.º e ss do CC – “O devedor que


falta culposamente ao cumprimento da obrigação torna-se responsável pelo
prejuízo que causa ao credor.”

§ Inversão do ónus de prova – cabe ao devedor fazer prova de que o


incumprimento ou cumprimento defeituoso não procede de culpa sua (n.º 2
do art. 799.º do cc);

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§ Tem como fonte a prática de uma conduta ilícita e dolosa;

§ Regime regra dentro da responsabilidade civil subjetiva;

§ O regime jurídico encontra-se previsto no art. 483.º e ss do CC;

§ Cabe ao lesado fazer prova dos pressupostos que permitem a atribuição da


indemnização;

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§ A responsabilidade penal concretiza-se por meio de uma pena – multa, prisão,
proibição de exercício de profissão;
§ A responsabilidade penal é independente da responsabilidade civil –
possibilidade de serem conjugadas por meio de um pedido de indemnização
cível;
§ O art. 277.º do CP prescreve que quem no exercício da profissão
violar/desrespeitar as «legis artis» ou outras condições regulamentares e, com
isso, criar perigo para a vida e/ou para a integridade física de outrem ou, ainda,
património alheio, é punido com pena de prisão de 1 a 8 anos. Se o ato gerador
da responsabilidade penal tiver sido cometido por negligência, a moldura penal
é reduzida para um máximo de 3 anos ou penal de multa;
§ Outras disposições: Violação de regras urbanísticas (art. 278.º -A); Poluição (art.
279.º); Danos contra a Natureza (art. 278.º);

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§ O código de Ética e Deontologia é parte integrante do Estatuto da Ordem dos Engenheiros –
Aprovado pelo Decreto-Lei n.º 119/92 e alterado pela Lei n.º 123/2015.
§ De acordo com o n.º 1 do art. 91.º a responsabilidade disciplinar é independente da
responsabilidade civil e penal, bem como da eventual responsabilidade perante o empregador;
§ Nos termos do n.º 1 do art. 89.º é tida como «infração disciplinar toda a ação ou omissão que
viole os deveres consignados nos estatutos ou regulamentos;
§ Nos termos do n.º 2 do art. 90.º a suspensão da inscrição não faz cessar a responsabilidade
disciplinar por infrações anteriormente praticadas;
§ O art. 100.º elenca como sanções disciplinares a advertência, a repreensão registada e a
suspensão do exercício profissional até ao máximo de 15 anos – possibilidade de serem
aplicadas sanções acessórias (art. 102.º);
§ O critério de graduação está previsto no art. 101.º - antecedentes profissionais e disciplinares,
grau de culpabilidade, consequências da infração e todas as demais agravantes ou
condicionantes;
§ As infrações disciplinares prescrevem no prazo de 5 anos, salvo se constituírem crime. Nesse
caso, o prazo de prescrição é idêntico ao estabelecido para o crime (n.º 1 e 2 do art. 94.º);

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§ Tratar-se-á de um caso de responsabilidade civil objetiva ou subjetiva?
§ O condutor ao assumir uma posição meramente acessória na condução deixa de
poder ser responsabilizado?
§ A eventual aplicação do 503.º do CC – Direção efetiva + utilização no próprio
interesse
§ A eventual aplicação do 493.º do CC – uma eventual omissão do deveres de
vigilância
§ Será justo impor normais deveres de vigilância a pessoas com mobilidade
reduzida e/ou idosos?

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M é o líder muçulmano do grupo terrorista KA. KA está a preparar um ataque à Sé de Lisboa, no dia 10 de dezembro de 2023, por
ocasião de uma cerimonia da Nunciatura Apostólica, pela resignação do atual Cardeal Patriarca. Na referida cerimonia espera‐se a presença de cerca
de oitocentas pessoas, entre as quais as mais altas figuras políticas e patentes militares portuguesas. O chefe operativo do KA aguarda ordem
expressa de M para enviar e posicionar cinco «bombistas suicidas» no local.
Todavia, algumas comunicações relativas a este ataque foram intercetadas por agentes portugueses, tendo M sido previamente
localizado, na madrugada do dia 10. Ao ser perseguido, M barricou‐se na cave de uma escola primária na vila de “Casal de São Vicente”.
De modo a avaliar a possibilidade de capturar M, os agentes portugueses enviam ao terreno Alpha 3. Alpha 3 é um robô autónomo e
multiterreno, habitualmente conhecido por drone, que foi desenhado para programar a emissão de mísseis ar‐terra em tempo direto. E1, E2, e E3 são
mísseis AGM‐65 Maverick de artilharia ar‐terra moderna, que se encontram sob direção exclusiva de Alpha 3.
Alpha 3 foi programado para tomar, sozinho, decisões com relevância ética, segundo um programa atual de PME (programming
machine ethics). Nenhum humano condiciona as decisões de Alpha 3, depois de ativado. No espaço temporal em que se mantém ativo, Alpha 3 não
pode ser reprogra‐ mado em tempo real e as suas decisões não podem ser abortadas, pois essa possibilidade poderia ser aproveitada pelo inimigo.
São 08:20 horas da manhã, e Alpha 3 está agora sozinho a sobrevoar a escola primária onde M se encontra barricado, e onde se
encontram, tam‐ bém, cinco adultos e oito crianças. Em tempo real, os agentes portugueses observam as imagens captadas e o relatório atualizado do
seu drone, e trocam informações com Alpha 3. Uma comunicação entre indivíduos do grupo KA é intercetada e confirma que está tudo preparado
para o ataque à Sé de Lisboa, aguardando‐se a ordem do líder.
Alpha 3 observa que M se encontra, ele mesmo, armadilhado com explosivos e que está a prepará‐los. Com base nesta informação,
Alpha 3 supõe que os funcionários e as crianças que se encontram na escola primária irão necessariamente morrer, e decide que eliminar M é a
decisão adequada. Alpha 3 sabe que isso implicará a morte dos funcionários e das crianças que já estão na escola, mas entende que se trata de um mal
necessário, e de resto inevitável, para impedir o ataque à Sé de Lisboa. Assim, Alpha 3 decide ativar o míssil E1, que se projeta contra a escola
primária. Quid iuris?
Revista Portuguesa do Dano Corporal (27), 2016

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§ A, proprietário de um imóvel – prédio urbano, pretende celebrar com B um
contrato de compra e venda desse imóvel. Qual dos diplomas é aplicável?

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§ A, proprietário de um imóvel – prédio urbano não edificado, pretende obter uma
licença para a construção de um muro. Qual o ramo do direito que, em abstrato,
regula esta pretensão?

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§ O sujeito A mata o sujeito B. Para efeitos do Código Penal esta é uma conduta que
consubstancia a prática de um crime. Que tipos de pena podem ser aplicadas?

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§ O sujeito A conduz um veículo em excesso de velocidade e, devido a essa
circunstância, acaba por embater num muro causando elevados prejuízos.
§ Em que tipo de responsabilidade incorre?

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§ Se um engenheiro no exercício das suas funções não respeitar as «legis artis» e
devido a esse facto causar prejuízos.
§ Poderá haver responsabilidade disciplinar?

§ Se sim, esta é cumulável com outro tipo de responsabilidade?

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Leandro Gomes de Oliveira
Assitente Convidado da Faculdade de Direito da Universiade de Coimbra
leandrooliveira@fd.uc.pt 33

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