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CLASSIFICAÇÃO DOS BAIRROS DE JUAZEIRO DO NORTE-CE EM

RELAÇÃO AO RISCO DE OCORRÊNCIA DE PARASITOSES:


ANÁLISE DA INFRAESTRUTURA DOMICILIAR.
Pedro Rafael Reis Coelho¹
Karla Denise Barros Ribeiro²
Natália Freitas Francelino Dias³
André Câncio de Oliveira Amorim4
Roberto Flávio Fontenelle Pinheiro Júnior5

RESUMO: As infecções parasitárias estão fortemente associadas às más condições sanitárias.


O objetivo desse trabalho é dimensionar o risco parasitário a que está exposta a população de
Juazeiro do Norte-CE, correlacionando-o com as condições de infraestrutura domiciliar no
que diz respeito à existência de banheiros e sanitários de uso exclusivo do domicílio. Foram
utilizados dados secundários, cuja fonte foi o Censo Demográfico 2010 do IBGE. Foi
identificado que dos 31 bairros de Juazeiro do Norte-CE, 23 estão em situação de baixo risco
parasitário, 6 encontram-se em situação de médio risco parasitário e 2 estão em situação de
alto risco parasitário. O trabalho mostrou também que os bairros que estão localizados na
região central da cidade tem melhor situação de infraestrutura domiciliar, consequentemente
menor risco parasitário. Enquanto que os bairros situados em regiões mais periféricas da
cidade tem pior situação de infraestrutura domiciliar, consequentemente maior risco
parasitário.

Palavras-chave: risco; parasitismo; infraestrutura; domiciliar; Juazeiro do Norte.

INTRODUÇÃO

As infecções parasitárias constituem um grave problema de Saúde Pública nos países


em desenvolvimento e apresentam-se fortemente associadas às más condições sanitárias e
socioeconômicas. (BASSO et al, 2008)
Segundo Motta e Silva (2002) as parasitoses, em geral, são transmitidas por contato
direto fecal-oral ou contaminação de alimentos e água em ambientes com condições sanitárias
inadequadas. A população de baixa renda que reside em ambientes de alta contaminação, com
aglomeração intensa de pessoas, sem acesso a saneamento e coleta do lixo, tem um maior
risco de se infectar (MOTTA E SILVA, 2002). As crianças em idade escolar são as mais
atingidas e prejudicadas pelas doenças parasitárias, uma vez que seus hábitos de higiene são,
na maioria das vezes, inadequados e sua imunidade ainda não está totalmente eficiente para a
eliminação dos parasitos. (UCHÔA et al, 2001) As enteroparasitoses colaboram para o
agravamento de quadros de desnutrição, diarréia, anemias, diminuição do desenvolvimento
físico e do aproveitamento escolar das crianças. (SANTOS et al, 2005)
Após levantamentos com crianças em idade escolar realizados por Manus et al (2008),
Pittnet e Moraes (2007), Bencke et al (2006), Ferreira et al (2006) e Roque (2005) verificou-
se que em média 43% do total da amostra de crianças de suas pesquisas estavam infectadas
por algum parasito, cujos mais frequentes são, principalmente: As amebas – Giardia lamblia,
Entamoeba coli e os helmintos: Ascaris lumbricoides, Hymenolepis nana, Trichuris trichuria,
Ancylostoma duodenale. Tais levantamentos ilustram a elevada prevalência das parasitoses
intestinais em nosso meio e a necessidade de uma maior ação por parte dos educadores para
1 Acadêmico, Universidade Federal do Cariri, Barbalha, xpedrobala@gmail.com
2 Acadêmica, Universidade Federal do Cariri, Barbalha, karladenisebr@hotmail.com
3 Acadêmica, Universidade Fedaral do Cariri, Barbalha, nataliaffdias@hotmail.com
4 Acadêmico, Universidade Federal do Cariri, Barbalha, andrecancio@hotmail.com
5 Professor, Universidade Federal do Cariri, Barbalha, robertopinheirojr@hotmail.com
que os grupos de risco, principalmente as crianças, adotem medidas higiênicas que colaborem
positivamente com sua saúde. Além de medidas socioeducativas faz-se necessário, também,
uma maior responsabilidade sanitária no que diz respeito ao saneamento básico. O decreto de
11.145/2007 estabelece as diretrizes nacionais para o saneamento básico e para a política
federal de saneamento básico. Dentre os princípios fundamentais estão a universalização do
acesso ao saneamento básico, abastecimento de água, esgotamento sanitário, limpeza urbana e
manejo dos resíduos sólidos realizados de formas adequadas à saúde pública e proteção do
meio ambiente. Com a publicação da Lei de Saneamento Básico, todas as prefeituras têm
obrigação de elaborar seu Plano Municipal de Saneamento Básico (PMSB). Sem o PMSB, a
partir de 2014, a Prefeitura não poderá receber recursos federais para projetos de saneamento
básico. Portanto, a garantia de acesso ao saneamento básico pela população está respaldado
judicialmente, cabendo às autoridades políticas locais viabilizar as estratégias e obras que
beneficiem a população.
Segundo Neves (2000), fazem parte da prevenção primária de parasitoses medidas que
procuram impedir que o indivíduo adoeça, controlando os fatores de risco. Tais medidas
agem, portanto, na fase pré-patogênica, fase esta que abrange indivíduos totalmente sadios
mas que encontram-se em situações de risco para adquirir parasitoses intestinais e alcançarem
o estágio patogênico. É importante em qualquer população: moradia adequada, saneamento
ambiental, escolas, alimentação suficiente e áreas de lazer. A prevenção primária pode ser
direcionada para grupos populacionais visando uma redução média do risco de adoecer ou
dirigida para indivíduos que estejam sujeitos a maior exposição a um fator de risco (NEVES,
2000).
Considerando-se a provável associação entre más condições de infraestrutura
domiciliar e higiênico-sanitárias com o aumento da frequência das infecções por parasitas
intestinais e desnutrição, o presente estudo tem como objetivo dimensionar o risco parasitário
a que está exposta a população de Juazeiro do Norte-CE, correlacionando-o com as condições
de infraestrutura domiciliar no que diz respeito à presença de banheiros e sanitários para uso
familiar exclusivo.

MATERIAIS E MÉTODOS

Trata-se de um estudo do tipo transversal quantitativo e qualitativo acerca das


condições de higiene domiciliar a que está inserida a população dos diferentes bairros de
Juazeiro do Norte-CE. Foram utilizados dados secundários, cuja fonte foi o Censo
Demográfico 2010 do IBGE. Dessa forma, foram analisados os seguintes dados: Domicílios
particulares permanentes, por situação do domicílio e existência de banheiro ou sanitário de
uso exclusivo do domicílio. A medida arbitrária “vulnerabilidade” foi utilizada para calcular o
risco parasitário da população dos bairros. Foram classificados como domicílios vulneráveis
aqueles que não possuíam banheiro nem sanitário para uso familiar no interior do domicílio.
Após a obtenção de dados foi utilizada uma regra de três simples verificando quantos
domicílios eram vulneráveis para o total de domicílios existentes no bairro.
Para analisar a vulnerabilidade entre os bairros, foi utilizada uma classificação
arbitrária, tendo em vista que até o presente momento não existe na literatura nenhuma
classificação padronizada para o devidos fim. Segundo a classificação adotada entre 0 a 1%
estavam inclusos os bairros de baixa vulnerabilidade. Entre 1 a 4% foram considerados de
média vulnerabilidade e acima de 4% foram considerados bairros expostos à alta
vulnerabilidade.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

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Como resultado, foi observado que de um total de 69.151 domicílios no município de
Juazeiro do Norte-CE, 1.078 encontram-se numa situação de vulnerabilidade considerável em
virtude da inexistência de sanitário ou banheiro de uso exclusivo do domicílio. A seguir, a
análise subdividida entre os 34 bairros de Juazeiro do Norte-CE:

Tabela 1 - Existência de banheiro ou sanitário e número de banheiros de uso exclusivo do


domicílio em Juzeiro do Norte-CE, 2013.
Bairros (total=34) Total de domicílios Domicílios Vulnerabilidade
vulneráveis
Aeroporto 258 1 0,38%
Antônio Vieira 1902 5 0,26%
Betolandia 538 12 2,23%
Brejo Seco 219 6 2,73%
Carité 263 10 3,80%
Centro 1763 13 0,73%
Distrito Industrial - - -
Fátima 1067 1 0,09%
Franciscanos 3615 14 0,38%
Frei Damião 3864 116 3,00%
Horto 1325 127 9,58%
Jardim Gonzaga 1638 28 1,70%
João Cabral 4809 20 0,41%
José Geraldo da Cruz 1329 10 0,75%
Juvêncio Santana 1160 1 0,08%
Lagoa Seca 1433 0 0%
Leandro Bezerra de 860 0 0%
Menezes
Limoeiro 3430 16 0,34%
Novo Juazeiro 988 1 0,10%
Pedrinhas 2552 110 4,31%
Pio XII 3149 10 0,31%
Pirajá 4204 5 0,11%
Planalto 109 1 0,91%
Romeirão 1977 5 0,25%
Salesianos 4017 9 0,22%
Salgadinho 349 2 0,57%
Santa Teresa 1962 6 0,30%
São José 2759 13 0,47%
São Miguel 2424 9 0,37%
Socorro 708 6 0,84%
Timbaúba 3455 10 0,28%
Tiradentes 2727 13 0,47%
Três Marias - - -
Triângulo 2668 33 1,2%

Fonte: Censo Demográfico, 2010. IBGE. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br>. Acesso


em 06 set 2013.

Do total de 34 bairros listados (tabela 1), foram obtidos os dados de 32 deles ficando
excluídos da pesquisa: Distrito Industrial e Três Marias, bairros estes que não foram incluídos
na categoria ‘bairros’ do censo 2010 do IBGE. Na análise inicial destacaram-se positivamente
os bairros Lagoa Seca e Leandro Bezerra de Menezes, nos quais, todos os domicílios possuem
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banheiro e sanitário de uso exclusivo. Chama a atenção o fato de o bairro Lagoa Seca,
provavelmente com melhores condições socioeconômicas, ter 100% dos seus domicílios com
infraestrutura domiciliar adequada. Destacaram-se negativamente os bairros Horto (9,58%) e
Pedrinhas (4,31%) com um elevado percentual de domicílios que não possuem banheiros ou
sanitários de uso exclusivo (tabela 1). De acordo com os trabalhos de Basso et al (2008) e
Rouquayrol (2006), pode-se inferir que que os moradores do bairro Lagoa Seca são poucos
sujeitos a certos tipos de parasitoses intestinais devido às melhores condições de higiene
domiciliar, enquanto que os moradores dos bairros Horto e Pedrinhas estão muito sujeitos ao
desenvolvimento de parasitoses intestinais, pois sua incidência é acidentalmente elevada nos
grupos economicamente menos privilegiados e com piores condições de higiene domiciliar.

Tabela 2 – Bairros de Juazeiro do Norte-CE distribuídos por vulnerabilidade, 2013.

Vulnerabilidade Bairros

Baixa (< 1%) Aeroporto, Antônio Vieira, Centro, Fátima,


Franciscanos, João Cabral, José Geraldo da
Cruz, Juvêncio Santana, Lagoa Seca,
Leandro Bezerra de Menezes, Limoeiro,
Novo Juazeiro, Pio XII, Pirajá, Planalto,
Romeirão, Salesianos, Salgadinho, Santa
Teresa, São José, São Miguel, Socorro,
Timbaúba, Tiradentes.

Média (1 a 4%) Betolândia, Brejo Seco, Carité, Frei Damião,


Jardim Gonzaga, Triângulo.

Alto Risco (> 4%) Horto, Pedrinhas

Foi observado, segundo a tabela 2, que a maioria (23) dos bairros de Juazeiro do
Norte-CE está com adequada situação de infraestrutura domiciliar, no entanto, os bairros
classificados em médio e alto risco requerem uma atenção especial, pois segundo Neves
(2000) más condições sanitárias de um único domicílio podem refletir em um conjunto de
domicílios ou mesmo numa comunidade inteira.
Nas figuras a seguir, foi realizada a distribuição geográfica da classificação de risco
anteriormente utilizada (tabela 2) entre os bairros de Juazeiro do Norte-CE:

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Figura 1 - Mapa de Juazeiro do Norte com identificação das áreas pesquisadas, 2013.

Fonte: Google Maps, 2013. Disponível em: <http://maps.google.com>. Acesso em 06 set 2013.

Figura 2 - Mapa de Juazeiro do Norte com identificação das zonas de alto e baixo risco, 2013.

Fonte: Google Maps, 2013. Disponível em: <http://maps.google.com>. Acesso em 06 set 2013.

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A partir da análise geográfica dos mapas (figura 1 e 2), foi possível inferir que os
bairros localizados próximo ao centro do município de Juazeiro do Norte-CE, na zona verde
do mapa da figura 2 (raio de 2 km) tem uma melhor estrutura de infraestrutura domiciliar
pertencendo, portanto à melhor categoria cuja classificação para risco parasitário é de baixo
risco. À medida que ocorre o distanciamento do centro da cidade, foi possível constatar a
existência de bairros em situações piores como Betolândia, Brejo Seco, Carité, Frei Damião,
Jardim Gonzaga, Triângulo, pertencendo, portanto, à classificação de médio risco,
representados pela cor marrom no mapa (figura 1). Para concluir, é possível observar que
bairros que apresentam uma situação mais crítica como Horto e Pedrinhas, representados pela
cor vermelha (figura 1), estão situados em um raio aproximado de 4km do centro, na periferia
da cidade (figura 2).

CONCLUSÕES

A análise territorial realizada contribuiu para identificar os bairros que se encontram


em maior situação de risco parasitário de acordo com a situação de infraestrutura domiciliar,
bem como revelar uma realidade de exclusão das políticas públicas de saneamento dos bairros
mais periféricos e afastados do centro de Juazeiro do Norte-CE. É necessário ressaltar a
importância dos investimentos em saneamento básico e políticas para a população sob risco,
como forma de viabilizar o enfrentamento das precárias condições socioambientais daquelas
comunidades. Uma intervenção por parte do governo se faz necessária urgentemente em
virtude da grande capacidade de disseminação coletiva das principais parasitoses entre os
domicílios e entre uma comunidade inteira.

REFERÊNCIAS

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