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SISTEMAS DE ABUNDÂNCIA

vamente e se tornaram perenes. Os gráficos de sucessão das


espécies (imagens 16, 17 e 24) nos dão uma ideia de como
a transição entre elas ocorre. Junto a essa transição, o solo
vai se tornando melhor em todos os parâmetros, sejam eles
químicos, físicos ou biológicos. É importante lembrar que começamos
o agroecossistema plantando todas as espécies de
todos os sistemas (acumulação e abundância), cada sistema
tendo representantes de cada estrato. Porém, se iniciamos
nosso agroecossistema em uma mata com grande quantidade
e qualidade de vida consolidada, ou seja, se já iniciamos o
trabalho em um patamar elevado, não necessitamos plantar
espécies de sistemas de acumulação, pois já temos um nível
maior de fertilidade do solo.
Nesse caso, podemos introduzir, para cada andar (ou estrato),
espécies de sistemas de abundância, além de aproveitarmos a vigorosa
regeneração natural. Podemos, por exemplo, incluir frutíferas
e madeiráveis nativas e exóticas que crescem bem em cada
bioma. Como exemplo de sucessão das espécies, iniciamos um
agroecossistema com hortaliças (placentas 1 e 2), secundárias 1,
secundárias 2 e climáxicas, com representantes em todos os estratos.
Depois de 30 ou 40 dias, podemos colher rúcula, rabanete,
coentro e mostarda. Em seguida, vem a colheita de alface, brócolis,
berinjela, yacon, batata-baroa, mandioca, abacaxi e mamão.
A horta, então, se despede e as árvores se estabelecem. Como
primeira emergente, desponta a embaúba (Cecropia sp, secundária
1, que vive de 10 a 20 anos), a balsa e a eritrina; logo abaixo
delas temos o guapuruvu (Schizolobium parahyba, secundária 2,
que vive de 60 a 80 anos) e, lá embaixo, crescendo bem mais devagar,
temos o dandá (Joanesia princeps, sistema de abundância,
que vive mais de 80 anos). Todas as três espécies são emergentes,
mas cada uma apresenta um tempo de vida diferente. Embaúba
e guapuruvu são de sistemas de acumulação, enquanto o dandá
é mais próximo do sistema de abundância. Quando podamos a
embaúba, o guapuruvu se estica um pouco mais sob a influência
Independentemente do estágio de destruição em que
encontramos um lugar, seja ele um deserto, uma área
degradada, uma capoeira abandonada, uma cava de
mineração ou uma terra de cultura, nosso objetivo é
levá-lo a ser um sistema de abundância. Podemos dizer
que esse é nosso “sistema de luxo”.
ele, podemos produzir, sem auxílio de insumos
externos, alimentos em abundância
para mamíferos de porte grande, como nós,
humanos, pois a terra tem a quantidade e a
qualidade de vida consolidada que permite às nossas plantas
um pleno desenvolvimento do seu potencial. Muitas vezes,
erroneamente, denominamos isso de terra fértil. Elaborado de
um ponto de vista antropocêntrico, o conceito não dá conta
do fato de que uma terra fértil para a rúcula, por exemplo,
não presta para feto-de-gaiola (Pteridium aquilinum), planta
que ocorre nos sistemas de acumulação iniciais. Atualmente,
em virtude de muitos anos de trabalho para melhorar as
terras com as técnicas que tem desenvolvido, Ernst Götsch
se vê obrigado a ralearG, em sua fazenda na Bahia, espécies
exigentes em fertilidade, como mamão (Carica papaya) e
inhame (Colocasia esculenta), que nascem abundantemente
nas clareiras abertas nos agroecossistemas antigos. Ernst
já produziu milho e tomate (Solanum lycopersicum) com
apenas 5 mm de chuva, e, por sua experiência, afirma que
agroecossistemas complexos que ocupam territórios com
mais de 500 hectares são capazes de produzir um aumento
das chuvas, influenciando toda a região do entorno. Após 30
anos de trabalho e 340 hectares transformados em florestas,
17 córregos em sua fazenda voltaram a ter água corrente no-

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