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Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção
carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso:
Conseqüências do estupro:
A fase de desorganização aguda – período em que as vítimas podem vir a ter:
2) auto-acusações;
O homem que segura minhas pernas, com garras inalcançáveis, invade toda minha intimidade de uma só
vez, estrangulando todo o meu ser em uma dor lancinante e além d'alma... que sensação de impotência,
meu Deus! Outro grita para que eu fique calada e pare de me debater, de tentar qualquer coisa... estou
totalmente inerte, tenho medo até de respirar e causar mais fúria naqueles homens que não consigo ver
os rostos... que agonia!
Se revezam. Estão me rasgando inteira: são mordidas nos ombros, nas costas e vários outros lugares de
meu corpo. Estão rasgando todo o tecido de meu corpo... minhas pernas já não são sentidas por mim,
pois estão adormecidas e doloridas pela posição incômoda na qual me encontro... minha barriga e
estômago estão sendo comprimidos contra o balcão de mármore frio... e não posso me virar... Meu Deus,
me ajuda, peço mentalmente num fiasco de pensamento lúcido que transpassa minha mente nesse
momento. Sinto vontade súbita de vomitar... a mistura dos odores desses monstros com o suor, com
certeza, será inesquecível; e saberei distingui-lo sempre, porque ficará impregnado em minha pele, em
meus sentidos, em minhas carnes, em minha alma. O som das vozes dos meus algozes também serão
guardadas em minha mente para sempre! Estão violando meu corpo e minha alma; estão marcando a
ferro e brasa o mais íntimo de meu ser.
Aperto os olhos para ter certeza que é pesadelo, mas abro-os e vejo que o pesadelo não acabou, é real...
estou desfalecendo... sinto que minha consciência está me abandonando e meu corpo já não me ajuda a
tentar me concentrar! Nesse momento, sinto que estou perdendo os sentidos com os sons, ao fundo, dos
gemidos loucos, vorazes e sórdidos de meus algozes totalmente insensíveis que insistem em impregnar
minha mente... mas luto para não perder os sentidos... preciso ver quem são, se conseguir viver....
Estou suada, tremendo, com medo, com raiva, com tristeza, com solidão, sem ajuda, sem ninguém
próximo para me acalmar nessa agonia vivenciada...
De repente, no ápice de todo o inferno vivido, acordo e percebo que tive o mesmo pesadelo que me
acompanha há mais de nove anos. As lembranças povoam meu subconsciente e meu consciente não
quer acreditar que tudo é parte de um passado!
Mas por que não me livro daquelas imagens e de todo o ocorrido? Por que sempre revivo como se fosse
agora toda aquela invasão do meu íntimo? Por que, meu Deus?
Sim, sou vítima de estupro e acabei de acordar de mais um pesadelo que me faz reviver tudo aquilo. Não
desejo esse terror a ninguém; a ninguém mesmo! Mas, por Deus, meu mundo caiu e jamais conseguiu se
reerguer. Minha auto-estima; auto-confiança; alegria; segurança; enfim... todo o meu ser... a mulher que
deveria existir em mim... tudo, mas tudo mesmo, foram esmagados naquele dia. Tornei-me um eco do
que fui um dia! Me tornei o resultado daquele momento! Conseguiram, de fato, acabar comigo e me
enterrar em vida...
Sofro aqueles mesmos sentimentos a cada pesadelo que tenho; a cada sensação vívida dos odores
fétidos dos monstros que um dia fizeram minha alma sair de meu corpo para sempre; a cada vômito
involuntário que me acomete; à insônia que me atormenta, ante o temor de dormir sem me sentir em
segurança; e o sentimento terrível de me sentir suja, muito suja, e de correr ao banheiro para tentar tomar
o banho que me liberte de toda essa sujeira, mas não consigo me limpar jamais... porque minha alma é
que está imunda pelo ataque devastador daqueles monstros!