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RESUMO
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Instituto Politécnico de Beja Mestrado em Psicogerontologia Comunitária
Introdução
Para corroborar esta ideia Andrade refere que a perturbação mental mais
significativa na população idosa remete para o transtorno depressivo,
constituindo-se assim como uma das causas mais pungentes na afetação do
declínio da funcionalidade, que por vezes pode até conduzir à dependência
funcional total. (Cf. Andrade et. al., 2010, p.130)
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Envelhecimento e Depressão
A depressão consiste num transtorno afetivo, sendo algo muito mais grave e
que se caracteriza pela falta de controlo sobre o seu próprio estado a nível
emocional. Este mesmo transtorno evidencia humor deprimido e diminuição do
interesse/prazer em todas as atividades. Pode ocorrer igualmente perda ou
aumento do apetite, insónia ou hipersónia, sentimento de inutilidade, culpa e
relacionado com a morte. (Garcia, et. al., 2006:115)
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De acordo com Rivero (2009), a depressão clínica é uma doença bem definida
do ponto de vista médico, em que os sintomas são intensos, prolongados no
tempo e interferem nas atividades diárias dos indivíduos. (Kandhelwal, 2001,
citado por Rivero, 2009)
Alguns dos fatores de risco estão presentes ao longo da vida e são comuns a
todas as faixas etárias, enquanto outros são específicos, ou pelo menos mais
comuns, em idosos. (Fonseca, 2014, 267)
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A maioria dos idosos resiste à ideia de deixar a sua casa, mesmo face a uma
realidade de declínio físico e incapacidade para viver de forma independente,
sendo sentida como uma perda de identidade. É o seu espaço que fica para
trás (Barroso & Tapadinhas, 2006, citando King & Jonhson, in Hill, Thorn,
Bowling & Morrison, 2002). Por isso, quando se procura avaliar os sentimentos
de solidão experenciados pelos idosos constata-se que os valores encontrados
permitem concluir que os sentimentos de solidão variam significativamente em
função do contexto habitacional do idoso, daí os idosos institucionalizados
apresentarem maiores níveis de solidão. Os idosos, assim como qualquer
pessoa “suportam” com mais facilidade as condições de vida próprias do
envelhecimento quando têm junto de si, pessoas afetivamente significativas.
Como refere Murphy (1982), citado por Barroso & Tapadinhas (2006), o “estado
civil sugere que a pessoa partilha, ou não, a sua vida com um companheiro, as
pessoas que mantêm intimidade com um “confidente” serão, em regra, capazes
de suportar melhor as privações a que estão sujeitas, durante o
envelhecimento”. Daí que, segundo o estudo, os solteiros e divorciados
assumam níveis mais elevados de solidão do que os casados.
Na perspectiva das autoras (2006), citando Solomon e Davis (1995, citado por
Fernandes 2002) as perdas suscitam nas pessoas idosas depressão,
ansiedade, reações psicossomáticas, afastamento e descompromisso. O facto
de se viver sozinho aumenta a prevalência de solidão na população idosa
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(Svikko, Tilvis, Strandberg & Pitkala, 2005, citados por Barroso & Tapadinhas,
2006)
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Método
Participantes
O estudo foi realizado com seis idosos, sendo que três são do sexo feminino e
três do sexo masculino. Da amostra escolhida aleatoriamente, as três idosas
do sexo feminino não se encontram institucionalizadas e os três idosos do sexo
masculino encontram-se institucionalizados. A idade dos entrevistados varia
entre os 70 e os 87 anos, sendo que 33.3% são viúvos; 16,7% são solteiros; e
50% são casados. No que respeita à escolaridade é possível constatar-se que
quatro entrevistados completaram o 4º ano e dois não estudaram, tal como é
possível verificar-se através do quadro 1.
Instrumentos
Foram utilizados para este estudo três instrumentos de recolha de dados:
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Procedimentos
Numa primeira fase, foi escolhida a instituição onde se iria incidir o estudo, bem
como quais os idosos a estudar a nível institucional e não institucional. Foi
explicado aos participantes o propósito da investigação, tendo sido necessário
obter o devido consentimento de cada um deles, bem como da instituição
escolhida. Neste sentido, foram aplicados três testes, nomeadamente, a escala
de Depressão Geriátrica, o Inventário de Saúde Mental e a Entrevista
Semiestruturada sobre Saúde Mental e Bem-Estar, em gerontes. Foi solicitado
aos participantes que respondessem com o máximo de sinceridade, tendo lhes
sido garantido o anonimato, bem como a confidencialidade em todas as
respostas. Foi marcado de acordo com a disponibilidade dos entrevistados, um
dia para serem aplicados os testes. No que diz respeito aos idosos
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Tratamento de Dados
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No que diz respeito ao nível de orientação dos idosos, a maioria tem noção dos
factos referentes ao passado, tendo facilidade em se situar no tempo e no
espaço, bem como de decifrar datas e acontecimentos históricos (E1,E2,E3
,E5,E6), sendo que o sénior E4, não tem qualquer noção de datas nem de
acontecimento históricos.
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E1,E2,E3,E4,E5,E6
Descansa bem. E1,E3,E4,E6
Tem dificuldade em descansar.E2, E5
Tem cuidado com a sua imagem pessoal.
E1,E2,E3,E4,E5,E6
Revela que toma banho todos os dias. E1,E2
Toma banho uma vez por semana. E4,E6
Toma banho três vezes por semana. E3
Toma banho quatro vezes por semana. E5
Não tem alterações no seu comportamento sexual.
E2,E5
Não tem vida sexual ativa. E1,E3,E4,E6
Não tem dores de cabeça. E1,E2,E3,E5.
Tem algumas dores de cabeça. E4,E5
Refere que tem tido perdas de visão.
E1,E2,E3,E4,E5,E6
Há 10 anos que tem vindo a perder a visão. E1
Deu-se conta da perda de visão aos 50 anos. E2
Começou a perder a visão no ano de 1968. E3
Notou que a visão lhe começou a faltar à cerca de 3
anos. E6
Há muito tempo, que nota que vai perdendo a visão.
E4,E5
Tem dificuldades de audicação.E1,E2,E3,E6
Não nota dificuldades ao nível da audição. E4,E5
Acredita ter perdido a capacidade de iniciativa.
E1,E2,E3,E5,E6
Sente que ainda tem capacidade de iniciativa.E4
Refere que se sente mais cansado do que o
habitual.E2,E3,E4,E5,E6
Queixas generalizadas Não nota um maior cansaço. E1
Nota que lhe vai faltando a memória. E1,E2,E3,E5,E6
Revela que não tem ainda dificuldades de memória.E4
Dificuldade em memorizar nomes, datas e
acontecimentos recentes. E1,E2,E3,E5,E6
Não se esquece do que lê.E2,E6
Relata que se esquece do que lê com regularidade.
E1,E3,
Revela que não sabe ler.E4,E5
Tem dificuldades em escrever, por causa da vista. E6
Não nota dificuldades em escrever. E1,E2,E3
Não sabe escrever. E4,E5
Não se esquece das coisas que se propõe a
faze.E2,E4,E6
Tem dificuldade em se lembrar das coisas que se
propõe a fazer. E1,E3,E5
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episódicos E1,E2,E3,E4,E5
Tem visionado coisas estranhas. E6
Nunca lhe pareceu estar a ouvir coisas.
E1,E2,E3,E4,E5,E6
Revela que as musicas que ouve se transformam em
ruídos. E6
Refere que tem percecionado sabores ou odores
especiais. E3
Considera que tem percecionado sensações no seu
corpo. E2,E4,E6
Nota as mãos cada vez mais deformadas. E2
Considera que a sua coluna tem sofrido alterações.
E4
Sente que os seus sintomas a nível visual, auditivo e
Queixas sobre motor pioraram. E1,E2,E3,E4,E5,E6
sintomas constantes e
de evolução
progressiva
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Dimensão – Atividade
Dimensão – Envelhecimento
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O idoso (E2), constata, que é necessário não perder a força de vontade nem a
motivação. Já os séniores (E1,E5), consideram que o alcance do
envelhecimento bem sucedido está em continuar a realizar as tarefas diárias
sem parar.
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Tal como explanado anteriormente, este instrumento teve como objetivo avaliar
a Saúde Mental dos participantes, tendo em consideração cinco escalas e duas
dimensões. Nos seguintes Gráficos (1,2,3,4,5 e 6) é possível verificarem-se os
resultados do Inventário de Saúde Mental a nível individual.
Entrevistado 1
35
Afeto Positivo
30
Laços Emocionais
25
Perda de Controlo
Emocional/Comportamental
20
Ansiedade
15
Depressão
10
Bem-Estar Positivo
5
Distress
0 MHI-38 Total
Entrevistado 1
20
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Entrevistado 2
70
Afeto Positivo
60
Laços Emocionais
50
Perda de Controlo
Emocional/Comportamental
40
Ansiedade
30
Depressão
20 Bem-Estar Positivo
10 Distress
0 MHI-38 Total
Entrevistado 2
Entrevistado 3
21
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50
Afeto Positivo
45
40 Laços Emocionais
35 Perda de Controlo
30 Emocional/Comportamental
Ansiedade
25
20 Depressão
15
Bem-Estar Positivo
10
5 Distress
0
MHI-38 Total
Entrevistado 3
Entrevistado 4
70
Afeto Positivo
60
Laços Emocionais
50
Perda de Controlo
Emocional/Comportalmental
40
Ansiedade
30
Depressão
20 Bem-Estar Positivo
10 Distress
0 MHI-38 Total
Entrevistado 4
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Entrevistado 5
100
Afeto Positivo
90
80 Laços Emocionais
70 Perda de Controlo
60 Emocional/Comportamental
Ansiedade
50
40 Depressão
30
Bem-Estar Positivo
20
Distress
10
0 MHI-38 Total
Entrevistado 5
Entrevistado 6
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45
Afeto Positivo
40
35 Laços Emocionais
30 Perda de Controlo
Emocional/Comportamental
25 Ansiedade
20
Depressão
15
Bem-Estar Positivo
10
Distress
5
0 MHI-38 Total
Entrevistado 6
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Por fim, o Entrevistado 6 foi aquele que apresentou resultados mais baixos no
Inventário de Saúde Mental, por consequência é o participante com menor
saúde mental, apresentando sintomatologia grave, onde o resultado foi de 8,33
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Síntese Conclusiva
Ao terminar este estudo exploratório é possível retirar algumas conclusões. No
que se refere à investigação e aos resultados dos instrumentos aplicados, é
possível salientar que de uma amostra de seis participantes, todos revelaram
ter sintomas depressivos. No que respeita ao Inventário de Saúde Mental,
cinco participantes revelaram sintomatologia grave, com resultados entre os
26,6 e os 48,4, resultados estes muito abaixo do previsto (+60). No participante
E2 verificou-se sintomatologia moderada, com o resultado de 53,72.
O facto de o idoso ser institucionalizado, não receber visitas, não sentir o apoio
da família, estar desocupado, não estabelecer uma rotina diária de atividades,
pode efetivamente conduzir a sentimentos de perda, de inutilidade, de solidão e
de baixa auto-estima, o que por consequência pode levar à depressão e a um
nível de doença mental mais grave.
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A forma mais eficaz de se intervir junto de um idoso com depressão é optar por
um modelo de intervenção que tenha por base toda a informação disponível
sobre o paciente, de modo a englobar os problemas do mesmo e as
expectativas que o mesmo tem face à terapia. Esta intervenção deve ser a
mais adequada possível, de modo a minimizar o nível de depressão e o
progresso da mesma, daí ser fundamental a existência de um apoio
psicossocial.
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