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Psico http://dx.doi.org/10.15448/1980-8623.2016.3.22480
Resumo
Este estudo analisou a relação entre estilo parental dos responsáveis e funções executivas em pré-escolares, pois pesquisas prévias
sugerem que características do ambiente familiar podem influenciar o desenvolvimento dessas funções. Participaram 30 crianças, de
3 a 6 anos, e seus responsáveis. Estes responderam o Inventário de Estilos Parentais e as crianças, Teste de Stroop Semântico, Teste
de Atenção por Cancelamento e Teste de Trilhas para pré-escolares. Correlações de magnitude baixa a moderada evidenciaram,
de modo geral, que quanto mais apropriado o estilo parental dos pais, melhor o controle de interferência dos filhos. Também
observou-se que, quanto maior a inconsistência na punição, maior o tempo de reação da criança na parte incongruente do Teste de
Stroop e mais ela é afetada pela incongruência, porém, conforme a parte B do Teste de Trilhas, maior a sua flexibilidade. Portanto
observaram-se relações entre estilo parental e funções executivas na amostra avaliada.
Palavras-chave: Relações familiares; Programas educacionais; Funções mentais; Crianças em idade pré-escolar; Neuropsicologia.
Este artigo está licenciado sob forma de uma licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional,
que permite uso irrestrito, distribuição e reprodução em qualquer meio, desde que a publicação
original seja corretamente citada. http://creativecommons.org/licenses/by/4.0/deed.pt_BR
Martins, G. L. L., León, C. B. R., & Seabra, A. G. | Estilos parentais e desenvolvimento das funções executivas 217
positiva e o comportamento moral. A primeira consiste contextos mais importantes para oportunizar o mesmo,
no conjunto de práticas parentais que envolvem, por isto é, no ambiente doméstico. Tal estudo enfocou
exemplo, atenção e conhecimento dos pais acerca os indicadores demográficos e o desenvolvimento
de onde o seu filho se encontra e das atividades das funções executivas no ambiente familiar e,
desenvolvidas por ele. A segunda refere-se a uma no mesmo, identificou perfis familiares de risco,
prática educativa pela qual os pais transmitem valores, incluindo as práticas parentais e a estrutura familiar.
como honestidade, generosidade e senso de justiça aos Os resultados sugeriram que combinações específicas
filhos, auxiliando-os na discriminação do certo e do de risco são mais associadas com baixos resultados de
errado por meio de modelos positivos, dentro de uma funções executivas e que essas combinações podem
relação de afeto. variar de acordo com a raça, estado civil e condição
As práticas educativas relacionadas ao desen- socioeconômica. Observou-se, por exemplo, que a
volvimento de comportamentos antissociais são de qualidade da parentalidade pode exercer influência
cinco tipos. Primeiramente, a negligência, a qual no desenvolvimento das crianças de duas maneiras.
ocorre quando os pais não estão atentos às necessidades Em primeiro lugar, por meio de interações sensíveis
de seus filhos, ausentam-se das responsabilidades, contingentes com os progenitores, afinal, por meio
omitem-se de auxiliar seus filhos, ou simplesmente destas, a criança pode aumentar a sua motivação para
quando interagem sem afeto, sem amor. A segunda aprender a controlar e interagir com o mundo externo,
é a punição inconsistente, a qual consiste em os pais o que pode contribuir para a prática das habilidades
punirem ou reforçarem os comportamentos de seus relacionadas às funções executivas. Em um segundo
filhos de acordo com o próprio bom ou mau humor, de momento, por meio da segurança derivada de interações
forma não contingente ao comportamento da criança. positivas, neste caso as crianças são mais propensas a
A terceira prática educativa é nomeada de monitoria explorar o seu ambiente, aumentando a sua interação
negativa e está relacionada ao excesso de fiscalização com materiais que a estimulem cognitivamente
dos pais sobre a vida dos filhos e à grande quantidade (Rhoades et al., 2011).
de instruções repetitivas. A disciplina relaxada é o A pesquisa de Sarsour et al. (2011) teve como
quarto tipo e consiste no não cumprimento das regras objetivo investigar as contribuições independentes
estabelecidas pelos próprios pais. E a última é o abuso e interativas do status socioeconômico e status
físico, a qual contempla o ato dos pais machucarem ou monoparentais das famílias a nível do funcionamento
causarem dor a seus filhos com a justificativa de que executivo das crianças. Os autores comentam sobre a
estão educando. pesquisa de Ardila et al. (2005), os quais descobriram
Repetidas experiências de regulação de sucesso que os anos da escolaridade dos pais foram associados
por parte dos progenitores, em determinadas situações com o desempenho das funções executivas de crianças
emocionalmente desgastantes, levam as crianças a e foi encontrada relação mais predominante para
internalizar as competências adquiridas e gradualmente fluência verbal semântica. Outro estudo complementa
integrá-las em seu próprio repertório de autorregulação que a habilidade da linguagem da criança pode mediar
(Bernier et al., 2012; Rhoades, Greenberg, Lanza, & a relação entre o status socioeconômico da família e
Blair, 2011). Desta forma, os processos regulatórios a função executiva da criança (Noble et al., 2007).
tendem a ser, primeiramente, praticados no âmbito Por fim, Sarsour et al. (2011) comentam que o status
das relações familiares; as estratégias aprendidas socioeconômico pode afetar a medida em que os
então tendem a se generalizar e a ser utilizadas fora pais usam os recursos da família para enriquecer as
da relação didática, tal como durante tarefas que experiências de desenvolvimento com passatempos,
exijam autorregulação independente, a qual pode ser recreação, museus, bibliotecas, viagens, etc. Além
considerada uma característica definidora das tarefas disso, o status socioeconômico da família pode afetar
de funções executivas (Bernier et al., 2012). Pode-se dimensões parentais, incluindo a capacidade de resposta
supor, por meio do estudo de Bernier et al. (2012), emocional e verbal dos pais, oferecendo reforço para
que os fatores mais proximais, como, por exemplo, o comportamento desejado e fornecendo andaimes
as funções executivas dos próprios pais, possam para incentivar o desenvolvimento das habilidades
afetar o controle das crianças referente ao próprio executivas.
impulso, o que pode ocorrer por meio de imitação e de Tendo em vista a relevância das práticas parentais
aprendizagem por observação. para o desenvolvimento infantil e, especificamente,
No estudo de Rhoades, Greenberg, Lanza e Blair para o desenvolvimento das funções executivas, e
(2011) destacou-se que poucas pesquisas inserem o diante da escassez de estudos nessa área principalmente
desenvolvimento das funções executivas em um dos no âmbito nacional, este estudo objetivou verificar
as relações entre as práticas educativas dos pais (em de responsáveis pelas crianças que contempla: grau
termos de monitoria positiva, comportamento moral, de parentesco dos participantes, estado civil e nível
punição inconsistente, negligência, disciplina relaxada, educacional de mãe e pai.
monitoria negativa e abuso físico) e as funções
Instrumentos
executivas em crianças pré-escolares.
Questionário de identificação
Método Por meio deste, desejou-se obter informações
relevantes que não foram abordadas nos instrumentos
Participantes utilizados, entre elas, dados pessoais (nome da mãe,
Participaram deste estudo crianças de 3 a 6 anos de do pai e data de nascimento da criança), escolaridade
idade, que cursavam os níveis de Maternal II, Nível I e dos pais e organização familiar (estado civil dos pais,
Nível II de uma escola particular de Educação Infantil quantidade de pessoas que habitam a casa, quem
localizada na cidade de São Paulo. Os responsáveis por convive no ambiente familiar e número de irmãos).
todas as 42 crianças matriculadas nessas séries foram
convidados a participar. Desses, 10 não autorizaram Inventário de Estilos Parentais (IEP)
a participação de seus filhos na pesquisa e, ao longo (Gomide, 2011b)
do ano letivo, 2 crianças saíram da escola, chegando Avalia o estilo parental, ou seja, as estratégias
à amostra final de 30 crianças e seus respectivos e técnicas utilizadas pelos pais para educar os
responsáveis. filhos. O inventário é composto por 42 questões que
Dessa forma, a amostra final foi constituída por correspondem às sete práticas educativas utilizadas
60 sujeitos, sendo 30 crianças entre 03 e 06 anos de pelos pais na interação com os filhos. Para cada prática
idade, com média de 4,22 anos, de ambos os sexos, e educativa, foram elaboradas seis questões distribuídas
seus respectivos pais. A amostra foi por conveniência espaçadamente ao longo do inventário. São duas
e o número de participantes selecionados foi para práticas educativas positivas: (A) monitoria positiva e
fins de exploração dos dados, não sendo derivado de (B) comportamento moral, e cinco práticas educativas
cálculo amostral. A Tabela 1 indica a caracterização negativas: (C) punição inconsistente, (D) negligência,
da amostra de crianças por idade, nível escolar, gênero (E) disciplina relaxada, (F) monitoria negativa e (G)
e composição familiar e a caracterização da amostra abuso físico (Gomide, 2011b).
Tabela 1
Caracterização da amostra de crianças por idade, gênero e composição familiar e caracterização dos responsáveis pelas crianças,
que participaram do estudo, em relação ao grau de parentesco, estado civil e nível educacional de mãe e pai.
O IEP possui duas formas de aplicação. Há um nomear, no momento em que visualizar o dia ela deverá
inventário de estilos parentais denominado “práticas dizer noite e quando visualizar o menino deverá dizer
educativas paternas e maternas” para que os pais menina, assim por diante (Trevisan, 2010).
respondam sobre as práticas educativas adotadas em Ao total é composto por 32 imagens, divididas em
relação ao filho e, existem dois inventários, através dos 16 para a primeira etapa e 16 para a segunda etapa e
quais os filhos, acima de oito anos, podem responder vale lembrar que cada etapa contém uma progressão
sobre as práticas educativas utilizadas por seus pais. de dificuldade. Na primeira etapa as imagens aparecem
Os pais poderão responder sobre os filhos acima de com um intervalo de 1200 milésimos de segundo e na
cinco anos desde que façam as devidas adaptações às segunda as imagens aparecem em um intervalo de
situações propostas pelo inventário (Gomide, 2011b). 800 milésimos de segundo (Martoni, 2012). Evi-
Neste estudo foi utilizado o formato em que os pais dência de validade podem ser verificadas em Trevisan
respondem sobre o próprio filho e foram realizadas (2010).
adaptações em 12 itens, com autorização prévia da
autora, apenas para uma melhor compreensão do Teste de Atenção por Cancelamento (TAC)
conceito por parte dos pais, sem alteração substancial Avalia a atenção seletiva, atenção alternada,
de conteúdo. As modificações foram executadas para planejamento e o controle inibitório, o mesmo é
uma melhor compreensão, por parte dos pais, sobre composto por três fases, com dificuldade progressiva,
a realidade de seus filhos, afinal tratava-se de um nas quais, inicialmente, é apresentada para a criança
vocabulário para uma faixa etária superior, como, por um estímulo alvo e lhe é solicitada que assinale o
exemplo, se os pais explicavam ao filho que era melhor mesmo em meio a diversos outros em um espaço
tirar uma nota baixa do que colar em uma prova; ou delimitado (Trevisan, 2010). É indicado para crianças
se, quando o filho saía com alguém, os pais ligavam de 4 a 14 anos de idade e em jovens adultos (20 a
muitas vezes, etc. Foram adaptados os itens de número 32 anos).
1, 9, 13, 18, 20, 23, 26, 29, 33, 34, 37 e 38 da versão Os acertos são contabilizados quando a criança
original do instrumento. assinala o estímulo alvo de forma correta e os erros
O cálculo do índice de estilo parental é realizado a quando ela omite ou assinala algum outro sem ser
partir das práticas positivas (A+B) e as práticas negativas o desejado. Na primeira fase pode-se acertar de 0 a
(C+D+E+F+G) e, em seguida, subtrai-se a soma das 60 estímulos, sendo 15 estímulos corretos em cada
práticas negativas das positivas. Desta forma, quando o quadrante. Na segunda fase pode-se acertar de 0 a 12
índice de estilo parental é negativo, indica prevalência estímulos, entre eles, 3 estímulos corretos em cada
de práticas parentais negativas que neutralizam ou se quadrante. Na última fase pode-se acertar de 0 a 60
sobrepõem às práticas parentais positivas. Quando estímulos, contendo 15 estímulos corretos em cada
o índice de estilo parental é positivo, aponta uma quadrante. O instrumento total contém de 0 a 132
forte presença de práticas parentais positivas que se pontos corretos (Trevisan, 2010).
sobrepõem às práticas negativas. Evidência de validade Na primeira fase, no topo da folha, encontra-se
podem ser verificadas em Gomide (2011b). o estímulo alvo e abaixo são disponibilizadas 300
imagens de: círculo, quadrado, triângulo, cruz, estrela
Teste de Stroop Semântico (TSS) e traço. Todas as imagens estão organizadas de uma
O Teste de Stroop Semântico, utilizado nesse forma aleatória e a criança deve assinalar os estímulos
estudo, é uma versão adaptada por Trevisan (2010) idênticos ao alvo. Na segunda fase, no lugar do
com base nas versões de Berwid et al. (2005), Brocki estímulo alvo é solicitado que a criança encontre duas
e Bohlin (2006), Gerstadt, Hong e Diamond (1994), imagens que precisam estar localizadas uma ao lado
assim como o Stroop clássico (Stroop, 1935). O da outra na mesma linha e em mesma ordem conforme
instrumento é computadorizado e o objetivo consiste o alvo. Na terceira e última fase, o estímulo alvo se
em avaliar a atenção seletiva e o controle inibitório de modifica conforme cada linha, sendo necessário que a
crianças. Pode ser utilizado com crianças alfabetizadas criança consiga manter a atenção alternada adequada
ou não, pois não faz o uso de material escrito. O TSS é para realizar de forma correta o que é requisitado. Cada
indicado para crianças de 3 a 7 anos de idade. criança possui um minuto para realizar cada etapa
A versão original é composta por palavras, porém (Montiel & Seabra, 2012). Parâmetros psicométricos
esta é constituída por dois pares de figuras: sol e lua, do TAC são disponibilizados por Godoy (2012);
menino e menina. O teste é dividido em duas partes, conforme a autora, há evidências de validade para o
primeiramente, a criança deve nomear as figuras e, teste quando aplicado a crianças a partir de 4 anos de
posteriormente, a mesma deve dizer o oposto. Após idade, alunos do penúltimo ano da Educação Infantil.
Dados normativos são disponibilizados em Dias, para crianças a partir de 4 anos alunas do penúltimo ano
Trevisan, Pereira, Gonzales e Seabra (2012). da Educação Infantil. Nos Níveis I e II foram aplicados
os três instrumentos de funções executivas. Levando em
Teste de Trilhas para pré-escolares (TTPE) consideração a idade da amostra e conforme solicitado
Neste estudo foi utilizada a versão do Teste de pela instituição, foi aplicado um teste por encontro,
Trilhas adaptada para pré-escolares de Trevisan (2010), totalizando três encontros individuais para Níveis I e
a partir das partes A e B do Teste de Partington e Leiter II e um encontro para o Maternal, com a duração de,
(1949). Trevisan (2010) fez esta adaptação pautada aproximadamente, 20 minutos cada um, realizados nos
nas versões de Espy (1997), Espy, Kaufmann e Glisky intervalos de aulas das respectivas professoras. Vale
(2001), Espy e Cwik (2004) e Baron (2004). A versão salientar que a aplicação de um próximo instrumento
atual está validada e, como é composta somente por só foi realizada após a conclusão do anterior em todas
imagens, é indicada para crianças de 4 a 6 anos de as crianças participantes.
idade. A retirada de alunos da sala de aula para os
Primeiramente, na Parte A, é apresentada uma encontros de avaliação foi sempre realizada com
folha para a criança com a imagem de uma família autorização prévia da educadora, assim como com a
composta por cinco cachorros, representando: pai, aceitação do próprio aluno. Os testes foram aplicados
mãe e três filhotes. A tarefa da criança é fazer a ligação em todas as crianças sempre na mesma ordem, para
entre os cachorros em ordem de tamanho crescente. evitar que possíveis efeitos de aprendizagem escolar
Posteriormente, na Parte B, são apresentadas dez promovessem diferenças nos escores nos testes entre
figuras, contemplando cinco cachorros e cinco ossos, os grupos de crianças. Para evitar efeito de fadiga,
cada um de um tamanho, porém de forma que dê para foram conduzidas três sessões com as crianças. No
agrupar duplas em relação aos tamanhos apresentados. primeiro encontro foi aplicado o Teste de Stroop
A criança deve fazer um traçado com o objetivo de unir Semântico; no segundo, o Teste de Trilhas para pré-
o cachorro e o osso do tamanho correspondente e assim escolares e, no terceiro encontro, o Teste de Atenção
por diante (Trevisan & Seabra, 2012). por Cancelamento.
Parâmetros psicométricos do Teste de Trilhas
para pré-escolares são disponibilizados por Trevisan e Resultados
Pereira (2012), revelando evidências de validade para
o teste quando aplicado a crianças a partir de 4 anos de Para proceder às análises objetivadas, inicialmente
idade, cursando o penúltimo ano da Educação Infantil. foi calculada a normalidade da distribuição. Conforme
Dados normativos são disponibilizados em Trevisan, os testes de normalidade de Kolmogorov-Smirnov e
Hipólito, Parise, Reppold e Seabra (2012). Shapiro-Wilk, a normalidade não foi confirmada. Assim
sendo, foram conduzidas estatísticas não paramétricas.
Procedimento Para verificar a relação entre os escores do Inventário de
Após aprovação da pesquisa pelo Comitê de Estilos Parentais e dos testes que avaliaram as funções
ética em Pesquisa, os responsáveis pela instituição e, executivas das crianças, foi conduzida correlação não-
posteriormente, os responsáveis pelas crianças foram paramétrica de Spearman.
contatados para assinar ao Termo de Consentimento No que se refere ao IEP e ao Teste de Stroop
Livre e Esclarecido. Semântico (Tabela 2) algumas correlações podem ser
Em seguida, foi agendado um horário para entre- elencadas. O percentual do IEP revelou correlação
vista individual com a figura materna e/ou paterna e/ou negativa significativa, de magnitude moderada, com
responsável legal de cada família na própria escola, a interferência no tempo de reação do TSS. A prática
em uma sala destinada para tal atividade e em horá- educativa negativa, denominada punição inconsistente,
rios previamente autorizados pela mesma. O encontro apresentou correlação positiva significativa, de
teve a duração de, aproximadamente, 30 minutos. magnitude baixa, com a média do tempo de reação na
Nele foi solicitado que o responsável preenchesse o parte 2 do TSS; a mesma prática educativa expressou
questionário de identificação e o Inventário de Estilo correlação positiva significativa, de magnitude mo-
Parental (IEP). derada, com a interferência no tempo de reação do
Em relação à avaliação das crianças, no Maternal foi TSS. Por fim, a prática educativa negativa, denominada
aplicado apenas o Teste de Stroop Semântico, visto que abuso físico, revelou correlação positiva significativa,
os demais testes não apresentam, como já descrito nos de magnitude moderada, com a média do tempo de
Instrumentos, parâmetros psicométricos aceitáveis para reação na parte 2 e com a interferência no tempo de
a faixa etária de 3 anos, com propriedades aceitáveis reação, ambos do TSS.
Em relação ao IEP e ao Teste de Atenção por Quanto ao IEP e ao Teste de Trilhas para pré-
Cancelamento (Tabela 3), houve correlação positiva escolares (Tabela 4) a prática educativa negativa,
significativa, de magnitude moderada, entre o nomeada de punição inconsistente, revelou correlação
percentual total do IEP e o total de acertos na parte 2 positiva significativa, de magnitude moderada, com as
do TAC. conexões da parte B do TTPE.
Tabela 2
Análise de correlação não-paramétrica de Spearman entre o desempenho no Inventário de Estilos Parentais (IEP) e no Teste de
Stroop Semântico (N = 30).
Tabela 3
Análise de correlação não-paramétrica de Spearman entre o desempenho no Inventário de Estilos Parentais (IEP)
e no Teste de Atenção por Cancelamento (N = 16).
Tabela 4
Análise de correlação não-paramétrica de Spearman entre o desempenho no Inventário de Estilos Parentais (IEP)
e no Teste de Trilhas para pré-escolares (N = 16).
Outra prática educativa que merece destaque é a variar de acordo com a raça, estado civil e condição
nomeada de abuso físico, caracterizada pela disciplina socioeconômica. Para estes autores, pode-se esperar
através de práticas corporais negativas, ameaça e que esse estilo parental seja mais intrusivo devido
chantagem de abandono e de humilhação do filho aos seus níveis mais elevados de controle parental e,
(Gomide, 2011b). Um item que exemplifica essa geralmente, estão associados a um baixo desempenho
prática é o item 14, que contempla se o filho tem medo em relação ao desenvolvimento infantil. Observou-se,
de apanhar dos pais. Essa prática educativa também se por exemplo, que a qualidade da parentalidade pode
correlacionou com o desempenho no Teste de Stroop exercer influência no desenvolvimento das crianças
Semântico: quanto maior o uso de abuso físico, mais de duas maneiras. Em primeiro lugar, por meio de
a criança demora na parte incongruente do Stroop interações sensíveis contingentes com os progenitores,
(tempo de reação na parte incongruente) e mais ela é afinal, por meio destas, a criança pode aumentar a sua
afetada pela incongruência (maior o tempo de reação motivação para aprender a controlar e interagir com o
de interferência no Teste de Stroop Semântico). mundo externo, o que pode contribuir para a prática das
Por fim, conforme informações detalhadas em habilidades relacionadas às funções executivas. Em um
relação ao IEP, a prática educativa nomeada de segundo momento, por meio da segurança derivada de
punição inconsistente e abuso físico, apresentaram interações positivas, neste caso as crianças são mais
maior número de correlações significantes. Alguns propensas a explorar o seu ambiente, aumentando
estudos confirmam tais dados elencados, como, por a sua interação com materiais que a estimulem
exemplo, a pesquisa de Bernier et al. (2012), que relata cognitivamente (Rhoades et al., 2011). Dessa forma, o
sobre as estratégias ensinadas pelo cuidador de forma contexto social pode promover a exposição a interações
apropriada, as quais podem ser relacionadas à distração cognitivamente estimulantes que, por sua vez, podem
com uma atividade agradável enquanto se espera por promover as funções executivas.
algo ou ao resolver um quebra-cabeça voltar atrás e Apesar de tais achados previamente relatados
considerar outras opções para resolvê-lo, resultam estarem em consonância com o esperado teoricamente,
em interações familiares com um clima emocional observou-se resultado inesperado em relação à
harmonioso. flexibilidade cognitiva, que tendeu a ser maior quando
Assim, repetidas experiências de regulação de há punição inconsistente. Contrariamente ao aqui
sucesso em determinadas situações emocionalmente observado, estudos prévios têm consistentemente
desgastantes, por parte dos progenitores, levam as relacionado maior caos doméstico e maior instabilidade
crianças a internalizar as competências adquiridas e familiar a menor funções executivas em crianças
gradualmente integrá-las em seu próprio repertório de (Bernier et al., 2012; Hughes & Ensor, 2009; Rhoades
autorregulação. Desta forma, os processos regulatórios et al., 2011). Porém tais pesquisas não analisaram,
são, primeiramente, praticados no âmbito das relações especificamente, a flexibilidade cognitiva das crian-
familiares e as estratégias aprendidas são generalizadas ças, o que dificulta a comparação com os presentes
e utilizadas fora da relação didática, tal como durante achados.
tarefas que exijam autorregulação independente, a qual Hughes e Ensor (2009), por exemplo, chegaram
pode ser considerada uma característica definidora das à conclusão de que vários aspectos das interações
tarefas de funções executivas (Bernier et al., 2012). sociais sustentam as diferenças individuais das
Pode-se supor, por meio do estudo de Bernier et al. funções executivas em crianças pequenas. Dentre
(2012), que os fatores mais proximais, como por várias características familiares analisadas, as que
exemplo, as funções executivas dos próprios pais, predisseram as funções executivas em crianças
possam afetar o controle das crianças referente ao britânicas de 4 anos foram habilidade de planejamento
próprio impulso, o qual pode ser por meio de imitação da mãe, suporte (scaffolding) oferecido pela mãe e caos
e de aprendizagem por observação. familiar, e a predição por estilo parental inconsistente
Também a pesquisa de Rhoades et al. (2011) foi marginalmente significativa na predição. No
encontrou achados semelhantes, revelando que os estudo, porém, foi usada uma única medida de funções
riscos familiares advindos de questões demográficas executivas, derivada de quatro diferentes tarefas, não
podem prever as funções executivas em crianças. sendo possível proceder à análise diferencial da relação
Os autores abordaram o tema abuso físico como entre características familiares e cada aspecto das
uma prática inclusa no denominado “perfil familiar funções executivas.
de risco” e revelaram que combinações específicas Exploratoriamente, pode-se hipotetizar que a
de risco são mais associadas com baixos resultados flexibilidade cognitiva pode estar relacionada com o
de funções executivas e que as mesmas podem fato das crianças que vivem sob a prática educativa de
punição inconsistente não saberem reconhecer quais os foi observado, que quanto maior a inconsistência na
comportamentos desejados pelos pais, apenas sabem punição, maior a sua flexibilidade cognitiva.
que o humor dos mesmos varia (Gomide, 2011a). É Algumas limitações devem ser consideradas neste
possível que a flexibilidade seja desenvolvida em função estudo e podem, potencialmente, ser explicativas dos
da instabilidade do ambiente, sendo que as crianças resultados observados, especialmente dos inesperados.
devem estar sempre atentas para responderem aos Entre elas, a principal é o tamanho amostral, que é
comportamentos imprevisíveis dos seus progenitores. restrito e limitador para a generalização dos resultados.
Porém, tal resultado não era esperado a partir do Ressalta-se ainda que o status socioeconômico das
referencial teórico ou empírico da área e constitui- famílias e o nível de estudo dos progenitores foi
se em uma observação a ser analisada em estudos bastante homogêneo na amostra avaliada, o que pode
futuros, podendo ser apenas um viés da amostra aqui dificultar a generalização dos resultados, ainda que se
analisada. considerem que as famílias podem apresentar estruturas
e dinâmicas diferentes, de modo que tal aspecto deve
Considerações Finais ser investigado em pesquisas futuras com o objetivo de
minimizar possíveis vieses. Finalmente, ressalta-se que
O presente estudo buscou investigar a relação entre os instrumentos de avaliação das funções executivas
estilos parentais e as funções executivas em crianças de também podem ser considerados como uma limitação
3 a 6 anos de idade. Dentre as relações observadas, os ao pensar que nem todos abordam a faixa etária em
resultados revelaram que, de modo geral, quanto mais questão. Sugere-se que futuramente sejam elaborados
apropriado o estilo parental dos pais, tanto melhor o e validados instrumentos para uma faixa etária
controle de interferência dos filhos e que, quanto maior precoce do desenvolvimento infantil e com níveis
a inconsistência na punição, menor a capacidade de socioeconômicos mais variados, além de novos estudos
inibição da criança. Porém, um resultado inesperado com análises de regressão em amostras maiores.
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Avaliação Neuropsicológica Cognitiva: atenção e funções executivas. São Paulo: Memnon.
Autores:
Gabriela Lamarca Luxo Martins – Doutoranda, Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Camila Barbosa Riccardi León – Doutoranda, Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Alessandra Gotuzo Seabra – Doutora, Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Resumo
Pesquisas contemporâneas têm demonstrado que habilidades metalingüísticas são fundamentais para aquisi-
ção e desenvolvimento da leitura e escrita. Com o propósito de verificar se crianças que não haviam freqüen-
tado a escola até sua inserção no pré III e que não possuíam conhecimento de leitura e soletração apresenta-
vam consciência fonológica ao ingressarem no ensino formal, e se a presença dessa habilidade favorecia a
aquisição da leitura e escrita, 167 crianças de ambos os sexos, com idade média de 5 anos e 8 meses, de nível
sócio-econômico semelhante, participaram deste estudo, que foi realizado em três etapas. Na primeira etapa
(início do pré III), a habilidade de consciência fonológica foi avaliada por meio da Prova de Consciência
o
Fonológica. Nas segunda e terceira etapas (início e término do 1 ano), as crianças foram reavaliadas em
consciência fonológica e avaliadas em leitura oral e escrita sob ditado de palavras e de pseudopalavras. Os
resultados indicaram correlação positiva entre consciência fonológica e ulterior desempenho em leitura e em
escrita.
Palavras-chave: consciência fonológica; leitura; escrita; desenvolvimento
Abstract
Phonological awareness in the beginning of schooling and ulterior performance in reading and writing: a
correlational study. Contemporary research has demonstrated that metalinguistic skills are fundamental for
the acquisition and development of reading and writing skills. With the purpose of verifying if children who
had not attended school before preschool III, with no knowledge of reading and spelling, presented phonological
awareness when entering formal schooling and if the presence of this skill favored reading and writing
acquisition, 167 children from both sexes with an average age of 5 years and 8 months old, similar social-
economical level, took part in this study which was carried out in three stages. In the first stage (beginning of
preschool III), the phonological awareness skill was evaluated by means of the Phonological Awareness Test.
In the second and third stages (beginning and ending of the first grade of the elementary school), the children
were reassessed in their phonological awareness and evaluated in oral reading and writing with dictation of
words and pseudowords. The results showed a positive correlation between phonological awareness and
ulterior performance in reading as well as in writing.
Keywords: phonological awareness; reading; writing; development
P
esquisas contemporâneas têm demonstrado consis- ais de palavras) e é instruída formalmente em atividades
tentemente que habilidades metalingüísticas, ou seja, grafofonêmicas. Estudos com crianças não alfabetizadas vêm
a capacidade de refletir sobre a própria língua, são de demonstrando que elas já apresentam, durante a educação
fundamental importância para a aquisição e o desenvolvi- infantil, algumas habilidades metafonológicas que contribu-
mento da leitura e da escrita (Ball & Blachman, 1991; Bradley em para o sucesso da aprendizagem da leitura e da escrita
& Bryant, 1983; Cardoso-Martins, 1995). (Bradley & Bryant, 1983; Capovilla & Capovilla, 1998; Carraher
Uma das habilidades metalingüísticas é a consciência & Rego, 1984; Coimbra, 1997). No entanto, alguns pesquisa-
fonológica, isto é, a consciência de que a fala pode ser seg- dores sustentam que as crianças, antes de serem alfabetiza-
mentada e que os segmentos (palavras, sílabas, fonemas) das, não têm uma compreensão clara de como a fala é organi-
podem ser manipulados. Essa habilidade é desenvolvida gra- zada (Goswani & Bryant, 1990; Read, Zhang, Nie, & Ding,
dualmente conforme a criança experimenta situações lúdicas 1986). Somente a partir do conhecimento das características
(cantigas de roda, jogos de rima, identificação de sons inici- da escrita, é que as crianças desenvolveriam a consciência
M.S.V.Pestun
408
fonológica, ou seja, a introdução formal no sistema alfabético Todos os sujeitos tinham o consentimento de seus pais ou
seria o fator causal para o desenvolvimento de habilidades responsáveis para participarem da pesquisa e, é importante
metalingüísticas. Recentemente, alguns pesquisadores de- ressaltar, nenhuma dessas crianças havia freqüentado anteri-
fendem que, na realidade, existe uma relação de reciprocida- ormente o ensino formal, portanto, não liam nem soletravam
de, isto é, ao mesmo tempo em que as habilidades ao início do estudo.
metalingüísticas são fundamentais para a aquisição e o de- Todas as fases de coleta de dados foram realizadas nas
senvolvimento da leitura e da escrita, o treinamento em leitu- três escolas participantes, em horário normal de aulas, em
ra favorece o desenvolvimento da consciência fonológica salas reservadas para atendimentos individuais ou de peque-
(Adams, 1990; Morais, Mousty, & Kolonsky, 1998). nos grupos.
Independentemente de a relação entre consciência Foram empregados como instrumentos de avaliação:
fonológica e habilidade para leitura e escrita ser de causa, de (1) Roteiro de Anamnese para a entrevista com os pais ou
efeito ou de reciprocidade, o que se tem claro atualmente é que responsáveis pela criança;
o domínio fonológico exerce grande influência no processo de (2) Prova de Consciência Fonológica (PCF, ver Capovilla &
aprendizagem da leitura e da escrita, uma vez que possibilita a Capovilla, 1998), que tem por objetivo avaliar a habilidade de
generalização dos sistemas de escrita alfabéticos. crianças de manipular os sons da fala. Consiste em 40 ques-
tões de teste e duas de treino, divididas em 10 blocos de 4
se o alfabeto é um código com sistema de regras que asseguram
perguntas cada. Os blocos avaliam habilidades de síntese
a cada fonema de uma língua sua representação gráfica distin-
silábica e fonêmica, análise silábica e fonêmica, rima, aliteração,
ta, estas regras permitem compreender uma série de signos
segmentação silábica e fonêmica e transposição silábica e
ortográficos nunca vistos anteriormente e permitem criar novas
fonêmica. Os resultados são apresentados como escore ou
séries de signos para representar conceitos novos, de maneira
freqüência de acertos, sendo 40 acertos o máximo possível;
que suas representações sejam inteligíveis para toda pessoa que
(3) Escala Colúmbia de Maturidade Intelectual (ECMI,
conheça o sistema. (Batista & Resende da Costa, 2003, p. 41)
Burgemeister, Blum, & Lorge, 1971, adaptação de Rodrigues
Segundo Capovilla e Capovilla (2003), diversos países de & Pio da Rocha, 1994). Mede a aptidão geral de raciocínio de
língua alfabética compreenderam rapidamente que, para evitar crianças na faixa etária de 3 anos e 6 meses a 9 anos e 11
dificuldades em leitura e escrita, as crianças deveriam ser ensi- meses. A medida escolhida pela pesquisadora para efeito de
nadas, de forma explícita e sistemática, a manipular fonemas análise foi o estanino, um escore padronizado que varia de 1
por meio da instrução. Quanto mais desenvolvida essa habili- a 9 pontos. O estanino é obtido a partir do número de acertos
dade, melhor a compreensão da relação fonema–grafema. da criança no teste e de sua idade cronológica;
No Brasil, alguns pesquisadores vêm verificando as ha- (4) lista de palavras familiares e de pseudopalavras (Pinheiro,
bilidades metalingüísticas em crianças e construindo instru- 1994) para leitura oral e tomada de ditado. Composta de 192
mentos para avaliar a consciência fonológica e a futura habi- itens psicolingüísticos, que variam em termos de lexicalidade,
lidade de leitura e escrita, bem como propondo programas de regularidade, freqüência e comprimento. Dos 192 itens, 96
treinamento a serem implementados desde a Educação Infan- são palavras familiares e 96 são pseudopalavras. Das 96 pala-
til (Capovilla & Capovilla, 1998, 2000; Cardoso-Martins, 1995; vras familiares, 32 são regulares, 32 irregulares e 32 regra,
Moojen et al., 2003). sendo 48 de alta freqüência e 48 de baixa freqüência. Tanto as
Como no Paraná as pesquisas que verificam as habilida- palavras familiares quanto as pseudopalavras são divididas
des metalingüísticas são ainda incipientes, resolveu-se de- em dissílabas e trissílabas;
senvolver esta pesquisa com o propósito de verificar se cri- (5) gravadores (para gravar as respostas nas provas PCF);
anças pré-escolares, sem nenhum conhecimento de leitura e (6) fitas-cassete;
soletração, apresentavam consciência fonológica ao ingres- (7) cronômetros;
sarem no ensino formal e se a presença dessa habilidade fa- (8) folhas de respostas para leitura oral e tomada de ditado de
vorecia a aquisição de leitura e escrita. palavras familiares e pseudopalavras.
Procedimento
Método
Este estudo longitudinal, de caráter experimental, foi rea-
Este estudo longitudinal de caráter experimental foi inici- lizado em três etapas:
ado em fevereiro de 2002 com 167 crianças e concluído em Etapa I: quando as crianças iniciaram o pré III (fevereiro e
novembro de 2003 com 132 crianças (75 do sexo feminino e 57 março de 2002);
do sexo masculino). Trinta e cinco alunos solicitaram transfe- Etapa II: quando as crianças iniciaram o 1o ano do ensino
rência de escola ao longo dos dois anos da pesquisa. A idade fundamental (fevereiro e março de 2003);
média no início do estudo era de cinco anos e oito meses Etapa III: quando as crianças concluíram o 1o ano do ensino
(mínima de cinco anos e máxima de seis anos e seis meses). fundamental (dezembro de 2003).
As crianças freqüentavam o pré III em três escolas públicas Na Etapa I, os pais ou responsáveis pelas crianças parti-
municipais pertencentes ao Jardim Santo Amaro, município cipantes foram convidados para uma entrevista inicial, elabo-
de Cambé, PR, e apresentavam nível sócio-econômico seme- rada sob a forma de um questionário (roteiro de anamnese),
lhante (renda média familiar mensal de dois salários mínimos). cujo objetivo era obter o máximo de informações possível
Consciência fonológica, leitura e escrita 409
com relação ao desenvolvimento neuropsicomotor, sócio - tos foi realizada com o teste de Mann-Whitney. Os testes esta-
afetivo e escolar de seu filho ou filha, bem como alguma tísticos foram realizados em nível de significância de 5% e pro-
intercorrência que pudesse ter havido durante os períodos cessados no programa SAS (Statistical Analysis System).
pré, peri e pós-natal. A idade em que a criança falou as primei-
ras palavras com significado, seu desenvolvimento
Resultados
lingüístico, psicomotor e possíveis casos de dificuldade es-
colar na família eram considerados dados significativos na Os dados das entrevistas realizadas com os pais ou res-
história do sujeito. Na ocasião, os objetivos do trabalho fo- ponsáveis pelas crianças não revelaram informações signifi-
ram explicitados pela pesquisadora, a qual solicitou aos pais cativas (deficiências visuais ou auditivas, alterações neuro-
ou responsáveis a anuência para a participação de seu filho(a) lógicas importantes, como paralisia cerebral, epilepsia) que
na pesquisa, mediante assinatura do Termo de Consentimen- impedissem a participação da criança na pesquisa. Na ECMI,
to Livre e Esclarecido. Na mesma ocasião, as crianças foram o escore médio foi de 4,16, sendo o escore mínimo de 1 e o
submetidas à avaliação individual do potencial intelectual, escore máximo de 8.
por meio da ECMI, e da consciência fonológica, por meio da Houve um crescimento significativo nos desempenhos
PCF (F0). Cada prova foi aplicada em uma sessão de 30 minu- dos alunos em consciência fonológica, leitura e escrita sob
tos, com exceção da entrevista de anamnese, cuja duração foi ditado de palavras e de pseudopalavras, da primeira avalia-
de 60 minutos. ção realizada no início do pré-III à última avaliação realizada
a
Na Etapa II, as crianças matriculadas na 1 série foram ao término do primeiro ano do ensino fundamental (Tabela 1).
submetidas novamente à avaliação da consciência fonológica,
por meio da PCF (F1), de leitura oral de 48 palavras familiares
Tabela 1
(L1) e 48 pseudopalavras (LP1), e de escrita sob ditado de
Estatísticas descritivas das variáveis mensuradas
outras 48 palavras familiares (D1) e 48 pseudopalavras (DP1).
Desvio Valor Valor
O dado de interesse para a análise foi a freqüência de acertos Variáveis Média Mediana
padrão Mínimo Máximo
para cada modalidade avaliada (palavras familiares e
pseudopalavras). As provas de consciência fonológica e leitu- F0 11,3 4,3 0 11,0 28
F1 18,7 6,2 0 18,5 32
ra oral de palavras familiares e de pseudopalavras foram reali- F2 27,1 7,4 7 28,8 40
zadas em duas sessões individuais de 30 minutos cada. As L1 7,5 12,3 0 1,0 45
crianças eram retiradas da sala de aula e conduzidas pela pes- L2 34,1 14,7 0 41,0 47
quisadora à sala de avaliação. Todas as respostas foram grava- LP1 6,0 10,5 0 0,0 45
LP2 28,8 13,5 0 33,0 46
das, para futura pontuação e análise. Após o término da avali- D1 2,9 5,4 0 0,0 30
ação, elas eram reconduzidas à sala de aula. A Prova de Toma- D2 19,8 9,5 0 21,0 43
da de Ditado foi realizada em três sessões de 30 minutos cada. DP1 3,9 6,7 0 0,0 35
Na Etapa III, as crianças foram novamente avaliadas em DP2 16,2 8,7 0 17,0 37
consciência fonológica por meio da PCF (F2), em leitura de Nota: 0 = fevereiro e março de 2002
palavras familiares (L2) e de pseudopalavras (LP2) e em toma- 1 = fevereiro e março de 2003
2 = dezembro de 2003
da de ditado de palavras familiares (D2) e de pseudopalavras F = Prova de Consciência Fonológica (PCF)
(DP2). O procedimento foi semelhante ao da Etapa II. L = leitura oral de 48 palavras familiares
A análise dos resultados das provas realizadas ao longo LP = leitura oral de 48 pseudopalavras
dos dois anos de estudo foi conduzida, primeiramente, consi- D = escrita sob ditado de outras 48 palavras familiares
DP = escrita sob ditado de 48 pseudopalavras
derando-se a média aritmética obtida em todas as variáveis
medidas (consciência fonológica – F0, F1, F2; leitura de pala-
vras familiares - L1 e L2; leitura de pseudopalavras – LP1 e Quanto à PCF, na primeira avaliação os melhores desem-
LP2; ditado de palavras familiares – D1 e D2 e ditado de penhos foram observados nos subtestes síntese silábica,
pseudopalavras – DP1 e DP2), somente das crianças que par- segmentação silábica, rima e aliteração. Os piores desempe-
ticiparam das três etapas da pesquisa (n = 132). nhos foram observados nos subtestes transposição silábica,
Analisando as estatísticas de tendência central, obser- transposição fonêmica, segmentação fonêmica e manipula-
vou-se que a mediana ou era nula ou era muito baixa para a ção fonêmica. No decorrer dos dois anos de pesquisa as mai-
maioria das variáveis. Optamos, portanto, pela média aritméti- ores evoluções foram observadas em: manipulação silábica,
ca como valor de referência, pois a mesma permitiria melhor segmentação silábica, manipulação fonêmica, transposição
avaliação com os demais momentos. Analisamos as mudanças silábica e aliteração. Maiores detalhes podem ser obtidos em
ocorridas ao longo dos dois anos de pesquisa em relação à Pestun (2004).
média de referência (considerada como as médias das primei- Analisando a média de referência (momento inicial) de to-
ras medidas: F0, L1, LP1, D1, DP1), por meio do teste de Qui- das as variáveis mensuradas, observou-se que houve mudan-
quadrado (McNemar), com o objetivo de analisar se as mudan- ça significativa no desempenho das crianças para categorias
ças foram para melhor ou para pior. A comparação dos grupos melhores determinadas pelos valores acima da média de refe-
acima e abaixo da média de referência (F0) em todos os momen- rência (p < 0,001) como pode ser verificado na Tabela 2.
M.S.V.Pestun
410
Tabela 2
Número e porcentagem de crianças de acordo com as alterações em relação à média
de referência das variáveis mensuradas
Ab-Ab Ab-Ac Ac-Ab Ac-Ac
Medidas comparadas p *
n % n % n % n %
F0 – F1 15 11,4 59 44,7 2 1,5 56 42,4 < 0,001
F0 – F2 3 2,3 71 53,8 - - 58 43,9 < 0,001
L1 – L2 15 11,4 81 61,4 - - 36 27,3 < 0,001
LP1 – LP2 15 11,4 77 58,3 - - 40 30,3 < 0,001
D1 – D2 12 9,1 81 61,4 - - 39 29,5 < 0,001
DP1 – DP2 15 11,4 76 57,6 1 0,8 40 30,3 < 0,001
Nota: média de referência = média de todas as crianças nas primeiras medidas
Ab-Ab = abaixo da média de referência no primeiro e segundo momento
Ab-Ac = abaixo da média de referência no primeiro momento e acima no segundo momento
Ac-Ab = acima da média de referência no primeiro momento e abaixo no segundo momento
Ac-Ac = acima da média de referência no primeiro momento e acima no segundo momento
* Teste de qui-quadrado de McNemar com 1 grau de liberdade
A quantidade de crianças que demonstraram desempe- nas duas medidas obtidas (Ab-Ab), enquanto houve um
nhos acima da média em F0, manteve-se em F1 e aumentou em acréscimo significativo na quantidade de crianças que evo-
F2 (Ac-Ac). Somente duas crianças, na segunda avaliação da luíram em escrita sob ditado (Ab-Ac). Somente uma criança
PCF mudaram de categoria, de acima da média para abaixo da mudou de categoria, de acima da média para abaixo da média
média (Ac-Ab). Provavelmente, alguma variável não contro- em escrita sob ditado de pseudopalavras (Ac-Ab). Prova-
lada determinou esse resultado. Interessante observar o au- velmente, alguma variável não controlada determinou esse
mento significativo de crianças que mudaram de categoria, resultado.
ou seja, que apresentavam desempenhos abaixo da média em A Tabela 3 demonstra que em todas as variáveis
F0 e evoluíram em F1 (Ab-Ac). Somente três crianças manti- mensuradas, as crianças que apresentaram escores acima da
veram desempenhos abaixo da média nas três avaliações da média nas três avaliações da PCF (F0, F1, F2), também apre-
PCF (Ab-Ab). sentaram escores medianos maiores nas segundas medidas
Em leitura de palavras e de pseudopalavras, 15 crianças obtidas (p < 0,001).
mantiveram seus desempenhos abaixo da média nas duas
medidas obtidas (Ab-Ab), enquanto houve um acréscimo
Discussão
significativo na quantidade de crianças que evoluíram em
leitura (Ab-Ac). A presente pesquisa teve por objetivo verificar se have-
Em escrita sob ditado de palavras familiares, 12 crian- ria uma relação causal entre a habilidade de consciência
ças mantiveram seus desempenhos abaixo da média nas duas fonológica presente antes da escolarização formal e a aquisi-
medidas obtidas. Em escrita sob ditado de pseudopalavras, ção e o desenvolvimento da leitura e da escrita ao término do
15 crianças mantiveram seus desempenhos abaixo da média 1o ano do ensino fundamental. Como pode ser verificado na
Tabela 3
Escores médios, desvio padrão e mediana das variáveis mensuradas de acordo com
a classificação acima ou abaixo da média de referência (F0) em todos os momentos
(F0, F1 e F2)
Acima da média de referência em todos os momentos
Variáveis Sim (n = 56) Não (n = 76) p *
Média Desvio padrão Mediana Média Desvio padrão Mediana
L1 10,32 14,10 4,50 5,38 10,47 0,00 0,002
L2 41,21 8,57 42,00 28,91 16,21 35,50 < 0,001
LP1 8,70 12,18 3,50 4,04 8,80 0,00 < 0,001
LP2 35,64 8,85 38,00 23,70 14,28 27,50 < 0,001
D1 4,46 6,32 1,00 1,75 4,25 0,00 < 0,001
D2 24,04 7,65 24,00 16,71 9,59 18,00 < 0,001
DP1 6,05 8,20 3,00 2,32 4,96 0,00 < 0,001
DP2 19,36 6,60 19,00 13,84 9,34 14,50 < 0,001
* Teste de Mann-Whitney
Consciência fonológica, leitura e escrita 411
Tabela 3, parece haver uma relação causal entre todas as va- Bryant, 1983; Capovillla & Capovilla, 1998; Carraher & Rego,
riáveis, isto é, entre consciência fonológica, leitura oral e es- 1984; Coimbra, 1997).
crita de palavras e de pseudopalavras. Esses resultados cor- Portanto, os resultados desta pesquisa parecem indicar
roboram o que os estudos longitudinais documentados na uma relação de reciprocidade, ou seja, assim como as habili-
literatura nacional e internacional vêm divulgando (Cardoso- dades metalingüísticas são importantes para a aquisição e o
Martins, 1991; Lundberg, Frost, & Peterson, 1988; Torgesen, desenvolvimento da leitura e da escrita, o ensino destas últi-
Wagner, & Rashotti, 1994). Crianças que apresentam consci- mas, favorece o desenvolvimento da consciência fonológica.
ência de que a fala pode ser segmentada e que os segmentos Ao longo das três avaliações da PCF, as habilidades de
podem ser manipulados adquirem e desenvolvem as habili- consciência fonológica que mais evoluíram foram aquelas que
dades de leitura e escrita de forma mais eficiente. envolviam sílabas, permanecendo como as mais difíceis as
No presente estudo, 42% dos alunos apresentaram cons- atividades que envolviam fonemas. Segundo Morais et al.
ciência fonológica ao início do pré III, ou seja, obtiveram (1986, 1989) e Bertelson et al (1989), as sílabas são unidades
resultados acima da média de referência – responderam cor- lingüísticas naturalmente isoláveis na pronúncia e o seu do-
retamente a 11 ou mais de 40 questões propostas. Capovilla e mínio desenvolve-se informalmente através de experiências
Capovilla (1998) aplicaram a mesma prova em 34 crianças de com a linguagem oral, presentes, portanto, desde cedo nas
nível sócio-econômico médio, alunos de pré III de uma escola crianças. O fonema, por sua vez, é uma estrutura de maior
particular do interior de São Paulo, e obtiveram melhores re- complexidade que precisa ser ensinado explicitamente. Con-
sultados em consciência fonológica, média de acertos de forme Maluf e Barrera (1997), as habilidades para segmentar
18,94% questões em 40 propostas. Algumas hipóteses po- palavras em suas unidades silábicas e/ou fonêmicas aumen-
dem ser levantadas para explicar a diferença nos resultados tam com o aumento da idade e do nível escolar. Essas mesmas
entre os dois estudos: (1) a falta de escolarização anterior ao autoras nos revelam que as crianças, participantes de sua
pré III nos alunos do presente estudo pode ter sido a respon- pesquisa, na faixa etária dos quatro anos, mostraram maior
sável por esses dados. Pesquisas têm demonstrado que a freqüência de segmentação silábica, ao passo que as crian-
instrução formal no sistema alfabético é muito importante para ças na faixa etária de seis anos mostraram um predomínio de
o desenvolvimento de alguns níveis de consciência fonológica segmentação fonêmica. Resultados semelhantes foram obti-
considerados mais complexos, como é o caso da análise e dos por Liberman, Shankweiler, Fisher e Carter (1974). Ne-
síntese fonêmica, transposição fonêmica (Bertelson, Gelder, nhuma das crianças de quatro anos pesquisadas por eles
Tfouni, & Morais, 1989; Maluf & Barrera, 1997; Morais, conseguiu segmentar em fonemas, mas metade delas conse-
Bertelson, Cary, & Alégria, 1986; Morais, Content, Cary, guiu segmentar em sílabas. Aos seis anos, 70% já consegui-
Mehler & Segui, 1989). A amostra de Capovilla e Capovilla am segmentar em fonemas e 90% em sílabas. Entre os quatro
(1998) freqüentava escola particular desde o pré-I; (2) nível e os seis anos, essas crianças aprenderam a ler, a soletrar e a
sócio-econômico como os pais das crianças do presente es- escrever. Acreditamos que o desconhecimento, por parte dos
tudo eram, em sua maioria, semi-analfabetos ou apresenta- professores de nossa pesquisa, do que são habilidades
vam poucos anos de escolarização, provavelmente, liam me- metalingüísticas e metafonológicas e, consequentemente, a
nos para seus filhos e realizavam poucos jogos de lingua- ausência de treinamento sistemático dessas habilidades não
gem, o que parece não ter favorecido o desenvolvimento da favoreceu um melhor desempenho das crianças nas tarefas
consciência fonológica nesse grupo. A literatura atual vem de segmentação, síntese, manipulação e transposição
a
demonstrando que pais com pouca escolarização lêem me- fonêmica, apesar de estarem concluindo a 1 série e com ida-
nos para seus filhos e fazem poucos jogos de linguagem com de média de oito anos.
eles (Morais, 1995). As crianças da amostra de Capovilla e Com relação às crianças que não evoluíram ao longo dos
Capovilla (1998) pertenciam a uma classe sócio-econômica dois anos deste estudo, levantamos a hipótese de elas serem
média, portanto, diferente da amostra do presente estudo. portadoras de um distúrbio de linguagem. Estudos controla-
A mudança significativa no desempenho das crianças dos com essas crianças estão sendo atualmente conduzidos.
para categorias melhores determinadas pelos valores acima
da média de referência parece indicar que a introdução formal
Considerações finais
no sistema alfabético favoreceu o desenvolvimento de habi-
lidades metalingüisticas. Segundo Goswani e Bryant (1990) e As análises dos resultados obtidos na presente pesqui-
Read et al. (1986), as crianças antes de serem alfabetizadas, sa permitem indicar que: (1) parece existir uma relação causal
não têm uma compreensão clara de como a fala é organizada. entre consciência fonológica e ulterior desempenho em leitu-
Somente a partir do conhecimento das características da es- ra e escrita, visto que a consciência fonológica foi medida
crita é que as crianças desenvolvem a consciência fonológica. antes de as crianças terem aprendido a ler e a soletrar; (2)
Por outro lado, pode-se verificar que os melhores alunos parece existir uma relação de efeito entre o ensino formal no
em consciência fonológica (F0, F1, F2) eram os melhores em sistema alfabético e o desenvolvimento da consciência
leitura e em escrita em todos os momentos, o que parece fonológica; (3) existem diferentes níveis de consciência
confirmar que habilidades metalingüisticas contribuem para fonológica, ou seja, primeiro desenvolve-se a consciência da
o sucesso da aprendizagem da leitura e da escrita (Bradley & sílaba e, posteriormente, a consciência do fonema; (4) as ha-
M.S.V.Pestun
412
bilidades metafonológicas são dependentes da idade, do ní- Capovilla, A. G. S., & Capovilla, F. C. (2000). Problemas de leitura e escrita: como
vel escolar e das formas de ensino. identificar, prevenir e remediar numa abordagem fônica. São Paulo: Memnon.
Assim, sugerimos que: (1) a Educação Infantil pode ser o Capovilla, A. G. S., & Capovilla, F. C. (2003). Comparando métodos de
momento adequado para o desenvolvimento de habilidades alfabetização: evidência da superioridade do método fônico em relação ao
método global. In M. C. Marquezine, M. A. Almeida, & E. D. Tanaka
metafonológicas que favoreceriam ulterior aquisição e de-
(Orgs.), Leitura, escrita e comunicação no contexto da educação especial
senvolvimento das habilidades de leitura e de escrita; (2) os
(pp. 1-28). Londrina: Editora da Universidade Estadual de Londrina.
professores de Educação Infantil e Ensino Fundamental ne- Cardoso-Martins, C. (1991). Awareness of phonemes and alphabetic literacy
cessitam de cursos de formação continuada para compreen- acquisition. British Journal of Educational Psychology, 61, 164-173.
derem o que é Metalinguagem e Habilidades Metafonológicas Cardoso-Martins, C. (1995). Sensitivity to rhymes, syllables, and phonemes in literacy
e aplicar procedimentos que favoreçam a aquisição e o de- acquisition in Portuguese. Reading Research Quarterly, 30(4), 808-827.
senvolvimento dessas habilidades em seus alunos; (3) o de- Carraher, T. N., & Rego, L. L. B. (1984). Desenvolvimento cognitivo e alfabe-
sempenho em consciência fonológica parece ser um bom in- tização. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, 65, 38-55.
dicador de sinais de risco para Distúrbio de Leitura e Escrita. Coimbra, M. (1997). Metaphonological ability to judge phonetic and phonological
acceptability in five-year-old monolingual and bilingual children. Tese de
Doutorado não-publicada, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande
Agradecimentos do Sul, Porto Alegre.
Goswani, U., & Bryant, P. (1990). Phonological skills and learning to read.
Nossos sinceros agradecimentos a Profa. Dra. Tieme Hove, Reino Unido: Erlbaum.
Matsuo, docente do Departamento de Matemática Aplicada, Liberman, I. Y., Shankweiler, D., Fisher, E., & Carter, B. (1974). Explicit
Universidade Estadual de Londrina, pelo tratamento estatís- syllable and phoneme segmentation in the young child. Journal of Experi-
tico dos dados desta pesquisa. Igualmente manifestamos mental Child Psychology, 18, 201-212.
nosso agradecimento ao Fundo de Apoio ao Ensino, Pesqui- Lundberg, I., Frost, J., & Petersen, O. (1988). Effects of an extensive program for
sa e Extensão, da Universidade Estadual de Londrina (FAEPE/ stimulating phonological awareness in preschool children. Reading Research
UEL), pelo apoio. Quarterly, 23, 262-284.
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Magda Solange Vanzo Pestun, doutora em Ciências Médicas (Neurologia) pela Universidade de Campinas, é
coordenadora do grupo de pesquisa “Desenvolvimento Humano” e professora no departamento de Psicologia
Social e Institucional da Universidade Estadual de Londrina. Endereço para correspondência: Rodovia Celso
Garcia Cid (445) Km. 380; Londrina, PR; CEP 86051-990. Tel.: (43) 3371-4487. E-mail:
pestun@sercomtel.com.br
Recebido em 28.jul.04
Revisado em 28.set.05
Aceito em 21.nov.05
ISSN: 1984-1655
Resumo
Este trabalho apresenta os resultados de uma intervenção para o perdão reali-
zada com 17 crianças com idade média de 7 anos e 6 meses (DP = .70). O méto-
do utilizado foi quase experimental com participantes respondendo a Entrevista
do Perdão no início e no final da intervenção. Após a entrevista inicial, as crian-
ças foram divididas aleatoriamente em grupos experimental e controle. As cri-
anças do grupo experimental participaram das atividades delineadas para a
intervenção. As crianças do grupo controle foram mantidas nas aulas normais
na instituição. Os resultados indicaram que perdoar foi associado ao pedido de
desculpas e à reconciliação entre as partes em conflito. Na comparação do pré-
teste com o pós-teste, as crianças do grupo experimental mostraram um aumen-
to significativo do grau de perdão, uma diminuição significativa do grau da
raiva do ofensor e um aumento na frequência de escolha pelo perdão como uma
opção para resolução de conflitos interpessoais. Acredita-se que para crianças
dessa faixa etária o pedido de desculpas e a reconciliação funcionam como re-
presentações do perdão.
E-mail: julio.rique@uol.com.br
Volume 10 Número 1 – Jan-Jul/2018
www.marilia.unesp.br/scheme
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Abstract
Introdução
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tuo e a obediência às regras pelo bem de todos na escola. Como também permi-
te às crianças estabelecerem vínculos de confiança com os professores que tam-
bém são de fundamental importância para o desenvolvimento da autonomia
moral. Na maioria das vezes, a relação das crianças com os professores é basea-
da nas imposições de conhecimentos e conceitos morais destes sobre as crian-
ças. Nesse sentido, é preciso mudar a natureza das relações entre professores e
alunos da obediência por coerção para obediência por confiança e cooperação.
Assim, o respeito às regras pelo bem das pessoas necessita não somente dos
componentes racionais cognitivos, mas também de algumas condições afetivas
que em conjunto auxiliam a educação moral.
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ção de conflitos. Para tanto, Watson (2003) utilizou, além dos princípios cons-
trutivistas piagetianos de De Vries e Zan, os princípios das teorias do apego
(BOWLBY, 1969), confiança (ERIKSON, 1963) e as estratégias para desenvolver
a empatia indicadas por Hoffman (2000). Nessas perspectivas, a qualidade da
relação das crianças com seus primeiros cuidadores determina o comportamen-
to destas com outras pessoas de seu convívio. A empatia é um dos sentimentos
mais essenciais para a construção de uma relação de confiança em sala de aula,
pois é ela que permite que as crianças considerem o sofrimento do outro como
consequência de suas ações. Para desenvolver essa habilidade afetiva, Watson
indica o uso da técnica da indução, utilizada para ajudar as crianças a adotarem
e compreenderem a situação sob a perspectiva de outra criança numa situação
de conflito. Esta técnica permite que a criança perceba o sofrimento do outro e
possibilita o surgimento do princípio moral da reparação como uma obrigação
moral.
O Processo de Perdoar
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tamentos positivos perante a pessoa que gerou a mágoa. Para que isso aconteça
é necessário que o indivíduo desenvolva a empatia, através da capacidade de
colocar-se no lugar do outro, ou role-taking (RIQUE, CAMINO, FORMIGA,
MEDEIROS & LUNA, 2010). O role-taking pode ser definido como a habilidade
de diferenciação entre a própria perspectiva e a perspectiva do outro, que ocor-
re através de uma percepção precisa do pensamento do outro e do uso de estra-
tégias de negociação interpessoal. Essa habilidade se desenvolve com a idade e
a medida que as crianças se envolvem em relações sociais cada vez mais com-
plexas, levando a uma percepção mais avançada das relações interpessoais e à
necessidade de uso de estratégias cognitivas para resolverem conflitos (SEL-
MAN, 1980).
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Método
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Participantes
Instrumentos
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Questionário Biodemográfico.
Procedimentos de intervenção
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zaram uma adaptação da fábula infantil “O Patinho Feio”. Nessa fábula, o per-
sonagem principal sofre situações de desprezo da família, humilhação, vergo-
nha e sentimentos de rejeição e inferioridade. A adaptação foi elaborada de
forma a permitir que o condutor da intervenção oriente a tomada de perspecti-
va do outro e as etapas do processo de perdoar. A estória foi contada em partes
e após a apresentação de cada parte havia questões para debates em sala de au-
la sobre as concordâncias e discordâncias das soluções propostas para o dilema.
Ao final das atividades de intervenção, cada criança pôde elaborar um desfecho
para a estória do Patinho Feio, que incluía a decisão do personagem de perdoar
ou não a família e como seria a relação entre eles após esse evento. O quadro 2
apresenta um resumo dos objetivos de cada sessão realizada.
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Resultados
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105
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Discussão
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Conclusão
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Referências
BOWLBY, J. Attachment and loss. Vol. 1: Attachment. NY: Basic Books, 1969.
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RIQUE, J.; CAMINO, C.; FORMIGA, N.; MEDEIROS, F.; LUNA, V. Considera-
ção empática e tomada de perspectiva para o perdão interpessoal. Interameri-
can Journal of Psychology, 44, 411-418, 2010.
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