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CURSO DE INTERPRETAÇÃO E PREGAÇÃO BIBLICA.

TEXTO BÍBLICO

HERMENÊUTICA

EXEGESE

HOMILETICA

Por

Pr. Dr. NOEL JORGE DA COSTA

RIO BONITO-2018
2
PROPOSITO:

Não basta saber ler que Eva viu a uva. “É preciso


compreender qual a posição que Eva ocupa no seu
contexto social, quem trabalha para produzir a uva e
quem lucra com esse trabalho.” Paulo Freire.

OBJETIVO:

“Pretendo nas atividades a serem realizadas neste curso


utilizar de um jogo, onde ninguém perde, mas todos
ganham no ir e vir da bola: O frescobol.” Pr. Noel.

RAZÃO:

“Se o machado está cego e sua lâmina não foi afiada, é


preciso golpear com mais força; agir com sabedoria
assegura o sucesso”. Ecl.3.10

SOBRE O AUTOR:

Pr. Noel Jorge da Costa

Bacharel em Teologia pela Faculdade de Teologia Sul Americana-PR. Mestre em


Educação Religiosa pela Faculdade de Filosofia, Teologia e Pedagogia Macaense- RJ.
Mestre em Divindades pela Faculdade da Fé Reformada (FATEFE)- SP. Doutor em
Teologia pela COHEM UNIVERSITY - USA. Pós- Doutorando em Teologia pela Ômega(
USA) Capelão Hospitalar pela CAERJ- RJ. Especialização em Grego e Exegese do Novo
Testamento pelo IBCF- RJ. Pós-Graduado em Medicina Psicossomática pela Faculdade
Redentor- RJ. Pós-Graduado em Ciência da Religião pela FATERJ, Psicanalista Clinico
pela ABPC- RJ. Pastor na Igreja Batista Carioca em Itaboraí- RJ.
3

SUMARIO

2 DEFINIÇOES.................................................................................................................10

1.1 Exegese..................................................................................................................10

1.2 Hermenêutica ........................................................................................................10

1.3 Homilética.......................................................................................................10 .

2 FAZER EXEGESE.........................................................................................................11

2.1 O que significa exegese.......................................................................................11

2.2 EIxegese não é exegese.......................................................................................11

2.3 Exegese e hermenêutica......................................................................................11

2.4 As tarefas da exegese..........................................................................................11

2.5 Exegese e leitura popular da Bíblia....................................................................11

2.6 Quais as vantagens da exegese; do que a exegese nos livra...........................12

2.7 Exegese Acadêmica e exegese pastoral.............................................................12

3 O REFERENCIAL METODOLOGICO.............................................................................13

3.1 Método fundamentalista.........................................................................................13

3.2 Método estruturalista.............................................................................................14

3.3 Método histórico-critico.........................................................................................14

3.4 Aproximação do texto............................................................................................15

3.5 O conceito de inerrância..........................................................................................16


3.5.1 inerrância absoluta.............................................................................................16
3.5.2 Inerrância plena.................................................................................................16
3.5.3 inerrancia limitada..............................................................................................16

4 TRADUÇÕES..................................................................................................................17

4.1 Correspondência formal........................................................................................17

4.2 Equivalência dinâmica...........................................................................................18

5 CRITICA TEXTUAL........................................................................................................18

5.1 Manuscritos..............................................................................................................18
4
5.2 Textos.....................................................................................................................19
5.2.1 Alexandrino.....................................................................................................19
5.2.2 Ocidental........................................................................................................19
5.2.3 Cesareense.....................................................................................................19
5.2.4 Bizantino ( koiné).............................................................................................19

6 ANALISE LITERARIA....................................................................................................19

6.1 Delimitação de texto..............................................................................................19

6.2 Estrutura do texto...................................................................................................20

6.2.1 Paralelismo.....................................................................................................20

6.2.2 Paralelismo Antitético.....................................................................................20

6.2.3 Paralelismo Sinonímico .................................................................................20

6.2.4 Paralelismo Sintético......................................................................................20

6.2.5 Paralelismo Culminativo.................................................................................20

6.3 Estruturas Simetricas............................................................................................20

6.4 Quiasmos..........................................................................................................20

6.3 Amarras no Texto..............................................................................................20

6.4 Relações de Convergências e Oposição............................................................20

6.4.1 Convergência ...............................................................................................20

6.5.2 Antagônico....................................................................................................21

6.5 Integridade e Coesão do Texto.............................................................................21

ANALISE TEOLOGICA.....................................................................................................21

7.1 Passagens Paralelas..............................................................................................22

7.2 Avaliação Teológicas.............................................................................................22

8 FIGURAS DE LINGUAGEM............................................................................................23

8.1 Metáfora....................................................................................................................23

8.2 Sinédoque.................................................................................................................24

8.3 Metonímia.................................................................................................................24

8.4 Prosopopéia.............................................................................................................24

8.5 Ironia.........................................................................................................................25

8.6 Hipérbole..................................................................................................................25
5
8.7
Alegoria............................................................................................................................25

8.8 Fábula.....................................................................................................................25

8.9 Enigma...................................................................................................................26

8.10 Tipo.......................................................................................................................26

8.11 Símbolo.................................................................................................................26

8.12 Parábola................................................................................................................27

8.13 Símile.....................................................................................................................27

8.14 Interrogação..........................................................................................................27

8.15 Apóstrofe...............................................................................................................28

8.16 Antítese..................................................................................................................28

8.17 Clímax ou Gradação.............................................................................................29

8.18 Provérbio...............................................................................................................30

8.19 Acróstico...............................................................................................................30

8.20 Paradoxo................................................................................................................31

8.21 Hebraismo.............................................................................................................33

8.22 Palavras Simbolicas.............................................................................................34

8.23 Apocalíptica...........................................................................................................38

8.23.1 Princípios hermenêuticos..............................................................................39

8.23.2 Literal versus Simbólico................................................................................39

8.23.3 Universalismo................................................................................................39

9 DINAMICA DO ESTUDO.................................................................................................39

9.1 Leitura.......................................................................................................................39

9.1.1 Estudo do Texto..............................................................................................40

9.1.2 Sublinhar..........................................................................................................40

9.1.3 Resumo............................................................................................................41

9.1.4 Esquema..........................................................................................................41

9.2 A Transposição da Leitura.........................................................................................41

9.2.1 Analise Textual...................................................................................................42


6
9.2.2 A análise temática-...........................................................................................42

9.2.3 A Interpretação do texto......................................................................................42

9.3 Métodos Científicos....................................................................................................42

9.3.1 Os Métodos de Abordagem...............................................................................43

9.3.1.1 O Método Dedutivo...............................................................................43

9.3..1.2 O Método Indutivo................................................................................43

9.3.1.3 O Método Hipotético-Dedutivo...............................................................43

9.3.1. 4 O Método Dialético................................................................................44

9.3.1.5 O Método Fenomenológico.....................................................................44

9.3.2 Os Métodos de Procedimentos...........................................................................44

9.3.2.1 O Método Histórico.................................................................................44

9.3.2.2 O Método Comparativo...........................................................................45

9.3.2. 3 O Método Estatístico..............................................................................45

9.3.2.4 O Método de Estudo de Caso.................................................................45

10 A DINAMICA DA COMUNICAÇÃO..............................................................................46

10.1 Sistema Auditivo ................................................................................................46


10.2 Sistema Visual .....................................................................................................46

10.3 Sistema Sinestésico............................................................................................47

10.4 A Oratória..................................................................................................................47

10.4.1 O Medo de Falar em Publico..........................................................................48


10.4.1.1 Traumas infantis... ............................................................................48
10.4.1.2 Desconhecimento da matéria ...........................................................48
10.4..13 Insegurança ......................................................................................49

10.5 O Cinco “nãos “ de um Bom Pregador...................................................................50

10.6 O Que Todo Bom Pegador Faz ...............................................................................51

10.7 Como se usa o microfone........................................................................................51

10.8 Tonalidade de voz.....................................................................................................52

10.9 Apresentação em Publico........................................................................................55


7

11 A HISTORIA DA PREGAÇAO......................................................................................55

11.1 .A pregação no Antigo Testamento. ...................................................................55

.11.1.1 A pregação dos profetas ..........................................................................55


11.1.1.1.Quanto à Chamada.......................................................................56
11.1.1.2. Quanto à mensagem.........................................................57
11. 1.1.3 Quanto ao ministério..............................................................64

11.2 A pregação no Novo Testamento...........................................................................65


11.2.1 A pregação de João Batista. ........................................................................65
11.2.2 A pregação de Jesus.....................................................................................67
11.2.3 A pregação de Estevão..................................................................................68

11.2.4 A pregação dos Apóstolos.............................................................................70

11.2..4.1 A pregação Pedro...........................................................................71


11.2.4.2 A Pregação de Paulo.......................................................................73
12 A PREGAÇÃO ATRAVÉS DOS TEMPOS...................................................................78
12.1 A pregação pós-apostólica até o século IV......................................................78

12.1.2 João Crisóstomo, “O boca de ouro”.........................................................79


12.1.3 Agostinho................................................................................................82
12.2 A pregação do século IV até os reformadores................................................83
12.3 A pregação da Reforma até o século XVI ....................................................86
12.3.1 Lutero.......................................................................................................86

12.3.2 Calvino.....................................................................................................89

12.4 A pregação do século XVI até o século XX................................................91


12.4.1 Séc.XVI – XVII (Os puritanos).............................................................91

12.4.2 Séc. XVIII (os avivalistas).....................................................................94


12.4.3 Séc.XIX (os grandes pregadores)....................................................96
12.4.4. Séc. XX............................................................................................99

12.5 A Pregação Contemporânea....................................................................103

12.5.1 Pregações comuns na contemporaneidade.........................104


12.5..1.1 O sermão da prosperidade material.......................104
12.5.1.2 O sermão motivacional..........................................105
12.5.1.3 O Sermão centrado nas bênçãos...........................106
8
12.5.1.4 O sermão que tematiza curas e milagres como um
fim em si mesmo..........................................................................................................106
12.5.1.5 O Sermão da confissão positiva..............................107
12.5.1.6 O sermão que aborda o sonho como estilo de
vida...................................................................................................................................108
12.5.1.7 O sermão do triunfalismo sem preço ......................109

13 A PREGAÇÃO E SEUS PRESSUPOSTOS TEOLOGICOS.......................................109


13.1 A pregação e a Soberania de Deus................................................................109

13.2 A pregação e o livre arbítrio...........................................................................110

13.3 A pregação e a responsabilidade humana.....................................................112

13.4 A pregação e a evangelização.........................................................................113

13.5 A pregação e a providência.............................................................................117

14 A HISTORIA DA INTERPRETAÇAO BIBLICA..........................................................118

14.1 Exegese Judaico Antiga...............................................................................119

14.1.2 Uso do Antigo Testamento pelo Novo Testamento..............................121

14.1.3 O uso que Jesus faz do Antigo Testamento.........................................121

14.1. 4 O uso que os Apóstolos fizeram do Antigo Testamento.....................122

14.2 Exegese Patrística (100-600 d.C) ...............................................................123

14.2.1 Clemente de Alexandria (150- 215).....................................................123

14.2.2 Orígenes (185 – 254)...........................................................................123

14.2.3 Agostinho (354-430).............................................................................124

14.2.4. A Escola de Antioquia da Síria............................................................125

14.3 Exegese Medieval (600-1500)........................................................................125

14.4 Exegese da Reforma (século XVI)................................................................126

14.4.1 Lutero (1483- 1546)..............................................................................126

14.4.2 Calvino (1509- 1564)............................................................................127

14.5 Exegese da Pós- Reforma (1550-1800)...........................................................128

14.5.1 Confessionalismo......................................................................................128

14.5.2 Pietismo....................................................................................................128

14.5.3 Racionalismo............................................................................................128
9
14.6 Exegese Moderna ...............................................................................................129

14.6.1 Liberalismo...................................................................................................129

14.6.2 Neo-ortodoxia.............................................................................................130

14.6.3 A nova hermenêutica..................................................................................130

14.6.4 A hermenêutica no cristianismo ortodoxo...................................................131

15 ESTRUTURA DO SERMÃO......................................................................................131

15.1 Objetivo, Alvo e Assunto ...................................................................................131

15.2 Assunto X Tema...................................................................................................132


15.3 Texto Bíblico........................................................................................................132

15.4 introdução do sermão.........................................................................................133

15.5 Corpo do Sermão.................................................................................................134

15.6 Ilustração.............................................................................................................135

15.7 Conclusão ...........................................................................................................136

15.8 Apelo ...................................................................................................................137

15.9 Tipos de Sermão.................................................................................................139

15.9.1 Temático...................................................................................................139

15.9.2 Textual......................................................................................................140

15.9.3 Expositivo.................................................................................................142

16. ETICA NO PÚLPITO..................................................................................................142

17 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................................144
1 DEFINIÇOES.

1.1 Exegese.

O processo do estudo cuidadoso e da análise do texto para determinar seu


significado original. Guiar para fora dos pensamentos que o escritor tinha quando
escreveu um dado documento, isto é, literalmente significa "tirar de dentro para fora",
interpretar.

Exegese: do Grego:ek + egnomai, = ek + egéomai, penso, interpreto, arranco para


fora do texto. É a prática da hermenêutica sagrada que busca a real interpretação dos
textos que formam o Antigo e o Novo Testamento. Vale-se, pois, do conhecimento das
línguas originais (hebraico, aramaico e grego), da confrontação dos diversos textos
bíblicos e das técnicas aplicadas na linguística e na filosofia. É a disciplina que aplica
métodos e técnicas que ajudam na compreensão do texto.

1.2 Hermenêutica.

Regras de interpretação aplicadas ao texto das Escrituras, durante o estudo bíblico.


O termo "hermenêutica" deriva do grego hermeneuein, "interpretar". A Hermenêutica
Bíblica cuida da reta compreensão e interpretação das Escrituras. Consiste num
conjunto de regras que permitem determinar o sentido literal da Palavra de Deus.

É o estudo cuidadoso e sistemático da Escritura para descobrir o significado original


que foi pretendido. É a tentativa de escutar a Palavra conforme os destinatários originais
devem tê-la ouvido; descobrir qual era a intenção original das palavras da Bíblia.

1.3 Homilética.

O processo de se pegar o resultado de nosso estudo bíblico (exegese) e


desenvolvê-lo, para que assuma forma de mensagem (“sermão”) para ser comunicado
a outros. HOMILÉTICA: É a ciência que estuda os princípios fundamentais do discurso
em público, aplicados na proclamação do evangelho. Este termo surgiu durante o
Iluminismo, entre os séculos XVII e XVIII, quando as principais doutrinas teológicas
receberam nomes gregos, como, por exemplo, dogmática, apologética e hermenêutica.
As disciplinas que mais se aproximam da homilética são a hermenêutica e exegese que
se complementam.

HOMILETIKE – (Grego) ensino em tom familiar. HOMILIA – (do verbo homileo )


Pregação cristã, nos lares em forma de conversa. PREGAÇÃO- Ato de pregar a palavra
de Deus. Pregação é o ato de pregar a palavra de Deus. Pregador (aquele que prega)
vem do latim, “prae” e “dicare” anunciar, publicar. A palavra grega correspondente a
pregador é “Keryx”, arauto, isto é, aquele que tem uma mensagem (Kerygma) do Reino
de Deus, uma boa notícia, uma boa-nova – evangelho, “evangelion”.
11

2 FAZER EXEGESE

QUEM IMTERPRETAR QUEM? O charme esta na dialética de interpretar e ser


interpretado.

2.1 O que significa exegese?

Esclarecimento ou minuciosa interpretação de um texto. Exegese Bíblica é o


trabalho de explicação e interpretação de um ou mais textos bíblicos. Faz uso de vários
recursos e instrumentos científicos para entender o texto sagrado. A exegese distingue-se
de outras interpretações bíblicas pelo seu caráter mais cientifico detalhado e profundo.

2.2 Eixegese não é Exegese..

Eisegese é a ‘entrada’ em um texto a partir do horizonte de compreensão do leitor.


É a interpretação de um texto atribuindo-lhe ideias do próprio leitor. A eixegese na pratica
ocorre sempre que o interprete leva para o texto suas convicções e a partir dela formula
conceitos e os denomina de bíblico.

2.3 Exegese e Hermenêutica.

Hermenêutica designa mais particularmente os princípios que regem a


interpretação dos textos. A exegese descreve mais especificamente as etapas ou os
passos que cabe dar em sua interpretação. A hermenêutica oferece os recursos
metodológicos necessários para se tirar o melhor proveito da exegese.

2.4 As Tarefas da Exegese.

A primeira tarefa da exegese é aclarar as situações descritas nos textos, ou seja,


redescobrir o passado bíblico de tal forma que o que foi narrado nos textos se torne
transparente e compreensível para nós que vivemos em outra época e em circunstancias
e culturas diferentes.

A segunda tarefa consiste em que toda interpretação esta condicionada ao nosso


mundo cultural, religioso e ideológico. Não existe interpretação neutra. O perigo é que não
conseguimos mais ouvir o que os textos dizem, mas ouvimos apenas o que gostaríamos
que os textos dissessem. Daí surge à segunda tarefa: permitir que possa ser ouvida a
intenção que o texto teve em sua origem.

A terceira tarefa da exegese consiste em verificar em que sentido opções éticas e


doutrinais podem ser respaldadas e, portanto, reafirmadas, ou devem ser, revistas e
relativizadas.

2.5 Exegese e Leitura Popular da Bíblia.

Exegese por exigir instrumentos científicos não é acessível a todos. Por outro lado,
o povo embora não tenha formação acadêmica, tem SABER teológico, ou seja, interpreta
os textos bíblicos a partir de sua experiência de fé dentro de sua vida diária.
12

QUAL A DIFERENÇA? A leitura popular é um exercício de interpretação eminentemente


pratico, direcionado para descobrir a mensagem dos textos para o hoje da fé. A tarefa do
exegeta consiste prioritariamente em desvendar o sentido que tinha o texto para o local, a
época e as comunidades em que foi formulado pela primeira vez.

2.6 Quais as Vantagens da Exegese, do que a Exegese nos Livra.

(1) PRISAO DA LETRA. Tem uma concepção mecânica, leva sempre ao


fundamentalismo religioso, leitura sem critica (crivo).

(2) DEPENDENCIA DO SABER DOS OUTROS. Perpetua complexo de ignorância


e inferioridade.

(3) DEPENDENCIA DA IDEOLOGIA DOMINANTE. Vitimas da ideologia dominante


nos tornamos boi de piranha. A exegese liberta a nossa mente e nosso pensar do
atrelamento aquilo que outras pessoas e grupos pensam e desejam que creiamos. Ex.
doutrina batista (pensa como batista). Doutrina pentecostal (pensa....). Obs. Que tal
doutrina bíblica (pensar bíblico)

(4) ESTUDO SEM FE E SEM COMPROMISSO COMUNITARIO. Esta leitura pode


apresentar boas ideias, mas carece de um efetivo esforço pela transformação da
realidade. Leitura individualista (caixinha de surpresa) que faz com os versos que
favorecem ao leitor sejam marcados. Ex. ACHOLOGIA, SINTOLOGIA E VERSICULISMO.

2.7 Exegese Acadêmica e Exegese Pastoral.

1ª- A exegese acadêmica tem finalidade própria exclusivamente cientifica.


(acadêmica).

2ª- A exegese pastoral embora também seja cientifica, está ligada e ordenada a
vida da igreja. (pastoral)

CARACTERISTICAS DA EXEGESE ACADEMICA:

1ª- Estuda o texto sob todos os aspectos que possam ser objeto do conhecimento.
2ª- Sua meta é saber do texto em si e por si mesmo.

3ª- Utiliza-se para atingir essa meta,de todos os meios disponíveis ao saber
humano, excluindo-se qualquer saber não racional.

4ª- Dirige-se não ao povo de Deus, mas aos especialistas.

CARACTERISTICAS DA EXEGESE PASTORAL:

1ª- Limita-se aos aspectos do texto cujo conhecimento se revela necessário para
compreender o conteúdo e permitir a atualização da mensagem.

2ª- Em certos momentos do processo exegético, implica saber não-racional, o


saber da fé.

3ª- Sua finalidade é a salvação do povo de Deus.


13

4ª- O destinatário é o povo crente e o ser humano religioso.

PROPOSTA: Fé----------exegese---------teologia. Uma exegese honesta não pode


relegar Deus ao totalmente inatingível. Obviamente, como em qualquer ciência, e tanto
mais nas ciências humanas, a maneira de propor a pergunta condiciona, qualifica e
sugere resposta, a fé do exegeta terá influencia indireta em sua exegese (da mesma
forma que a vida privada do filosofo pode influenciar sua filosofia ética)

A exegese é a disciplina que nos leva as realidades humanas que, uma vez
conhecidas, se abrem a outras realidades, perceptíveis, mas mediante exegese
desenvolvida na experiência de fé pessoal e comunitária, expressa depois
sistematicamente na teologia.

O interprete da Escritura deve reinserir-se na historia, na sociedade, na teologia e


na Igreja. A reinserção na historia significa suscitar a consciência de que a Bíblia não e
livro caído do céu, mas o testemunho, inspirado e posto por escrito, da historia de um
povo e de uma comunidade crente com Deus. Significa a capacidade de julgar os passos
realizados e reconhecer os mais úteis, para continuar na mesma linha.

A inserção na sociedade significa recordar que a função de quem lê e interpreta a


Escritura não para nessa interpretação, mas orienta-se para a interpretação do mundo a
luz da Bíblia e da fé. A inserção na teologia e na Igreja significa assumir a teologia e a fé
da Igreja como o lugar, natural e fecundante, da compreensão da Escritura.

DEUS, A PALAVRA E O MINISTRO:


DEUS

Pregador Ouvinte/comunidade

3 O REFERENCIAL METODOLOGICO.

Os métodos mais conhecidos de leitura bíblica são o histórico-critico, o


fundamentalista, e o estruturalista.

3.1 Metodo Fundamentalista.

Surgiu nos Estados Unidos. (pós 1ª guerra). Objetivo: salvaguardar herança


protestante ortodoxa contra a postura critica e cética da teologia liberal. Reafirmar com
renovada convicção doutrinas essências para o cristianismo.
14

Cada detalhe da Bíblia é divinamente inspirado, não podendo apresentar erros ou


incoerências. Tende a absolutizar o sentido literal da Bíblia. Pouca sensibilidade a
condição humana dos autores. Provoca uma bibliolatria, ou seja, uma idolatria a letra dos
textos.

3.2 Metodo Estruturalista

Um método de analise sincrônico vê o texto como estrutura e organização que


produz sentido para além da intenção do seu autor. Mesmo que haja diversos tipos de
analise estrutural, todos tem em comum o mesmo ponto de partida.

Dedica-se ar responder perguntas: Como funciona o texto? Como produz seu


sentido? Que se passa no texto em si? Que operações de lógica, afirmação, negação e
oposição existem no texto.

Tem algumas dificuldades: é de difícil assimilação. O seu valor reside no fato de


fundamentar a validade de novas releituras e interpretações: cada texto carrega uma
reserva de sentido a ser infinitamente explorada de forma inovadora por gerações
anteriores. Além disso, o método educa para uma leitura atenta do que realmente está
escrito nos textos, evitando uma concentração unicamente em determinadas partes ou
aspectos da narrativa.

Outra dificuldade é o seu desinteresse pela evolução histórica do texto, o que torna
o método reducionista ao fazer a abstração da vida do texto, sua historia, seu contexto.
Assim ignora a realidade cotidiana, priorizando a estrutura.

3.3 Metodo Histórico-Critico.

É o método mais usado em analises diacrônicas da Bíblia. É um método histórico


porque lida com fontes históricas que, no caso da Bíblia, datam milênios anteriores a
nossa era. Também porque analisa estas mesmas fontes dentro de uma perspectiva de
evolução histórica, procurando determinar os diversos estágios da sua formação e
crescimento até terem adquirido sua forma atual. Também se interessa pelas condições
históricas que geraram essas fontes em seus diversos estágios evolutivos.

É um método critico porque necessita emitir uma serie de juízos sobre as fontes
que tem por objeto de estudo. A “critica” usada neste método foi iniciado na critica dirigida
contra a interpretação alegórica na idade media.

Caracteriza-se, sobretudo por ser eminentemente racional e insistentemente


questionador. (iluminismo) Para o iluminismo, verdadeiro era o que estava de acordo com
a razão e o que podia ser deduzido e explicado racionalmente. O método influenciado
pelo iluminismo tornou-se profundamente racional.

A despeito dessas dificuldades existem algumas vantagens no uso do método


histórico - crítico entre elas:

(A) a dimensão histórica propugnada pelo método trás uma serie de vantagens,
por exemplo, ela leva a sério que os textos bíblicos são expressão da revelação divina a
15

humanidade em situações históricas bem concretas e definidas. Por estarem distantes de


nós como intérpretes, estas carecem de estudo e aprofundamento especiais, para que
possam ser devidamente entendidas. Uma analise de textos preocupada com sua gênese
histórica e contextual evita a prática prejudicial de extrair sentido de textos de forma
seletiva e arbitraria.

(B) o fato de o método não ser só de cunho histórico, mas também critico oferece
algumas vantagens, por exemplo, a leitura critica dos textos pode significar um corretivo
sadio para o enquadramento unilateral dos mesmos em certos dogmas ou em doutrinas
fechadas. Uma atitude critica na interpretação evita falsas harmonizações de posições ou
correntes teológicas em tensão ou conflito dentro do cristianismo das origens.

A crítica aos autores bíblicos leva a serio a sua condição de testemunhas humanas
da revelação de Deus. Critica significa fazer uso de um juízo sadio que busca realmente
as raízes dos textos, seja como eventos históricos que, de fato, ocorreram, seja como
expressão de crenças e esperanças que caiba proclamar. Crítica não é algo que deva ser
associado a uma disposição negativa nas pessoas. É exatamente o contrário.

3.4 Aproximação do texto.

A exegese inicia com um primeiro contato entre o texto e seu ou sua interprete.
Este primeiro contato será uma mescla de meditação e interrogação. Aproximação ao
texto se realiza através de uma leitura atenta do texto em uma tradução portuguesa de
uso cotidiano. Podem seguir também leituras de outras versões disponíveis.

A aproximação ao texto ocorre também com a meditação sobre o significado do


texto para o leitor. Estes poderão perguntar-se: qual a primeira impressão que o texto
provoca? O que ele comunica para mim nesta primeira leitura? Que associações e
sentimentos provocam em minha pessoa? Há empatia entre o que o texto diz e aquilo que
penso e creio? Tenho sentimentos de contrariedade em relação a algo do texto? Há
coisas com as quais não posso concordar ou que acho incorretas?

Por fim, uma aproximação ao texto engloba também reflexões sobre a sua
mensagem e seu significado, pessoal, eclesial e social. O leitor poderá perguntar-se: que
mensagem quer o texto comunicar para mim pessoalmente, para minha Igreja e para a
sociedade em que atuo? Que ideias ou práticas defendem? Quais critica e por quê? Que
implicações traz a mensagem do texto para a vivência de minha espiritualidade pessoal,
eclesial e sócio-política?

Essa primeira aproximação vai iniciar nosso dialogo com o texto, expondo como o
entendemos, as perguntas que levanta, as duvidas que suscite e a mensagem que
encerra num contato inicial. É importante que essas primeiras interrogações, dúvidas e
mensagens do texto sejam anotadas por escrito, para que possam ser comparadas com a
interpretação posterior.

Uma boa exegese levará tais perguntas a sério e procurará ser sensível a elas. A
anotação das dúvidas também favorece o processo de controle e revisão no final da
exegese. Esse processo procurará responder a questões como: quais as dúvidas e
16

interrogações iniciais que foram realmente aclaradas? Quais ainda carecem de


esclarecimento e por quê? Em que sentido o estudo cientifico do texto ajudou a esclarecer
as questões que a leitura intuitiva despertou no primeiro momento? Em que medida o
estudo cientifico do texto colocou novas questões, que não haviam sido percebidas na
leitura inicial? O estudo científico do texto apresentou novidades para mim? Quais foram?

3.5 O conceito de inerrância.

"Seu conteúdo é a verdade, sem qualquer mescla de erro, e por isso é um perfeito
tesouro de instrução divina”. A Bíblia não tem erros, portanto. Mas uma questão deve ser
levantada: em que sentido seu conteúdo é a verdade? A Bíblia é toda a verdade? Isto é
diferente de perguntar se toda ela é verdade. Cremos que tudo o que ela diz é verdade.
Mas só existe verdade nela? Ela é toda a verdade? Ela está sempre certa, mesmo
quando faz declarações que não podem ser sustentadas e são até refutadas?

3.5.1 Inerrância absoluta.

Sustenta que a Bíblia é absolutamente correta. Mesmo quando emite opiniões


científicas e históricas que são contraditadas hoje. Ex. O episódio do sol e da lua detidos
por palavra de Josué (Js 10.12-15) refletem uma visão geocêntrica (a Terra seria o
centro) do universo, antes de Copérnico e que não pode ser sustentada por ninguém,
nem pelo crente mais fiel. Sabemos hoje que o universo é heliocêntrico (o Sol é o centro).
Como entender isto?

Outro aspecto: a visão do mundo conforme o pensamento dos hebreus do Antigo


Testamento é a de um edifício com três pisos, um subterrâneo, o xeol, o nosso nível que
seria o térreo, e o espiritual, que é o pavimento superior.

3.5.2 Inerrância plena.

Diz que o propósito da Bíblia não é prestar informações científicas e históricas, mas
quando o faz, está correta. As discrepâncias devem ser entendidas como "referências
fenomenais", ou seja, como se apresentam aos olhos humanos. Não são exatas
rigorosamente falando, mas como se apresentam aos olhos humanos. como os
homens captaram o fenômeno.

3.5.3 Inerrância limitada.

Ela também aceita a Bíblia como infalível e inerrante, mas em suas doutrinas, no
seu discurso sobre Deus. Não a considera como anti-intelectual ou obscurantista, mas
reconhece que há assuntos empíricos (provados e não de fé), naturais, e assuntos não-
empíricos, os revelados. A Bíblia deve ser entendida como um livro de assuntos não
empíricos, isto é, assuntos espirituais, e não um manual de ciência ou de história.

Revelação e a inspiração não colocam os escritores acima do conhecimento


habitual. Deus não lhes revelou a ciência ou a história. Por conseguinte, nessas áreas, a
Bíblia bem pode conter o que chamaríamos de erros. Isso, porém, não têm grandes
17

consequências. A Bíblia não se propõe a ensinar ciência nem história. Mas dentro dos
objetivos para os quais foi dada, a Bíblia é plenamente verdadeira e inerrante.

4 TRADUÇOES.

A tradução de textos antigos encerra uma serie de dificuldades, especialmente


quando se trata como no caso do NT de um texto escrito há dois milênios, num lugar
distante e culturalmente diferente do nosso.

É um dos processos mais difíceis: (1) Envolve duas línguas (pelo menos). (2) -
Uma mensagem. O que chamamos de: FORMA e SIGNIFICADO.

Alguns acreditam que o significado original é comunicado melhor quando traduzido


em uma forma linguística paralela a da língua original. Outros acreditam que é
comunicado melhor quando traduzido para a forma natural da língua receptora. Daí
temos dois princípios de tradução: correspondência formal e da equivalência dinâmica.

4.1 Correspondência formal.

Traduz os textos literalmente, observando suas características originais de estilo,


métrica e gramática. Procura ser o mais fiel possível ao texto original, evitando
acréscimos ou explicações adicionais. Procura-se preservar não somente o conteúdo,
mas também a forma do texto original. Recursos, dicionários do grego bíblico e extra
bíblico. Gramáticas do grego neotestamentário. Edições interlineares do NT. Chaves
linguísticas.

Vantagens desta tradução:

(1) Ela nos familiariza com o texto grego que serve de base para a exegese,
levando a serio o fato de que o texto a ser interpretado foi escrito originalmente em língua
diferente.

(2) Ela mostra que tradução implica sempre também interpretação. Isto ficará claro
principalmente em relação aqueles termos ou expressões para quais os dicionários
apresentam diversas opções de tradução.

(3) Ela aguça a nossa sensibilidade para o exame de outras traduções disponíveis,
seja em comentários, ou em modernas versões portugueses do NT. Tradução segundo o
significado primário. Ex. SARXES. Carne. ( primário). Traduzido também por corpo,
pecado.

Ela não visa apresentar o texto num “bom português”, mas num português que
consiga reproduzir, da melhor maneira possível as construções gramáticas, a ordem das
palavras e a forma da língua original.
18

4.2 Equivalência Dinâmica.

A tradução chamada de idiomática. Busca fazer com que o impacto que o texto
conseguiu produzir nos primeiros leitores possa ser experimentado também pelos leitores
de hoje. Ou seja, é preciso que a tradução comunique não apenas o conteúdo mas
também a dinâmica linguística. Significa literalmente colocar o texto dentro do idioma do
leitor. Ex. Linguagem de Hoje (NBLH), tem como publico prioritário o povo não
acostumado com os termos religiosos.

COMO DEVE SER UMA BOA TRADUÇAO: CORRETA, Deve dar o sentido mais
exato possível da mensagem original. CLARA, Deve produzir um texto bem
compreensível. Não deve ter expressões confusas ou que possam ser entendidas
erradamente. NATURAL, A linguagem da tradução deve ser completamente natural. Não
deve parecer uma tradução.

OS PRESSUPOSTOS DESTA TRADUÇAO: Realizar uma exegese completa do


texto. Considerar o significado dos termos a partir do seu contexto literário. Estar
profundamente familiarizado com a língua do povo para a qual se deseja traduzir o texto.
Ex. os hebraísmos, figuras de linguagem, metáforas e etc...

DIFICULDADES: Determinar o limite entre tradução e interpretação. Determinar o


que se deve manter por fidelidade histórica e o que se deve modificar. Em função das
diversidades culturais e linguísticas teríamos um grande numero de traduções.

5 CRITICA TEXTUAL

Pode-se atribuir a CT dupla finalidade: restaurar o texto danificado para chegar a


lição do próprio autor, ou pelo menos a que mais se aproxima, e determinar a historia da
transmissão e do desenvolvimento do texto escrito do qual temos varias formas.

Comparando as copias entre si, constata-se que o texto reproduzido nem sempre é
igual. São exatamente as diferenças existentes entre essas varias copias que perfazem o
objeto de estudo da CT.

A TAREFA DA CRITICA TEXTUAL: Constatar as diferenças entre os diversos


manuscritos que contem copia do texto da exegese. Avaliar qual das variantes poderia
corresponder com maior probabilidade ao texto originalmente escrito pelo autor bíblico.

A CT mostra que não é mais possível ter absoluta certeza quanto ao teor original
de todos os versículos que perfazem a bíblia como palavra de Deus. Porem não nega que
o conteúdo genuíno do evangelho de Cristo é perfeitamente audível e perceptível através
do texto de nossa bíblia.

5.1 Manuscritos

PAPIRO- escrito sobre material feito de papiro (junco). UNCIAIS. Escritos nos
pergaminhos com letras maiúsculas. CURSIVOS. Escritos com letras minúsculas.
LECIONARIOS- manuscritos usados para leitura no calendário litúrgico. (contem partes
19

selecionadas) VERSOES- tradução dos manuscritos para outros idiomas ( siríaca, latina,
copta). CITAÇOES DOS PAIS DA IGREJA- citações patrísticas feita em latim e grego.

5.2 Textos

É o enquadramento dos vários manuscritos em diferentes tipos de textos.

5.2.1 Alexandrino.

É tido como o mais fiel aos escritos originais, sobretudo por apresentar-se.
Quando comparado com outros,

5.2.2. Ocidental.

Classificado como o texto mais “liberal”, caracteriza pelo emprego de muitas


paráfrases, por acréscimos em forma de esclarecimentos, pela harmonização entre os
textos sinóticos, mas também por omissões. Chamado de ocidental por encontrar-se
fortemente presente nos códices latinos e nos pais ocidentais da igreja.

5.2.3 Cesareense.

Um texto surgido no Egito, mas difundido posteriormente em cesareia. Em termos


de qualidade, situa-se entre o ocidental e o alexandrino.

5.2.4 Bizantino (koiné).

É o texto representado pela maioria dos unciais posteriores e pela grande maioria
dos minúsculos. Caracteriza-se, principalmente, pela harmonização de passagens entre
os evangelhos e pelo polimento da linguagem.

6 ANALISE LITERARIA.

Procura estudar os textos como unidades literalmente formuladas e acabadas.


Avalia a extensão do texto como unidades literárias autônomas. Ex. pericopes.

6.1 Delimitação do Texto.

A necessidade advém do fato que originalmente os livros foram redigidos em


escrita continua, sem espaço entre as palavras e sem subdivisões de versículos,
pericopes e capítulos. Stephan Langton- 1227 (capítulos) Robert Stephanus- 1551 (
versículos)

Falta de consenso no inicio e no termino de textos. Ex. Mc. 2. 15-17; 3.20-30; 4.10-
20; 8.31-9.1; 10.35-45. Rm .8.1. Fp.3.1

CRITERIOS PARA DELIMITAÇAO: A perícope delimitada precisa ter “pé e


cabeça”. Ou seja, o texto constitui uma unidade autônoma quando seu conteúdo possui
uma mensagem dos textos anteriores ou subsequentes. Ficar atento a existência de
mudanças, rupturas e alternâncias entre os textos. Ex. mudança de gênero (de parábola
para milagre), cronológica, topográfica, de personagens conteúdo geral, linguagem.
20

6.2 Estrutura do Texto.

6.2.1 Paralelismo.

Um meio usado para expressar posicionamentos e conteúdos em que as frases de


um versículo estão dispostas de tal maneira que duas linhas de um mesmo período se
correspondem.

6.2.2 Paralelismo Antitético.

Quando duas linhas apresentam sentido equivalente em formulação antitética. Ex.


Não há arvore boa que dê mau fruto E nem arvore má que dê fruto bom.

6.2.3 Paralelismo Sinonímico.

Apresenta a mesma ideia repetida com outras palavras. Ex. Nada há encoberto
que não seja manifestado; E nada em segredo, que não seja descoberto.

6.2.4 Paralelismo Sintético.

Apresenta na segunda linha uma continuação da ideia da primeira linha,


acrescentando-lhes novos aspectos ou explicações. Ex. Aquele que ama pai ou mãe
mais do que a mim não é digno de mim; e aquele que ama filho ou filha mais do que a
mim não é digno de mim.

6.2.5 Paralelismo Culminativo.

Caracteriza-se por desenvolver gradualmente um pensamento em linhas


sucessivas, ate chegar a um clima. Ex. Qualquer que receber um destes pequeninos
em meu nome a mim recebe; E qualquer que a mim me recebe, recebe aquele que
me enviou.

6.3 Estruturas Simétricas ( não paralelas)

6.3.1 Quiasmos.

Quando elementos de uma frase ou partes de uma pericope se corresponde de


maneira cruzada.

- Ex. E os últimos serão os primeiros

- e os primeiros os últimos.

6.3.2 Amarras no texto.

Um termo que perpassa como fio condutor e amarra suas diferentes partes num
todo orgânico e coerente. A regra costuma ser que o termo ou assunto que amarra o texto
evidencia-se pela sua repetitividade. Ex. Mt.25. Mc. 2. 23-28;

6.4 Relações de Convergência e oposição.

6.4.1 convergência.
21

Jesus, discípulos, os publicanos e pecadores. Mc.2.15.

6.4.2 Antagônico (a relação entre Jesus e os fariseus)

A) Não tem necessidade de medico os que são fortes (b), mas os que estão
doentes. a) Não vim chamar justos (b) mas pecadores.

6.5 Integridade e Coesão do texto.

Busca saber se o texto bíblico chegou a nos em sua formação original ou se


passou por um processo posterior de alteração. Seu pressuposto é que os autores
redigiram seus textos de maneira compreensível, coerente e lógica. Por esta razão os
textos cuja linha de pensamento ou progressão interna apresenta problemas, são
suscetíveis de terem sido alterados posteriormente. Ex. Mac. 2. 1-5 * 11, 12- Mac. 2. 5b-
8+ 10.

Duas pericopes autônoma. Na primeira uma historia de cura. Na segunda uma


controvérsia. A costura está no v.9 e no final do 10. Ex. Rm. 7. 25 a responde 7.24. Ex.
João. 14.31- discurso de despedida, 13,-16, 17. Parece que 14.31 encerra. Ex. II Cor. 6.
14-7.1; 7.2.

Cautela que precisamos: Nem tudo o que representa uma aparente contradição
para o nosso moderno senso de lógica representava necessariamente uma contradição
para os antigos autores e leitores do texto. Certas contradições dentro dos textos podem
ter sido intencionais, mesmo que não mais compreendamos o seu sentido.

Quanto à historicidade dos textos com problemas de coesão e integridade literária,


podem-se diferenciar duas possibilidades: a) é possível que certas passagens nos textos
sejam literalmente secundarias, mas historicamente autenticas, (b) é possível que
passagens literalmente secundarias também sejam historicamente secundarias.

7 ANALISE TEOLOGICA

Significa ir além de extrair o significado verbal do texto, mas descobrir a teologia


que informa o texto. É uma exegese que busca descobrir não meramente o que a antiga
lei exigia, mas também a teologia expressa na lei; não somente os abusos atacados por
Amos, mas a teologia que o induziu a condena-los; não somente as diretrizes dadas por
Paulo às igrejas, mas a teologia que o induziu a fazer.

Todos os textos bíblicos expressam teologia no sentido de que todos estão


animados, mesmos que as vezes indiretamente , por um preocupação teológica. Ex. A
religiosidade de uma pessoa é a pratica de sua teologia. (o seu entendimento sobre
Deus).
22

MODO DE PROCEDIMENTO (1) É necessário um estudo de correlação. Ex. II Sm.


Sal. 32. Sal.51. (2) Devemos tentar enquadrar o conceito de nosso texto dentro de temas
e doutrinas já fundamentadas.

Quais as vantagens disso: Evita que enunciados bíblicos isolados adquiram


importância exagerada. Contribui para que interpretes se deem conta da pluralidade e
diversidade com que uma mesma fé em Deus respondeu desafios semelhantes, mas em
situações e épocas diferentes.

A teologia do texto pode ser avaliada na medida em que procuramos nos inteirar
das suas consequências praticas. Perguntas: Quais as consequências praticas para a fé ?
Que compromisso requer esta fé?

7.1 Passagens Paralelas.

EX. Mt. 5.7---Mt. 18.23-35---Pv. 14.21—Tg.2.13.

As parábolas de Lucas 15----Mt.20.1-16.

Tema- A imerecida bondade com que Deus presenteia pessoas.

Exorcismo. Mc. 1.21-28---Mc. 5.1-20---7.24-30---9;14-29---Mt. 9. 32-34

A analise teológica oferece boa oportunidade para examinar os títulos que os


textos recebem nas versões, estes títulos representam uma síntese teológica do texto na
perspectiva dos editores dessas versões.

Ex. Lc. 7.36-50. . Quem é o pecador do texto?

Ex. MT. 17. 24-27 OS FILHOS SÃO LIVRES.

7.2 Avaliação Teológica . Mc.2.15-17

As características do agir de Deus.

Mt.11.19- Lc. 7.34. (Amigo de publicanos e pecadores) pecador= afastado e


inimigo de Deus. Cristo- afastado= próximo. Inimigos = amigos.. Ao contrario do que
sempre foi Jesus não mais considerou os pecadores como inimigos.

Jesus revela uma nova imagem de Deus como “pai”, que não tem prazer em que
os pecadores se percam, e, sim, que seja reencontrados e reintegrados a fraternidade
dos demais irmãos e irmãs.

O Jesus da inclusão. (se os justos excluem alguém, Deus busca os que tinham
sido excluídos.) Os que não têm lugar na sociedade descobrem que no projeto de Deus,
feito visível em Jesus, há lugar para eles.

A comunidade que Jesus cria é uma comunidade aberta, cuja força integradora não
admitia barreiras, nem mesmo para com as pessoas mais degradas e moralmente
estigmatizadas na sociedade.
23

O Jesus solidário. O amor que conclama não se limita aos semelhantes ou iguais,
mas quer incluir exatamente também aqueles e aquelas que são desiguais e diferentes,
seja em seu status social, moral ou religioso.

O Jesus da compaixão. Ler. Oseias 6.6. Para Mateus comer com pecadores é a
expressão da compaixão divina pelas suas criaturas. Só a compaixão pode ensinar a um
homem o que significa solidariedade com outro homem.

DIMENSÕES:

(1) PESSOAL. Pessoalmente a atitude de Jesus questionou os juízos morais dos


escribas dos fariseus.

(2) ECLESIAL. O deslocamento de Jesus na direção de pessoas e grupos


moralmente maculados e por isso marginalizados valeu-lhe o agravo e a critica e a critica
por parte dos piedosos e justos judeus de sua época. A proximidade e convivência do
mestre entre os parias sociais era intolerável para a religião e moral oficial. A pratica
proposta pelo texto é de integração de todos e todas numa mesma convivência fraterna.
O povo de Deus não pode realizar segregação moral.

(3) SOCIAL. Sociedade da época com muitas barreiras separava pela raça,
religião, moral, sexo. A pratica de Jesus significa, diante disso, uma ruptura com os
valores que regulavam a convivência social. Também a sociedade , quando segrega, não
une o povo de Deus, mas o fraciona em grupos antagônicos.

8 FIGURAS DE LINGUAGEM

Para a correta compreensão das Escrituras é necessário, na medida do possível,


tomar as palavras em seu sentido usual e comum, o que, devido à linguagem usual e
figurada da Bíblia e seus hebraísmos, não significa que sempre devem ser tomadas ao pé
da letra. As figuras retóricas da linguagem bíblica são as mesmas que em outros idiomas;
e não é tanto para seus nomes, um tanto estranhos, quanto para os exemplos que lhes
seguem, que chamamos a atenção.

8.1 Metáfora
Esta figura tem por base alguma semelhança entre dois objetos ou fatos,
caracterizando-se um com o que é próprio do outro.

Exemplos: Ao dizer Jesus: "Eu sou a videira verdadeira", Jesus se caracteriza com
o que é próprio e essencial da videira; e ao dizer aos discípulos: "Vós sois as varas",
caracteriza-os com o que é próprio das varas. Para a boa interpretação desta figura,
perguntamos, pois: que caracteriza a videira? ou, para que serve principalmente? Na
resposta a tais perguntas está a explicação da figura. Para que serve uma videira? Para
transmitir seiva e vida às varas, a fim de produzirem uvas. Pois isto é o que, em sentido
24

espiritual, caracteriza a Cristo: qual uma videira ou tronco verdadeiro, comunica vida e
força aos crentes, para que, como as varas produzem uvas, eles produzam os frutos do
Cristianismo.

8.2 Sinédoque
Faz-se uso desta figura quando se toma a parte pelo todo ou o todo pela parte, o
plural pelo singular, o gênero pela espécie, ou vice-versa.

Exemplos: Toma a parte pelo todo o Salmista ao dizer: "Minha carne repousará
segura" (versão revista e corrigida), em lugar de dizer: meu corpo ou meu ser, que seria o
todo, sendo a carne só parte de seu ser (Sal. 16:9).

Toma o todo pela parte o Apóstolo quando diz da ceia do Senhor: "todas as vezes
que . . . beberdes o cálice", em lugar de dizer beberdes do cálice, isto é, parte do que há
no cálice. (1 Cor. 11:26).

Tomam também o todo pela parte os acusadores de Paulo ao dizerem: "Este


homem é uma peste e promove sedições entre os judeus esparsos por todo o mundo";
significando, por aquela parte do mundo ou do Império romano que o Apóstolo havia
alcançado com sua pregação. (Atos 24:5.)

8.3 Metonímia
Emprega-se esta figura quando se emprega a causa pelo efeito, ou o sinal ou
símbolo pela realidade que indica o símbolo.

Exemplos: Vale-se Jesus desta figura empregando a causa pelo efeito ao dizer:
"Eles têm Moisés e os profetas; ouçam-nos", em lugar de dizer que têm os escritos de
Moisés e dos profetas, ou seja o Antigo Testamento. (Luc. 16:29.)

Emprega também o sinal ou símbolo pela realidade que indica o sinal quando disse
a Pedro: "Se eu não te lavar, não tens parte comigo". Aqui Jesus emprega o sinal de
lavar os pés pela realidade de purificar a alma, porque faz saber ele mesmo que o ter
parte com ele não depende da lavagem dos pés, mas da purificação da alma. (João 13:8).

Do mesmo modo João faz uso desta figura pondo o sinal pela realidade que indica
o sinal, ao dizer: "O sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado", pois é
evidente que aqui a palavra sangue indica toda a paixão e morte expiatória de Jesus,
única coisa eficaz para satisfazer pelo pecado e dele purificar o homem. (1 João 1:7.)

8.4 Prosopopéia
Usa-se esta figura quando se personificam as coisas inanimadas, atribuindo-lhes
os feitos e ações das pessoas.

Exemplos: O apóstolo fala da morte como de pessoa que pode ganhar vitória ou
sofrer derrota, ao perguntar: "Onde está, ó morte, o teu aguilhão?" (1 Cor. 15:55).
Emprega o apóstolo Pedro a mesma figura, falando do amor, e referindo-se à pessoa que
ama, quando diz: "o amor cobre multidão de pecados" (1 Ped. 4:8). Como é natural,
ocorrem com freqüência estas figuras na linguagem poética do Antigo Testamento,
dando-lhe assim uma formosura, vivacidade e animação extraordinárias, como por
25

exemplo ao prorromper o profeta: "Os montes e os outeiros romperão em cânticos diante


de vós, e todas as árvores do campo baterão palmas."

8.5 Ironia
Faz-se uso desta figura quando se expressa o contrário do que se quer dizer, porém
sempre de tal modo que se faz ressaltar o sentido verdadeiro.

Exemplos: Paulo emprega esta figura quando chama aos falsos mestres de os tais
apóstolos, dando a entender ao mesmo tempo que de nenhum modo são apóstolos. (2
Cor. 11:5; 12:11; veja-se 11:13.) Vale-se da mesma figura o profeta Elias quando no
Carmelo disse aos sacerdotes do falso deus Baal: "Clamai em altas vozes . e despertará",
dando-lhes a compreender, por sua vez, que era de todo inútil gritarem. (1 Reis 18:27.)

8.6 Hipérbole
É a figura pela qual se representa uma coisa como muito maior ou menor do que em
realidade é, para apresentá-la viva à imaginação. Tanto a ironia como a hipérbole são
pouco usadas nas Escrituras, porém, alguma ou outra vez ocorrem.

Exemplos: João faz uso desta figura ao dizer: "Há, porém, ainda muitas outras
coisas que Jesus fez. Se todas elas fossem relatadas uma por uma, creio eu que nem no
mundo inteiro caberiam os livros que seriam escritos."

8.7 Alegoria
A alegoria é uma figura retórica que geralmente consta de várias metáforas unidas,
representando cada uma delas realidades correspondentes. Costuma ser tão palpável a
natureza figurativa da alegoria, que uma interpretação ao pé da letra quase que se faz
impossível. Às vezes a alegoria está acompanhada, como a parábola, da interpretação
que exige.

Exemplos: Tal exposição alegórica nos faz Jesus ao dizer: "Eu sou o pão vivo que
desceu do céu; se alguém dele comer, viverá eternamente; e o pão que eu darei pela vida
do mundo, é a minha carne... Quem comer a minha carne e beber o meu sangue tem a
vida eterna", etc. Esta alegoria tem sua interpretação na mesma passagem da Escritura.
(João 6:51-65.)

8.8 Fábula
A fábula é uma alegoria histórica, pouco usada na Escritura, na qual um fato ou
alguma circunstância se expõe em forma de narração mediante a personificação de
coisas ou de animais.

Exemplos: Lemos em 2 Reis 14:9: "O cardo que está no Líbano, mandou dizer ao
cedro que lê está: Dá tua filha por mulher a meu filho; mas os animais do campo, que
estavam no Líbano, passaram e pisaram o cardo." Com esta fábula Jeoás, rei de Israel,
responde ao repto de guerra que lhe havia feito Amazias, rei de Judá. Jeoás compara-se
a si mesmo ao robusto cedro do Líbano e humilha a seu orgulhoso contendor, igualando-o
a um débil cardo, desfazendo toda aliança entre os dois e predizendo a ruína de Amazias
com a expressão de que "os animais do campo pisaram o cardo".
26

8.9 Enigma
O enigma também é um tipo de alegoria, porém sua solução é difícil e abstrusa.

Exemplos: Sansão propôs aos filisteus o seguinte: "Do comedor saiu comida e do
forte saiu doçura" (Juízes 14:14). A solução se encontra no sobredito trecho bíblico. Entre
outros ditos de Agur, encontramos em Prov. 30:24 o enigma seguinte: "Há quatro coisas
mui pequenas na terra, que, porém, são mais sábias que os sábios." Este enigma tem
também sua solução na mesma passagem em que se encontra.

8.10 Tipo
O tipo é uma classe de metáfora que não consiste meramente em palavras, mas
em fatos, pessoas ou objetos que designam fatos semelhantes, pessoas ou objetos no
porvir. Estas figuras são numerosas e chamam-se na Escritura sombra dos bens
vindouros, e se encontram, portanto, no Antigo Testamento.

Exemplos: Jesus mesmo faz referência à serpente de metal levantada no deserto,


como tipo, prefigurando a crucificação do Filho do homem. (João 3:14.) Noutra ocasião
Cristo se refere ao conhecido acontecimento com Jonas como tipo, prefigurando sua
sepultura e ressurreição. (Mat. 12:40.)

Paulo nos apresenta o primeiro Adão como tipo, prefigurando o segundo Adão,
Cristo Jesus; e também o cordeiro pascoal como o tipo do Redentor. (Rom. 5:14; 1 Cor.
5:7.) Sobretudo, a carta aos Hebreus faz referência aos tipos do Antigo Testamento,
como, por exemplo, ao sumo sacerdote que prefigurava a Jesus; aos sacrifícios que
prefiguravam o sacrifício de Cristo; ao santuário do templo que prefigurava o céu, etc.
(Heb. 9:11-28; 10:6-10).

Muitos abusos têm sido cometidos na interpretação de muitas coisas que parecem
típicas no Antigo Testamento. Assim é que folgamos em aconselhar: 1° – Aceite-se como
tipo o que como tal é aceito no Novo Testamento; 2° – recorde-se que o tipo é inferior ao
seu correspondente real e que, por conseguinte, todos os detalhes do tipo não têm
aplicação à dita realidade; 3° – tenha-se presente que às vezes um tipo pode prefigurar
coisas diferentes, e 4° – que os tipos, como as demais figuras, não nos foram dados para
servir de base e fundamento das doutrinas cristãs, mas para confirmar-nos na fé e para
ilustrar e apresentar as doutrinas vivas à mente.

8.11Símbolo
O símbolo é uma espécie de tipo pelo qual se representa alguma coisa ou algum
fato por meio de outra coisa ou fato familiar que se considera a propósito para servir de
semelhança ou representação.

Exemplos: O leão é considerado o rei dos animais do bosque; assim é que


achamos nas Escrituras a majestade real simbolizada pelo leão. Do mesmo modo se
representa a força pelo cavalo e a astúcia pela serpente. (Apoc. 5:5; 6:2; Mat. 10:16.)
Considerando a grande importância que sempre tiveram as chaves e seu uso, nada há de
estranho que viessem a simbolizar autoridade (Mat. 16:19). Recordando que as portas
dos povoados antigamente serviam como uma espécie de fortaleza, compreendemos por
que, em linguagem simbólica, venha a representar força e domínio. (Mat. 16:18).
27

8.12 Parábola
A parábola é uma espécie de alegoria apresentada sob forma de uma narração,
relatando fatos naturais ou acontecimentos possíveis, sempre com o objetivo de declarar
ou ilustrar uma ou várias verdades importantes.

Exemplos: Uma parábola que tem por objetivo ilustrar várias verdades, temo-la no
Semeador (Mat. 13:3-8), cuja semente cai na terra em quatro pontos diferentes;
necessitando cada um sua interpretação. (Vejam-se versos 18-25.) Várias verdades são
aclaradas também pelas parábolas da ovelha perdida, da dracma perdida e do filho
pródigo (Luc. 15). Outro tanto sucede com a do fariseu e o publicano e outras (Luc. 18:10-
14).

Quanto à correta compreensão e interpretação das parábolas, é preciso observar o


seguinte: Deve-se buscar seu objetivo; em outras palavras, qual é a verdade ou quais as
verdades que ilustra. Encontrado isso, tem-se a explicação da parábola, e note-se que às
vezes consta o objetivo na sua introdução ou no seu término. Outras vezes se descobre
seu objetivo tendo presente o motivo com que foi empregada.

Devemos ter em conta os traços principais das parábolas, deixando-se de lado o


que lhes serve de adorno ou para completar a narrativa. Jesus mesmo nos ensina a
proceder assim na interpretação de suas próprias parábolas. Não se esqueça de que as
parábolas, como as demais figuras, servem para ilustrar as doutrinas e não para produzi-
las.

8.13 Símile
A figura de retórica denominada símile procede da palavra latina "similis" que
significa semelhante ou parecido a outro. No símile se emprega para a comparação a
palavra como ou outra similar, enquanto na metáfora se prescinde dela.

Exemplos: "Pois quanto o céu se alteia acima da terra, assim é grande a sua
misericórdia para com os que o temem." (Símile.) "Como o pai se compadece de seus
filhos, assim o Senhor se compadece dos que o temem." (Símile.) "Pois ele conhece a
nossa estrutura, e sabe que somos pó." (Metáfora).

"Quanto ao homem, os seus dias são como a relva; como a flor do campo, assim
ele floresce; pois, soprando nela o vento, desaparece; e não conhecerá daí em diante o
seu lugar." (Símile.) (Salmo 103:11-16.)

Os símiles da Bíblia são quais gravações formosas e de grande valor artístico, que
acompanham as verdades, que sem este auxílio seriam captadas fracamente e
esquecidas com facilidade.

8.14 Interrogação
A palavra interrogação procede de um vocábulo latino que significa pergunta. Mas
nem todas as perguntas são figuras de retórica. Somente quando a pergunta encerra uma
conclusão evidente é que é uma figura literária. A Enciclopédia Brasileira Mérito define a
interrogação da seguinte maneira: "Figura pela qual o orador se dirige ao seu interlocutor,
28

ou adversário, ou ao público, em tom de pergunta, sabendo de antemão que ninguém vai


responder."

Exemplos: "Não fará justiça o Juiz de toda a terra?" (Gên. 18:25). Isso equivale a
dizer que o Juiz de toda a terra fará o que é justo. As interrogações que se encontram em
Rom. 8: 33-35 constituem formosos exemplos do poder e do uso desta figura literária. A
mente, em forma instintiva, vai da pergunta à resposta em atitude triunfal. "Quem intentará
acusação contra os eleitos de Deus? É Deus quem os justifica. Quem os condenará? É
Cristo Jesus quem morreu, ou antes, quem ressuscitou, o qual está à direita de Deus, e
também intercede por nós. Quem nos separará do amor de Cristo? Será tribulação, ou
fome, ou nudez, ou perigo ou espada?"

8.15 Apóstrofe
A apóstrofe se assemelha muito à personificação ou prosopopéia. A palavra
apóstrofe procede do latim apostrophe e esta do grego apo, que significa de, e strepho,
que quer dizer volver-se. O vocábulo indica que o orador se volve de seus ouvintes
imediatos para dirigir-se a uma pessoa ou coisa ausente ou imaginária.

Exemplos: “Uma das apóstrofes mais extraordinárias e conhecidas é o grito do


angustiado Davi, por motivo da morte de seu filho rebelde: "Meu filho Absalão, meu filho,
meu filho Absalão! Quem me dera que eu morrera por ti, Absalão, meu filho, meu filho!" (2
Sam. 18:33). A apóstrofe, empregada por oradores hábeis, é na maioria dos casos a
forma mais eficiente e persuasiva da retórica. "Ai de ti, Corazim! ai de ti, Betsaida! porque
se em Tiro e Sidom se tivessem operado os milagres que em vós se fizeram, há muito
que elas se teriam arrependido com pano de saco e cinza . . . Tu, Cafarnaum, elevar-te-
ás, porventura, até o céu? Descerás até o inferno!" (Mateus 11:21,23).

8.16 Antítese
Este vocábulo procede da palavra latina antithesis e esta de palavras gregas que
significam colocar uma coisa contra a outra. Trata-se de uma figura de retórica muito
eficaz que se encontra em muitas partes das Escrituras. O mau e o falso servem de
contraste ou fundo que di realce ao bom e o verdadeiro.

Exemplos: O discurso de despedida de Moisés (Deut. 27 a 33) consiste numa


notável série de contrastes ou antíteses. Note-se a que se encontra em Deut. 30:15 que
diz: "Vê que proponho hoje a vida e o bem, a morte e o mal." Temos aqui um contraste ou
antítese dupla. Também no versículo 19: "Os céus e a terra tomo hoje como testemunhas
contra ti que te propus a vida e a morte, a bênção e a maldição (duas antíteses); escolhe,
pois, a vida, para que vivas, tu e a tua descendência."

O Senhor Jesus apresenta em seu Sermão da Montanha numerosas antíteses.


Note-se a que aparece em Mateus 7:13,14: "Entrai pela porta estreita (larga é a porta e
espaçoso o caminho que conduz para a perdição e são muitos os que entram por ela)
porque estreita é a porta e apertado o caminho que conduz para a vida, e são poucos os
que acertam com ela." O Senhor Jesus estabelece contraste ou antítese entre a porta
estreita e a larga; entre o caminho estreito e o largo; entre os dois destinos, a vida e a
destruição e entre os poucos e os muitos. Temos aqui uma quádrupla antítese.
29

8.17 Clímax ou Gradação


A palavra clímax ou gradação procede do latim climax e esta do grego klimax que
significa escala, no sentido figurado da palavra. A Enciclopédia Brasileira Mérito nos
proporciona a seguinte definição da palavra gradação: "Concatenação dos elementos de
um período de modo a fazer com que cada um comece com a última palavra do anterior;
amplificação, apresentação de uma série de idéias em progressão ascendente ou
descendente. Também se diz clímax." O essencial é que exista avanço ou progresso na
oração, parágrafo, tema, livro ou discurso. A maioria dos sermões bem preparados têm
mais de uma gradação, e terminam mediante uma gradação final de caráter
extraordinário.

A gradação pode consistir em umas poucas palavras ou pode estender-se por todo
o discurso ou livro. Pode consistir em palavras soltas, preparadas de tal maneira que
levem a mente em progressão gradual ascendente, ou pode consistir em uma série de
argumentos que explodem em triunfal culminação, como o argumento incontrovertível da
ressurreição em 1 Cor., capítulo 15. O grande capitulo dá fé, Hebreus 11, d um exemplo
de um longo e poderoso clímax ou gradação.

Exemplos: O capítulo oitavo de Romanos é um maravilhoso clímax ou gradação.


Começa com os vocábulos "nenhuma condenação", e termina dizendo que "nenhuma
criatura nos poderá separar". Para criar este poderoso clímax ou gradação, o apóstolo
emprega uma série de gradações. Temos aqui uma delas: "Porque não recebestes o
espírito de servidão para viverdes outra vez atemorizados, mas recebestes o espírito de
adoção, baseados no qual clamamos: Aba, Pai. O próprio Espírito testifica com o nosso
espírito que somos filhos de Deus. Ora, se somos filhos, somos também herdeiros,
herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo; se com ele sofrermos, para que também
com ele sejamos glorificados" (Versículos15-17).

Temos aqui os degraus da escala: (1) Estamos expostos ao espírito de servidão e


temor; (2) temos sido adotados; (3) ao compreender os lagos que nos unem a Deus, qual
crianças sussurramos a palavra Aba, que significa Pai, em aramaico; (4) até o Espírito dá
testemunho da verdade e realidade desta nova relação; (5) porém os filhos são herdeiros,
e também o somos nós; (6) somos herdeiros de Deus, o mais rico de todos; e (7) estamos
no mesmo pé de igualdade com Jesus, seu Filho, que é herdeiro de todas as coisas (Heb.
1:2); e se sofremos com ele, (8) também seremos glorificados com ele.

Temos em seguimento outra figura de gradação. Nos versículos 29-30 notamos


como o Apóstolo ascende cúspide após cúspide: conheceu, predestinou, chamou,
justificou, glorificou. Depois de haver alcançado esta altura, poderá o Apóstolo continuar
subindo? Sim, leia os versículos 31-39. Note-se a base de nossa completa e absoluta
confiança e segurança: (1) "Se Deus é por nós, quem será contra nós?" (2) Se nos deu
livremente seu Filho para que morresse por nós, como nos poderá negar a graça ou
bênção de que necessitamos? (3) Quem nos acusará, posto que é Deus quem nos
justifica? (4) Quem se atreverá a condenar-nos, quando Cristo morreu para nos salvar?
(5) Está agora à destra de Deus como nosso Advogado para interceder por nós. (6) Quem
nos separará do amor que Cristo tem para conosco? Separar-nos-á por acaso (a) a
tribulação, (b) angústia, (c) perseguição, (d) fome, (e) nudez, (f) perigo, (g) ou espada?
30

Depois de haver alcançado este plano, o apóstolo se detém o suficiente para poder citar o
Salmo 44:22, para demonstrar que em época remota o povo escolhido sofreu o martírio
por amor de Deus, insinuando assim que estamos preparados para a mesma prova. Sim,
nestes conflitos fazemos mais que vencer. Logo, nos versículos 38 e 39 se eleva a
alturas que produzem vertigens, chegando logo a uma das gradações mais grandiosas de
toda a literatura.

O anticlímax é o contrário do clímax ou gradação e é a miúdo empregado por


escritores inexperientes. Consiste em descer do sublime ao ridículo ou colocar ao final do
escrito ou discurso as frases de menor importância

8.18 Provérbio
Este vocábulo procede das palavras latinas pro que significa antes e verbum que
quer dizer palavra. Trata-se de um dito comum ou adágio. O provérbio tem sido definido
como uma afirmação extraordinária e paradoxal. Os Provérbios do Antigo Testamento
estão redigidos em sua maior parte em forma poética, consistentes em dois paralelismos,
que geralmente são sinônimos, antitéticos ou sintéticos.

Exemplos: "Médico cura-te a ti mesmo" (Lucas 4:23). Este deve ter sido um dito
comum em Nazaré. Aplicava-se a princípio, a médicos atacados de enfermidades físicas,
os quais tratavam de curar delas a outros. Jesus compreendeu que seus antigos
conhecidos da cidade de Nazaré, motivados pela incredulidade, empregariam essas
palavras contra ele, se não realizasse em Nazaré milagres tão maravilhosos como os que
havia efetuado em Cafarnaum. O Senhor respondeu aos seus pensamentos que ainda
não se haviam transformado em palavras, com outro provérbio, que constitui uma defesa
própria: "Nenhum profeta é bem recebido em sua própria terra." Esta parece ser a
interpretação condensada do provérbio que diz: "Não há profeta sem honra senão na sua
terra, entre os seus parentes, e na sua casa." (Marcos 6:4; Mateus 13:57.) Jesus
demonstra a verdade de sua declaração ao referir-se à história de Elias (1 Reis capítulos
17 e 18) e de Eliseu (2 Reis, 5:1-14).

Advertências: (1) Deve-se ter muito cuidado no que respeita à interpretação de


provérbios, e em particular, no referente àqueles que não são fáceis de entender e
interpretar. Quiçá estejam baseados em fatos e costumes que se perderam para nós. (2)
Dado que os Provérbios podem ser símiles, metáforas, parábolas ou alegorias, é bom
determinar a que classe pertence o provérbio a ser interpretado. Figuras diferentes podem
combinar-se para formar um provérbio. Por exemplo, em Prov. 1:20-33, a sabedoria é
personificada e se apresenta o provérbio na forma de uma parábola com sua aplicação.
Leia também Eclesiastes 9:13-18. (3) Estude o contexto, isto é, os versículos que
precedem e seguem ao texto, os quais são amiúdo a chave da interpretação, como
sucede nos casos acima mencionados.

8.19 Acróstico
A palavra acróstico procede dos vocábulos gregos que significam extremidade ou
verso. Temos vários exemplos de acrósticos no Antigo Testamento. O mais notável é o
Salmo 119, com seus 176 versos. Contam 22 estrofes, e cada uma delas corresponde a
uma letra do alfabeto hebraico. Há oito linhas duplas em cada estrofe.
31

Cada uma das oito linhas na primeira estrofe começa com uma palavra cuja
primeira letra é Aleph, a primeira do alfabeto hebreu. A primeira palavra de cada uma das
oito linhas duplas na segunda estrofe começa com Beth, a segunda letra do alfabeto, e
assim sucessivamente, até o fim. Canta-se em louvor da Palavra de Deus e de seu Autor.
No idioma hebraico esta forma constitui uma verdadeira ajuda para a memória. Dado que
os salmos eram escritos para serem cantados sem livros, e posto que se aprendiam e
recitavam de memória na escola, esta disposição alfabética constituía uma grande ajuda
para aprender este capitulo, o mais longo da Bíblia.

Temos aqui um modelo posterior de acróstico, em tradução livre:

Jesus, que na cruz seu sangue deu.


E a dor e o desdém por mim sofreu.
Sentenciado foi pela turba cruel
Ultrajado bebeu o amargo fel
Socorre-me e faz-me sempre fiel.

Os cristãos da primeira Igreja, como o evidenciam as catacumbas na cidade de


Roma, empregavam comumente acr6sticos nos epitáfios. Um dos símbolos favoritos e
secretos de sua fé imutável sob o fogo da perseguição era o desenho de um peixe. A
palavra grega equivalente a peixe era ichthus. O alfabeto grego consta de caracteres que
nós representamos mediante duas letras. Desta maneira th e ch são letras simples no
alfabeto grego. Ao recordar este fato, o peixe simbólico era lido da seguinte maneira:

I Iesous Jesus

Ch Christos Cristo

Th Theou de Deus

U Uios Filho

S Soter Salvador

8.20 Paradoxo
Denomina-se paradoxo a uma proposição ou declaração oposta à opinião comum; a
uma afirmação contrária a todas as aparências e à primeira vista absurda, impossível, ou
em contraposição ao sentido comum, porém que, se estudada detidamente, ou meditando
nela, torna-se correta e bem fundamentada. A palavra procede do grego e chega a nós
por intermédio do latim.

Está formada de dois vocábulos, para, que significa contra e doxa, opinião ou
crença. Soa ao ouvido como algo incrível, ou impossível, se não absurdo. Nosso Salvador
empregou com freqüência esta figura entre seus ouvintes, com o objetivo de sacudi-los de
sua letargia e despertar seu interesse.
32

Exemplos: (a) "Vede, e acautelai-vos do fermento dos fariseus e saduceus."


(Mat. 16:6; Mar. 8:14-21 e Luc. 12:1.) Os discípulos pensaram que o Senhor falava do
fermento do pão, porque se haviam esquecido de levar pão consigo. Jesus lhes censurou
a falta de compreensão até que finalmente entenderam que o Senhor se referia às más
doutrinas e à hipocrisia dos fariseus e saduceus. (Mat. 16:12.)

(b) "Deixa aos mortos o sepultar os seus próprios mortos." (Mat. 8:22; Luc.
9:60.) Esta foi a extraordinária resposta que nosso Senhor deu a um dos candidatos ao
discipulado, que não compreendia o que significava seguir ao Senhor, e se propunha
primeiro sepultar seu pai. Aqueles que estão mortos no sentido espiritual da palavra,
podem assistir aos funerais dos que têm falecido no aspecto físico. Outro desejava seguir
ao Senhor Jesus, mas queria primeiro despedir-se dos de sua casa. Nosso Senhor
compreendeu que a consagração tinha algum defeito, igual ao primeiro caso citado, e
portanto replicou por meio da parábola: "Ninguém que, tendo posto a mão no arado, olha
para trás, é apto para o reino de Deus" (Lucas 9:61,62). Desta maneira o Senhor Jesus
fez que as pessoas compreendessem a importância que tinha o ser seu discípulo e o
pregar o evangelho.

(c) "Quem é minha mãe e quem são meus irmãos?" E estendendo sua mão para
seus discípulos, disse: "Eis minha mãe e meus irmãos. Porque qualquer que fizer a
vontade de meu Pai, esse é meu irmão, irmã e mãe." (Mateus 12:4650; Marcos 3:31-35;
Lucas 8:19-21.) Mediante este procedimento notável nosso Senhor inculcou a doutrina da
relação espiritual mais elevada.

(d) "Se alguém vem a mim, e não aborrece a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos,
e irmãos, e irmãs e ainda a sua própria vida, não pode ser meu discípulo" (Mateus
14:26). Este paradoxo constitui um hebraísmo, tal como foi explicado na página 29. Se
esta declaração fosse tomada em forma literal, constituiria uma completa contradição com
outras Escrituras que nos ensinam que devemos amar a nossos familiares. (Efésios 5:28,
29 e outras.)

(e) "Quem quiser, pois, salvar a sua vida, perdoará; e quem perder a sua vida
por causa de mim e do evangelho, salvará." (Marcos 8:35; Mateus 16:25j Lucas 9:24.)
Mediante este paradoxo extraordinário, o Senhor faz que seus seguidores compreendam
o valor da alma, e a perda terrível que experimentam aqueles que morrem sem
esperança. Ao mesmo tempo o Mestre ensina que a melhor maneira de empregar a vida
é servindo a Deus. As páginas da história missionária estão cheias de exemplos que
ilustram o grande princípio que o Senhor Jesus enunciou neste paradoxo. Em outro
paradoxo (Marcos 9:43-48), o Senhor demonstra que é melhor sofrer a perda de um dos
membros de nosso corpo do que nos rendermos à tentação e ficarmos perdidos para
sempre.

(f) "Coais o mosquito e engolis o camelo!" (Mateus 23:24). A peça mais notável
de invectiva da literatura é a lançada pelo Senhor contra os escribas e fariseus hipócritas
de seu tempo. Consiste em uma série de oito amargos presságios pronunciados contra
eles, pouco antes de sua morte (Mateus 23:13-33). O Senhor Jesus os denomina "guias
cegos" que cuidadosamente coam o mosquito, mas engolem o camelo. O versículo
33

precedente nos mostra as diferenças sutis que faziam no que respeita à interpretação da
lei, e quão escrupulosos eram para dar dízimos da hortelã, do endro e do cominho que
cresciam em suas hortas e logo omitiam os assuntos mais importantes "da lei: a justiça, a
misericórdia e a fé".

8.21 hebraismo
Por hebraísmos entendemos certas expressões e maneiras peculiares do idioma
hebreu que ocorrem em nossas traduções da Bíblia, que originalmente foi escrita em
hebraico e em grego. Como já dissemos, alguns conhecimentos destes hebraísmos são
necessários para poder fazer uso devido de nossa primeira regra de interpretação.

Exemplos: 1° - Era costume entre os hebreus chamar a uma pessoa filho da coisa
que de um modo especial a caracterizava, de modo que ao pacífico e bem disposto se
chamava filho da paz; ao iluminado e entendido, filho da luz; aos desobedientes, filhos
da desobediência, etc. (Veja-se Luc. 10:6; Efés. 2:2; 5:6 e 5:8.)

Além dos hebraísmos referidos, ocorrem outras singularidades na linguagem bíblica,


certos quase-hebraísmos, que precisamos conhecer para a correta compreensão de
muitos textos. Referimo-nos ao uso peculiar de certos números, de algumas palavras que
expressam fatos realizados ou supostos e de vários nomes próprios.

Exemplos: 1° Certos números determinados usam-se às vezes em hebraico para


expressar quantidades indeterminadas. "Dez", por exemplo, significa "vários", como
também este número exato. (Gên. 31:7; Daniel 1:20.) "Quarenta" significa "muitos".
Persépolis era chamada "a cidade das quarenta torres", embora o numero delas fosse
muito maior. Tal é, provavelmente, também o significado em 2 Reis 8:9, onde lemos que
Hazael fez um presente de 40 cargas de camelos de bens de Damasco a Eliseu. Talvez
seja este também o significado em Ezequiel 29:11-13.

"Sete" e "setenta" se usam para expressar um número grande e completo, ainda


que indeterminado. (Prov. 26:16,25; Salmo 119:164; Lev. 26:24). É-nos ordenado perdoar
até setenta vezes sete para dar-nos a compreender que, se o irmão se arrepende,
devemos sempre perdoar-lhe. Os sete demônios expulsos de Maria denotam, talvez, seu
extremado sofrimento e ao mesmo tempo sua grande maldade.

2° - Às vezes usam-se números redondos nas Escrituras para expressar


quantidades inexatas. Em Juízes 11:26 vemos, por exemplo, que se coloca o número
redondo de 300 por 293. Compare-se também cap. 20:46, 35.

3° - Às vezes faz-se uso peculiar das palavras que expressam ação, dizendo-se de
vez em quando que uma pessoa faz uma coisa, quando só a declara feita; quando
profetiza que se fará, se supõe que se fará ou considera feita. Às vezes manda-se
também fazer uma coisa quando só se permite que se faça. Em Lev. 13:13 (no original),
por exemplo, diz-se que o sacerdote limpa o leproso, quando apenas o declara limpo. Em
2 Cor. 3:6 lemos que "a letra (significando, a lei) mata", quando na realidade só declara
que o transgressor deve morrer.
34

Em João 4:1,2, diz-se que "Jesus" batizava mais discípulos que João, quando só
ordenava que fossem batizados, pois em seguida lemos: "(se bem que Jesus mesmo não
batizava, e, sim, os seus discípulos.)

8.22 Palavras Simbolicas.


A linguagem simbólica oferece muita dificuldade no estudo das Escrituras. Porém,
ainda quando nos tenhamos de limitar à explicação defeituosa de algumas palavras,
cremos que se ganhará algo recapitulando e familiarizando-se com as seguintes:

Abelha, símbolo dos reis da Assíria (Isaías 7:18), os quais em seus escritos
profanos (hieróglifos) também são representados por esta figura; às vezes simboliza
também, de um modo geral, um poder invasor e cruel. (Deut. 1:44; Salmo 118:12.)

Adultério, infidelidade, infração do pacto estabelecido e conseqüente símbolo da


idolatria, especialmente entre o povo que tem conhecido a verdade. (Jer. 3:8,9; Ezeq.
23:37; Apoc. 2:22.) Águia, poder, vista penetrante, movimento no sentido mais elevado.
(Deut. 32:11,12.)

Alfarroba, palha, nulidade, juízo do mal. Âncora, esperança (Heb. 6:19.) Arca,
Cristo. (1 Ped. 3:20, 21; Heb. 11:7.) Arco, símbolo de batalha e de vitória (Apoc. 6:2); às
vezes também de engano, porquanto se pode quebrar ou atirar o falso. (Os. 7:16; Jer.
9:3.) Árvores, as altas, símbolo de governantes. (Ezeq. 31:5-9); as baixas, símbolo do
povo comum. (Apoc. 7:1; 8:7.)

Azeite, fortaleza pela unção, dai a vida e força que infunde o Espírito de Deus
(Tiago 5:14.) Azul, o celeste, o céu. (Ester 8:15.) Babilônia, símbolo de um poder idólatra
que persegue as igrejas de Cristo, referindo-se de um modo particular ao poder romano,
pagão e papal. (Isaías 47:12; Apoc. 17:13; 18:24.)

Balança, símbolo de trato integro e justo. (Jó 31:6.) Tratando-se da compra de


viveres, simboliza a escassez. (Lev. 26:26; Ezeq. 4:16; Apoc. 6:5.) Berilo, prosperidade,
magnificência. (Ezeq. 1:16; 28:13.) Besta, símbolo de um poder tirano e usurpador,
porém às vezes só de um poder temporal qualquer. (Dan. 7:3,17; Ezeq. 34:28.) Bode,
veja Macho caprino. Boi, submissão.

Bosque, símbolo de cidade ou reino, representando suas árvores altas os regentes


ou governadores. (Isaías10:17-34; 32:19; Jer. 21:14; Ezeq. 20:46). Braço, símbolo de
força e poder; braço nu e estendido significa o poder em exercício. (Salmo 10:15; Isa.
52:10; Salmo 98:1; Êxodo 6:6.) Cabras, símbolos dos maus em geral. (Mat. 25:32, 33.)

Cadeia, escravidão. (Mar. 5:4.) Calcedônia, pureza. Cálice, símbolo de luxúria


provocante. (Apoc. 17:1), também de ritos idólatras. (1 Cor. 10:21) e também da porção
que cabe a alguém. (Apoc. 14:10; 19:6.) Cana, fragilidade humana. (Mat. 12:20.)

Cão, símbolo de impureza e apostasia. (Prov, 26:11; Fil. 3:2; Apoc. 22:15); também
de vigilância. (Isa. 56:10.) Carneiro, símbolo dos reis em geral e especialmente do rei
persa. (Dan. 8:3-7, 20.) Carro, símbolo do governo ou proteção. (2 Reis 2:12.) Crê-se que
Isaías 21:7 se refere a Ciro e Dario, e Zac. 6:1 a quatro grandes monarquias, enquanto os
carros de Deus no Salmo 68:17 e Isaías 66:15 designam as hostes do céu.
35

Casamento, símbolo de união e fidelidade no pacto ou aliança com Deus e por


conseguinte da perfeição. (Isaías 54:1-6; Apoc.19:7; Efés. 5:23-32.) Cavalo, símbolo de
equipamento de guerra e de conquista (Zac. 10:3); símbolo também da rapidez (Joel 2:4);
ir a cavalo ou "subir sobre as alturas", designa domínio (Deut. 32:13; Isa. 58:14.)

Cedro, força perpetuidade. (Salmo 104:16.) Cegueira, incredulidade. (Rom. 11:25.)


Céu e terra, usa-se esta expressão num triplo sentido: 1° - invisível e moral; 2° - visível e
literal; 3° - político. Usando-se em sentido político, céu simboliza os regentes, terra o
povo, os dois juntos formando um reino ou um estado. (Isa. 51:15, 16; 65:17; Jer. 4:23,
24; Mat. 24:29.)

Cair do céu é perder a dignidade ou autoridade; céu aberto indica uma nova ordem no
mundo político; uma porta aberta no céu indica o princípio de um novo governo. (Hab. 2:6-
22.) O sol, a lua e as estrelas simbolizam as autoridades superiores e secundárias. (Isa.
24:21,23; Joel 2:10; Apoc. 12:1.)

Chave, símbolo de autoridade, do direito de abrir e fechar. (Isa. 22:22; Apoc.1.18;


3:7; 20:1.) Chuva, influência divina (Tiago 5:7.) Cinturão, apertado, pronto para o serviço;
frouxo, repouso. Cinzas, tristeza, arrependimento. (Jó 42:6; Dan. 9:3.) Cobre, (metal,
bronze), símbolo de endurecimento. (Isa. 48:4; Jer. 6:28); também de força e firmeza.
(Salmo 107:16.)

Comer, símbolo da meditação e participação da verdade. (Isa. 55:1, 21); símbolo


também dos resultados de conduta observada no passado. (Ezeq. 18:2); símbolo ainda
da destruição da felicidade ou propriedade de alguma pessoa. (Apoc. 17:16; Salmo 27:2.)

Cores, preto, símbolo de angústia e aflição (Jó 30:30; Apoc. 6:5-12); amarelado,
símbolo de enfermidade mortal (Apoc. 6:8); vermelho, de derramamento de sangue ou de
vitória (Zac. 6:2; Apoc. 12:3), ou do que não se pode apagar (Isa. 1:18); branco, de
formosura e santidade (Ecl. 9:8; Apoc. 3:4); branco e resplandecente era a cor real e
sacerdotal entre os judeus, como a púrpura entre os ramons.

Chifre, símbolo de poder. (Deut. 33:17; 1 Reis 22:11; Miq. 4:13); símbolo também
de dignidade real (Dan 8:9; Apoc. 13.1.) Os cornos do altar constituíam um refúgio
seguro. (Êxodo 21:14.) Coroa (diadema), símbolo de autoridade conferida (Lev. 8:9)
também de autoridade imperial e de vitória. (Apoc. 19:12.) Crisólito, glória manifesta.
Crisópraso, paz que sobrepuja todo entendimento. (Apoc. 21:20.)

Crocodilo ou dragão, símbolo do Egito, e em geral de todo poder anticristão. (Isa.


27:1; 51:9; Ezeq. 29:3; Apoc. 12:3; 13:1.) Cruz, sacrifício. (Col. 2:14.) Dez, simboliza a
plenitude, ou completo. (Mateus 18:24.) Egito, símbolo de um poder orgulhoso e
perseguidor, como Roma. (Apoc. 11:8.) Embriaguez, símbolo da loucura do pecado (Jer.
51:7); e da estupidez produzida pelos juízos divinos. (Isa. 29:9.)

Enxofre, símbolo de tormentos. (Jó 18:15; Salmo 9:6; Apoc.14.10; 20:10).


Escarlata, sendo cor de sangue, a vida. (Isa. 1:18.) Esmeralda, esperança. Espinhos,
abrolhos e roseiras bravas, más influências. Ferro, severidade. (Apoc. 2:27.) Filha,
povoação, como se esta fora mãe.
36

Fogo, símbolo da Palavra de Deus (Jer. 23:29; Hab. 3:5); símbolo também de
destruição (Isa. 42:25; Zac. 13:9); de purificação (Mal. 3:2); de perseguição (1 Pedro 1:7);
de castigo e sofrimento (Mar. 9:44.) Fronte, denota, segundo a inscrição ou sinal que
leva, um sacerdote (Lev. 8:9); um servo ou um soldado (Apoc. 22:4). Os servidores dos
ídolos levavam igualmente, como hoje, um sinal, um nome ou um numero em sua testa.
(Apoc. 13:16).

Fruto, manifestações das atividades da vida. (Mateus 7:16.) Harpa, símbolo de


gozo e de louvor (Salmo 49:4; 33:2; II Crôn. 20:28; Isaías 30:32; Apoc.14:1,2). Hissopo,
purificação. (Salmo 51:7.) Incenso, símbolo de oração (queimava-se. com fogo tomado
do altar dos perfumes). (Salmo 141:2; Apoc. 8:4; Mal. 1:11.)

Jacinto e Ametista, promessas de glórias futuras. Jaspe, paixão, sofrimento.


Lâmpada (candelabro, símbolo de luz, gozo, verdade e governo) (Apoc. 2:5). Em 1
Reis11:36, indica-se com a existência da "lâmpada sempre", que a Davi nunca faltará
sucessor. (Salmo 132:17.)

Leão, símbolo de um poder enérgico e dominador. (2 Reis 23:33; Am6s 3:8; Dan.
7:.4; Apoc. 5:5.) Leopardo (tigre), símbolo de um inimigo cruel e enganoso. (Apoc. 13:2;
Daniel 7:6; Isa. 11:6; Jer. 5:6; Hab, 1:8.) Lepra, pecado asqueroso. (Isa, 1:6.) Lírio,
formosura, pureza.

Livro, o livro do testemunho entregue ao rei simbolizava a inauguração do reino (2


Reis, 11:2); um livro escrito por dentro e por fora, símbolo de uma longa série de
acontecimentos; um livro selado, símbolo de segredos; comer um livro, símbolo de um
estudo sério e profundo (Jer. 15:16; Apoc. 10:9); o livro de vida, memória em que estão
os redimidos (Esd. 2:62; Apoc. 3:5); um livro aberto, símbolo do princípio de um juízo.
(Apoc. 20:12.)

Luz, conhecimento, gozo. (João 12:35.) Macho caprino (bode), símbolo dos reis
macedônios, especialmente de Alexandre (Dan. 8:5-7). Mãe, símbolo do produtor de
alguma coisa (Apoc. 17:5, como por exemplo, de uma cidade cujos habitantes se
chamam seus filhos (2 Sam. 20:19; Isa. 49:23); de uma cidade central, cujos povoados
satélites se consideram suas filhas (Isa. 50:1; Os. 2:2,5); símbolo também da Igreja do
Novo Testamento. (Gil. 4:26.) Maná, símbolo de alimento espiritual e imortal. (Apoc. 2:17;
veja-se Êxodo 16:33,34.)

Mãos, símbolo de atividade. Dai mãos limpas, mãos cheias de sangue indicam
feitos correspondentes, puros ou sangrentos. (1 Tim. 2:8; Isa. 1:15.) Lavar as mãos,
significa expiação de culpa ou protesto de inocência de culpa. (1 Cor. 6:11; 1 Tim. 2:8.)
Mão direita, símbolo de posto de honra. (Mar. 16:19.) Dar as destras, símbolo de
participação de direitos e bênçãos. (Gál. 2:9.) Dar a mão, equivale a render-se. (Salmo
68:31; 2 Crôn. 30:8.) Levantar a destra, era sinal de juramento. (Gên. 14:22; Dan. 12:17.)
Marcas nas mãos, símbolo de servidão e idolatria. (Zac. 13:6.) As mãos postas sobre a
cabeça de alguém, símbolo de submissão de bênção, de autoridade ou de culpa. (Gên
48:14-20; Dan. 10:10.) Mãos de Deus, postas sobre um profeta, indica influência
37

espiritual (1 Reis 18:46; Ezeq. 1:3; 3:22); o dedo indica influência menor; o braço,
influência maior.

Medir (partir, dividir), símbolo de conquista e possessão. (Isa. 53.12; Zac. 2:2;
Am6s 7:17.) Montanha, símbolo de grandeza e estabilidade. (Isa. 2:2; Dan. 2:35.) Morte,
separação, separação de Deus, insensibilidade espiritual. (Gál. 3:3; Rom. 5:6; Mat. 8:22;
Apoc. 3:1.)

Olhos, símbolo de conhecimento, também de glória, de fidelidade (Zac. 4:10), e de


governo. (Núm. 10:31.) Olho maligno significa inveja. Olho bom, liberalidade e
misericórdia. Ouro, realeza e poder. (Gên. 41:42.) Palmeira, palmas, realeza, vitória,
prosperidade. Pão, pão da vida, Cristo; alimento; meio de subsistência espiritual. (João
6:35.)

Pedras preciosas, símbolo de magnificência e formosura. (Apoc. 4:3, 21; Êxodo


28:17; Ezeq. 28:13.) Peixes, símbolo de governadores das gentes. (Ezeq. 29:4, 5; Hab.
1:14.) Pó, fragilidade do homem. (Ecles. 3:20; Jó 30:19.) Pomba, influência suave e
benigna do Espírito de Deus. (Mat. 3:16.) Porco, impureza e gula. (Mat. 7:6.) Porta, sede
do poder; poder (João 10:9.)

Primogênitos, estes tinham autoridade sobre seus irmãos menores; eram os


sacerdotes da família, e consagrando-se a Deus, santificavam sua família por esta
consagração; cabia-lhes porção dobrada na herança. Simbolizam de certo modo a Cristo.
(Gên. 20:37; Êxodo 24:5; 13:1, 13; Deut. 21:17; Heb. 2:10, 11; 3:1; Col. 1:12.)

Púrpura, o real, o romano. (Dan. 5:7; Apoc. 17:4.) Querubins, símbolo, crêem
alguns, da glória soberana de Deus; no Apocalipse, dos redimidos; segundo outros, das
perfeições de Deus, manifestas sob suas diversas formas. (Veja-se Gên. 3:24; Êxodo
25:18, 22; 37:7, 9; Lev.16:2; Núm. 7:8, 9; 1 Reis 6:23; 8:7; 2 Crôn. 3:10, 13; Ezeq. 1:10.)

Ramos, ou rebentos, símbolo de filho ou descendentes.nRaposa, engano, astúcia.


(Lucas 13:32.) Rãs, símbolo de inimigos imundos e impudicos. (Apoc, 16:13.) Rocha,
fortaleza, abrigo, refúgio. Safira, verdade. Sal, conservação, incorrupção, permanência.
Sangue, vida. (G%n. 9:4.) Sardônica, amor, ternura, pena, purificação. Sega, época da
destruição. (Jer. 5:33; Isa, 17:5; Apoc. 14:14-18). A sega (messe) é também símbolo do
campo para os trabalhos da Igreja. (Mat. 9:37.)

Sete, número, por assim dizer, divino; a soma de três que simboliza a Trindade e
quatro que simboliza o Reino de Deus na terra, e portanto, a união do finito e o infinito. O
Deus-Homem, por exemplo, se representa pelos sete candelabros de ouro. Este número
ocorre com muita freqüência na Escritura. (Apoc. 4:5.)

Terremoto, símbolo de agitação violenta no mundo político e social. (Joel 2:10;


Ageu 2:21; Apoc. 6:12.) Topázio, alegria do Senhor. Touro, (novilho), símbolo de um
inimigo forte e furioso. (Salmo 22:12; Ezeq. 39:18.) Novilhos indicam o povo comum, e os
estábulos, casas e povoações. (Jer. 50:27.) Trombeta, sinal precursor de
acontecimentos importantes. (Apoc. 6:6.)
38

Urso, símbolo de um inimigo cegado, feroz e temerário. (Prov.17:12; Isa. 11:7;


Apoc. 13:2.) Uvas, as maduras, símbolo de gente madura para o castigo (Apoc. 14:18);
as recolhidas, símbolo de gente levada em cativeiro. (Jer. 52:28-32.) Vento, impetuoso,
símbolo de conturbação; detido, símbolo de tranqüilidade. (Apoc. 7:1; Jer. 25:31, 33.)

Vestiduras, denotam qualidades interiores e morais; vestiduras brancas, símbolo


de pureza, de santidade e de felicidade. (Isa. 52:1; Apoc. 3:4; Zac. 3:3.) Dar as vestiduras
a alguém era sinal de favor e amizade. (l Sam. 17:38.) Véu, do templo, corpo de Cristo.
(Heb. 10:20.) Vinha, símbolo de grande fecundidade; vindima, símbolo de destruição.
(Jer. 2:21; Os. 14:7; Apoc. 14:18, 19.) Virgens, símbolo de servos fiéis que não se
mancharam com a idolatria. (Apoc. 14:4.)

Lembramos que só se deve fazer uso destas interpretações no caso de usar-se as


palavras aclaradas em sentido simbólico, coisa que sempre se descobre mediante as
regras explicadas nas páginas anteriores deste livro.

8.23 Apocalíptica.

O aparecimento da literatura apocalíptica ocorreu quando a escatologia judaica


(conteúdo da mensagem) uniu-se com o mito judaico (forma da mensagem) durante
uma época de perseguição (propósito da mensagem). A partir de uma literatura casual
do apocalíptico judaico, certas características podem ser determinadas. Ele sempre
possuía significação histórica, de autoria pseudônima, uso liberal de visões, um forte
elemento preditivo, altamente simbólico, dramático, e era uma defesa radical do povo
para o qual era escrito.

Quanto à forma, era pseudônimo, simbólico, mitológico, tinha prerrogativas de


inspiração, cósmico em seu escopo, alegórico, visionário. Quanto ao conteúdo,era
determinista, escatológico, pessimista acerca da história, dualístico, transcendental, e
continha um mínimo de ensinos éticos e morais. Quanto à função, respondia a perguntas
de um povo perseguido. Trata da justiça de Deus e do sofrimento do homem; muito
nacionalista em seu escopo; tentava explicar algumas das passagens obscuras da
Escritura Sagrada.

Esta foi a literatura mais distintiva produzida pelo judaísmo. Ela reflete os ideais e
esperança mais altos do judaísmo; intensamente messiânica e profundamente profética.
O período foi adaptado para a produção do gênero apocalíptico por causa de intensa
perseguição e sujeição aos poderes estrangeiros.

Comumente olhada como "tratados para tempos difíceis", essa literatura tentou
responder a perguntas sobre por que o povo de Deus sofre. Com ensino ético geralmente
omitido, a relação especial de Israel com Deus é ressaltada. Deus vindicará Israel, porque
assim terá que fazer. Completamente futurísticas em seu ponto-de-vista, as visões e
profecias são gerais, ao invés de específicas. Para proteger tanto o autor como os
leitores, a obra era geralmente escrita no nome de um dos homens famosos do Velho
Testamento.
39

8.23.1 Princípios Hermenêuticos.

Um problema fundamental na interpretação da profecia e da literatura


apocalíptica é saber se esta literatura pode ser interpretada usando-se os mesmos
princípios hermenêuticos que se aplicam a outros gêneros, ou se há necessidade de
algum método hermenêutico especial.

8.23.2 Literal versus Simbólico.

Por exemplo, uma analise literal da profecia muitas vezes concebe a besta do
apocalipse como uma pessoa; uma analise simbólica vê-a como personificação da ânsia
do poder. Uma analise literal concebe Babilônia como uma cidade real ( muitas vezes
como Roma), ao passo que uma analise simbólica vê Babilônia como o desejo de lucro
econômico.

8.23.3 Universalidade.

Outra dificuldade tá relacionada a universalidade de certos símbolos apocalípticos,


é preciso saber se um símbolo significa ou não a mesma coisa toda vez que é
empregado.

A tendência de alguns escritores mais antigos era de atribuir significado simbólico


universal a certos números, cores, ou artigos; por exemplo, o azeite sempre foi símbolo
do Espirito Santo; o fermento sempre foi símbolo do mal.

9 A DINÂMICA DE ESTUDO

A atividade do estudo compõe-se de alguns elementos que são considerados muito


importantes para o aprendizado. A leitura e a escrita, pois para aprender, é necessário ler
ou ouvir as mensagens que nos são transmitidas; como, também, é necessário registrar
por escrito o conteúdo, para posteriormente retomar a essa mensagem, pensá-la e/ou
reescrevê-la.

9.1 Leitura.

Ler é assimilar ideias, interagir com o autor, absorvendo o sentido da mensagem,


conhecer, interpretar, decifrar, ampliar os conhecimentos e aprofundar o saber em
determinado campo cultural ou científico. Ler é "distinguir os elementos mais importantes
daqueles que não o são e, depois, optar pelos mais representativos e mais sugestivos”.

Numerosas ideias são transmitidas em diferentes obras, sendo necessário que o


leitor compreenda a ideia-mestra do texto, que é aquela que corresponde a tudo aquilo
que o autor quer comunicar.
40

Para tanto, a utilização de técnicas de sublinhamento, resumo e esquematização


facilitam o entendimento do sentido do texto através das ideias de cada parágrafo,
auxiliando o leitor no entendimento do pensamento do autor no contexto da obra.

Ao ler um texto, devemos primeiro prestar atenção em seu conteúdo informativo


fundamental, ao qual se subordinam de modo articulado, vários enunciados. A maioria
das frases possui uma palavra-chave, que pode ser percebida diretamente ou com a
ajuda de outras palavras que a substituem. Posteriormente, devemos identificar, nos
diversos parágrafos, as ideias secundárias que articulam o entendimento final do texto.

É importante fazer boas leituras porque esta prática enriquece o vocabulário,


possibilitando ao leitor progredir cientificamente; adquirir experiência, melhorar a
comunicação e, principalmente, a redação. A leitura amplia e desperta a inteligência para
um aprofundamento cada vez maior no conhecimento, clareando as ideias, permitindo
uma abordagem do tema sob diferentes perspectivas.

Devemos examinar sumariamente os componentes físicos dos livros cujos títulos


nos interessam. Verificar o nome do autor, seu currículo, ler a orelha do livro, o sumário, a
documentação ou as citações ao pé das páginas. Investigar a referência, assim como
verificar a editora, a data, a edição e ler rapidamente o prefácio. A convergência desses
vários elementos nos ajuda a identificar o texto e a selecionar as obras de interesse.

9.1.1 Estudo do Texto

Devemos recordar que não se estuda um texto como quem lê um romance, por
puro entretenimento. Os textos de estudo, mormente aqueles de cunho científico ou
filosófico, requerem sempre o emprego da razão reflexiva por parte de quem estuda. E
isso pressupõe certa disciplina intelectual, um método de abordagem para o objeto do
estudo.

Assim, o estudo do texto deve ser realizado em várias etapas, sendo necessários
para o desenvolvimento deste, o domínio de algumas técnicas que vão contribuir para o
entendimento do autor e da obra, quais sejam: sublinhar, resumir e esquematizar.

9.1.2 Sublinhar

É a arte que ajuda a colocar em destaque a ideia-mestra, as palavras-chaves e os


pormenores importantes de um texto. Dentre as normas para sublinhar é importante
destacar que o leitor deve "marcar” apenas as ideias principais e os detalhes importantes.
É interessante sublinhar com dois traços as palavras-chave da ideia principal e com um
único traço os pormenores importantes.

Assinalar com linha vertical, à margem do texto, as passagens mais significativas;


ou fazer um retângulo. Os pontos de discordância devem ser assinalados com um ponto
de interrogação à margem do texto. Há autores que ainda aconselham o uso de cores
diferentes para sublinhar.
41

Após sublinhar o texto, é necessário condensar as ideias destacadas. O leitor deve


escolher a maneira mais adequada de se condensar o texto, a que mais se identifique
com o propósito de sua leitura. De acordo com a forma de apresentação do conteúdo
sublinhado o leitor pode integrar as ideias através de um resumo ou esquema.

9.1.3 Resumo

É a condensação de um texto capaz de reduzir seus elementos. É a apresentação


concisa e, frequentemente, seletiva do texto, destacando-se os elementos de maior
interesse e importância, isto é, as principais ideias do autor da obra.

É útil quando se necessita, em rápida leitura, recordar o essencial do que se


estudou e a conclusão a que se chegou. Para tanto, é necessário observar algumas
normas para se fazer um bom resumo, tais como:

Não pretender resumir antes de ler o texto todo. Esclarecer os pontos obscuros.
Sublinhar as palavras desconhecidas. É preciso ser breve, porém compreensível.
Percorrer especialmente as palavras sublinhadas e anotações à margem do texto.

9.1.4 O esquema

É a linha mestra seguida pelo autor no desenvolvimento de seu escrito. A


elaboração de um esquema fundamenta-se numa sequência lógica que ordene
claramente as principais partes do conteúdo e que, mediante divisões e subdivisões
represente a hierarquia das palavras, frases, parágrafos-chave que, destacados após
várias leituras, devem apresentar ligações entre as ideias sucessivas para evidenciar o
raciocínio desenvolvido.

Algumas normas se fazem necessárias para a elaboração de um bom esquema,


uma delas é a fidelidade ao texto, captando e compreendendo o tema do autor,
destacando títulos e subtítulos que o guiaram ao escrever o texto.

Por fim, o esquema deve:

a) ser claro, simples e distribuído organicamente;

(b) subordinar as ideias e fatos;

(c) ter estrutura lógica, mantendo um sistema uniforme;

(d) ser flexível e funcional para o uso; e

(e) destacar o propósito da leitura, facilitando a captação do conteúdo e permitindo


uma melhor reflexão sobre o texto.

9.2 A Transposição da Leitura.

Para auxiliar a transposição da leitura, é necessário que o leitor faça uma análise
do texto. O estudo e a interpretação do texto vão depender dos objetivos do leitor e do fim
a que se destina.
42

9.2.1 Análise textual

É a primeira forma de aproximação com o texto e tem a finalidade de apresentar o


texto e o pensamento do autor. O leitor deve assinalar os vocábulos desconhecidos, os
pontos que requerem posterior esclarecimento e as dúvidas que possam interferir na
captação do pensamento do autor.

É importante esclarecer as dúvidas através de consulta aos dicionários,


enciclopédias, manuais, enfim, às obras de referência que se façam necessárias. Ao
terminar esta análise, o leitor passa a ler com o objetivo de compreender profundamente o
texto. Inicia-se então.

9.2.2 Análise temática

Onde o leitor vai processar a leitura para apreender o conteúdo, sem discutir com o
texto, sem debater os conceitos ou ideias; a intenção é a descoberta e a reflexão da ideia
central.

É necessário captar na exposição do tema o problema que motivou o autor, as


ideias secundárias, os temas complementares, enfim, a estrutura de sustentação do texto.
A análise temática é considerada completa quando o leitor estabelece, com segurança, o
esquema do pensamento do autor apreendendo o conteúdo do texto.

9.2.3 Interpretação do Texto.

O leitor passa a inferir e interpretar o que foi apreendido. Ao terminar a análise


interpretativa, o nível de conhecimento do leitor ter-se-á consolidado e ampliado.

E para continuar desenvolvendo este conhecimento, aconselha-se ao leitor levar


sua posição pessoal, seu juízo crítico, ao confronto da discussão em seminários, grupos
de estudo, ou reuniões com colegas.

O debate é importante porque algumas conclusões tidas como sólidas e


inabaláveis podem revelar sua fragilidade, enquanto outras ganharão maior vigor,
estimulando novas reflexões e abrindo um novo ciclo de aprofundamento de análises.

Concluindo adequadamente a leitura de um texto, o leitor mais experiente, passa a


produzir conhecimento e/ou a fazer proposições. São nessas condições que ocorre a
transposição da leitura. É através da ampliação dos aspectos que a análise do texto
suscitou e das proposições apoiadas na retomada de pontos relevantes que o leitor pode
ir além, ultrapassar a leitura e produzir o conhecimento; o que é muito importante, na
medida em que o leitor/pesquisador necessite transmitir significados ou fazer alguma
comunicação a respeito de determinadas conclusões.

9.3 Métodos Científicos.

Método científico é um conjunto de procedimentos intelectuais e técnicos adotados


para se atingir o conhecimento. A adoção de um ou de outro método depende, portanto:
(a) da natureza do objeto de pesquisa;(b) dos recursos materiais disponíveis; (c) do
nível de abrangência do estudo; e (d) sobretudo, do pesquisador.
43

9.3.1 Os Métodos de Abordagem

Os métodos de abordagem esclarecem acerca dos procedimentos lógicos que


deverão ser seguidos no processo de investigação científica dos fatos da natureza e da
sociedade; são métodos desenvolvidos a partir de elevado grau de abstração, que
possibilitam ao pesquisador decidir acerca do alcance de sua investigação, das regras de
explicação dos fatos e da validade de suas generalizações.

Podem ser incluídos neste grupo os métodos: dedutivo, indutivo, hipotético-


dedutivo, dialético e fenomenológico. Cada um deles vincula-se a uma das correntes
filosóficas que se propõem a explicar como se processa o conhecimento da realidade. O
método dedutivo relaciona-se ao racionalismo, o indutivo ao empirismo, o hipotético-
dedutivo ao neopositivismo, o dialético ao materialismo dialético e o fenomenológico à
fenomenologia.

9.3.1.1 O Método Dedutivo

Método proposto pelos racionalistas Descartes, Spinoza e Leibniz que pressupõe


que só a razão é capaz de levar ao conhecimento verdadeiro. O raciocínio dedutivo tem o
objetivo de explicar o conteúdo das premissas. Por intermédio de uma cadeia de
raciocínio em ordem descendente (análise do geral para o particular) para chegar a uma
conclusão. A dedução pressupõe o aparecimento, em primeiro lugar, do problema e da
conjectura, que serão testados pela observação e/ou experimentação.

9.3.1.2 O Método Indutivo

Método proposto pelos empiristas Bacon, Hobbes, Locke e Hume. Considera que o
conhecimento é fundamentado na experiência, não levando em conta os princípios
preestabelecidos. No raciocínio indutivo a generalização deriva de observações de casos
da realidade concreta. As constatações particulares levam à elaboração de
generalizações.

A indução pode ser caracterizada da seguinte forma: o fato de que algo é verdade,
relativamente a certo número de elementos de uma dada classe, permite concluir que o
mesmo será verdade, relativamente a elementos desconhecidos da mesma classe. Se em
especial, a conclusão se aplica a um número ilimitado de elementos não examinados, diz-
se que a indução leva a uma generalização.

O método indutivo propõe que, em primeiro lugar, está a observação dos fatos
particulares e depois a hipótese a confirmar. Há, portanto, uma inversão de
procedimentos em relação ao método dedutivo.

9.3.1.3 O Método Hipotético-Dedutivo

Proposto por Popper, o método hipotético-dedutivo consiste na adoção da seguinte


linha de raciocínio: quando os conhecimentos disponíveis sobre determinado assunto são
insuficientes para a explicação de um fenômeno, surge o problema.
44

Para tentar explicar as dificuldades expressas no problema, são formuladas


conjecturas ou hipóteses. Das hipóteses formuladas, deduzem-se consequências que
deverão ser testadas ou falseadas. Falsear significa tornar falsas as consequências
deduzidas das hipóteses.

Enquanto no método dedutivo se procura a todo custo confirmar a hipótese, no


método hipotético-dedutivo, ao contrário, procuram-se evidências empíricas para derrubá-
la. O método hipotético-dedutivo se inicia pela percepção de uma lacuna nos
conhecimentos, acerca da qual se formulam hipóteses, e pelo processo de influência
dedutiva, testa-se a predição da ocorrência dos fenômenos abrangidos pela hipótese.

9.3.1.4 O Método Dialético

Fundamenta-se na dialética proposta por Hegel, na qual as contradições se


transcendem dando origem a novas contradições que passam a requerer solução. É um
método de interpretação dinâmica e totalizante da realidade. Admite que os fatos não
podem ser considerados fora de um contexto social, político, econômico, etc.

O método dialético penetra o mundo dos fenômenos através de sua ação


recíproca, da contradição inerente ao fenômeno e da mudança dialética que ocorre na
natureza e na sociedade. O conceito de dialética equivale a uma argumentação que faz a
distinção dos conceitos envolvidos na discussão.

9.3.1.5 O Método Fenomenológico

Preconizado por Husserl, o método fenomenológico não é dedutivo nem indutivo.


Preocupa-se com a descrição direta da experiência, tal como ela é. A realidade é
construída e entendida como o compreendido, o interpretado, o comunicado pelo
resultado da pesquisa. Então, a realidade não é única: existem tantas quantas forem as
suas interpretações e comunicações. O sujeito/ator é reconhecidamente importante no
processo de construção do conhecimento.

9.3.2 Os Métodos de Procedimentos

Os métodos de procedimentos seriam etapas mais concretas da investigação, com


a finalidade mais restrita em termos de explicação geral dos fenômenos menos abstratos.
Pressupõem uma atitude mais concreta em relação ao fenômeno e estão limitadas a um
domínio particular.

Os métodos que esclarecem acerca dos procedimentos técnicos a serem


utilizados, proporcionariam ao investigador os meios adequados para garantir a
objetividade e a precisão no estudo de ciências sociais. Assim, os principais métodos de
procedimentos utilizados nas ciências sociais, são: histórico, comparativo, estatístico e
estudo de caso.

9.3.2.1 O Método Histórico

O método histórico se dá a partir do estudo dos conhecimentos, processos e


intuições passadas, procurando identificar e explicar as origens contemporâneas. Muitos
45

dos problemas contemporâneos podem ser analisados e entendidos a partir de uma


perspectiva histórica. E a partir da análise, evolução e comparação histórica se podem
traçar perspectivas.

9.3.2.2 O Método Comparativo

O método comparativo desenvolve-se pela investigação de indivíduos, classes,


fenômenos ou fatos, com vistas a ressaltar as diferenças e similaridades entre eles. Sua
utilização nas ciências sociais deve-se ao fato de possibilitar o estudo comparativo de
grandes grupamentos separados pelo espaço e pelo tempo.

O método comparativo tem como objetivo estabelecer leis e correlações entre os


vários grupos e fenômenos sociais, mediante a comparação que irá estabelecer as
semelhanças e/ou as diferenças.

9.3.2.4 O Método Estatístico

O método estatístico fundamenta-se na aplicação da teoria estatística da


probabilidade e constitui importante auxílio para a investigação em ciências sociais. As
explicações obtidas mediante a utilização do método estatístico não podem ser
consideradas absolutamente verdadeiras, mas dotadas de boa probabilidade de serem
verdadeiras.

Mediante a utilização de testes estatísticos, torna-se possível determinar, em


termos numéricos, a probabilidade de acerto de determinada conclusão, bem como a
margem de erro de um valor obtido.

O método estatístico, apesar das dificuldades para medir os fenômenos, auxilia o


pesquisador no que diz respeito à quantificação matemática dos numerosos fatos que,
reduzidos a números, permitem o estabelecimento de relações e correlações existentes
entre eles, prestando-se tanto para que sejam inferidas como para que sejam deduzidas
as consequências dos fatos analisados.

É também utilizado quando, pela variedade e complexidade dos fenômenos, torna-


se impossível um conhecimento mais profundo dos fenômenos e de suas relações sem
uma quantificação. Quando, a partir de uma amostragem ou de um caso particular, são
definidas algumas generalizações, tem-se a probabilidade e não a certeza da ocorrência
de tal fenômeno.

9.3.2.4 O Método de Estudo de Caso

O método de estudo de caso ou método monográfico permite, mediante a análise


de casos isolados ou de pequenos grupos, entender determinados fatos. Este método
parte do princípio de que o estudo de um caso em profundidade pode ser considerado
representativo de muitos outros, ou mesmo de todos os casos semelhantes. Esses casos
podem ser indivíduos, instituições, grupos, comunidades etc.
46

10 A DINAMICA DA COMUNICAÇAO

A comunicação entre as pessoas ocorre por meio de palavras, embora estudos


mostrem que apenas 7% das comunicações entre as pessoas ocorram por palavras em
si. 38% da comunicação se dá através do tom de voz, e 58% da comunicação entre as
pessoas se fazem através da fisionomia ou linguagem do corpo. A expressão facial, os
gestos e os movimentos das pessoas definem muito mais o que elas estão dizendo do
que as palavras em si. Repare por exemplo, num humorista famoso, com algumas
palavras consegue fazer o publico rir.

Quando estamos em sintonia com alguém, estamos descobrindo coisas em


comum, esse processo chama-se espelhagem. Enquanto as palavras são captadas pelo
consciente da mente da pessoa, a fisiologia está sendo captada no inconsciente, e é lá
que o cérebro trabalha e pensa assim: essa pessoa é igualzinha a mim, que bom, ela é
10. E assim gera uma grande atração.

Se você quiser entrar em sintonia com alguém, comece então a observar e a


espelhar o tom de voz, a velocidade com que ela fala, a pausa, as palavras, capte as
frases favoritas dela, imite a postura, os gestos, a expressão facial, até mesmo a forma de
respirar dela. Pode até parecer absurdo, mas é assim mesmo que funciona o processo de
sintonia.

Há muitas particularidades numa espelhagem. Existem três sistemas


representativos básicos que temos que observar. SISTEMA AUDITIVO, SISTEMA
VISUAL E SISTEMA SINESTÉSICO.

A maioria das pessoas tem fortes preferências para o sistema a qual tem maior
tendência. Uma vez, se você descobrir qual sistema e mais desenvolvido, na pessoa que
você está tentando se comunicar, você estará simplificando radicalmente o caminho para
ter uma boa sintonia com ela.

Vamos ver como isso funciona nas pessoas:

10.1 Sistema Auditivo.

Pessoas auditivas compreende melhor o mundo através do ouvido, são mais


seletivas sobre as palavras que usam, porque as palavras significam muito para elas, por
isso é cuidadoso no que dizem, elas prestam muita atenção naquilo que ouvem. É
possível identifica-la pela maneira que falam, normalmente elas usam frases assim: “isto
que você diz, não soa bem”. “Diga-me alto e em bom tom”. Essas pessoas falam
modularmente, nítida e ressonante. Os gestos característicos são cruzar as mãos ou os
braços.

10.2 Sistema Visual.

Pessoas visuais compreende melhor o mundo através daquilo que vê, através de
imagens, e usam frases assim: ”É assim que vejo isto”, “Eu vejo o seu ponto de vista”. A
fala é sempre rápida em tom alto e agudo as vezes forçada, porque elas tentam por
47

palavras a imagem, tem tendência a falar por metáforas, usam bastante os dedos para
indicar.

10.3 Sistema Sinestésico.

As pessoas sinestésicas não veem e nem ouve o mundo apenas sentem o mundo.
Reagem a sensações. Suas frases características são: “Eu senti bastante o que você
disse”. Não senti firmeza naquelas palavras. Essas pessoas falam num tempo lento, às
vezes com longas pausas e num tom baixo e profundo. Seu gesto característico e o tato
com as coisas ou pessoas.

Existem inúmeras sugestões, e isto variam de pessoas para pessoas, por isso e
preciso fazer uma observação minuciosa, e se você conhecer o principal sistema
representativo de alguém estará no caminho certo para entrar no mundo dela.
Agora imagine você tentando convencer a alguém a fazer alguma coisa e ela está
num sistema representativo auditivo e você diz a ela: Veja como isso é muito belo, e você
fala muito rápido e estridente. É bem provável que você não consiga convencê-la.

As pessoas normalmente usam os três sistemas representativos e a forma correta


de entrar em sintonia é usar sempre os três sistemas, mas concentrando-se naquela em
que se destaca na pessoa.
.
10.4 A Oratória

Oratória: é em resumo, a arte de se falar em público.


Retórica: A arte de bem falar. Conjunto de regras relativas à eloquência.
Eloquência: A força de dizer. A faculdade de dominar por meios das palavras o
animo de quem ouve. Talento de convencer. Deleitar ou comover. Arte de bem falar.
Homilética: A arte de pregar sermões religiosos.
Orador: Pessoas que discursam bem em publico, que tem o dom da palavra,
pessoas eloquentes.
Discurso: Disposição metódica sobre certo assunto. Reprodução de palavras de
alguém nos termos exatos na terceira pessoa.
A Oratória dinâmica visa despertar a rapidez na emissão de mensagens; com
direcionamento lógico e preciso das informações que pretendemos levar a um grupo de
pessoas, agindo com persuasão homogênea.
Na Antiguidade houve dois grandes oradores. Um foi Cícero, o outro Demóstenes.
Quando Cícero falava, as pessoas aplaudiam e elogiavam: “Que grande discurso!”
Quando Demóstenes terminava, o povo dizia: “Marchemos!” Esta é a diferença entre
apresentar um discurso e persuadir.
48

.
O sucesso da oratória consiste na eficácia da persuasão. Envolver o
publico. Algumas pessoas acreditam que é inconveniente ter o controle da
persuasão. Mas no mundo em que vivemos a persuasão e um fato pertinente.
Há sempre alguém persuadindo alguém. Ou você persuade ou é persuadido.
Nos dias de hoje, são muitos os mecanismos poderosos para persuasão
em massa. Isto significa mais pessoas bebendo Coca Cola mais pessoas
comprando carro novo, mais dona de casa usando Bom Bril, porque tem “mil e
uma utilidades.”
Estamos constantemente rodeados por pessoas com tecnologia de
ponta para nos persuadir a fazer ou comprar alguma coisa. Muitas dessas
pessoas gastam bastante dinheiro para persuadir através da propaganda.
Observe que uma boa propaganda, campanha política, ou apelo, usam
de imagens e sons que atraiam e afetam nossos três sistemas representativos
que são o auditivo, visual e sinestésico.

10.4.1 O Medo de Falar em publico.

Pesquisas mostram que o medo de se falar em público é maior do que o


medo de morrer. Este medo (caracterizado pelo famoso "frio na barriga") é um
dos maiores inimigos dos pregadores.

QUAIS AS CAUSAS DO MEDO DE SE FALAR EM PÚBLICO?

10.4.1.1 Traumas infantis

É uma das causas mais comuns entre os professores. Geralmente, este


trauma surge de "apresentações improvisadas" dentro das salas de aula de
ensino infantil. Lembra-se daquela professora que lhe obrigou a recitar um
texto na frente da sala naquele dia traumático (e que você tremeu mais que
vara verde!)? Pois é, profissionais assim são responsáveis pela maioria dos
casos de traumas de se falar em público.

10.4.1.2 Desconhecimento da matéria

O total, ou parcial, despreparo na matéria da qual falamos nos gera


insegurança: temos medo de que alguém faça uma pergunta acerca de um
tópico do qual não estudamos bem.
O Recurso do “CHA” O que é o “CHA”
O CHA é composto por três princípios fundamentais

C – os Conhecimentos. O que você precisa saber para apresentar-se bem . o


domínio cognitivo.
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H – as Habilidades. O que você precisa treinar e desenvolver para tornar-se


um comunicador eficaz. O domínio executivo.

A – as Atitudes. O que você deve fazer para buscar os conhecimentos e


aprimorar as habilidades comunicativas. O domínio da ação.

Funciona como um roteiro para uma comunicação de qualidade.


Desenvolver e ampliar os aspectos do “CHA” é criar as condições necessárias
para o sucesso de qualquer tipo de apresentação.

10.4.3 Insegurança
O medo de se expressar e não Ter o resultado desejado pode estar "minando"
o seu potencial criativo.
COMO CONTROLAR O MEDO? Certo orador famoso falou que "nenhum
curso ensina como perder o medo de se falar em público. O que pode ser
aprendido é como dominar o nosso medo". O que passaremos agora são
recomendações úteis para se controlar o medo.
Controle seu nervosismo - não alimente a chama do seu nervosismo.
Roer unhas, colocar as mãos no bolso, mexer os dedos, etc. - são atos que
alimentam o nosso nervosismo. Evite-os.
Quando o medo aparecer encare-o normalmente - quando os
sintomas do medo aparecer em você (suor, empalidecimento, tremores, etc.)
encare-os como algo comum.
Todos os grandes oradores que você admira passam pelas mesmas
situações que você; só que com uma diferença: eles aprenderam a controlar o
medo.
Tenha uma atitude correta - os psicólogos falam que o "corpo fala";
geralmente esta linguagem é estampada em nossos corpos através de gestos.
Normalmente os nossos gestos são inconscientes e as pessoas observam isto.
Nossos gestos mostram o que se passa em nosso íntimo. Portanto, quando for
dar uma aula, ou preleção, apresente-se de uma maneira que passe segurança
a quem lhe ver. Tenha passos firmes e tranquilos. Isto passará para o auditório
uma imagem positiva ao seu respeito.
Saiba o que falar - faça um propósito de sempre falar do que você tem
certeza ou domina bem. Como vimos anteriormente, o desconhecimento da
matéria é uma das causas do medo. Portanto, negue-se a falar o que você não
sabe.
Adquira "vícios de orador" - Mãos no bolso, segurar canetas, segurar
revistas, segurar livros, etc. Estes são algum “alivia-medo" mais comuns nos
meios pedagógicos. Estes "vícios" em nada ajudam em controlar o nervosismo.
Por isso, evite-os; pois poderá cansar o auditório.
Cuidado com os vícios de linguagem (né, ta, viu, etc.)
Chame a sua voz com a respiração – Antes de falar é ideal fazer um
relaxamento dos ombros, cabeça e pescoço.
50

Para passar do silêncio para o som, as cordas vocais estarão se aproximando


para realizarem uma vibração, por isso, comece a falar com cuidado,
suavemente, para não depender demasiada força.
O nervosismo deixa a voz enroscada na garganta e cada frase é
pronunciada com dificuldade, aumentando assim a intranquilidade de quem
fala. Tossir, pigarrear, além de ser desagradável aos ouvidos de quem ouve
não resolve o problema, pelo contrário, pode agrava-lo. Se ocorrer um
desequilíbrio na voz, durante a aula, chame a sua voz respirando
profundamente e ficando tranquilo.
Pratique - O medo de se falar em público só é controlado quando
praticamos. Com o tempo você fará tudo automaticamente. Não se preocupe
se hoje você não fez "grandes coisas". Amanhã pode ser o seu dia. Lembre-se:
todos aqueles que você admira falar, já passaram pelo que você passa.
Lembre-se - Quando se postar diante de uma plateia lembre-se destas
técnicas e de que você não deve nada a ninguém. A melhor recompensa que
um orador pode receber é a atenção que os ouvintes podem lhe dar.
Observar as pessoas - a fim de definir o assunto de interesse delas.
Desperte o interesse - Sempre despertar o interesse e a curiosidade do
publico a fim de fugir da oratória maçante.
Observe o comportamento do auditório, pois este serve de base para
avaliação do desenvolvimento e recepção do sermão. O olhar, os braços, a
expressão facial, a postura do ouvinte são elementos que nos falam e
transmitem mensagens em códigos que quando bem captadas lhe dá uma
visão geral de seu desempenho e do andamento da pregação. Assim poderá
se adequar ao momento e até mesmo dar um outro rumo em sua
pronunciação.

10.5 Os cincos “nãos” de um bom pregador.

Não peça desculpas ao auditório - geralmente estas desculpas são


duas: problemas de saúde e desconhecimento da matéria. Se você fizer isto
passará uma mensagem negativa para a plateia que não o ouvirá com "bons
ouvidos".
Não conte piadas - contar piadas fora do contexto da palestra é
prejudicial. Poderá causar risos, mas, e depois? Nunca use a piada para "dar
graça" a sua matéria.
Não comece com palavras vazias que demonstram falta de
objetividade - palavras como: bem, bom, aí e então, não possuem nenhum
significado e ficam soltas, dificultando a conquista do auditório. Evite usar a
palavra não, talvez, pode ser, não tenho certeza. Use as palavras corretas
para convencer e nunca dar margens para indecisão.
Não firme posição em assuntos polêmicos - Ao tomar posição em um
assunto polêmico (divórcio, drogas, aborto, etc.) o professor corre o risco de
perder a simpatia de boa parte da sala. O professor deve levar a cada aluno a
51

tirar suas próprias conclusões. No caso do pregador do evangelho aborde


sempre os temas a luz do texto bíblico.
Não usar chavões ou frases vulgares - Chavões do tipo "oh! Glória!”,
"tá amarrado!", etc. Colocam a sua pessoa como um simples imitador. Todo
bom professor tem o seu próprio estilo.

10.6 O que Todo Bom Pregador Faz.

Ele aproveita as circunstâncias - todo bom pregador sabe aproveitar


bem o tempo (o relógio é o seu melhor amigo), o lugar ( o espaço físico deve
ser observado pelo pregador evitando transtornos ), e o conteúdo do tema. (
aproveitar todas as informações que a matéria pode lhe passar.)
Ele dá uma informação que causa impacto no auditório - o bom
pregador procura, no discurso a ser dado, um fato que seja do
desconhecimento do auditório. Todos gostam de ouvir coisa nova.
Ele explica tudo - desde termos simplórios, até definições teológicas.
Nunca espere que seus ouvintes saibam o que você sabe. É precisa alimentar
o coelho e a girafa ao mesmo tempo.
Ele elogia o auditório - os melhores pregadores são aqueles que
elogiam seu auditório. Faça isso sem bajular
Ele promete brevidade - O pregador deve ser direto, ou seja, dizer
muito com poucas palavras.
Ele levanta reflexões - O pregador não deve pescar para o seu ouvinte.
Você deve levar o seu ouvinte como a reflexão, possibilitando a ele não
somente fazer suas reflexões, mas também chegar a conclusões por si mesmo.
Ele demonstra total conhecimento do assunto - isto cativa qualquer
auditório e controla qualquer medo. Se sei, porque temer?

10.7 Como se usa o microfone.

Não toque no fio; não bata nem limpe o microfone diante do público; não
comente nada, com ninguém, próximo ao microfone; antes de começar a falar
regule bem o microfone;
Analise qual à distância que você deve falar do microfone.
Aconselhamos uns 30 centímetros; deixe o auditório ver o seu rosto. Deixe o
microfone uns dois centímetros abaixo do queixo; ao falar não segure no
pedestal e fale sempre olhando sobre o microfone; não grite; se precisar
segurar o microfone na mão evite gritar. Segure o microfone com a mesma
distância que começou a aula.
Quando houver uma pergunta da qual não sei a resposta? Se a pessoa
que perguntou "tem cara" de que sabe a resposta, devolva a pergunta para ele.
Pode-se "jogar" a pergunta para o grupo; Evite dizer que não sabe a
resposta. Isto enfraquece a sua reputação.
52

E quando os ouvintes conversam durante a palestra? Fale um pouco


mais baixo do que eles. Isto chamará a atenção deles; fale olhando na direção
de quem conversa; pare de falar; peça que se cale; retire-se da sala ou sente-
se. Faça uma pergunta ao conversador.
Como usar o quadro negro? Enquanto escrever não pare de falar; não
fique na frente do quadro enquanto estiver escrevendo; escreva com um bom
tamanho de letra. Nunca de as costas para o publico. Isto demonstra
indiferença, e arrogância.
E se eu for convidado para dar uma aula, ou falar de improviso? A
resposta é simples: não vá.
Como manter o auditório acordado? Observe o comportamento do
auditório, pois este serve de base para avaliação do desenvolvimento e
recepção do sermão. O olhar, os braços, a expressão facial, a postura do
ouvinte são elementos que nos falam e transmitem mensagens em códigos que
quando bem captadas lhe dá uma visão geral de seu desempenho e do
andamento da pregação. Assim poderá se adequar ao momento e até mesmo
dar outro rumo em sua pronunciação.
Note exemplo de uma pessoa que como um todo, oferece grande
resistência; As pernas presas aos pés da cadeira revela que a pessoa está
segura em sua posição e não abre mão do seu ponto de vista; Os braços
cruzados indicam resistência, proteção ou dúvida; O rosto mostra que a pessoa
não te olha nos olhos, desinteresse, receio, acanhamento ou medo; Os olhos
indicam desconfiança.
É importante destacar que estas posições nem sempre acontecerão ao
mesmo tempo. Há casos que somente alguns destes elementos estarão
presentes. O pregador deve estar atento ao comportamento geral dos ouvintes.

Em grandes auditórios, com muitos ouvintes, não se pode observar


características isoladas, mas o todo. Quando muitos ouvintes estão folheando
a bíblia ou outras literaturas podem estar procurando algo mais interessante ou
importante, para eles, do que ouvir a mensagem; Conversação geral é
desinteresse ou cansaço psicológico da congregação; Movimentos constantes
com o corpo, bem como levantar-se a todo o momento, é sinal de cansaço
físico pelo tempo da programação; A forma como estão sentados (postura).
Obtenha sempre uma resposta do público.

1.8 Tonalidade de Voz

Use desses recursos: Sinestesia - pressão, a intensidade da evolução


da oratória. Perceba o comportamento do publico. Use os sistemas
representativos. Temperatura - temperamento da oratória. Nível de
agressividade, da emoção, do humor. Textura - Contagiar o publico. Ir buscar
pegar o publico. Use o senso de humor e alegria. Faça transparecer se seguro,
53

forte, e confiante com muita fé, no que estiver transmitindo, a fim de contagiar o
publico e conquistar o Carisma.

Movimente-se com moderação. Use várias tonalidades de voz:


Intensidade: Cuidado para não usar a intensidade de forma
inadequada. Ex.: Falar excessivamente alto em situações onde não é exigido
este esforço como, ao telefone ou com uma só pessoa. Leia uma lista de
palavras ou texto com voz suave, como quem não quer acordar ninguém. Fale,
mas não sussurre.
Altura: Classifica-se em grave, média e aguda. Devemos empregar o
registro médio para falar. As vozes bem impostadas não apresentam
diferenças de timbre na passagem de um registro para o outro. Fale a
sequência de dias da semana prolongando a última vogal. Ex.: Segunda,
a,a,a,.. Observe o tom que você emitiu e tente gravá-lo na memória.
Timbre: É a melodia da voz. O timbre é proporcionado pelo sistema de
resistência e depende das qualidades físicas do falante.
Ritmo: Movimentos com sucessão regular de sons fortes com relação a
elementos fracos. É pela observação do ritmo da respiração e identificação
com a pulsação que se pode obter uma harmonia adequada, tanto ao
movimento como a fala.
Inflexões: As inflexões são ondulações da voz que se elevam ou se
abaixam, quando expressamos o nosso pensamento.
Toda frase falada descreve uma curva melódica.
Vejamos “Bom dia!” pronunciado com várias modulações:
1. Indiferente
2. Natural
3. Atencioso
4. Alegre
5. Surpresa
6. Raiva

O pregador precisa saber interpretar e exprimir bem os sentimentos para


que sua pregação tenha mais “vida”. Saber expressar o que está escrito no
texto e seus próprios sentimentos.
Vamos ao exercício: Procure exprimir com clareza os seguintes sentimentos
de acordo com as frases:
Vontade – “Hei de vencer, haja o que houver” “Tudo posso naquele que me
fortalece”.
Alegria – “Como é boa à vida!”. “Jesus me libertou!”
54

Coragem – “Irei e enfrentarei a situação.” “Se Deus é por nós quem será
contra nós?”
Medo – “Estão nos perseguindo”
Orgulho – “Consegui uma promoção por bons serviços prestados”
Humildade – “Quem sou eu, meu caro amigo”
Surpresa – “Tirei em primeiro lugar no concurso”
Importante:
1. Não fale com muita intensidade, reserve forças para o ponto culminante.
2. Não deixe que a voz caia nas últimas sentenças das palavras.
3. Respire de forma disciplinada
4. Varie a força, a velocidade e o ritmo da voz para não cansar a plateia.
5. Leitura do sermão somente em solenidade ou formaturas especiais.

E se eu errar, o que fazer? Devo corrigir ou continuar?

Depende do tipo de erro. Se a informação prejudicar o que você está


explicando é melhor corrigir. Se for uma pronúncia errada, que não prejudicará
a explicação você deve continuar.

Como devo preparar a minha matéria?


1. Deve-se ver o que se sabe sobre o assunto.
2. Conversar com outras pessoas acerca do assunto.
3. Faça pesquisas. Não se limite à Bíblia.
4. Coloque todas as informações no papel.
5. Distribua as informações dentro do esboço.
6. Treine.

Como manter o interesse dos ouvintes?


Sempre despertar o interesse e a curiosidade do publico a fim de fugir
da oratória maçante.
Prepare o seu publico - cite algo interessante logo no início;
Saia um pouco do assunto e aborde um fato bem-humorado, voltando,
em seguida, para a matéria.
Demonstre sentimento de prosperidade. As pessoas só acreditam em
quem prospera.

E quando der um "branco"?

O "branco" é devido ao excesso de nervosismo, falta de conhecimento


profundo e falta de sequência lógica na apresentação; se ocorrer o "branco"
recapitule as últimas informações que você passou para o auditório, de
preferência com palavras diferentes.
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Dicas gerais
1) Seja positivo
2) Se prepare.
3) Chegue cedo, antes dos ouvintes, para recepcioná-los;
4) Conheça o lugar onde você vai falar. é importante se movimentar antes da
fala no local , para evitar futuros "micos".
5) Sorria.
6) Cumprimente a todos.
7) Trate as pessoas pelo nome quando possível.
8) Olhe sempre nos olhos quando ele lhe fizer uma pergunta
9) Gesticule (sem exagero)
10) Movimente-se (sem exagero)
11) Fale de maneira modulada
12) Evite apoiar-se em uma perna
13) Estimule a participação ativa dos ouvintes.
14) Estimule perguntas
15) Estimule discussões
16) Use linguagem coerente com o seu grupo
17) Aprenda a perguntar
18) Saiba ouvir
19) Cronometre o seu tempo.
20) Evite interrupções quando o ouvinte estiver falando
21) Em uma discussão não se envolva emocionalmente
22) Tenha contato frequente com o seu publico

10.9 Apresentação em Publico

A apresentação pessoal é muito importante. Sua credibilidade está


vinculada ao traje. Havia uma propaganda que dizia: O mundo trata melhor
quem se veste bem, e isto é uma grande verdade. Apresentação de paletó e
gravata: demonstração de poder. Apresentação com gravata sem paletó:
demonstração de semi - poder. Postura: sempre ereto, cabeça erguida.

11 A HISTORIA DA PREGAÇAO.

11.1 A pregação no Antigo Testamento.

11.1.1 A pregação dos profetas

A palavra hebraica para profeta é nabi, que vem da raiz verbal naba.
Essa palavra significa “anunciador”, “declarador”, e, por extensão, aquele
56

que anuncia as mensagens de Deus, segundo o ensino uniforme da Bíblia.


“O profeta é aquele que fala por Deus”. 1
A sua mensagem não é do seu próprio pensamento, mas vem duma
fonte superior, pois ele é também vidente. Os termos hebraicos roeh e
hezek também são usados e ambos significam aquele que vê, ou seja,
“vidente”. Que recebe de Deus o dom de ver e entender verdades que não
podem ser entendidas pelos poderes naturais. Ele pode ouvir coisas que os
humanos ordinariamente não podem receber (I Sm 9.9).
Em Jr 23.16 e Ez 13.2, faz-se uma distinção clara entre os profetas que
declaram a palavra que receberam do Senhor, e aqueles que “falam da
visão do seu coração, não da boca do Senhor”. É, portanto, a figura mais
importante do Antigo Testamento, o transmissor das Escrituras Sagradas, o
expositor e pregador da Lei Divina. “Deus falou por meio dos profetas e
interpretou para eles o significado das suas ações na história de Israel.” 2
Os profetas se apresentam como homens chamados por Deus para
receberem e transmitirem ao seu povo a sua mensagem. Observa-se que
eram intermediários entre Deus e o homem. Percebe-se que eram
pregadores da Palavra de Deus. Nota-se que os profetas precisavam
apresentar-se assim:

11.1.1.1. Quanto à Chamada

A ideia falsa de que o profeta do Antigo Testamento era um fanático


surgiu das muitas evidências da sua fé inabalável nos princípios da justiça
Divina, e da certeza absoluta de que tinha sido vocacionado por Deus para
proclamar a verdade, para a orientação dos seus contemporâneos. Em todos
os tempos, os homens que têm paixão ardente pela Palavra de Deus são
considerados fanáticos pelos incrédulos.

O profeta tinha certeza da sua chamada Divina. “A certeza de ter um


chamado e investidura divinos era um elemento primordial na consciência
profética”. 3 Jeová disse a Jeremias: “Antes que eu te formasse no ventre, te
conheci; e antes que saísses da madre, te santifiquei; um profeta para as
nações te constituí (Jr 1.5).
A chamada do profeta visava a sua própria idoneidade e as condições e
necessidades do seu povo, mas é preciso notar que ele aceitou a
incumbência Divina e entrou no seu serviço só e unicamente porque foi
constrangido pela ordem Divina. “Seduziste-me, Jeová, e deixei-me seduzir;

1 CHANPLIM, Ph. O. R. N. O Antigo Testamento interpretado versículo por versículo. Curitiba:


A.D Santos Editora, 2006, p. 5070.
2 STOTT, John. Eu Creio na pregação. São Paulo: Vida, 2003, p. 15.
3 SCOTT, Y.B. R. Os profetas de Israel. São Paulo: Aste, 1968, p. 93.
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mais forte és do que eu, prevaleceste (...) Se eu disser: Não farei menção
dEle, nem falarei mais em Seu nome, há no meu coração um como fogo
ardente, encerrado nos meus ossos, e estou cansado de sofrer, e não posso
conter-me” (Jr 20.7,9).
O constrangimento do profeta era ético e espiritual, e não violava a sua
própria vontade. Certamente, todos os profetas sentiram o peso da sua
responsabilidade, mas motivados pela vontade e pela escolha divina, estava
o reconhecimento do profeta de que tinha sido apartado dos outros homens
e consagrado a uma tarefa de que não poderia escapar, e observa-se que
alguns desempenharam sua missão com mais prazer e satisfação.
Deus escolhia homens idôneos e capazes de fazer o seu serviço. Ele
não mudava os característicos naturais do profeta. Não se pode deixar de
reconhecer como Deus usou as aptidões, os dons naturais, o preparo e as
sensibilidades de homens como Amós e Oséias, Isaías e Miquéias, Sofonias
e Jeremias.
Há uma grande variedade no estilo literário, e até no ponto de vista dos
profetas. Na escolha de homens idôneos de diversos dons e várias
qualidades de experiências, Deus enriqueceu e aperfeiçoou a Sua
mensagem para satisfazer as necessidades do povo.

COELHO FILHO assim define o profeta:


O profeta tem uma personalidade multifacetada,
exibindo vários ângulos. Sabe discordar, sabe
denunciar, sabe condenar, sabe confortar, sabe
ensinar, sabe interpretar, sabe estimular. Não é
fanático ignorante falando coisas inúteis, mas
um homem que entende o mundo e sabe como
analisá-lo. E, tendo convicção de que é assim
que Deus deseja as coisas, prende-se a isto. 4

11.1.1.2 Quanto à mensagem.

Para apreciar devidamente a mensagem do profeta, é preciso entender


a sua fé e os princípios fundamentais de sua mensagem; a harmonia e o
valor intrínseco dessa mensagem e a sua influência nas vidas das pessoas
que as recebem.

4
COELHO FILHO, Isaltino Gomes, op. cit. , p. 31.
58

Os profetas do Antigo Testamento pouco se importavam consigo


mesmos, ou com os grandes homens do mundo. A personagem principal
nas profecias não é Moisés nem Davi, nem Isaías, mas o próprio Deus.
Os profetas não eram teólogos no sentido de que apresentassem um
sistema logicamente organizado das suas doutrinas. Nota-se que tiveram,
porém, certeza de que possuíam uma mensagem a respeito da ira e da
graça de Deus que operam eternamente na vida do homem e na história das
nações.
A história da humanidade, certamente, confirma essa mensagem. A
declaração profética “Assim diz o Senhor” é reforçada pela integridade dos
profetas e pela relevância da sua mensagem. Sobre a certeza de terem uma
mensagem de Deus.
GRUDEN assim comenta sobre a autoridade do profeta:
A autoridade dos mensageiros de Deus, os
profetas, não estava limitada a conteúdo geral ou
simplesmente às ideias principais de suas
mensagens. Em vez disso, afirmavam
repetidamente que suas palavras eram palavras
de Deus, entregues a eles para que fossem
levadas ao povo. 5

Podia haver muita diferença nos dons, na personalidade e no preparo


dos profetas; podia haver uma grande variação nas condições políticas,
sociais, econômicas e religiosas no longo período histórico, representado
pelos profetas; podia manifestar-se também uma diferença nas atitudes das
gerações sucessivas para com a mensagem profética; mas, apesar de todas
estas variações, e, apesar da necessidade imperiosa de adaptar a pregação
às condições espirituais do povo da época, a mensagem profética do Antigo
Testamento é essencialmente a mesma, nos seus princípios fundamentais,
em todos os períodos históricos de Israel.
Como se observa, a mensagem profética era a mesma nos seus
princípios fundamentais porque os profetas contextualizaram-na às
condições dos seus ouvintes.
Sobre imutabilidade da mensagem, COELHO FILHO afirma:
É bom afirmar que os profetas não pregaram
uma mensagem nova, mas reafirmaram os
grandes conceitos da aliança. O profetismo não
trouxe uma mensagem inédita, mas apenas um

5 GRUDEM, Wayne, op. cit., p. 24.


59

chamado à fidelidade à aliança firmada com


Iahweh e que culminara na outorga da lei. 6

Além de haver uma harmonia nos princípios básicos da profecia bíblica,


a mensagem profética adaptava-se sempre, na forma e no fundo, às condições
religiosas do povo.
Verifica-se na história de Israel que os profetas proclamaram aos seus
ouvintes muitas mensagens que não se conservavam nas Escrituras Sagradas.
Essas mensagens certamente concordavam com os princípios fundamentais
da profecia em geral, e tinham a sua influência na formação do povo, e na
orientação da vida nacional de Israel.
Por outro lado, os elementos de valor eterno na pregação dos profetas
foram escritos e preservados nas Escrituras canônicas. Certos preceitos e
doutrinas proféticas adaptam-se igualmente a qualquer povo em qualquer
período de tempo. Estes ensinos geralmente se apresentavam no seu fundo
histórico, assim revelando as condições religiosas do povo quando, pela
primeira vez, recebeu a mensagem de Deus.
Ao entender os tempos e as condições políticas, sociais e religiosas do
povo que recebeu uma profecia, compreende-se melhor a força dinâmica
daquela mensagem.
A mensagem profética é determinada, em grande parte, pelas condições
do povo na ocasião de recebê-la. Os princípios da justiça e da misericórdia
Divinas são imutáveis. Mas as circunstâncias do povo variam nos períodos
diferentes da história. Também o espírito do povo, a sua mentalidade religiosa,
a sua docilidade, varia de acordo com o seu ambiente moral e espiritual.
Os profetas, portanto, devidamente orientados, modificaram a sua
mensagem segundo as variações da mentalidade do povo. Isaías, por
exemplo, não tinha dúvida nenhuma de que Deus ia poupar a cidade de
Jerusalém do grande poder militar de Senaqueribe. Muitos anos depois,
Jeremias pregava que Deus ia mandar Nabucodonozor para destruir a cidade
por causa da infidelidade e hipocrisia do povo.
Os contemporâneos de Isaías, na sua maioria, não acreditavam na
salvação de Jerusalém do poder da Assíria; e os ouvintes da mensagem de
Jeremias, firmando-se na palavra de Isaías, não acreditavam que Deus falasse
pela boca de Jeremias.
Às vezes, o mesmo profeta tinha que modificar o teor da sua mensagem
de acordo com a mudança do espírito do povo. Ezequiel, por exemplo, para
esmagar as esperanças falsas dos cativos em Babilônia pregava, contra a
opinião pública, a necessidade imperiosa da destruição de Jerusalém. Com o
cumprimento desta profecia, e a notícia da queda da cidade, o povo se tornou
triste e incrédulo, quanto às promessas da restauração, e o profeta logo

6 COELHO FILHO, Isaltino Gomes, op. cit., p 20.


60

começou a animar e inspirar o povo pela pregação das promessas preciosas


de Deus.
Nota-se que o pregador precisa contextualizar a mensagem da Palavra
de Deus às condições de seus ouvintes, sem adulterá-la.

BAKER, ALEXANDER, STURZ fazem o seguinte comentário sobre a


mensagem de Miquéias:
Mesmo vivendo na mesma época de Isaías, as
preocupações de ambos são bastante
semelhantes, contudo, há diferenças. Isaías,
sendo da família real, tinha acesso fácil e
constante ao palácio. Sua perspectiva é do
interior dos corredores do poder. Miquéias
parece refletir sua educação rural, além de sua
posição rígida contra a violência perpetrada aos
pobres e fracos. Apresentando a condenação do
pecado público como ponto-chave, o que usava
para fazer a distinção entre sua mensagem e a
dos falsos profetas e sua época. 7

Para contextualizar a mensagem às condições dos seus ouvintes,


precisavam interpretar a história do seu povo. Orientados pelo Espírito de
Deus, os profetas interpretaram o momento histórico. Assim, a história do povo
escolhido é diferente no seu ponto de vista e no seu escopo, em geral, porque
foi escrita para mostrar o plano de Deus aos povos, e a providência de Deus na
realização do seu plano.
Os profetas sabiam interpretar a significação das calamidades que
caíram sobre seu povo. Sabiam distinguir e interpretar as calamidades
mandadas por Deus como castigo do pecado.
Os profetas entenderam alguma coisa das leis científicas da história.
Uma grande parte da profecia de Jeremias foi interpretação da história de
Israel. Como Jeremias, Oséias também entendeu que semeando o vento
ceifaria o turbilhão (8.7). Jeremias mostrou que a dissolução nacional de Israel
foi o resultado inevitável do seu pecado, a lei do pecado e da morte.
Os profetas ensinaram grandes verdades sobre o caráter de Deus. O
Senhor Se revelou pelos profetas. Eles acentuaram a justiça, a santidade e a
misericórdia de Deus. Revelaram a excelência moral de Jeová. Mostraram
como ele odeia o pecado e tem que castigá-lo, eles proclamaram, também, a
longanimidade e a maravilhosa misericórdia de Deus, e o perdão dos
pecadores que se arrependam dos seus pecados.

7BAKER, David W. & ALEXANDER, T. Desmond & STURZ Richard J. Obadias, Jonas,
Miquéias, Habacuque e Sofonias: introdução e comentário. São Paulo: vida nova, 2001, p. 158.
61

Sobre a natureza da mensagem LOPES escreveu:

A mensagem de Deus não tem o propósito de


agradar aos ouvintes, mas de salvá-los; não tem
o propósito de entretê-los, mas levá-los à
conversão; não tem o propósito de anestesiá-los
no pecado, mas livrá-los da ira vindoura. 8

O maior problema da humanidade em todas as épocas da história é


indubitavelmente o problema do pecado. Este problema se apresentou aos
profetas desde o princípio da revelação, e a sua solução final foi sempre
adiada. Os profetas sempre sabiam que a obediência à vontade de Deus era a
única solução do problema.
Eles, porém, tinham que enfrentar o fato obstinado que os filhos de
Israel, na sua maioria, eram incapazes de obedecer à vontade de Deus
revelada na Lei de Moisés. Progressivamente, Deus revelou pelos profetas, e
pelos eventos históricos na vida nacional, a sua misericórdia, a sua
longanimidade e a sua fidelidade.
Além destas revelações preciosas, Deus, na sua benignidade e
providência, dirigiu a vida do seu povo, e acompanhou esta direção com
promessas inspirativas, particularmente com a promessa feita a Abraão,
renovada repetidamente à linhagem dos profetas até que se desenvolvesse na
grande doutrina messiânica, e da missão especial do povo escolhido.
A doutrina da promessa, em questão, visava e exigia a solução do
problema na base dos seguintes fatos: 1) que Israel fosse uma nação escolhida
e separada para o serviço do Senhor; 2) que esse povo fosse um reino
sacerdotal, ou um intermediário entre Deus e as nações do mundo; 3) que esse
povo de Deus recebesse, obedecesse e transmitisse às outras nações a
revelação Divina; 4) que a pena do pecado, a separação de Deus e a morte do
pecador, sendo ele um indivíduo ou uma nação, fosse fielmente proclamada a
todos os povos.
Subentendidas na proclamação desses fatos há três doutrinas proféticas
que nunca poderiam ser postas em dúvida, a saber: a liberdade para o homem
obedecer ou desobedecer à lei Divina; a fidelidade de Deus no cumprimento da
sua promessa; e finalmente, que o plano de Deus não pode ser cancelado,
frustrado ou malogrado pela desobediência do povo.
Os israelitas, na sua maioria, não obedeceram nem transmitiram a
revelação que receberam por intermédio dos profetas. Por outro lado, com
todos os seus privilégios, Israel tornou-se quase tão pecaminoso quanto às
nações pagãs. Além desse seu fracasso de desobediência, Israel tornou-se,
também, delituoso no desempenho da sua missão sacerdotal.

8LOPES, Hernandes Dias. Malaquias: a Igreja no tribunal de Deus. São Paulo: Hagnos, 2006,
p. 20.
62

Como é que os profetas poderiam resolver as contradições que surgiram


entre os princípios que eles ensinaram e os fatos históricos que se lhes
depararam? Não é fácil a solução destas contradições aparentes nos ensinos
dos profetas. Passo a passo, Deus lhes revelou a solução, nos seguintes
princípios:
1) O pecado tem que ser castigado. O juízo Divino é universal e tem que
começar pelo santuário (Ez 9.6). O povo escolhido tinha recebido maiores
privilégios e bênçãos e, portanto, tinha maior responsabilidade diante de Deus
(Is 5.1-17). Foi-lhe dada à terra de Canaã, uma terra abençoada no meio do
mundo, onde o povo sacerdotal poderia, com a bênção do Senhor,
desempenhar-se da sua nobre missão Divina (Oséias11. 1; Isaías1.1-2; 30.1-
9). A nação israelita tinha sido escolhida como a noiva do Senhor (Oséias e
Jeremias). Quando, porém, se mostrou indigna deste amor paternal e conjugal
de Jeová, foi-lhe tirada a terra da promessa, e foi levada em cativeiro pelos
babilônios. Assim, Jeová foi santificado com justiça (Is 7.9);
2) Com a destruição de Jerusalém, o término da história de Israel como
nação e o cativeiro, o povo escolhido sofreu a pena terrível da sua
desobediência. “De todas as gerações da terra a vós vos conheci só; portanto,
todas as vossas injustiças visitarei sobre vós” (Am 3.2). Assim, Israel testificou
passivamente como Deus castiga o pecado, justamente porque não testificou
ativa e positivamente a fidelidade, a benignidade e o amor de Deus;
3) As grandes nações foram usadas como instrumentos na mão de Deus
para castigar o seu povo (Isaías, Jeremias, Habacuque), mas esta, por sua
vez, tinha que sofrer, também, a destruição como castigo da sua crueldade
(Amós, Obadias, Isaías, Jeremias e Ezequiel);
4) O nome de Deus foi blasfemado entre as nações como resultado do
castigo do seu povo escolhido. Os pagãos diziam que o Senhor não tinha o
poder de salvar o seu povo do poderio militar dos inimigos, e dos deuses
pagãos (Isaías 37, e outros);
5) Mas o castigo de Israel foi disciplinar, segundo a parábola da lavoura
(Isaías 28.23-29), e fazia parte no preparo do povo para o cumprimento final da
sua missão. “Deus não abandonou o seu povo, Ele continuara a apoiá-los,
porque é Iahweh, o Deus da aliança, Que se encontrou com eles no Sinai”; 9
6) A doutrina do restante (Isaías, Sofonias e outros) resolve todas as
contradições. O restante consta dos fiéis que entenderam a revelação Divina, e
confiaram nas promessas de Deus;
7) Assim, Deus restaurou o restante à terra santa, e pelos profetas lhe
deu a orientação necessária para construir o templo, restabelecer o culto
Divino, preservar as Escrituras Sagradas até a plenitude dos tempos quando
nascesse o Redentor, e Deus fez tudo isto sem violar a sua Palavra, e em
conformidade com a obediência voluntária dos crentes fiéis.

9 BAKER, David W. & ALEXANDER, T. Desmond & STURZ, Richard J, op. cit., p. 30.
63

Nota-se que inspirado e dirigido por Deus, o profeta não era


constrangido contra a sua própria vontade, e não era violada a sua consciência
moral. Por outro lado, Deus usava os seus dons e as suas experiências na
instrução do povo. “Os profetas sabiam distinguir, nas suas lutas com Deus, a
mensagem do Senhor dos seus próprios pensamentos”. 10 .
Este fato é bem ilustrado nas mensagens dos profetas contemporâneos,
Amós e Oséias. Amós, o montanhês, negociante e viajante, era observador,
inteligente e cuidadoso, e sabia reforçar a sua doutrina da justiça por
ilustrações tiradas da sua própria observação e experiência. É, portanto,
rigoroso na interpretação da justiça que Deus exige do homem, porque
combate as graves injustiças, a opressão cruel, a hipocrisia, o adultério, e
cerimonialismo oco do seu povo.
Oséias, por sua vez, apresenta a doutrina da misericórdia de Deus,
porque o profeta foi assim preparado pela experiência trágica da infidelidade da
sua querida esposa, para compreender esta doutrina. Tinha que combater os
mesmos pecados denunciados por Amós, reconhecer, também, a necessidade
da justiça Divina no castigo do pecado, mas recebeu e transmitiu ao seu povo a
maravilhosa doutrina do amor Divino para o povo rebelde, e endurecido no seu
pecado.
Os dois profetas eram idôneos. Cada um recebeu de Deus a mensagem
que mais concordava com a sua personalidade, a sua experiência religiosa, e a
sua idoneidade para servir o seu Deus e o seu povo. As duas profecias não se
contradizem, mas se completam.
Sendo o profeta intermediário entre Deus e o homem, a sua mensagem
é Divina, e, ao mesmo tempo, tem seu elemento humano. Adapta-se à
compreensão e às necessidades religiosas do povo. “Deus levanta homens
para pregar, não o que eles querem pregar, não o que o povo quer ouvir, mas o
que Deus ordena” 11
Percebe-se que os profetas sempre se empenham no esforço de
persuadir o povo a permanecer fiel e obediente à vontade de Deus. Não
obstante a sua escolha para ser o primogênito de Deus entre os povos do
mundo, e o portador da revelação Divina, os israelitas pecavam
constantemente contra o seu Deus.
Portanto, os profetas tinham que dedicar uma grande parte do seu
tempo a repreender e alertar o povo do castigo por causa de seus pecados. A
missão de Elias foi significativa neste sentido. Ele se esforçava para salvar o
povo da pior forma de idolatria para o serviço do Senhor. Lutava por muito
tempo contra o baalismo e contra o seu esforço de estabelecer a opressão
política em Israel.
Assim, os profetas frequentemente se tornaram os melhores defensores
dos privilégios e prerrogativas do seu povo. Embora escolhido para o

10 CRABTREE, R. R. Profetas Menores. Rio de Janeiro: Casa Publicadora Batista, 1971, p. 8.


11 LOPES, Hernandes Dias. Malaquias: a Igreja no tribunal de Deus. São Paulo: Hagnos, 2006,
p. 20.
64

desempenho de uma grande missão, o povo de Israel não era normalmente


monoteísta. Durante a história, até a volta do cativeiro, muitos israelitas
adoraram deuses falsos, e praticaram diversas formas de idolatria.
Como o povo escolhido do Deus santo, os israelitas tinham que ser
semelhantes a Ele na sua santidade, e nisto fracassaram miseravelmente. Às
vezes, como nos tempos de Josafá, Ezequias e Josias, os profetas instituíram
reformas religiosas pela pregação da mensagem de Deus, mas infelizmente as
influências destas reformas não permaneceram por muito tempo.
Nota-se como mensageiros de Deus, e mestres do povo, que os profetas
eram portadores da mensagem da esperança da vitória do Reino de Deus
sobre todos os seus inimigos. “As mensagens proféticas não só foram
pregações do futuro (Is 9.53), senão que frequentemente chamaram o povo ao
arrependimento e à obediência (Is 1.2-31). Ou ofereciam uma explicação da
Palavra do Senhor (Is. 6). Os profetas eram pregadores”. 12

11.1.1.3 Quanto ao ministério

Os profetas dedicaram uma grande parte do seu tempo ao ministério da


pregação. Os israelitas aprenderam muito da lei de Moisés. Os israelitas
precisavam dos ensinos proféticos, não somente para a sua própria orientação,
mas, também, para entesourá-los como possessão permanente para as
gerações futuras.
Os profetas se incumbiram de interpretar e apresentar ao seu povo os
princípios de valores essenciais encarregados na lei. A lei cerimonial, em uma
das suas finalidades, acentuava a necessidade da separação do povo
escolhido dos outros povos do mundo, a fim de manter a pureza da sua
religião, mas a finalidade desta separação foi exagerada até o ponto de
desprezar e negligenciar a responsabilidade de transmitir a revelação Divina às
nações do mundo.
As cerimônias do sacrifício simbolizavam verdades preciosas, quando
celebradas com entendimento, mas o povo tinha a tendência de esquecer-se
do arrependimento e fé que deveriam acompanhar o sacrifício, caindo
frequentemente na prática do cerimonialismo oco que Deus aborrecia. “De que
me serve a mim a multidão dos vossos sacrifícios? Diz o Senhor. Já estou farto
dos holocaustos de carneiros, e da gordura de animais cevados; e não me
agrado do sangue de novilhos, ou de cordeiros ou de bodes” (Is 1.11).

WIERSBE assim comenta este versículo:


Os judeus adoravam no templo e ofereciam uma
grande variedade de sacrifícios ao Senhor, mas
seu coração estava longe de Deus e sua
12 MACARTHUR, John J R, op. cit., p. 56.
65

adoração era hipócrita, os sacrifícios, por si sós,


não eram suficientes para agradar ao Senhor,
uma vez que, juntamente com a observação
exterior, Deus requer obediência interior. 13

Os profetas se dedicaram à pregação da Palavra contra a hipocrisia no


cerimonialismo do povo. Assim, eles se compenetraram dos princípios éticos
da lei, e transmitiram ao povo a revelação progressiva que receberam de Deus.
Observa-se que, para levar a mensagem de arrependimento e retorno à
obediência ao Senhor, os profetas precisavam de visão mais clara dos perigos
da desobediência a Deus.
Como pregadores da Palavra de Deus, os profetas compreenderam,
muito mais claramente do que os reis, os perigos que ameaçavam a pequena
nação de Israel. Compreenderam, também, a futilidade da guerra, e o poder
dos princípios da justiça. Israel não podia ser destruído, nem pelo cativeiro,
porque tinha sido escolhido por Deus para uma grande missão entre as outras
nações do mundo.
As grandes potências poderiam ser usadas na mão de Deus para
castigar e disciplinar a Israel, mas não poderiam destruí-lo. Depois de serem
assim usados nas mãos de Deus, estes grandes impérios seriam, por sua vez,
castigados e destruídos. Embora espalhados entre as nações da terra, os
israelitas, que mantivessem a sua fidelidade, seriam conservados na volta do
cativeiro para o cumprimento da sua gloriosa missão.
Muitas profecias mais importantes foram proferidas nas horas mais
escuras da opressão política de Israel. Nos tempos de desolação, os profetas
prometeram prosperidade; nos horrores da guerra, prometeram paz; no tempo
do cativeiro, prometeram restauração. Mantiveram, através de todas as
vicissitudes da história, a certeza de que Deus ia realizar o seu propósito na
escolha de Israel, e que por meio dele abençoaria todas as famílias da terra.
A Igreja como Israel é chamada para atrair as nações pela sua vida exemplar e
sua adoração a Deus. “A função de profeta e ainda mais da Palavra é deter a
Igreja de se desviar deste curso”. 14

11.2 A pregação no Novo Testamento.

11.2.1 A pregação de João Batista.

João Batista tem sido chamado de a “dobradiça dos dois Testamentos”.


Ele é o elo e a ponte entre eles. Como os profetas destemidos do Antigo

13 WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo: Antigo Testamento: profético. Santo


André: Geográfica, 2006, p. 14.
14 CARRIKER, Timóteo. Missão integral uma teologia Bíblica. São Paulo: Sepal,1992,p. 97.
66

Testamento, João veio para declarar a Palavra de Deus. Sua mensagem, como
a dos profetas que o antecederam, é explicada deste modo: “veio à Palavra de
Deus a João, filho de Zacarias, no deserto” (Lc3: 2). João Batista pregou numa
época difícil. Havia uma crise moral (Lc3: 1), social (Lc3: 11), econômica (Lc
3:10-14), política ( Lc1:1,14) e espiritual ( Lc3:2,8) naqueles dias.
A Bíblia diz que o povo saiu para vê-lo de Jerusalém e de toda região
da Judéia (Mt. 3:5). A poderosa mensagem de João produziu enormes
resultados. “E eram por ele batizados no rio Jordão, confessando os seus
pecados (Mt3: 6). João Batista não pregava no templo, nem em lugares
sofisticados, mas no deserto. Mesmo assim, grandes multidões iam ouvi-lo e
muitos foram transformados por meio da sua mensagem (Lc 3:10-14;Mt3:5-6).
“Quando a Palavra de Deus é proclamada e explicada fielmente, sob unção do
Espírito Santo, vidas serão sempre transformadas.”15
A pregação de João concentrava-se no arrependimento e no Reino
dos céus. João não se contentava com remorso ou pesar. Desejava ver “frutos
dignos de arrependimento” (Mt3: 8). Era preciso provas de que a vida e a forma
de pensar do indivíduo haviam sido transformadas.
João proclamava uma mensagem de julgamento. Israel havia pecado e
precisava arrepender-se, e cabia aos líderes religiosos dar o exemplo ao
restante do povo. O machado estava posto à raiz da árvore, e se esta (Israel)
não desse bons frutos, seria cortada ( Lc 13:6-10). Se a nação se
arrependesse, o caminho estaria preparado para a vinda do Messias.

HENDRIKSEN comenta:
O que se destaca em relação a João é que ele
não somente foi o pregador do deserto, mas,
também, o “batizador” ou batista. O que era novo
e surpreendente em seu ministério não era o fato
de que ele batizava, porque o povo já estava
familiarizado com o batismo de prosélitos, mas
sim que esse rito, sendo o sinal e selo de uma
transformação fundamental da mente, coração e
vida, estava sendo requerido também dos filhos
de Abrão! Eles precisavam se converter. 16

De maneira simbólica, João dizia às pessoas que a vida delas era


como um “deserto espiritual”, muito pior do que o deserto físico no qual seus
ancestrais vagavam durante quarenta anos. João conclamou o povo a deixar o
deserto espiritual, a crer em seu Jesus e a tomar posse de sua herança. “João

15
LOPES, Hernandes Dias, op. cit. , p. 29.
16
HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento, Exposição do Evangelho de
Marcos. São Paulo: Cultura Cristã, 2003, p. 54.
67

fez o papel de arauto, indivíduo que ia adiante do cortejo real a fim de se


certificar de que as estradas estavam preparadas para o Rei.” 17

11.2.2 A pregação de Jesus

Jesus é a palavra encarnada, o mensageiro e o conteúdo da sua


mensagem. É o profeta e o conteúdo de sua profecia. Foi o Sumo Sacerdote e
o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. O fundador do cristianismo foi
o primeiro pregador, o maior de todos os pregadores. “Sem Jesus e seu
Evangelho, a Igreja não prega mais que uma ideia, um teorema.” 18
Sua pregação, em muitos casos, se opunha diretamente aos métodos
de ensino que prevaleciam em sua época. Ele pregou na sinagoga, na
montanha; em um barco, Ele pregou ao povo. Jesus pregou em todas as
situações. Em locais públicos ou privados, Jesus expôs as Escrituras ao povo
(Marcos 1.21,22; 2.1,2; 4.34). “Jesus usou o método de preleção”.19
Os evangelistas apresentam Jesus como um pregador itinerante.
“Jesus foi proclamando as boas novas de Deus” (Mc 1.14). “Jesus ia por todas
as cidades e povoados ensinando nas sinagogas, pregando as boas novas do
Reino de Deus e curando todas as enfermidades e doenças” (Mc 9.35).
O Próprio Senhor Jesus declarou na sinagoga de Nazaré: “Então, lhe
deram o livro do profeta Isaías, e, abrindo o livro, achou o lugar em que estava
escrito: o Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para
evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar libertação aos cativos e
restauração aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos, e apregoar o ano
aceitável do Senhor. Tendo fechado o livro (...) então, passou Jesus a dizer-
lhes: hoje, se cumpriu a Escritura que acabais de ouvir” (Lc 4.17-21). Ao
declarar que era o cumprimento da profecia de Isaías 61, Jesus está afirmando
que essa era sua missão. Foi “para isso” que tinha sido “enviado” (Lc 4.18,43;
Mc 1.38).
Jesus sempre teve um conceito elevado das Escrituras. Em seu
glorioso sermão do Monte, Ele revelou sua absoluta confiança no Antigo
Testamento (Mt5: 17-19); em João 17.17, disse que a Palavra de Deus é a
verdade. Em Mateus 22.29, disse aos saduceus “Errais não conhecendo as
Escrituras nem o poder de Deus”.
Após sua morte e ressurreição, segundo Lucas, Jesus explicou as
Escrituras a dois discípulos no caminho de Emaús. “E começando por Moisés,
discorrendo por todos os profetas, expunha-lhes o que a seu respeito constava

17 WIERSBE, Warren W, op. cit., p. 233.


18 JEREMIAS, Joachim. Estudos no Novo Testamento. São Paulo: Academia Cristã Ltda. 2006,
p. 42.
19 PRICE, M.J. A Pedagogia de Jesus. Rio de Janeiro: JUERP, 1995, p. 133.
68

em todas as Escrituras. (Lc 2.42)”. “Jesus foi o supremo intérprete e expositor


das Escrituras”. 20
Jesus se distinguia dos pregadores do seu tempo porque sua pregação
tinha autoridade. Não era uma repetição mecânica das Escrituras, e, sim, uma
poderosa e apaixonada interpretação e aplicação das verdades das Escrituras
destinadas a convencer seus ouvintes da necessidade de uma relação com
Deus por meio de sua Pessoa.
Jesus nunca teve que pregar para bancos vazios. As pessoas vinham
para ouvir sua pregação das Escrituras, que tinha o selo da aprovação Divina e
a unção celestial (Mc 4.34).
As verdades mais profundas, que escapavam à compreensão do povo,
fascinavam os apóstolos, à medida que Jesus, em privado, as explicava a seus
seguidores.
Observamos que um dos exemplos mais notáveis da exposição pública
das Escrituras por Jesus figura em Lucas 4.16-22. E, também, que Jesus leu
dois versos do capítulo 61 de Isaías, e, provavelmente, deu extensa explicação
do seu contexto. “Neste sermão Jesus usou três elementos básicos da
pregação: leu, explicou e aplicou.” 21 No entanto, observa-se que todos ficaram
maravilhados com as palavras de graça que saíam de sua boca. Outro
exemplo foi a experiência com os discípulos de Emaús (Lucas 24.25-27, 32-
34).
A exposição de Jesus das Escrituras levou o coração destes
desesperados e desalentados discípulos a “arder”, quando ouviam a exposição
e a revelação das Escrituras apresentadas as suas vidas os levaram, naquela
mesma noite, a uma fé renovada e a um testemunho ardente. Jesus exerceu
seu ministério aqui na terra durante três anos e, como se percebe, passou a
maior parte de tempo pregando.

11.2.3 A pregação de Estevão.

De acordo com o registro bíblico, Estêvão era um pregador. Foi


escolhido para servir às mesas, viveu poderosamente e foi o primeiro mártir do
cristianismo. Sua vida foi plena. Ele era cheio do Espírito Santo (At 6:3, 5;7:55),
de sabedoria ( At 6:3,10), de fé, de graça ( At 6:8), de poder ( At 7:2-53), de paz
( At 7:54-59), de palavra ( At 7:2-53) e de espírito de perdão ( At 7:60). Além
disso, teve uma vida irrepreensível (At 6:11-15). Seus feitos foram irrefutáveis
(At 6:8) e suas palavras irresistíveis (At 6:10). Estêvão era controlado por Deus,
submisso ao Espírito Santo e procurava levar pessoas a Cristo. 22

20 LOPES, Hernandes Dias, op. cit. , p. 29.


21 LOPES, Hernandes Dias, loc. cit.
22 WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo; Novo Testamento. Santo André:

Geográfica, 2006, p. 557.


69

Sua pregação provocou fortíssima oposição dos judeus, mas, em sua


defesa perante o Sinédrio, cuidadosamente elaborada, ele enfatizou que o
Deus vivo é livre para ir aonde bem entende e, também, para levar o seu povo
a avançar.

Quanto à forma, é um recital prolongado da história


veterotestamentária. Dois temas percorrem o discurso: (1) Deus, no decurso da
história do seu povo, levantou homens para serem libertadores deste, mas os
judeus, repetidas vezes, rejeitaram e desobedeceram à lei dada por Deus; (2)
Os judeus tinham o tabernáculo no deserto e, mais tarde, o templo edificado
por Salomão, mas desviaram-se para a idolatria. “Estêvão pregou um sermão
histórico e narrativo, interpretando vários textos do Antigo Testamento,
apresentando Jesus Cristo por meio deles. Ele explicou os textos do Antigo
testamento e os aplicou aos ouvintes”. 23

O Sermão de Estêvão cumpre pelo menos três propósitos: (1) é uma


defesa sobre as acusações feitas contra ele. Nega, explicitamente, que falou
contra a lei de Moisés, e se faz defensor da lei. Justifica a sua atitude de crítica
ao templo e do culto nele prestado; (2) é um ataque contra os judeus por
deixarem de obedecer à revelação dada a eles no Antigo Testamento, e por
rejeitarem ao Messias e ao novo modo de adoração que Ele trouxe; (3) o
discurso desempenha seu papel na história total de Atos, ao mostrar que os
judeus, aos qual o Evangelho foi pregado em primeiro lugar, o rejeitaram,
preparando, desta forma, o caminho para a Igreja afastar-se de Jerusalém e do
templo. “De todos os discípulos Estêvão foi o primeiro a descobrir a relação do
cristianismo para com o mundo”. 24

Em sua apologia, o que ele fez não foi apenas enumerar os principais
acontecimentos da história do Antigo Testamento, com que o Sinédrio estava
tão familiarizado quanto ele, mas, sim, fazê-lo de tal forma que lhe permitisse
tirar lições nunca apreendidas ou percebidas por eles. A preocupação de
Estêvão era demonstrar que sua posição, longe de ser uma blasfêmia por
desrespeito à Palavra de Deus, a honrava e glorificava. “O discurso de Estêvão
começa com o Deus da glória e termina com a glória de Deus.”25 .

Como conteúdo de sua argumentação, Estêvão escolheu quatro das


principais épocas da história de Israel, dominadas por quatro personagens
principais. Primeiro, ele destacou Abraão e o período patriarcal (7:2-8); depois
José e o exílio no Egito (vs.9-19); passando por Moisés, o Êxodo e a
peregrinação no deserto (vs.20-44); e, finalmente, Davi e Salomão, e o
estabelecimento da monarquia (vs,45-50).

23 LOPES, Hernandes Dias. A importância da pregação expositiva para o crescimento da


Igreja. São Paulo: Candeia, 2004, p. 33.
24 STAGG, Frank. O livro dos atos dos apóstolos. Rio de Janeiro: JUERP, 1982, p. 98.
25 WIERSBE, Warren W, op. cit., p. 558.
70

A característica comum a estes quatro períodos é que em nenhum


deles a presença de Deus esteve limitada a um lugar específico. “Estêvão,
numa revisão da história dos hebreus, demonstrou que Deus nunca se limitara
a uma terra e nem mesmo ao templo de Jerusalém. “Lugar santo” era qualquer
lugar onde Deus pudesse ser encontrado”. 26

Em resposta ás acusações, Estêvão foi além, ao assinalar a natureza


espiritual e universal da verdadeira religião. Ele pôs em dúvida a interpretação
judaica do “lugar santo” e a importância que davam ao templo. Demonstrou que
eles tinham violado a verdadeira força da própria lei que alegavam defender. O
Único que realmente houvera guardado a lei foi Jesus.

Em sua defesa, Estêvão usou as próprias Escrituras dos judeus para


provar que sua nação era culpada de pecados piores do que aqueles dos quais
ele era acusado. A pregação de Estevão não foi tanto uma autodefesa, mas,
sim, um testemunho de Cristo. Seu tema principal era inegável: que Jesus, o
Messias, tinha vindo para substituir o templo e cumprir a lei, que
testemunhavam ambos dEle.

Em sua pregação, Estêvão atacou o orgulho nacional e condenou os


preconceitos raciais. O que despertou paixões hostis da parte de seus
ouvintes. Sua declaração no sentido de ter tido uma visão de Jesus em pé, à
destra de Deus, exasperou os sentimentos deles. Houve um irrompimento de
violência, e ele foi levado para fora da cidade e morto por apedrejamento.
“Estêvão estava pronto para ser o primeiro martys verdadeiro, que selou seu
testemunho com o próprio sangue.” 27

A pregação de Estêvão resultou em sua morte e sua morte foi uma


coroação. Ele viu a glória de Deus e o Filho de Deus pronto a recebê-lo no céu.

A sua morte provocou uma grande perseguição contra a Igreja em


Jerusalém, tal perseguição ocasionou uma enorme dispersão, que resultou na
diáspora; que, por sua vez, provocou o primeiro e mais extraordinário
movimento evangelístico, cujos resultados se multiplicam até os nossos dias.
A dispersão dos cristãos foi seguida por uma dispersão da boa semente do
Evangelho. “Ao dar sua vida inaugurou uma nova era da História Cristã.” 28

11.2.4 A pregação dos Apóstolos.


Os seguidores de Jesus ficaram conhecidos como “apóstolos” ou
simplesmente “discípulos”. As páginas do Novo Testamento dão algumas
informações, mas não muito detalhadas sobre essas personalidades. Em geral
são referências lacônicas, pois tais textos não têm pretensões biográficas. Os

26 STAGG, Frank, op. cit., p. 100.


27 STOTT, John R. W. A mensagem de Atos. Santa Catarina: ABU, 2000, p.156.
28 STAGG, Frank, op. cit., p. 98.
71

relatos evangélicos, entretanto, fazem questão de salientar que os chamados


apóstolos foram escolhidos pelo próprio Jesus.
São pessoas do campo e não da cidade (nenhum de Jerusalém); e
são trabalhadores e artesãos, isto é, pessoas das camadas mais populares.
Em suma, são pessoas marginalizadas ou excluídas, para usar uma categoria
atual. Pode-se acrescentar que, em geral, eram pessoas sem formação escolar
ou erudição, muito embora demonstrem inteligência e perspicácia. No aspecto
da educação formal, o apóstolo Paulo seria uma exceção.
Relatos de sermões, principalmente dos apóstolos Pedro e Paulo, dão
a entender que a força desses discursos não residia nos pregadores como
indivíduos, mas nas comunidades que os respaldavam.
Em várias ocasiões, a vida desses pregadores foi poupada porque os
que queriam prendê-los ou matá-los temeram a reação popular — “Depois,
ameaçando-os [a Pedro e a João] mais ainda, os soltaram, não tendo achado
como os castigar, por causa do povo, porque todos glorificavam a Deus pelo
que acontecera [a cura de um coxo à porta do Templo]” (At 4.21). Isso permite
a interpretação de que, quando nas páginas neotestamentárias encontram-se
relatos de personagens ilustres, os fatos se referem, num sentido mais amplo,
aos atos de comunidades significativas.
À luz do exposto, e como uma análise da homilética de todos os
apóstolos fugiria aos limites desta pesquisa, parece justificável restringir esta
análise a duas expressões paradigmáticas da homilética apostólica: Pedro,
como paradigma do pregador iletrado, provinciano, conservacionista; e Paulo,
paradigma do pregador erudito, cosmopolita e expansionista.

11.2.4..1 A pregação Pedro


A pregação de Pedro centralizava-se na vida e na pessoa de Cristo. A
pregação de Pedro era fortemente bíblica no seu conteúdo, os sermões eram
saturados de citações e profecias do Antigo Testamento. “Ao expor alguns
textos do Antigo Testamento, Pedro pregou Jesus, aplicando as Escrituras aos
ouvintes. O sermão de Pedro era cristocêntrico em sua essência”. 29
Os sermões de Pedro apresentavam a necessidade de se crer no
Messias ressuscitado, o arrependimento individual e nacional. Eram
mensagens acompanhadas de doutrinas, de sorte que, na proporção em que
aumentava o numero de crentes, mais estes ficavam unidos pelo conhecimento
e pela ação comuns.
Um dos sermões, registrado em atos 2, foi o primeiro proferido até
aquele dia. Em vários pontos-chave, é um sermão modelo, um padrão para
todos os sermões evangelísticos subsequentes. Observa-se que atingiu em
cheio o objetivo da pregação pela resposta dada pela população, conforme
29 LOPES, Hernandes Dias, op. cit. , p. 31.
72

assevera a Bíblia, quando quase três mil almas se converteram, seguida pela
mesma resposta na casa do oficial romano.
É improvável que Lucas tenha registrado as palavras exatas de Pedro,
mas, certamente, registrou a essência do sermão pregado pelo apóstolo. Tal
sermão visou provar, tanto pela profecia de Joel como pelo salmo de Davi, que
Jesus era verdadeiramente o Messias, e que Este ressuscitara dentre os
mortos.
Tão bem sucedido foi o pregador que os ouvintes o inquiriram acerca
de que atitudes deveriam tomar. “Esta pregação expositiva, cuja essência era
Jesus, pregada sob a unção e o poder do Espírito Santo, produziu grande
resultado para a glória de Deus e a expansão da sua Igreja.” 30
Pedro utilizou-se exatamente das ferramentas adequadas para tratar
com israelitas de diversas naturalidades: ele os chama “israelitas” e não
judeus, justamente porque a segunda forma de tratamento pressupunha que
habitavam em Judá; além disso, utiliza argumentação puramente
veterotestamentária para persuadi-los. “Pedro era o pregador que dominava a
cena.” 31
O caráter apologético nos sermões de Pedro, no dia de Pentecoste,
refuta a acusação de que os cristãos estivessem embriagados. Em atos 3, teve
que refutar a ideia de que ele e João haviam curado o homem com o próprio
poder.
Chama-nos a atenção, analisando as pregações de Pedro (Atos, 2,3 e
4), a forma como ele apresenta Cristo à multidão “de acordo com as
Escrituras”, organizando cronologicamente, de acordo com os acontecimentos,
a sua carreira salvífica.
Mostra que Ele é descendente de Davi (Sl132: 11 = 2:30); que Ele
sofreu e morreu por nós como servo de Deus ( Is 53 = 2:23;3:18); que a pedra
que os construtores rejeitaram, ainda assim se tornou a pedra angular (
Sl118:22 = 4:11); pois Deus O ressuscitou dentre os mortos (Is 52:13 = 2:25),
já que a morte não podia segurá-lO e Deus não permitiria que Ele se
deteriorasse ( Sl 16:8 = 2:24,27,31); que Deus então O exaltou a sua
destra,para esperar seu triunfo final ( Sl 110:1 = 2:34-35); que nesse ínterim,
através dEle seria derramado o Espírito Santo ( Jl2:28 = 2:16,33); que agora o
Evangelho deve ser pregado no mundo inteiro, até os confins da terra ( Is 57:19
= 2:39), apesar de ter sido profetizada uma oposição a Ele ( Sl 2:1 = 4:25-26);
que as pessoas devem ouvi-lO ou receber o castigo pela sua desobediência (
Dt 18:18-19 = 3:22-23); e que aqueles que ouvirem e atenderem herdarão a
bênção prometida a Abraão ( Gn 12:3;22:18=3:25-26).
Vemos que Pedro ia citando, explicando e aplicando as Escrituras.
Com isso, sua pregação foi eficaz em seus propósitos, foi clara em suas
exigências, foi especifica em sua promessa e teve um resultado vitorioso. “Ao

30LOPES, Hernandes Dias, op. cit.,p. 32.


31TENNEY, Merrill C. O Novo Testamento: sua origem e análise. São Paulo: Vida Nova,
1995.p. 246.
73

introduzir o seu sermão no Pentecoste, Pedro faz uma longa citação de Joel e
fez ainda uma outra longa citação dos salmos para mostrar a promessa
Messiânica da ressurreição.” 32

11.2.4..2 A Pregação de Paulo

Quando pensamos em pregação apostólica, tendo por fonte de


pesquisa o Novo Testamento, sem dúvida Paulo é o grande pregador. Quando
pesquisamos a vida de Paulo, ficamos espantados como este homem entra em
cena. É bem compreensível que fiquemos horrorizados, ao tomarmos
conhecimento de que o sangue do primeiro mártir cristão espirrara sobre as
roupas de Saulo, enquanto consentia, particularmente, na morte de Estevão.
Durante a nossa vida, adotamos naturalmente uma imagem
cristianizada do apóstolo Paulo. Afinal de contas, foi ele o autor de 13 cartas do
Novo Testamento, e, sem dúvida, depois de Jesus, foi o personagem que tem
mais contribuição para o cristianismo, e, com facilidade, conclui-se que este
homem foi criado dentro da Igreja. Não foi nada disto. Ele odiava os cristãos e
era um dos principais perseguidores da Igreja conforme registrado no livro de
Atos.
Saulo era natural de Tarso, cidade da Cilícia, uma província na
extremidade sudeste do que era então chamada Ásia Menor. No seu décimo
terceiro aniversário, Paulo já dominava a história judaica, a poesia dos Salmos,
a literatura majestosa dos profetas. Seus ouvidos foram treinados à perfeição e
um cérebro ágil como o seu podia reter o que ouvia tão automática e fielmente
quanto à “mente fotográfica” moderna retém uma página impressa. Ele estava
pronto para uma educação superior.
Um fariseu rígido não iria confundir o filho com filosofia moral pagã.
Portanto, provavelmente, no ano em que Augusto morreu 14 d.C., o
adolescente Paulo foi enviado por mar à Palestina e subiu os montes até
Jerusalém.
Durante os cinco ou seis anos seguintes, ele sentou-se aos pés de
Gamaliel, neto de Hillel, mestre supremo, que alguns anos antes morrera com
mais de cem anos, sob o frágil e amável Gamaliel, um contraste com os líderes
da rival Escola de Shammai, Paulo aprendeu a dissecar um texto até que
vários significados possíveis fossem revelados. Segundo a opinião abalizada
de gerações de rabinos, [...] Paulo aprendeu a debater no mundo antigo como
“diatribe”, e a expor, pois um rabino não era só parte pregador, como também
parte advogado, que processava ou defendia os que quebravam a lei sagrada.
Paulo superou seus contemporâneos. Tinha uma mente poderosa que
poderia levá-lo a uma cadeira no Sinédrio, na galeria das Pedras Polidas, e
torná-lo um “principal dos judeus”. Este homem fora preparado para ser

32
TENNEY, Merrill C, loc. cit.
74

membro do Sinédrio, tribunal supremo dos judeus, e para provar que estava
preparado, tornou-se um violento perseguidor do cristianismo (At 22.4; Gl 1.13-
14; At 26.9-10). “O zelo, de que nesta ocasião deu provas, levantou Paulo em
proeminência no conceito das autoridades. Assegurou-lhe, provavelmente, uma
cadeira no Sinédrio, onde o encontramos logo depois de dar voto contra os
cristãos” 33 .
A violência cometida por esse homem é paradoxal, até se encontrar o
registro de sua conversão em Atos 9.1-4. Neste encontro, Paulo descobriu que
não estava perseguindo os seguidores de Jesus, mas o próprio Jesus.
Em Atos 9.15, “Este é para Mim um instrumento escolhido para levar o
Meu nome perante os gentios e reis, bem como perante os filhos de Israel”. No
relato de sua conversão diante do Rei Agripa, Paulo afirma que foi
comissionado, por Cristo, para ser apóstolo aos gentios.
Ao estudar Atos 26. 13-17, observa-se que este homem foi chamado à
semelhança de Ezequiel, que também em seu comissionamento da parte do
Senhor caiu com o rosto em terra, quando viu “a glória do Senhor (Ezequiel
1.28; 2. 1-10)”.
STOTT comentando o comissionamento de Paulo ressalta que:
De fato, o comissionamento de Saulo como
apóstolo de Cristo foi moldado deliberadamente
para lembrar os chamados de Isaías, Ezequiel,
Jeremias e outros para serem profetas de Deus.
Em todos eles foi empregado o termo “enviar”.
Assim como Deus “enviou” os seus profetas
para anunciarem a sua palavra ao seu povo,
Cristo também “enviou” os seus apóstolos para
pregarem e ensinarem o seu nome, incluindo
Paulo que fora “enviado” para ser apóstolo dos
gentios. 34

Assim, pregar oralmente é o método Divino para chamar as almas ao


arrependimento e à fé, como afirma Paulo durante sua defesa perante o rei
Agripa. Que glória de ser pregador do Evangelho! Nenhuma outra atividade,
por mais atraente que possa parecer, deve ocupar a primazia no ministério
pastoral.
Paulo é um exemplo de homem chamado por Deus para proclamar sua
Palavra e que não foi desobediente como ele mesmo afirmou (Atos 27.19-20):
“pelo que, ó rei Agripa, não fui desobediente à visão celestial, mas anunciei
primeiramente aos de Damasco e em Jerusalém, por toda região da Judéia e
aos gentios, que se arrependessem e se convertessem a Deus, praticando
obras dignas de arrependimento.”.

33 STALKER, James. O Apostolo Paulo. São Paulo: Imprensa Metodista, 1948, p. 39.
34 STOTT, John R. W. A mensagem de Atos. Santa Catarina: ABU, 1990, p. 421.
75

Após a sua conversão, Paulo é retirado pelo Próprio Senhor, Jesus


conforme nos informa em Gl 1. 10-17, para um período de solidão no deserto
da Arábia e onde a sua vida foi impactada pelo Senhor, onde o assassino cruel,
que odiava os cristãos se torna um pregador fervoroso.
É possível encontrar alguns destes sermões transcritos em Atos. O
primeiro na sinagoga de Antioquia da Psídia (capítulo 13); o segundo no
Areópago, em Atenas (capítulo 17); o terceiro em Mileto, aos anciãos da Igreja
em Éfeso (capítulo 20); o quarto ao povo judeu irado, em Jerusalém, o que na
verdade não pode ser considerado um sermão, mas um testemunho pessoal
(capítulo 22) e o derradeiro na presença do rei Agripa (capítulo 26). Além disso,
as treze epístolas atribuídas à autoria paulina podem auxiliar neste intento.
O material acerca da pregação do apóstolo Paulo é muito farto,
justamente porque o livro de Atos lhe dá especial destaque. Além disso, há
toda a sua produção literária constituída por suas epístolas, que muito podem
auxiliar na averiguação do estilo de pregação do apóstolo.
As cartas de Paulo são intensamente vivas, como poucos documentos
chegados de tão remota antiguidade. Elas dão um mero esquema de
pensamento, mas retratam um homem vivo. Era uma pessoa de extraordinária
versatilidade e variedade. Era igualmente alguém capaz de aplicar a fria crítica
da razão aos seus próprios sonhos, e de julgar com sereno equilíbrio o valor
verdadeiro dos fenômenos anormais da religião.
O seu pensamento é forte e sublime, mais aventuroso que sistemático.
Possuía uma inteligência colhedora e uma faculdade de assimilar e usar as
ideias dos outros, o que é um grande atributo para quem tem uma nova
mensagem para propagar.
Especificamente acerca da pregação do apóstolo Paulo, esse
indivíduo, que afirmava ser o menor dos santos e o maior entre todos os
pecadores, compreendeu e explicou a graça melhor do que qualquer de seus
contemporâneos.
BRUCE ao falar de Paulo como pregador da graça afirmou:
A graça de Deus que Paulo proclamou é livre e
gratuita em mais de um sentido; livre, no sentido
em que é soberana e desimpedida; gratuita, no
sentido de que é oferecida as pessoas, para ser
aceita apenas pela fé, e livre no sentido de que é
fonte e principio da libertação delas de todo o
tipo de servidão interior e espiritual, incluindo a
servidão do legalismo e a servidão da anarquia
moral. 35

35BRUCE, F.F. Paulo: o apóstolo da graça, sua vida, cartas e teologia. São Paulo: SHEDD
Publicações, 2003, p. 14.
76

Paulo que foi uma personalidade altamente enriquecida, tanto dos dons
literários como de educação aprimorada. Nos seus discursos, às vezes, a
veemência da natureza corre como o rio, avolumado por chuvas torrenciais; às
vezes, aparece tão terna e mansa a sua palavra como o amor de mãe. O seu
fim no trabalho foi a edificação do caráter cristão.
A sua habilidade de adaptar-se às circunstâncias do seu ministério
parecia infinita. Os seus sermões eram a lógica personificada, uma correnteza
de argumento e apelo que levava tudo de vencido, na sua força irresistível.
Majestoso pelo seu intelecto estupendo, versatilíssimo, poderoso no
uso da palavra, incansável, infinito em adaptabilidade, esse gênio natural,
reforçado pelo preparo mais completo, entregue nas mãos de Deus,
representa, nas cenas da história, o papel de verdadeiro gigante espiritual
proeminente na lista dos heróis da fé.
Percebe-se, ainda, com relação à pregação apostólica registrada no
Novo Testamento, que era essencialmente bíblica, referindo-se fartamente a
textos do Antigo Testamento, que era cristocêntrica, pois a cruz de Cristo era o
ponto central, além de flexível em sua forma.
Paulo tinha profunda convicção de que existe um só Evangelho a ser
pregado (Gl 1:8). “Ele definiu o seu evangelho como a mensagem da cruz e
seu ministério como a pregação de Cristo crucificado”. 36.
Ele cria que a mensagem da cruz era de fato a própria essência da
sabedoria e do poder de Deus, embora parecesse loucura ou pedra de tropeço
aos que confiam em si mesmos. Os grandes temas da pregação de Paulo
eram: a cruz de Cristo, a ressurreição de Cristo e o senhorio de Cristo.
Paulo tinha um conceito elevado das Escrituras como a Palavra
inspirada de Deus. Ele disse: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para
o ensino, para a repreensão, para correção, para educação na justiça, a fim de
que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa
obra” (II Tm 3.16-17).
Todo pregador deve seguir o exemplo de Paulo, tendo um
conhecimento sólido da inerrância, infalibilidade e supremacia da Escritura.
Paulo tinha, também, um elevado conceito da pregação, ele se dedicou
exclusivamente à pregação.
LOPES assim comenta sobre como a pregação tomou conta da vida de
Paulo:
O apóstolo Paulo foi indiscutivelmente o maior
pregador na historia da cristandade. Pregou a
Palavra de Deus em muitas cidades, povoados,
templos, sinagogas, praças, ilhas, praias,
escolas, tribunais e prisões. Pregou às grandes
multidões, a pessoas livres e escravas, a
vassalos e reis, a sábios e a iletrados, a judeus e

36 STOTT, John. A Cruz de Cristo. São Paulo: Vida, 1991, p. 28.


77

gentios. Pregou sempre com grande entusiasmo,


com saúde ou enfermo, como prisioneiro ou
liberto, amado ou odiado, aplaudido ou
apedrejado, na abundância e na pobreza. 37

Paulo era um pregador sensível à sua audiência (II Tm 2.10). Paulo


usou também diversos métodos para ganhar um maior número de pessoas
para Jesus (I Co 9.19-23). Quando pregou numa sinagoga, para judeus
helenistas, ele usou a história de Israel a fim de falar-lhes sobre Jesus (At
13:14-41) : Paulo apresentou Jesus como Salvador (13:23), como Rei ( 13:22)
e como Filho ( 13:3). Mas, quando pregou a intelectuais gregos, sua
abordagem foi diferente. Ele falou de Deus como Criador, sustentador, Senhor
e Juiz (At 17:16-34).
Sendo bíblica e contextualizada, a pregação apostólica serve de
modelo, pois é, justamente, este binômio que se entende ser fundamental à
pregação eficiente.
A flexibilidade da mensagem se expressa muito bem. Aos romanos a
temática foi a “justificação e o senhorio de Cristo”, conforme bem podemos
perceber na Epístola aos Romanos; e aos gregos o tema da pregação foi “a
ressurreição dos mortos” e “O Logos de Deus”. Todo pregador necessita ter em
conta a cultura de seus ouvintes, se é que deseja comunicar-se eficazmente.
SWINDOLL, comentando acerca da mensagem de Paulo em Atenas,
afirma também que ele:
Começa onde se achavam e, como todo bom
pregador, levou-os até onde precisavam ir. Ele
nota nos pregadores bíblicos a capacidade de
refletir profundamente sobre a cultura de seu
tempo e cita como exemplos os apóstolos Paulo
e João. 38

Paulo se acerca dos filósofos estóicos em Atenas fazendo uso das


próprias categorias deles. “Fala-lhes do deus “conhecido”. “Aquele que
honrais, sem conhecê-lO...” e capta sua atenção. Daí passa ao problema
básico dos gregos, a ressurreição dos mortos, e, especificamente, a
ressurreição de Cristo (Atos 17). “Essa mensagem de Paulo é uma obra prima
de comunicação”. 39
Desta forma, o Novo Testamento nos oferece elementos para dizermos
que a Igreja Primitiva cumpria seu papel de pregação da Palavra

37 LOPES, Hernandes Dias, op. cit, p. 34.


38 SWINDOLL, Charles. Paulo; um homem de coragem e graça. São Paulo: Mundo Cristão,
2003, p. 243.
39 WIERSBE, Warren W, op. cit., p. 612.
78

eficientemente, porque era bíblica e, ao mesmo tempo, flexibilizava a


mensagem, levando em conta a realidade dos ouvintes.
BRUCE assim comenta sobre a flexibilidade da mensagem de Paulo:
Em Atenas, como antes em Listra, Paulo não cita
expressamente as profecias do Antigo
Testamento, que, provavelmente, sua audiência
não conheceria; as citações diretas que seu
discurso contém são de poetas gregos. No
entanto ele não argumenta a partir de “primeiros
princípios” do tipo que formava a base de vários
sistemas da filosofia grega; a exposição e defesa
da sua mensagem estão fundamentadas na
revelação bíblica e fazem eco ao pensamento, e,
às vezes, a própria linguagem, dos escritos do
Antigo Testamento. Como a revelação bíblica,
seu discurso começa com Deus como Criador de
tudo, continua com Deus como Sustentador de
tudo, e conclui com Deus como Juiz de tudo. 40

12 A PREGAÇÃO ATRAVÉS DOS TEMPOS

12.1 A pregação pós-apostólica até o século IV

Ao longo da história da Igreja, surgiram grandes homens de Deus que


deixaram marcas indeléveis tanto na história quanto no exercício do ministério.
O período que seguiu ao dos pais apostólicos foi assinalado por uma
decadência. “Uma das principais causas da deterioração foi à importação da
filosofia grega ao pensamento cristão por parte dos pais da Igreja”. 41
O material homilético dos três séculos seguintes ao apostólico é muito
escasso. “A forma do sermão tornou-se mais importante do que o seu
conteúdo”. 42 Mesmo assim, temos algumas instruções de Clemente de Roma,
Ignácio e Dionísio, no primeiro século, Aniceto no segundo e Cipriano, no
terceiro.
Clemente de Roma (30-100AD) era tido como um pregador de
objetivos éticos e que conseguia, através de suas mensagens, propiciar
“consolo para as pessoas que atravessavam tribulação”.

40 BRUCE, F.F, op. cit., p. 231.


41 MACRTHUR, John Junior, op. cit., p. 56.
42 LOPES, Hernandes Dias, op. cit. , p. 39.
79

Outro pregador deste período é Tertuliano (150-220 AD). Este teria


sido um pregador exímio através de mensagens acerca da paciência e da
penitência. “Tertuliano foi, aparentemente, o primeiro a dar o nome de sermão
ao discurso cristão”. 43
Um período de ascensão da oratória na Igreja iniciou-se no quarto
século, quando a partir de então floresceram Ambrósio (340-397), que de seu
púlpito em Milão, defendia habilmente contra a “heresia ariana”; Crisóstomo
(347-407), chamado de “Boca de Ouro”, pregava com muita eloquência em
Antioquia e Constantinopla; Agostinho (354-430), um retórico convertido, que
aplicava à retórica de Cícero a pregação cristã, e, ainda, Basílio e Gregório, os
mais célebres pregadores da Igreja Antiga. “Neste século a oratória de púlpito
alcançou um alto grau de excelência”. 44
Outros pregadores dos primeiros séculos, dignos de serem citados,
são Orígenes, Lactâncio, Jerônimo e Cirilo de Alexandria, dentre outros, dos
quais temos somente discursos e homilias.

12.1.2 João Crisóstomo, “O boca de ouro”

No período pós-apostólico entre os que se destacaram deixando uma


grande contribuição, que influenciou o comportamento de tantas pessoas e,
especialmente, os vocacionados para o ministério da pregação, encontra-se
Crisóstomo, grande expositor e orador, que nasceu por volta do ano 345. João
Crisóstomo viveu uma vida simples de pureza que era por si mesma uma
censura aos seus paroquianos de Constantinopla, cujo padrão de vida era
altíssimo. Era um gigante em estatura moral e espiritual, apesar de fisicamente
ser baixo e magro.
FEREIRA assim comenta sobre Crisóstomo:
Crisóstomo era o monge do deserto que clamava
na cidade. Era a voz do cristianismo antigo que
não se dobrava as tentações do cristianismo
imperial. Era um gigante cuja voz fazia tremer até
os fundamentos da sociedade, não por que sua
língua era de ouro, mas porque suas palavras
eram do alto. 45

Crisóstomo é considerado o maior orador do púlpito da Igreja grega.


Ele permanece até hoje como modelo para os pregadores. Era um pregador

43 LOPES, Hernandes Dias, loc, cit.


44 NORTH, Stafford. Pregação Homem & Método. São Paulo: Vida Cristã, 1971, p. 14.
45 FERREIRA, Franklin. História da Igreja. Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil. Rio de

Janeiro: 2002 p. 100.


80

expositivo e compreendia que o sermão é uma verdadeira exposição da


Palavra de Deus.
Stott ressalta quatro características principais do sermão de
Crisóstomo:
Em primeiro lugar era bíblico. Não somente
pregava sistematicamente por vários livros
bíblicos em seguida, como também seus
sermões estão repletos de citações e alusões da
Bíblia. Em segundo lugar, sua interpretação das
Escrituras era singela e direta. Seguia a escola
antioquina da exegese “literal”, em contraste
com as alegorizações alexandrinas imaginativas.
Em terceiro lugar, suas aplicações morais eram
aplicáveis à vida diária prática. Lendo seus
sermões hoje, podemos imaginar sem
dificuldade a pompa da corte imperial, os lucros
da aristocracia, as corridas loucas no hipódromo
e, na realidade, a totalidade da vida de uma
cidade oriental no fim do século IV. Em quarto
lugar, era destemido nas suas condenações. Na
realidade “era mártir do púlpito”, pois foi
principalmente sua pregação fiel que provocou o
seu exílio. 46
Era um grande expositor bíblico, “pregava exposições versículo-por-
versiculo e palavra-por-palavra sobre muitos livros da Bíblia”. 47 Sua obra,
escrita no início de seu ministério, expressa, ainda que indiretamente, alguns
preceitos fundamentais para a Homilética da época:
1. O clérigo – ou ministro – deve ser prudente e douto;
2. Deve possuir alocução fácil;
3. Deve conhecer as controvérsias entre gregos e judeus;
4. Dever ser hábil na dialética (como Paulo, não menos grande na arte
de falar do que nos escritos e ações);
5. Há necessidade de um longo e sério preparo para o ministério;
6. É indispensável o desdém pelos aplausos humanos;
7. Cada sermão deve ser um meio de glorificar a Deus.
Observa-se que a capacidade de flexibilizar a mensagem a ponto de
torná-la adequada ao contexto dos ouvintes ainda que não esteja
explicitamente anunciada acima, pode ser compreendida nas entrelinhas
destas afirmações. Entretanto, parece óbvio que a maior preocupação era para
com a oratória e a dialética.

46 STOTT, John. Eu Creio na pregação. São Paulo: Vida, 2003, p. 21.


47 LOPES, Hernandes Dias, op. cit. , p. 41.
81

Para Crisóstomo não deveria haver divórcio entre moral e religião. Na


verdade, João de Constantinopla (c. 347-407), que era natural de Antioquia da
Síria e filho de mãe cristã, foi bispo de Constantinopla. Quando ocupou este tão
importante cargo, seu primeiro objetivo foi reformar a vida do clero. Alguns
sacerdotes que diziam ser celibatários tinham em suas casas mulheres que
chamavam de irmãs espirituais, e isto escandalizava a muitos. Além disso,
outros clérigos haviam-se tornado ricos e viviam em grande luxo e o trabalho
pastoral da Igreja era negligenciado.
As finanças foram submetidas a um sistema de controle detalhado. Os
objetos de luxo que haviam no palácio do bispo foram vendidos para dar de
comer aos pobres. É desnecessário mencionar que isto tudo, apesar de lhe
conquistar o respeito de muitos, também lhe granjeou o ódio de muitos. “O
orador de língua dourada trovejava do púlpito”. 48
O empenho do bispo de Constantinopla não se limitou apenas ao clero.
Seus sermões exortavam os leigos a que levassem uma vida nos moldes dos
princípios cristãos. “Foi mais de um século depois de sua morte que sua
grandeza como pregador veio a ser reconhecida, e foi então que recebeu a
alcunha de Crisóstomo, “boca de ouro”; e geralmente, e com justa razão,
considerado o maior orador de púlpito da Igreja grega”. 49
Eis aí um exemplo de pregador contextualizado ao seu povo. Ele
recebeu o título de “Crisóstomo” cerca de 100 anos após a sua morte, face ao
respeito que conquistou com seus sermões, tratados e cartas publicadas.
WALKER assim o define:
Durante doze anos foi o grande pregador de
Antioquia e, provavelmente, o maior que a Igreja
oriental já possuiu. Seus sermões eram
exegéticos e eminentemente práticos. Fascinava
nele a compreensão simples e gramatical das
Escrituras, sempre cultivada em Antioquia, de
preferência a interpretação alegórica
característica de Alexandria. Seus temas eram
eminentemente sociais: o comportamento do
cristão na vida. Em breve formou-se um grande
grupo de seus seguidores. Tamanha era a fama
de Crisóstomo que, vagando a sé de
Constantinopla, ele foi praticamente obrigado
por Eutrópio, o favorito do Imperador Arcádio, a
aceitar o bispado da capital em, 398. 50

48 FERREIRA, Franklin, op. cit. , p. 99.


49 STOTT, John, loc. cit.
50 WALKER, Williston. História da Igreja Cristã. Rio de Janeiro: JUERP, 1981, p. 188.
82

A história nos conta que Crisóstomo morreu no exílio, nas montanhas da


Ásia Menor.

12.1.3 Agostinho

Outro personagem sobre o qual pouco se fala a respeito de sua obra


foi Agostinho, bispo de Hipona, filósofo e teólogo, apontado como o maior dos
pais da Igreja, deixou mais de 100 livros e 500 sermões, bem como 200 cartas.
Os cristãos, através dos tempos, têm sido abençoados com a leitura de suas
obras. No entanto, nos últimos anos percebe-se que esses homens têm-se
tornados desconhecidos do povo, especialmente suas obras de teologia como
a De trenitate ( sobre a trindade).
Agostinho é visto pelos protestantes como um precursor das idéias da
Reforma, com sua ênfase sobre a salvação do pecado original e atual como
resultado da graça de um Deus soberano que salva irresistivelmente aqueles
que elegeu.
Entre Paulo e Lutero, a Igreja não teve ninguém da estatura moral e
espiritual de Agostinho. ”A ele, mais do que a qualquer outro personagem,
deveu-se a superioridade que a vida religiosa no Ocidente veio a ter sobre a do
Oriente”. 51
Tido por muitos como o maior teólogo da antiguidade, converteu-se em
Milão em meio a uma exortação ouvida por acaso num jardim, tirada de
Romanos 13.13-14; foi batizado por Ambrósio em 387. “Os sermões de
Ambrósio foram um dos instrumentos que Deus usou para sua conversão”. 52
Antes de sua conversão, fora mestre de retórica; por isso, em suas
obras podem ser encontradas muitas instruções quanto à oratória,
especialmente na obra De Proferendo, um dos quatro livros que constituem a
sua Doctrina Christiana. Dela é possível retirar o conceito de “ótimo pregador”
de Agostinho: “É aquele de quem a congregação ouve a Verdade,
compreendendo o que ouve”. Para Agostinho a vitória do pregador consistia
em levar o ouvinte a agir. A pregação atraente devia ser temperada de sã
doutrina e gravidade.
Agostinho foi ordenado bispo em Hipona, no norte da África, em 395.
Dentre seus escritos merece atenção especial as suas Confissões, uma
autobiografia onde conta a Deus, em oração, suas lutas e peregrinação. É tida
como uma obra única em seu gênero na Antigüidade. Outra obra a destacar é
A Cidade de Deus, escrita sob a motivação da queda da cidade de Roma, em
410, e tida como a maior de todas as suas obras literárias. Nesta, Agostinho
responde àqueles que afirmavam que Roma havia caído porque se entregara
ao cristianismo e abandonado os velhos deuses que a tinham feito grande.

51 WALKER, Williston, op. cit., p. 231.


52 GONZALES, Justo. A era dos Mártires. São Paulo: Vida Nova, 1991, Vol.2. p. 142.
83

Seu livro De Doctrina Christiana foi o primeiro livro didático sobre


pregação. O quarto tomo da De Doctrina Christiana trata exclusivamente da
arte da pregação. Agostinho enfoca a mensagem fundamental do cristianismo,
como decodificá-la e finalmente como comunicá-la a outros. Este manual foi o
texto principal usado para a pregação durante toda a Idade Media. “Agostinho
foi o primeiro teórico da homilética”. 53
Seus sermões eram exposições dos livros bíblicos, mais notavelmente
os Salmos e o Quarto Evangelho. Agostinho pregou tanto sermões lectio
selecta como lectio continua. Todos falados diretamente ao povo, insistindo
sobre a necessidade de examinar suas vidas à luz do Evangelho e de
conformá-las a ele. Não pregou para impressionar o povo, mas para levá-lo
para o céu.
Agostinho, acima de tudo, era um pregador notável e um exegeta que
moldou certos aspectos da pregação tanto em seus dias como hoje. Agostinho
é conhecido no ocidente como, possivelmente, o maior orador do cristianismo
entre Paulo e Martim Lutero. “Spurgeon chamou Agostinho de “pedreira que
todo pregador já escavou”, E cita um provérbio antigo que dizia: Um sermão
sem Agostinho é como carne cozida sem toicinho”. 54
Agostinho pregou sem manuscrito ou notas. Acredita-se que pregou
cerca 8.000 sermões, cerca de 685 de seus sermões foram preservados. Sua
pregação era altamente doutrinária. Podia até chorar no púlpito. O conteúdo
para Agostinho era mais que a forma. “O conteúdo é o fundamento, mas o
expositor cristão deve combinar sabedoria com eloqüência”. 55
Ele acreditava, como Cícero, que o propósito do orador é “ensinar,
agradar, comover e dentre estes ensinar é o mais essencial”. Em outras
palavras, Agostinho enfatiza os objetivos da pregação como: a) docere
(ensinar), b) delectare (agradar, alegrar), e c) flectare (influenciar). Deste modo,
o fundamento para as reflexões intelectuais, emocionais e intencionais é
colocado pela pregação.

12.2 A pregação do século IV até os reformadores

A partir do século IV, há um declínio da pregação devido ao surgimento


do monasticismo dentro da Igreja. Vários fatores contribuíram para este
surgimento, mas um dos mais fortes foi a influência filosófica.
A doutrina dualista da carne e do espírito, com sua tendência a
considerar má a carne e bom o espírito, influenciou o cristianismo através dos
movimentos gnóstico e neoplatonista. A saída do mundo, pensava-se, ajudava
a pessoa a crucificar a carne e desenvolver a vida espiritual pela meditação e
pela ascese.
53 LOPES, Hernandes Dias, op. cit. , p. 43.
54 LOPES, Hernandes Dias, op. cit. , p. 44.
55 LOPES, Hernandes Dias, loc. cit.
84

Determinadas tendências psicológicas fortaleceram o desejo por uma


vida monástica. Em momentos de crise, há sempre uma tendência para o retiro
das adversas condições da vida.
O número cada vez maior de bárbaros a abarrotar a Igreja trouxe
muitas práticas semi-pagãs para dentro da Igreja. Os mosteiros se tornaram
refúgios para os que se isolavam da sociedade corrompida da época. Não
podemos deixar de considerar a contribuição dos monges neste período da
história. Os maiores líderes da Igreja medieval vieram dos mosteiros. No
entanto, com o afastamento desses homens para o claustro, houve um rápido
desenvolvimento de uma organização hierárquica centralizada na Igreja, isto
porque os monges deviam obediência aos superiores que, por sua vez,
obedeciam ao papa.
Na Igreja primitiva, o bispo era considerado um dos muitos bispos
iguais entre si em posição, autoridade e função. No período compreendido
entre 313 e 590, o bispo romano passou a ser reconhecido como o primeiro
entre os iguais. A partir, porém, da ascensão de Gregório ao trono episcopal
em 590, o bispo romano começou a reivindicar a supremacia sobre os outros
bispos. A união entre a Igreja e o Estado com Constantino e seus sucessores
provocaram a secularização da igreja.
A vinda dos pagãos para a Igreja, através dos movimentos de
conversão em massa contribuiu para a paganização do culto quando a Igreja
procurou adaptar-se à nova realidade, visando deixar à vontade estes bárbaros
convertidos. Esta entrada de pagãos, muitos dos quais eram cristãos apenas
nominalmente, obrigou a Igreja a convocar o Estado para ajudá-la na
manutenção da disciplina com o uso do poder civil para punir as faltas
eclesiásticas.
A disciplina afrouxou-se na Igreja porque suas fontes de recursos
provinham em grande parte dos bárbaros. A afluência dos bárbaros e o
crescimento do poder episcopal provocaram muitas mudanças no culto. Para
que os bárbaros, acostumados com os cultos às imagens, pudessem ser
realmente assistidos pela Igreja, muitos líderes eclesiásticos entenderam ser
necessário materializar a liturgia para tornar Deus mais acessível a estes fiéis.
A veneração de anjos, santos, relíquias, imagens e de estátuas foi uma
consequência lógica deste procedimento. Neste período, aumentou o número
de cerimônias que passariam a ter funções sacramentais se afastando cada
vez mais das Escrituras.
Ao final do século VI, todos os sete atos que a Igreja Católica
Apostólica Romana considera sacramentos estavam em uso e ocupavam uma
posição elevada no culto. Este período é considerado como o vale de sombra
em que a Igreja pura da era antiga foi corrompida. Neste período, há um
grande declínio na pregação que vai até o século XI.
Nos séculos XII e XIII, houve uma recuperação no prestígio da
pregação. Os motivos desta mudança são as reformas na vida do clero,
instituídas pelo papa Gregório VII; o avivamento intelectual resultante do
85

escolasticismo e que elevou o conteúdo da pregação; a pregação; a


propagação de seitas heréticas que faziam uso da pregação – o que
constrangeu a Igreja Católica a reagir; as cruzadas, que utilizavam a pregação
na mobilização das massas populares, e o uso crescente do idioma popular na
pregação.
Apesar desta recuperação, este período da história da pregação ainda
foi marcado pelos erros, dentre os quais se destaca o uso do material
extrabíblico como se bíblico fosse.
Com o surgimento das ordens missionárias dos Franciscanos e
Dominicanos, no século XIII, a pregação ganha mais notoriedade. “A história do
púlpito conforme conhecemos começa com os frades pregadores. Satisfaziam
e estimulavam a exigência popular crescente de sermões. Revolucionavam o
ofício”. 56
Alguns pregadores se destacam neste período. Um deles é Humberto
de Roma, um dos maiores ministros da ordem. Uns cem anos depois um
grande pregador franciscano chamado Bernardinho de Siena fez esta
inesperada afirmação: “Se destas coisas você puder fazer somente uma – ou
ouvir a missa ou ouvir o sermão – você deve dispensar a missa, e não o
sermão (...) existe menos perigo para sua alma em deixar de ouvir a missa do
que em deixar de ouvir o sermão”. 57
Destaca-se também o inglês John Wycliffe (1329-1384), igualmente
realçado como um pregador “prático, que se dedicou ao cuidado das almas”.
Wycliffe declarou, num ataque à autoridade do papa em 1382, que
Cristo e não o papa era o chefe da Igreja. Afirmou ainda que a Bíblia e não a
Igreja era a autoridade única para o crente e que a igreja Romana deveria
modelar-se segundo o padrão da Igreja do Novo Testamento.
Wycliffe afirmava que todos os sermões que não tratassem das
Escrituras deviam ser rejeitados. “Proclamou as Escrituras Sagradas como a
autoridade suprema na fé e na vida. Era pregador bíblico diligente e, com base
nas Escrituras, atacava o papado, as indulgências, a transubstanciação e as
riquezas da Igreja. Não tinha dúvida de que a vocação principal do clero era
pregar”. 58
Outros pregadores deste período podem ser destacados como; John
Huss (1371-1415), Jerônimo Savonarola (1452-98), Ulrich Zwinglio (1484-
1531). Graças a homens como estes, a reforma foi consolidada sobre o
alicerce da Palavra de Deus. “Todos foram perseguidos por causa da sua
pregação, mas Huss e Savonarola foram mortos pela igreja”. 59
No final dos séculos XIV e XV, houve um novo declínio na ênfase da
pregação, quando esta deixou de priorizar a população, dando lugar ao
intelectualismo árido do escolasticismo.

56 STOTT, John, op. cit., p. 22.


57 STOTT, John, loc. cit.
58 STOTT, John, op. cit., p. 23.
59 LOPES, Hernandes Dias, op. cit. , p. 45.
86

Além disso, contribuiu para isto o período de estabilidade pelo qual


passava a Igreja Católica, sem as ameaças hereges. “Muitos argumentam que
a pregação durante esta época foi ineficaz por ter dependido cada vez menos
das Escrituras e cada vez mais dos pontos de vista dos concílios e teólogos”.
60

12.3 A pregação da Reforma até o século XVI

Um novo despertamento da pregação aconteceria com a Reforma. A


dedicação dos reformadores ao estudo das Escrituras é algo a ser destacado
nesse período. A Reforma deu centralidade ao sermão. O púlpito ficava mais
alto que o altar, pois Lutero sustentava que a salvação era mediante a Palavra.
Foi sobre o alicerce da centralidade da Bíblia que a Reforma foi
construída. Um dos grandes pilares da Reforma é a sola scriptura, a
supremacia da Bíblia sobre a tradição e os sacramentos. A autoridade da Igreja
deve ser inferior a das Escrituras. “A reforma foi uma volta à Palavra de Deus.
“Os reformadores compreendiam que a Escritura é a Palavra de Deus.” 61
Reforçando esta crença está o fato de que com o Movimento da
Reforma houve um retorno à pregação de alto nível. Todos os grandes
reformadores, Lutero, Calvino, Knox, Wesley, Savonarola, fizeram uso da
pregação para expor seus pontos de vista e incentivar seus seguidores.

12.3.1 Lutero

Martinho Lutero é outro expoente da história da Igreja. Nascido em


1483, um homem simples de origem camponesa que era formado em filosofia e
doutor em teologia.
Descobriu ao estudar a Bíblia que o homem é justificado somente pela
fé. (Romanos 1.17). E, a partir daí, a justificação pela fé e a sola scriptura, a
ideia pela qual as Escrituras são a única autoridade para o pecador procurar a
salvação, tornaram-se os principais pontos do seu sistema teológico. Em 31 de
outubro de 1517, Lutero afixou suas 95 teses na porta da Igreja do castelo de
Wittenberg.
Em outono de 1518, Lutero dizia que para ele a única autoridade no
debate que se aproximava não seria nem o papa nem a Igreja, mas a Bíblia.
Afirmou ainda através do panfleto “sobre a liberdade do homem cristão”, onde
atingia diretamente a teologia da Igreja Romana, ao afirmar o sacerdócio de
todos os crentes como resultado da fé pessoal em Cristo.
Lutero traduziu o Novo Testamento para o alemão em menos de um
ano.

60 NORTH, Stafford, op. cit., p. 15.


61 LOPES, Hernandes Dias, loc. cit.
87

Lutero recolocou a pregação em seu devido lugar, restabelecendo um


meio de instrução espiritual largamente usado na Igreja primitiva. Ademais,
levou sua geração a perceber que a cultura espiritual não era uma questão de
razão, mas da regeneração pela fé em Cristo. Para substituir a Igreja como
autoridade, ele apresentou a Bíblia como a regra de fé e prática infalível que
todo crente-sacerdote pode usar para se orientar em questões de fé e moral. A
Reforma marca um avivamento na pregação.
MACARTHUR JR.destaca que:

E a Reforma se edificou sobre o fundamento da


centralidade da Bíblia. Princípios tais como sola
Deo Gloria (A Deus seja a glória) e especialmente
sola scriptura (somente as Escrituras) vieram
como resultado do estudo e do ensinamento da
Palavra. 62

Como fatores mais importantes deste avivamento houve uma nova


ênfase na pregação como um elemento vital na vida e na adoração, tendo a
mensagem proferida por um pregador voltado ao lugar que a missa havia
ocupado.
Além disso, acrescenta-se a influência da pregação na luta contra os
erros patrocinados pela Igreja Papal, a volta da utilização do texto bíblico na
pregação e o refinamento dos métodos homiléticos até então utilizados.
Os precursores anabatistas, além de Lutero, Calvino e Zwinglio,
atestam o restabelecimento da prioridade da pregação.
Neste período, surgem obras no campo da Homilética que merecem
destaque, como a Ratio Brevíssima Concionandi, de Felipe Melanchton (1517)
e que, em sua primeira parte discorre sobre as várias partes do discurso
(exórdio, narração, preposição, argumentos, confirmação, ornamentos,
amplificação, confratação, recapitulação e peroração). Em seguida, enfoca a
maneira de desenvolver temas simples, depois como trabalhar com temas
complexos, e assim por diante.
Outra obra Homilética, é o Ecclesiastes, Sive Concionator Evangelicus,
de Erasmo (1466-1536), que se dividiu em quatro livros: o primeiro sobre a
dignidade, piedade, pureza, prudência e outras virtudes que o pregador deve
cultivar; o segundo sobre estudos que o pregador deve fazer; os demais sobre
figuras do discurso e o caráter do sacerdócio.
Embora Martinho Lutero (1483-1546) não tenha escrito uma obra
específica sobre a arte de pregar.
MACARTHUR JR. destaca o que Lutero ensinava:
Que a pregação deve ser simples, não erudita. Eu
também falo acerca de como pregar em três

62
MARCATHUR, John Jr, op. cit., p. 64.
88

breves passos: primeiro deve aprender a subir


no púlpito; segundo, deve saber que deve estar
ali por um tempo. Terceiro, deve aprender a
humilhar-se novamente. 63

Martinho Lutero, também ensinava, que o bom pregador deve saber


ensinar com clareza e ordem. Deve ter uma boa inteligência, uma boa voz,
uma boa memória. Deve saber quando terminar deve estudar muito para saber
o que diz. Também enfatizava a preparação espiritual do pregador, insistindo
que orar bem é estudar bem. O pregador deve estar pronto a arriscar a vida, os
bens e a glória, pela Verdade. Não deve levar a mal o enfado e a crítica de
quem quer que seja.
Lutero considerava a pregação como o trabalho mais importante do
mundo. A pregação, para ele, era o meio de salvação, por não ser uma simples
atividade humana, mas a própria Palavra de Deus proclamando a si mesma
mediante o pregador. “Minha consciência é cativa da Palavra de Deus. Eu
simplesmente ensinei, preguei, escrevi a Palavra de Deus; nada fiz além disso.
(...) A Palavra fez tudo”. 64
Lutero cria que a Palavra de Deus se manifesta de três maneiras: Deus
Filho (a Palavra encarnada), a Bíblia (a Palavra escrita) e a pregação (a
Palavra proclamada). Em vista da relação íntima entre o Filho e a Bíblia, Lutero
acreditava que todo o propósito da Escritura era revelar Cristo.
Para Lutero a Palavra de Deus é indispensável para nossa vida
espiritual. A alma pode dispensar todas as coisas, menos a palavra de Deus.
Se ela possui a Palavra, é rica, e nada lhe falta, visto que essa Palavra é a
Palavra da vida, da verdade, da luz, da paz, da justiça, da salvação, da alegria,
da liberdade.
Assim é, porque a Palavra se centralizava em Cristo. Daí a
necessidade de pregar Cristo com base na Palavra, pois pregar a Cristo
significa alimentar a alma, torná-la justa, libertá-la e salvá-la, se ela crer na
pregação. A Igreja deve sua vida à Palavra da promessa, e é nutrida e
preservada por essa mesma Palavra. “Em todas as suas escritas, Lutero não
perdia nenhuma oportunidade de engrandecer o poder libertador e sustentador
da Palavra de Deus”. 65
Lutero era um poderoso expositor das Escrituras e cria que o texto
devia controlar o sermão. Pregar fazia parte integrante de seus deveres. Ele
começou pregando no monastério e continuou na universidade,
freqüentemente na Town Church, e, às vezes, na estrada ou em viagens
marcadas. Calcula-se que tenha pregado entre 4.000 e 10.000 vezes.

63 MACARTHUR, John Jr, op. cit., p. 66.


64 LOPES, Hernandes Dias, op. cit., p. 46.
65 STOTT, John, op. cit., p. 24.
89

Percebe-se nestes conselhos de Lutero a preocupação de tornar a


mensagem compreensível ao povo mais simples que compõe a Congregação.
Esta é uma das características principais dos reformadores deste período.
Outro pregador significativo da Reforma foi João Calvino.

12.3.2 Calvino

Com relação a João Calvino (1509-1564), que foi pastor da Église St.
Pierre, em Genebra, na Suíça, pode-se destacar sua obra literária que foi
amplamente distribuída e lida em todas as partes da Europa e que influenciou
grandemente o movimento reformador.
Como teólogo e pastor, Calvino deu prioridade ao ensino das
Escrituras, tendo escrito comentários sobre 23 livros do Antigo Testamento e
sobre todos os livros do Novo Testamento, menos Apocalipse. Suas Institutas,
obra composta de 79 capítulos e completada em 1559, é o principal de seus
escritos. “Toda sua tarefa está limitada ao ministério da Palavra de Deus, toda
sua sabedoria ao conhecimento de sua Palavra. Toda sua eloquência a sua
proclamação”. 66
Como Homilético, Calvino considerava a pregação como a explicação
das Escrituras. As palavras das Escrituras são a fonte do conteúdo da
pregação. “O expositor mais importante da Reforma foi João Calvino.” 67 .
Segundo Calvino, as Escrituras não precisam conformar-se à pregação; a
pregação é que deve conformar-se às Escrituras.
Como intérprete, Calvino explicava o texto, buscando o seu sentido
natural, verdadeiro e bíblico. Calvino considerava que a principal tarefa do
pregador era expor as Escrituras Sagradas, as quais são, por assim dizer, a
voz do próprio Deus.
Como exegeta, ele abandonou a semelhança de Lutero, a
hermenêutica medieval e suplicou: “não usem alegorias fantasiosas, o
pregador é o servo da mensagem”. Conhecia os idiomas originais das
Escrituras. Quando pregava sobre o Antigo Testamento, traduzia seu texto
diretamente do hebraico. Quando pregava sobre o Novo Testamento, pregava
com base no grego original. Tinha um Antigo Testamento hebraico ou um Novo
Testamento grego a sua frente e pregava sem quaisquer anotações.
Calvino não só explicou as Escrituras, como também as aplicou.
Enquanto explicava a Escritura palavra por palavra, ele a aplicava sentença por
sentença à vida e experiência da sua congregação. Cada um dos seus
sermões durava cerca de uma hora. Ele usava linguagem simples e direta.
Apreciava o estudo de palavras, mas nunca citava o hebraico ou o grego no
sermão.

66 MACARTHUR, John Junior, op. cit., p. 67.


67 LOPES, Hernandes Dias, op. cit. , p. 47
90

FERREIRA comenta sobre Calvino:


Calvino é, reconhecidamente, um grande
exegeta, tido por alguns como o pai da exegese
moderna da Bíblia. Verifica-se nos seus sermões
uma combinação admirável do teólogo, exegeta e
pastor; pois que suas mensagens, calcadas nas
Escrituras, têm sempre uma aplicação prática às
necessidades dos seus ouvintes. 68

Calvino enfatizou o fato da primeira e principal marca da verdadeira


Igreja ser a pregação fiel da Palavra dizendo: “Onde vemos a Palavra de Deus
pregada e ouvida com pureza, existe ali, sem, dúvida alguma, uma Igreja de
Deus”.
LOPES assim comenta sobre Calvino
Calvino entendia a pregação como a vontade de
Deus para a Igreja, um sacramento da sua
presença salvadora e um trabalho tanto humano
como Divino. A Palavra de Deus pregada é o
cetro pelo qual Cristo estabelece continuamente
seu domínio ímpar e espiritual sobre a mente
e o coração do seu povo. Para Calvino, o púlpito
é o trono de Deus, do qual Ele quer governar
nossas almas. 69

Como ministro titular em Genebra, Calvino pregou duas vezes aos


domingos e todos os dias da semana em semanas alternadas de 1549 até sua
morte em 1564. Pregou mais de dois mil sermões só do Antigo Testamento.
Passou um ano fazendo exposição de Jó e três anos em Isaías. Foi calculado
que Calvino pregou pessoalmente uma média de 290 sermões por ano.
Calvino seguiu o método de pregação lectio continua. Ele ensinava
geralmente três a seis versículos de cada vez. Este sistema produziu, por
exemplo, 134 sermões sobre Gênesis, 200 sobre Deuteronômio, 159 sobre Jó,
176 sobre I e II Coríntios e 43 sobre Gálatas. Em mais de vinte anos como
pregador em Genebra, Calvino deve ter pregado sobre quase toda a Bíblia.
Dentre outras coisas, Calvino é tido como um pregador preocupado
com a delimitação do verdadeiro papel da Igreja na sociedade, sua pregação
levou a Igreja de Genebra a batalhar contra os juros elevados, a lutar por
oportunidades de empregos e tudo aquilo que era pertinente a uma sociedade
secular mais humana. Tendo sido precursor de um grande impacto na
sociedade de sua época.
LOPES observa:

68 FERREIRA, Franklin, op. cit. , p. 268.


69 LOPES, Hernandes Dias, op. cit. , p. 50.
91

A influência de Calvino no século dezesseis não


foi só devido aos seus escritos, conselhos e
ensinamentos, mas também ao que Genebra se
tornou sob a sua influência. Genebra
transformou-se num retrato vivo do Reino dos
Céus na terra. Estudantes chegavam de todas as
partes do mundo para estudar e ser treinados
para o ministério do Evangelho. Genebra tornou-
se uma cidade de grande importância. Ela atraía
pessoas. 70

Calvino acreditava no valor da Palavra de Deus e na pregação como


instrumento eficaz escolhido pela providência Divina para acomodar a sua
mensagem ao entendimento limitado humano.
Os seus sermões eram sempre cruciantes, pesados e decisivos. O
centro, porém, da sua atenção era a vontade de Deus, era a revelação da face
de Deus e o empenho em trazer o ouvinte à presença do Senhor. Fosse à
pregação da mais profunda doutrina ou em assunto da vida prática.

12.4 A pregação do século XVI até o século XX

12.4.1 Séc.XVI – XVII (Os puritanos)

A ênfase dada pelos reformadores continuou através dos puritanos.


“Os puritanos são os herdeiros legítimos da Reforma”. 71 Os puritanos
destacavam a pregação como marca distintiva do verdadeiro cristianismo.
O puritanismo foi um movimento de renovação que incentivou as
gerações a voltar-se para Deus. O puritanismo começou com Richard
Greenham e Richard Rogers no fim da década de 1570 e início de 1580, e foi
continuado e desenvolvido por William Perkins (1558-1602), que escreveu “A
arte de profetizar”, publicado em 1606, que foi o primeiro manual para
pregadores da Igreja na Inglaterra.
Os puritanos viveram numa era turbulenta e se fortaleceram debaixo de
terríveis opressões, perseguições e martírio. Eles criam na soberania de Deus,
na supremacia das Escrituras e na primazia da pregação.
Seu estilo de vida era superlativo. Os puritanos foram a geração mais
culta da história. Legaram à Igreja a maior biblioteca teológica da história.
Receberam o nome de puritanos na Inglaterra porque buscaram a pureza da
doutrina, liturgia, governo e vida. Viviam para a glória de Deus. Receberam

70 LOPES, Hernandes Dias, op. cit. , p. 51.


71 LOPES, Hernandes Dias, op. cit. , p. 51.
92

diferentes nomes. Na França foram chamados de huguenotes; na Holanda,


reformados; na Escócia, presbiterianos; e, na Inglaterra, puritanos.
Os puritanos criam, em primeiro lugar, na suprema autoridade das
Escrituras como Palavra de Deus, para eles os escritos da Bíblia são as
próprias palavras de Deus. Os puritanos criam que a pregação era a melhor
maneira de ensinar a Verdade, eles diziam que o texto é a Palavra de Deus
resumida; a pregação é a Palavra de Deus ampliada. Para os puritanos, a
pregação era central e a coisa mais importante de todas. “De fato a história
do cristianismo é a história da pregação”. 72
Para os puritanos, a pregação deveria promover três propósitos; a
conversão das almas dos homens a Deus; a edificação dos convertidos; e
propiciar o aumento da luz, conhecimento, piedade, rigor e produtividade da
conversão nos membros da comunidade da fé.
Os puritanos colocam o púlpito no centro do templo, mostrando a
centralidade e primazia da pregação. Consideravam a pregação central porque
a verdadeira pregação é a exposição da palavra de Deus.
Defenderam também que o sermão é mais importante do que os
sacramentos ou quaisquer cerimônias, inclusive mais importante do que a
liturgia.
Além disso, argumentaram que a pregação é a maneira bíblica de
promover a santidade. Os puritanos de acordo com principio bíblico visto em
At.6.4, foram unânimes em dizer que a principal tarefa do Pastor era pregar “o
âmago da questão é este: pregar a Cristo, por Cristo, para o louvor de Cristo”.73
Os puritanos pregavam com grande ardor e sentido de urgência. Eles,
algumas vezes, pregavam durante várias horas de cada vez, crendo que
nenhuma grande verdade bíblica pode ser apresentada em menos de uma ou
duas horas. Os ministros puritanos pregavam em qualquer lugar de três a cinco
sermões por semana, além de ensinar o catecismo.
Um dos aspectos mais atraentes da pregação puritana era a sua
ênfase na aplicação prática da doutrina à vida. Para os puritanos, a aplicação é
a vida da pregação. O objetivo do pregador puritano era tornar seus ouvintes
melhores cristãos. Os puritanos consideravam o Evangelho como remédio para
a alma.
O sermão puritano era um trabalho de arte, mas era também
transmitido no poder do Espírito Santo. “Assim como a pregação, a oração é
força motora na realização da nossa obra, pois quem não ora por seu rebanho
não lhe pregará poderosamente”. 74
Entre os pregadores puritanos se destacam Joseph Hall (1574-1656),
Thomas Goodwin (1600 – 1680), Richard Baxter (1615-1691), John Owen
(1616-1683), Tomás Manton (1620-1677), John Bunyan (1628-1688). Estes
pregadores demonstraram grande habilidade como expositores: não colocaram

72 LOPES, Hernandes Dias, op. cit. , p. 52.


73 LOPES, Hernandes Dias, op. cit. , p. 54.
74 BAXTER, Richard. O Pastor Aprovado. São Paulo: PES, 1996, p. 40.
93

doutrina acima da Palavra, não começaram com doutrina e depois encontraram


um texto que se ajustasse a ela. Pelo contrário, começando pela Palavra
encontraram a doutrina no texto.
LOPES nos informa:
William Perkins (1558-1602) ao escrever A arte de
profetizar, que foi o primeiro manual para
pregadores da Inglaterra, listou quatro princípios
que deveriam guiar e controlar o pregador: 1) Ler
o texto claramente nas Escrituras canônicas; 2)
Explicar o seu sentido, depois de lido, de acordo
com as Escrituras; 3) Reunir alguns pontos de
doutrina proveitosos, extraídos do sentido
natural da passagem; e 4) aplicar as doutrinas
explicadas à vida e prática da congregação em
palavras simples e diretas. 75

Richard Baxter, o autor do livro “O pastor aprovado”, destacou-se por


exemplificar de modo consistente os ideais expostos pelo puritanismo. Sentia-
se oprimido pela ignorância, pela preguiça e licenciosidade do clero. Ele
ensinava individualmente os membros de sua igreja por meio de
aconselhamento pastoral, e os catequizava sistematicamente, isto é, ensinava-
os pelo método de pergunta e resposta no cristianismo básico.
STOTT descreve assim a metodologia de Baxter:
A Metodologia didática de Baxter era dupla. Por
um lado, foi pioneiro da prática de catequizar as
famílias. Visto que havia cerca de oitocentas
famílias na sua paróquia, e, já que desejava
informar-se a respeito do progresso espiritual
delas, pelo menos uma vez por ano, ele e seus
colegas somados convidavam aos seus
respectivos lares quinze ou dezesseis famílias
por semana. Os membros eram convidados a
recitar o catecismo, eram ajudados a
compreendê-lo e respondiam a perguntas a
respeito da sua experiência das verdades
aprendidas. Esse catequizar ocupava Baxter
durante dois dias inteiros da semana, e era uma
das partes essências da sua obra. Mas a outra
parte, “aspecto sumamente excelente” era a “
pregação pública da Palavra”.76

75 LOPES, Hernandes Dias, op. cit. , p. 54.


76 STOTT, John, op. cit., p. 31.
94

12.4.2 Séc. XVIII (os avivalistas)

Após o período puritano, entramos no período dos grandes


reavivamentos onde se destacaram Wesley e Whitefield.
Sobre estes dois pregadores STOTT comenta:
Embora Wesley se tenha tornado mais conhecido
ao público o que seu contemporâneo mais
jovem, George Whiefield (provavelmente por
causa da denominação cristã de alcance mundial
que leva o nome de Wesley), Whitefield era quase
certamente o pregador mais poderoso entre os
dois. Na Grã-Bretanha e na América (que visitou
sete vezes), dentro e fora de casa, ele fez uma
media de vinte sermões por semana durante 34
anos. Eloquente, zeloso, dogmático, fervoroso,
ele enriquecia sua pregação com metáforas
vividas, ilustrações simples e gestos dramáticos.
77

George Whitefield nasceu em Gloucester, em 16 de dezembro de


1714, foi ordenado bispo em 20 de junho de 1736, na idade de 21 anos. Ele
veio a Londres em agosto de 1736. Seu primeiro sermão em Londres foi
pregado em Bishopgate. No momento em que começou a pregar atraía a
atenção, e atraía multidões. Ele era um homem que pregava com todo o seu
ser, com autoridade e convicção; “tinha total confiança na autoridade da sua
mensagem e exigia que ela recebesse o respeito que merecia como a Palavra
de Deus”. 78
Todas as vezes que pregava as igrejas ficavam superlotadas. Quando
se ouvia que ele estava nas imediações e ia pregar, lojistas fechavam
imediatamente suas lojas, pois tinham que ouvi-lo. Ele conseguia um auditório
com milhares a qualquer hora do dia e da noite. “Os diários de Whitefield, bem
como as diversas biografias que têm sido escritas a seu respeito, contêm
intermináveis narrativas de quão cônscio ele era da descida do Espírito de
Deus sobre ele quando pregava”. 79
Na América, num inverno muito intenso, as pessoas costumavam ficar
de pé aos milhares ouvindo este homem pregar o Evangelho, e os ouvintes
percorriam longas distâncias para terem a oportunidade e privilégio de ouvi-lo.
Outro pregador a ser destacado foi John Wesley. John Wesley, após
sua conversão, influenciado pela leitura de Richard Baxter, encorajava um
ministério de casa em casa e a catequização dos convertidos. Mas a pregação
77 STOTT, John, op. cit., p. 34.
78 STOTT, Jhon, op. cit., p. 34.
79 LlOYD- JONES, D. Martyn. Pregação e Pregadores. São Paulo: Fiel, 1986, p. 235.
95

era seu ministério característico. Nas igrejas e nos seus respectivos cemitérios,
nas áreas verdes públicas das aldeias, nos campos e nos anfiteatros naturais,
proclamava o Evangelho e oferecia Cristo às vastas multidões que se reuniam
para escutá-lo.
RAVENHILL comenta:
“Um dos seus críticos disse que ele e seus tolos
pregadores leigos, esses grupos de funileiros,
garis, carroceiros e limpadores de chaminés
estão saindo por aí a envenenar a mente das
pessoas”. 80

A fim de pregar o Evangelho aos pobres, ele estava disposto a romper


com as convenções religiosas que também caracterizavam sua própria vida
bem disciplinada.
A fim de levar uma mensagem de libertação, restauração e liberdade
em Cristo as pessoas que nunca tinham ouvido essa mensagem, Wesley
pregaria ao ar livre e se sujeitaria a ser mais desprezível. “George Whitefield e
o galês Howell Harris haviam sido pioneiros da pregação ao ar livre, mas foi
João Wesley que se tornou o grande organizador do evangelismo itinerante em
campo aberto”. 81
Em todo o tempo o seu material de estudo era Bíblia, pois sabia que o
propósito supremo dela era apontar para Cristo e iluminar seus leitores no
caminho da salvação. Reafirmava vigorosamente a mensagem central do
protestantismo: a salvação era somente pela graça e somente através da fé,
conforme comunicada com perfeita autoridade nas Escrituras.
Wesley pregava, baseando-se nas suas meditações bíblicas, e
compartilhava com outros aquilo que descobrira e indicava o caminho, tanto
para o céu quanto para a santidade.
Wesley viajou constantemente para difundir as boas novas da graça
em Cristo. Suas viagens missionárias o levaram por cerca de 380 mil km (a
maior parte a cavalo) ele pregou 40 mil sermões (ou seja, uma média de mais
de dois por dia).
Wesley pregou em condições desfavoráveis e freqüentemente diante
de ruidosa oposição, às vezes ao ar livre, geralmente muito cedo ou ao cair da
noite, frequentemente era apupado pela multidão ou hostilizado pela elite.
“Somente após 70 anos trocou seu cavalo por uma carruagem.” 82
Merece destaque também o nome de Jonathan Edwards (1703-1758).
Foi um dos mais poderosos já ouvidos nos Estados Unidos. Jonathan Edwards
exerceu grande influência sobre a literatura dos Estados Unidos e que, em
certo sentido, foi um precursor do movimento da literatura inglesa. Edwards foi

80 RAVENHILL, Leonard. Por que tarda o pleno Avivamento? Belo Horizonte: Betânia,1989, p.
55.
81 FERREIRA, Franklin, op. cit. , p. 356.
82 FERREIRA, Franklin, op. cit. , p. 357.
96

um fenômeno no púlpito. Ele era, ao mesmo tempo, um vigoroso teólogo e um


grande evangelista. “Era filosofo, teólogo e reavivalista, assim como pregador
poderoso”. 83
Era pregador expositivo. Sempre começava com um texto. Não fazia
preleções sobre verdades cristãs. Ele nunca tomava meramente um tema e
falava sobre ele, exceto quando estava expondo uma doutrina. Ele era sempre
expositivo.
Quando pregou “pecadores nas mãos de um Deus Irado”, em Enfield,
em 8 de julho de 1741, os ouvintes choraram tão alto que o sermão mal podia
ser ouvido. Em terrível agonia, alguns se contorceram no carpete, outros
tentaram subir nos pilares da igreja para não escorregaram para o inferno.
Tanto negros como índios foram tocados pelo reavivamento. Ao todo,
converteram-se quatrocentas pessoas.

12.4.3 Séc.XIX (os grandes pregadores)

O século dezenove experimentou grandes despertamentos na


Inglaterra, Escócia, País de Gales e América do Norte, mas, por outro lado, a
Igreja sofreu grande perseguição ideológica. Nacionalismo, evolucionismo,
materialismo e liberalismo teológico produziram grande devastação na Igreja. O
iluminismo com seu ponto de vista centrado no homem considerou a razão
humana como juiz supremo de tudo, rejeitou os milagres, a revelação e as
doutrinas sobrenaturais como a encarnação e a redenção.
STOTT. Define claramente esta situação:
Durante todo o século dezenove, apesar dos
ataques da alta crítica contra a Bíblia
(associados com o nome de Julius Wellhausen,
seus contemporâneos e sucessores) e apesar
das teorias evolucionistas de Charles Darwin, o
púlpito manteve o seu prestigio na Inglaterra. As
pessoas corriam para ouvir os grandes
pregadores da época e liam seus sermões
impressos com interesse. 84

Apesar da situação dramática, o século XIX foi uma época rica de


grandes e poderosos pregadores. É neste período que há uma revitalização da
pregação, onde há quem iguale o prestígio e eficiência da pregação do século
XIX com o século primeiro, com Pedro e Paulo, e com o século IV, com
Crisóstomo e Agostinho.

83 LOPES, Hernandes Dias, op. cit. , p.57.


84 STOTT, John, op. cit., p. 36.
97

Deus usou muitos pregadores famosos no século XIX na Inglaterra,


como John Henry Newman (1801-1890), William Wilberforce (1759-1833),
Frederick William Robertson (1816-1853) e John Charles Ryle (1816-1900).
Deus levantou vários outros grandes pregadores na Escócia, tais como
os irmãos Robert (1764-1842) e James Haldane (1764-1851); três irmãos
Bonar: John (1803-1891), Horatius (1808-1889) e Andrew Bonar (1810-1892);
Robert Murray McMheyne (1813-1843), William C. Burns Chalmers (1770-
1846), Andrew Thompson (1779-1831), John Duncan (1796-1870), e Edward
Irving (1792-1834).
Do mesmo modo, grandes pregadores foram usados por Deus na
América do Norte nesse século, tais como Archibald Alexander (1772-1851)
Lyman Beecher (1775-1863), Asahel Nettleton (1783-1844), Gardiner Spring
(1785-1872), Charles Grandison Finney (1792-1875), Phoebe Palmer (1807-
1874), Dwight Lyman Moody (1837-1899), Horace Bushnell (1802-1876), Henry
Ward Beecher (1813-1887), Phillips Brooks (1824-1893), William M.Taylor
(1829-1895), Alexander Campbel (1788-1866), e John A. Broadus (1827-1895).
Alexander MacLaren é destacado como o príncipe da pregação neste
período. Ganhou fama internacional como expositor. Ele pregou a mais de
duas mil pessoas todas as semanas em Manchester. Começou na obscuridade
e pregou durante 63 anos. Ele leu por dia, durante toda a sua vida, um capitulo
da Bíblia hebraica e da grega. “Os 32 volumes de sermões de Maclarem, assim
como suas contribuições para a Expositor’ s Bible são altamente consideradas
ate hoje”. 85
Outro grande pregador deste período é Phillips Brooks (1835-1893).
Referem-se à Brooks como tendo sido um pregador “extraordinariamente
sensível para com as necessidades humanas”. Contam que ele costumava
investir suas tardes em visitas ao seu povo, especialmente os pobres, doentes
e atribulados. Transcrevem um comentário feito por um admirador, de nome
Bryce: “Brooks fala ao seu auditório como um homem fala ao seu amigo”.
“Brooks cria que a obra do pregador e do pastor nunca deve ser diferenciada,
mas uma só.” 86
No intento de demonstrar a preocupação com a pregação por parte de
ilustres pregadores, citamos como exemplos dois dentre estes mais
destacados, Finney e Spurgeon.
Primeiramente citamos Charles G. Finney (1792-1875), que viveu uma
intensa experiência de conversão em Nova Iorque, em 1821, sendo introduzido
à Igreja Presbiteriana. Foi pastor presbiteriano e depois congrecionalista.
Pregador avivalista, chega a ser apontado como “o mais ungido evangelista de
reavivamento dos tempos modernos”. Estima-se que mais de 250 mil almas se
converteram como resultado de suas pregações.

85LOPES, Hernandes Dias, op. cit. , p. 58.


86PERRY, Lloyd M. & SELL, Charles. Pregando sobre os problemas da vida. Rio de Janeiro:
JUERP, 1989, p. 30.
98

Finney demonstrou sua esperança de que o reavivamento varresse os


Estados Unidos, trazendo progresso e reformas sociais; democracia e abolição
da escravidão, dentre outras conseqüências. Finney não pregava
simplesmente sobre a vida eterna em Jesus, mas que a fé em Jesus seria o
caminho para que a sociedade americana fosse redimida.
Outro ilustre pregador foi o célebre Charles Spurgeon (1834-1892), um
pastor batista muito influente na Inglaterra. Em 1854 iniciou um ministério de 38
anos consecutivos na capela batista na Rua New Park, em Londres e, com
apenas vinte e dois anos de idade era o pregador mais popular de Londres.
“Spurgeon foi, na realidade, o pregador mais popular do século XIX no mundo
de fala inglesa.” 87
Ele não só pregou para congregações maiores do que qualquer outro
ministro na América ou Inglaterra, como também seus sermões dominicais
apareciam no exemplar do dia seguinte de uma cadeia de jornais norte-
americanos e australianos. “De fato, ele foi uma das ultimas celebridades do
púlpito na Inglaterra; muito admirado e freqüentemente imitado. Foi uma glória
para o púlpito batista.” 88
Em 1861 foi edificado o Tabernáculo Metropolitano nas Ruas Elephant
e Castle, um templo com capacidade de abrigar seis mil pessoas, onde
Spurgeon ministrou ininterruptamente até sua morte. Junto ao Tabernáculo foi
criado um seminário e uma sociedade de colportagem que enfatizava a
distribuição de literaturas. Calcula-se que 14 mil membros foram acrescentados
àquela Igreja durante o ministério de Spurgeon. Teve muitos de seus sermões
publicados, num total de 3.800 deles.
Na obra “Lições Aos Meus Alunos”, encontra-se farto material
resultante de preleções deste ilustre pregador que bem podem expressar sua
preocupação com a relevância que a pregação precisa encontrar nas vidas dos
ouvintes. Avante nas conquistas pessoais, avante nos dons e na graça, avante
na capacitação para a obra, e avante no processo de amoldagem à imagem de
Jesus. “A Vida do pregador deve ser um imã para atrair homens a Cristo, e é
triste de fato quando os retém longe dele.” 89
Sobre o chamado para o ministério, Spurgeon afirmava que o ministro
só seria verdadeiramente eficiente se fosse vocacionado por Deus. Spurgeon
tinha grande preocupação com a vocação do pregador e com a Igreja de
Jesus. “Errar na vocação é terrível calamidade para o homem, e, para a Igreja
sobre a qual ele se impõe, seu erro envolve aflição das mais dolorosas. Ser
Pastor sem vocação é como ser membro professo e batizado sem conversão”.
90

Embora o próprio Spurgeon não tenha recebido uma educação


universitária normal, desde a infância recebera na granja de seu avô um sólido

87 LOPES, Hernandes, op. cit. , p. 59.


88 LOPES, Hernandes, loc. cit.
89 SPURGEON, C. H. Lições aos meus alunos. São Paulo: PES, Vol.2. 1982, p. 18.
90 SPURGEON, C. H, op. cit., p. 28.
99

fundamento de teologia calvinista, e quando iniciou sua pregação em Londres,


demonstrou, novamente, o que a maioria havia se esquecido desde os dias de
Whitefield, que nessa teologia reside o verdadeiro poder de um ministério
evangélico.
Ele sempre entendia haver uma relação, muito mais íntima do que os
homens creem, entre a pregação de um ministro e a sua teologia. O que o
levou a pôr a antiga teologia em lugar proeminente no plano de estudos do seu
colégio não era mero interesse teórico nas doutrinas. “Para serem pregadores
eficazes devem ser teólogos autênticos”. 91 Era o axioma que constantemente
repetia aos alunos.
Mas Spuregeon defendia que além do ensino ser verdadeiro, também
devia ser fervente.
Assim declarou SPURGEON:
O ministro precisa trovejar quando prega, e
relampejar quando conversa; deve arder na
oração, brilhar na vida e consumir-se no espírito.
Se não são assim, que poderiam realizar? Se não
são Sansões espirituais, como podem vencer o
leão rugidor? Como podem as portas do inferno
ser levantadas dos seus gonzos?
Entretanto, mesmo conhecendo a verdade e
estando confirmados nela pela graça Divina, não
é trabalho fácil difundir o tesouro celestial. 92

12.4.4 Séc. XX

O século XX foi inicialmente marcado por grande entusiasmo. O


homem se achava no apogeu das suas conquistas. A ciência avançava a
passos largos e fazia grandes descobertas. A prosperidade de muitas nações
era proclamada com profundo orgulho. O humanismo estava em ascendência.
Todavia duas guerras sangrentas destruíram a esperança de um paraíso na
terra, edificado por mãos humanas. “Duas guerras mundiais revelaram a
monstruosidade dos seres humanos que não temiam a Deus”. 93
O século XX não produziu muitos grandes pregadores. Mas, mesmo
nesse período turbulento, a Palavra de Deus permaneceu sólida como uma
mensagem única e digna de confiança para produzir transformação.
STOTT assim comentou este período:
O otimismo dos primeiros anos do século XX foi
espatifado primeiramente pelo irrompimento da

91 SPURGEON, C. H. Um ministério Ideal. São Paulo: PES, 1990, vol. 2, p. 8.


92 SPURGEON, C. H, op. cit. , p. 10
93 LOPES, Hernandes Dias, op. cit., p. 60.
100

Primeira Guerra Mundial e, depois, pelos


horrores da lama e do sangue nas trincheiras. A
Europa emergiu daqueles quatro anos com um
estado de ânimo arrependido, que não demorou
a ser piorado pelos anos da depressão
econômica. As declarações dos eclesiásticos
tornaram-se mais sóbrias. Mesmo assim,
sobreviveu a confiança no privilégio e no poder
do ministério do púlpito. Todo otimismo liberal
fora destruído pela guerra e substituído por um
novo realismo no tocante a humanidade e por
uma nova fé em Deus, que expressava a
convicção de que a pregação alcançaria
importância ainda maior do que antes. 94

Dietrich Bonhoeffer (1906-1945), teólogo alemão e pregador, foi


martirizado pelos nazistas na prisão de Flossenburgo, a 9 de abril de 1945,
poucos dias antes do final da Segunda Guerra Mundial. Bonhoeffer ressaltou
fortemente a importância central da pregação.
Sobre a pregação de Bonhoeffer LOPES afirmou:
Bonhoeffer foi um pregador expositor e deu uma
grande contribuição para a teologia da
proclamação. Ele acreditava que sem a
emancipação mediante a pregação o mundo
seria escravizado pela sua nova religião secular;
uma religião de leis, ideologia e ídolos estranhos.
95

Durante essa guerra, e depois dela, três ministros metodistas de


distinção ocupavam púlpitos em Londres e atraíam multidões, Leslie
Weatherhead, no City Temple; Donald Soper, em Kingsway Hall, e William
Edwin Sangster, no salão Central de Westminister. “Dos três Sangster era
provavelmente o pregador mais eloqüente” 96
Nascido no centro de Londres (1900-1960) tornou-se um pregador
metodista aos dezoito anos de idade, durante sua vida de pregador expressou
a convicção de que a pregação do Evangelho de Jesus Cristo é a atividade
mais sublime e santa a qual um homem pode se dedicar: uma tarefa que os
anjos podem invejar, e em favor da qual os arcanjos poderiam abandonar os

94 STOTT, John, op. cit., p. 43.


95 LOPES, Hernandes Dias, op. cit. , p. 61.
96 STOTT, John, op. cit., p. 46.
101

átrios do céu. “Embora a Segunda Guerra Mundial acelerasse o processo da


secularização na Europa, ela não apagou a pregação”. 97
Merece destaque também Andrew Blackwood (1882-1966), foi o
conhecedor de Homilética mais famoso e mais largamente publicado na
América no século XX. Ele era chamado de “sr Homilética”, sendo também
excelente pregador. “É considerado um expoente da pregação expositiva”. 98
Publicou vários livros importantes sobre pregação.
Outro pregador que merece ser destacado é Frederick Brotherton
Meyer (1847-1929). Foi um dos maiores pregadores do século XX. “Foi um
grande expoente da pregação expositiva. Compreendeu que esta pregação
trazia renovação ao pecador e seria capaz de construir uma igreja forte e
saudável”. 99
Meyer pregou cerca de 16.000 sermões e vendeu mais de 2,5 milhões
de livros. Suas maravilhosas biografias bíblicas representam sua pregação em
sua melhor forma.
Archibald Thomas Robertson (1863-1934) foi também outro grande
pregador expositivo que escreveu 45 livros e pregou com o Novo Testamento
grego na mão. Foi um dos maiores de sua época. “Pregar era uma parte vital
do seu ministério contínuo.” 100
Outro pregador de destaque foi George Campbel Morgan (1863-1945).
Foi um poderoso pregador da Palavra de Deus. Ele é chamado de príncipe dos
expositores, o maior pregador expositivo do seu tempo. Sua pregação se
baseava numa exegese cuidadosa à luz de toda a Bíblia.
Morgan pregou cerca de 25.000 sermões antes de sua morte. Publicou
mais de 60 livros, quase todas as obras sobre as Escrituras, muitas incluíam
seus sermões. “Foi um poderoso expositor da Palavra cujas obras abundam
em explicações e ilustrações textuais. Morgan lia e estudava toda a Bíblia e
sua exposição se passava em uma exegese cuidadosa, percebida à luz de
toda a Bíblia”. 101
Outro expoente do púlpito deste período foi D. Martin Lloyd-Jones que
era um grande expositor bíblico. Lloyd-Jones afirmava que nenhuma outra
tarefa devia substituir a tarefa de expor as Escrituras para Igreja. Dr. Martin
Lloyd-Jones, que, de 1938 a 1968, exerceu um ministério extremamente
influente na capela de Westminster, em Londres. Nunca estava ausente do
próprio púlpito aos domingos (a não ser nas férias), sua mensagem alcançava
os cantos mais distantes da terra.
Seu compromisso inabalável com a autoridade das Escrituras e ao
Cristo das Escrituras o levou a ser o pregador mais poderoso das décadas de
1950 a 1960.

97 STOTT, John, op. cit., p. 45.


98 LOPES, Hernandes Dias, op. cit. , p. 61.
99 LOPES, Hernandes Dias, op. cit. , p. 62.
100 LOPES, Hernandes Dias, op. cit. , p. 62.
101 MACARTHUR, John Jr, op. cit., p. 74.
102

LLOYD-JONES afirma sobre a importância da pregação:


A pregação é a tarefa primordial da Igreja, e, por
conseguinte, do ministro da Igreja, que tudo mais
é subsidiário a isso, o que pode ser apresentado
como a conseqüência ou concretização da
mesma na prática diária. 102

LLOYD-JONES mostra seu alto conceito da pregação dizendo:


Para mim, a obra da pregação é a mais elevada, a
maior e a mais gloriosa vocação para a qual
alguém pode ser convocado. Se alguém quiser
adicionar algo a essa tarefa, então eu diria sem
qualquer hesitação, que a mais urgente
necessidade da Igreja cristã da atualidade é a
pregação autêntica; por ser a maior e mais
urgente necessidade da Igreja, é obvio que
também é a maior necessidade do mundo. 103

John R. W. Stott, também, serve como excelente exemplo a ser


seguido por todos os pregadores. É um dos escritores cristãos mais prolíficos
do século vinte. Exerceu grande influência sobre muitos pregadores
contemporâneos.
Falando do lugar da Palavra na adoração disse: STOTT.
É impossível aceitar adoração sem pregação.
Isso porque a pregação é tornar conhecido o
nome do Senhor e a adoração é louvar o nome
do Senhor assim revelado. A leitura e a pregação
da Palavra, longe de serem intrusão estranha à
adoração, são realmente indispensáveis para
esta. Não pode haver divórcio entre elas. E,
realmente, é o divórcio entre elas, contrário à
natureza, que explica o baixo nível de boa parte
da adoração contemporânea. Nossa adoração é
fraca porque nossos conhecimentos de Deus são
fracos, e nossos conhecimentos de Deus são
fracos porque nossa pregação é fraca. Quando,
porém, a Palavra é exposta na sua plenitude e a
congregação começa a ter um vislumbre da
glória do Deus vivo, todos se curvam em
reverente temor solene e admiração jubilosa

102 LLOYD- JONES, D. Martyn, op. cit., p. 19.


103 LLOYD- JONES, D. Martyn, op. cit., p. 7.
103

diante de seu trono. É a pregação que realiza


isso, a proclamação da Palavra de Deus no poder
do Espírito de Deus. É por isso que a pregação é
incomparável e insubstituível. 104

STOTT, ao comentar sobre o nível da vida cristã em sua época disse:


O baixo nível da vida cristã deve-se, a mais do
qualquer outra coisa, ao baixo nível da pregação
cristã. Mais frequentemente do que gostaríamos
de reconhecer, os ouvintes nos bancos da Igreja
refletem o que ouvem do púlpito, raras vezes, ou
talvez nunca, o banco da Igreja sobe mais alto do
que o púlpito. 105

Destaca-se, ainda, W. A. Criswell, pastor da Primeira Igreja Batista de


Dallas. Passou 17 anos e oito meses pregando de Gênesis a Apocalipse e sua
igreja experimentou grande crescimento.
Outros pregadores do século vinte, tais como Ray Stedmen, Jhon
MacArtur Jr. Charles Swindoll, Warren Wiersbe, Jerry Vines, Stephen Olford e
Jhon Piper, entre outros, poderiam ser citados, no entanto, creio que aqueles já
mencionados servem de exemplo para todos os pregadores.

12.5 A Pregação Contemporânea.

Essa virada de século não se destaca particularmente pela pregação


bíblica poderosa. Nem tampouco se distingue pelos grandes expositores. A
exposição poderosa da Bíblia definha-se exatamente quando as melhores
ferramentas para auxiliar os mestres da Palavra são de fácil acesso.
De mãos dadas com essa carência de expositores poderosos, é muito
preocupante a pouca leitura da Palavra. Vendem-se muitas Bíblias, mas a
televisão vence a batalha da atenção com incontáveis horas desperdiçadas.
Crentes sentados no sofá são mais numerosos do que aqueles que param para
ler a Palavra ou ouvir um sermão.
É lastimável a carência de autoridade e vida espiritual no púlpito
moderno. Há entre os pastores um desejo tão forte de ver suas igrejas
crescerem, que eles estão dispostos até mesmo a abandonar a verdadeira
pregação da Palavra de Deus.
Influenciada pelo avanço das doenças existenciais a pregação passou
a ser focada na administração da vida, que se preocupa em mostrar como

104 STOTT, John, op. cit., p. 89.


105 STOTT, John, op. cit., p. 122.
104

enfrentá-la e os desafios que ela tem a oferecer. Este tipo de pregação não
confronta o ouvinte com o pecado, e não pode, portanto, trazê-los a fé no Deus
que salva dos pecados.

12.5.1 Pregações comuns na contemporaneidade

12.5.1.1 O sermão da prosperidade material

A teologia da prosperidade iniciou sua trajetória no Brasil nos 70.


Desde então, penetrou em muitas igrejas e ministérios paraeclesiásticos, em
especial: Internacional da Graça, Universal, Renascer em Cristo, Comunidade
Evangélica Sara Nossa Terra, Nova Vida etc. Na maioria dos púlpitos e, em
noventa por cento dos programas evangélicos de TV, não se prega outra coisa.
CALEB faz o seguinte comentário:
Prosperidade é um tema bíblico e interessante.
Deve-se pregar a prosperidade bíblica que
mostra um Deus provedor que cuida de nós e
que faz promessas, mas não a pregação sobre
uma falsa prosperidade apoiada em testos
isolados das Escrituras. 106

Prega-se hoje que vitória cristã se mede por quanto tenho na conta
bancária, se gozo de perfeita saúde, se tenho carro zero ou importado. Não se
prega sobre um conceito mais abrangente de uma prosperidade espiritual de
dentro para fora, que começa com uma verdadeira conversão a Cristo, que
passa por uma vida emocional saudável, que consiste em viver feliz mesmo em
circunstâncias contrárias.
Para alguns pregadores da teologia da prosperidade como Miguel
Ângelo e R.R. Soares, pelo sacrifício vicário de Cristo, a humanidade foi
libertada do pecado original e das maldiçoes da lei de Moisés: enfermidade,
pobreza e morte espiritual. Desse modo, as bênçãos destinadas por Deus a
Abraão e sua descendência, saúde física e riqueza material tornaram-se
disponíveis a todos nesta vida.
Para esses pregadores, além do sacrifício de Jesus, os direitos divinos
do cristão derivam do fato de que o homem possui a mesma natureza de Deus
e, portanto, igualmente a Ele goza de autoridade ou poder de, pela Palavra,
chamar coisas a existências. Afirmam que quando o homem nasce de novo,
ele adquire a própria natureza Divina. Logo, torna-se um deus.

106
CALEB, Anderson. Os 10 hábitos dos pregadores altamente eficazes. Rio de janeiro: [s.e.]
2006 p. 64.
105

MARIANO faz a seguinte afirmação:


A teologia da prosperidade subverte
radicalmente o velho ascetismo pentecostal.
Promete prosperidade material, poder terreno,
redenção da pobreza nesta vida. Ademais,
segundo ela, a pobreza significa falta de fé, algo
que desqualifica qualquer postulante a salvação.
107

12.5.1.2 O sermão motivacional

Embora todo sermão deva ter um cunho motivacional, pois quando um


sermão denuncia o pecado e estado de miséria do pecador sem Deus, em
seguida apresenta a salvação em Cristo isso motiva e traz esperança.
Mas o sermão motivacional pregado na Igreja contemporânea tem
substituído o cristianismo pela psicologia e frequentemente o que se ouve é
uma dissertação psicológica que carece de fundamento bíblico, “sem duvida
são discursos extremamente antropocêntricos e humanistas. Deus não é o
centro, nesses sermões-massagens, a cruz passou longe” 108
PERRY & SELL alerta sobre o perigo deste tipo de sermão:
Demasiada pregação a respeito dos problemas
da vida pode forçar os ouvintes a darem
insuficiente atenção a Deus e a sua provisão
para as necessidades deles. Uma ênfase
exagerada dada à pregação acerca dos
problemas encontrados nas circunstâncias
vivenciais pode fazer com que o pregador fique
inteiramente ocupado com os problemas deste
século, em vez de com os problemas da
eternidade. Dessa forma, ele se tornara um
pregador do tempo presente, e não da
eternidade. 109

107 MARIANO, Ricardo. Neopentecostais: sociologia do novo pentecostalismo no Brasil. São


Paulo: Loyola, 1999, p. 159.
108 CALEB, Anderson, op. cit., p. 65.
109 PERRY, Lloyd M. & SELL, Charles, op. cit., p. 19.
106

12.5.1.3 Sermão centrado nas bênçãos

O sermão centrado nas bênçãos valoriza a fé em Deus como meio de


obter saúde, riqueza, felicidade, sucesso e poder terrenos. “As bênçãos
prometidas, desejadas e reivindicadas são sempre atreladas à oferta”. 110
Deus prometeu bênçãos, mas, para recebê-las, o fiel precisa doar
dinheiro para demonstrar sua fé, canal exclusivo para restabelecer a sociedade
com o Todo-Poderoso e afastar os demônios de sua vida. É o fiel, por meio das
ações motivadas pela fé, quem coloca em funcionamento o mecanismo da
bênção.
Sem a ação primeira do fiel de dar, Deus não pode fazer nada por ele.
Sem fé, isto é, sem as obras visíveis da fé, o crente não se habilita a tomar
posse da bênção ou adquirir direitos de fazer exigências, reivindicações a
Deus.
CALEB comenta:
Preguemos as bênçãos, as promessas, mas, se
pregarmos só isso, não estaremos formando
discípulos de Jesus, mas consumidores
exigentes numa espécie de Shoping Center da fé.
E, não tenha dúvida, se o preço aumentar de uma
hora para outra o freguês vai procurar outro
estabelecimento. 111

12.5.1.4 O sermão que tematiza curas e milagres como um fim em si


mesmos

Sobre este tipo de mensagem assim comentou LOPES:


Vi no Brasil e em outros países várias igrejas que
proclamam milagres sobrenaturais em nome de
Deus e pregam uma mensagem sensacionalista,
fazendo várias promessas às pessoas sobre o
que Deus não prometeu nas Escrituras. São
muitos os pregadores que anunciam em nome de
Deus o que Ele não disse (Jr 23:25-32). Esses
pregadores sabem que as pessoas têm interesse
em ver milagres e contemplar coisas
extraordinárias (Mt 12:38; Lc 23:8;I Co 1:22). Em
conseqüência, fazem promessas irreais. Várias
profecias, visões e milagres anunciados ao povo
como realidade não são verdadeiros. Eles

110 MARIANO, Ricardo, op. cit. , p. 168.


111 CALEB, Anderson, op. cit., p. 67.
107

acreditam erradamente que tudo que é


proclamado como obra de Deus é executado por
Deus. Mas, usar o nome de Deus e prometer algo
em nome dEle, que não garantiu, é um falso
testemunho contra Deus (Jr 23:30-31).112

A pregação sobre curas e milagres, como forma de glorificar e


apresentar Jesus, bem como a atualidade do seu poder, não está errado. O
problema é quando pregamos esses temas como fins em si mesmos. “Isso
porque os sinais seguem os crentes e não os crentes seguem os sinais” 113
Os milagres são a evidência de que existem dimensões de Deus que,
nem com todo nosso conhecimento, somos capazes de imaginar. Acreditar em
milagres nada mais é do que dizer que Ele é livre para fazer coisas novas, não
está limitado a uma criação determinista de causa e efeito, nem preso em sua
própria máquina cósmica.
O pregador tem a tarefa difícil de encorajar a fé no Deus que realiza
milagres, cura os doentes, liberta os oprimidos, salva os perdidos e ao mesmo
tempo avisar contra a fé neles por eles mesmos, isto e: no sobrenatural
separado do relacionamento pessoal com Deus e com Seu povo. Isto porque
nem sempre o sobrenatural é divino.
WIERSBE assim comentou a cura do paralítico de Mc. 2:
Antes de curar o corpo, Jesus trouxe paz ao
coração do homem e anunciou que os pecados
dele estavam perdoados! O perdão é o maior dos
milagres realizados por Jesus. Supre a maior das
necessidades, custa o mais alto preço e traz a
maior das bênçãos e os resultados mais
duradouros. 114

12.5.1.5 O sermão da confissão positiva

Este tipo de pregação enfatiza que, pela fé, os cristãos podem possuir
tudo o que determinarem verbalmente em nome de Jesus. Pedir ou suplicar a
Deus são atitudes reprováveis, demonstração de pouca fé, sinais de ignorância
do modo correto de como se relacionar com Deus.
Os cristãos, em vez de implorar, devem decretar, determinar, exigir,
reivindicar, em nome de Jesus, como Deus prescrevera, para tomar posse das
bênçãos a que têm direito. Mais que isso: eles devem crer, a priori, que já

112 LOPES, Hernandes, op. cit., p. 218.


113 CALEB, Anderson, loc. cit.
114 WIERSBE, Warren W, op. cit., p. 149.
108

receberam as graças apesar delas ainda não se terem concretizado no plano


material.
CALEB assim comenta sobre este tipo de sermão:
Para muitos desses pregadores, parece que
todos os problemas podem ser resolvidos
bastando o ouvinte declarar, decretar. Sem
dúvida que as palavras possuam certo poder,
mas, se as atitudes não mudarem, também, você
pode decretar o que quiser que as coisas vão
continuar como sempre. A palavra que cria é a
Palavra de Deus. Existe verdade na confissão
positiva. Falar e determinar, às vezes, se faz
necessário. Deus disse a Moisés que falasse a
rocha. Palavras humanas possuem certo poder.
Muitos pregadores ensinam o povo a profetizar
bênçãos. Profetiza! Mas o que é profecia?
Profecia é falar da parte de Deus. Eu não posso
profetizar se não estiver convicto de ter ouvido a
Palavra de Deus. 115

12.5.1.6 O sermão que aborda o sonho como estilo de vida

Hoje, temos um repertório enorme de cânticos, livros e sermões sobre


sonhos. Eles afirmam: Deus vai realizar seus sonhos, Deus vai restaurar seus
sonhos, não desista de seus sonhos etc. “mas ninguém pergunta quais os
sonhos que estão na cabeça das pessoas. Talvez, haja pessoas sonhando
com a mulher do próximo, com a falência de um concorrente, tomar o lugar do
outro na empresa e Deus jamais realizará tais sonhos.”. 116
Este tipo de pregação tem desmotivado o jovem a estudar e trabalhar.
É só sonhar. Sonha e ganharás o mundo! “Sonhar, sim. Desde que se sonhe a
vontade de Deus.” 117
LOPES faz o seguinte comentário sobre o sonho de Ana em II Sm. I:
Os sonhos de Deus são maiores do que os
nossos sonhos. O sonho de Deus para Ana não
era apenas que ela fosse mãe, mas mãe do maior
profeta daquela geração. Samuel não seria um
homem comum, mas aquele que traria o povo de
Israel de volta para Deus, o último e o maior juiz
de Israel. Samuel seria o homem que restauraria
a credibilidade do sacerdócio tão desgastado
115 CALEB, Anderson, op. cit., p. 69.
116 CALEB, Anderson, op. cit., p. 70
117 CALEB, Anderson, loc. cit.
109

com o ministério repreensível de Hofni e Finéias.


Samuel seria o grande instrumento que Deus
usaria para ungir Saul como o primeiro rei de
Israel e Davi como seu sucessor. 118

12.5.1.7 O sermão do triunfalismo sem preço

Neste tipo de sermão é comum se ouvir tais afirmações: você vai


conseguir! Você pode tudo! Tudo é seu! Você é filho do Rei! Todos vão ser
curados! Anunciam a ressurreição sem morte, a coroa sem a cruz, a vitória
sem luta, o pódio sem o deserto.
WIERSBE, ao comentar a morte de Estevão, faz a seguinte afirmação:
Deus não nos chama para sermos mártires, mas,
sim, sacrifícios vivos, (Rm.12.1,2). Em alguns
aspectos, é mais difícil viver para Cristo do que
morrer por Ele, mas, se vivemos para Ele,
seremos preparados para morrer por Ele, caso
Deus nos chame a fazê-lo. 119

13 A PREGAÇÃO E SEUS PRESSUPOSTOS TEOLOGICOS.

13.1 A pregação e a Soberania de Deus

Não existe doutrina mais desprezada pela mente natural do que a


verdade de que Deus é absolutamente soberano. O orgulho humano odeia a
idéia de que Deus a tudo ordena, a tudo controla e reina sobre tudo. A mente
natural, que arde em inimizade contra Deus, abomina o ensinamento bíblico de
que nada ocorre senão o que está de acordo com os eternos decretos de
Deus.

Muitas igrejas contemporâneas têm abraçado a metodologia pragmática


por que lhes falta qualquer noção da soberania de Deus na salvação dos
eleitos. Perderam a confiança no poder de Deus em usar a pregação do
evangelho a fim de alcançar incrédulos endurecidos de coração. “ É por isso

118 LOPES, Hernandes Dias. Não desista dos seus sonhos. São Paulo: Candeia, 1999, p. 25.
119 WIERSBE, Warren W, op. cit., p 561.
110

que abordam o evangelismo como uma questão de marketing e moldam a sua


metodologia de acordo com este”. 120

Com frequência, a doutrina da soberania de Deus é mal compreendida,


aplicada erroneamente e sofre abusos. Muitos cristãos entendem que ela é
muito profunda, confusa, difícil de entender ou ofensiva. Porem, ao invés de
fugirmos dela; devemos correr para par ela.

Como afirma MACARTHUR:

Não precisamos temê-la, mas, antes,


regozijarmo-nos nela. Esta doutrina esmaga o
orgulho humano exalta a deus e revigora a fé do
crente. O que poderia ser mais encorajador do
que saber que Deus está soberanamente no
controle de toda a sua criação? O universo não
esta sujeito ao acaso. Não há possibilidade do
plano de deus falhar.121

É por esta razão que devemos proclamar o evangelho a cada pessoa. E


podemos fazê-lo na confiança de que todo aquele que nEle crer não perecerá,
mas terá a vida eterna. Essa confiança na soberania de Deus nos levará a
centralizar a pregação.

A fé na absoluta soberania de Deus libertaria a igreja do declínio do


pragmatismo e do mundanismo. Conduziria a Igreja de volta à pregação
bíblica. “se os pregadores confiassem tão- somente no poder de Deus e em
sua Palavra, não sentiriam necessidades de podar adequar e amenizar a
mensagem”122

13.2 A pregação e o livre arbítrio

A soberania de Deus é atestada na experiência da vida cristã como no


fato de que é Ele quem sustenta nossas esperanças, pois todo bem provém
dele mesmo. A dinâmica filosófica da oração cristã, por exemplo, passa por
esse vetor, ou seja, tornamo-nos humildes e dependentes diante de Deus. Ele
é quem controla o universo. Não está no homem nenhuma capacidade de
satisfação de suas próprias carências e necessidades espirituais.

Tendo como pressuposto a soberania universal de Deus, salvífica e


soteriologicamente, o homem só é salvo pela ação de Deus, por sua livre
intervenção, pelo seu sim salvífico.

120 MACARTHUR, John. Com Vergonha do Evangelho. São Jose dos Campos- SP: Fiel.
1997.p.182
121 MACARTHUR, Jhon. op. cit. , p. 198.
122 MACARTHUR, Jhon. op. cit. , p. 199
111

Sobre a questão do livre-arbítrio, é necessário retomar a questão sobre


a queda do gênero humano e suas consequências. A queda do ser humano
trouxe o pecado, e a natureza essencial da imagem de Deus, em sua vida, se
expressa, agora, não mais na direção do verdadeiro Deus nem na direção do
próximo, mas, ao contrario, volta-se para si mesmo, em profunda atitude de
egoísmo, tornando-se amor de si mesmo.

Sendo assim, a razão e a vontade do homem encontram-se


completamente pervertidos pelo pecado original de Adão, transmitido a seus
descendentes.

AZEVEDO assim comenta:

Pelo pecado que infeccionou a natureza humana,


feito um vírus que procura destruir o brilho e o
esplendor da glória de Deus em sua obra prima,
já não a temos mais perfeito na vida do homem,
visto que a essência do pecado é a auto-
suficiência, a independência do criador, achar-se
absolutamente autônomo.123

O homem tornou-se espiritualmente incapaz de procurar o seu criador


por si mesmo e completamente incompetente para alterar seu estado e sua
condição de pecado. “O pecado alcançou todas as áreas da existência
humana”.124 O que aconteceu foi que Adão perdera seu estado de dignidade e
integridade originais. “Na verdade, a natureza original do homem fora tremenda
e profundamente afetada, permanecendo, ainda que enfraquecida, a sua razão
ou entendimento”.125

CALVINO nos ajuda neste entendimento:

A liberdade humana ou livre arbítrio não foi


totalmente destruído, mas tornou-se fraco e
impotente para dizer “não” aos engodos do
pecado. Não fomos privados do livre-arbítrio,
mas de um arbítrio são.126

123
AZEVEDO, Marcos Antonio Farias de. A liberdade cristã em Calvino: uma resposta ao
mundo contemporâneo. Santo André: Academia cristã, 2009. p. 190
124
AZEVEDO, Marcos Antonio Farias de. op. cit., p. 191
125
AZEVEDO, Marcos Antonio Farias de. loc. cit.,
126 Institutas, livro II, PP.53,54.
112

Assim a vontade de todos os seres humanos é destituída de liberdade e


é cativa. “O ser humano é uma montaria que de qualquer maneira é cavalgada-
pelo diabo ou então por Deus”.127

BAYER desta maneira descreve o pensamento de Lutero:

Dessa maneira, a vontade humana está colocada


no meio, como um jumento. Se Deus está
sentado nele, ele quer e vai como Deus quer (...).
Se satanás está sentado nele, ele quer e vai
como quer satanás, e não está em seu arbítrio
correr para um dos dois cavaleiros ou procurá-
lo; antes, os próprios cavaleiros lutam para o
obter e possuir. 128

13.3 A pregação e a responsabilidade humana

As Escrituras afirmam tanto a soberania divina quanto a


responsabilidade humana. Precisamos aceitar os dois lados da verdade,
embora talvez não entendemos como um e outro se correlacionam. As pessoas
são responsáveis pelo que fazem com o evangelho e por qualquer luz que
recebem.

De que modo estas duas realidades podem ser verdadeiras


simultaneamente é algo que não pode ser entendido pela mente humana,
somente por Deus. “Acima de tudo, não devemos concluir que Deus é injusto
por decidir conceder graça a alguns, mas não a todos”. 129 Deus jamais deve
ser medido por aquilo que parece correto ao julgamento humano.

Quando tratamos da soberania de Deus e a liberdade humana pode-se


pensar em uma contradição, mas, na verdade, trata-se de uma aparente
contradição entre duas verdades. Ou seja, o antinômio entre a soberania de
Deus e a responsabilidade do homem.

Podemos dizer, então, que Deus como rei ordena e dirige todas as
coisas, mas como juiz todo ser humano é responsável por suas ações. Por
exemplo, as reações do homem diante da voz do evangelho que lhe chegou ao
coração são de sua responsabilidade, caso as Boas Novas sejam rejeitadas.

127 BAYER, Oswaldo. A teologia de Martim Lutero: uma atualização. São Leopoldo: Sinodal.
2007. p. 138
128
BAYER, Oswaldo. loc. cit.,
129 MACARTHUR, Jhon. Com vergonha do Evangelho. Fiel: São Jose dos Campos, 2010, p.

181
113

“O homem é um ser moral, dotado pelo próprio Deus de liberdade, que só


existe na prática da responsabilidade”.130

BAYER nos esclarece:

É verdade que o ser humano não é livre para não


pecar; ele não pode fazer diferente. Porém, ao
mesmo tempo, ele o faz de modo voluntario,
autodeterminado, autônomo, e por isso é
responsável pelo pecado, não apenas por esse
ou aquele pecado concreto em forma de ato ou
pensamento, mas pelo pecado hereditário, pelo
pecado original. Este é uma síntese de destino e
culpa. 131

13.4 A pregação e a evangelização

A evangelização é uma incumbência que Deus atribuiu a todo o seu


povo, em toda parte. Trata-se da tarefa de comunicar a mensagem do Criador
a toda uma humanidade rebelde. A mensagem começa com informações e
termina com um convite. A informação diz respeito à obra de Deus em tornar o
seu Filho um Salvador perfeito para os pecadores.

O convite é a convocação de Deus à humanidade em geral para vir ao


Salvador e encontrar vida. Deus ordena a todas as pessoas, em toda parte, a
arrependerem-se, e promete perdão e restauração a todos quantos de fato
obedecerem.

O cristão é enviado para o mundo como arauto de Deus e embaixador


de Cristo, para difundir esta mensagem o máximo que puder. Além de um
dever seu (pois Deus o manda, e porque o amor ao próximo o exige), este é
um privilégio para ele (pois é grande coisa falar em favor de Deus e levar até o
nosso próximo o remédio - o único remédio - capaz de salvá-lo dos terrores da
morte espiritual).

Nossa tarefa, então, é abordar os nossos semelhantes e contar-lhes a


respeito do Evangelho de Cristo e tentar, por todos os meios, deixá-lo claro
para eles; remover, da melhor forma de que pudermos, quaisquer dificuldades
que eles possam achar nele, impressioná-los com a seriedade do assunto e
apressá-los a darem uma resposta a ele. Esta é permanente; é una parte
fundamental da nossa vocação cristã.

130 AZEVEDO, Marcos Antonio Farias de. op. cit.; p. 189


131
BAYER, Oswaldo. op. cit., p. 139
114

Mas onde entra a nossa fé na soberania de Deus em tudo isso? Como


vimos anteriormente, a soberania divina é um dos lados de duas verdades que
formam um antinômio no pensamento bíblico. O Deus da Bíblia é tanto Senhor
quanto Legislador no seu mundo; ele é, tanto o Rei dos homens, quanto o seu
Juiz.

Consequentemente, se quisermos ser bíblicos na nossa visão, devemos


abrir espaço nas nossas mentes para os pensamentos sobre a soberania
divina e sobre a responsabilidade dos homens, postos lado a lado. Não há
dúvida de que o homem é responsável diante de Deus, pois Deus é o
Legislador que fixa os seus deveres, e o Juiz que cobra se ele os cumpriu ou
não.

Deus é indubitavelmente soberano sobre o homem, pois ele controla e


ordena todas as ações humanas, como igualmente ele controla e ordena tudo
em seu universo. A responsabilidade do homem pelos seus atos e a soberania
de Deus em relação a estes mesmos atos são, assim, como vimos
anteriormente, igualmente reais e definitivos.

O apóstolo Paulo nos força a notar este antinômio, quando fala da


vontade de Deus (thelema) associada a ambas estas aparentemente
incompatíveis relações do Criador com as suas criaturas humanas, e aquela
dentro dos limites de uma única breve epístola.

Nos capítulos cinco e seis de Efésios, ele deseja que os seus leitores
sejam encontrados procurando "compreender qual a vontade do Senhor" (5.17)
e "fazendo, de coração, a vontade de Deus" (6.6). Esta é a vontade de Deus
como Legislador, a vontade de Deus que o homem deve conhecer e obedecer.
Neste mesmo sentido, Paulo escreve aos tessalonicenses: "Pois esta é a
vontade de Deus: a vossa santificação, que vos abstenhais da prostituição.
"Entretanto, no primeiro capítulo de Efésios, Paulo diz que Deus o elegeu e aos
seus irmãos cristãos em Cristo, antes mesmo do começo do mundo "segundo o
beneplácito da sua vontade" (v.5).

Ele chama atenção para a intenção de Deus de convergir todas as


coisas em Cristo no fim do mundo "o mistério da sua vontade" (v.9); e ele se
refere ao próprio Deus como aquele "que fez todas as coisas conforme o
conselho da sua vontade" (v. 1). A "vontade" de Deus representa claramente
aqui o seu propósito eterno de controlar as suas criaturas, a sua vontade, como
Senhor soberano do mundo.

Esta é a vontade que Deus realmente cumpre em e por meio de tudo o


que realmente ocorre - até mesmo a transgressão da sua lei por parte do
homem.
115

Antigamente a teologia distinguia entre a vontade de Deus como


preceito e sua vontade como propósito, sendo que a primeira é sua declaração
publicada do que o homem deve fazer, e a segunda, (basicamente secreta) sua
decisão quanto ao que ele mesmo fará.

A distinção é entre a lei de Deus e seu plano. A primeira diz ao homem o


que ele deve ser; a segunda estabelece o que ele há de ser. Ambos os
aspectos da vontade de Deus são fatos, embora a forma como eles se
relacionam na mente de Deus seja inescrutável para nós.

Nossa questão agora é: supondo que todas as coisas de fato aconteçam


sob o domínio direto de Deus, e que Deus já determinou o futuro pelo seu
decreto, e já decidiu quem será salvo, e quem não - como isto se relaciona com
nosso dever de evangelizar?

A questão, portanto, é urgente. Foi a própria Bíblia que a levantou


quando ensinou o antinôrnio do duplo relacionamento com o homem; e nós
olharemos agora para a Bíblia, para resolvê-la.

A solução bíblica pode ser expressa em duas proposições, uma negativa


e outra positiva:

1. A graça soberana de Deus não compromete nada do que temos dito


sobre a natureza e o dever de evangelização.

O princípio operante aqui é que a regra do nosso dever e a medida da


nossa responsabilidade encontra-se na vontade de Deus revelada como
preceito, e não na sua vontade oculta sobre o evento. Somos chamados para
ordenar as nossas vidas por meio da luz da sua lei, e não por nossas próprias
elucubrações sobre o seu plano.

A crença de que Deus é soberano em graça não afeta a necessidade de


evangelização. O que quer que possamos crer sobre a eleição, permanece o
fato de que a evangelização é necessária, porque nenhum ser humano pode
ser salvo sem o evangelho. “Por que: Todo aquele que invocar o nome do
Senhor (Jesus Cristo) será salvo." Sim; mas não será salvo ninguém que não
invoque o nome do Senhor, e algumas coisas devem acontecer antes que
qualquer homem seja capaz de fazer isso.

Assim Paulo continua: "Como, porém, invocarão aquele em quem não


creram? E como crerão naquele de quem nada ouviram? E como ouvirão, se
não há quem pregue?" Alguém precisa falar-lhes de Cristo antes de poderem
confiar nele, e eles precisam confiar nele antes de poderem ser salvos por ele.
A salvação depende da fé, e a fé depende de conhecer o evangelho. A
forma como Deus salva os pecadores é trazê-los à fé através do contato com o
evangelho.
116

Na ordem das coisas de Deus, portanto, a evangelização é uma


necessidade, se alguém deve ser salvo afinal. Devemos compreender,
portanto, que quando Deus nos envia para evangelizar, ele nos envia para
atuar como elos vitais na corrente do seu propósito para a salvação dos seus
eleitos. “A eleição incondicional nos encoraja a manter o padrão do
evangelismo tão alto quanto o de Cristo”.132

2- A crença de que Deus é soberano em graça não afeta a urgência da


evangelização.

O que quer que creiamos acerca da eleição, permanece o fato de que os


seres humanos, que não tem Cristo, estão perdidos e vão para o inferno. E
nós que pertencemos a Cristo, somos enviados para falar-lhes daquele - o
único Ser - capaz de salvá-los da morte.

SELPH afirma:

O método divino que nos cabe empregar no


evangelismo é uma abordagem centralizada em
Deus, e não no homem. Nossa abordagem
escolhida, baseada na teologia, determinará
aquilo que desejamos que o pecador conheça e
sinta. Se o pecador for levado a saber e sentir o
que ele precisa saber e sentir, pela obra
regeneradora do Espírito, ele fará a decisão
correta. Ninguém precisará convencê-lo a fazer
isto ou aquilo. Expomos a s verdades bíblicas, e
com compaixão, em total dependência do
Espírito de Deus, esperamos que ele aplique
soberanamente estas verdades sobre o coração
da pessoa.133

A crença de que Deus é soberano em graça não afeta a sinceridade dos


convites presentes nos evangelhos ou a verdade das promessas do evangelho.
Não importa o que quer que creiamos sobre a eleição e, no que diz respeito à
extensão da expiação, permanece o fato de que Deus realmente oferece a
Cristo no evangelho e promete justificação e vida a "todos aqueles que
quiserem." "Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo.” "Da
mesma forma como Deus ordena que todos os homens em toda parte se
arrependam, Deus também convida todos os homens de todos os lugares a vir
a Cristo e encontrar misericórdia.

132 SELPH, Robert B. Os Batistas e a Doutrina da Eleição. São Jose dos Campos: Fiel, 2005.
p. 110
133
SELPH, Robert B.. op. cit., p. 112
117

Sem um conhecimento de Deus, o pecador não sabe a quem ele


ofendeu, quem o ameaça de condenação ou quem é capaz de salva-lo. Sem
uma compreensão clara do caráter de Deus, não pode existir aproximação
pessoal a Deus. “Pregar sobre os atributos de Deus é essencial a conversão de
homens”.134

CHANTRY sobre a ausência dos atributos de Deus nas pregações


modernas comenta:

Os evangelistas centralizam suas mensagens no


homem. O homem pecou e perdeu uma grande
bênção. Se ele quiser recuperar esta perda
imensa, deve agir segundo passos pré-
programados. Mas o Evangelho de Cristo é bem
diferente. Começa com Deus e sua glória.
Proclama aos homens que estes ofenderam o
Deus santo, que de maneira nenhuma deixará
estes pecados passarem em branco. Relembra
aos pecadores que a única esperança de
salvação se encontra na graça e no poder deste
mesmo Deus. O Evangelho de Cristo leva os
homens a clamar por perdão aos pés do Deus
santo.135

13.5 A pregação e a providência

Como a doutrina da criação, a doutrina da providencia tem que ver com


os atos soberanos de Deus. Moises reconheceu o que todos nós deveríamos
reconhecer a respeito da unicidade divina e de sua soberania. Por isso, ele
ordenou ao povo no deserto o seguinte preceito: “Por isso hoje saberás, e
refletirás no teu coração, que só o Senhor é deus em cima no céu, e embaixo
na terra; nenhum outro há” ( Dt 4.39).

Quando se reconhece e se medita nesse texto da Escritura, não há


como fugir à ideia de que a soberania de Deus está profundamente enraizada
na matéria da providencia. A ação providencial de Deus, que é soberana na
vida dos seres humanos e de todas as outras criaturas, está claramente

134 CHANTRY, Walter J. O evangelho de Hoje: Autêntico ou Sintético? São Jose dos Campos:
Fiel, 2001. p. 22
135
CHANTRY, Walter J. loc.cit
118

afirmada nas escrituras. “os seres humanos são considerados como nada
diante da ação soberana de Deus em suas vidas”.136

Nunca poderemos nunca separar as obras providenciais de Deus de sua


soberania. Deus age livre e determinantemente na vida dos seres humanos
para o cumprimento dos seus propósitos. “Sua ação providencial é soberana
porque nela ele independe de outras pessoas ou da vontade de quem quer que
seja”.137

14 A HISTORIA DA INTERPRETAÇAO BIBLICA

No transcurso dos séculos, desde que Deus revelou as escrituras, tem


havido diversos métodos de estudar a Palavra de Deus. Os interpretes mais
ortodoxos tem encarecido a importância de uma interpretação literal,
pretendendo com isso interpretar a Palavra de Deus da maneira como se
interpreta a comunicação humana normal. Outros têm empregado um método
alegórico, e ainda outros têm examinado letras e palavras tomadas
individualmente como possuindo significado secreto que precisa ser decifrado.

Uma visão geral histórica dessas práticas capacitar-nos-á a vencer a


tentação de crer que nosso sistema de interpretação é o único que já existiu.
Um entendimento dos pressupostos de outros métodos proporciona uma
perspectiva mais equilibrada e uma capacidade para um dialogo mais
significativo com os que creem de modo diferente.

VIRKLER comenta sobre a importância da abordagem histórica:

Pela observação dos erros dos que nos


precederam, podemos conscientizar-nos mais dos
possíveis perigos quando somos tentados de
maneira semelhante. O adágio de Santayana de
que “aquele que não aprende a lição da história
está fadado a repeti-la” é tão aplicável ao campo
da interpretação quanto o é a qualquer outro.
Além do mais, à medida que estudamos a historia
da interpretação, vamos vendo que muitos dos
grandes cristãos (p. ex.: Orígenes, Agostinho,
Lutero e etc.) entenderam e receitaram princípios
hermenêuticos melhores do que os que
praticaram. Daí a advertência de que o
conhecimento de um princípio necessita, também,
136 CAMPOS, Heber Carlos. O Ser de Deus e as suas obras: a providência e sua realização
histórica. São Paulo: Cultura Cristã, 2001. p. 25
137
CAMPOS, Heber Carlos. op. cit., p. 26.
119

de fazer-se acompanhar da sua aplicação ao


nosso estudo da Palavra. 138

14.1 Exegese Judaico Antiga

Um estudo da historia da interpretação bíblica começa, em geral, com a


obra de Esdras. Ao voltar do exílio na Babilônia, o povo de Israel solicitou a
Esdras que lhes lesse o Pentateuco. Neemias 8:8 lembra: “Leram [ Esdras e os
levitas] no Livro, na lei de Deus, claramente, dando explicações, de maneira
que entendessem o que se lia.

Visto que, durante o período do exílio, os israelitas provavelmente


tenham perdido sua compreensão do hebraico, a maioria dos eruditos bíblicos
supõe que Esdras e seus ajudantes traduziam o texto hebraico e o liam em voz
alta em aramaico, acrescentando explicações para esclarecer o significado.
“Assim, pois, começou a ciência e arte da interpretação bíblica”.139

Os escribas que vieram a seguir tiveram grande cuidado em copiar as


Escrituras, crendo que cada letra do texto era a Palavra de Deus inspirada.
Esta profunda reverencia pelo texto escriturístico tinha suas vantagens e
desvantagens. Uma grande vantagem estava em que os textos foram
cuidadosamente preservados através dos séculos.

Uma grande desvantagem foi que os rabinos logo começaram a


interpretar a Escrituras por outros métodos que não os meios pelos quais a
comunicação é normalmente interpretada. Os rabinos pressupunham que
sendo Deus o autor das Escrituras, (1) o interprete poderia esperar numerosos
significados em determinado texto, e (2) cada detalhe incidental do texto
possuía significado.

VIRKLER nos esclarece:

O rabi Akiba, no primeiro século da era cristã,


finalmente entendeu que isto sustentava que
toda repetição, figura de linguagem, paralelismo,
sinônimo, palavra, letra, e até as formas das
letras tinham significados ocultos. Este
“letrismo” (enfoque indevido as letras das quais
se compunham as palavras da Escritura) era
muitas vezes levado a tal ponto que o significado
que o autor tinha em mente era menosprezado e

138
VIRKLER, Henry A. Hermenêutica Avançada. Vida. São Paulo: 1987. p.35
139
VIRKLER, Henry A.op. cit.,p. 36
120

em seu lugar se introduzia uma especulação


fantástica.140

No tempo de Cristo, a exegese judaica podia classificar-se em quatro


tipos principais: literal, midráshica, pesher, e alegórica. O método literal de
interpretação, referido como peshat, evidentemente servia de base para outros
tipos de interpretações.

A interpretação midráshica incluía uma variedade de dispositivos


hermenêuticos que se haviam desenvolvido de maneira considerável no tempo
de Cristo e continuaram a desenvolver-se ainda por diversos séculos.

O rabi Hillel, cuja vida antedata a ascensão do cristianismo por uma


geração ou tanto, é considerado como o elaborador das normas básicas da
exegese rabínica que acentuava a comparação de idéias, palavras ou frases
encontradas em mais de um texto, a relação de princípios gerais com situações
particulares, e a importância do contexto na interpretação.

Contudo, teve continuidade a tendência no sentido de uma exposição


mais fantasiosa em vez da conservadora. Isto resultou numa exegese que (1)
dava significado a textos, frases e palavras sem levar em conta o contexto no
qual se tencionava fossem aplicados; (2) combinava textos que continham
palavras ou frases semelhantes, sem considerar se tais textos referiam-se a
mesma idéia; e (3) tomava aspectos incidentais de gramática e lhes dava
significação interpretativa.

A interpretação pesher existia particularmente entre as comunidades de


Qumran. Esta forma emprestou extensivamente das praticas midráshicas, mas
incluía um significativo enfoque escatológico. A comunidade acreditava que
tudo quanto os antigos profetas escreveram tinha significado profético velado
que devia ser iminentemente cumprido por intermédio de sua comunidade do
pacto.

Era comum a interpretação apocalíptica juntamente com a idéia de que,


mediante o mestre de justiça, Deus tinha revelado o significado das profecias
outrora envoltas em mistério. “muitas vezes a interpretação pesher era
denotada pela frase “este é aquela”, indicando que este presente fenômeno é
cumprimento daquela antiga profecia”.141

A exegese alegórica baseava-se na ideia de que o verdadeiro sentido


jaz sob o significado literal da escritura. Historicamente, o alegorismo foi
desenvolvido pelos gregos para reduzir a tensão entre sua tradição de mito
religioso e sua herança filosófica.
140
VIRKLER, Henry A. op. cit.,p. 37
141
VIRKLER, Henry A. op. cit.,p. 38
121

Filão acreditava que o significado literal da Escritura representava um


nível imaturo de compreensão; o significado alegórico era para os maduros.
Devia usar-se a interpretação alegórica nos seguintes casos; (1) se o
significado literal diz algo indigno de Deus, (2) se a declaração parece ser
contraditória a outra declaração da Escritura, (3) se o registro alega tratar-se de
uma alegoria, (4) se as expressões são dúplices ou se há emprego de palavras
supérfluas, (5) se há repetição de algo já conhecido, (6) se uma expressão é
variada, (7) se se empregam sinônimos, (8) se for possível um jogo de
palavras, (9) se houver algo anormal em numero ou tempo (verbal), ou (10) se
há presença de símbolos.

Resumindo a exegese judaica antiga podemos dizer que durante o


primeiro século da era cristã os interpretes judaicos concordaram em que a
escritura representa as palavras de Deus, e que essas palavras estão cheias
de significado para os crentes.

Empregou-se a interpretação literal nas áreas de interesses judiciais e


práticos. Em sua maioria, os interpretes empregaram praticas midráshicas,
especialmente as regras desenvolvidas por Hillel, e a maior parte deles usou
suavemente a exegese alegórica.

Dentro da comunidade judaica, porem, alguns grupos tomaram rumos


diferentes. Os fariseus continuaram a desenvolver a exegese midráshica a fim
de vincular sua tradição oral mais intimamente com a Escritura.

A comunidade de Qumran, crendo que eles próprios eram os


remanescentes fiéis e beneficiários dos ministérios proféticos, continuou a usar
os métodos midráshico e pesher para interpretar a Escritura. E Filão e os que
desejavam conciliar a escritura judaica com a filosofia grega continuaram a
desenvolver métodos exegéticos alegóricos.

14.1.2 Uso do Antigo Testamento pelo Novo Testamento

Aproximadamente 10% do Novo Testamento constitui-se de citações


diretas, de paráfrases do Antigo Testamento ou de alusões a ele. Dos trinta e
nove livros do Antigo Testamento, apenas nove não são expressamente
mencionados no Novo. Como conseqüências, um significativo corpo de
literatura exemplifica os métodos interpretativos de Jesus e dos escritores do
Novo Testamento.

14.1.3 O uso que Jesus faz do Antigo Testamento

Jesus foi uniforme no tratar as narrativas históricas como registros fiéis


do fato. As alusões a Abel, Noé, Abraão, Isaque, Jacó, e Davi, por exemplo,
122

parecem todas intencionais e foram entendidas como referências a pessoas de


carne e osso e a eventos históricos.

Quando Jesus fazia aplicação do registro histórico, ele o extraia do


significado normal do texto, contrario ao sentido alegórico. Ele não demonstrou
tendência alguma para dividir a verdade escriturísitica em níveis, um nível
superficial baseado no significado literal do texto e uma verdade mais profunda
baseada em algum nível místico.

VIRKLER ao comentar sobre o uso que Jesus fez do Antigo Testamento


diz:

Jesus denunciava o modo como os dirigentes


religiosos haviam desenvolvidos métodos
casuísticos que punham a parte a própria Palavra
de Deus que eles alegavam estar interpretando, e
no lugar dela colocavam suas próprias tradições.
Os escribas e fariseus, por mais que quisessem
acusar a Cristo de erro, nunca o acusaram de
usar qualquer Escritura de modo antinatural ou
ilegítimo. Mesmo quando Jesus repudiava
diretamente os acréscimos e as interpretações
errôneas dos fariseus com relação ao Antigo
Testamento. 142

14.1.4 O uso que os Apóstolos fizeram do Antigo Testamento

Os apóstolos acompanharam seu senhor e consideraram o Antigo


Testamento como a Palavra de Deus inspirada (II Timoteo 3:16; II Pedro 1:21).
Em cinquenta e seis casos, pelo menos, há referencia explicita a Deus como o
autor do texto bíblico. A semelhança de Cristo, eles aceitaram a exatidão
histórica do Antigo Testamento.

Podemos concluir, dizendo que a vasta maioria das referências do Novo


Testamento ao Antigo Testamento interpretam-no literalmente; isto é,
interpretam-no de acordo com as normas comumente aceitas para interpretar
todos os tipos de comunicação, história como história, poesia como poesia, e
símbolos como símbolos. “Não se faz tentativa de dividir a mensagem em
níveis literais e alegóricos”.143

142
VIRKLER, Henry A. op. cit.,p. 40
143
VIRKLER, Henry A. op. cit.,p. 43
123

Os poucos exemplos em que os escritores do Novo Testamento


parecem interpretar o Antigo testamento de modo antinatural podem,
geralmente, ser resolvidos a medida que entendemos mais plenamente os
métodos interpretativos dos tempos bíblicos. Assim, o próprio Novo
Testamento lança a base para o método histórico-gramatical da moderna
hermenêutica evangélica.

14.2 Exegese Patrística (100-600 d.C)

A despeito da pratica dos apóstolos, uma escola de interpretação


alegórica dominou a igreja nos séculos que se sucedem. Esta alegorização
derivou-se de um propósito digno: o desejo de entender o Antigo Testamento
como documento cristão.

VIRKLER alerta sobre os perigos deste método:

Contudo, o método alegórico segundo praticado


pelos pais da igreja muitas vezes negligenciou
por completo o entendimento de um texto e
desenvolveu especulações que o próprio autor
nunca teria reconhecido. Uma vez abandonado o
sentido que o autor tinha em mente, conforme
expresso por suas próprias palavras e sintaxe,
não permaneceu nenhum principio regulador que
governasse a exegese.144

14.2.1 Clemente de Alexandria (150- 215)

Clemente acreditava que as Escrituras ocultavam seu verdadeiro


significado a fim de que fossemos inquiridos, e também porque não é bom que
todos a entendam. Ele desenvolveu a teoria de que cinco sentidos estão
ligados a Escritura (histórico, doutrinal, profético, filosófico, e místico), com as
mais profundas riquezas disponíveis somente aos que entendem os sentidos
mais profundos.

14.2.2 Orígenes (185 – 254)

Sucedeu a clemente no ano 203 como diretor da escola catequética de


Alexandria, e nessa função serviu por muitos anos. Como escritor no campo da
teologia, a produtividade de Orígenes foi espantosa. Ele cria ser a escritura
uma vasta alegoria na qual cada detalhe é simbólico, e dava grande
importância a I Coríntios 2:6-7 (falamos a sabedoria de Deus em mistério).

144
VIRKLER, Henry A. loc. cit.;
124

Em Orígenes, a alegoria se fundamenta na idéia que há um sentido


espiritual no fundo de cada passagem da escritura. Assim como o homem
compõe-se de corpo, alma e espírito, assim também a Escritura possui sentido
literal (ou “somático”), moralista (“ou” psíquico”) e espiritual ( ou “ pneumático”.
Este está sempre presente, e quando a interpretação literal parece pouco
razoável, deve-se adotar apenas a espiritual.

Além disso, o método alegórico pressupõe que todos os pormenores


citados na Escritura são símbolos de grandes realidades espirituais universais,
por exemplo, os poderes da alma e ventos cosmológicos.

O alegorizador, portanto, abandona o terreno solido da historia e


concebe os pronunciamentos escriturísticos como fenômenos puramente
espirituais ou idealistas. “isto constitui a diferença entre alegoria e tipologia”.145

“Na pratica, Orígenes tipicamente menosprezou o sentido literal, raramente se


referiu ao sentido moral, e empregou constantemente a alegoria, uma vez que
só ela produzia o verdadeiro conhecimento”. 146

Orígenes foi teólogo bíblico, mas como resultado de sua utilização do


método alegórico (tomado de empréstimo da tradição platônica) sua
interpretação da Bíblia também permitia a aceitação da cosmovisão que se
desenvolvera na escola filosófica de Alexandria. “o método alegórico o
capacitava a formar uma síntese de seu sistema com ideias helenistas”. 147

14.2.3 Agostinho (354-430)

Na pratica, Agostinho renunciou a maioria de seus princípios e inclinou-


se para uma alegorização excessiva. “Esta pratica faz que seus comentários
exegéticos sejam alguns dos menos valiosos de seus escritos”. 148 Ele justificou
suas interpretações alegóricas em II Coríntios 3:6 ( “ porque a letra mata, mas
o espírito vivifica”), querendo com isso dizer que uma interpretação literal da
Bíblia mata, mas uma alegórica ou espiritual vivifica.

Agostinho cria que a Escritura tinha um sentido quádruplo: histórico,


etiológico, analógico, alegórico. Sua opinião foi a predominante na Idade
Media. Portanto, a influência de Agostinho no desenvolvimento de uma
exegese cientifica foi mística: na teoria ele sistematizou muitos dos princípios
de exegese sadia, mas na pratica deixou de aplicar esses princípios em seu
estudo bíblico.

145
FERREIRA, Franklin. História da Igreja. Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil. Rio de
Janeiro: 2002 p.44
146
VIRKLER, Henry A. op. cit.; p.44
147
FERREIRA, Franklin. loc.cit,;
148
VIRKLER, Henry A. op. cit.; p.45
125

14.2.4 A Escola de Antioquia da Síria

Um grupo de eruditos em Antioquia da Síria tentou evitar o “letrismo” dos


judeus e o alegorismo dos alexandrinos. Eles, e especialmente um de seu
grupo, Teodoro de Mopsuéstia (350 – 428), defendiam com o maior zelo o
principio da interpretação histórico-gramatical, isto é, que um texto deve ser
interpretado segundo as regras da gramática e os fatos da historia.

Estes eruditos evitavam a exegese dogmática, asseverando que uma


interpretação deve ser justificada por um estudo de seu contexto gramático e
histórico, e não por um apelo a autoridade. Criticavam os alegoristas por
lançarem duvida na historicidade de muita coisa do Antigo testamento.

A perspectiva que os antioquenses tinham da história diferia daquela


que tinham os alexandrinos. Segundo os alegoristas, flutuando acima do
significado dos acontecimentos do Antigo Testamento encontrava-se outro,
mais espiritual. Os antioquenses, pelo contrario, criam que o significado
espiritual de um acontecimento histórico estava implícito no próprio
acontecimento.

Por exemplo, de acordo com os alegoristas, a partida de Abraão de Harã


significava sua recusa em conhecer as coisas por meio dos sentidos; para os
antioquenses, representava um ato de fé e confiança ao seguir o chamado de
Deus para deixar a cidade histórica de Harã e dirigir-se a terra de Canaã. “ os
princípios exegéticos da escola de Antioquia lançaram a base da hermenêutica
evangélica moderna”.149

14.3 Exegese Medieval (600-1500)

Pouca erudição teve origem na Idade Media; a maior parte dos


estudantes da Bíblia devotava-se a estudar e compilar as obras dos pais
primitivos. A interpretação foi amarrada pela tradição, e o que se destacava era
o método alegórico.

O sentido quádruplo da Escritura engendrado por Agostinho era a norma


para a interpretação bíblica. Esses quatros níveis de significação, expressos na
seguinte quadra circulou durante este período, eram tidos como existentes em
toda passagem bíblica: a letra mostra-nos o que Deus e nossos pais fizeram; a
alegoria mostra-nos onde está oculta a nossa fé; o significado moral dá-nos as
regras da vida diária e a analogia mostra-nos onde terminamos nossa luta.

Durante esse período, aceitou-se geralmente o principio de que qualquer


interpretação de um texto bíblico devia adaptar-se a tradição e a doutrina da

149
VIRKLER, Henry A. op. cit.; p.46
126

igreja. “A fonte da teologia dogmática não era só a Bíblia, mas a Bíblia


conforme a tradição da Igreja a interpretava”.150

Embora predominasse o método quádruplo de interpretação, outros tipos


de exegese ainda estavam sendo desenvolvidos. No decorrer do ultimo período
medieval, os cabalistas na Europa e na Palestina continuaram na tradição do
primitivo misticismo judaico. “Levaram a prática do” letrismo” ao ridículo”.151

Acreditavam que cada letra, e até mesmo cada possível transposição ou


substituição de letras, tinha significação sobrenatural. Na tentativa de
desvendar mistérios divinos, recorreram aos seguintes métodos: substituir uma
palavra bíblica por outra que tinha o mesmo valor numérico; acrescentar ao
texto por considerar cada letra de uma palavra como a letra inicial de outras;
substituir novas palavras num texto por algumas letras das palavras primitivas.

Nicolau de Lyra (1270- 1340) foi um homem que causou significativo


impacto sobre o retorno a interpretação literal. Embora concordasse em que há
quatro sentidos relacionados com a Escritura, ele deu indiscutível preferência
ao sentido literal e insistiu em que os demais sentidos se alicerçassem
firmemente no literal.

Ele se queixava de que os outros sentidos muitas vezes eram usados


para sufocar o literal, e asseverava que só o literal deveria ser usado como
base de doutrina. “A obra de Nicolau de Lyra influenciou profundamente a
Lutero, e muitos há que creem que, sem a sua influencia, Lutero não teria dado
inicio a reforma”.152

14.4 Exegese da Reforma (século XVI)

Nos séculos XIV e XV predominava profunda ignorância concernente ao


conteúdo da Escritura: alguns doutores de teologia nunca haviam lido a Bíblia
toda. A renascença chamou a atenção para a necessidade de conhecer as
línguas originais a fim de entender-se a Bíblia. O sentido quádruplo da
Escritura foi, aos poucos, deixado de lado e substituído pelo principio de que a
escritura tem apenas um único sentido.

14.4.1 Lutero (1483- 1546)

Lutero acreditava que a fé e a iluminação do Espírito eram requisitos


indispensáveis ao interprete da Bíblia. Asseverava ele que a Bíblia devia ser
vista com olhos inteiramente distintos daqueles com os quais vemos outras
produções literárias.

150
VIRKLER, Henry A. op. cit.; p. 47
151
VIRKLER, Henry A. loc. cit.;
152
VIRKLER, Henry A. loc. cit.;
127

Lutero sustentava, também, que a igreja não deveria determinar o que


as escrituras ensinam; pelo contrario, as Escrituras é que deveriam determinar
o que a igreja ensina. Rejeitou o método alegórico de interpretação da
Escritura, chamando-o de “sujeira”, “ escoria”, e ‘ um monte de trapos
obsoletos”.

De acordo com Lutero, uma interpretação adequada da Escritura deve


proceder de uma compreensão literal do texto. O interprete deve considerar em
sua exegese as condições históricas, a gramática e o contexto. Ele acreditava,
também, que Bíblia é um livro claro, contrariamente ao dogma católico romano
de que as Escrituras são tão obscuras que somente a igreja pode revelar seu
verdadeiro significado.

Ao abandonar o método alegórico que por tanto tempo servira para fazer
do Antigo Testamento um livro cristão, Lutero viu-se forçado a encontrar outro
meio de explica aos crentes como o Antigo se aplicava ao Novo. Isto ele fez
sustentando que o Antigo e o Novo Testamento apontam para Cristo.

14.4.2 Calvino (1509- 1564)

Calvino concordava, em geral, com os princípios articulados por Lutero.


Ele, também, acreditava que a iluminação espiritual é necessária, e
considerava a interpretação alegórica como artimanha de satanás para
obscurecer o sentido da Escritura.

A Escritura interpreta a Escritura era uma sentença predileta de Calvino,


a qual aludia à importância que ele dava ao estudo do contexto, da gramática,
das palavras, e de passagens paralelas, em lugar de trazer para o texto o
significado do próprio interprete. “Numa famosa sentença ele declarou que a
primeira tarefa de um interprete é deixar que o autor diga o que ele de fato diz,
em vez de atribuir-lhe o que pensa que ele deva dizer”.153

VIRKLER sobre a relação exegética entre Lutero e Calvino afirma:

Calvino, provavelmente, superou a Lutero em


harmonizar suas praticas exegéticas com sua
teoria. Ele não partilhava da opinião de Lutero de
que Cristo deve ser encontrado em toda a parte
nas Escrituras. A despeito de algumas diferenças,
os princípios hermenêuticos sistematizados por
esses reformadores haveriam de tornar-se os
grandes princípios norteadores para a moderna
interpretação protestante ortodoxa. 154

153
VIRKLER, Henry A. op. cit.p. 49
154
VIRKLER, Henry A. loc.cit.;
128

14.5 Exegese da Pós- Reforma (1550-1800)

14.5.1 Confessionalismo

O Concílio de Trento reuniu-se em varias ocasiões de 1545 a 1563 e


elaborou uma lista de decretos expondo os dogmas da igreja católica romana e
criticando o protestantismo. Os protestantes reagiram com o desenvolvimento
de credos que definam sua posição. “A certa altura, quase todas as cidades
importantes tinham seu credo predileto, com predominância de amargas
controvérsias teológicas”.155

Os métodos hermenêuticos durante este período amiúde eram


deficientes porque a exegese se tornou uma criada da dogmática, e muitas
vezes degenerou-se em mera escolha de texto para comprovação.

14.5.2 Pietismo

O pietismo surgiu como reação à exegese dogmática e muitas vezes


amarga do período confessional. “Philipp Jakob Spener (1635-1705) é
considerado o líder do reavivamento pietista”.156 Num folheto intitulado Anseios
Piedosos ele pedia o fim da controvérsia inútil, o retorno ao interesse cristão
mutuo e as boas obras; melhor conhecimento da Bíblia por parte dos cristãos,
e melhor preparo espiritual para os ministros.

O pietismo fez significativas contribuições para o estudo da Escritura,


mas não ficou imune as criticas. Nos seus mais sublimes momentos os
pietistas uniram um profundo desejo de entender a Palavra de Deus e apropiar-
se dela para suas vidas com uma excelente apreciação da interpretação
histórico-gramatical.

14.5.3 Racionalismo

O racionalismo, posição filosófica que aceita a razão como a única


autoridade que determina as opções ou curso de ação de alguém, surgiu como
importante modo de pensar durante este período e cedo devia causar profundo
efeito sobre a teologia e a hermenêutica. Durante vários séculos antes, a igreja
havia acentuado a racionalidade da fé. Considerava a revelação superior a
razão como meio de entender a verdade, mas a verdade da revelação foi tida
como inerentemente razoável.

Durante o período que se seguiu a Reforma, o uso magisterial da razão


começou a emergir mais plenamente como nunca antes. Surgiu o empirismo,

155
VIRKLER, Henry A. op. cit.p. 50
156
VIRKLER, Henry A. loc.cit.;
129

crença de que o único conhecimento valido que podemos possuir é o obtido


através dos cinco sentidos, e aliou-se ao racionalismo.

A associação do racionalismo com o empirismo significava que: (1)


muitos pensadores de nomeada estavam alegando que a razão, e não a
revelação devia orientar nosso pensamento e ações; e (2) que a razão seria
usada para julgar que partes da revelação eram consideradas aceitáveis.

14.6 Exegese Moderna

14.6.1 Liberalismo

O racionalismo filosófico lançou a base do liberalismo teológico. Ao


passo que nos séculos anteriores a revelação havia determinado o que a razão
devia pensar, no final do século XIX a razão determinava que partes da
revelação (se houvesse alguma) deviam ser aceitas como verdadeiras.

Onde nos séculos anteriores a autoria divina da Escritura fora


acentuada, agora o foco era sua autoria humana. Alguns autores diziam que
varias partes da Escritura possuíam diversos graus de inspiração, e podia ser
que os graus inferiores (como detalhes históricos) contivessem erros.

Outros escritores, como Schleirmacher, foram além, negando totalmente


o caráter sobrenatural da inspiração. Muitos já não mencionavam a inspiração
como o processo pelo qual Deus guiou os autores humanos a um produto
escriturístico que fosse a sua verdade. Pelo contrário, a inspiração referia-se a
capacidade da Bíblia (produzida humanamente) de inspirar experiência
religiosa.

Também se aplicou a Bíblia um naturalismo consumado. Os


racionalistas alegavam que tudo o que não estivesse conforme a “mentalidade
instruída” devia ser rejeitado. Isto incluía doutrinas como a depravação
humana, o inferno, o nascimento virginal, e, com freqüência, até a expiação
vicária de Cristo. Os milagres e outros exemplos de intervenção divina eram
regularmente explicados de forma satisfatória como exemplos de pensamento
pré-critico.

Sofrendo a influencia do pensamento de Darwin e de Hegel, a Bíblia


chegou a ser vista como um registro do desenvolvimento evolucionista da
consciência religiosa de Israel (e mais tarde da igreja), e não como uma
revelação do próprio Deus ao homem.

Cada um desses pressupostos influenciou profundamente a


credibilidade que os interpretes davam ao texto bíblico, e, desse modo, teve
importantes implicações para os métodos interpretativos. “Era freqüente a
mudança do próprio foco interpretativo: a pergunta dos eruditos já não era que
130

é que Deus diz no texto”? , e sim que é que o texto me diz a respeito do
desenvolvimento da consciência religiosa deste primitivo culto hebraico”? 157

14.6.2 Neo-Ortodoxia

A Neo-Ortodoxia é um fenômeno do século XX. Ocupa, em alguns


aspectos, uma posição intermediária entre os pontos de vista liberal e ortodoxo.
Rompe com a opinião liberal de que a Escritura é tão-só produto do
aprofundamento da consciência religiosa do homem, mas detém-se antes de
chegar á perspectiva ortodoxa da revelação.

Os que se encontram dentro dos círculos Neo-Ortodoxos geralmente


creem que a escritura é o testemunho do homem a revelação que Deus faz de
si próprio. Sustentam que Deus não se revela em palavras, mas apenas por
sua presença. Quando alguém lê as palavras da Escritura e reage com fé a
presença divina, ocorre a revelação.

A revelação não é considerada como algo ocorrido num ponto histórico,


o qual agora nos é transmitido nos textos bíblicos, mas uma experiência
presente que deve fazer-se acompanhar de uma reação existencial pessoal.

As posições Neo-Ortodoxas sobre diversos problemas diferem das


ortodoxas tradicionais. A infabilidade ou inerrância não tem lugar no
vocabulário neo-ortodoxo. A Escritura é vista como um compendio de sistemas
teológicos as vezes conflitantes acompanhados por diversos erros fatuais.

As histórias bíblicas da interação entre o sobrenatural e o natural são


vistas como mitos, não no mesmo sentido dos mitos pagãos, mas no sentido
de que não ensinam historia literal. Os mitos bíblicos (como a criação, a queda,
a ressurreição) visam a apresentar verdades teológicas na forma de incidentes
históricos.

Na interpretação neo-ortodoxa, a queda, por exemplo, informa-nos que o


homem, inevitavelmente, corrompe sua natureza moral. A encarnação e a cruz
mostram-nos que o homem não pode realizar sua própria salvação, mas que
ela deve vir do além como ato da graça de Deus. “A principal tarefa do
interprete é, pois, despir o mito de seus envoltórios históricos a fim de descobrir
a verdade existencial que ele contém”.158

14.6.3 A nova hermenêutica

A “nova hermenêutica” tem sido, antes de tudo, uma criação européia a


partir da Segunda Guerra Mundial. Emergiu basicamente da obra de Bultmann
e foi levada adiante por Ernst Fuchs e Gerhard Ebeling. Muito do que foi dito
com vistas à neo-ortodoxia aplica-se também a esta categoria de interpretação.

157
VIRKLER, Henry A. op. cit.p. 52
158
VIRKLER, Henry A. op. cit.p. 53
131

Baseando-se na obra do filosofo Martin Heidegger, Fuchs e Ebeling


afirmaram que Bultmann não foi longe o suficiente. A linguagem, dizem eles,
não é realidade, mas apenas uma interpretação pessoal da realidade. O uso
que fazemos da linguagem é, pois, uma hermenêutica, uma interpretação. A
hermenêutica, para ele já não é a ciência que formula princípios pelos quais os
textos podem ser compreendidos; é, antes, uma investigação da função
hermenêutica da fala como tal, e assim tem um raio de ação muito mais amplo
e mais profundo.

14.6.4 A hermenêutica no cristianismo ortodoxo.

Durante os ultimo 200 anos continuou a haver interpretes que criam que
a Escritura representa a revelação que Deus faz de si próprio, de suas palavras
e de suas ações a humanidade. A tarefa do interprete, no entender deste
grupo, tem sido procurar compreender mais plenamente o significado
intencional do primeiro autor. Empreenderam-se estudos da historia, da cultura,
da língua e da compreensão teológica que cercam os primitivos beneficiários, a
fim de que se entenda o que a revelação bíblica significava para esses
beneficiários.

15 ESTRUTURA DO SERMÃO

Qualquer explicação requer organização, ordenação, lógica e clareza.


Sendo o sermão uma explicação da palavra e vontade de Deus esse deve ser
didático. A prática de pregações através dos tempos levou os estudiosos do
assunto a relacionarem alguns elementos básicos que devem estar presentes
nos sermões, dando a eles uma estrutura que facilita o desenvolvimento da
mensagem.

Esses elementos, Alvo, texto, tema, introdução, corpo, conclusão e


apelo compõem o que chamamos de estrutura do sermão são
imprescindíveis pois norteiam a linha de pensamento do pregador direcionando
o ouvinte para o conteúdo da mensagem.

15.1 Objetivo, Alvo e Assunto

Neste momento do sermão, o objetivo ou assunto, o pregador deverá ser


inspirado por Deus. É exatamente aqui que ele recebe a mensagem que tem a
pregar e a partir deste ponto estruturá-la para levar a igreja. Se você não tem
nada para falar, não fale nada. Se o Espírito Santo lhe der algo a falar, fale,
mas fale direito.
132

15.2 Assunto x Tema.

Assunto é o objetivo que você deseja alcançar por inspiração de Deus e


o tema é como você vai dizer para o público qual é o seu objetivo. Para que o
ouvinte possa Ter uma ideia do que você tem a falar é imprescindível o
emprego de um tema. O ouvinte realmente estará adentrando no seu sermão.

O tema do sermão contém a ideia principal e o objetivo da mensagem.


Deve ser estimulante e despertar o interesse, a curiosidade e a atenção do
ouvinte. Deve ser claro, simples e preciso bem como, oportuno e obedecer ao
texto. Para se desenvolver um bom tema o pregador precisa Ter criatividade,
hábito de leitura, visão global do sermão e ser sintético.

TIPOS DE TEMAS:

Interrogativo: Uma pergunta, que deve ser respondida no sermão.

Ex.: Onde estás? Que farei de Jesus? Tenho uma arma o que fazer com ela?

Lógico: Explicativo. Ex.: O que o homem semear, ceifará; Quem encontra


Jesus volta por outro caminho.

Imperativos: Mandamento, uma ordem; Caracteriza-se pelo verbo no modo


imperativo. Ex.: Enchei-vos do espírito; Não seja incrédulo; Não adores a um
Deus morto.

Enfáticos; Realçar um aspecto específico; Ex.: Só Jesus salva; Dois tipos de


cristãos;

Geral: Abrangente, aborda um assunto de forma geral sem especificá-lo. Ex.:


Amor; fé, esperança.

15.3 Texto Bíblico.

O assunto do sermão deverá ser baseado em um texto bíblico. O texto


bíblico é a passagem bíblica que serve de base para o sermão. Esse texto
deverá fornecer a ideia ou verdade central do sermão. Nunca se deve tomar
um texto somente por pretexto, e logo se esquecer dele.
PORQUE USAR O TEXTO BIBLICO?O texto dá ao sermão a autoridade
da palavra de Deus. O texto constitui a base e alma do sermão; Através da
pregação por texto o pregador ensina a palavra de Deus; O uso do texto ajuda
os ouvintes a reter a ideia principal do sermão; O texto limita e unifica o
sermão; Permite uma maior variedade nas mensagens; O texto é um meio para
a atuação do Espírito Santo.
133

15.4 Introdução do sermão.

Começar bem é provocar interesse e despertar atenção. Aproximar o


ouvinte do sermão e dar a ele uma noção ou explicação do que vai ser falado.
Começar é difícil. Muitos escritores escrevem a introdução quando
terminam o livro. Alguém disse: “O pregador começou por fazer um alicerce
para um arranha-céu, mas acabou construindo apenas um galinheiro”.
A introdução é tão importante quanto a decolagem de um avião que,
deve ser bem perfeita para um vôo estabilizado. Ela, por certo, deve envolver o
ouvinte, despertar o interesse e curiosidade e, também, ser um meio de
conduzir os ouvintes ao assunto que está sendo tratado no sermão. Uma boa
introdução dá ao pregador segurança, tranquilidade, firmeza e liberdade na
pregação.
Tipos de introdução: Você pode usar um destes tipos para iniciar um sermão:

1 – ILUSTRATIVA – Uso de uma ilustração na introdução.

Imagine que o assunto que será abordado seja complexo e abstrato.


Então, comece com uma ilustração que explique e esclareça o que pretende
dizer.
2 – DEFINIÇÃO – Explicação detalha de um determinado conceito.

Explique para o ouvinte o que tem a dizer. Dê a ele conceitos


significados de símbolos, termos e assuntos que ele provavelmente não
conheça.

Em um sermão onde o assunto é a PAZ, o pregador explicou, na


introdução, o que é a paz, seus significados no Antigo e Novo Testamento,
evolução lingüística do termo paz e a aplicação termo hoje.

3 – DIVISÃO – Quando se fala de características opostas. Mostre os


dois lados da moeda.

Lendo o texto de Romanos 8: 1 a 17 é possível observar como Paulo


trata de dois assuntos opostos, vida através do espírito e vida através da carne.

A introdução por divisão é aquela em que se fala ou compara assuntos


como, “paz e guerra”, “amor e ódio”, “salvação e perdição” , “vida cristã e vida
mundana”, etc.

4 – CONVITE – Convidar o ouvinte para participar e agir. Leve o ouvinte


à ação.

Use os verbos no imperativo.


134

Analisando o texto de Isaías 55 podemos observar que há um


predomínio de verbos (vinde, inclinai, vede, buscai, deixe, invocai etc ) no
IMPERATIVO, que caracterizam um convite e ao mesmo tempo uma ordem.
Dessa forma o ouvinte está sendo estimulado a agir, fazer ou participar.

5 – INTERROGAÇÃO – Uma pergunta (deverá ser respondida no corpo


do sermão).

Para sermões onde o tema é uma pergunta é interessante que esta seja
bem explorada na introdução. Observe que, se estamos falando sobre morte
ou salvação cabe aqui uma pergunta como “Para onde iremos nós?”, que deve
levar o ouvinte a uma reflexão profunda, e para reforçar pode-se usar o texto
de Lucas 12:20 “Mas Deus lhe disse: Insensato, esta noite te [pedirão] a tua
alma; e o que tens preparado, para quem será?”

As perguntas da introdução devem ser respondidas no corpo do sermão.

6 – SUSPENSE – A mensagem principal está oculta e será esclarecida


no corpo do sermão.

7 – ALUSÃO HISTÓRICA – Explicar o contexto histórico.

Explique o contexto do texto em que será aplicada a mensagem ( época,


país, costumes, tradição, etc.). Observe o texto de João 4: 1 a 19. Caso sua
mensagem esteja baseada neste texto, introduza com uma explicação
detalhada das relações entre os Judeus e os Samaritanos, as relações entre os
homens e as mulheres, a lei acerca do casamento, a origem do poço de Jacó,
etc.

CARACTERÍSTICAS DA INTRODUÇÃO
Uma introdução bem estruturada deve apresentar algumas
características como, clareza e simplicidade, deve ser um elo com o corpo do
sermão e uma ordenação de pensamentos de forma lógica e sistematizada e,
não deve prometer mais do que se pode dar. É preciso estar atento para o
tempo de duração da introdução que, deve ser breve e proporcional ao sermão.
Evitar desculpas que possam trazer uma má impressão.

15.5 Corpo do Sermão.

Essa é a principal parte. Onde deverá está o conteúdo de toda


mensagem, ordenado de forma lógica e precisa.
Esta deve ser a principal parte do sermão. Aqui o pregador irá expor
ideias e pensamentos que deseja passar para os ouvintes. As divisões devem
ser desenvolvidas de acordo com a realidade de hoje. Depois de Ter estudado
e de fazer uma boa exegese do texto que será usado no sermão deve-se
ensinar e aplicar os propósitos de acordo com os nossos dias.
135

As divisões devem Ter significados para os ouvintes e, não devem se


desviar da mensagem principal que é a coluna do sermão, o objetivo será
finalizado e apresentado na conclusão. É necessário ser vocacionado para o
Dom da palavra, mas podemos aprender algumas técnicas que podem ajudar
ao pregador no preparo do sermão.
COMO TIRAR PONTOS DO TEXTO
1 – Leia todo o texto. Ex.: Atos 2: 37 a 47. Procure a ideia principal do
texto. (Observe o subtema, o contexto, e a situação). Procure os principais
verbos e seus complementos. Com base nos verbos retirados crie frases
(divisões) que os complemente e que, passem uma ideia ou estejam ligadas
com a mensagem a ser pregada. Organize as frases dentro da ideia principal.

Faça o mesmo para Salmos 1:1 e 2 e desenvolva divisões para o


seguinte sermão
“As quatro maneiras de ser bem-aventurado”.

CARACTERÍSTICAS DO CORPO DO SERMÃO


As divisões retiradas do texto devem se apresentar de forma ordenada
no sermão para que não haja uma confusão de ideias. O ouvinte precisa
acompanhar o seu desenvolvimento. “Cada divisão, subdivisão, e até
ilustrações e explicação, tem que apontar na direção do alvo e em ordem de
interesse”. Cada ponto deve discutir um aspecto diferente para que não haja
repetição.

As frases devem ser breves e claras. As divisões servem para indicar a


linha de pensamento a serem seguidas ao apresentar o sermão. Entretanto,
deve-se fazer uma discussão que é o descobrimento das ideias contidas nas
divisões.

Neste ponto também deverão ser abordadas algumas aplicações


utilizadas durante o sermão como, ILUSTRAÇÕES, FIGURAS DE
LINGUAGEM, MATERIAL DE PREPARAÇÃO.

15.6 Ilustração

São recursos usados para o enriquecimento, e o esclarecimento de uma


mensagem, quando devidamente aplicada. O senhor Jesus sempre tinha uma
boa história para iluminar as verdades que ensinava ao povo. O significado do
termo ilustrar é tornar claro, iluminar, esclarecer mediante um exemplo,
ajudando o ouvinte a compreender a mensagem proclamada.

O bom uso da ilustração desperta o interesse, enriquece, convence,


comove, desafia e estimula o ouvinte, valoriza e vivifica a mensagem, além de
relaxar o pregador. A ilustração não substitui o texto bíblico apenas tem uma
função psicológica e didática, para tornar mais claro aquilo que o texto revela.
As ilustrações devem ser simples, está correlacionadas com a mensagem,
136

devem fornecer fatos de interesses humanos e devem Ter um ponto alto ou


clímax.

Obs.: OS EXEMPLOS BÍBLICOS SÃO AS MELHORES ILUSTRAÇÕES.

As ilustrações podem ser:

1-HISTÓRICA E CONTEXTUAL: Quando se aplica um conhecimento


histórico ou explicação do contexto em que o texto está inserido.

Exemplos: Fundo da agulha – Porta estreita na cidade de Jerusalém onde,


os mercadores tinham dificuldades de passar com os camelos. Mateus 19:24.

2-CONHECIMENTO INTELECTUAL: Envolve o conhecimento científico,


psicológico, técnico e cultural. Exemplos: Técnico científico – A antena da TV
recebe todas as frequências ao mesmo tempo, entretanto, quando escolhemos
um canal, através da sintonia, estamos selecionando uma determinada
frequência.

3-METAFÓRICA OU ALEGÓRICA: Quando são empregadas figuras


metafóricas como histórias e estórias. Exemplos: Ao se aproximar da cidade do
Rio de Janeiro um indivíduo reparou que o cristo redentor não era tão grande
como pensava, parecia até mesmo ser menor do que seu dedo. No centro da
cidade observou que estátua teria aumentado e já estava praticamente do seu
tamanho, resolveu então ir até o monumento. No pé do corcovado ficou
admirado com as proporções maiores do símbolo da cidade. Chegando então
aos pés do cristo redentor ele pode perceber, como lhe disseram, que aquele
era bem maior do que ele.

4-EXPERIÊNCIA PESSOAL: Testemunhos. Exemplos: Neste tipo de


ilustração o pregador relata fatos verídicos que demonstram a atuação de
Deus, através de milagres, em sua vida ou de outras pessoas. Todas as
respostas que Deus atendeu realizando curas, transformações, salvação,
livramentos, libertação, etc.

Use no máximo duas ilustrações por sermão. Toda ilustração deve Ter uma
aplicação e devem ser comentadas com simplicidade e naturalidade.

15.7 Conclusão.

Uma conclusão desanimada deixará os ouvintes desanimados. Baseados


no objetivo específico do sermão a conclusão é uma síntese do mesmo e deve
ser uma aplicação final à vida do ouvinte.
É o clímax da aplicação do sermão. “Para terminar!”, “Concluindo”, “Só
para encerrar”, “Já estamos terminando”. Você já ouviu estas frases? Muitas
137

pessoas não sabem terminar uma conversa, ficam dando voltas ou se


envolvem em outros assuntos, sem ao menos perceber que o tempo está
passando e o ouvinte já está angustiado com a demora.

Assim, muitos pregadores não sabem ou não conseguem concluir um


sermão. Isso acontece por que estes não preparam um esboço e suas idéias
estão desordenadas, logo, não conseguem encontrar uma linha condutora da
conclusão do sermão.

COMO DEVE SER A CONCLUSÃO?


1 – Apontar o objetivo específico da mensagem;

2 – Clara e específica;

3 – Resumo do sermão (o sermão em poucas palavras)

4 – Aplicação direta a vida dos ouvintes;

5 – Pequena;

6 – Faça um desfecho inesperado.

Logo, uma boa conclusão deve proporcionar aos ouvintes satisfação, no


sentido de haver esclarecido completamente o objetivo da mensagem. É
preciso Ter um ponto final para que o pregador não fique perdido.

OBS.: NÃO DEVE PREGAR UM SEGUNDO SERMÃO

15.8 Apelo.

Um esforço feito para alcançar a consciência, o coração e a vontade do


ouvinte. São os frutos do sermão.
Um esforço feito para alcançar o coração, a consciência e a vontade do
ouvinte. Apelo não é apelação.
Dois tipos de apelos:

CONVERSÃO/RECONCILIAÇÀO – Aos não crentes e aos desviados.


RESTAURAÇÃO – A igreja

COMO DEVE SER O APELO?


Convite. Impactante e direto. Não forçado ou prolongado. Logo após a
mensagem.
No apelo você deve dizer ao ouvinte o que ele deve fazer para confirmar
a sua aceitação. Seja claro e mostre como ele deve agir. Levantar as mãos; Ir
138

a frente; Ficar em pé; Procurar uma igreja próxima; Conversar com o pastor em
momento oportuno.

O objetivo da homilética, de uma forma geral, é a conversão, a


comunhão, a motivação e a santificação para vida cristã. O assunto de uma
mensagem é algo particular entre o pregador e Deus.

Para ter assunto é preciso viver em comunhão e oração para que o


Espírito Santo possa falar em seu coração. A grande questão é: como Deus
fala conosco? A forma de Deus falar é individual e peculiar.
Algumas pessoas acreditam que Deus fala somente de forma
sobrenatural. Entretanto, Deus pode falar com você de todas as formas
possíveis, fique atento, inclusive aquelas que você menos imagina. No ônibus,
em casa, no trabalho, no banho, lendo a bíblia, olhando a paisagem, ouvindo
uma mensagem, conversando, pensando, através de pessoas ou coisas, em
sonho, em revelação, no meio de uma crise, ouvindo testemunhos, através de
crianças, ouvindo uma música, em seu lazer, em um acidente, uma lição de
vida, viajando, etc.

O QUE FALAR QUANDO CONVIDADO PARA PREGAR EM:

CONGRESSOS E CONFRATERNIZAÇÕES

Neste caso os assuntos são apresentados pelos organizadores do


evento. Para o pregador, o desafio está em desenvolvê-lo. Tenha intimidade
com Deus para transmitir exatamente o que Ele quer falar.

Embora exista um tema, normalmente, este é geral, podendo o pregador


ser mais específico.

Exemplo: TEMA DO CONGRESSO: “A videira verdadeira” João 15: 1 a 8

Você pode falar sobre: “Como o cristão pode Ter uma vida frutífera” ,
“Por que o cristão deve Ter uma vida frutífera?” ou até mesmo , “Os frutos da
videira na vida do cristão”, utilizando outros textos e inserindo um subtema.

DATAS COMEMORATIVAS/ CULTOS ESPECIAIS


Situações onde o assunto é uma explicação do momento. São cultos
realizados em virtude de acontecimentos específicos na igreja local.

Dentre os cultos especiais podemos destacar: Casamento, Natal,


Aniversariantes, Dízimos, Batismo, Consagração, Aniversário da Igreja, Posse,
Cultos dos departamentos (Juventude, irmãs, crianças, etc.), Nascimento e
apresentação de bebês, Funeral, Doutrinário, Evangelístico.
139

Atenção! Conheça e domine os textos bíblicos para explorar estes


assuntos mais facilmente. “Para pregar, o pregador leigo deve combinar ou
casar o assunto do sermão com um texto da palavra de Deus”.

15.9 Tipos de Sermões.

Tradicionalmente encontramos, praticamente em todas as obras


homotéticas, três tipos básicos de sermões: SERMÃO TEMÁTICO: Cujos
argumentos (divisões) resultam do tema independente do texto; SERMÃO
TEXTUAL: Cujos argumentos (divisões) são tiradas diretamente do texto
bíblico; SERMÃO EXPOSITIVO: Cujos argumentos giram em torno da
exposição exegética completa do texto.

15.9.1 Temático.

É aquele em que toda a argumentação está amarrada em um tema,


divide-se o tema e não o texto, o que permite a utilização de vários textos
bíblicos.

Observe o exemplo: Tema: “A PAZ QUE SÓ JESUS PODE DAR...”

1 –... Ilumina nosso caminho Lucas 1:79

2 –... Liberta a nossa mente de pensamento perturbador João 14:27

3 –... Retira sentimento de medo João 20:19 e 20

4 –... Salva João 3:16

Repare que cada tópico (divisão) apresenta uma característica da “Paz”


proposta pelo tema, mas, para cada ponto há um texto diferente, ou seja, a
base do sermão é a “Paz de Jesus” que é abordada em diversos textos
bíblicos.
É necessário aplicar um texto bíblico em cada divisão do tema para não
atrair muito a atenção para o pregador em detrimento da palavra de Deus.
Deve-se evitar divagações e generalizações vazias e inexpressivas. O sermão
temático exige do pregador mais cultura geral e teológica, criatividade, estilo
apurado, contudo, o sermão temático conserva melhor a unidade.
COMO RETIRAR IDÉIAS E ARGUMENTOS (DIVISÕES) DO TEMA
Escolher o tema – (Criar frases, retirar de textos bíblicos ou de outras
fontes);
1-Analisar o tema – (repetir e refletir várias vezes);
2-Pergunte-se o que deve falar sobre o tema;
3-Extrair a principal palavra ou frase do tema – (Ela pode se repetir nos
argumentos);
140

4-Separe no mínimo 3 argumentos ligados ao tema;


5-Pesquisar passagens bíblicas que se refiram aos argumentos.;
6-As divisões são explicação ou respostas do tema.

ATIVIDADES
1 – Crie três argumentos (divisões) que expliquem o seguinte tema:

Tema: “Quem ama a Deus é correspondido”.

1 - ___________________________________________________ Textos: I
Cor 8:3 I João 4:20.1

2--------------- - ---_____________________________________________
Rom 8:39 I João 4:9

3 - ___________________________________________________
João 3:16

15.9.2 Textual

É aquele em que toda a argumentação está amarrada no texto principal


que, será dividido em tópicos. No sermão textual as idéias são retiradas de um
texto escolhido pelo pregador. Como já estudamos anteriormente, aqui estão
algumas dicas para tirar pontos do texto.

As divisões do sermão textual podem ser feitas de acordo com as


declarações originais do texto. Ou se utilizar de uma análise mais apurada
baseando-se em perguntas como: Onde? Que? Quem? Por que? Que deverão
ser respondidas pelas declarações ou frases do texto. E ainda pode-se dividir
por inferência, as orações textuais são reduzidas a expressões sintéticas que
encerra o conteúdo.

COMO TIRAR PONTOS DO TEXTO

1 – Leia todo o texto.

2 – Procure a ideia principal do texto. (Observe o subtema, o contexto, e


a situação)

3 – Procure os principais verbos e seus complementos. Lembre-se verbo


é ação.

4 – Procure os sentidos expressos nas representações simbólicas,


metáforas e figuras.
141

5- Com base nos verbos e significados retirados crie frases (divisões)


que os complemente e que, passem uma ideia ou estejam ligadas com a
mensagem a ser pregada.

6 – Organize as frases dentro da ideia principal. – Leia todo o texto. Ex.:

Observe o exemplo: Texto: Salmo 40:1-4

Tema: Nem antes, nem depois, no tempo de Deus.

Introdução: (Definição) Esperança significa expectação em receber um bem.


O mundo é imediatista.

Corpo: O que acontece quando você espera no senhor?

1 – Ele te retira da condição atual. ( Qual é o seu lago terrível? )

2 – Ele te coloca em segurança, na rocha. (Te dá visão para solucionar o


problema )

3 – Ele requer a sua adoração, um novo cântico. (Adorar em Espírito e verdade


)

4 – Ele te faz testemunha, muitos o verão. ( serme-eis testemunha )

Repare que cada tópico (divisão) apresenta um termo ou uma passagem


do texto. De tal forma que o texto pode ser bem explorado pelo preletor. Deve-
se evitar divagações e generalizações vazias e inexpressivas. O sermão
textual exige do pregador conhecimento do texto, contexto e cultura bíblica.

ATIVIDADES:

1 – Crie três argumentos (divisões) para o seguinte sermão textual:


Texto: Tiago 3: 17

Tema: A sabedoria que vem Deus.

Introdução: ( Divisão ) Sabedoria terrena.

Corpo: A sabedoria que vem do alto é:


1 –
_______________________________________________________________
__

2 –
_______________________________________________________________
__3 –
_______________________________________________________________
142

15.9.3 Expositivo

É aquele que explora os argumentos principais da exegese,


hermenêutica e faz uma exposição completa de um trecho mais ou menos
extenso. O sermão expositivo é uma aula, uma análise pormenorizada e lógica
do texto sagrado. Este tipo do sermão requer do pregador cultura teológica e
poder espiritual.
O sermão expositivo é o método mais difícil, apreciado pelos que se
dedicam à leitura e ao estudo diário e contínuo da bíblia, deve ser feito uma
análise de línguas, interpretação, pesquisa arqueológica, e histórica, bem
como, comparação de textos.
CARACTERÍSTICAS DO SERMÃO EXPOSITIVO
1-Planejamento
2-Poder abordar um grande texto ou uma passagem curta;
3-Interpretação mais fiel;
4-Análise profunda do texto;
5-Unidade e ideias subsidiárias devem ser agrupadas com base em uma
ideia principal;
6-Não é suficiente apresentar só tópicos ou divisões;
7-Tempo de estudo dos pontos difíceis;
8-Pode ser abordado em série.
É muito comum o uso do sermão expositivo em pregações seriadas como
conferências e estudo bíblico.

16 ÉTICA NO PÚLPITO

“A primeira impressão é a que fica”;

“Em meio ao desenvolvimento da reunião, atravessa todo o corredor


principal, aquele que será o preletor do encontro. Toda atenção está voltada
para ele, que observado é dos pés a cabeça.”

Seu comportamento, imagem e exemplo é atributo influente na


transmissão da mensagem como um todo. Devemos considerar que, quando
existe uma indisposição do ouvinte para com o mensageiro, maior será sua
resistência ao conteúdo da mensagem.

Não existe uma forma correta de se apresentar. Esteja de acordo com o


local e a ocasião, sobretudo as mulheres. Nos homens o uso do “terno e
gravata” é adequado a quase todos os locais e ocasiões.
Como são os membros da igreja que visita? Quais são as características
da denominação? Qual é o horário de início e término do culto? Em que bairro
se localiza?
143

Observe com atenção estes aspectos errados que devem ser


considerados pelo pregador:

1-Fazer uma Segunda e auto-apresentação;


2-Manter a mão no bolso ou na cintura o tempo todo;
3-Molhar o dedo na língua para virar as páginas da bíblia;
4-Limpar as narinas, cocar-se, exibir lenços sujos, arrumar o cabelo ou a
roupa;
5-Usar roupas extravagantes;
6-Apertar a mão de todos. (basta um leve aceno)
7-Fazer gestos impróprios;
8-Usar esboços de outros pregadores, principalmente sem fonte;
9-Contar gracejos, anedotas ou usar vocabulário vulgar.
10-Não fazer a leitura do texto ( Leitura deve ser de pé)
11-Evitar desculpas, você começa derrotado (não confundir com
humildade);
12-Chegar atrasado;

O pregador não precisa aparecer.


Quando convidado para pregar em outras igrejas, o pregador deve
considerar as normas doutrinárias, litúrgicas e teológicas da igreja em questão.

Evite abordar questões teológicas muito complexas; Não peça que a


congregação faça algo que não esteja de acordo com os preceitos; Procure
estar dentro dos padrões da denominação; Procure dar conotações
evangelísticas a mensagem; Respeite o horário ( mesmo que seja pouco tempo
); Converse sempre com o Pastor antes do início do culto.

Obs. (A) Caso não concorde com alguns aspectos, não aceite o convite.

(B) Doutrina e mudanças cabem ao pastor da igreja


144

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