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Seguindo, Freire pontua que ensinar exige bom senso, sendo esse um
exercício fundamental da docência e que deve ter como referência a ética e o
respeito à autonomia do estudante, pilar do ensino-aprendizagem. O ato de ensinar
deve respeito à dignidade, à curiosidade, à linguagem e aos gostos dos estudantes,
sendo ilegítimo ao ensino-aprendizagem autoritarismos ou mesmo
descompromissos para com esse processo.
O autor então comenta que a luta por direitos dos professores é um direito e
um dever irrecusável à profissão, sendo um dever ético integrado à prática docente
crítica e progressista em favor da autonomia do ser humano.
Para Freire aprender é construir e reconstruir o conhecimento em dialética,
autonomamente, logo um conhecimento que é transmitido pode ser apenas
memorizado. Assim, aprendemos não para reter conhecimento, mas para mudar a
realidade. Nesse sentido, ensinar exige esperança e exige acreditar que é possível
mudar o mundo, há de se acreditar que a história e o conhecimento nos
contextualizam e nos situam enquanto agentes transformadores, críticos e não
passivos da história.
Ao final do segundo capítulo de seu livro, Freire comenta que a curiosidade é
essencial aos processos educativos, sendo que partimos de uma curiosidade
espontaneamente humana para a elaboração de uma curiosidade
epistemologicamente estruturada por meio de processos críticos, que devem ser
estimulados.
No último capítulo de Pedagogia da Autonomia, Ensinar é uma especificidade
humana, Freire diz sobre a legitimidade de uma autoridade docente democrática,
dizendo sobre a segurança profissional advinda da consciência ética necessária à
docência. A presença de um professor é uma presença política, há de se alinhar
teoria e prática no ser professor, devemos querer aproximar àquilo que expomos
teoricamente com àquilo que praticamos. Autoritarismos em sala de aula
desqualificam a condição de um professor e são um exemplo de desalinhamento
possível entre teoria e prática.
Não é possível ser professor sem que isso nos afete. Educar é uma forma de
atuar no mundo, não há educação neutra, por mais que queiram que acreditemos
nisso. Como colocado pelo autor:
Creio que nunca precisou o professor progressista estar tão advertido quanto
hoje em face da esperteza com que a ideologia dominante insinua a
neutralidade da educação. Desse ponto de vista, que é reacionário, o espaço
pedagógico, neutro por excelência, é aquele em que se treinam os alunos
para práticas apolíticas, como se a maneira humana de estar no mundo fosse
ou pudesse ser uma maneira neutra. (FREIRE, 1996, p. 38).
Ser professor exige que decidamos entre acatar a ideologia dominante,
reproduzindo-a alienadamente às injustiças sociais, ou posicionarmo-nos contra
prática antiéticas de dominação historicamente instituídas, em favor de condições
sociais mais justas, igualitárias e democráticas. A educação é política em sua raiz,
advindo diretamente da possibilidade humana de ser educado. A educação, no
entanto, não pode tudo, pode alguma coisa. É importante reconhecer que sozinha a
educação não pode mudar o mundo, tão pouco pode apenas ser um sistema de
reprodução do status quo, a educação pode mostrar que é possível mudar o mundo.
Ensinar exige também escutar, um processo democrático de ensino
aprendizagem reconhece o estudante enquanto ponto central da educação e
enquanto sujeito que constrói de modo autônomo seu conhecimento. Escutar é
respeitar a leitura de mundo do estudante enquanto válida e essencial para sua
compreensão de outros assuntos a serem ensinados.
Freire ainda nos alerta que devemos nos atentar às ideologias e ter cuidado
para com elas, uma vez que podem nos descarrilhar do pensar certo, em nome de
verdades absolutas. Proclamar apenas a “morte às ideologias”, no entanto é
também problemático. Ensinar é estar aberto ao diálogo e aos posicionamentos que
divergem dos nossos sem a ambição de cegamente “converte-los”. Não saber algo
faz também parte dos processos educativos e não é motivo para tirar a segurança
de um professor.
Por fim, em seu último tópico, exige querer bem aos educandos, Freire exalta
a coragem e a necessidade de se abrir afetivamente nos processos de ensino-
aprendizagem, na medida em que se quer bem para seus estudantes e para as
práticas educativas. Ser um professor sério, bravo e afastado não faz
necessariamente bem para os processos educativos. Ser afetivo e ser um docente
ético e responsável para com sua missão não são características incompatíveis.