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In 2018 it was announced that the star S2, which had been monitored since 1992, orbiting the massive black
hole Sgr A * in the center of the Milky Way galaxy, obeyed as programmed by Einstein’s Theory of General
Relativity. The orbital movements of this star and dozens more in orbit of the black hole Sgr A * reveal that the
mass of the black hole is greater than four million solar masses. The intense gravity of the black hole Sgr A *
causes a gravitational Doppler effect predicted in the Theory of General Relativity and which was observed in the
light emitted by the star S2. We didactically discuss the phenomena involved in these observations made for the
star S2.
Keywords: General Relativity, Dppler efect, massive black hole.
Revista Brasileira de Ensino de Física, vol. 42, e20200336, 2020 DOI: https://doi.org/10.1590/1806-9126-RBEF-2020-0336
Santos e Magalhães e20200336-3
v2 2GM~ GM~
= − 2 . (6) Figura 3: Efeito Doppler transversal.
c2 c2 r c a
DOI: https://doi.org/10.1590/1806-9126-RBEF-2020-0336 Revista Brasileira de Ensino de Física, vol. 42, e20200336, 2020
e20200336-4 Efeito Doppler gravitacional na órbita da estrela S2 em torno do buraco negro massivo Sgr A*...
Onde T é o período da onda luminosa detectado pelo Vamos considerar que a velocidade da fonte v c o que
observador. Se fizermos uma análise clássica newtoniana, implica que β 2 1 na equação (11). Então pode-se fazer
em que as medidas de tempo do observador e da fonte uma expansão em série de Taylor até a segunda ordem
são iguais, teremos que o intervalo de tempo da fonte em β,
T0 = T . Então a frequência da onda luminosa emitida
1 c λ1 1
pela fonte, f0 = = resulta para a equação (8) o = (1 + β cos θ)(1 − β 2 )−1/2 ≈ 1 + β cos θ + β 2 ,
T0 λ0 λ0 2
seguinte resultado,
que se reescreve como
v c v
λ1 = (1 − cos θ) = (1 − cos θ)λ0 . λ1 1
c f0 c − 1 ≈ β cos θ + β 2 .
λ0 2
Para um efeito Doppler não levando em conta a teoria
da relatividade, tem-se a seguinte equação para o desvio Usando a definição de desvio Doppler (12) podemos
Doppler newtoniano, escrever a equação do desvio Doppler relativístico até a
segunda ordem como:
v
λ1 − λ0 = −λ0 cos θ fonte se aproxiamando, 1
c
v βD = β cos θ + β 2 . (13)
λ1 − λ0 = +λ0 cos θ fonte se afastando. (9) 2
c
Esse desvio Doppler é composto de um desvio Doppler
Agora levando em conta a relatividade, o período T é clássico newtoniano, β cos θ, obtido na equação (9) mais
um tempo dilatado em relação ao período de tempo T0 um termo em segunda ordem, devido à teoria da relati-
da fonte em movimento, vidade especial.
T0 Como vimos no resultado (7), a velocidade da estrela
T =p . S2, em termos clássicos é uma velocidade alta, mas em
1 − v 2 /c2 termos relativísticos, é uma velocidade muito menor do
Então o comprimento de onda λ1 na equação (8) detec- que a velocidade da luz, o que torna a equação do desvio
tado pelo observador passa a ser, Doppler (13) útil para as aplicações na dinâmica orbital
da estrela S2. Porém, não são somente esses valores da
T0 equação (13) que foram observados na dinâmica orbital
λ1 = (c − v cos θ) p , da estrela S2. Conforme veremos na próxima seção, a
1 − v 2 /c2
curvatura do espaço-tempo, devido ao buraco negro Sgr
λ0 A*, causa um desvio Doppler gravitacional que deve ser
vamos fazer uso da igualdade T0 = , que resulta para
c acrescentado ao desvio Doppler (13).
a equação acima,
λ0 4. Efeito Doppler Gravitacional
λ1 = p (c − v cos θ),
c 1 − v 2 /c2
Na Teoria da Relatividade Geral, a primeira solução exata
v das equações de campo de Einstein foi a solução métrica
com a definição β = obtemos a equação do efeito
c de Schwarzschild, publicada por Karl Schwarzschild em
Doppler, 1916 [18]. Essa é a solução que descreve corpos astronômi-
λ1 1 − β cos θ cos gravitantes esféricos com momento angular zero, mas
= p blueshift. (10) que pode ser utilizada como aproximação para planetas
λ0 1 − β2 e estrelas que giram em baixas velocidades. A solução de
Essa equação é válida para o blueshift, desvio para o azul, Schwarzschild é uma solução para o vácuo, para a região
quando o comprimento de onda captado é menor que o exterior à matéria da estrela ou planeta. Determinadas es-
comprimento de onda emitido. Quando a fonte se afasta trelas massivas que sofrem fortes colapsos gravitacionais
do observador, o sinal da velocidade se inverte v → −vi podem ter a massa resultante do colapso gravitacional
e consequentemente a equação (10) passa a ser, aprisionada em uma região do espaço-tempo em que a
luz ou qualquer outro tipo de radiação não pode esca-
λ1 1 + β cos θ par dessa região. A solução de Schwarzschild descreve
= p redshift, (11) buracos negros estáticos (subentende-se com baixa ve-
λ0 1 − β2
locidade angular), denominados de buracos negros de
a equação válida para o redshift, desvio para o vermelho, Schwarzschild, visto na equação abaixo,
quando λ1 > λ0 , pois a fonte se afasta do observador.
Vamos definir o desvio Doppler como sendo dr2
2GM~
ds2 = 1− 2
c2 dt2 −
c r 1 − 2GM
2
~
λ1 − λ0 λ1 c r
= − 1 = βD . (12) −r2 (dθ2 + sin2 θ dφ2 ). (14)
λ0 λ0
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Santos e Magalhães e20200336-5
2GM~
Observe que quando 1− 2 = 0, a métrica tem o setor termos do comprimento de onda da radiação, a equação
c r acima é reescrita como,
temporal cdt cancelado e o setor radial dr divergente. O
valor de r em que ocorre essa singularidade, denotado λ0
2GM~
1/2
2GM~
−1/2
por rS é dado por, = 1− 2 1− 2 . (19)
λ1 c r0 c r1
2GM~
rS = . (15) Para o problema da estrela S2 em órbita do buraco negro
c2 Sgr A*, a estrela S2 é a nossa fonte de radiação de
Esse raio, conhecido como raio de Schwarzschild, é a comprimento de onda λ0 e de posição variável r0 = r. Os
distância radial que circunda a região onde a matéria se observadores/receptores estão na Terra que captam uma
colapsou e de onde a radiação não pode escapar. O raio radiação proviniente da estrela S2 de comprimento de
de Schwarzschild, também denominado de raio do buraco onda λ1 na posição r1 ≈ 26 mil anos luz. Implica que o
negro, é a região denominada de horizonte de eventos. segundo termo do lado direito da equação (19) é o limite:
Para o buraco negro Sgr A*, cuja massa foi calculada
2GM~
acima e vale M~ = 4, 1 × 106 M , o raio de Schwarzschild lim 1 − 2 = 1. (20)
c r1
é calculado pela equação (15) e o horizonte de eventos
r1 →∞
do buraco negro Sgr A* vale rS = 1, 21 × 107 km = 0,08 Com esse resultado, a equação (19) se torna,
UA.
Vamos voltar na equação (6) onde temos,
1/2
λ0 2GM~
= 1− ,
λ1 c2 r
2GM~ GM~
β2 = − 2 , (16)
2
c r c a e com a equação do raio de Schwarzschild (15) podemos
expressar a equação do efeito Doppler gravitacional como,
a velocidade máxima que a estrela S2 pode adquirir é na
posição do periápside rp = a(1 − e). Usando a definição λ1 rS −1/2
do raio de Schwarzschild (15) na equação (16), obtemos λ0
= 1−
r
.
para a velocidade ao quadrado máxima da estrela S2 a
equação, A estrela S2 no periápside, no ponto mais perto do buraco
2 rS (1 + e) negro, tem rp = 117, 5 UA, e o raio de Schwarzschild,
βmax = . o horizonte de eventos, do buraco negro Sgr A* vale
2a(1 − e)
rS
Vimos na seção II que o valor máximo para a estrela S2 rS = 0, 08 UA, de forma que 1, e se torna possível
r
é β ≈ 0, 0254. fazer uma expansão de Taylor em primeira ordem na
Podemos definir um parâmetro relativístico [19], equação do efeito Doppler gravitacional acima,
2GM~ λ1 rS
Υ(r) = , (17) λ0
≈1+ ,
2r
c2 r
rS
e ao comparar a equação acima com o raio de Schwarzs- usando a definição Υ(r) = essa equação resulta em
rS r
child da equação (15), podemos reescrever Υ(r) = .
r λ1 1
Com essa definição tem-se que Υ(a) = c2 a , onde pode-
2GM~
− 1 ≈ Υ(r).
λ0 2
se reescrever a equação (16) como,
Definimos então o desvio Doppler gravitacional por βG =
1
β 2 = Υ(r) − Υ(a). (18) λ1
− 1 e a equação do desvio Doppler gravitacional se
2 λ0
escreve como,
O efeito Doppler gravitacional, da mesma forma que o 1
efeito Doppler cinemático discutido acima, é verificado βG = Υ(r). (21)
2
entre uma fonte emissora de radiação eletromagnética Usamos agora a equação que dá a velocidade da estrela
em uma posição r0 e um observador/receptor em uma S2 em órbita do buraco negro, isolando Υ(r) na equação
posição r1 . Para a solução métrica de Schwarzschild o (18) e substituinda na equação (21), temos então,
efeito Doppler gravitacional é dado pela equação [5],
1 2 1
1/2 βG = β + Υ(a). (22)
1− 2GM~ 2 4
f1 c2 r0
f0
= 1/2 , Entre os primeiros experimentos bem sucedidos que
comprovam o desvio Doppler gravitacional, estão os expe-
2GM~
1− c2 r1
rimentos de Pound & Rebka em 1960 e depois melhorado
onde f0 é a frequência da radiação emitida, f1 é a frequen- por Pound & Snider em 1965, que usaram o efeito Moss-
cia da radiação quando é captada por um observador. Em bauer para medir um desvio Doppler de raios gamas de
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e20200336-6 Efeito Doppler gravitacional na órbita da estrela S2 em torno do buraco negro massivo Sgr A*...
14.4 keV emitidos por isótopos de 57 Fe. O emissor e o A velocidade radial vr da estrela medido na direção
detector dos raios gamas foram posicionados no topo e do observador na Terra será dado por vr = ar δt, sendo
na base de uma torre de 22,5 metros. A medida de desvio ar a aceleração da estrela na órbita circular,
Doppler gravitacional foi confirmada com apenas 1% de
diferença entre o experimento e a Teoria da Relatividade ar =
GM~
.
Geral [20]. R2
Podemos calcular a velocidade radial da estrela na direção
5. Tempo de Atraso de Rømer de um observador na Terra,
6. Conclusão
Fizemos uma análise dos principais fenômenos envolvendo
o efeito Doppler que a luz emitida pela estrela S2 sofre na
Figura 4: Tempo de atraso de Rømer. A linha de visagem conecta órbita em torno do buraco negro Sgr A*. Recapitulando
o centro de massa (CM) ao observador na Terra. os principais: efeito Doppler transversal, gravitacional
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e o efeito Rømer. Com os resultados (13), (22) e (23) [5] M.P. Hobson, G.P. Efstathiou e A.N. Lasenby, General
escrevemos, Relativity, an introduction for physicists (Cambridge
University Press, Cambridge, 2006).
∆λ [6] B.F. Schutz, A First Course in General Relativity (Cam-
βz = = βD + βG + βR bridge University Press, Cambridge, 2009), 2ª ed.
λ
1 1 1 [7] M.P. Ramos e R.V. Maluf, Revista Brasileira de Ensino
= β cos θ + β 2 + β 2 + Υ(a) + BR β 2 .
2 2 4 de Física 40, e2302 (2018).
[8] https://www.ligo.caltech.edu/page/press-release-
Podemos simplificar a equação acima, gw150914.
[9] M. Cattani e J.M.F. Bassalo, Revista Brasileira de En-
βz = B0 + B1 β + B2 β 2 . (24) sino de Física 38, e4202 (2016).
[10] R. D’Inverno, Introducing Einstein’s Relativity (Oxford
O parâmetro B0 engloba fatores independentes da velo- University Press, Clarendon, 1992).
cidade β, incluindo aí o fator 14 Υ(a) que é devido ao po- [11] The Event Horizon Telescope Collaboration, The As-
tencial gravitacional do buraco negro. Além desse, pode trophysical Journal Letters 875, L4 (2019).
ser acrescentada a composição do movimento do sistema [12] W.M. Goss, Robert L.Brown e K.Y. Lo, Astronomische
Nachrichten 324 , 497 (2003).
solar em torno do centro galáctico, a energia potencial
[13] GRAVITY Collaboration, R. Abuter, A. Amorim, M.
gravitacional de outras estrelas, etc. Porém, várias dessas Bauböck, J. P. Berger, H. Bonnet, W. Brandner, V.
contribuições ao efeito Doppler são pequenas e podem Cardoso, Y. Clénet, P.T. Zeeuw et al., Astronomy &
ser desprezadas. O fator B1 = cos θ é a contribuição do Astrophysics (A&A) 615, L15 (2018).
efeito Doppler newtoniano. O fator B2 = 1 + BR é a [14] F. Eisenhauer, R. Genzel, T. Alexander, R. Abuter, T.
soma dos efeitos Doppler da relatividade especial mais o Paumard, T. Ott, A. Gilbert, S. Gillessen, M. Horrobin,
efeito Doppler gravitacional e mais ainda o efeito Rømer. S. Trippe et. al., The Astrophysical Journal 628, 246
A equipe GRAVITY [13] usou dados obtidos durante (2005).
26 anos, de 1992 até 2018, do monitoramento da ve- [15] K.S. Oliveira Filho e M.F.O. Saraiva Astronomia e As-
locidade radial da estrela S2. Os dados foram obtidos trofísica (Editora Livraria da Física, São Paulo, 2017),
principalmente através de instrumentos do VLT-ESO: 4ª ed.
[16] W. Greiner, Classical Mechanics, Point Particles and
SINFONI e NACO, e de 2016 em diante, com a instru-
Relativity (Springer-Verlag, New York, 2004).
mentação do GRAVITY. Com os dados obtidos a equipe [17] R.G.G. Amorim e W.C. Santos, Revista Brasileira de
do GRAVITY anunciou que o efeito Doppler da luz emi- Ensino de Física 39, e1310 (2017).
tida pela estrela S2 tinha a clara contribuiçao do efeito [18] A. Saa, Revista Brasileira de Ensino de Física 38, e4201
Doppler gravitacional (22). Com os dados obtidos e uma (2016).
precisão instrumental (SINFONI, NACO e GRAVITY) [19] T. Alexander, Physics Reports 419, 65 (2005).
para o efeito Doppler (24) de βz ≈ 6, 7 × 10−4 , a equipe [20] C.W. Misner, K.S. Thorne e J.A. Wheeler, Gravitation
GRAVITY usou vários métodos estatísticos e confirmou (Princeton University Press, Princeton, 2017).
a previsão da Teoria da Relatividade Geral do efeito [21] S. Zucker, T. Alexander, S. Gillessen, F. Eisenhauer e R.
Doppler gravitacional, e afirmou que os dados obtidos Genzel, The Astrophysical Journal 639, L21 (2006).
para a luz emitida pela estrela S2 em órbita do buraco
negro massivo Sgr A* seriam inconsistentes somente com
a dinâmica de Newton.
Agradecimentos
Rafael dos Santos Magalhães reconhece e agradece o
apoio e suporte financeiro recebido da Fundação de Apoio
a Pesquisa do Distrito Federal - FAPDF.
Referências
[1] H. Weyl, Space, Time, Matter (Dover Publications, Mi-
neola, 1952), 4ª ed.
[2] S. Weinberg, Gravitation and Cosmology: Principles and
Applications of the General Theory of Relativity (John
Wiley & Sons, Inc., New York, 1972).
[3] R.A. Hulse e J.H. Taylor, Astrophysical Journal 195,
L51 (1975).
[4] J.M. Weisberg e J.H. Taylor, arXiv:astro-ph/0407149
(2005).
DOI: https://doi.org/10.1590/1806-9126-RBEF-2020-0336 Revista Brasileira de Ensino de Física, vol. 42, e20200336, 2020