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© 2021 Evilane Oliveira



Lealdade Distorcida
1ª Edição

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens e acontecimentos que aqui serão
descritos são produto da imaginação da autora. Qualquer semelhança com
nomes, datas e acontecimentos reais é mera coincidência. Esta obra segue as
regras da Nova Ortografia da Língua Portuguesa. É proibido o armazenamento
e/ou a reprodução de qualquer parte desta obra, através de quaisquer meios, sem
o consentimento escrito da autora. A violação dos direitos autorais é crime
estabelecido pela lei nº. 9.610. /98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.

Todos os direitos reservados.

Edição Digital | Criado no Brasil.
Sinopse
Prólogo
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04
05
06
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Próximo livro
Agradecimentos
Recado e surtos
Contato
Outras obras
Giulio Conti não era o que meus pais desejaram para mim, mas foi o que
me deram depois que meu noivo desistiu do nosso casamento. Fui entregue
como uma joia a dois homens e os dois fizeram com que eu me sentisse
indesejada.
Um erro. Um mal necessário.
Porém, com Travis Mancini não doeu tanto quanto doía cada vez que
Giulio me mantinha a dois metros de distância.
Um homem cujo olhar nunca pousou em mim mais que alguns raros
segundos. Giulio era distante, frio e o mais perverso de todos os homens da
Outfit. Ele era o seu novo executor. Aquele que ordenavam matar e torturar,
porque ele era resistente.
Giulio era considerado um traidor dentro da Outfit por seus laços
sanguíneos com a Cosa Nostra e cada dia ao seu lado ficava mais claro para mim
que sua lealdade estava com Enrico Bellucci, não com Rocco Trevisan.
Então, quando me pedem para contar os seus segredos, eu também
escolho um lado.
Eu também sou uma traidora.
E o castigo para isso é a morte.
Não que eu me preocupasse, eu já estava morta.
GIULIO CONTI

Eu me lembrava do meu pai nas horas mais inoportunas. Imaginava-o
balançando a cabeça e me reprimindo, dizendo que minhas escolhas me levaram
a hoje. Elas me foderam.
— Nunca.
Nunca. Jamais.
Isso soaria menos estranho se fosse dita por outra pessoa.
— Por quê? — Empurrei meu melhor amigo, inclinando a cabeça. —
Não é como se eu estivesse dizendo que quero me casar com ela, porra.
— Essas mulheres... — Salvatore olhou para a mansão ao me ignorar,
enquanto meus olhos capturaram a estátua do leão. — Elas não são para pessoas
como nós. Somos manchados de sangue da Famiglia.
— Sienna é da famiglia... — contrapus.
— Sienna é a Outfit. — Sal me encarou e semicerrou os olhos. — Ela é
uma Trevisan. Nunca, jamais, poderíamos rolar com uma delas. Nenhuma.
Seu olhar piscou e eu me lembrei de Lunna. Salvatore estava apaixonado
pela esposa do Consigliere do Rocco, seu irmão, Romeo. Eu já o alertei sobre
isso.
— Só estou dizendo que Lake é legal, não que a quero. Você está
distorcendo tudo — falei com a voz dura.
Salvatore riu e seus ombros tremeram, então me olhou. Odiei seus olhos.
Eles pareciam me desvendar. Porém, não precisava, ele sabia de todos os meus
segredos.
— Ela é uma princesa que logo se tornará rainha. Ela não está ao seu
alcance. Aquela garota vai carregar tanta merda nos ombros com as quais você
nunca vai lidar.
— Salvatore...
— Eu sou seu irmão, Conti — Sal me interrompeu. — E quando eu digo
que aquela garota vai pertencer a outra pessoa, não é para machucar você.
— Para machucar? Cara, você está chapado? — questionei, zombando.
— Só para você saber, a garota que será sua colocará você de joelhos.
Nem mesmo o diabo poderia ter dito algo mais certo.


A renda era bonita, e por mais que eu tentasse não estremecer a cada vez
que meus dedos tocaram o tecido, eu o fiz. Minha cabeça doía com pensamentos
e os gritos ao redor. Tentei entender o que eu havia feito para não ser desejada
por nenhum dos homens a que fui entregue.
Ergui meu rosto e vi o reflexo no espelho que ia do chão ao teto. Meus
olhos eram tão azuis quanto o oceano, meu cabelo era médio e caía em ondas ao
redor do meu rosto oval. Nunca questionei minha beleza, porque eu me achava
linda, mas desde o dia em que Travis decidiu me deixar, eu comecei a me
avaliar.
— Ele é um rato. Rocco quer entregar a nossa única filha a um rato. — O
grito do meu pai sacudiu meus ombros. — Não acredito que Travis deixou de se
casar com uma Bonnucci para se casar com aquela prostituta.
— Papai, por favor — implorei, mordendo meu lábio já pintado de rosa.
Eu não colocava a culpa do meu noivado ir pelos ares em Raina. Ela era
uma garota legal, parecia pelo menos. Eu sabia que Travis a amava. E ele nunca
foi nada além de um homem honrado comigo.
— Hoje é o meu casamento. Eu preciso que vocês me deixem sozinha
apenas um minuto — pedi, ainda sem encará-lo ou a minha mãe.
— Kiara, querida. — Mamãe se aproximou e seus olhos estavam cheios
de lágrimas. — Aquele Conti não é digno de você...
— Não preciso de alguém digno, eu só quero alguém que me queira.
— Kiara... — papai tentou falar, mas eu balancei a cabeça.
— O acordo está feito. Não podemos fazer nada. Rocco ordenou Giulio
para mim e é isso que terei. Por favor, me deixem sozinha por um minuto.
— Filha... — Seu telefone tocou, então papai praguejou. — Preciso
atender. Oi, Victor.
Ambos sumiram.
Desejei que Carol estivesse comigo. Ela saberia o que me dizer. Ela
sempre soube. Desde que nasci, minha babá foi meu porto seguro. Minha melhor
amiga. Não mais. Eu não a via há anos. E não a veria novamente.
Quando só ouvi minha própria respiração, voltei a olhar para o espelho.
A tiara de diamantes estava sobre minha cabeça e era perfeita, eu a escolhi junto
ao vestido fluído que era de renda.
— Você é forte, corajosa e linda.
Minha voz soou, me fazendo respirar fundo e relaxar.
Eu iria me casar e seria feliz. Giulio me faria feliz.
Isso era o bastante.

Andar em sua direção não foi tranquilizador. Pelo contrário, eu nunca


havia posto meus olhos nele até aquele momento. Meus pais não quiseram.
Rejeitaram todas as tentativas de Rocco para nos apresentar.
A cada passo em sua direção, meu coração batia calmo, leve e
esperançoso. Seus olhos eram verdes, bonitos e seu cabelo castanho era rente à
cabeça. Seu terno era perfeito, e quando parei à sua frente, percebi o quanto ele
era mais alto que eu.
— Sr. Bonnucci. — Giulio acenou para o meu pai, que apenas
semicerrou os olhos e saiu, me deixando sozinha.
Tive vontade de pedir desculpas, mas engoli minha vergonha.
A igreja estava lotada. A Outfit inteira estava aqui. A família Trevisan ao
lado, todos tão perfeitos e metódicos. Porém, um deles não estava. Prince. O
irmão mais novo do nosso Don.
Prince havia sumido há alguns meses, deixando um rastro de incerteza
sobre sua morte. O luto havia passado, mas todos ainda pareciam obsoletos.
— Oi — murmurei, voltando minha atenção para meu noivo.
Giulio acenou para mim, sem esboçar qualquer cumprimento em
palavras, antes de nos virarmos para o padre. Meu coração sacudiu com a
possibilidade de vir a ser realmente feliz. Do vazio dentro de mim ser
completamente preenchido quando eu e Giulio ficássemos juntos e, talvez,
tivermos filhos.
Eu seria feliz. Eu precisava ser.

Seu olhar estava nublado, seu corpo rígido e seus punhos fechados.
Tracei a renda do meu vestido e ouvi sua respiração acelerada. A festa foi um
borrão. Nunca fui a um casamento tão rápido na minha vida.
— Kiara.
Era a primeira vez que ele falava meu nome. Sua voz era rouca e seus
lábios cheios quando pronunciavam o nome que eu escutava me chamarem há
quase duas décadas. Porém, nunca me acertou da maneira que ele o fez.
— Você pode me ajudar a tirar o vestido? — questionei, quando ficou
claro que ele não falaria mais nada.
Giulio acenou e eu me aproximei, virando de costas. Ele desfez os botões
um a um sem tocar em mim um único segundo. Eu desejei sentir suas mãos em
mim, porém Giulio se afastou assim que finalizou seu trabalho.
— Eu vou dormir no quarto ao lado.
Suas palavras não fizeram sentido até que eu me virei e vi seu olhar
longe do meu enquanto ele caminhava em direção à porta.
— Por que faria isso? — questionei, tentando compreender.
Giulio respirou fundo e segurou a maçaneta. Vi seu punho ficar branco
tamanha força que ele usava para segurar o trinco.
— Não posso tocar em você, Kiara.
— Como? — Arregalei os olhos quando levei a mão à boca.
— Você não deveria ser minha.
— Mas sou — afirmei rapidamente, ainda segurando a parte superior do
meu vestido no lugar. — Eu sou sua esposa.
— Você vai desejar não ser.

Duas semanas foi o tempo que levei para me acostumar com a minha
nova realidade. Eu morava em um apartamento bonito, espaçoso e com vista
para Chicago. Passava o dia preenchendo minha rotina com nada além de assistir
a filmes e a séries enquanto meu marido sumia durante a noite, e em raras vezes
aparecia durante o dia.
Giulio era um fantasma na casa.
— Eu fui designado para fazer sua segurança a partir de hoje. — O
homem loiro e de rosto fechado estava ao lado do meu carro.
— Onde está Peyton? — perguntei, lembrando que meu segurança havia
me deixado aqui há dois dias.
— Ele faz a segurança dos Bonnucci, não dos Conti.
Foi como um tapa com luva de seda. Eu não era mais uma Bonnucci. Eu
era uma Conti.
— O.k. Eu vou para a casa dos meus pais — avisei ao entrar no carro.
O homem que eu nem mesmo havia perguntado quem era acenou e foi
para o seu próprio carro. Vinte minutos depois estacionei o carro e respirei
fundo. Vi o carro de Madeleine e suspirei, saindo do meu veículo com pressa
para alcançar minha prima.
— Okay, cheguei de férias. Que tal me contar como está seu casamento?
— Seus braços envolveram meus ombros assim que entrei na mansão.
Não sabia como ou o motivo, mas meus olhos começaram a lacrimejar.
Minha prima franziu as sobrancelhas e agarrou minha mão, enquanto pegava a
sua bolsa.
— Ei, ei... o que foi, Kira? — Maddie me enfiou na sala reservada e
fechou a porta.
Ela era a única pessoa no mundo que me chamava de Kira. Quando
pequena ela não conseguia falar, então criou um nome para mim.
Me aproximei da janela, enquanto piscava repetidamente para afastar as
lágrimas. Maddie se aproximou e eu me virei.
— Ei...
— Giulio não me quer — falei, já com os olhos secos. Ela franziu as
sobrancelhas e eu engoli em seco. — Eu não sei o que tenho, Maddie.
— Você não fez nada. — Minha prima me fez sentar no sofá e segurou
minhas mãos. — Esse homem não é digno de você, ele deveria lamber o chão
que você pisa.
— Não diga isso. Eu não quero isso — afirmei, respirando fundo. — Eu
só queria que ele me quisesse. Só. Nada mais.
— Nós deveríamos sair. Você está triste demais para uma recém-casada.
— Ela afastou meus cabelos e sorriu. — Nunca imaginei que estaria assim, Kira.
Eu pensei que casamentos eram... o ápice da felicidade.
Segurei a mão de Madeleine e suspirei.
— Eu também.
Desde pequena, fui instruída a esperar pelo casamento como se ele fosse
o final, a grande conquista da minha vida. Porém, agora, tudo que eu tinha era
uma casa grande cheia de solidão e um marido que eu não via nunca.
Nós saímos de casa escondidas. Meus pais não haviam me visto e isso
era bom. Não demorou para chegarmos à boate onde Maddie sempre ia e me
contava. Eu nunca saí sem a permissão dos meus pais, então a diversão sempre
ficou para a minha prima.
— O.k., primeiro, nada de sobrenomes. Segundo, eu guardei isso desde
sempre, porque eu sabia que a nossa hora chegaria. — Ela ergueu a identidade
falsa e a balançou, enquanto eu olhava ao redor da boate.
— O.k. — Eu ri um pouco, nervosa.
Ela me guiou até o bar, e depois de conferir nossos documentos falsos, o
homem deslizou duas bebidas diante de nós. Maddie engoliu a sua rapidamente,
enquanto levei meu tempo bebericando o drinque.
— Eu vejo duas de você — falei para Maddie, depois que tomei a
terceira bebida.
— O quê? — ela gritou, franzindo as sobrancelhas. — Você está bem? —
Sua preocupação era engraçada, por isso ri e a puxei em direção à pista. — O.k.,
Kira, você está bem mesmo?
— Sim! Só estou bêbada — falei, dando de ombros.
Madeleine relaxou e nós dançamos ao som ritmado de alguma música
que estava fazendo sucesso. Balancei meus quadris e ela bateu os dela nos meus
enquanto ríamos.
Ergui o rosto para o teto e dancei como se não houvesse amanhã. A
música me embalou, fez com que eu me perdesse dentro de mim mesma. Não
me lembrei de Giulio, Travis ou da solidão. Eu foquei em mim.
— Jesus, você é perfeita. — A voz gritou sobre a música, então olhei ao
redor, encontrando um homem ao meu lado. — Alguém já falou isso?
Não. Nunca.
— Não — respondi com sinceridade.
Nervosa, procurei a minha prima e a encontrei rapidamente. Madeleine
dançava ao meu lado enquanto um homem falava algo em seu ouvido. Voltei a
encarar o que havia me chamado de perfeita. Seu cabelo escuro era bonito.
— Isso é uma pena. — Seus olhos brilharam na direção da minha aliança
e meus ombros cederam, recordando-me de Giulio.
— É.
— Seu marido é um idiota. — Suas palavras eram tão sérias que me
fizeram rir. — Posso pagar uma bebida a você?
Ele poderia?
— Acho que sim.
O homem me levou para o bar e Maddie veio em seguida, com o cara que
parecia ser amigo dele. Eles sorriram um para o outro e logo começaram a
conversar.
— Sandro. — Ele estendeu a mão para mim e eu a peguei.
— Kira.
Algo me impediu de falar meu nome. Eu não sabia o que era, mas resolvi
deixar a Kiara escondida. A Kira poderia sair e conversar com estranhos. A
Kiara? Nunca.
— Então, Kira, o que faz em Chicago? — Seu sorriso era calmo e gentil.
Eu me peguei contando coisas aleatórias da minha vida a um estranho,
porque ele fez com que eu me sentisse importante. Senti que tudo que eu falava
era algo a ser considerado.
Sandro era um cara legal. Eu gostei dele.
Sabia que precisava me manter vigilante, porém, à medida que
conversávamos e eu bebia, a preocupação deu lugar a sensação de amistosidade.
Maddie felizmente soube a hora que deveríamos parar. Nos despedimos
dos meninos e ela me levou para a casa.
— Não esqueça, Kiara. — Maddie suspirou sonolenta, no Uber, assim
que saí do carro.
— De quê?
— Você é incrível e seu marido é um idiota.
Sim, ele era.
Confirmei isso ao entrar em casa e perceber que estava sozinha. Mais
uma vez.

Não havia muitas festas na Outfit depois da morte de Prince Trevisan,


porém, quando chegou o Natal, todos se reuniram. Giulio foi convidado e eu,
obviamente, teria que o acompanhar.
— Vou cumprimentar meus pais — avisei ao meu marido e saí sem o
encarar.
Mamãe sorriu assim que me viu. Deslizei ao seu lado e me sentei.
— Você não parece bem. — Ela olhou sobre o ombro e eu olhei na
mesma direção, encontrando Giulio encarando algo do outro lado do salão. Meus
olhos voaram para o local e eu franzi as sobrancelhas ao ver Lake Trevisan.
— Seu vestido é muito bonito — falei à mamãe, tentando tirar seu foco
dele.
— Obrigada. — Ela agarrou um diamante que descansava em seu
pescoço.
— Maddie não veio?
— Você sabe que os pais dela nunca permitiriam. — Mamãe revirou os
olhos ao falar.
Os pais de Madeleine não faziam parte da Outfit. Minha tia, Cinthia, era
filha adotiva dos meus avós. Ela encontrou os pais verdadeiros quando tinha
doze anos e se livrou da vida na máfia. Eu a invejava.
— Pobre coitada — mamãe murmurou. Segui seu olhar até Antonella. —
Arruinada e sem marido. Deus a abençoe.
O boato de que Ella não era mais virgem começou logo após a morte de
Prince. Dizem que Matteo tirou a virgindade dela antes do casamento, mas
desistiu e se casou com outra. Blue. Encontrei-a no salão ao lado dele enquanto a
mão do Trevisan estava posicionada na sua coluna de maneira possessiva.
— São boatos.
— Os boatos sempre começam com uma verdade, Kiara.
Era verdade.
Conversei com mamãe mais um pouco e depois me ergui para voltar a
Giulio. Me contorci ao ver que ele não estava onde o deixei. Segui para a
varanda querendo respirar e parei ao ver a sombra de um casal.
Eu não sabia que doeria ver Giulio com outra pessoa, mas doeu.
Não compreendi a dor. Ele não era nada para mim além de marido de
fachada.
Mas, quando vi Lake, foi como se ele houvesse arrancado meu coração.
Assim que chegamos a nossa casa, segui Giulio até o quarto. Seu silêncio
era excruciante, e cada vez que pensei nele naquela festa, Lake aparecia. Ela
ainda não era uma mulher realmente, mas era linda.
Giulio caminhou até a janela e eu encarei seu perfil.
Seu rosto duro me fez engolir em seco e estremecer. Não eram todos os
homens que me faziam tremer. Na verdade, o único deles era meu pai. Eu o
amava muito, mas ele sabia ser um carrasco quando queria. Agora, esse homem
diante de mim... Deus, parecia que ele havia saído do inferno e estava em
chamas.
— Você gosta dela — consegui falar mesmo sentindo medo em cada
célula do meu corpo. Eu ainda não o conhecia bem e não sabia do que ele era
capaz.
Eu nunca o havia visto nas festas da Outfit antes de nos casarmos, e o
motivo disso era claro — ele não era bem-vindo.
Giulio Conti era um soldado letal, mas não confiável.
— O quê? — Ele virou a cabeça para mim enquanto apertava o parapeito
da janela, fazendo seus dedos ficarem brancos.
Seus olhos eram negros e eles me deixaram inquieta.
— Eu vi você conversando com ela no jardim. — Minha boca parecia
cheia de ácido quando falei. Odiei vê-los juntos, odiei mais ainda perceber que
isso me incomodou.
— Você está me seguindo? Me vigiando? — Suas perguntas saíram
raivosas.
— Não. — Balancei a cabeça. — Eu saí para pegar um ar.
— Não nos casamos porque eu quis. Não me obrigue a lembrá-la disso
— ele falou entredentes.
Desviei meus olhos dos seus. Eu sabia que ele não queria se casar
comigo. Travis era meu noivo, meu futuro marido, mas ele se apaixonou por
outra mulher. Eu o compreendia, e quando ele me disse isso eu quis cancelar o
casamento. Mas como eu poderia? Uma noiva dizer que não quer se casar é
considerado uma bobagem dentro da máfia.
— Você deveria ter pedido ela em casamento — afirmei, apertando o
lençol entre meus dedos.
— Você está de sacanagem? — Ele inclinou a cabeça, me olhando
profundamente. — Ela tem dezesseis anos.
— Então é pela idade dela? — questionei, sentindo meu ventre revirar.
— Meu Deus, Kiara, você é enervante — Giulio grunhiu, andando para
mim. Ele parou à minha frente e segurou meu queixo entre os dedos em um
aperto. — Pare de fazer perguntas que fazem você se sentir mal. A resposta pode
ser pior.
Giulio me olhou nos olhos enquanto eu lutava com meus pulmões. Eu
toquei sua barriga e senti os músculos duros e os relevos das cicatrizes na pele
clara. Ele engoliu em seco, tremendo, então abri o botão da sua calça e zíper.
Quando achei que Giulio cederia, suas mãos agarraram as minhas e ele se
afastou.
— Lembre-se, Kiara — meu marido rosnou —, você não deve ser minha.
Giulio se virou de costas e andou em direção ao banheiro, enquanto meu
coração batia duas vezes mais e minhas mãos suavam.
— Por quê? — perguntei, sem fôlego.
Giulio parou. Pensei que ele se negaria a falar, mas ele o fez.
— Porque quando eu voltar para a Itália, você vai se casar com a pessoa
a quem pertencerá para sempre.
Giulio bateu a porta do banheiro, me deixando em um mar de dúvidas e
com um medo horrível das suas palavras.





Eu deveria ser morto.
Rocco Trevisan com certeza tem esse desejo impregnado em suas veias,
mas enquanto eu fazia o trabalho a que fui designado, todos ficariam bem. Ela
ficaria bem.
Kiara era minha responsabilidade, um prego no meu sapato e um buraco
no meu plano de voltar para a Itália.
A senhora Conti era loira, tinha lábios bem desenhados e vermelhos.
Como eu sabia?
Que eu queimasse no inferno, eu a observava.
Dormindo, comendo, tomando banho. Eu a olhava vinte e quatro horas
por dia.
Quando resolvi colocar as câmeras no apartamento foi para minha
própria segurança. Eu não confiava em ninguém aqui, então precisava ter olhos
em meu espaço.
Então, Kiara chegou.
O plano nunca foi observá-la.
Mas desde o primeiro dia em que eu a vi pelas câmeras, eu estava cada
vez mais viciado em olhá-la.
Ela se jogou na cama com o celular no ouvido e sorriu. A tela do
computador se encheu com seu corpo ali. Ela era pequena, tinha coxas grossas e
uma bunda que repetidamente me imaginei mordendo e chupando.
— Com quem está falando, Principessa? — questionei, enquanto levava
meu copo com refrigerante à boca. Eu era viciado em muitas coisas, mas o
refrigerante era um dos piores.
Kiara mordeu o lábio e sorriu mais uma vez.
Eu não queria nenhuma esposa. Isso era simples, mas quando Rocco a
deu para mim, ele não me deu opção de recusa. Foi uma ordem. Completamente
clara.
Fazia mais de um mês que estávamos casados e eu não a tinha tocado. E
nem o faria, porque eu sabia o que poderia acontecer a ela depois que eu fosse
embora e a deixasse.
Kiara merecia se casar com alguém que não a deixaria em questão de
semanas. Ela merecia alguém que a colocasse em um maldito pedestal. Eu não a
conhecia bem o suficiente, mas não era isso que todas as mulheres mereciam?
Tocar em seu corpo seria como um maldito pecado. Eu já tinha muitos e
eles bastavam para me fazer queimar no fogo do inferno.
Kiara se ergueu da cama e eu a vi olhar para a janela do seu quarto. Ela
puxou a blusa e eu gemi, pronto para ver seus peitos mais uma vez. E porra, eles
eram perfeitos. Eu podia ser um miserável depravado, mas a primeira vez que vi,
sem querer, Kiara tirando a roupa para tomar banho, eu continuei parado.
A câmera do banheiro nunca foi ligada até aquele maldito dia e agora, eu
passava mais tempo na frente desse computador de merda do que no meu
próprio quarto.
Kiara terminou de tirar a blusa e depois desceu o short. Ela caminhou nua
até o banheiro, enquanto eu sentia todo sangue do meu corpo fluir até meu pau.
Infelizmente, meu celular tocou, me tirando do meu estupor.
— Conti — cumprimentei quem quer que fosse enquanto desligava as
câmeras.
— Você não salvou meu número? — A voz da menina Trevisan ecoou,
me fazendo fechar os olhos.
— Eu não sou louco.
— Podemos nos ver? — Lake perguntou, ansiosa.
Eu me levantei e caminhei em meu escritório. Parei em frente às janelas e
respirei fundo.
— Você pediu permissão aos seus irmãos? — Joguei a pergunta e seu
silêncio foi a resposta. — Lake, eu não quero confusão com eles. Você é
sinônimo disso, e sabe.
Dessa vez, seu silêncio não me deixou forte, ele me enfraqueceu.
Conheci Lake no meu pior momento. Ela conhecia minhas cicatrizes,
marcas que seus irmãos deixaram em mim. Não os culpava, porque eu invadi seu
território e tentei matar Rocco. Porém, quando vi a menina de olhos azuis e
arregalados próxima à minha cela, eu senti uma paz que há muito tempo não
sentia.
Lake era quebrada. Alguém a quebrou e eu percebi isso rapidamente.
— Hoje faz um ano. — Sua voz diminuiu e eu fechei meus olhos. Droga.
— Um ano sem ele, e tem um estranho com seu rosto por perto, mas ninguém
me diz por que eles se parecem tanto. — Lake fungou e segundos depois
soluçou.
— Roman é irmão dele. Eles são gêmeos, Lake — falei para tentar
acalmá-la.
— Como? Mamãe nunca daria um filho para outra mulher...
— Ninguém sabe. Talvez Andy tenha roubado, eu não sei.
— Ele deveria estar aqui. Ele deveria saber...
— Prince quer que você fique bem. — Andei pelo escritório e olhei para
o relógio.
— Ele quer que eu seja fiel ao que sinto. E tudo que sinto é falta dele. Eu
acordo e durmo desejando tê-lo de volta. Você não sabe o que é desejar o que
não pode ter, Giulio.
Eu não sei?
Isso era uma piada do caralho.
Eu queria ver meu pai dia e noite. Queria pisar na terra italiana. Rever
minha família.
Mas eu não podia.
Lake não me conhecia, ninguém o fazia, porque todos estavam mais
preocupados com seus próprios problemas. Não era errado, mas era a realidade.
— Vou sair para trabalhar agora, Lake. Sinto muito por Prince. Um ano é
muito tempo.
— Você não faz ideia.
Lake desligou e eu respirei fundo. Um barulho na porta me fez virar e ver
Kiara. Seu cabelo loiro e molhado estava espalhado pelos seus ombros. A única
coisa que ocultava seu corpo da minha visão era uma toalha. Que Jesus me
ajudasse.
— O que foi? — questionei, ainda com os olhos presos às suas pernas.
Me recompus, mas quando encarei seus olhos, percebi que talvez Kiara estivesse
aqui a mais tempo do que eu imaginei.
— Ela é sua amante? — Seu olhar era mordaz.
A pequena mulher parecia magoada, porém, o que sobressaiu diante de
mim foi a raiva.
— Estamos casados há pouco mais de um mês e você já está me traindo?
— Kiara deu um passo em minha direção, erguendo o queixo em um
atrevimento que nunca vi em nenhuma mulher dentro da máfia. Seja na Cosa
Nostra ou Outfit.
— Kiara — avisei em tom baixo.
Ela parou diante de mim.
— Fico feliz.
Que diabos?
— Porque eu também tenho um amante. Ah, ele já estourou minha cereja
que você tanto queria que eu mantivesse. — O fogo do ciúme em seus olhos me
deixou curioso, porém, suas palavras foram o que me fizeram ver vermelho.
— Você nunca faria isso. — Me inclinei sobre ela e falei baixo. — Você
não quer a morte de um homem inocente nas suas mãos, quer?
Kiara engoliu em seco. Passei meu dedo sobre a curva do seu peito.
— Quer, Kiara? — Empurrei a questão, sentindo uma raiva desconhecida
agarrar meu corpo.
— Não — ela respondeu, por fim, e se afastou. — Eu espero que ela
valha sua vida. Porque é isso que vão arrancar de você.
Kiara saiu do escritório rapidamente.
Eu respirei fundo. Não sabia de onde ela havia tirado que Lake e eu
tínhamos algo. Estávamos conversando no jardim na festa de Natal, mas foi algo
rápido. Um dia, anos atrás, Salvatore pensou que eu sentia algo por Lake. Mas
nunca foi isso. Ela era uma garota que carregava muita merda, e eu não era
diferente.
Senti uma conexão. Ela uma amiga.

Lucian me saudou quando estacionei o carro e saí apertando meu casaco


grosso. Já eram quase duas da madrugada de uma noite infernal de fria em
Chicago, e eu ainda precisava cobrar um dos maiores traficantes da cidade.
Rocco queria o dinheiro que deveria ter sido entregue há dois dias. Não
importava quem eu ou Lucian precisássemos matar.
— Zyan. — Sorri ao me aproximar da sua casa.
Ele estava de pé na entrada, esquentando as palmas das mãos. O jeans
estava caído em seus quadris. Ele tragou o cigarro e espalhou fumaça pelo ar em
círculos suaves. Como diabos ele fez isso, eu não sabia.
— Como estamos hoje, Conti? — Sua pergunta era lenta.
— A pergunta é: você quer morrer hoje? Rocco quer o dinheiro dele e eu
não vou embora sem. — Puxei minha arma e posicionei em minha mão.
— Rocco, Rocco... — Zyan sorriu e olhou para Lucian. — Quero fazer
negócio com você. — Ele apontou para mim, mas seus olhos estavam em
Lucian. — Tenho uma carga indo para a Itália em duas semanas. Eu posso
colocar você dentro. Uma palavra sua e eu te levo de volta para casa.
Lucian me encarou por alguns segundos com os olhos desconfiados.
Nenhum dos homens da Outfit confiava em mim ou em Salvatore, quando ele
era vivo. Eu não os culpava.
— Zyan, eu quero o dinheiro. Agora — falei com raiva e me aproximei.
Peguei minha arma enquanto Lucian andava próximo a mim.
— Repense, Conti. Sua família, seu sangue... porra! — Seu grito ecoou
assim que apertei o gatilho e atirei em sua coxa. — Seu... — As palavras ficaram
em sua boca, porque atirei novamente.
— O dinheiro, porra! — gritei, me curvando.
Enfiei minha arma na sua barriga e o encarei.
— Você tem dez segundos. Dez... — Comecei a contar. Ele gritou por
alguém, e logo uma mulher apareceu com uma mochila. — Levante-se.
Zyan foi para perto da mulher, quase caindo pelos ferimentos que
ensanguentaram a neve aos meus pés. Lucian pegou a mochila e conferiu
enquanto eu continuava olhando para Zyan.
— Eu espero que seu pai morra e você nunca o reveja.
Por muito pouco não atirei. A visão do meu pai morto me deixou em
desespero, mas afastei a sensação e encarei Zyan.
— Na próxima vez, eu atiro em seu pau.

Quando cheguei a minha casa já passava das três da madrugada. Procurei


as chaves de Kiara, mas não estavam no local ao lado da porta. Andei até seu
quarto e tentei abrir a porta. Não consegui. Ela estava trancada. O que essa
menina estava fazendo?
— Kiara? — chamei, estranhando. Ela não fechava portas, nunca.
Peguei meu celular e entrei nas câmeras do apartamento. Cliquei em seu
quarto e meu corpo enrijeceu quando vi que não havia ninguém ali. Voltei para a
sala e tentei ligar para o seu celular. Todas as chamadas não foram atendidas.
Liguei para Bill, esperando que ele estivesse colado na bunda dela.
— Sr. Conti.
— Onde ela está? — perguntei, furioso.
— Ela está com a prima aqui no Date. Estou esperando elas decidirem ir
embora.
— Que porra? — gritei, completamente chocado. — Por que diabos você
não me avisou isso? — questionei aos berros, enquanto ia para o elevador.
— O senhor não me pediu detalhes, apenas que eu cuidasse dela. Estou
fazendo isso.
— Eu vou arrancar sua cabeça!
Desliguei a chamada e comecei a apertar e soltar meu punho, pensando
em maneiras de punir Kiara pela sua ousadia.
Estacionei de qualquer jeito depois de dirigir por quase vinte minutos.
Kiara não estava perto de casa. Ela estava em Oak Park. Eu iria matá-la.
Assim que entrei no bar que eu sabia ser do Matteo, olhei para todos os
lugares procurando por minha esposa impertinente. O cabelo loiro caía em ondas
por seus ombros, enquanto uma mulher dançava ao seu lado. Marchei
rapidamente em sua direção e parei diante dela.
Kiara não me notou, sua prima o fez e seu rosto ficou branco. Ela tocou
em Kiara. Quando os olhos azuis da minha esposa me viram, se expandiram
tanto que achei que explodiriam.
— O que... — Kiara fechou a boca antes que eu a mandasse. Seu corpo
ficou rígido e ela olhou sobre o ombro como se procurasse alguém.
— Está sem fala, Kiara? — Me aproximei novamente e segurei seu
braço. Ela estremeceu e eu apertei mais. — Espero que a sua família saiba a
mulher que você é. Se não souber, terei prazer em contar, porque, vamos lá, não
era eu o indigno?
Kiara quase começou a chorar. Eu vi suas lágrimas. Que bom, porra.
— E você, bem, você está proibida de se aproximar dela — afirmei para
a mulher morena, que arregalou os olhos.
— Kira? — A voz de um homem soou perto. Quando me virei, eu o vi
olhando entre nós. — Está tudo bem?
— O quê? — Eu ri, olhando para Kiara e então para o idiota. — Você me
surpreendeu, Kiara. Preciso lhe dar o crédito.
Arrastei-a entre as pessoas enquanto ouvia sua amiga e o idiota nos
seguindo. Que bom. Era isso que eu queria.
Assim que chegamos do lado de fora, Kiara segurou meu braço para me
fazer encará-la.
— Não é isso, eu juro. — Suas palavras saíram apressadas, ao passo que
o homem se aproximava com a mulher. — Por favor, vamos embora.
— Embora? — Eu ri. — A festa vai começar agora.
Kiara engoliu em seco enquanto seus acompanhantes paravam próximos
a nós dois. Bill estava atrás deles.
— Você, leve essa para casa — ordenei, furioso.
A prima de Kiara arregalou os olhos, mas não abriu a boca em nenhum
momento.
— Agora, você... — inclinei minha cabeça pensativamente. — O que eu
faço com você?
— Solte-a. Você não a merece. Kira é doce, e se você fosse um marido
bom, teria percebido que estamos nos vendo há semanas.
Semanas.
— Sandro, por favor, apenas vá embora — Kiara implorou ao meu lado,
me fazendo encará-la.
— Agora? — questionei, suspirando. — Sandro, você mexeu com a
mulher errada. Não existe nenhuma Kira. O nome dela é Kiara. Kiara Conti. —
Me aproximei e toquei seu ombro, encarando-o.
— Giulio, por favor...
— Shiu, silêncio, Donne — pedi, chateado. Me inclinei para Sandro e
tirei uma das minhas facas de dentro do meu casaco. — Na verdade, Sandro,
você mexeu com o homem errado.
A lâmina afiada deslizou para dentro da barriga dele, e o seu grito foi
ouvido por metros. Eu não me importei. Nada importava.
— Oh meu Deus! — Kiara gritou, arregalando os olhos enquanto o
homem caía no chão, segurando a faca. — O que você fez?
Eu andei em direção ao meu carro enquanto a puxava, ouvindo seus
gritos desesperados.
— O que você fez? — ela gritou mais uma vez quando estávamos dentro
do carro.
Deslizei para fora do estacionamento e encarei seu rosto repleto de
lágrimas.
— Eu mostrei a você como um homem da Cosa Nostra lida com traições.




Levei dois dias para entender o que Giulio havia feito, e cada vez que ele
aparecia em casa eu tremia. Maddie, ou qualquer outra pessoa, não conseguia
falar comigo. Giulio havia quebrado meu celular e eu não queria cruzar com ele
na sala para ir até o telefone.
O rosto surpreso de Sandro brilhou em minha mente e eu apertei a colcha
da cama com as mãos trêmulas. Eu fiz isso. Brinquei com Giulio ao sair com
Maddie, Sandro e Mark. Mamãe me avisou diversas vezes enquanto eu crescia
que não éramos livres. Não podíamos nos dar ao luxo da liberdade que mulheres
fora da máfia tinham.
A morte dele era minha culpa.
Ouvi a porta sacudir e me sentei, puxando a coberta. Giulio apareceu sem
camisa, apenas com um short baixo e braços repletos de tatuagens. Ele era lindo,
mas tão perverso quanto.
— Tenho um compromisso. Saímos em uma hora.
Com isso, ele saiu e fechou a porta.
Pensei em ficar na cama, dizer que não sairia para lugar algum com ele,
mas como eu poderia? Eu precisava sair. Ver pessoas, conversar.
Eu estava com medo dentro da minha própria casa.
Me ergui devagar e tomei um banho rápido. Sequei o cabelo, fiz ondas
suaves e escolhi um vestido verde que ia até o meio das minhas coxas. Era
apertado e moldava minhas curvas. Peguei um casaco e saí do quarto depois de
me maquiar.
Encontrei Giulio na sala, vestido com um terno preto e sem gravata.
Mordi meu lábio sem encarar seu rosto e engoli em seco. Eu deveria estar pronta
para ser esposa de um mafioso, mas eu nunca imaginei ter medo dele.
Mas eu tinha.
— Vamos.
O silêncio foi longo e constrangedor. Olhei pela janela o caminho todo,
vendo as ruas de Chicago cobertas de neve. Estávamos no inverno e tudo era
mais úmido.
— Para onde estamos indo?
— Preciso resolver um problema com Matteo. Ele não pode ir a Chicago
— Giulio resmungou e eu o encarei. — Blue está dando um jantar hoje para os
amigos dela ou alguma merda assim. Só vamos passar por lá rapidamente e sair.
— O que estou fazendo aqui, então? — perguntei, desviando o olhar.
— Eu não confio mais em deixar você sozinha, Kiara. Você fez um
trabalho excelente.
Sua ironia me fez respirar fundo, mas eu o ignorei.
Depois de longos minutos, o carro estacionou e nós saímos. Giulio tocou
minhas costas quando paramos em frente à mansão da Blue e Matteo. Eu
suspirei, tensa, porém encantada com a casa.
— Meu Deus, você é tão linda. — Blue abriu a porta, sorrindo com uma
bebê linda nos braços. — Essa é Nina. Nina, esses são Giulio, amigo da mamãe,
e sua esposa Kiara. — Blue sorriu, parecendo tão feliz que eu não me contive e
devolvi o gesto.
— Obrigada, Blue. Nina é linda. Parabéns — murmurei, enquanto ela
dava espaço para que nós entrássemos.
Ergui meu rosto e instantaneamente fiquei rígida. Travis estava parado na
sala com Raina ao seu lado. Seu cabelo loiro estava preso e ela estava com um
vestido bonito.
— Olá a todos. Boa noite — cumprimentei ambos, em seguida, olhei
para Matteo que estava longe, apenas nos encarando. — Olá.
— Oi, Kiara. — Ele acenou e encarou Giulio. — Vamos lá.
Os dois sumiram com Travis, nos deixando sozinhas.
Blue acenou para o sofá quando sorri para as garotas, então segui para lá
e me sentei.
— Você está bem? — Blue questionou
Engoli em seco, dando de ombros.
— Acho que sim e vocês?
Nossa conversa foi calma e mais sobre coisas inúteis. Não éramos
próximas, nunca fomos.
Ouvimos passos e logo os homens surgiram vindos do escritório.
— O jantar será servido em breve. Aceitam vinho?
Giulio negou.
— Só passamos rapidamente — ele respondeu enquanto eu me erguia e
ia em sua direção.
— De jeito nenhum. Fiquem, por favor. — Blue se aproximou,
balançando a cabeça e olhando para Matteo.
— Flame, eles precisam ir embora. — A voz de Matteo era tensa.
Acho que estava bem nítido que nem eu e muito menos Giulio éramos
bem-vindos.
— Não. Vamos jantar. Vocês vão em seguida — Blue murmurou e sorriu.
— Fiquem. — Matteo suspirou. — Blue insiste — ele resmungou, sem
vontade.
Giulio começou a negar, mas eu sorri ao aceitar o convite.
— Ótimo. Vou pegar o vinho!
Nós voltamos para o sofá e Giulio se sentou ao meu lado, ainda calado.
Raina se sentou diante de mim com Travis. Ele parecia bem. Na verdade, os dois
pareciam ótimos.
— Nunca nos falamos — Raina murmurou devagar e engoliu em seco.
— Eu espero que você não me odeie...
— Por que ela odiaria você? — Giulio tocou meu joelho e o apertou.
— Sabe, ela era noiva do Travis. — Ela levou a taça à boca depois de
explicar.
— Essa é uma grande novidade para mim.
A voz de Giulio me deixou arrepiada. Engoli em seco e suspirei de alívio
quando Blue retornou com duas taças de vinho.
— Obrigada — murmurei, pegando a taça.
— O.k., estou pronta.
A voz suave da Lake me fez erguer os olhos.
Ela desceu a escada e parou, sorrindo para todos. Quando seus olhos
pousaram em Giulio, eu me senti traída, doente e enjoada. Queria vomitar em
cima do meu marido. Que esfaqueou um homem por nada e agora esfregava a
amante em meu rosto.
Deus, eu o odiava.
— Boa noite, gente. — Ela se aproximou e cumprimentou a todos. —
Você é muito bonita, Kiara. Giulio tem sorte. — Lake sorriu enquanto falava.
Reuni toda a minha sensatez e agradeci a ela.
O jantar foi servido logo após, e nós fomos para a mesa de jantar
enquanto a babá levava Nina para o quarto.
— Então, você estuda algo? — Blue focou sua atenção em mim, fazendo
os olhos de todos se virarem em minha direção.
— Oh, não. Eu nunca pensei sobre isso...
— Sério? Mas nem quando criança? — Raina questionou, curiosa.
— Eu sempre sonhei em ser mãe. Pensava que era uma profissão. —
Deixei escapar e me arrependi. Isso era muito pessoal. Porém, em segundos,
Blue riu e eu fiquei mais relaxada.
— Com certeza é uma profissão. Você vai amar ser mãe — a esposa do
Matteo respondeu com simpatia.
— Eu tenho certeza de que sim — murmurei, lentamente.
Matteo bebeu o vinho enquanto encarava Giulio, antes de pousar a taça
na mesa.
— O cara que você tentou matar no Date está vivo. Mas você sabe disso,
não é?
As palavras dele me fizeram arregalar os olhos e meu coração começar a
bater mais rápido.
— Você sabe a resposta para essa pergunta. — Giulio foi firme ao
responder.
— Giulio lida com facas muito bem, é obvio que ele sabia — Travis
falou enquanto comia.
Ele sabia que Sandro estava vivo?
— Hum, posso usar o banheiro? — perguntei, já me erguendo. Agradeci
a Blue quando ela me indicou a direção.
Fechei a porta e respirei fundo, parando em frente ao espelho. Me curvei
para lavar as mãos e toquei em meu pescoço. Batidas à porta me fizeram pular
em meu próprio canto. Quando a voz suave de Blue soou, eu abri a porta.
— Ei, querida, tudo bem? — Ela franziu as sobrancelhas, preocupada.
— Sim, sim, é claro — respondi, rapidamente.
Blue me empurrou com delicadeza para dentro do banheiro e fechou a
porta.
— Você está tremendo, Kiara. O que houve? — Ela pediu uma
explicação que eu nem podia lhe dar. — Giulio nunca lhe faria mal, você sabe
disso, não sabe? — Blue pediu uma confirmação, mas, novamente, eu não podia
lhe dar. — Kiara, Giulio não machucaria você. Nunca. Matteo é capaz de matar
vários homens, mas ele nunca, jamais tocou em mim. Não duvide disso. Giulio
não é uma pessoa horrível.
— Ele parece ser — admiti, sentando-me no vaso.
— Ele não é.
— Ele matou meu amigo. Quero dizer, eu pensava que ele tinha matado,
mas Matteo disse que não...
— Giulio não quis matar o cara. Se quisesse, ele o teria feito. Entende?
— Blue segurou minhas mãos frias e me puxou. — Vamos voltar.
— Obrigada, Blue. Eu não tenho muitas pessoas ao meu redor agora... —
admiti com sinceridade.
— Sempre aqui, querida.
Nós voltamos para a sala e todos nos encararam.
— Kiara estava perdida. Eu me perco nessa casa, quem dirá ela — Blue
disse, fazendo Raina rir.
Me sentei ao lado de Giulio e sua mão pousou em minha perna. Encarei
seus olhos verdes e tentei relaxar. Os homens se serviram com bebidas depois
que terminamos de comer, então Blue chamou as mulheres para ficarem na sala.
— Não tenho ressentimentos, Raina — respondi quando ela retornou a
pergunta de mais cedo. — Sei que Travis a ama. É algo simples para mim.
— Eu... fico feliz. — Raina engoliu em seco e tocou minha mão. —
Espero que Giulio seja um marido bom para você.
Ele não era, mas isso só dizia respeito a mim e a ele.
— Alguma notícia do Roman? — a namorada do Travis questionou a
Blue e Lake, que estavam sentadas à nossa frente.
— Não. Ele sumiu. — Blue respirou fundo e mordeu o lábio. — Isso é
tão confuso. Andy não respondeu perguntas sobre eles. E agora ela sumiu com o
Roman.
— Ela estava com medo — Raina falou, parecendo preocupada. — Você
não fugiria com Nina se estivesse com medo?
— É claro, mas Prince sempre esteve por perto... se ela for mãe dele
também...
— Ela não é mãe dele. Ela roubou Roman da mamãe. — Lake grunhiu
em seu lugar, então encarei seu rosto tenso. — Roman é nosso irmão tanto
quanto Prince.
— Você não sabe disso. Prince pode não ser irmão de vocês — Raina
falou com firmeza, enquanto eu me sentia uma mera expectadora.
— Se eu fosse você não repetia isso. — A ameaça no tom de Lake fez
Raina ficar rígida.
— Você já está na faculdade, Lake? — perguntei, respirando fundo.
— Sim. Comecei no semestre passado. — Ela relaxou e sorriu. — Estou
cursando Direito. Você deveria pensar em algo. Estudar faz bem, ocupa sua
cabeça.
Será? A sensação de euforia em meu peito me deu a resposta.
Os homens voltaram para a sala e as despedidas começaram. Abracei
Blue e sorri para as outras duas mulheres, agradecendo a elas pela noite
agradável.
Giulio abriu minha porta e eu deslizei para dentro do carro. O frio estava
ainda mais doloroso que o ano passado, eu tremia. Suspirei ao me lembrar que
ano passado eu preparava um casamento com Travis.
— Por que você está casada comigo e não com o Mancini?
A pergunta soou assim que ele entrou no carro e fechou a porta.
Vergonha rastejou pela minha pele e eu evitei o encarar.
— Raina. Ele se apaixonou por ela.
— Então você foi entregue ao sleale. — O prazer em sua voz era notório,
mas eu sabia que uma parte dele se ressentia.
— Você não é desleal ou um rato. Você está aqui. — As palavras saíram
antes que eu pudesse pensar sobre elas. Virei o rosto e o encontrei me olhando.
— Não quero estar aqui, Kiara.
— Então, por que está? — Me atrevi a perguntar, porém eu sabia o
porquê.
Ele pertencia a Outfit, exatamente como eu.
A diferença era que ele havia nascido na Cosa Nostra, enquanto eu dentro
da Outfit.
— Não devemos falar sobre isso. — Sua resposta foi rápida quando ele
pisou no acelerador.
— Por que não? — Engoli em seco quando vi suas mãos apertarem o
volante.
— Quanto menos souber será melhor. — Giulio virou na avenida e eu o
vi olhar para o retrovisor, franzindo as sobrancelhas.
— O que foi? — Olhei para trás e suspirei.
— Tem alguém nos seguindo.
Eu gritei e toquei em sua perna quando o carro deu um solavanco para a
frente.
— Você está bem?
Olhei ao redor, tonta. Assim que olhei para a frente, vi que um carro
havia parado diante de nós. Percebendo o mesmo que eu, Giulio rapidamente
deu ré. O carro que nos perseguia estava atrás, não íamos conseguir. Porém,
Giulio se esforçou para que sim.
Meu batimento cardíaco acelerou quando vi um homem sair do veículo.
Ele ergueu a arma e a mirou em minha direção. Eu gritei, apavorada, mas Giulio
conseguiu tirar o carro da linha das balas antes que me atingissem.
Oh meu Deus. Minha respiração saiu rápida enquanto ele ainda voava
pela avenida, rígido.
— Quem era? — perguntei, sem fôlego, enquanto minha barriga se
contorcia.
Os carros já haviam sumido, o que me tranquilizou um pouco.
— Não faço ideia. — Giulio tocou meu rosto e olhou cada pedaço meu.
— Você está bem?
— Sim, sim. — Acenei freneticamente para acalmar seus olhos vidrados.
— Vamos para a casa.
Casa.
Deus, eu não sabia que um dia pudesse amar tanto ir para aquele
apartamento.
Nós entramos no elevador e Giulio fechou os olhos, se inclinando contra
a parede de ferro. Meu peito ficou dolorido ao ver a preocupação tomar conta do
seu corpo. Eu estava com medo, preocupação se retorcia dentro de mim, mas eu
não queria vê-lo assim.
— Está tudo bem — consegui dizer, enquanto ele olhava fixamente para
os meus pés.
— Poderiam ter matado você.
— Mas não mataram — falei, lambendo meus lábios.
— Proteger você é meu trabalho e eu quase falhei hoje. — Giulio ergueu
os olhos e eu fui puxada em sua direção como se seu próximo fôlego dependesse
disso. — Quem desejaria machucar você? — Meu marido franziu as
sobrancelhas.
Eu parei diante dele e ergui a mão. Deslizei meus dedos em sua testa,
tentando desfazer os vincos de preocupação.
— Estou bem, Giulio — murmurei.
Seu olhar foi dos meus olhos até meus lábios. Eu fiz o mesmo, e desejei
provar o sabor do seu beijo. Sua boca era grossa, vermelha e a barba por fazer
me fez imaginar coisas.
— Kiara. — O aviso foi lento, mas eu o ignorei.
Segurei seus ombros e me inclinei, juntando nossas bocas. Foi firme
desde o princípio. Giulio tocou minhas costas e sua mão apertou minha cintura.
Eu abri meus lábios e sua língua foi rápida. Provei álcool em sua boca e gemi
quando ele mordeu meu lábio.
Deus, era o próprio paraíso. Suas mãos me seguraram firmemente contra
ele e eu estremeci cada vez que sua língua deslizou pela minha, em uma busca
por algo que eu nem mesmo sabia o que era.
Mas queria descobrir.
O elevador parou e Giulio interrompeu nosso beijo. Ele me afastou e me
levou para o nosso apartamento em silêncio. Quando a porta se fechou, suspirei
e observei seus ombros rígidos, então percebi que tudo havia ficado porta afora.
Aqui éramos novamente a Kiara indesejada e o Giulio controlador.



Eu precisava de respostas. Kiara estava na cama e eu ainda permanecia
andando pelo apartamento. A visão do homem mirando nela colocava peso sobre
meu peito todas as vezes. Quem era aquele homem, e por que queria machucar
Kiara?
— Espero que seja uma coisa importante.
A voz sonolenta de Lucian me fez apertar o celular.
— Alguém tentou matar Kiara hoje. Eu quero saber quem foi.
Ouvi um farfalhar de tecido e a respiração do meu amigo. Eu não
confiava em muitas pessoas, mas Lucian era um dos únicos para quem eu podia
contar coisas. Não toda a merda que havia na minha cabeça, só o que eu podia
falar.
— Está acontecendo algo com os Bonnucci. Comece por eles. — Lucian
suspirou.
Encarei a cidade pelas paredes de vidro imensas.
— Como assim?
— Santino foi ameaçado. Eu não sei os detalhes, mas seu sogro está com
algum problemas — Lucian murmurou. Ao fundo ouvi uma tampa cair, cerveja
talvez.
— Se ele estiver com problemas, deveria mantê-los longe da minha
mulher.
— Então, como é estar casado? — ele questionou.
— Boa noite, Lucian.
Eu desliguei a chamada e me virei. De novo, Kiara estava de pé, mas
dessa vez não era uma toalha em volta do corpo dela. Era uma camisola de seda
e renda que me deixava imaginar bastante.
— Pensei que estivesse dormindo — falei com firmeza e andei até o bar.
Me servi de mais uísque e virei o copo, sentindo o líquido queimar minha
garganta.
— Eu tentei. — Kiara abraçou a si mesma e ergueu os olhos para mim.
— Você não matou Sandro.
Não. Eu não matei.
Eu aprendi a lidar com facas desde os meus dez anos. Essa sempre foi
minha definição de brincadeira. Meu pai fez se tornar divertido. Ele me fazia
treinar em carnes. Francesco Conti era um homem respeitável.
Eu sentia sua falta.
— Sandro ou qualquer homem que fique em nosso casamento não tem
culpa das suas escolhas, Kiara. Eu não mato homens inocentes. — Me virei e vi
o seu rosto cair. Exatamente. — Pense nisso na próxima vez que sair com
alguém.
— Eu não tinha nada com ele. Era amizade.
Eu ri. Nossa, essa garota era mesmo inocente assim?
— Ou sua família te protegeu demais ou você é apenas cega — grunhi,
irritação crescendo. — Nenhum homem quer amizade com uma mulher.
Nenhum. Ou ele está planejando te foder ou ele é gay. Não existe meio-termo.
Então me poupe disso.
— Eu nunca trairia você. — Seu queixo foi projetado para cima, vi o
ardor do ciúme. Lá vamos nós. — Não sou como você. Gostou de vê-la? Ou
minha presença te impediu?
Respirei fundo e andei lentamente até parar diante dela. Kiara continuou
firme, sem piscar. Admirei-a por isso, eram poucos homens que me encaravam
nos olhos.
— Eu nunca toquei em Lake Trevisan. Nunca a beijei e nem quero. —
Minhas palavras saíram lentas, mas firmes. Minha esposa arregalou os olhos e
engoliu em seco. — Você tem fantasiado muito, Kiara.
— Vocês são o quê? — Ela apertou a mandíbula e riu devagar. — Eu o vi
olhando para ela naquela festa...
— Ela é minha amiga.
— Amiga, hum? — Kiara riu e cruzou os braços. — E a conversa de que
todo homem está planejando foder a amiga?
— Eu não quero Lake Trevisan ou qualquer outra mulher. Eu quero sair
desse país e fingir que nunca estive aqui.
Kiara deu um passo para trás, quase senti o impacto que minhas palavras
causaram.
— Você já tem tudo planejado, não é? — Ela desviou os olhos dos meus
e encarou o chão. — Você vai embora e me deixa aqui... virgem, assim posso me
casar com outro homem...
— Esse é o plano — confirmei, cansado de deixar essa menina no
escuro.
Eu não estava mudando apenas a minha vida, mas a dela também.
— Não quero me casar com outro homem — Kiara afirmou rapidamente
e me encarou por segundos antes de olhar para as paredes do escritório. — Eu
quero que você apenas me deixe de fora. Não me conte nada, porque nós
sabemos o que Rocco fará comigo quando você for embora.
Ele faria perguntas a ela, mas nunca a machucaria. Rocco Trevisan
poderia ser um pedaço de lixo, mas não machucava mulheres.
— Ele não vai tocar em você.
— Não se preocupe comigo. — Kiara sorriu e me encarou com seus
olhos azuis brilhando.
— Kiara.
— Você deveria se preocupar consigo. — Ela deixou os braços caírem e
deu um passo para trás. — Nós dois também sabemos o que Rocco fará com
você se for pego.
Sim, ele me mataria. Exatamente como queria fazer com Salvatore. A
diferença é que o primeiro ele não conseguiu. Mas conseguiria comigo.
Kiara saiu do meu escritório e eu joguei o copo de vidro na parede,
furioso.

— Atire.
O corpo dela se retesou ao meu lado e seus olhos se arregalaram.
— Atire. Agora.
A mão dele tremia enquanto empurrava a arma na minha direção.
— Não posso. — Balancei a cabeça repetidamente, sentindo meu peito
ser esmagado. — Não me peça isso.
— Ele vai me matar, Giulio. Ele. — O orgulho em seu olhar o traiu tantas
vezes. Agora era o final da linha e nós dois sabíamos disso.
— Eu faço. — Lake decidiu ao meu lado, então eu a encarei. — Tudo
bem, apenas me ensine...
— Não. — Salvatore cuspiu com nojo. — Não vou morrer pelas mãos de
um de vocês. O que diabos ela está fazendo com você, aliás?
Eu não sabia. Lake estava aqui, no entanto.
— Deixe-o fazer isso. Você sabe que isso vai ser o motivo de Sienna
odiá-lo. Esse será o castigo dele — anunciei, irritado, sem dar a mínima se Lake
podia ouvir. Eu era leal ao homem diante de mim que implorava para que eu o
matasse.
— Você não entendeu... — Salvatore segurou minha cabeça e juntou
nossas testas. — Isso vai matá-la. Não posso...
— Giulio! Giulio!
A sacudida em meu braço me fez abrir os olhos rapidamente.
Puxei Kiara pela cintura e me ergui, colocando-a às minhas costas tão
rápido que fiquei tonto. Peguei a arma com a mesma velocidade e mirei na porta
do quarto, porém não havia ninguém.
— Calma. — Kiara tocou minha coluna, e devagar consegui respirar. —
Você estava tendo um pesadelo.
Me diga uma novidade. Todas as noites eu sonhava com a mesma coisa.
A morte do meu melhor amigo.
— Eu estou bem — murmurei ao me virar.
Ela estava diante de mim, tão pequena e indefesa quanto a primeira vez
que a vi.
— Eu estava indo tomar água e ouvi... eu... — Ela desviou os olhos do
meu peito e engoliu em seco. — Vou voltar para o meu quarto.
Ela tentou sair, mas a cama estava bem colada às suas coxas e eu estava à
sua frente.
— Ele vai me matar se eu for pego — murmurei a resposta para o que ela
falou mais cedo. — Não apenas me matar, ele vai me mutilar, me torturar. Seus
irmãos farão fila para isso. — Minha voz era fria enquanto meus dedos tocavam
o cabelo loiro e ondulado dela.
Seus olhos que eram o verdadeiro paraíso se fixaram nos meus. Havia
lágrimas ali. Jamais desejei tanto algo que nunca poderia ser meu. Kiara era
minha. Porém, não por muito tempo. Logo que eu partisse ou morresse, não
importava, ela seria reinserida na Outfit como solteira ou viúva. Um homem
esperto a faria dele.
E eu queria matá-lo.
— O que está pensando? — Sua voz doce enviou sangue em direção ao
meu pau.
— Em como eu poderia matar seu futuro marido. Há tantas maneiras.
Kiara arregalou os olhos e eu toquei seu rosto.
Eu desejava levá-la comigo. Eu não era estúpido o suficiente, mas... e se
eu tivesse a chance?
— Não irei me casar novamente. — Sua resposta foi sucinta.
— Como?
— Ninguém me obrigará a me casar novamente. Meus pais ou Rocco.
Talvez.
— Eu quero que me toque, Giulio.
Kiara era como a própria maçã proibida, pedindo, implorando para ser
mordida. Eu fui tentado e sabia que pecaria.
— Onde? — questionei, baixinho, enquanto a via tocar as alças da
camisola.
Kiara Conti era perfeita dos pés à cabeça. Seu corpo foi feito para o
pecado mais perverso de todos. Me fazer cair.
— Em toda parte.
Kiara ficou nua e eu ergui a mão, tocando em seu seio cheio. O mamilo
era da cor de pêssego e estava endurecido. Apertei meus dedos na carne e
rodopiei. Kiara engoliu em seco. Eu estava tocando apenas em seu mamilo.
Nada além disso.
— Giulio.
Deus, seu gemido era como música. Kiara se contorceu e eu me inclinei,
beijando seu pescoço. Suas mãos seguraram meus ombros e eu mordi sua pele,
querendo marcá-la. A necessidade de deixar marcas em seu corpo me deixou
preocupado por um segundo, mas quando Kiara me puxou para a cama, eu
esqueci.
Toquei suas coxas, apertei sua cintura e a beijei com o mesmo desespero
de antes. Eu estava faminto, queria possuir Kiara. Dizer a todos que ela me
pertencia.
— Fique quieta, Donne — murmurei, descendo sobre seu corpo.
Mordisquei seus seios, beijei sua barriga e lambi o osso do seu quadril. Kiara
gemeu e era como se um coral de anjos estivesse cantando.
Separei suas coxas com meus ombros e suspirei ao ver sua boceta nua.
Jesus Cristo, isso sim era a tentação dos infernos. Eu abri seus lábios e lambi a
inocência, tentando pensar em como eu poderia me erguer e sair do quarto. Em
como poderia negar a tentação. Porém, quando seu gosto atingiu a minha língua,
eu estava perdido.
Eu queimaria no fogo do inferno.
— Oh meu Deus. — Kiara fincou as unhas em meus ombros e gritou
quando assoprei e mordi seu clitóris.
Seus espasmos começaram assim que lambi suas dobras mais uma vez.
Kiara era tão sensível e receptiva. Deus, ela seria perfeita para foder de maneiras
que eu amaria.
Me afastei e suas pernas se enrolaram em meu quadril. Suas mãos
pequenas puxaram minha cueca para baixo e meu pau saltou, duro e necessitado.
Diabos, ele não via boceta há meses.
— Não pare. — Era para sair como um pedido, mas soou como uma
ordem.
Kiara Conti tinha a altivez de uma rainha e ela sabia disso.
Ela segurou meus ombros enquanto eu ainda estava de joelhos na cama, e
se ergueu o suficiente para estar em cima de mim. Eu me sentei sobre meus
calcanhares e observei a pequena loira me montar. Kiara segurou meu pau e
deslizou sobre ele como se soubesse exatamente o que fazer. Quando a senti
muito apertada, meu coração bateu mais rápido. Tentei pensar nos motivos que
eu não deveria fazer isso. Em Kiara sozinha e arruinada em Chicago quando eu
fosse embora, mas tudo sumiu assim que ela colocou força em seus quadris e
gritou quando meu pau rompeu seu hímen.
— Oh Jesus. — Donne me encarou, respirando com dificuldade.
Comecei a deslizar dentro dela. — Me beije.
Porra.
Eu me inclinei e beijei sua boca, deitando-a sobre os lençóis brancos.
Com o braço ainda enrolado em sua cintura, eu fodi Kiara lentamente, testando a
dor que ela estava sentindo. Meus músculos doíam do esforço de não a foder
com força.
— Não se contenha — ela pediu, beijando meu pescoço.
Eu empurrei meus quadris em sua direção rapidamente, me libertando.
— Oh — Kiara gemeu. Eu sabia distinguir quais gemidos eram de dor e
de prazer. Suas pernas ainda estavam firmes ao redor dos meus quadris, quase
como se ela estivesse com medo de eu sair.
Mas eu não sairia. Deus, nem o diabo conseguiria me tirar daqui.
Meu corpo estremeceu quando ela gritou e apertou meu pau com sua
boceta, que parecia uma luva de tão apertada. Kiara chupou meu esperma com
sua vagina e eu me deixei levar.
— Eu quero de novo.
Suas palavras me fizeram rir em meio a minha respiração rápida e
cortada. Kiara sorriu e seus olhos azuis brilharam.
— Você vai ficar dolorida.
— Só mais uma vez. — Ela segurou meu rosto e beijou minha boca. —
Eu posso ficar por cima.
E pronto. Eu estava acabado. Kiara Conti era uma amazona.
Perfeita, sensível e gulosa.
Eu estava acabado.



Quando acordei, meu corpo estava além de dolorido. Procurei Giulio
com a mão e percebi que estava sozinha. Me virei e o vislumbre de um copo e
medicamentos me fez me erguer. Peguei os comprimidos e tomei devagar com a
água.
Meu coração estava silencioso e isso me deixou um pouco preocupada.
Ele sempre estava alto o bastante para me dar ideias sobre tudo. Ontem, quando
Giulio tocou em mim pela primeira vez, ele estava em êxtase.
— Por favor, que ele não tenha se arrependido — implorei, debaixo do
chuveiro, enquanto a água quente deslizava sobre mim.
Giulio foi intenso em cada toque das suas mãos em meu corpo. Ele me
tocou com tanto cuidado durante todo o tempo, que foi impossível não imaginar
uma vida inteira com ele. Imaginei nós juntos e felizes. Deus, eu era tão tola.
Giulio planejava ir embora.
A vozinha, baixa o bastante para não me deixar apreensiva, sussurrou
coisas que eu nunca poderia sequer imaginar.
Por isso, eu a ignorei e finalizei meu banho.
Quando desci, encontrei Giulio à mesa tomando café. Eu me sentei e
fiquei em silêncio.
— Preciso falar com seus pais. — Giulio limpou a boca e me encarou.
— Meus pais? Por quê? — Meus batimentos aceleraram e minha cabeça
começou a imaginar coisas horríveis.
— Lucian, um colega, disse que eles foram ameaçados. Esse pode ser o
motivo de ter um desgraçado tentando matá-la.
Suas palavras me deixaram fria. Não sabia muito sobre os negócios do
meu pai. Para todos os efeitos, ele era dono de uma empresa de construções,
porém, por trás, todos sabiam que era um dos homens de confiança do Don.
— Você acha que... — Não consegui nem terminar de falar.
— Que alguém tentaria te matar para atingi-lo? — Da voz de Giulio
pingou sarcasmo.
— Você deve estar certo. — Engoli em seco e me servi com frutas e
suco.
Nós comemos em silêncio e depois Giulio me guiou para fora. Não levou
muito tempo para chegarmos à minha antiga casa. O carro de Maddie estava
estacionado e meu marido me guiou até a entrada.
— Não precisamos apertar a campainha... — comecei a falar, franzindo
as sobrancelhas.
— Você talvez não, mas eu sim.
Meu coração apertou com sua observação. Nós dois sabíamos que a
minha família não aceitava Giulio.
— Me desculpe por isso...
— Você não tem culpa de acabar com um rato.
— Você não é nada disso — afirmei, rapidamente tocando seu peito.
Giulio respirou fundo.
— Eu sou, Donne. Eu vou traí-los.
Puxei minha mão, percebendo que ele estava certo.
A porta se abriu e Maddie arregalou os olhos ao nos ver. Eu não podia
culpá-la. Giulio assustou não apenas a mim aquele dia, mas a ela também.
— Preciso falar com Santino. Agora.
Assim que Maddie abriu mais a porta, sorri e peguei em suas mãos.
— Está tudo bem — sussurrei, me afastando para ficar perto de Giulio.
Minha prima acenou ao mesmo tempo que meu pai entrou na sala. Seu
olhar ficou furioso e eu engoli em seco, temendo por sua reação a Giulio aqui, na
casa dele.
— O que está fazendo aqui? — A voz do meu pai ecoou, me fazendo dar
um pulo no meu lugar.
Giulio tocou minha coluna suavemente e eu relaxei.
— Kiara e eu precisamos falar com você.
O olhar do meu pai foi dele para mim e seu rosto se retorceu ao ver
Giulio me tocando.
— Te darei cinco minutos e Kiara não participará.
— Isso a envolve. Ela vai estar presente e não é algo que discutirei com
você.
Meu pai apertou o punho, mas apenas se virou e andou em direção ao
escritório. Giulio e eu o seguimos.
Assim que entramos, os dois homens permaneceram de pé, porém, eu
queria que ambos se sentassem. Queria que o clima ficasse menos denso, então
me sentei.
— Você levou minha filha à ruína. Não o quero dentro da minha casa,
então fale de uma vez.
Meu pai estava vermelho como nunca o vi. Ele era loiro como eu, ficava
vermelho com facilidade, mas nunca o vi tão irritado como agora.
— Seu Don levou Kiara à ruína. Não eu.
Me encolhi ao perceber como falavam de mim como se eu não estivesse
presente.
— Nosso Don — meu pai rosnou, lembrando-o.
Giulio sempre parecia precisar que alguém o lembrasse que ele era a
Outfit.
— Foda-se. Eu vim aqui porque alguém tentou matar Kiara. Não quero
que suas coisas respinguem sobre ela, você está entendendo? — Quando Giulio
deu um passo em direção ao meu pai, eu me ergui e toquei suas costas. — Kiara
é uma Conti agora, mesmo que você odeie isso. Se não der um jeito nisso eu
darei, só que meus métodos não são como os seus.
Meu pai me encarou e se aproximou.
— O que houve, filha?
— Estávamos vindo de Oak Park. Um carro nos seguiu e outro nos
fechou. Um homem saiu do veículo e mirou a arma em mim. Giulio conseguiu
sair com o carro antes que ele pudesse atirar — expliquei ao meu pai enquanto
tremia levemente ao me lembrar.
— São negócios malfeitos. Darei um jeito, por enquanto, acho mais
seguro Kiara ficar conosco.
Eu semicerrei os olhos e me afastei do meu pai, indo em direção a Giulio.
Ele estava encarando meu pai e nem mesmo me encarou.
— Eu vou protegê-la.
— Você não poderia nem se quisesse. — Papai encarou Giulio como se
ele fosse insignificante.
Isso me fez apertar meus punhos.
— Giulio é meu marido agora — murmurei com firmeza, encarando meu
pai. — Não vou sair da minha casa e vir para cá.
— Maddie está conosco agora. — A voz do meu pai me fez semicerrar os
olhos.
— O quê? Por quê? — me apressei a questionar.
— Seus tios sofreram um acidente de carro.
Meu coração parou e meus olhos se arregalaram. Papai desviou os olhos
dos meus e pigarreou.
— Tudo aconteceu hoje de madrugada. Ainda não sabemos o que houve,
mas foi um acidente.
— Um acidente? — Giulio se aproximou do meu pai, completamente
rígido. — Kiara não vai ficar aqui. Essa merda está maior do que eu achava, e eu
não vou permitir que seus erros respinguem nela.
— Como você ousa, seu desgraçado? — papai gritou, segurando Giulio
pelo paletó.
Eu me aproximei e toquei ambos.
— Por favor — implorei, com as lágrimas já enchendo meus olhos.
Queria Maddie. Queria abraçá-la e dizer que nunca vou abandoná-la.
— Cuide da sua bagunça, Santino.
Giulio se soltou do meu pai e segurou meu braço.
— Vamos.
Ele me guiou para fora e eu o parei antes de chegar à sala.
— Eu preciso falar com a Maddie. Você pode me esperar no carro? —
pedi, enquanto os rostos dos meus tios entravam em meus pensamentos. Não
acreditava que ambos tinham morrido.
— Tudo bem. Leve seu tempo.
Assim que chegamos à sala, Giulio saiu e eu me aproximei de Maddie,
que estava sentada no sofá olhando para as mãos.
— Ei, querida. Papai me contou o que houve. — Me acomodei ao seu
lado e minha prima se jogou em meus braços.
— Como isso aconteceu? Mamãe se afastou da máfia pela violência e
acabou morrendo assim...
— Mas papai disse que foi um acidente — murmurei, sem fôlego.
— Não. Foi um homem que atirou no carro. Papai perdeu a direção e
bateu.
— Como sabe? — questionei, já soluçando. Não podia acreditar que isso
estava acontecendo.
— Eu estava em ligação com a mamãe. Eles estavam indo para meus
avós. Queria fazer surpresa chegando de manhã para o café...
Maddie me abraçou e eu passei a mão por seu cabelo, ficando tão abalada
como qualquer pessoa ficaria ao saber disso.
— Eu sinto muito, Maddie.
— Não acredito que perdi os dois, Kira. Não consigo me imaginar
sepultando ambos...
Nem eu.
— Você quer ficar conosco? Sei que papai quer que fique aqui, mas,
Maddie...
— Eu vou com você. — Ela acenou repetidamente, então eu a abracei
mais uma vez.
Agora eu precisava falar com Giulio.
— Arrume suas coisas, converse com meus pais. Eu te busco mais tarde
— falei, me afastando e limpando suas lágrimas.
— Obrigada, Kira.
Ela não precisava agradecer.
Assim que entrei em seu carro, Giulio dirigiu para fora da residência da
minha família.
— Maddie disse que mataram os pais dela — comecei a contar tudo que
ela me disse.
Giulio me encarou, completamente tenso.
— Seu pai fodeu alguém seriamente, Kiara. Ninguém busca vingança
matando seus familiares por pouca coisa.
— Sim, eu sei. — Respirei fundo e mordi meu lábio, tentando não
chorar. — Pedi a Maddie que ficasse conosco. Tem algum problema?
Giulio me encarou pelo que pareciam ser minutos, mas eu sabia que
foram apenas alguns segundos.
— Madeleine pode ficar conosco, mas lembre-se, Donne, eu estou indo
embora. Se sua prima me entregar para Rocco, o próximo a morrer serei eu.
Eu sabia disso. Maddie nunca saberia.
Assim que chegamos à nossa casa, pedi para a mulher que trabalhava
para Giulio para preparar um quarto. Fiquei sozinha durante o dia inteiro, e
quando chegou à noite, recebi uma mensagem dele.
“Lucian foi pegar sua prima.”
“Eu queria ir, e quem é Lucian?”
“Alguém que confio. E você não vai sair de casa enquanto seu pai
não matar esse desgraçado.”
“Você está louco.”
“Eu sempre fui.”
Joguei o celular sobre a cama e respirei fundo, tremendo. Ele não podia
me manter dentro de casa para sempre. Não era possível. Era?
A campainha tocou depois de vinte minutos. Corri escada abaixo e abri a
porta, encontrando um homem loiro e de olhos escuros. Seu cabelo era baixo,
mas havia um topete. Ele estava com um casaco grosso com neve por cima dos
seus ombros, enquanto Maddie estava ao seu lado, parecendo pequena.
— A encomenda está aqui — Lucian, supus, falou, parecendo
desinteressado antes de dar um passo para trás.
— Eu não sou uma encomenda — Maddie falou entredentes. Lucian se
inclinou em sua direção. — Saía de perto de mim, demônio.
— Ah, querida, uma noite e você vai amar dançar no meu inferno.
— Porco!
— Patricinha.
Lucian se virou e foi embora, enquanto Maddie entrou no apartamento e
olhou ao redor. Eu ainda estava nervosa com o embate, mas ela parecia ter
esquecido.
— Eu posso tomar banho e me deitar? — A fragilidade que senti quando
a encontrei mais cedo voltou para a sua voz, então empurrei os pensamentos
sobre Lucian para longe.
— Claro. Vamos, eu te mostro o seu quarto.
Maddie me agradeceu por tudo e logo a deixei sozinha para tomar banho
e dormir.
Levei uma garrafa de vinho comigo para a sala quando resolvi esperar
por Giulio. Com um cobertor grosso, observei pela parede de vidro a neve cair,
deixando Chicago parcialmente branca. Engoli o líquido doce e meu corpo
esquentou ao me lembrar da noite de ontem.
Giulio finalmente havia me tocado. Eu vi diversas vezes a dúvida pairar
em seus olhos verdes. Por isso, eu mesma o desnudei, eu o segurei e o coloquei
dentro de mim. Fiz tudo, e eu faria novamente. Giulio era perfeito em cada
grama do seu corpo. Seus ombros eram largos, sua barriga rígida, sua boca era
carnuda e vermelha. Deus, eu queria beijá-lo mais uma vez. Queria voltar no
tempo para estar na cama com ele sobre mim, investindo dentro de mim sem
piedade.
Meus seios doíam e eu queria sentir suas mãos neles como ontem. Meu
ventre se apertou e eu me servi de mais vinho, tentando respirar fundo.
Não sei quanto tempo se passou, mas a garrafa estava vazia e meu
coração estava pequeno. Onde ele estava?
Peguei meu celular novo que ele havia me dado, enviei uma mensagem e
esperei por sua resposta.
Nada.
Me enrolei na coberta quente e tentei permanecer acordada, mas não
consegui, logo adormeci.

— Donne.
Mulher. Era um apelido tão bobo, mas eu amava quando sua voz rouca
ecoava a palavra italiana.
Abri meus olhos e o vi diante de mim. Seu rosto estava bem acordado e
ele havia acabado de chegar. Me virei e vi que estava quase amanhecendo.
— Onde estava? — Me vi perguntando enquanto me afastava do seu
toque.
— Não é hora para isso, Kiara. Vem, vou te levar para a cama.
— Qual cama? — Meu pulso acelerou com a minha pergunta.
— A nossa, Donne.
Oh Jesus.
Deixei-o me pegar nos braços e descansei minha bochecha em seu peito.
Giulio era alto e forte, percebi que amava ser carregada por ele.
Ele me colocou na cama e eu tirei meu vestido. Giulio gemeu ao me
olhar, então beijei seu peito.
— Você está dolorida, Kiara.
— Sim, mas eu quero.
— Senhor, você é uma tentação dos infernos. — Sua boca mordeu meu
pescoço e eu suspirei, sentindo suas mãos geladas tocarem meus seios.
Ele estava certo. Eu era uma tentação.
E eu testaria todos os seus limites.
Todas as suas crenças.
Tudo que ele venerava.
E eu sabia que isso era arriscado. Isso poderia me destruir, mas eu não
me preocupei.
Eu deveria ter me preocupado, no entanto.


Kiara estava dormindo ao meu lado depois de me enlouquecer na cama.
Ela havia deixado de ser virgem há dois dias, mas conseguia me colocar de
joelhos em malditos segundos. Com seu cabelo espalhado em meu peito, deslizei
meus dedos por sua coluna, sentindo sua pele macia.
Estava cada vez mais perto de sair de Chicago. Cada dia mais perto de
rever minha família. Eu teria que passar por Nova Iorque, mas o tempo valeria a
pena. Eu sabia que sim.
O nó dentro da minha garganta estava se tornando recorrente cada vez
que pensava em ir para a casa. E eu sabia que era por causa dessa diaba ao meu
lado.
Eu vi Salvatore cair por uma mulher, assisti à sua derrocada. Eu o
aconselhei cada vez que o vi cobiçar a esposa de Romeo. Mas eu nunca estive na
pele dele. Nunca.
Eu não sabia o que era desejar algo que não podia ser meu.
Até agora.
Para todos os efeitos Kiara era minha, mas eu e ela sabíamos que era uma
questão de tempo.
E isso estava me deixando inquieto.
— Eu posso ouvir seus pensamentos. — A voz dela ecoou antes de
colocar o queixo sobre meu peito.
Já passava das nove da manhã e ela tinha dormido cinco ou seis horas
depois que cheguei. Eu dormi duas.
— E o que eles estão dizendo? — questionei, colocando meu braço atrás
da minha cabeça enquanto a mantinha perto do meu peito.
— Que nós precisamos nos levantar para o velório dos meus tios.
Ah isso! Santino era culpado por isso, e mesmo que eu quisesse muito
socar sua cara depois de ontem, eu faria melhor. Eu protegeria sua filha e
sobrinha, não ele.
— Sim. Eu sinto muito, Donne.
Kiara engoliu em seco e beijou meu peito devagar. Toquei sua bochecha
quando ela descansou a cabeça em meu peito.
— Ninguém vai machucar você.
— Eu sei. Eu confio em você, Giulio.
Ela não deveria, mas as palavras me deram a sensação de poder.
Uma hora depois, Kiara e Madeleine estavam no meu carro. Lucian
estava conosco, já que ele e Bill fariam a segurança das duas meninas a meu
pedido.
— Chegamos, Maddie — Kiara falou para a prima, que estava encarando
a igreja como se fosse o último lugar que desejaria estar.
Eu entendia.
Quando minha mãe faleceu, eu queria sumir.
— Tudo bem. Vão lá, eu a levo quando ela estiver pronta — Lucian falou
para mim.
Acenei e segurei a mão da Kiara.
— Vou te esperar lá, Maddie.
A prima dela acenou quase imperceptivelmente. Guiei Kiara para a
multidão de pessoas entrando na igreja. Ao nos sentarmos algumas fileiras atrás
da família Trevisan, Lake acenou para mim. Assim que devolvi o gesto, senti
Kiara ficar rígida.
— Você precisa parar com isso — sussurrei, me inclinando em sua
direção. — Eu não a quero. Nunca quis.
— Tudo bem. — Ela suspirou e me olhou.
A cerimônia começou segundos depois de Madeleine entrar com Lucian.
Ele a deixou com sua família e foi para a parte de trás da igreja. Kiara fungou ao
meu lado e eu tentei afastar a vontade de consolá-la. Eu não precisava de
demonstrações de afeto dentro de uma igreja lotada de inimigos.
— Eu vou para o lago. Vejo vocês mais tarde, pode ser? — Madeleine
perguntou, depois de Kiara abraçá-la.
— Claro. Mas sozinha... eu acho...
— Lucian vai com ela — interrompi Kiara e a puxei em direção aos
carros.
Nós entramos no carro e eu dirigi para a casa enquanto Donne ficava
batendo os dedos na coxa.
— Eu não acho que foi uma boa ideia. O homem que tentou me matar e
matou meus tios está solto...
— Lucian vai ficar de olho nela.
— Ela nem o conhece. — Kiara me encarou, franzindo as sobrancelhas.
— Ontem eles tiveram um embate, eu achei estranho...
— Lucian não vai machucar sua prima, Kiara. Não se preocupe.
Ela parou de discutir e eu foquei em dirigir.

Duas semanas depois eu estava irritado e com as mãos cheias de sangue.


Rocco me convidou para torturar um dos seus homens que estava roubando
dinheiro da Outfit.
— Você fez um bom trabalho. — Romeo Trevisan olhou para o homem
morto.
Enfiei o papel sujo de sangue em sua mão.
— Aqui está o endereço de onde o dinheiro está.
— O.k.
Deixei Romeo sozinho e fui me lavar. Meu celular tocou no bolso, então
enxuguei minhas mãos. Quando consegui pegar o celular, eu o atendi.
— Você não faz ideia de quem eu achei. — A voz pronunciada me fez
olhar por cima dos meus ombros.
— Quem?
— O mais novo deles.
— O quê? — Quase gritei, arregalando os olhos.
— Ele está em Nova Iorque.
— Ele morreu há um ano.
— Ele está vivo. Eu o vi.
— Isso é impossível. Deve ser o irmão gêmeo que fugiu.
Enrico não falou nada por alguns segundos.
— Talvez. — Ele respirou fundo. — Essa é uma chance de voltar para
casa. Não a desperdice.
Ele desligou e eu apertei meus olhos. Droga. Enrico não me ligava
nunca, mas se ele se atreveu a entrar em contato, alguma coisa estava certa.
E eu precisava ir para Nova Iorque.
Kiara estava em casa quando cheguei. Eu esperava por uma mensagem,
qualquer coisa que me desse uma prova de que Prince estava em Nova Iorque,
mas Mariano, o capo de confiança de Enrico, não a tinha enviado ainda.
— Ei. — Kiara se ergueu do sofá onde estava com Madeleine e alguns
papéis.
— O que é isso? — questionei, me aproximando e pegando as folhas.
O nome da Universidade de Chicago estava impresso no topo da folha.
— Estou pensando em estudar — Kiara falou, sorrindo.
Eu me odiei.
— Não. — Apenas uma palavra e o sorriso deslizou dos seus lábios.
Me virei e fui para o quarto que estávamos dividindo desde que tirei sua
virgindade. Ainda parecia irreal que eu tivesse ousado tocar nela sabendo que a
deixaria para trás logo.
— Ei, não jogue algo e saia como se eu fosse sua filha — Kiara gritou
assim que entrei no quarto.
— Você é minha esposa. E eu disse que você não vai estudar.
— Eu vou, e é melhor não ficar em meu caminho.
Eu sorri devagar e me aproximei, tirando meu casaco. Kiara engoliu em
seco e me olhou cautelosa.
— É uma ameaça, Kiara? — perguntei, me inclinando ao tocar a sua
pulsação no pescoço. — Saiba que não respondo bem a elas.
— Quero estudar e vou. Essa sou eu dizendo que você não manda em
mim, Giulio.
Sua voz tentou sair firme, mas cada vez que eu tocava em sua pele, indo
e vindo, ela estremecia. Mordi seu ombro enquanto a prendia contra a parede.
— Você não vai, Donne. Esse sou eu protegendo a minha esposa.
Me afastei devagar. Seus olhos estavam arregalados e seus lábios
entreabertos.
— Não temos notícias há duas semanas.
— Isso não quer dizer nada — murmurei e segurei seu cabelo claro preso
em um rabo de cavalo. — Ele pode estar planejando algo, e enquanto eu não
souber que ele foi morto, não tirarei meus olhos da sua bunda doce, Donne.
Kiara engoliu em seco e acenou por fim.
— Brava ragazza.
Eu me afastei dela e fui ao banheiro. Quando a água desceu sobre meus
ombros, eu ouvi a porta se abrir. Virei-me e encontrei Kiara de pé e nua. Deus.
Essa garota seria minha ruína.
Ela entrou no boxe e eu a puxei, erguendo-a contra a parede. Suas mãos
tocaram meu peito e eu me inclinei, mordendo seu mamilo. Kiara gemeu com a
água quente batendo direto em seus mamilos sensíveis, eu fiz o mesmo quando
senti seus dedos em meu pau. Ela o guiou para dentro de si e eu suspirei.
— Você sabe o que faz comigo? — Kiara gemeu, segurando em meus
ombros enquanto eu investia contra seus quadris, afundando meu pau em sua
boceta apertada.
— O mesmo que faz comigo, aposto.
— Nunca tive um vislumbre de sexo, Giulio. — Kiara lambeu meu
pescoço e mordeu minha orelha devagar. Porra. — Mas agora isso é tudo que
penso.
Porra vazou do meu pau e eu suspirei. Caralho, Kiara.
— Então está na hora de eu foder você com mais força.
Ela arregalou os olhos e eu a virei. Kiara se curvou e eu entrei em seu
corpo em uma estocada firme. Donne gritou, com as mãos contra a parede, ao
mesmo tempo em que eu segurava seus quadris. O som dos nossos movimentos
ecoou pelo banheiro enquanto a água do chuveiro ainda caía, molhando as costas
dela. Procurei seu clitóris com os dedos e torci o botão rosa entre eles. Kiara
gritou, quase caindo, mas eu a segurei. Ela estava mole. Sem me importar com
isso, levei meu tempo fodendo sua boceta e gozando dentro dela.
— Ah meu Deus — Kiara gritou quando coloquei a ducha contra seu
clitóris. Quando chupei seu mamilo em meus lábios, seus olhos se encheram de
lágrimas.
— Goze para mim, Kiara.
Ela o fez ao mesmo tempo que soluçou.
Beijei seus lábios e ela se agarrou a mim. Nos tirei do chuveiro e a levei
para a cama. Já passava da meia-noite, por isso, antes que eu a enxugasse, Donne
já estava dormindo.
Assim que me deitei ao seu lado, meu celular notificou uma mensagem.
Mariano.
Quando abri a mensagem, me senti inquieto. Prince Trevisan estava em
uma gaiola lutando. O vídeo era nítido. Os gritos das pessoas que assistiam me
fizeram baixar o volume. Apertei o celular entre meus dedos quando o vi quebrar
o pescoço do seu oponente.
Que diabos era isso?
“Onde é isso?”
“Venha para Nova Iorque.”
Ele não respondeu mais nada.
Porra.

Na manhã seguinte, eu pensei em meu plano repetidamente enquanto


Kiara dormia tranquilamente na cama. Tomei banho e peguei meu celular.
Cliquei em seu contato e suspirei.
“Preciso falar com você. Hoje.”
“Está bem cedo”
“Em meia hora, no hospital”
“O.k.”
Kiara se remexeu na cama e se virou. Toquei seu nariz quando ela sorriu
ao me ver.
— Preciso sair. Voltarei para o jantar. Não saia — pedi, enquanto ela
envolvia seus braços em meu pescoço. — Donne.
— Cuidado. — Seus olhos azuis brilharam com carinho, então toquei sua
bochecha.
— Eu sempre tenho. — Me inclinei para beijá-la, mas ela se afastou.
— Ei, não escovei os dentes ainda.
Eu a ignorei, segurando seu cabelo loiro e beijando sua boca. Ela
suspirou e eu mordi seu lábio.
— Brava ragazza.
Kiara sorriu e eu saí do quarto, deixando a parte da minha vida que eu
desejava, mas logo não poderia mais ter.
Assim que entrei no hospital da Outfit, eu a vi parada. Ela estava se
transformando em uma mulher rapidamente. Ao me ver, Lake sorriu e me
abraçou.
— Então, o que era tão urgente? — Seus olhos claros me fizeram
suspirar.
— Você jamais dirá a eles que fui eu quem deu essa informação a você.
Nunca, Lake. Prometa. — Baixei meu tom de voz.
— Não me faça escolher um lado. — Ela ficou rígida. — Você sabe a
quem eu sou leal até o dia da minha morte.
Eu sabia. A Rocco Trevisan. O seu irmão.
— Não posso falar sobre isso se não prometer, Lake.
— Eu não vou mentir para os meus irmãos, Giulio — Lake rosnou,
empurrando meu peito. Seus olhos capturaram todos que estavam por ali, alheios
a nossa conversa. — É sobre o quê?
A expectativa em sua voz me deixou em êxtase. Droga, eu sabia que ela
surtaria quando eu falasse. Mas eu precisava que ela prometesse.
— Seu irmão, agora prometa.
Seu rosto ficou branco e ela agarrou meu casaco ainda frio pela neve.
— Eu juro sobre o meu sangue. Fale. — Seu desespero me atingiu como
um soco.
Ela o amava mais que a si mesma e o colocava em um pedestal ridículo
desde que a conheci. Sempre foi assim. Prince, depois ela.
Procurei meu celular dentro do bolso e franzi as sobrancelhas ao não o
encontrar. Porra, devo ter deixado cair na cama. Inferno.
— Eu tenho um vídeo onde ele aparece.
— O quê? — Lake começou a respirar com força, então me puxou para
dentro de um depósito. — Prince? É o Prince? — Suas perguntas começaram. —
Onde? Ele está bem?
— Ele está bem. Ele está lutando em uma espécie de gaiola. Eu sei que é
em Nova Iorque. Somente isso.
— Mas é território da Cosa Nostra. — Seus olhos mostraram seu pânico.
— Enrico o manteve desde seu sumiço? Mas por que ele nunca pediu alguma
troca? — Lake me encarou, confusa.
— Eu não sei, Lake.
— Você vai nos trair novamente. — Ela chegou a essa questão segundos
antes de se aproximar, parecendo uma leoa. — Se isso for algum plano fodido
seu para fugir...
— Não é — grunhi, mentindo. — Ele está em Nova Iorque. Recebi o
vídeo de um amigo antigo. Preste atenção, eu lhe dei uma dica que há tempos
vocês procuram. Eu quero ir para Nova Iorque procurá-lo.
— Por quê? — Ela semicerrou os olhos.
— Eu preciso disso — falei entredentes.
Lake se aproximou de mim.
— Se você me trair, eu juro por Deus que eu mesma matarei Kiara.
Meu corpo ficou rígido. Eu quis pressionar Lake contra a parede
enquanto empurrava meu braço em seu pescoço. Porém, eu sabia que a pequena
Trevisan nunca machucaria Kiara.
— Eu sei que já gosta dela. Eu conheço você, seu idiota.
Respirei fundo e ignorei suas palavras.
— Temos a merda de um acordo ou não?
— Sairemos à noite.
Lake se afastou e saiu do depósito. Minutos depois, eu fiz o mesmo.




Eu odiava o que estava sentindo. A boca do meu estômago doía, meus
olhos não paravam de produzir lágrimas e meu coração estava dolorido. Eu não
deveria estar assim. Primeiro, ele não era tão importante para mim assim, era?
Segundo, ele era da máfia. O que mais faziam era mentir e trair.
A porta se abriu quando já passava das quatro da tarde. Eu havia visto as
mensagens quando voltei do almoço e encontrei seu celular ligado. Eu não
deveria ter desbloqueado. Porém eu o fiz, agora tinha que lidar com isso.
— Vou viajar daqui a uma hora. Lucian e Bill ficarão com você e
Madeleine — Giulio murmurou enquanto pegava uma mochila. Fiquei sentada
no sofá largo e macio do nosso quarto enquanto ele colocava algumas roupas
nela.
— Por que você viu Lake Trevisan hoje?
Encarando-o sobre meu ombro, eu o vi ficar rígido. Um tapa doeria
menos.
— Eu aceitei bem sua iminente traição e fuga. Sei que ficarei sozinha
logo, logo — murmurei, enxugando minhas lágrimas. — Eu só não consigo
entender por que você mente sobre essa garota.
— Você não deveria ter lido minhas mensagens.
— Talvez não. Mas eu vi! — Me virei, encontrando-o parado com os
olhos verdes presos a mim. — Eu vi, Giulio. Você me deixou em nossa cama e
foi vê-la.
— Nada disso é sobre você, Kiara.
Por que doía tanto? Eu estava sendo dramática ou eu havia me
apaixonado por ele? Mas diabos, como eu me apaixonei tão rápido?
— Eu quero que você e ela se fodam. Eu não preciso de você, Giulio.
Me ergui rapidamente e puxei minha mala, que já estava feita. Seus olhos
foram de mim para ela e voltaram algumas vezes.
— Aonde você pensa que vai?
— Estou indo para a casa dos meus pais. Vou ficar lá com Maddie.
— Kiara — ele rosnou, se aproximando.
Ergui a mão e bati em seu peito, fazendo-o parar.
— Não tente me impedir.
Ele não tentou. Giulio me deixou ir, e com isso eu me senti doente. Ele
não me merecia. Não por ser um traidor dentro da Outfit, mas por ser um traidor
dentro do nosso casamento.
Maddie me olhou por todo o trajeto que fiz dirigindo enquanto Bill me
seguia.
— Kira, sabe, você está com a cabeça quente...
— Ele me deixou para ir encontrar outra mulher, Maddie. Não estou com
a cabeça quente, estou com ela pesada dos chifres.
Minha prima suspirou, balançando a cabeça. Estacionei o carro em frente
à casa dos meus pais e saí. Assim que minha mãe me viu, ela suspirou. Eu não
estava com paciência para sermões, por isso apenas disse que iria para o meu
quarto. Minha mãe, sendo minha mãe, não permitiu.
— O que aquele miserável fez com você?
Isadora Bonnucci era linda. Seu cabelo loiro era quase platinado e estava
em ondas, seus olhos eram piscinas azuis. Ela era eu, porém, muito mais
sofisticada e com mais alguns anos.
Eu estava com o cabelo embolado no alto da cabeça, com o rosto inchado
e olhos vermelhos. Eu não tinha nada de sofisticado hoje.
— Diga.
— Ele... — As palavras ficaram entaladas na minha garganta.
— Ele a deixou e foi se encontrar com a Trevisan mais nova hoje pela
manhã — Maddie falou o que eu jamais poderia dizer.
— E você está chorando por quê, Kiara? — A raiva em sua voz fez os
pelos do meu braço se arrepiarem. — Fique feliz que ele a deixe livre. Mas eu
duvido que Lake se misture com aquele diabo.
— Tia, por favor. — Maddie ofegou, chocada.
— Ele é meu marido. Meu — falei, ofendida. Minha mãe abanou a mão,
descartando minhas palavras. — Não vou dividir Giulio com ninguém, muito
menos com ela!
— Ela estaria fazendo um favor a você. Mas como eu vinha dizendo, ela
jamais iria querer Giulio. Pare de ser boba, Kiara.
Deus, ela me dava nos nervos.
— Aliás, vou ligar para falar com ela. Se você quer tanto que ela se
afaste, eu pedirei isso.
— Mãe! — gritei, vendo-a ligar para os Trevisan. — Desligue. Pelo amor
de Deus...
Parei de falar quando ela ergueu a mão. Jesus Cristo.
— Gostaria de falar com Lake Trevisan. — Mamãe ficou em silêncio e
me encarou, com o olhar semicerrado. — Nova Iorque?
Meu coração diminuiu com suas palavras. Lake foi para Nova Iorque
também? Foi com Giulio?
Era óbvio que sim.
— Obrigada. — Mamãe desligou o celular e me encarou. — Ela foi para
Nova Iorque.
— Obrigada, mãe. Agora eu posso subir? — rosnei, raiva gotejando de
minhas palavras.
Não podia acreditar que ele estava com Lake. Era cruel demais até para
ele.
Lutei contra mim mesma para não ligar para ele, mas quando percebi,
estava em meu quarto com o telefone contra a minha orelha, ouvindo o bipe para
a caixa postal.
— Você nunca me prometeu nada. Nunca. Mas eu pensei que algo
estivesse acontecendo. Eu dancei conforme as suas mentiras. Acreditei em você.
Eu te odeio. Queria nunca mais vê-lo, mas você sabe o que dizem sobre pessoas
apaixonadas. Yeh, eu disse. Espero que ela te faça feliz.
Trêmula, desliguei o celular e me deitei em minha cama, fechando os
olhos em seguida.
Só tire isso de mim, Deus, o que quer que seja.
Tire de mim essa sensação horrível.
Tire de mim o desejo de pertencer a ele.
À noite, eu e Maddie fomos obrigadas a sair de casa. Minha mãe queria
que jantássemos em seu restaurante preferido. Papai estava relutante, porque
sabia que não deveríamos nos expor tanto, porém, depois que Isadora pediu
muito, ele concordou.
— Maddie, sei que está em um momento ainda delicado, mas
gostaríamos de deixar aberto o nosso desejo de casá-la com um homem do nosso
meio. — As palavras do meu pai fizeram Madeleine arregalar os olhos.
— Temos um pretendente em mente, mas nada certo ainda — mamãe
concordou rapidamente.
— Tia, tio, eu... meus pais não concordavam e eu, bem, eu não quero me
envolver com a Outfit. — Maddie foi corajosa.
Invejei-a por isso. Eu queria ter podido dizer essas palavras para os meus
pais.
— Bobagem. — Mamãe riu, balançando sua taça e bebericando o vinho
branco em seguida. — Será um bom casamento. Não se preocupe.
Antes que Maddie conseguisse falar mais alguma coisa, o garçom
chegou. Nós comemos em silêncio e quando um homem se aproximou da nossa
mesa, eu ergui o rosto e encontrei Lucian.
— Madeleine, preciso falar com você.
Suas palavras me fizeram encarar Maddie. Que merda estava
acontecendo?
— Com licença. — Ela se ergueu rapidamente.
Vi meus pais encarando o casal se retirar do restaurante.
— O que diabos foi isso? Maddie... ele é um soldado. — Mamãe franziu
o rosto com nojo.
— Não é isso. Não é nada disso. Logo ela irá retornar.
Mas ela não voltou.
— Oh, Senhor! — gritei quando as luzes se apagaram. Meu batimento
acelerou e eu me ergui, ouvindo as pessoas gritarem.
— Kiara, estamos aqui — meu pai gritou diante de mim.
Dei a volta na mesa, mas mãos agarraram a minha cintura.
— Vamos embora. — A voz rígida de Sandro ecoou, então arregalei os
olhos.
— O que... — Minha voz saiu histérica segundos antes de ele cobrir a
minha boca.
Meu corpo balançava enquanto ele me arrastava e eu me debatia em seus
braços. Meu coração batia acelerado quando finquei minhas unhas em seu braço
ao mesmo tempo em que tentava morder a sua mão. Mas não consegui.
— Pare, sua vagabunda! — ele gritou, assim que senti o frio me rodear.
Ele enfiou um pano úmido em meu rosto e eu lutei contra a escuridão,
mas ela me envolveu rapidamente.

Lake estava inquieta. Nós estávamos em um carro em direção ao centro


de lutas ilegais de Nova Iorque. Não era um local administrado pela Cosa
Nostra, mas ficava em seu território.
— Eu quero entender por que ele está aqui. — A voz de Romeo ecoou
enquanto olhava para mim.
Ao seu lado, estava Matteo e Rocco. Todos os irmãos quiseram ver com
seus próprios olhos Prince lutando em uma gaiola. Eles sabiam dos riscos, mas
nem o diabo os pararia de resgatarem o irmão que pensavam estar morto.
— Ele vai ser a nossa troca se Prince estiver aqui. — Lake soou, nervosa.
— Rocco não queria isso um ano atrás — Matteo falou.
Interessante essa informação.
— Prince está longe há mais de um ano. Eu entregarei até a sua bunda se
pedirem. Agora calem a boca, inferno — Rocco rosnou, completamente focado
nas janelas.
— Como você encontrou esse vídeo? — Matteo mudou de assunto,
focado em Lake, que estava sentada ao meu lado.
— Internet, Matteo. Você pode parar de fazer perguntas agora?
— Eu ainda acho arriscado. Estamos em território da Cosa Nostra,
mesmo sendo afastado do seu centro principal. Isso está cheirando a emboscada.
E eu não sei se vocês se lembram, mas eu tenho uma filha para criar.
— Romeo tem Remy, Rocco tem Amo e Rhett. Ninguém quer morrer,
Matteo, nós queremos Prince.
Todos ficaram calados quando Lake colocou as coisas assim.
Nós saímos do carro e um por um entramos no local. Lake entrou com
Rocco, ninguém pareceu perceber que estavam deixando uma adolescente entrar
ali.
Assim que nos reunimos a uma mesa, vimos a gaiola quadrada ser aberta
e um homem branco e de cabelo escuro dentro dela. Era ele.
Lake deu um passo, mas eu a segurei.
— É ele — ela choramingou, enquanto todos nós víamos um outro jovem
entrar na gaiola.
Não havia saída ali. Era matar ou morrer. Pelo menos, foi isso que
disseram.
— Meu Deus, é ele.
— Tem certeza de que não é Roman? — perguntei a Rocco, ainda sem
ter certeza de que ali era Prince.
— Não podemos perdê-lo. Não vamos conversar. Apague-o e leve-o para
o carro. Manteremos Prince dormindo até Chicago.
Eu poderia imaginar Rocco ou Romeo falando essa merda, mas jamais
Lake.
— Entenderam? — ela grunhiu, encarando os irmãos e a mim. Nós
acenamos e ela se abraçou, fechando os olhos. — Vai ficar tudo bem. Ele vai
para casa. Vamos ficar bem.
A luta estava a todo vapor. Enquanto Prince parecia desinteressado, o
outro tentava acertá-lo a todo momento. Ficaram assim por longos cinco
minutos. Quando Prince se moveu, ele parecia um leão prestes a atacar sua
presa. Ele se moveu devagar, quase como se não estivesse preocupado.
— Meu Deus.
— Porra.
— Ele...
Sim, ele havia segurado a cabeça do homem e empurrado seu rosto
contra sua coxa. Quando o homem começou a sangrar pela boca e nariz, Prince
socou a garganta do homem com o mesmo golpe do vídeo. Depois desferiu
vários outros, fazendo o homem ir ao chão tentando tocar o rosto destruído. Lake
gritou quando viu Prince continuar enquanto o homem estava imobilizado. Ele
matou o homem e estava brincando com seu corpo inerte.
— Isso... — Lake se curvou e vomitou no chão, enquanto tremia.
— Vamos embora. — Matteo segurou a irmã, mas ela se soltou.
— Vamos pegá-lo antes.
— Ele não é o Prince — Matteo rosnou, encarando a irmã que balançava
a cabeça.
— É ele! Ele... ele... só está perdido. — Ela chorou diante de nós.
Eu encarei Rocco e Romeo.
— Não é ele. — Romeo segurou os ombros dela e a balançou.
— Como você sabe? — ela gritou, com os olhos brilhando com fúria.
— Ele tem uma tatuagem de uma árvore.
— O quê? — o restante dos irmãos perguntou ao ouvir a voz de Romeo.
— Nas costas. Esse é Roman. Não é Prince. — Romeo segurou o rosto
dela e se curvou. — Nós vamos achá-lo, Lake. Prometemos. Mas esse não é
nosso irmão.
— Então onde ele está? — O lábio da Trevisan caçula tremeu. — Já faz
um ano...
— Vamos embora. — Matteo segurou a mão dela e a puxou. Romeo os
seguiu em silêncio.
Rocco ficou de pé, com os braços cruzados encarando a cena. Prince ou
Roman, eu não fazia ideia, estava longe do homem agora, com água e uma
toalha. Enquanto a multidão gritava insanamente, observei o Don da Outfit
completamente inerte.
— Diga aos meus irmãos que vou em alguns minutos. — Ele me
dispensou rapidamente.
Quando meu celular tremeu, andei para longe e senti uma mão enrolar
em meu braço e me puxar. Me virei já tirando minhas facas, mas relaxei ao ver
Mariano. Droga.
— Porra, cara — falei, respirando fundo e percebendo que estávamos em
uma sala.
— Siga nessa direção. Seu pai está lá. — Ele apontou para um corredor
mal iluminado.
Arregalei os olhos, sentindo meu coração bater com mais força. Papai.
Meu celular tocou, interrompendo-me, então eu o peguei. A ligação de
Lucian caiu. Abri suas mensagens e li a última enviada.
“Raptaram a Kiara.”
Donne. Eu apertei meus olhos e encarei o corredor, sentindo-me morrer
lentamente.
— Rápido, Giulio.



O gosto metálico inundou minha boca quando acordei. Havia algo
mantendo meus lábios fechados e olhos vendados. Com tudo escuro à minha
volta, tremi a cada rangido da cadeira onde eu estava sentada.
Tentei me lembrar do que havia acontecido. Meu batimento cardíaco
rugiu ao me recordar do escuro no restaurante e mãos me pegando. Eu havia sido
sequestrada. A constatação fez minha garganta se fechar.
— A princesa acordou. — A voz era tão familiar... Sandro. — Você se
lembra de mim, Kira?
Meu coração bateu tão forte como jamais antes. O medo era como uma
segunda pele, envolvendo meu corpo do dedo do pé até os meus fios loiros.
Ouvi uma movimentação ao meu lado e fiquei rígida. Em um rápido
movimento, a fita que mantinha meus lábios fechados foi arrancada. Senti ardor
na pele sensível, mas usei o tempo para falar.
— Sandro? É você? — Minha voz estava fraca. Queria saber que horas
eram e o motivo disso tudo.
— Sim. — Seus dedos deslizaram pela minha bochecha, me fazendo
engolir em seco. — Gostaria de ter pegado Maddie para brincar com Mark, mas
seu segurança a levou do restaurante antes que eu tivesse a chance.
Madeleine. Meus pais.
— O que você quer? — Consegui perguntar enquanto respirava devagar.
— Eu quero tantas coisas, Kiara — ele falou próximo ao meu ouvido,
então me afastei.
— É sobre Giulio?
Eu estava em dúvida se Sandro estava comigo pela facada que meu
marido tinha dado nele. Ou ele poderia ser o homem que estava por trás das
ameaças e mortes da minha família.
— Seu marido? — Ele estalou a língua enquanto eu ouvia seus passos
pela sala. — Não. Mas ele também irá morrer logo. Isso tudo é sobre seu pai,
Kiara.
— Co-como assim? — Minhas palavras saíram descuidadas. Ele queria
matar Giulio? Meu Deus. — O que meu pai fez?
— Você não faz ideia de quem ele é. — Senti sua respiração perto do
meu ouvido quando ele se aproximou novamente. — O que ele faz...
— Não é novidade para mim que ele faça parte da Outfit — grunhi,
franzindo as sobrancelhas. Dessa vez, ele retirou a venda e eu pisquei algumas
vezes para conseguir ver ao meu redor.
O local era escuro, por isso não consegui ver se já havia amanhecido.
Sandro estava sem blusa, apenas de calça jeans. Seu cabelo estava desgrenhado e
seus olhos vermelhos.
— Não isso. — Sandro riu, me olhando e inclinando a cabeça. — Seu pai
é responsável por tráfico de pessoas. — Sua voz tremeu ao falar.
— Não! — gritei de volta, balançando a cabeça. Meu pai nunca faria
algo assim. Rocco o mataria. A Outfit não lida com tráfico humano.
— Ele levou minha irmã e nós nunca mais soubemos nada dela. Estou
trabalhando nisso há um ano. Nada começou por acaso.
— Ele não faz isso. Você está errado.
Sandro se aproximou e ficou agachado diante de mim.
— Eu vou torturar você, foder você e tirar sua vida se seu pai não
devolver Emory. E eu juro por Deus, que farei coisa pior para a sua mãe e para a
Maddie.
Meu coração parou e ele sorriu.
— Agora, onde estávamos? — Ele se ergueu e ligou um projetor.
Várias fotos foram aparecendo. Meu pai estava em todas. Havia meninas
amontoadas em um caminhão. Somente mulheres. Minha pulsação acelerou e
lágrimas banhavam meu rosto.
— Tudo que já reuni sobre ele. Encontro com pessoas que têm bordéis,
donos de navios que ele usa para as transportar. Seu pai conhecendo várias
meninas e, em seguida, todas sumiram.
Suas palavras adicionadas às fotos me fizeram soluçar. A verdade estava
ali, estampada em cada encontro, me fazendo chorar.
— Eu posso ajudar você — falei, em desespero.
Sandro negou, cruzando os braços.
— Eu quero a minha irmã de volta e o seu pai morto. Você não pode me
ajudar.
Ele andou para a porta e a abriu. Eu engoli em seco, tentando parar de
chorar.
— Seu pai tem duas horas para devolver Emory. Depois disso, nós
começaremos a brincar com você.
Sandro saiu e eu fechei meus olhos, tremendo. Não podia acreditar que
meu pai fazia algo assim. Rocco não trabalhava com tráfico humano, isso era
algo da Bratva. Se Sandro não matasse meu pai, quando o nosso Don
descobrisse, ele o faria sem hesitar.
Solucei mais uma vez quando a imagem de Giulio brilhou em minha
mente. Eu nunca mais o veria. Será que ele já sabia que eu havia sido raptada? E
se soubesse, ele se importava?

Eu estava em estado de inércia. Rocco estava falando em um celular e


seus irmãos estavam ao redor de Santino. Meus pulsos estavam cerrados, a raiva
era abundante.
— Eu vou matar você — rosnei, andando na direção do pai de Kiara.
— Eu sou o pai dela. Eu estou muito mais preocupado que você. — Ele
me olhou com nojo, então eu o peguei pelo colarinho.
— Eu a mantive em segurança por semanas, seu filho da puta! Em uma
noite, você a colocou em perigo e eles a levaram. — Empurrei seu corpo contra
a parede. — Se a machucarem, vou enfiar minha faca em sua garganta.
O homem ficou vermelho, ódio nadando em suas veias, mas ergueu as
mãos e eu o soltei.
— Eu quero que você comece a falar — Rocco rosnou atrás de mim,
então eu me virei. Ele andou até Santino e o encarou. — Encontraram um carro
abandonado ao lado do restaurante, nele há fotos e documentos onde mostram
que você anda traficando mulheres.
Meu pulso acelerou e Santino arregalou os olhos, pavor refletido em seu
rosto.
— Eu vou entregar você e pegar a esposa de Giulio. Sua traição tem
como sentença a morte, mas acho que eles querem você vivo.
— Rocco, eu posso explicar.
O soco quebrou o nariz do pai de Kiara. Ele se curvou gemendo enquanto
Rocco o encarava com nojo em suas feições.
— Eu não toco em mulheres. Meus homens são proibidos disso e você
vem com essa porra de tráfico? Eu vou matar você, Santino.
O celular do meu sogro começou a tocar, então ele o atendeu e o colocou
no viva-voz.
— Olá, filho da puta. Eu vou ser rápido. — Apertei meus pulsos quando
a voz de um homem ecoou. — Emory Washington. Você tem duas horas, ou eu
vou começar a brincar com sua filha. Eu realmente quero fazer isso, porra, ela é
linda
— Eu vou matar você! — gritei, me aproximando.
— Oh, o marido. — O homem riu. — O ferimento a faca ainda dói.
Franzi as sobrancelhas e passei a mão pelo rosto. Porra.
— Emory Washington. Vocês têm duas horas. Ou eu vou foder sua
esposa, Giulio.
Assim que a ligação foi encerrada, eu me aproximei de Santino.
— Eu quero essa garota em vinte minutos. E se você não a trouxer, eu
prometo que vou fazer você comer sua própria língua.
Santino respirou fundo e apertou o celular.
— Eu não me lembro dessa garota. Não sei quem é...
— Isso pode refrescar a sua memória. Aqui está ela. — Matteo enfiou a
foto de uma garota na cara dele. — Eu vou para a minha casa.
Matteo saiu e Romeo se aproximou.
— Calma, Giulio. Logo sua esposa estará com você.
Eu queria ver se ele estaria calmo se fosse Lunna, mas apenas acenei.
— Faça ligações, Santino. Nós estamos esperando. — Romeo se sentou e
Rocco fez o mesmo, mas eu permaneci de pé.
Pelos próximos trinta minutos, ele ligou para dezenas de pessoas
enquanto suava e andava pela sala. Quando ele desligou a última ligação, estava
com o rosto apreensivo.
— E aí? — questionou Rocco, sem paciência.
— Ela está no Arizona. Estão trazendo-a. — Ele respirou fundo e se
sentou, pondo as mãos na cabeça.
A batida do meu coração se acalmou e eu sufoquei a dor que irradiou
pelo meu peito. Estava tenso, querendo torturar Santino, mas estava aliviado por
terem achado a garota. Kiara voltaria para a casa. Porra, eu nunca mais a deixaria
ir nem até a esquina sem mim.
— O homem na ligação falou sobre uma facada. Você o conhece? —
Santino se ergueu, com os ombros rígidos. — Você está por trás disso, seu rato?
As palavras não me ofenderam. Eu estava planejando uma fuga, iria trair
a Outfit. Ontem foi o destino me dando a chance de apressar meus planos, mas
Kiara... eu não podia ir embora sem saber que ela estava bem. E desde ontem eu
estava sufocando com sentimentos que eu sabia que eram estúpidos e errados.
Eu iria para a Itália em breve e Kiara não seria um empecilho.
Não podia ser.
— Nas primeiras semanas do meu casamento, Kiara saiu algumas vezes
para bares e boates com Madeleine. No dia que descobri, Sandro estava com
elas. Eu o esfaqueei e o mandei ficar longe.
— É o cara do Date? — Rocco questionou, fumando um charuto.
— Sim. — Me virei para Santino. — Se eu fosse armar algo aqui, eu
pegaria você e o faria comer merda, seu filho da puta.
Santino ficou vermelho mais uma vez. Peguei meu celular e mexi nele
por alguns minutos, logo vi uma mensagem de Lucian. Ainda não o havia visto,
mas eu o faria em breve e daria um soco nele por deixar levarem Kiara.
“Madeleine está comigo.”
Maddie não era uma preocupação minha e não deveria ser de Lucian.
— Estão ligando. — Santino ergueu o celular e atendeu, pondo no viva-
voz mais uma vez.
— Sua princesa quer mandar oi.
Eu fechei os olhos quando ouvi os gritos de Kiara.
— Pare com isso. Por favor... — Ela gemia, soluçando.
Eu queria matar todos. O pai dela e Sandro, principalmente.
— Emory está a caminho. Não machuque a minha filha — Santino pediu,
puxando o próprio cabelo.
— Você tem uma hora ou eu vou rasgar as roupas da sua filha e a foder.
Me virei e soquei a parede enquanto gritava. Se ele a tocar, Deus, eu não
queria pensar nisso. Eu poderia o matar apenas o rasgando em pedaços.
— Para onde eu levo Emory?
Sandro falou o endereço, parecia apreensivo.
— Não brinque comigo. Eu vou matar sua filha se ousar.
Ninguém ousaria. Eu arrancaria a cabeça de quem o fizesse.
Saí da sala do Rocco no Village e andei diretamente para Lucian, que
estava parado com Maddie ao seu lado. O local estava deserto, por isso eu o
empurrei até a parede.
— O que você estava fazendo quando levaram a Kiara? — perguntei,
rígido. Lucian só ergueu as mãos. — Fala, porra!
— Ele estava comigo. — Maddie choramingou ao lado. Soltei Lucian e
encarei a prima da minha esposa. — Ele me tirou do lugar antes de tudo
começar...
Encarei Lucian, sentindo a traição escorrer pelos meus ombros.
— Você sabia o que iam fazer e ainda assim deixou Kiara lá?
Lucian me encarou e seu olhar era firme. Não havia arrependimento.
— Eu só poderia tirar uma delas.
— E você escolheu Madeleine — falei, acenando enquanto ria.
Maddie chorou ao lado e Lucian se aproximou.
— Deixe-a fora disso. Eu fiz uma escolha. Eu, não ela.
— Estou deixando. — Dei um passo para trás e enfiei minhas mãos no
bolso. — Mas saiba, Lucian, que eu vou fazer com você tudo que fizerem a ela.
Tudo.
— Giulio... — Maddie implorou, lágrimas caindo em suas bochechas.
— Eu confiei Kiara a você. — Ignorei-a e foquei minha atenção em meu
amigo.
— Eu não faria diferente. Queria ter pegado as duas, mas não dava. Eu
escolhi entre as duas e não faria diferente.
Eu sabia que não o faria.
Lucian estava gostando de Madeleine.
Me virei e voltei para o elevador, tentando formar mais um plano. O de
matar Sandro e Santino. Eu sabia que Rocco faria isso em breve, mas eu queria
tirar a vida do homem que colocou a própria filha em perigo.
A mulher que me pertencia.

Meu lábio estava partido. Tentei passar a língua por cima para medir o
tamanho do corte, mas foi impossível. O lado esquerdo do meu rosto doía e eu
tinha certeza de que havia um roxo em meu olho.
— Ele disse que Emory está vindo. — Sandro fechou os olhos e respirou
profundamente. Eu podia sentir seu alívio daqui. Era palpável.
— Trarei gelo para pôr no rosto dela — Mark, que havia entrado há
poucos minutos, falou. Ele apenas observou enquanto Sandro me batia e fazia
meu pai ouvir.
— Não precisa. Eu a quero bem machucada para aquele demônio ver que
fiz com sua preciosa filha o mesmo que ele fez com a minha irmã. — Sandro me
encarou e sorriu.
— Ele vem que horas? — perguntei, mesmo sentindo minha boca
queimar.
— Ele tem meia hora a partir de agora.
Eu engoli em seco e olhei para os meus pés. Minhas mãos ainda estavam
amarradas e minha roupas fediam a sangue. Estremeci ao imaginar tudo o que
poderia acontecer.
— Vamos lá, cara. A boca dela arrebentou — Mark pediu novamente.
Sandro se virou, encarando-o.
— Deixe essa puta aí. O que há de errado com você?
Ambos saíram do quarto e eu fechei os olhos enquanto lutava por ar para
encher meus pulmões. Agora que eu estava sozinha, o pânico se arrastava sobre
meu corpo.
Respire. A voz dele ecoou em meus pensamentos e lágrimas encheram
meus olhos. Onde ele estava? Será que já fugiu para a Itália? Implorei
silenciosamente para que não tivesse feito isso ainda. Pedi muito a Deus que o
deixasse ficar comigo apenas mais um dia, não importava.
A meia hora passou tão lentamente quanto uma tartaruga.
— Você fica aqui. — Sandro se abaixou até ficar na minha altura. — E se
tentar qualquer coisa, eu vou enfiar uma bala na sua cabeça.
— Estou amarrada, imbecil. — Cuspi na cara dele, explodindo.
Seu olhar ficou escuro e o tapa foi esperado. Eu não dava a mínima. Seu
rosto estava com cuspe e sangue, a visão me deu satisfação.
— Vadia.
— Eu espero — parei de falar por um segundo, com o lábio doendo —
que você tenha um bom plano de fuga, porque se meu marido estiver aqui, uma
facada vai ser o menor dos seus problemas.
Sandro semicerrou os olhos e o medo cintilou em suas íris. Bom.
O barulho de carros ecoou e Sandro veio para trás de mim. Quando senti
o cano da arma contra meu crânio, ergui o queixo para encarar a porta. Mark
estava ao lado, com a arma em punho.
Ouvi passos pesados antes de a porta se abrir. Rocco Trevisan apareceu e
seu olhar era letárgico.
— Bom dia, senhores. — Ele olhou para os homens e depois para mim.
— Sra. Conti.
Era a primeira vez que alguém me chamava assim, meu estômago
esfriou, amando.
— Onde está Emory? — Sandro questionou, puxando meu cabelo.
— Aqui. — Meu pai apareceu, diante dele estava uma mulher. Ela
poderia ter a minha idade ou um pouco mais, eu não sabia. Seu cabelo era claro
como os meus, mas seus olhos eram escuros.
— Venha, Emory — Sandro chamou.
A mulher, que estava com os olhos arregalados de medo e lágrimas
grossas em sua bochecha, deu um passo em nossa direção.
Porém, antes que pudesse se aproximar, uma mão grande e bronzeada a
fez parar. Meu coração deu um salto quando Giulio apareceu. Seus olhos
estavam presos em Sandro, mas eu sabia que ele podia me ver.
— Primeiro, você vai soltar a minha mulher. — A voz dele enviou um
arrepio por meu corpo. A maneira possessiva me fez me sentir abraçada. Por
mais deturpado que isso parecesse.
— Não — Sandro falou, inflexivelmente. — Solte Emory. Deixe-a sair
com Mark. Agora.
— Isso não estava no plano — Mark grunhiu ao lado e Sandro o ignorou.
— O.k., eu tenho mais o que fazer, porra. Sai daqui — Rocco gritou,
empurrando Emory e encarando Mark. — Receba como um presente, porque
Deus sabe que você vai morrer se ficar.
Mark olhou para Sandro, mas logo se moveu. Os dois saíram do quarto e
Sandro afastou a arma da minha cabeça. No mesmo segundo que ele se afastou,
meu pai se aproximou e me desamarrou.
— Eu sinto muito, filha.
— Não me toque — gritei para ele, enojada. — Você não é meu pai.
Ele engoliu em seco e eu me ergui. Giulio não se aproximou em nenhum
momento e não o fez quando me ergui. Parei de andar atrás de Rocco e me virei
para ver Giulio no mesmo lugar, com os olhos vivos e rápidos em Sandro.
Quando Sandro levou a arma para a cabeça, eu ofeguei, arregalando os
olhos. Mas Giulio se moveu tão rápido, que nem se eu quisesse poderia explicar
o que havia acontecido. Ele segurou a arma e a jogou no chão.
— A morte é um presente que não vou dar a você agora. — Meu marido
tirou uma das suas facas de dentro do terno e enfiou lentamente a lâmina no
mesmo local da primeira vez. Sandro gritou enquanto Rocco saía do quarto, indo
embora. — Você vai se arrepender de ter colocado os olhos nela. — Ele deixou a
faca presa na barriga de Sandro e pegou outra, cortando sua própria mão diante
do rosto de Sandro. — Eu juro.
Seu sangue pingou no chão e eu ofeguei.
— Leve-a para casa. — A voz de Giulio chegou a mim quando Lucian
apareceu ao meu lado.
— Não sairei daqui sem você — falei, erguendo meu queixo.
Giulio não podia me ver, mas minha voz saiu firme o bastante.
— Fique com ele. — Giulio se virou, deixando Sandro cair. — Não o
deixe morrer.
Sua mão enrolou em minha cintura e ele me pegou nos braços, levando-
me para fora daquela casa abandonada. Fechei meus olhos com força e agarrei
seu casaco frio.
— Eu saio em uma noite e você já revira tudo, hum, Donne? — ele
murmurou, enquanto me colocava em um carro grande. Seus olhos verdes
estavam vidrados, como se ele não tivesse dormido.
Meus olhos se encheram de lágrimas ao tocar em seu rosto.
— Eu tive que me divertir de alguma maneira, hum? — As palavras
saíram trêmulas. Eu tentei sorrir, mas meu lábio doeu, então parei.
Giulio encarou minha boca e segurou meu rosto entre as mãos.
— Ninguém nunca mais vai fazer isso com você. Eu juro, Kiara.
Eu acreditei nele com todo meu coração.
— Lucian vai levar você para casa. Estarei lá antes que perceba. — Ele
beijou meu nariz e me encarou.
— Não quero ficar sozinha — confessei, mesmo odiando estar na
posição de menina indefesa.
— Você não vai.
Lucian voltou para o carro assim que Giulio entrou na casa. Ele começou
a dirigir enquanto eu me enrolava em uma bolha no banco de trás.
— Maddie está bem? — questionei, preocupada.
— Sim, Kiara. Ela está bem.
Então, estava tudo bem.

Giulio realmente voltou antes que eu percebesse. A água cobria meu


corpo e meu cabelo estava lavado. Ele se sentou na borda da banheira e me
encarou enquanto estendia a mão. Seu dedo tocou de leve meu lábio antes de ele
se inclinar e o beijar.
— Eu deveria estar aqui.
Suas palavras me lembraram do motivo de ele não estar.
— O que foi fazer em Nova Iorque? — perguntei, mas sem tocar no
nome dela. Eu estava cansada de colocar Lake Trevisan dentro do meu
casamento.
— Fugir.
— O quê? — Arregalei os olhos ao ver seu rosto inerte. — Você... então,
o que... — Engoli em seco e encarei a espuma cheirosa. — O que está fazendo
aqui?
— Eu não sei, Kiara. — Sua resposta crua deveria ter me assustado, mas
não o fez. Eu sabia que nós dois estávamos andando sobre uma corda bamba.
— O que fez com Sandro? — questionei, mudando de assunto.
— Eu o torturei. Ele está morto. — Giulio enfiou a mão dentro da água e
me tirou da banheira. Ele me sentou em uma cadeira em frente ao espelho,
colocou meu roupão em mim e pegou meu secador.
Os pedacinhos do meu coração estavam flutuando e um deles havia ido
longe o bastante para estar entre seus dedos. Eu sabia que nunca mais o teria de
volta.
Depois de estar com o cabelo seco, Giulio me levou para a cama e se
deitou, me puxando para o seu peito. Assim que a coberta foi posta sobre nós,
ele fechou os olhos.
— Obrigada por voltar e ir me resgatar.
— Eu quase vi meu pai — ele confessou baixinho. Isso cortou meu
coração. Eu sabia que ele o amava. — Ele estava do outro lado do corredor.
— Você deveria ter ido — murmurei, sabendo que era o certo a falar.
— Eu não consegui. — Sua resposta me fez respirar com mais força.
— Giulio.
— O que você está fazendo comigo, Donne?
Eu não sabia e nem poderia saber, porque nem eu mesma sabia o que ele
estava fazendo comigo. Agitando as borboletas estúpidas em meu estômago, me
fazendo ficar verde de ciúme.
Me fazendo desejar ardentemente que eu fosse importante a ponto de ele
desistir definitivamente de voltar para a Cosa Nostra.

Nós dormimos por um longo tempo, quando acordei Giulio estava de pé,
próximo à janela onde a escuridão da noite era invadida por luzes da cidade.
— Eu direi a ela.
Me sentei, segurando o edredom contra meu peito. Giulio se virou e se
aproximou devagar. Seu olhar cauteloso me deixou nervosa.
— O que houve? — perguntei, engolindo em seco.
— Seu pai vai ser executado. Você quer falar com ele?
Suas palavras me fizeram desviar o olhar.
Poderia parecer contraditório e hipócrita ficar tão mexida ao saber que
ele traficava garotas, porém, também vendia drogas e organizava torturas. Nem
eu sabia direito o que estava sentindo, mas eu me coloquei no lugar de Emory.
Sendo arrancada da sua vida e levada à força para longe para ser vendida como
um saco de feijão.
— Não — murmurei, devagar.
— Kiara — Giulio tocou o meu cabelo —, eu sei que tudo que ele fez é
horrível, mas ele ainda é seu pai. Se uma parte de você quer vê-lo e falar com
ele, faça isso. Você nunca mais terá a chance.
Quando ele colocava as coisas assim, parecia que eu era horrível.
— Só uma ligação — pedi, incapaz de encarar meu pai sabendo que logo
Rocco Trevisan o mataria na frente de seus homens para servir de exemplo.
Giulio ligou para alguém e depois de alguns minutos me deu o celular.
— Kiara? — A voz do meu pai soou e ele não parecia com medo.
— Oi, pai. — Respirei fundo e fechei meus olhos. — Eu ainda não
consigo acreditar que fez isso.
— Não se preocupe, querida. — Ele tossiu e gemeu. Imaginando-o
ferido, eu me encolhi. — Cuide da sua mãe e de Maddie.
— Farei isso.
— Amo você, bambina.
Eu sabia que amava.
— Eu também, pai.
Assim que a ligação foi encerrada, solucei e levei as mãos ao rosto.
Braços me rodearam e Giulio me manteve contra seu peito por todo o tempo do
meu choro.
— Ele fez isso e é tão horrível, mas eu o amo... — falei, entre soluços do
choro.
— Eu sei, Donne. — Ele me apertou mais. — Você pode chorar o quanto
quiser. Ninguém irá te culpar por isso — Giulio murmurou contra meu cabelo.
Acenei, ainda derramando lágrimas.
Não sei como, mas voltei a dormir enquanto meu marido me embalava
em seus braços.

Desci a escada do apartamento enquanto sentia meu lábio arder pelo


creme dental. Tentei escovar os dentes e não me achei tão inteligente ao usar a
pasta sabor menta.
Maddie se ergueu da mesa do café quando me viu e eu a abracei apertado
assim que me aproximei.
— Me desculpe. — Suas palavras me deixaram confusa. Seus dedos
delinearam meu rosto ainda roxo e meu lábio. — Eu vou levar você ao médico.
— Por favor — pedi, sorrindo.
— Giulio saiu, mas Bill e Lucian estão aqui — ela murmurou quando me
sentei e peguei o suco.
Fiz um malabarismo e consegui tomar.
— Você sabe para onde ele foi? — Questionei a minha prima, que estava
com o olhar focado nos ovos à sua frente.
— Não. — Maddie suspirou e me encarou. — Eu vou para a casa da Tia
Isa. Você sabe, Lucian disse que o tio foi morto ontem.
— Eu sei. — Tracei o contorno do meu copo e a encarei. — Mamãe vai
ficar feliz com a sua presença, Maddie.
— Então, hum, eu quero saber uma coisa. — Madeleine começou a ficar
vermelha e eu semicerrei os olhos. — Eu posso ficar com um soldado se eu for
inserida na Outfit?
— Você pode ficar com esse soldado enquanto não está dentro. Mamãe
ficará decepcionada se outra Bonnucci ficar com outro soldado. Então, não se
insira.
Maddie ficou pensando e depois suspirou.
— Ele — sua voz cessou e eu não precisava de nomes para saber de
quem ela falava — poderia ter tirado você aquele dia, Kira.
Inclinei a cabeça, sem entender. Madeleine engoliu em seco.
— Lucian poderia ter salvado você, mas ele escolheu me tirar de lá.
— Que bom que ele o fez. Se ele tivesse me tirado e deixado você, ele
não estaria inteiro hoje — brinquei com minha prima, mas ela não estava
sorrindo.
— Giulio o castigou por isso.
— O quê? — Arregalei os olhos e Maddie piscou várias vezes.
— Não foi bem um castigo, mas Lucian não se defendeu enquanto Giulio
lutava com ele. Ele se sente culpado. Giulio é leal a Lucian, e ele foi egoísta
aquela noite. — Ela mordeu o lábio e lágrimas encheram seus olhos. — Ele não
protegeu você.
— Eu não sabia disso.
Não sabia mesmo.





Seus olhos eram ferozes quando entrei naquele cubículo onde ela estava
sentada e amarrada. Eu imaginei Kiara chorando, tremendo de medo, mas ela me
surpreendeu. A mulher era forte, destemida e eu fiquei orgulhoso de tê-la.
— O que você está pensando? — Lake questionou enquanto andávamos
perto do lago gelado.
— Em Prince. Se aquele era Ramon, onde ele está? — questionei,
mentindo.
Lake respirou fundo e encarou o cais coberto de neve.
— Não sei. Mas vou descobrir.
Eu sabia que ela o faria.
— O.k., eu preciso ir.
— Kiara está bem? — Lake perguntou, me encarando.
— O tanto que pode, sim.
— Eu sinto muito, Giulio. — Seus olhos claros cintilaram. Dei-lhe um
simples aceno. — Se você quiser, posso ir visitá-la.
Meu Deus, acho que Kiara me esfaquearia com minhas próprias facas.
— Vou manter isso em mente.
Me distanciei dela e andei para a mansão. Vi Matteo com sua filha na
sala de jogos segundos antes de ele me encarar.
— Espero que Kiara esteja bem. Blue quer ir visitá-la.
— Tenho certeza de que ela vai gostar disso — respondi e saí
rapidamente.
Fui à mansão dos Trevisan para pegar o corpo do pai da Kiara. Eu pedi a
Rocco para sepultá-lo com ela, a mãe e Maddie. Ele permitiu depois de ficar me
encarando por um longo tempo.
Eu não dava a mínima para a sua opinião. Eu daria um enterro para
aquele filho da puta por Kiara. Apenas.

— Rocco permitiu isso? — a minha sogra, vulgo demônio, perguntou


depois que desceram o caixão de Santino.
Kiara estava ao meu lado, com as costas eretas, usando uma maquiagem
que cobria seus ferimentos. Eu toquei sua coluna e ela engoliu em seco.
— Sim — respondi, rapidamente.
Nós fomos para nossos carros e Maddie deu tchau para Kiara. Pelo que
entendi, ela iria morar com Isadora. Que Deus lhe desse sorte.
— Obrigada por isso. — Kiara me olhou e a gratidão realmente
espelhava em seu rosto.
Apenas acenei em silêncio.
Dar um velório e enterro para o desgraçado do Santino fez não apenas
Kiara, mas Maddie e Lucian me encararem de maneira diferente. Eu não queria
que ninguém soubesse da minha afeição por Kiara, mas isso não importava. Não
quando eu estava de partida de Chicago.
Kiara seria apenas uma página da minha vida. Eu precisava ter certeza de
que a viraria sem remorso.
Eu dirigi para o nosso apartamento enquanto continuávamos em silêncio.
Assim que chegamos, Kiara foi tomar banho e eu fiquei na sala encarando o céu.
Ouvi meu celular tocar e o número privado me fez fechar os olhos.
— O que diabos deu em você, porra? — Enrico gritou na linha. Respirei
fundo. — Um corredor e você estaria em casa. Algumas passadas, seu idiota! O
que há de errado com você?
— Não pude ir.
— Não pôde? — Enrico rosnou e eu senti sua fúria daqui. — Eu movi
seu pai para Nova Iorque, dei esperanças a ele, e você me diz que não pôde ir?
Seu egoísta do caralho!
— Minha esposa havia sido raptada, Enrico — grunhi, apertando meus
punhos. — Eu não podia deixá-la sem saber que ela estava salva e bem.
— Você se casou? — Meu Don pareceu surpreso. E deveria. Não temos
muitas informações da vida um do outro. — Que diabos?
— Eu sei. Eu só...
— Como... você sabe que isso fode seus planos, não sabe?
— Não muda nada — respondi, rapidamente.
— Então, por que não atravessou o corredor?
O silêncio foi minha resposta.
— Encare a realidade, Giulio, acabou.
— Não — respondi de maneira firme. — Meus planos ainda estão
acontecendo. Estarei aí antes que perceba.
— E ela?
Kiara. Fechei meus olhos e respirei fundo.
— Ela vai ficar.
— Se ousar trazê-la, espero que saiba o que a espera aqui.
— Você está ameaçando-a? — A irritação em minha voz soou tão forte
que surpreendeu até a mim.
— Não. Mas a Cosa Nostra não aceita bem pessoas vindas da Outfit. Ela
vai sofrer aqui.
Eu sabia dessa merda.
— Você acha que eu não sei o que é ser um inimigo dentro de uma nova
máfia? Eu estou aqui há anos, aguentando os olhares e a desconfiança — rosnei,
tremendo e respirando fundo. — Eu nunca a colocaria em uma posição assim.
Ela merece mais.
— Giulio? — A voz da Kiara soou na escada, deixando-me rígido.
— Farei as coisas do meu jeito. — Desliguei a ligação e me ergui, indo
encontrar a minha esposa.
— O que foi, Donne? — questionei ao subir os degraus.
Ela me abraçou quando parei na sua frente.
— Eu estava pensando... — Donne mordeu o lábio onde estava
machucado e gemeu. — Droga. Espera. — Suas mãos deslizaram pelas minhas
costas. — Então, agora que Sandro... bem, não irá mais tentar me matar, eu
posso fazer faculdade, certo? — Ela apoiou seu queixo em meu peito e seus
olhos brilharam.
Toquei seu cabelo e suspirei.
Deus.
— O.k., Kiara. Vamos conversar sobre isso. — Eu segurei sua cintura e a
guiei para o quarto.

Nós realmente conversamos sobre isso. Três semanas depois, Kiara


estava matriculada em uma universidade e ia todos os dias com Maddie para o
campus, que ficava a alguns minutos do nosso apartamento.
— Eu realmente pedi para estudar? — ela gemeu, segurando dois livros
grossos contra o peito. — Eu odeio. Eu não entendo nada.
— Suas decisões, seus resultados — murmurei, saindo do
estacionamento e entrando na via para sair do campus.
— Chato.
Eu era.
— Para onde vamos? — Ela me encarou e sorriu, tocando a minha coxa.
Nós estávamos bem. Kiara era uma mulher incrível, educada e divertida
quando queria. O dia a dia era bom. Mas não deveria ser. Eu deveria fazer com
que ela me odiasse. Deveria causar nojo e rancor, assim quando eu partisse ela
não sentiria nada além de alívio.
Mas eu não conseguia.
Todos os dias eu acordava e a via adormecida ao meu lado. A cada
manhã, ela se remexia e me beijava, despertando desejos. Nós transamos poucas
vezes depois que ela foi machucada. Donne estava com os hematomas pelo
corpo quase sarados e seu lábio estava cicatrizando bem. Olhar para ela me fazia
querer voltar no tempo e torturar Sandro mais devagar. Infelizmente, eu
precisava ir até Kiara o mais rápido possível. Eu não podia me demorar
brincando de machucar aquele imbecil.
— Eu tenho negócios para fazer no porto. Você vai ficar no carro.
Kiara ficou em silêncio, eu sabia que algo a estava incomodando. Porém,
eu também tinha consciência de que era melhor não perguntar. Isso levaria a uma
briga desnecessária.
Depois de alguns minutos, estacionei no porto. Lucian já estava ali, com
seu cigarro e cara indiferente. Eu havia perdido a cabeça depois do sequestro e
partido para cima dele. Fiquei furioso com sua decisão de pegar Maddie e deixar
Kiara lá, mas, em retrocesso, se eu estivesse em seu lugar o que eu faria?
Eu sabia que algo estava acontecendo entre ele e a Madeleine.
Então, por mais que eu odiasse admitir, eu também optaria pela garota
que eu estava dormindo e gostando. Não uma que era apenas minha
responsabilidade.
— Ele está lá dentro. — Lucian semicerrou os olhos na direção do meu
carro, então entrei na sua frente. — Você a trouxe?
— Eu fui buscá-la no campus. Ela teve um grupo de estudo ou alguma
merda assim e ficou até esse horário. Precisei trazê-la — expliquei, me virando e
começando a andar.
— O.k.
Nós entramos no primeiro beco entre dois containers e paramos ao ver
Matt. Quando o vi com a bolsa ao lado, eu apertei meu casaco. O lago estava
congelado e estando tão perto dele o frio triplicava.
— Vocês demoraram. — Ele jogou a bolsa para nós e Lucian a pegou.
— O frio comeu sua bunda, hum? — murmurei, me esticando enquanto
Lucian conferia o dinheiro na bolsa.
— Você deveria aparecer no Village mais tarde. Cass tem perguntado por
você. — Matt sorriu, ignorando meu comentário.
— Sua irmã é legal, cara. Mas não posso.
— Sua esposa comeu seu pau, mano? — Ele me olhou sério e cruzou os
braços.
Meu corpo ficou rígido. Não importa onde eu esteja, Famiglia ou Outfit,
eu sabia que deixar seus sentimentos abertos era um erro. As pessoas esperavam
uma mínima demonstração de afeto para foder você. Usar isso contra você.
— Não, ela chupa — falei e o encarei, então me virei para Lucian. —
Tudo certo?
— Sim. Valeu, Matt. — Lucian se virou e começou a caminhar.
— Pense sobre Cass, Giulio. — Matt sorriu.
— Eu irei.
Acompanhei Lucian e parei ao lado do meu carro, vendo Kiara dentro
dele mexendo em seu celular. Me virei para Lucian e apontei para a bolsa.
— Leve para Romeo. Vejo você amanhã.
Lucian acenou e se afastou seguindo para o seu veículo.
Me sentei ao lado de Kiara e ela guardou o celular em um movimento
rápido. Me virei e olhei para o aparelho nas suas coxas, então ela deu um sorriso
forçado.
— O que estava fazendo? — perguntei, colocando meu cinto.
— Nada. — Kiara balançou a cabeça e riu nervosamente. Eu pisei no
acelerador e fiquei em silêncio. — Foi rápido lá. — Sua voz ecoou assim que
entrei na avenida que levava para o nosso apartamento.
— Não tão rápido quanto a maneira como você guardou o celular —
grunhi, encarando-a por cima do meu braço que estava estendido até o volante.
— Eu estava falando com Maddie. Por que você é tão controlador? —
Kiara bufou, se virando para a janela.
— Se você não quisesse um marido controlador, não teria se casado com
um homem da máfia — rosnei, irritado por sua acusação.
— Bom, eu não tive escolha.
O.k., bom, foda-se.
— Nem eu. Veja onde estou agora.
Kiara não respondeu e eu fiquei grato pelo silêncio.
— Você não vai descer? — ela perguntou quando fiquei parado dentro do
carro depois de estacionar em nossa vaga.
— Não. Vou para o Village.
De soslaio, vi seu rosto cair, mas se recuperar rapidamente.
— O.k. Tenha uma boa noite. — Ela bateu a porta do meu carro com
uma força que eu nem sabia que tinha e saiu andando segurando seus livros e
bolsa.
A loira entrou no elevador e eu passei os olhos pelas pernas grossas
cobertas por uma calça enquanto o casaco caía em seus ombros. O cabelo claro
estava solto em ondas suaves. Deus, essa mulher era a porra do paraíso. Eu
dormia e acordava pensando em lugares e maneiras de foder seu corpo.
Balancei a cabeça e dirigi para fora da vaga.

Eu estava no Village há dez minutos, e levou apenas cinco para Cass me


encontrar. Ela era uma morena de cabelo curto que já dormiu comigo mais que
qualquer mulher.
— Como está o casamento? — ela questionou, sentada ao meu lado,
enquanto deslizava as unhas grandes em minha coxa.
— Você não quer falar sobre isso — alertei enquanto a encarava.
Cass engoliu em seco e empurrou a franja para fora dos seus olhos
escuros.
— Sim, eu não quero. Aliás, eu quero sim. Se isso significar que está
arrependido.
Eu a encarei enquanto bebia um pouco de uísque. Cass estava com o
mesmo olhar que me deu quando rejeitei sua oferta de casamento para que eu
não pudesse aceitar o acordo de Rocco. O assunto chegou antes a nós, por isso
ela ofereceu.
Eu não queria me casar. Cass era uma boa garota, mas eu não alimentaria
suas ilusões com um casamento. Nem fodendo.
— Não.
— O quê? A patricinha agarrou suas bolas? — A irritação em sua voz me
fez olhar para ela.
— Pare com isso — alertei, rápido. — Kiara não tem nada a ver com
nossos assuntos.
— Então, por que estamos nessa mesa estúpida e não em meu quarto? —
Cass se ergueu e ficou atrás de mim antes de suas mãos deslizarem pelo meu
peito e ela beijar meu pescoço.
— Cass.
— Eu quero que me foda com força do jeito que você sabe que adoro. —
Ela continuou com seus beijos enquanto eu bebia meu uísque. — Ela deixa você
fodê-la como eu? Ou você se segura?
— Cassandra, você não fica bonita quando implora — declarei,
segurando seu pulso e a fazendo sentar-se novamente. Em seus olhos vi que a
tinha magoado. — Olha, eu gosto de você. Sempre curti. Mas eu me casei e não
vou trair minha esposa. Não é algo que eu faria. Nem se Kiara fosse uma vadia
malvada, ainda seria fiel a ela. Então pare.
Cass engoliu em seco e piscou repetidamente, afastando a umidade dos
seus olhos.
— Você sabe o que sinto, sempre soube.
— Sim, mas não podemos mais. Nunca mais.
E não era por Kiara. Era porque eu iria embora.
Nunca mais veria Cass ou Donne.
— Cara — a voz de Lucian soou acima da música —, Madeleine me
ligou. Ela e Kiara estão em uma boate.
O.k. Santo Inferno.
— Nos vemos depois, Cass. — Me ergui e me afastei com passadas
rápidas em direção à saída. — Onde elas estão? — perguntei, rígido.
— Perverse feelings.
No território da Bratva.

Madeleine estava com aquele olhar que eu odiava desde que éramos
crianças. Intenso e mandão. Eu a avisei que vir a essa boate era nos colocar em
encrenca, mas ela já estava dirigindo o carro. Eu estava com medo, não apenas
de estar aqui, mas por saber que Giulio me mataria quando descobrisse.
— O que está fazendo? — questionei, vendo-a encarar a tela do celular.
— Lucian.
Sua resposta me fez suspirar.
— Nós podemos ir embora? Se Giulio souber...
— Ele está vindo. — Madeleine sorriu e mordeu o lábio, parecendo
satisfeita.
— O que há de errado com você? Você veio até aqui só para atraí-lo? —
perguntei, confusa. Minha prima deu de ombros. — Giulio vai me matar por
isso.
— Não vai, não. Ele estava naquela boate com prostitutas, você mesma
disse. — Maddie virou seu drinque e eu peguei o meu, tentando ficar calma.
— Vamos embora. Nós passamos despercebidas aqui, mas eles não vão.
— Me arrepiei ao falar isso. Eu queria chorar ao imaginar Giulio machucado por
homens da Bratva.
Coloquei a taça com líquido doce na mesa e me ergui. Maddie suspirou e
fez o mesmo. Nós andamos para a saída e eu respirei aliviada quando chegamos
do lado de fora. Estávamos na divisa da cidade e isso era proibido. Não
podíamos estar aqui. Nunca.
— Vem. — Maddie me puxou para a direção onde seu carro estava
estacionado.
— Estão longe de casa. — Uma voz masculina ecoou, então me virei
enquanto Maddie abria o carro.
— Já estamos de saída — falei, tentando soar calma.
— Meu chefe gostaria de estuprar a bunda de duas mulheres da Outfit. —
O homem gordo e baixo sorriu, medindo a mim e depois Maddie.
— Não hoje, filho da puta. — A voz de Lucian soou, erguendo a arma e
batendo-a na cabeça do homem. O corpo inerte caiu no chão e eu ofeguei junto a
minha prima. — Você, entre na porra do carro — ele gritou para ela enquanto eu
via a sombra atrás dele.
Giulio.
Andei em sua direção sem precisar de comando. Ele ficou em silêncio até
entrarmos no carro e ele dirigir em alta velocidade de volta para o nosso
território.
— Eu sei que foi idiota...
— Idiota? — Giulio rosnou quando eu cortei o silêncio. — Você não faz
ideia de nada mesmo, não é, Kiara? — Ele segurou o volante com uma mão e se
aproximou, envolvendo a outra em meu rosto. — Você poderia ter sido estuprada
e eu morto, depois de dias de tortura. Quando essa sua cabeça de uma criança
mimada perceber o que fez hoje, é melhor pedir desculpas.
Seus olhos verdes repletos de escuridão e seu aperto em meu rosto me
disseram que ele estava falando completamente sério. Eu quis chorar ao pensar
no que ele disse, porém, isso tudo era culpa dele. Giulio deixou a mão cair e eu
tive a chance de responder.
— É sua culpa.
— Minha culpa, porra? — Ele tirou os olhos da avenida e me encarou.
— Você me deixou sozinha e foi para o Village! Eu sei muito bem o que
acontece lá! — berrei, furiosa.
Ele riu enquanto encarava o trânsito. Chegamos a um sinal vermelho e
ele olhou para ambos os lados. Lucian passou por nós e seguiu reto enquanto
meu marido virava à esquerda.
— Para onde está indo?
— Você está preocupada? Agora? — Giulio me olhou, ainda rindo.
Odiei ver a diversão dançando em suas íris. Parecia errado. Estávamos
brigando, ele deveria estar furioso, não se divertindo.
— Giulio — chamei, engolindo em seco.
Ele entrou no porto como mais cedo e estacionou o carro em um canto
muito mais escuro. O lago era a vista que tínhamos, mas eu não estava focada
nisso e, sim, no meu marido saindo do carro.
— Saia. — Ele abriu a porta e eu engoli em seco enquanto me recusava a
fazer isso. — Ou você sai sozinha ou eu vou tirar você.
— Está frio! — berrei, mas meu marido troglodita me tirou do carro. —
O que está fazendo? — perguntei, quando Giulio andou comigo enquanto
segurava o meu braço. Assim que chegamos na frente do carro, que ainda estava
ligado e faróis acesos, Giulio me empurrou contra o capô quente. Não era
alarmante por causa do frio, na verdade, era reconfortante.
— Eu vou foder você, Kiara. E eu não vou me segurar. — Meus olhos se
arregalaram quando ele se inclinou e mordeu o meu pescoço. — Desça sua calça
e calcinha. Não me desobedeça, Donne, você não vai gostar da consequência
disso.
— Eu... — Seu olhar me fez parar.
A promessa em suas palavras me fez começar a me mexer. Abri meu
zíper e desci minha roupa, ficando apenas de casaco e moletom na parte de cima.
Peguei as peças e coloquei sobre o capô. Minha bunda estava quente e eu
suspirei quando ele me ergueu e colocou sobre o carro.
— Abra seu casaco e tire seus peitos. Agora. — A necessidade em sua
voz era quase palpável.
Abri o casaco e desfiz os botões do meu moletom. Meu sutiã foi erguido
e meus seios ficaram livres, como ele queria.
— Giulio... — comecei a murmurar, mas ele se inclinou e chupou meu
mamilo.
Oh meu Deus. Sua boca era quente e sua língua impiedosa. Seus dedos se
fincaram em meus quadris e eu gemi com a pressão crescente no meio das
minhas pernas.
— Pode gritar, Donne. Somos só nós dois. — Suas palavras foram
reconfortantes.
Seus dedos deslizaram pela parte interna da minha coxa. Eu quase podia
sentir minha boceta implorar pelo seu toque, mas ele não tocou. Sempre indo e
vindo enquanto brincava com meus seios.
— Vem aqui. — Giulio segurou meu cabelo e me ajudou a descer do
carro.
Ele me virou de costas e empurrou minha coluna para a frente. Meus
mamilos doeram ao entrar em contato com o capô quente. Suas mãos apertaram
minha bunda e eu gritei quando ele a estapeou.
— Isso é por você me deixar louco todos os malditos dias. E isso — mais
um tapa, mais forte — é por você ter ido àquela boate hoje e ainda colocar a
culpa em mim.
— Giulio. — Meu rosto queimou, envergonhado, quando senti minha
excitação deslizar por minhas coxas.
Eu o ouvi abrir seu zíper e senti a coroa do seu pau tocar meus lábios
molhados. Jesus. Giulio me penetrou com força, sem se segurar, enquanto eu
gritava. Sua mão enrolou em meu cabelo e ele me puxou ao mesmo tempo em
que me fodia com força, me punindo em cada toque.
— Peça desculpas, Kiara. — Ele guiou seu pau para fora de mim e eu
choraminguei. — Agora.
Ofeguei ao sentir um tapa em minha boceta nua e vazia.
— Desculpa! — gritei, assim que senti mais um tapa.
Giulio entrou em mim novamente e dessa vez não me manipulou, apenas
me fodeu rápido, sem piedade. Suas mãos apertavam meus quadris e o frio batia
em meus seios que agora estavam longe do capô.
— Por que você está me enlouquecendo? — ele perguntou, entrando e
saindo de mim, completamente descontrolado.
Gritei quando arrepios se alastraram pelo meu corpo, minha boceta
pulsou e eu gozei tão forte como nunca. Meu corpo caiu no carro e Giulio
investiu mais duas vezes e gozou dentro de mim, me enchendo. Suspirei e senti
sua respiração em minhas costas. Depois de vários segundos, ele me virou e me
fez encará-lo. Enlacei sua cintura com minhas pernas e ele me levou para o
carro, entrando comigo ainda em seu colo enquanto sentia o calor irradiar pelo
carro.
— Eu jurei proteger você. Jurei que nunca mais, ninguém, machucaria
você. — Sua voz fez com que eu me afastasse para encarar seus olhos. — Você
não vai me fazer quebrar essa promessa ao ser impulsiva e ciumenta, Kiara.
Suas palavras acertaram meu peito, porque ele estava certo. Eu tomei
decisões movida pelo ciúme. Toquei seu rosto e me inclinei, beijando seus lábios
devagar.
— Eu errei. Eu sei. Sinto muito — falei, engolindo em seco.
Seus dedos deslizaram pela minha coluna que estava quase tocando o
volante.
— Vamos esquecer essa noite.
— Não posso nem se eu quisesse — falei e sorri.
Giulio encarou meu corpo ainda nu.
— Você gostou, Donne? — Giulio se inclinou e beijou meu pescoço.
— Amei.
— Bom, porque nós vamos fazer muito mais disso em breve.
— Eu gosto dessa ideia.
Nós sorrimos e eu beijei sua boca. Giulio retribuiu com ansiedade e eu
ergui meus quadris e deslizei sobre seu membro duro mais uma vez. Rebolei em
seu colo devagar e gritei quando ouvi o motor rugir.
— O que... — comecei a questionar quando ele colocou o carro em
movimento.
— Me foda, baby. Eu me preocupo com o resto.
O.k. Eu subi meus quadris e rocei meus mamilos em seu peito. Devagar,
tão lento que eu pude ouvir Giulio rangendo os dentes.
— Não brinque comigo, Kiara.
Deus, eu amava quando ele falava meu nome. Tanto quanto amava
quando ele me chamava de Donne. Acelerei meus movimentos e logo nós dois
alcançamos o prazer mais uma vez.
Quando chegamos à nossa casa, eu estava apagada em seu colo.
Realmente não poderia dizer como cheguei ao quarto, mas ao acordar, era nele
que ele estava. Meu corpo estava dolorido e marcas roxas das mãos do meu
marido estavam pelos meus quadris.
— Fique parada. — A voz de Giulio me fez ficar rígida, como pediu.
Ouvi um clique e suspirei, olhando por cima do meu ombro.
Eu estava deitada, ainda nua e de costas para ele. O lençol havia sido
afastado segundos atrás.
— O.k., agora vire.
Eu o fiz enquanto ria. Ele tirou novas fotos e eu suspirei, sentindo a
paixão se firmar em meu coração. Giulio sorriu ao se aproximar e colocar seus
joelhos ao lado dos meus quadris na cama.
— Ei, está bom! — pedi, rindo, mas ele continuou tirando as fotos. — Eu
espero que você guarde isso bem.
— Lógico que eu vou. Seu corpo é a única coisa no mundo que ninguém
além de mim tem a permissão de ver. — A possessividade em sua voz me
arrepiou.
Apoiei-me em meus cotovelos e o encarei.
— Eu quero beijar você — falei, mordendo meu lábio bem devagar.
— Então beije.
Eu o fiz e isso nos levou a mais uma hora na cama.

— Não quis vir logo após seu acidente porque... bem, não queria
interromper seu luto. — Blue sorriu, sentada no meu sofá, enquanto Nina estava
em seu colo me olhando com seus grandes olhos azuis.
— Ela é tão linda. Desculpe, eu me perdi na nossa conversa. — Sorri
para a esposa de Matteo.
Ela olhou para a filha, sorrindo largamente.
— Ela é, não é? — Blue passou a mão no cabelo ruivo da menina.
— Sim. — Suspirei, apaixonada.
— Logo você terá os seus. — Ela apertou meu joelho.
— Sim, logo. — Sorri para ela com alegria
Esse era um dos meus maiores sonhos. Ter um bebê com o rosto de
Giulio.
Eu estava ficando louca. Ele iria embora em breve.
Sorri para Blue e nós mudamos de assunto, conversando sobre a festa
que a Outfit daria em breve.
— Espero você. Matteo está bastante focado no trabalho, então ando me
sentindo solta. — Blue sorriu enquanto Nina mamava e segurava o cabelo da
mãe.
— Giulio também. Eu segui o conselho de vocês e comecei a estudar.
Estou gostando, mas é cansativo — falei e sorri.
— Junte isso a ter que cuidar de uma criança. — Blue respirou fundo. —
Estou fazendo minhas aulas on-line agora por causa da Nina, não quero perder
nada dela, sabe?
— Compreendo. — Peguei mais suco e enchi nossos copos.
— Lake queria vir, mas ela tinha algo da faculdade para fazer — Blue
resmungou. Acabei dando a ela um sorriso desconfortável. — O que foi?
— Nada, nada — me apressei a dizer, balançando a cabeça.
— Você também era do time que imaginava os dois juntos? Isso passou
por minha cabeça antes de tudo. — A ruiva franziu as sobrancelhas.
— Eu... não sei... — Dei de ombros e bebi um gole do meu suco. — Não
me sinto confortável falando dela com você, entende? Mas eu sempre senti que
Giulio gosta dela, mesmo ele negando todas as vezes.
Blue segurou minha mão e a apertou.
— Giulio é honesto, Kiara. Se ele disse que não há nada, é porque não
há. E falando por Lake — ela suspirou e encarou a parede atrás de mim — ela
está muito focada no irmão para se apaixonar agora.
— Prince ainda? Ela não se conformou? — Semicerrei os olhos, confusa.
— Ninguém está conformado. Não havia corpo, por que nos
conformaríamos? — Blue engoliu em seco e seus olhos brilharam com lágrimas.
— Ele perdeu muito. Perdeu meu casamento, o nascimento de Nina, sua
primeira palavra, ela andando. Ele... apenas perdeu.
Meu coração doeu por Blue. Eu não conhecia tanto Prince, claro que já o
tinha visto em várias ocasiões, mas nunca conversamos.
— Eu sinto muito. Espero que ele apareça.
— Eu também.

Kiara estava sorrindo enquanto eu bebericava meu uísque ao lado de
Lucian. Era uma festa dos Trevisan aberta a todos. Minha esposa estava
dançando com Blue e Lunna na pista de dança, enquanto eu permanecia de pé só
a observando. Tentando memorizar suas curvas, seu cabelo e seus olhos. Cada
parte dela.
— Cara, dá pra você deixar menos claro o quanto está apaixonado por
ela? — Lucian resmungou ao meu lado, rindo atrás do seu copo.
— Igual você com a prima dela? — murmurei, tenso.
Não gostava que as pessoas me observassem e muito menos chegassem a
conclusões sobre mim.
— Foda-se.
— Foi isso que pensei.
Kiara voltou rindo e respirando com força. Seu vestido longo era azul e
seu cabelo loiro estava preso. Seu decote era generoso e eu me imaginei
colocando o rosto entre seus seios e capturando seu mamilo escondido sob o
tecido.
— Está tudo bem? — ela questionou e lambeu os lábios.
Toquei sua coluna e a puxei para o meu lado.
— Sim — respondi, secamente.
Em algumas horas eu iria partir para a Itália. Meu plano inicial estava se
encaminhando com eficiência. Mas o que estava me preocupando era Kiara. Eu
queria que ela ficasse segura. Precisava de alguma garantia, mas como eu
poderia ter? Lucian não poderia saber dos meus planos. Pelo menos, não até eu
sair dos .
EUA
— Você está calado demais — ela observou, enquanto um garçom
oferecia champanhe a ela. — Não, obrigada.
— Estou entre meus inimigos, Kiara. Ficar calado e vigilante é tudo que
posso fazer.
— Por favor, pare com isso. — Donne se virou para mim e tocou meu
braço. — Estamos em harmonia, você não percebe? — Seus olhos amoleceram.
Eu segurei seu braço e a puxei para a saída. — O que está fazendo?
Não respondi. Eu apenas a levei para fora.
— Giulio! — Kiara parou ao lado do meu carro.
Olhei ao redor, sabendo que estávamos sozinhos.
— Preciso ir a outro lugar. Mas eu comprei uma coisa para você e quero
entregar agora.
— Por que agora? — Ela semicerrou os olhos.
Eu peguei a caixa quadrada dentro do carro.
— É meia-noite, Donne — murmurei, mostrando meu relógio a ela.
— Você sabe o dia do meu aniversário? — Ela sorriu, parecendo
espantada.
— Eu sei tudo sobre você, Kiara. — Toquei seu cabelo e seus olhos se
ergueram para os meus. — Tome. — Coloquei a caixa entre seus dedos.
Ela a abriu e arregalou os olhos.
— Oh meu Deus. — Kiara engoliu em seco enquanto tocava as pérolas.
Eu havia encomendado um colar das pedrinhas brancas para ela há
algumas semanas. Não queria ir embora sem deixar nada que a fizesse se
lembrar de mim.
— É lindo. — Kiara fungou e pegou o objeto entre os dedos. — Coloque
em mim.
Ela se virou e eu prendi o colar em seu pescoço. Kiara riu quando
terminei e pulou em meu peito. Envolvi seu corpo com meus braços e beijei seu
pescoço. Queria tocá-la, queria senti-la pela última vez. Mas como eu poderia?
Kiara merecia mais.
— Giulio, eu preciso contar algo. — Ela se virou, tocando o colar e
aproximando seu peito do meu.
— Kiara! Maddie está chamando — Lucian gritou da entrada.
— Fique aqui. — Ela suspirou. — Eu já volto — murmurou, mas sequer
se mexeu. Seus olhos estavam úmidos e ela parecia incerta.
— Vá, Donne. — Acenei para o salão de festas.
Ela se aproximou, segurando meu terno. Me inclinei e escovei minha
boca na dela. Kiara suspirou e abriu os lábios, me deixando beijá-la. Segurei
seus quadris e mordi sua língua. Suas mãos apertaram meu pescoço enquanto eu
a beijava como se nunca mais fosse sentir seu gosto e... Porra. Era exatamente
isso.
Kiara se afastou e apoiou sua testa na minha enquanto ofegava.
— Eu já volto.
— Você está linda, Kiara — falei enquanto a via se afastar.
Ela riu e caminhou para Lucian enquanto eu criava raízes.

— Você demorou, porra! — Paolo estava de pé próximo ao porto. Ele era


o vigilante do local. Foi um longo caminho até conseguir comprar a sua
lealdade.
Primeiro, eu o observei por meses para saber que ele não era tão fiel ao
Rocco quanto o Don achava. Eu o vi em telefonemas comprometedores,
repassando informações sobre as mercadorias da Outfit. Um deles eu gravei e
passei semanas enviando trechos para ele.
Depois de quase matá-lo de medo, eu me revelei e disse o que eu queria.
— Temos mais quinze minutos.
— Você tem certeza disso? São noites de viagem dentro dessa merda. —
Paolo apontou para a caixa.
Engoli em seco. Eu preferia ir de avião? É claro, porra, mas era isso que
Rocco esperaria, por isso optei por algo que ele jamais ousaria pensar.
— Vamos acabar com isso — afirmei, ignorando a sua resposta.
— O.k.
— Não ouse falar sobre isso. Enviei as gravações para alguém de
confiança que vai enviar tudo ao seu Don, caso você esqueça a sua parte do
acordo.
Eu não precisava falar mais nada. Paolo entendeu perfeitamente. Seus
olhos e o engolir da sua garganta me disseram isso.
— Foda-se.
Eu ignorei enquanto andava pelo local repleto de caixas e o deixei fazer
seu trabalho em silêncio.
Apertei minha arma devagar e fechei meus olhos, quase podia sentir o
cheiro e ver as paisagens de Roma. Vi meu pai, meu sangue, a minha Famiglia.
Meu coração deu um aperto ao imaginar que tudo isso estava mais perto do que
nunca.
Em segundos, a paisagem mudou para Kiara rindo ao se afastar mais
cedo.
Foi como um soco em meu estômago, me deixando sem fôlego e
malditamente surpreso.
Desejei por muito tempo voltar para a casa, mas saber que estava
deixando Kiara foi mil vezes pior que as várias torturas que os irmãos Trevisan
me fizeram passar.
Foi como a própria morte.


Madeleine não queria nada além de batom. Pelo visto, Lucian havia
arrancado o dela. Eu andei para a saída e desci a escada enquanto tocava o colar
bonito que havia ganhado de Giulio. Cada gesto dele tornava mais difícil ainda
empurrar meus sentimentos. Eu desconfiava que estava apaixonada, as palavras
quase escapuliram dos meus lábios quando ele estava ali, diante de mim, me
encarando como se eu fosse tão preciosa quanto às pérolas em meu colar.
Procurei-o na vaga onde seu carro estava, mas agora o lugar estava vazio.
A caixa do meu colar estava no chão, então me abaixei e a peguei enquanto
tentava respirar calmamente.
Abri a caixa de veludo devagar e um pequeno pedaço de papel dentro
quase me fez cair de joelhos no chão.
Em outro mundo, onde não fôssemos inimigos, eu amaria sua alma.
Não estava assinado e não precisava. Eu sabia que era a letra dele, sabia
que esse papel, o colar, tudo isso era a despedida dele.
Apertei meu nariz enquanto meus olhos ardiam, implorando por
lágrimas.
— Ei. — Lucian se aproximou com Maddie ao seu lado, agora de batom
retocado. — Cadê o idiota?
— Ele teve que sair — disse, recomposta. — Não entendi também. Você
pode me deixar em casa antes de levar Maddie? — Minha voz saiu forte,
completamente diferente de como eu me sentia.
Fraca, despedaçada e com o coração partido.
— Claro. Vamos lá.
A viagem não foi silenciosa como eu queria. Maddie e Lucian pareciam
tão apaixonados que era quase impossível não perceber os risos e beijos.
— Você vai ficar bem sozinha? — Madeleine questionou assim que saí
do carro.
— Giulio deve voltar logo — Lucian respondeu por mim.
Eu acenei, concordando.
Logo? Eu nunca mais o veria e sabia disso.
Me virei e entrei no elevador. Segurando meus pedaços, tentando me
manter inteira, enquanto as portas se fechavam. Mas quando fiquei sozinha
minhas pernas mal puderam me sustentar. Sentei-me no chão frio e toquei o
colar enquanto as lágrimas desciam pelas minhas bochechas.
— Eu iria com você — murmurei sozinha, enquanto soluçava.
E eu iria. Quase me ofereci diversas vezes. Porque eu sabia que ia sentir
essa dor insuportável, esse sofrimento que estava nas minhas entranhas. Eu sabia
que o amava e perdê-lo seria como a morte.
Eu estava certa.
Giulio estava indo embora e eu não podia fazer nada.
“Eu iria com você. Eu amaria você. Amaria tudo em você.”
Enviei a mensagem e apertei o celular contra meu peito.

Lucian estava aqui. Eu o mandei subir depois que prendi meu cabelo e
vesti uma roupa confortável. Quando acordei, meus olhos ainda estavam cheios
de maquiagem e tão inchados, que o namorado da minha prima descobriria em
um segundo que algo estava errado. Um banho foi o bastante para levar tudo,
menos a sensação de que perdi algo que eu necessitava mais que o ar.
— Você falou com ele hoje? — Lucian me encarou, parecendo nervoso.
Balancei a cabeça. — Kiara, eu preciso saber, então, por favor, seja sincera.
Onde ele está?
Lucian puxou o cabelo enquanto esperava.
— Eu não sei.
— Kiara.
— Eu não sei.
— Kiara, o Rocco estava esperando o Giulio para fazerem uma reunião.
Ele está esperando há uma hora, e já ligou dezenas de vezes para o seu marido.
— Lucian começou a ficar nervoso.
— Eu não sei. — Respirei fundo.
— Ele fugiu. — Lucian levou as mãos à cabeça quando seu rosto se
transformou em preocupação. — Você sabe o que vão fazer se o acharem?
— Eu não sei onde ele está.
— Eu não posso mentir para o nosso Don e você também não. — Lucian
se aproximou e tocou meus ombros, desesperado. — Sua lealdade está com a
Outfit, Kiara.
Não. Minha lealdade estava com meu marido. Por mais distorcido que
isso pudesse parecer naquele momento.
— Eu não sei onde ele está. Ele saiu ontem e eu não o vi desde então.
Lucian deixou as mãos caírem e respirou fundo.
Quando ele saiu, eu toquei meu colar e fechei os olhos, rezando,
implorando a Deus para que ele estivesse a salvo. Que estivesse com seu pai e
sua família.
Porque todos nós sabíamos que se Rocco o pegasse, ele pagaria por sua
traição com a vida.

Não demorou tanto para Rocco mandar seus homens me buscarem. À


noite, eu já estava no Village, em uma sala iluminada, sentada em uma cadeira
de ferro diante de uma mesa feita do mesmo material.
— Eu realmente deveria ter previsto isso. Quero dizer, pelo menos, ter
passado por minha cabeça. Ele está aqui há anos. Eu imaginei que o imbecil
estivesse... não sei, engajado? — Rocco entrou na sala com seus dois irmãos.
Matteo me encarou, em nada parecia o pai amoroso e o marido
apaixonado que eu vi pessoalmente naquele jantar. Não, ali era o mafioso que
possivelmente estava se punindo por ter permitido que um traidor entrasse em
sua casa.
— Você, Kiara, é a Outfit tanto quanto todos aqui. Você me deve
lealdade.
Rocco se sentou diante de mim com o corpo relaxado. Eu segurei seu
olhar e acenei, compreendendo.
— Você sabe onde Giulio está?
— Não.
— Você sabia que ele iria fugir?
— Não.
— Você está mentindo para mim?
— Não.
Respondi suas perguntas, prendendo seu olhar no meu. Eu passei tanta
verdade quanto poderia. Minhas mãos estavam descansando em meu colo e o
suor nas palmas poderiam me denunciar se ele estivesse me tocando.
— Você acha que eu queria que ele fugisse? Ele é meu marido. — Minha
voz quebrou. — Perdi meu pai e agora ele.
— O que eu acho, Kiara — Rocco cruzou os braços —, é que você está
apaixonada e ele a enganou para se sentar diante de mim e mentir. Ele não ama
você ou alguma merda que ele fez você acreditar. — Rocco se inclinou e eu
desviei o olhar. — Você é uma marionete e ele ainda está manuseando você neste
momento.
Eu odiei ver a verdade nas entrelinhas.
Mas mesmo que Rocco Trevisan estivesse certo, eu jamais falaria a
verdade.
Nunca diria que Giulio deixou claro que o motivo de me manter longe no
começo do nosso casamento era sua partida futura.
— Você está me traindo, Kiara? — O perigo estava na voz do homem
mais cruel e impiedoso de Chicago.
Por mais que eu estivesse morrendo de medo, eu menti.
Eu o traí.
E se fosse descoberta, eu seria punida.
— Nunca.
Mentira.
— Eu sou leal a Outfit.
Mentira.
— Eu falaria a você se soubesse que ele estava planejando fugir.
Mentira.
Traição e mentiras. Isso resumia minha vida.




Dias depois...
Um irmão protetor, um filho amado.
Esqueceram o amigo leal. Deveriam ter colocado.
Me agachei diante da lápide e segurei a pedra. Havia flores novas ali, eu
imaginei a sra. Rizzi aqui chorando pelo filho e depositando as rosas. Meu peito
apertou como se alguém estivesse o segurando.
Sempre que vamos a um cemitério, olhamos para as datas em busca de
consolo. Se a pessoa viveu o suficiente para ter sido feliz. Quando são muitos
anos, nos dá alívio, mas quando é tão pouco parece que uma parte de nós se
quebra.
Era o que eu sentia no momento ao olhar para os números escritos na
pedra. Sal viveu pouco.
Eu nunca parava para pensar muito sobre tudo que Sal perdeu.
Mas diante de mim estava seu túmulo.
Ele perdeu tudo.
— Eu me odeio por ter feito isso — falei para ele, tocando as rosas. —
Mas não me arrependo. Porque me arrepender significaria que eu faria diferente,
e nós dois sabemos que eu não faria. Porque eu te dei seu último desejo. E vou
levar essa dor pelo resto da minha vida. Sienna está bem. Ela teve filhos. Sim,
gêmeos. Amo e Rhett. São uma junção dela e do desgraçado. Eles gostariam do
tio, tenho certeza — falei, sorrindo e respirando fundo. — Estou em casa, você
também, mas... eu queria que estivéssemos em algum bar bebendo e festejando,
não aqui dessa maneira.
O vento soprou mais forte e eu me ergui.
— Eu sei que a queria feliz e ela está, mas é injusto você não estar aqui.
— Você tem algum desejo?
A voz do meu pai me fez fechar os olhos e me virar. Ele estava de pé
vestindo seu terno usual e seus olhos estavam úmidos como nunca vi. Ele deu
um passo em minha direção e eu fui até ele e o puxei para um abraço.
Seus braços me apertaram enquanto meu peito bateu forte e minha
garganta fechou.
— Nenhum.
— Que bom, filho. — Ele se afastou e segurou meus ombros. — Você
está em casa.
Eu estava.
Meu pai me levou para o estacionamento e eu entrei no carro, encarando
a paisagem. Eu havia chegado há poucas horas e vim direto para o cemitério em
um táxi. Liguei para o meu pai no caminho com o celular do taxista.
— Enrico quer que você se estabeleça e depois nós vamos até a casa
dele.
Acenei enquanto o carro deslizava pelas ruas de Roma. Senti um celular
deslizar em minha mão, então abri meus olhos. Liguei o aparelho e fiquei o
encarando. Eu tinha primos para avisar que estava em casa. Mas tudo que eu
pensava era em ligar para Kiara. Avisar que eu havia conseguido e estava bem.
— Enrico disse que se casou.
Ergui meus olhos para o rosto cansado do meu pai e ele me deu um
sorriso apertado.
— Você a amava?
— Eu...
Amava? Franzi as sobrancelhas e pensei sobre meus sentimentos. Kiara
era intensa e me deixava com os nervos explodindo. Ela me desafiava, me fazia
querer estar com ela. Aquela loira era perigosa e eu soube disso desde o primeiro
momento.
— Não sabe. — Papai riu e olhou pela janela. — Eu sei como uma
mulher pode virar seu mundo, mas ela não é sua família.
Ela não era.
— Você gostaria dela.
— Acho que não. Ela é a Outfit. — Ele quase cuspiu ao pronunciar o
nome.
— Onde estão todos? — questionei, querendo trocar de assunto.
— Esperando por você em casa.
Não demorou para o carro deslizar na entrada da mansão do meu pai. Eu
saí do carro e andei para a casa, me sentindo tão fora do lugar quanto imaginei
que estaria. Eu não gostava de atenção. Queria chegar e tudo passar
despercebido, mas eu sabia que isso não aconteceria.
— Jesus, você está aqui! — Perla apareceu na porta e pulou em mim, me
abraçando tanto que quase me sufocou.
— Ainda me chamo Giulio — brinquei, rindo enquanto a segurava contra
mim. Minha prima suspirou e bateu no meu peito. — Como está?
— Casada? — Ela ergueu a mão e eu ergui as sobrancelhas. — Gostaria
de avisar que você perdeu muita coisa. Inclusive as melhores mulheres para se
casar.
— Eu já sou casado — falei de maneira rígida.
Perla abriu a boca, porém voltou a fechá-la.
— Encontraremos alguém melhor. — Meu pai passou por nós enquanto
Perla me encarava com pesar.
Eu não queria alguém melhor. Não havia mulher melhor que Kiara.
— Talvez Fanny? — A voz de Perla soou baixa.
Lembrei-me da garota que ficou aqui junto ao meu passado.
— Não vou me casar novamente — avisei a eles enquanto entrávamos na
sala. — Com ninguém.
— Conversamos sobre isso depois.
Eu dei de ombros, nada mudaria minha mente.
— Você cresceu, hum? — Bernard, mais um primo, socou meu braço e
eu o abracei rapidamente.
— Tive tempo.
— Estamos felizes que retornou — meu tio resmungou ao se aproximar
para me abraçar.
Sorri, acenando e agradecendo. Passei alguns minutos conversando com
a minha família e quando saí me despedindo e dizendo que queria descansar,
ninguém me parou.
Abri a porta do meu quarto e suspirei ao ver que tudo estava do mesmo
jeito. Exatamente igual. Minha bola de basquete, um skate e vários s. Meu pai
CD

não mudou nada. Toquei uma das minhas fotos e a imagem da minha mãe me
deu a sensação de estar em casa.
O que ela diria sobre isso tudo? Será que me apoiaria a voltar para a casa
ou diria que eu deveria continuar em Chicago? Continuar com Kiara?
Tomei um longo banho e me deitei. Pensei em ligar para Kiara, mas para
quê? Eu a havia deixado para trás. Com um bilhete idiota.
Eu não a merecia. Nunca mereci. Aquela menina era uma princesa,
preciosa demais para estar comigo.
Será que Rocco a casaria com outra pessoa? A questão me deixou rígido.
E se o fizesse, como eu saberia?
Me forcei a dormir, mas foi minha pior decisão. Kiara estava em minha
cabeça, grudada em minha pele e povoando meus pensamentos. Até mesmo
dormindo.

— Você parece aéreo — meu pai resmungou ao meu lado dentro do


carro.
Ele estava contando sobre os últimos acontecimentos dentro da Cosa
Nostra. Falando sobre o noivado de Juliano com uma garota e que todos estavam
espalhados por Nova Iorque, expandindo.
— Enrico está a nossa espera e você sabe o que ele quer.
Claro. Informações.
— Eu não era de confiança. Não sei muito.
— O que souber vai servir.
O carro desacelerou e eu abri minha porta, olhando para a mansão dos
Bellucci. A porta se abriu e eu vi o cabelo longo da esposa do nosso Don.
— Ei! — Giovanna sorriu, descendo a escada com um garoto ao seu
lado. Matteo. Filho deles. — Matteo, diga oi.
— Oi, cara. — Seus olhos me mediram e ele desviou o olhar
rapidamente. O garoto havia crescido.
— Estamos de saída. Seja bem-vindo de volta, Giulio.
Eu acenei e continuei meu caminho até estar no escritório de Enrico.
— Inteiro — ele me saudou, fazendo referência ao meu estado.
— Não como Salvatore — murmurei, porém me arrependi. Enrico
apertou a mandíbula e os pulsos.
— Eles irão pagar por isso. Sente-se.
— Como foi o enterro dele? — questionei, me sentando na cadeira.
— Rápido. O corpo estava fedido.
Eu compreendi.
— Você sabe o que aconteceu aquele dia? — Enrico me encarou
completamente sério.
Eu fui honesto. Fui leal.
— Eu o matei.
Enrico semicerrou os olhos e eu vi seu movimento rápido. Ele se ergueu,
destravou a arma e apontou para a minha cabeça.
— Don, calma — meu pai pediu ao meu lado enquanto segurava o meu
ombro. — Explique-se, Giulio. Não quero mentiras.
— Ele pediu. Na verdade, implorou. Rocco o pegou em mais uma
tentativa de fuga. Sal sabia que o cunhado o mataria — falei calmamente, ainda
sentado, enquanto Enrico continuava com a arma no ar. — Ele matou homens
tentando fugir.
— Você não faria isso? — Enrico estava completamente rígido, vi a
cautela em seus olhos.
— Não amigos. Eles andavam conosco, eram bons para nós.
— Cale-se — meu pai rosnou e apertou a minha nuca. — Todos eles são
lixo. Um morrendo ou mil não faz diferença.
— Por que está aqui, Giulio? — Enrico ignorou meu pai, assim como eu.
— Porque é meu lar. Eu vivo aqui. Meu pai está aqui. A Famiglia está
aqui.
Enrico baixou a arma, mas ainda não a guardou.
— Kiara Conti.
A menção do nome dela fez meu peito rugir, batendo loucamente.
Querendo, desejando ter sua esposa de volta. Era um anseio estúpido.
— Vamos anular o casamento — meu pai falou com firmeza.
Eu me virei, com os braços tensos.
— Não — afirmei, rapidamente. Meu pai me mediu e o que quer que
tenha visto o deixou mais enojado ainda. — Não vou anular o meu casamento.
Kiara é minha esposa.
— Giulio. — Meu pai me olhou como se eu tivesse lhe dado uma facada.
Enrico respirou fundo e eu voltei a encará-lo. Ele havia guardado a arma
e se sentado.
— Rocco o fará. É questão de meses, talvez. Ele irá casá-la com outro
homem. — As palavras do meu chefe me acertaram, mas eu camuflei cada
pancada. — Kiara não é mais sua esposa.
Foda-se. Ela sempre seria, mesmo que um papel estúpido lhe dissesse o
contrário.
— Rocco ligou. — Enrico suspirou e se ergueu. Ele andou até o bar e se
serviu com uísque.
— Quando? — questionei, rapidamente.
— No dia que chegou.
— O que ele disse?
Enrico andou até o computador e apertou algum botão. A voz de Rocco
ecoou e a cada sentença eu quis rasgar sua garganta.
— As lágrimas dela são o paraíso. Eu sei quando uma pessoa ama
loucamente outra. Eu sei quando ela mente para mim. Quando ela me trai. —
Rocco riu na ligação gravada. — Diga a Giulio que vou amar quebrar a
garotinha dele. A vingança é lenta. A vida de Kiara está prestes a mudar, e eu
quero que ele saiba que a ruína dela é culpa dele. Única e exclusivamente.
A ligação ficou em silêncio enquanto os dois homens na sala assistiam ao
meu corpo estremecer e a minha respiração engatar. O que ele faria com ela?
Como ele a arruinaria?
Eu não sabia, mas tinha certeza de que ele o faria sem hesitar.
— Você deveria ter trazido sua esposa.
Eu fechei meus olhos e engoli com força. Eu deveria. Comigo, ela estaria
protegida.
Não consegui ficar sozinho pelo resto do dia. Meus amigos estavam
dando uma festa perto de uma floresta onde passamos a maior parte da nossa
adolescência.
— Você continua o inferno de bonito. — Alessa se aproximou de mim
sorrindo. Ela não fazia parte da Cosa Nostra. Era uma mulher normal, em um
mundo normal. — Merda. — Alessa ergueu minha mão e a aliança brilhou com
a luz das chamas do fogo. — Você se casou.
— Alguém tem que se casar, hum? — brinquei, olhando para os meus
primos que estavam rindo e bebendo.
— Droga, Fanny vai infartar.
O nome da sua ex-namorada enviou um gosto amargo à sua boca.
Quando saí daqui eu a deixei sem mensagens, apenas sumi achando que logo
estaria de volta. O logo foi quase três anos.
— Tenho certeza de que ela sobreviveu — murmurei, virando minha
cerveja. Quando desci a lata, vi a própria diante de mim.
— É, eu sobrevivi. — Fanny me deu as costas e andou para a escuridão.
Eu não queria drama — não mais do que eu já tinha —, mas tive que
segui-la.
— Você sabe que eu estava preso lá, certo? — questionei, suspirando.
Ela parou de andar. A ruiva engoliu em seco e cruzou os braços.
— Eu sei e fiquei esperando por você.
Porra.
— Então você se casou. E mesmo que tenha sido obrigado, você ainda
está usando essa aliança. O que houve, Giulio? — Fanny quis saber enquanto
lutava para respirar.
— Três anos, Fanny. Você deveria ter seguido em frente.
— Obrigada por me dizer o que todo mundo falou, mas que eu ignorei
porque amava você.
— Nós trepávamos, pelo amor de Deus. Você sempre soube que isso
nunca iria pra frente. Minha família me mataria se eu quisesse algo mais sério,
você sabia disso.
Fanny pareceu levar um tapa, então eu quis engolir minhas palavras.
— Lógico. O sangue azul dos mafiosos. Ela é uma sangue azul?
Ela era perfeita. Ela era preciosa. Ela era tudo que eu desejava.
— Não a traga para essa conversa.
— Uau, você até a protege. — Fanny piscou rapidamente, afastando as
lágrimas. — Por que está usando a aliança se ela ficou para trás?
Porque eu a sentia comigo.
— Não é da sua conta.
Fanny suspirou e eu me aproximei.
— Não quis magoar você. Eu apenas... — parei de falar e suspirei. — Eu
quero que seja feliz, Fanny.
— Eu seria se você não tivesse ido embora e me deixado aqui.
— Eu preciso ir.
Eu me virei e saí, deixando-a ali. Em nenhum momento eu me lembrei
dela desde que cheguei, e de uma maneira que eu não entendia, senti raiva de
mim. Fanny havia sido importante para mim, como diabos eu apenas deletei a
garota da minha mente?
Me despedi dos meus primos e dirigi para casa. Quando entrei, o silêncio
me abraçou. Suspirei enquanto pegava uma garrafa de uísque e ia para o meu
quarto. Virei a garrafa enquanto ouvia a voz de Rocco em minha mente.
Eu vou arruiná-la.
A preocupação crescia em meu peito, mas eu sabia que não poderia
mudar nada.
Não mais.
Kiara era meu passado e eu nunca mais a veria novamente.




Um, dois, três...
Eu balancei meus quadris, sentindo a música deslizar por meu corpo
enquanto tudo ao redor desaparecia. Meu corpo estava seminu. Uma calcinha
pequena, um sutiã que mal cobria meus peitos e as asas faziam minha fantasia
ser incrível. Eu adorava a peça, por mais que eu odiasse o que fazia enquanto a
vestia.
A música acabou e eu peguei todas as cédulas do chão. Andei para longe
do palco e suspirei ao ver Sidney se aproximar para começar a sua música.
— Eu amo a sua bunda, Sparrow. — Ela apertou minha bunda nua.
Eu ri e balancei a cabeça.
— Corra, baby.
Entrei no camarim e me sentei diante do espelho. Tirei a peruca preta e a
joguei ao lado, dentro da minha bolsa. Embebi o algodão e o aproximei, mas a
porta se abriu e me fez suspirar. Merda.
— Você precisa aprender a rebolar mais. — O veneno na voz da
Cassandra me fez girar na cadeira e a encarar.
— Sério? Não vejo ninguém reclamando — murmurei, olhando-a de
cima a baixo.
Ela tinha cabelo curto e uma franja que alcançava suas sobrancelhas. Ela
era esguia e até bonita, eu podia admitir.
— Hummm. Foi por isso que ele fugiu, certo? — Ela se inclinou em
frente ao espelho e retocou o batom vermelho.
Eu empurrei a visão dele na cama e eu rebolando em seu colo quando
meu peito apertou.
— Não. Foi por isso que ele ficou. Na minha cama, não na sua, pelo
tempo que esteve aqui. Mas você sabe disso, certo? — Forcei minha voz a sair
estridente como a dela.
Cassandra abriu a boca, mas a porta foi escancarada mais uma vez.
— 502 — Patrícia gritou e eu respirei fundo, me erguendo. — Eu não sei
por que diabos você sempre corre do palco para ir embora.
Foda-se sua vaca. Eu odiava esse lugar, quanto menos tempo ficasse
aqui, melhor.
— Estou indo. — Ignorei-a, pegando minha peruca e andando para fora.
Cassandra permaneceu em silêncio. Bom.
Sorri para alguns clientes enquanto caminhava pelo salão do Village.
Rocco cumpriu sua promessa de me arruinar. Ele me tirou tudo e me ofereceu
algo simples. Um trabalho como prostituta. Eu o odiava tanto que eu poderia
matá-lo.
— Eu já falei para você parar com isso. — Me virei enquanto falava e via
Lucian deitado na cama do quarto, comendo pizza.
— Ah, cala a boca. Quer comer ou não? — Ele empurrou a caixa para
mim.
Tirei minha peruca e o observei. Seus olhos estavam presos no celular em
seu colo, onde ele assistia a uma série sobre assassinatos.
Eu peguei um pedaço de pizza e o mordi, gemendo ao sentir o sabor do
queijo.
— Onde Marcus está? — questionei, estranhando sua presença.
— Algo a ver com uma corrida no Date.
Eu comi em silêncio. Quando terminamos, Lucian estava se erguendo da
cama.
— Você não precisa fazer isso, Lucian — murmurei, sem conseguir
encarar seus olhos. — Eu sou paga para dormir com clientes. É o que eu deveria
fazer em vez de estar comendo pizza com você.
— Eles nunca vão tocar em você. Ninguém — ele rosnou no espaço
pequeno enquanto eu encarava meus pés.
— Você não pode pagar Marcus para sempre.
— Ele me deve.
— Lucian. — Eu me ergui e me aproximei. Ele respirou fundo e eu vi o
lampejo de dor em seus olhos. — Ela...
— Não ouse.
Eu não ousaria.
— Marcus estará aqui no próximo final de semana novamente. E no
outro também. Não conversaremos sobre isso.
O.k. Acenei e suspirei, enquanto ele andava para a porta.
— Obrigada — murmurei antes que ele saísse e eu visse suas costas
ficarem rígidas.
— Boa noite, Kiara.

O caminho para casa foi rápido, como em todas as sextas e sábados. Eu


morava no mesmo apartamento, mas agora nada era de graça. Eu pagava
absolutamente tudo. Viver aqui não era barato, infelizmente. Já tinha pensado em
me mudar, mas isso estava fora de questão.
— Como foi hoje? — Aysha sorriu quando entrei e eu tirei meus sapatos,
empurrando-os para o lado.
— O de sempre. O restaurante estava cheio — menti para a garota que
morava a alguns andares abaixo.
Eu andei pelo corredor sem esperar por sua resposta e sorri ao vê-lo
dormindo tranquilamente. O peso da minha vida saiu dos meus ombros assim
que me aproximei e puxei sua coberta. Seu braço se moveu, mas logo voltou a
dormir.
Me afastei e voltei para a sala, pagando a Aysha e me despedindo. Depois
que ela foi para casa, eu tomei um banho e entrei embaixo das cobertas, puxando
Dante para mim.
Suas mãos ágeis puxaram a alça da minha camisola, então afastei o
tecido, tirando o peito e dando a ele. Seu suspiro de contentamento me fez sorrir.
Passei a mão por seu cabelo escuro e senti um aperto em meu peito, como
sempre acontecia.
Quando a dor retornava e eu encarava minha realidade.
Quando eu entendia o quanto perdi.
O quanto foi tirado de mim desde a noite que ele foi embora.
Meu garoto respirou fundo, fazendo com que eu me lembrasse que eu
perdi coisas, mas ganhei muito mais.
Encarei seu rosto e nem precisei ver seus olhos abertos para saber que o
azul intenso estava ali. Meus olhos no rosto esculpido do homem que me deixou.
— Um dia, Dante, nós vamos sumir dessa cidade. Um dia, seremos só eu
e você em uma realidade incrível. Eu prometo.
Meu filho não reagiu às minhas palavras e eu não precisei que o fizesse.
Eu estava aqui por ele, nada além disso.

Na manhã seguinte, eu pulei da cama quando ouvi uma risada. Procurei


Dante pela cama, mas ele não estava. Andei para fora e prendi meu cabelo,
parando quando o vi sentado no sofá com uma mamadeira nas mãos.
— Ei. — Aysha sorriu quando apareci na cozinha e a encontrei lavando
algumas louças.
— Hoje é sua folga. — Lembrei-a, abrindo a geladeira. Peguei leite e
enchi um copo.
— Eu estava sozinha. Meus pais saíram e eu pensei em passar para ver se
precisa de algo.
— Não, querida. Não preciso, mas se quiser esperar seus pais voltarem
aqui, não vejo problema — murmurei e tomei um gole do meu leite, caminhando
para Dante em seguida.
— Mama. — Ele entregou a mamadeira quando me sentei ao seu lado.
— Olá, garotinho. — Sorri e beijei seu rosto, então ele subiu em meu
colo. — Você pode dar um beijo na mama?
Apontei para a minha bochecha e ele riu. Mas logo apertou seus lábios
em meu rosto. Passei as mãos por seu cabelo escuro e suspirei. Ele tinha um ano
e dois meses, e cada dia falava mais coisas. Era esperto, mas quieto como o pai
dele.
Nos últimos meses fomos nós dois contra o mundo. Depois de tudo,
perder mamãe e Maddie foi como se um buraco tivesse sido aberto dentro de
mim. Dante me preencheu.
Meu menino se virou e voltou sua atenção para a tela grande enquanto eu
terminava o meu copo de leite. Aysha ficou a manhã toda estudando enquanto eu
fiz o nosso almoço e brinquei com Dante. Era domingo e nós ficávamos em casa.
— Papa — Dante resmungou quando estávamos na cama, então me virei
e o vi segurando o porta-retratos que eu guardava na mesinha de cabeceira.
Eu me aproximei e o vi com o dedinho reto apontando para o rosto de
Giulio. Estávamos na festa dos Trevisan, na noite em que ele foi embora.
Havíamos tirado fotos na entrada, lembro-me de ele reclamando, dizendo que
era uma perda de tempo.
Seus olhos estavam presos em mim enquanto eu sorria e tocava seu peito.
Deus, eu estava tão feliz. Eu achava que ali seria apenas o começo de tudo. Da
minha família.
Foi o começo, mas de um pesadelo onde eu era incapaz de acordar.
Ninguém poderia me salvar.
— Quem disse isso para você? — perguntei a Dante, mesmo sabendo que
ele não poderia me responder.
Peguei meu filho e o coloquei para tirar sua soneca. Tão logo ele
adormeceu, eu peguei o porta-retratos e fui para a sala, onde Aysha estava
juntando suas coisas.
— Você disse a Dante que este aqui é o pai dele? Ensinou isso a ele? —
Ergui a foto que pesava gramas, mas para mim parecia uma tonelada.
— Oh, ele viu a foto ontem e eu murmurei. — Aysha estava com os
olhos arregalados, temerosa. — Me desculpe, sra. Conti, eu não vou mais...
— Não mexa nas minhas coisas, Aysha. Por favor — pedi, enquanto
tremia dos pés à cabeça. Ela acenou três vezes e eu deixei meu braço cair ao meu
lado. — O pai do Dante é um assunto proibido dentro desta casa. Não diga mais
isso a ele. Nunca.
— Tudo bem. Peço desculpas mais uma vez, sra. Conti.
Não me chame assim, eu quis gritar, mas, ao mesmo tempo, implorei
para que ela repetisse mais uma vez. Outra vez mais para me lembrar de que ele
ainda era meu. Mesmo a milhares de quilômetros, ele ainda era meu marido.
Aysha saiu da minha casa e eu me sentei no sofá, olhando para a foto.
Tão lindo, tão perfeito. Eu deveria ter contado quando a possibilidade surgiu.
Deveria ter lhe dado um motivo para ficar.
Nosso Dante. Nosso filho seria sua motivação.
Mas eu não consegui falar a tempo.
E ele já não estava mais comigo. Ele não conheceu o filho e nunca o
faria.

Lucian estava próximo do seu carro quando saí do Village na semana


seguinte. Seus ombros estavam tensos e ele levou um cigarro aos lábios para
tragá-lo.
— Parece que os Trevisan acharam Prince. — Suas palavras me fizeram
arregalar os olhos. — Mas é estranho. — Lucian semicerrou os olhos, franzindo
a testa.
— O que é estranho? — questionei, abrindo a porta do meu carro e
jogando minha bolsa. Fui para perto dele e o vi jogar o cigarro no chão e pisar na
bituca.
— Não há ninguém se movendo para ir pegá-lo. — Lucian me encarou e
eu franzi as sobrancelhas.
— Ninguém? Como assim? — perguntei com a voz firme.
— É isso que não estou entendendo. — Meu amigo pegou o celular e deu
uma olhada nas mensagens. — Para Marcus, eles estão esperando alguma
informação.
— Eu fico feliz que o tenham encontrado. Você sabe, muito tempo sem
ele.
— Não passa pela sua cabeça que talvez ele esteja melhor sem eles? Que
talvez ele tenha resolvido ir embora e nunca mais voltar? — Lucian me encarou
sério.
Li nas entrelinhas. Ele se referia a mim e Giulio.
— Eu acho que ele jamais faria isso. Não quando ama tanto os irmãos,
que você e eu sabemos que ele faz — respondi, secamente. — Você ainda vai
passar o dia com Dante amanhã? — Mudei de assunto enquanto me afastava e ia
para o meu carro.
— Chego às oito. — Lucian me encarou em silêncio.
Sumi dentro do veículo e acenei para ele, dirigindo para a noite enquanto
tentava entender por que ainda era tão difícil para mim ver a verdade.
Giulio estava melhor longe de mim.
Meu celular tocou mais tarde e eu vi o número de Lake. Eu não falava
com Blue desde o dia em que ela veio aqui. Lake, então, eu nunca me aproximei.
— Boa noite, Kiara. — A voz dela estava suave, mas eu percebi o leve
tremor.
— Oi. Boa noite. Eu posso te ajudar com algo? — questionei, saindo do
meu quarto e indo para a sala. Ela ficou em silêncio e isso se seguiu por longos
segundos. — Alô? Lake?
— Eu achei meu irmão, mas preciso de você. — Suas palavras
sussurradas foram acompanhadas de um fechar de porta. — Preciso que me
encontre em meia hora no Navy Pier.
— Eu não posso. São duas da madrugada, Lake.
— Giulio voltou, Kiara. E ele só vai me dizer onde está meu irmão se
você jogar comigo.
O ar sumiu dos meus pulmões e eu escutei algo cair. Meus joelhos
fraquejaram e eu caí sentada no sofá.
— Como? — gaguejei, tremendo.
— Ele voltou e eu preciso de você.
— Jogar com você? Por que eu faria isso? — questionei assim que me
recuperei, insultada. — Você assistiu ao seu irmão me obrigar a trabalhar no
Village. Logo ele, que não queria ninguém trabalhando lá contra a própria
vontade. Onde você estava?
— Kiara...
— Escute aqui, sua mimada dos infernos, eu não vou jogar nada com
você. Se você quiser Prince de volta, faça o que Giulio quer e não hesite, Lake,
porque ele vai usar isso contra você.
— Eu não posso dar o que ele quer! — ela gritou, chorando. — Eu não
posso. Ninguém vai negociar com ele de novo. Eles nunca permitiriam.
— Será? Por Prince eles não negociariam?
— Você nem sabe o que ele quer — ela grunhiu, desesperada.
Não, eu não sabia.
— Não pode ser tão ruim.
— Ele quer voltar para a Outfit. Ser inserido novamente. Ele quer a
esposa dele. Ele quer você.
Arregalei os olhos ao ouvir seu grito e meu coração bateu desenfreado.
— Então, Kiara, eu posso negociar isso com ele?
— Não.
— Por quê, não, Kiara?
— Porque eu não o quero de volta.
Eu desliguei a chamada e consegui ouvir minha respiração ofegante.
Ouvi o choro fino e me ergui, andando para Dante. Quando o aconcheguei junto
a mim enquanto ele mamava, pude fechar os olhos e imaginar.
Somente assim tudo seria possível.



Dias antes...
Estalei meu pescoço e me virei, ouvindo o carro parar. Meu pai desceu
do veículo e se aproximou com o corpo completamente rígido. Não previ seu
movimento, porém, tampouco fiquei surpreso. Meu queixo latejou e ele puxou o
punho.
— Isso é por me fazer mentir.
Então mais um soco.
— Esse é por amar aquela mulher. Por querê-la tanto que está arriscando
sua vida para tê-la — ele gritou no meio do estacionamento vazio de Nova
Iorque.
Viemos de Roma havia pouco mais de um ano depois que decidi que não
queria mais viver sem ela. Lembrava-me do dia como se fosse ontem.
Eu bebi tanto na noite anterior, que nem me recordei, ao acordar, como
eu havia ido para cama. Perla estava sentada na poltrona enquanto eu vomitava
com uma dor de cabeça filha da puta.
— Eu não sei quem você é. Ninguém aqui sabe. — Minha prima
suspirou. — Você está aéreo, seu pai disse que fez entregas erradas. Onde está
sua mente, Giulio?
Nela. Em cada pedaço dela.
O que ela estava fazendo? Com quem? Rocco a forçou a um casamento?
Alguém a tocou?
Jesus, ela deixou de me amar?
— Eu a amo, Perla — confessei, fechando meus olhos.
Minha prima se aproximou pelo lado que não havia vômito.
— Então o que está fazendo aqui? — Sua pergunta foi direta.
O que eu estava fazendo ali?
Depois disso, decidi voltar para Kiara. Decidi mover as peças do
tabuleiro para chegar à minha rainha. Primeiro, solicitei ao meu pai e a Enrico
uma mudança de sede. Eu queria estar nos . Na verdade, eu precisava estar ali.
EUA

Eu precisava de informações e eu só as teria ali. Então, depois de manipular meu


pai nós viemos para Nova Iorque. Para reunir informações. Para ter uma carta na
manga.
Eu nunca voltaria a Chicago sem ter algo que Rocco Trevisan quisesse
mais que o ar. Eu não era idiota para aparecer subitamente. Eu seria morto antes
que pudesse pronunciar o nome dela. Então passei todos os meses e dias caçando
a única coisa que eu sabia com certeza que faria Rocco perdoar minha traição.
Prince Trevisan. Seu irmão.
Meu pai me deu um último soco e eu caí de joelhos, cuspindo sangue.
Respirei fundo, ergui a cabeça e o vi respirar com força, enquanto eu permanecia
abaixo dele, com o lábio e nariz sangrando.
— Sei que a odeia. Mas eu vivi na absoluta tristeza e solidão desde que a
deixei. Ela é meu coração, pai. E eu vou rasgar quem se colocar no meu caminho
até ela.
— Até seu pai, Giulio? — Ouvi a voz de Enrico ao redor.
Encarei meu pai, me sentindo totalmente traído.
— Você o avisou? — Mal pude ouvir minha voz.
— Eu sou leal, Giulio. Isso é algo que você não é!
— Eu sou leal. Minha lealdade está com Kiara! — gritei, furioso,
enquanto me erguia. Encarei-o de cima a baixo e balancei a cabeça. — Eu pensei
que a sua estava comigo.
Meu pai desviou os olhos e eu encarei Enrico.
— Mas eu não te dou tanto crédito, sabe? Não acho você tão confiável
mesmo — murmurei, cuspindo o sangue e passando a camisa em meus
machucados.
— O que quer dizer? — Enrico questionou, semicerrando os olhos.
— Eu quero dizer que se você ousar se colocar em meu caminho, Matteo
vai ser levado com Giovanna.
— Como é? — meu pai gritou.
Sorri e dei de ombros.
— Eu jamais machucaria os dois — me apressei a falar ao ver Enrico
completamente rígido.
— O último homem que tocou em Matteo não está vivo, Giulio. Ele era
meu Don, ainda assim, eu rasguei sua garganta.
Eu soube dessa história. Matteo era apenas um bebê na época.
— Me deixe ir, ninguém vai tocar nele.
Enrico olhou para o meu pai e se aproximou. Ele retirou sua arma e
colocou sobre a têmpora do meu pai. O velho nem se mexeu, sua confiança cega
em Enrico falava mais alto.
— Mande os seus homens deixarem Matteo e Giovanna. Agora.
Eu o fiz, porque mesmo que eu soubesse que meu pai era leal a ele, não
arriscaria sua vida. Nem mesmo depois de ele me trair.
— Agora estamos na mesma página. — Enrico se aproximou e a arma foi
destravada. O barulho soou e eu senti a queimação horrível. Dois tiros e eu caí
de joelhos diante dele. — Nunca mais ameace o filho de alguém, Giulio.
Ele se virou e me deixou sozinho, no chão, morrendo.

Acordei dias depois em um hospital que fedia a produtos químicos. Não


demorei muito no local, depois de conferir meus ferimentos. A enfermeira
enlouqueceu, óbvio, mas sumi antes que ela entendesse o que havia acontecido.
Duas semanas depois, eu estava de frente para o Lago Michigan,
aguardando.
Meus ferimentos ainda estavam ruins, mas eu sabia cuidar dessa merda
melhor que muita gente. Não estavam sangrando. Estavam limpos e secos, me
deixando menos preocupado.
— Você não tem amor à sua vida. — A voz de Lake soou.
Eu me virei e a encontrei ali. Ela estava maior do que a última vez que a
vi. Quadris largos e seios que empurravam a blusa que usava. Hoje ela tinha
dezenove ou vinte anos, eu não me lembrava.
— Na verdade, eu tenho — murmurei ao encará-la. — Já falou com
Rocco?
— Se estiver blefando...
— Eu não blefo. Sei o que está em jogo — rosnei, furioso. — Minha
casa, meu lugar dentro da Outfit e minha esposa.
— Estou há quase quatro anos procurando por Prince, me desculpe por
não acreditar que você saiba onde ele está! — ela gritou, com lágrimas nos
olhos.
— Eu tenho alguém próximo dele. Alguém que confio. Quando você
tiver falado com Rocco, eu posso te enviar fotos dele.
Lake fechou os olhos com força e respirou fundo.
— Não quero que Rocco saiba. — Suas palavras me fizeram semicerrar
os olhos. — Eu entrego Kiara a você, dou dinheiro e passaportes novos.
Identidades e nomes. Tudo novo.
— Lake...
— Eu preciso ir buscá-lo. Rocco nunca me deixaria fazer isso. Você sabe
disso! — ela gritou, desesperada. — Você a quer. Não é a Outfit, não é, Giulio.
O que você quer de verdade é Kiara. Você está aqui por ela.
— Não posso pedir isso a ela. Kiara tem família aqui — murmurei,
dividido entre ajudar Lake ou ir direto ao Rocco. — Eu sempre apreciei a nossa
amizade. Você sabe que sim.
— Então o despiste.
— Ele vai me matar, Lake! — gritei, enraivecido. — Eu quero ajudá-la,
mas quero Kiara de volta. Quero mais que a porra do meu ar que está enchendo
meus pulmões agora. Eu fui embora, desde aquele dia eu mal respiro.
— Eu não sei o que fazer. — Ela soluçou, encarando o céu.
— Converse com Rocco. Seja sincera. Diga que quer ir primeiro, quer
saber o que está acontecendo. Diga que aceita dois soldados com você.
— Ele não vai permitir.
— Lake, você já é uma mulher. Busque aliados. Matteo e Romeo. Se eles
ficarem ao seu lado... Rocco vai permitir.
Lake fungou, limpou as bochechas antes de me encarar.
— Vamos fazer isso. — Ela respirou fundo e se virou, tirando o celular
do bolso, porém se deteve. — Giulio...
— O quê?
— Você precisa saber... Kiara não quer mais você.
Não deveria doer, mas foi como se alguém tivesse enfiado uma estaca no
ferimento em meu peito.
— Ela vai dizer isso na minha cara — falei, rapidamente.
Lake engoliu em seco e acenou.
No dia seguinte fui solicitado no Village. Fui à noite, porque a espera
irritaria Rocco. Assim que passei pela entrada, as pessoas se viraram para mim.
A música soava lenta, encantando a multidão. Eu não costumava olhar muito
para as meninas daqui, mas algo naquela canção me fez virar o rosto e encarar o
palco. A mulher dançando tinha cabelo escuro e flutuava sobre o local.
Meu pulso acelerou quando a música acabou e ela ergueu o rosto. Seus
olhos foram a única coisa que me deram a certeza da dúvida que rondava a
minha cabeça.
Kiara pegou o dinheiro que estava no chão e saiu do palco, indo para a
parte de trás.
Meus punhos se fecharam e eu consegui ouvir meus batimentos cardíacos
em meus ouvidos. Que porra estava acontecendo?
— Por aqui, filho da puta. — Matteo se aproximou.
Eu o encarei rigidamente.
— O que Kiara está fazendo aqui? — grunhi enquanto andava em
direção a ela.
— Rocco, agora. Você lida com Kiara depois.
Eu acatei sua demanda, porque sabia que levaria tempo até eu fazer Kiara
me contar o que estava fazendo ali. E tempo, eu estava indo convencer Rocco
Trevisan a me dar.
Entrei em seu escritório segundos depois e vi a família reunida. Até Lake
estava presente. Uma surpresa.
— O bom filho a casa torna. — Rocco riu e se sentou, enquanto bebia
uísque direto na garrafa. — Sente-se.
— Eu prefiro ficar de pé — murmurei enquanto olhava para todos. Eu
estava perto da porta, não que isso valesse de algo. Me matariam no corredor em
segundos.
— Você tem uma informação valiosa.
— Para vocês? Sim. Para mim? Não — respondi, secamente.
— Você a ama. — Rocco me encarou.
Sua afirmação me fez erguer o queixo com orgulho.
— Eu a quero de volta — afirmei, sem retirar o que ele falou.
— Ela não é mais sua. Como é o nome daquele seu amigo? — Matteo
riu, sentado em uma poltrona. — Lucian. Ele está com ela agora.
Mentira.
— Faça seu irmão calar a boca antes que eu mude de ideia — rosnei para
Rocco.
Ele encarou Matteo, que logo se calou.
— Palavras são como folhas, a menor ventania as leva. Quero provas —
Romeo falou pela primeira vez e deu um passo em minha direção.
Eu tirei o envelope do bolso e peguei as fotos. Joguei na mesa de Rocco e
as imagens contendo Prince se espalharam pela madeira escura. Prince lutando.
Esse não era Roman.
— Ele... — A voz de Lake falhou quando encarou a imagem onde seu
irmão estava em uma cela, enjaulado. — Onde é isso?
Todos me encararam e eu fiquei em silêncio.
— Eu vou reinserir você assim que Prince colocar os pés em Chicago.
— Não é bom o suficiente — afirmei, estalando meus dedos.
— Podemos tirar essa informação de você...
— A tortura levaria dias ou até semanas. Vocês sabem disso, ou
esqueceram o que já me fizeram? — rosnei enquanto encarava Matteo, que
semicerrou os olhos furiosamente.
— Você pode estar blefando — Romeo resmungou, mas Lake o
interrompeu.
— É ele.
— Vou reinserir você hoje. Não importa. Chamem os nossos homens —
Rocco rosnou enquanto se levantava e se aproximava. — Depois você me conta
como descobriu onde ele está e o que diabos é esse lugar.
— Eu vou falar tudo. Assim que me reinserir e eu for conversar com
Kiara.
— Converse com ela agora. Ela trabalha aqui. — Matteo sorriu da sua
cadeira.
Eu me impedi de partir seu sorriso em dois.
— Vá. Nós vamos reunir os homens.
Eu saí da sala rapidamente e desci até a boate. Me aproximei da nova
coordenadora das meninas, depois que Andy fugiu com seu filho, Roman.
— Kiara. Onde ela está? — questionei e a vi fazendo uma careta.
— Não há nenhuma Kiara aqui.
— Ela dançou aqui há alguns minutos. Peruca preta, fantasia de anjo.
— Ah, a Sparrow. Ela está com cliente no quarto 504. Pode esperar fora
dele.
Eu corri tão rápido que cheguei no mesmo segundo em frente ao quarto.
Meus ouvidos estavam tampados e meus punhos tremiam. Soquei a porta e a
chutei até ela ser aberta.
— O que...
Peguei Lucian pela gola da camisa e o empurrei até a parede, segurando
minha faca contra sua garganta.
— Porra, Giulio?
— É assim que você cuida dela, seu desgraçado? — gritei, empurrando a
faca na sua pele. O filete de sangue apareceu e Lucian ficou rígido.
— Que diabos? — A voz de Kiara soou.
Olhei para o lado e a vi vestida com a mesma fantasia estúpida por baixo
de um sobretudo. Seus olhos duplicaram de tamanho e ela fechou o casaco.
— Solte-o.
— Eu vou matá-lo e você sabe disso.
Kiara se aproximou devagar e piscou, engolindo em seco.
— Não é nada disso que está pensando, eu juro.
O juramento acalmou a besta dentro de mim, porque eu confiava em
Kiara. Ela nunca mentiria para mim. Lucian me encarou, com as mãos erguidas.
— Então o que é? — perguntei ao ver o sangue deslizar pelo pescoço de
Lucian.
— Pelo amor de Deus, Giulio, solte-o. Agora! — Kiara se aproximou e
tocou meu braço com as mãos trêmulas.
Deus, foi como se eu sentisse um raio me partindo ao meio. Só um toque
e Kiara me fazia lembrar do porquê eu estava ali. Um toque e eu me lembrei que
era por ela.
— Cara, relaxa.
Eu me afastei de Lucian e ele pegou uma toalha de papel para pressionar
contra o sangue.
— É melhor sair daqui — falei e o encarei.
Ele olhou para Kiara e com o aceno dela, ele se afastou.
— O que você está fazendo aqui? — Kiara gritou assim que a porta se
fechou.
— O que você está fazendo aqui? — berrei de volta, me aproximando,
mas ela se colocou atrás de uma poltrona. — Vestida assim, dançando para
homens, trepando com eles, porra!
— Não é da sua conta! Minha vida não interessa a você há mais de dois
anos. Ou você se esqueceu? — ela questionou, respirando com dificuldade.
— Esqueci o quê, Kiara? — Derrubei a poltrona e me aproximei dela. —
Que eu fiz uma escolha miserável? Que eu me arrependi dela todos os malditos
dias destes dois anos?
Kiara ficou sem reação. Ela respirou fundo, olhou para longe de mim e
fechou os olhos.
— Eu disse a Lake. Não quero mais você.
Eu ri e me afastei. Caminhei até a porta, me virei e inclinei a cabeça.
— Você nunca teve escolha, Donne.
Ela arregalou os olhos e eu sorri.
— Vejo você mais tarde.

Os homens do Rocco não ousaram resmungar ou contrariar sua decisão
de me reinserir na Outfit. Todos ficaram em silêncio enquanto o Don olhava para
eles de maneira firme.
— O bom da velha gangorra é que temos informações poderosas. Então,
festejem. Nós estamos expandindo — Rocco falou.
Seus homens gritaram, vangloriando-o, enquanto eu permanecia atrás
dele, ao lado dos seus irmãos.
Menos Lake. Ela estava longe a essa hora.
Eu dei a ela o nome do país onde seu irmão estava e ela voou
rapidamente. Matteo passaria o restante das informações. Dois soldados foram
com ela. Rocco permitiu depois de uma calorosa discussão.
— Seja bem-vindo de volta. — Alguns homens passaram por mim
murmurando e eu acenei para todos. Eu não dava a mínima para eles, nunca dei.
Porém, eu estava aliviado por ninguém estar vindo me matar. Desejar era outra
história.
Quando ficamos sozinhos, Rocco me encarou.
— Ele está na Dinamarca — falei.
— Com quem? — Rocco se sentou.
— Eu não sei. É um clube de luta clandestina. Ele está preso lá — falei,
lentamente. Romeo andava de um lado para o outro silenciosamente. — As
pessoas que contratei são experientes, seguiram pistas, rastros, mas é apenas
isso. Um local.
— Você sabe que isso é uma porcaria, certo? — Matteo grunhiu ao lado.
— Como vamos até lá se não sabemos de nada?
— Eles estão comprando pessoas traficadas. É a única maneira de entrar.
Se entrar, você descobre como sair.
Os irmãos Trevisan me olharam em silêncio.
— E Lake sabe disso, não é? — Romeo falou pela primeira vez. — Neste
minuto, ela já deve estar com um plano fodido de entrar como uma mulher
traficada.
Eu não afirmaria o óbvio, eles conheciam a irmã que tinham.
— Como conseguiu as fotos? — Rocco questionou.
— Há lutas. As pessoas pagam para entrar. É um valor exorbitante e
precisa de uma indicação. Meus homens conseguiram.
Os três acenaram e eu continuei encarando-os.
— Você pode ir para casa.
Todos se mexeram ao mesmo tempo, e quando entrei em meu carro,
respirei fundo, deixando a tensão sair dos meus ombros.
Pisei no acelerador e dirigi por alguns minutos até estacionar na minha
antiga vaga. Havia um carro ao lado, eu sabia que era da Kiara. Entrei no
elevador e esperei pacientemente a porcaria subir.
Bati à porta duas vezes, na terceira ela se abriu. Kiara me encarou
quando abriu a porta.
— Giulio, nós precisamos conversar. — Suas palavras ecoaram.
Entrei na casa e respirei relaxado pela primeira vez em um ano, me
sentindo seguro, em casa.
— Eu quero que me diga apenas uma coisa — falei, entrando mais na
casa. Kiara fechou a porta e eu me virei. — Você ainda me ama?
Ela nunca falou, mas não precisava. Eu sabia.
Seus olhos cresceram e ela engoliu em seco. Levei meu tempo
capturando cada pedaço do seu corpo. Ela vestia uma camisola branca e seu
cabelo loiro estava solto. Deus, como senti falta de olhar para ela.
— Donne, você ainda me ama? — Ao me aproximar, eu a vi tocar seu
pescoço.
— Isso importa? — Ela piscou e me encarou, parecendo destruída. —
Você sabia dos meus sentimentos anos atrás, mas isso não significou nada. Você
me deixou mesmo assim.
— Responda a pergunta, Kiara. — Me aproximei até meu peito colidir
com seus seios e ela precisar erguer o queixo para me olhar nos olhos. — Diga
que não e eu saio daqui.
Mentira.
— Diga que sim e eu juro sob meu sangue que vou me redimir.
Kiara respirou fundo ainda em silêncio, mas seu olhar foi para a minha
boca. Seus mamilos estavam rígidos e eu sabia que se tocasse em sua boceta, eu
a encontraria escorregadia.
Ergui minha mão e prendi em seu cabelo na nuca, então me inclinei e
deixei beijos em seu pescoço, bochechas e ombro, devagar, lambendo ao me
afastar a cada vez. Kiara estremeceu e eu toquei sua cintura. Ela estava linda, do
mesmo jeito que a deixei, mas de uma maneira melhor. Eu não sabia explicar.
Toquei sua bunda e suspirei ao sentir sua calcinha pequena. Que Deus me
ajudasse, eu poderia gozar na calça como um maldito adolescente.
— Donne, eu preciso da sua boceta.
Ela gemeu ao esfregar seus peitos em mim. Eu a ergui, então Kiara
abraçou minha cintura com as pernas. Puxei sua calcinha para o lado, toquei sua
boceta molhada e suspirei. Porra. Enfiei meus dedos em seu canal apertado e
gemi.
Ela começou a puxar minha camisa, mas eu abri minha calça, fazendo-a
parar. Deslizei para dentro dela e puxei a camisola, jogando-a no chão. Kiara
gritou de prazer quando a fodi com mais força. Seus peitos balançaram e eu
suspirei com a visão. Eles pareciam maiores. Me inclinei e suguei um dos
mamilos rosados, então Donne gozou. Um gosto doce atingiu minha língua e eu
a acompanhei no clímax.
Me apoiei na porta e eu vi uma gota de leite cair do mamilo dela. Que
porra era essa?
Mas antes que eu falasse algo, ela terminou de tirar minha camisa e
gritou. Quando ela o fez, eu encarei meu peito. Um dos meus ferimentos estava
sangrando.
Droga.
— Giulio, me ponha no chão! — ela gritou, se debatendo, então fiz o que
pediu. — Sente-se no sofá. Agora.
Também fiz isso, ainda com os olhos presos aos seus peitos. Era leite,
não era?
Meus olhos pinicaram e eu respirei fundo, tremendo por dentro. Ela
engravidou de alguém? Ela tinha um filho? Deus, eu queria morrer.
— Você está bem? — Kiara perguntou pela segunda vez, eu achava.
— Não me toque — gritei, empurrando suas mãos.
Só que minha visão escureceu e eu apaguei.

Giulio desmaiou no sofá enquanto eu estava paralisada pelo seu grito. O


que havia acontecido? Droga. Vesti minha camisola e liguei para Aysha. Ela já
deveria estar dormindo, mas me surpreendi quando ela atendeu rápido.
Cinco minutos depois ela estava na minha sala. Aysha estava estudando
medicina e eu tinha certeza de que seria uma excelente médica.
— Ele levou dois tiros.
— O quê? — gritei, olhando a ferida por cima do ombro dela.
Giulio era muito grande, eu nunca conseguiria movê-lo para a cama,
então o deitei no sofá.
— Dois tiros e isso é recente. Não estão bem cicatrizados — ela
continuou falando enquanto limpava o ferimento, que estava cheio de sangue, e
fechava tudo de maneira cuidadosa.
— Por que ele desmaiou? — questionei, andando de um lado para o
outro.
— Talvez esteja fraco. Ele precisa ficar de cama. A ferida abriu por
esforço.
Meu Deus, Giulio. Acenei para Aysha e sorri, segurando seus ombros.
— Obrigada, Aysha.
— Você pode dar a ele esses comprimidos. Vai ajudar. Eu vou pedir ao
meu pai para receitar amanhã e te envio. É bom ter em casa. — Ela sorriu e
apertou minha mão. — Dante ficará feliz que o pai está em casa.
— Ele vai? — Funguei, sem conseguir me controlar.
— Claro que vai. — Aysha me abraçou e se despediu.
Assim que a porta se fechou, eu me ajoelhei ao lado de Giulio. Trêmula,
toquei sua bochecha e delineei seus lábios enquanto suspirava e relembrava.
Tudo.
— Eu ainda te amo. Nunca houve um segundo que eu não tenha te
amado — murmurei, firmemente, e me inclinei para beijar seus lábios.
O choro fino de Dante me fez levantar. Eu o fiz dormir mais uma vez e
tomei um banho. Voltei para a sala com cobertas e coloquei sobre Giulio. Peguei
um dos comprimidos que Aysha me deu e tentei fazê-lo engolir. Depois de muito
tentar, acabei conseguindo.
Apaguei a luz e fui para o quarto. Dante se aconchegou e continuou
dormindo, alheio à mãe dele desabando pedacinho por pedacinho.

Na manhã seguinte, fiquei longos minutos encarando meu teto enquanto


tremia. Pensando se eu poderia ser feliz agora. Se Giulio realmente havia se
arrependido de ir embora. Eu era uma idiota por ansiar que tudo que sentiu
nesses dois anos fosse solidão?
Deixei Dante dormindo e saí do quarto para verificar Giulio. Assim que
cheguei à sala, encontrei o sofá vazio. Meu batimento começou a acelerar
quando vi um pedaço de papel na mesinha.
Eu achei que nada me faria te deixar de novo. Eu estava errado. Você
tem um filho agora. Você deveria ter me contado.
Imbecil ciumento arrogante dos infernos.
Amassei a folha e fui para a cozinha. Preparei a mamadeira do Dante e
fiz café, ovos e bacon. Cortei frutas e coloquei nos potinhos do Dante. Quando
preparei a mesa, ouvi seu chorinho.
— Bom dia, príncipe — murmurei, pegando-o da cama. Ele se esticou,
sonolento. — Olha o que a mamãe trouxe? — Entreguei sua mamadeira e fui
para a sala com ele.
Dante brincava com seus bonecos quando passei a mão em seu cabelo ao
me lembrar do seu pai estúpido. Quando eu visse Giulio, eu o mataria. Como ele
ia embora sem nem mesmo conversar comigo?
— Eu espero que você puxe ao meu temperamento — falei, suavemente.
Mas Dante resmungou e se afastou do meu toque. — O.k., Giulio Junior.
Depois de tomar café da manhã, eu arrumei Dante e me aprontei também.
Minha campainha tocou, fazendo meu coração parar de bater por um segundo,
enquanto borboletas ansiosas batiam suas asas.
Quando abri a porta, não era Giulio ali, e sim, Lucian. Dante gritou de
onde estava sentado e engatinhou feliz em direção ao amigo do pai.
— Olá, campeão. Como você está hoje? — Lucian fez cosquinhas nele e
a gargalhada de Dante irrompeu pela sala. — Kiara.
— Ei. — Sorri e peguei minha bolsa e a mochila do Dante. — Nós
estamos de saída. Quer nos acompanhar até o carro? — perguntei sem o encarar.
Ele suspirou, acenando. Assim que entramos no elevador, Lucian
começou a falar.
— Ele veio aqui ontem? — Sua pergunta me fez respirar fundo. — Por
pouco ele não perfurou uma veia do meu pescoço. Aquele imbecil.
— Eu sinto muito. — Encarei-o, vendo o curativo em sua pele. — Ele
ficou louco, eu quase não o controlei.
— Você não precisa controlá-lo, Kiara. Na próxima eu o ataco antes.
— Não fale isso.
— O quê? — Lucian riu, brincando com meu filho. — Que eu vou matá-
lo, ou que você não tem que controlar a besta que há dentro dele?
— Os dois. Eu sou esposa dele.
— Foi. Você não é mais.
Suas palavras me fizeram engolir em seco, porém, o olhar do meu amigo
foi atraído para a minha mão. A aliança zombando dele.
— Ele não tem culpa de nada... Lucian — falei, tentando em vão
apaziguar o que tanto afligia meu amigo.
— Diga isso para ela. Ah, você não pode.
Suas palavras me atingiram como uma bala. Eu o odiei muito naquele
momento.
— Basta um homem tentando me dizer o que fazer, Lucian. — Peguei
Dante dos seus braços e saí do elevador. Destravei meu carro e coloquei meu
filho dentro.
— Kiara.
— Não. — Fechei a porta de trás e abri a do motorista. — Peço
desculpas pelo que Giulio fez ontem. Ele não deveria. Mas é só isso.
— Ele veio aqui ontem?
— Não é da sua conta — grunhi, entrando no carro e fechando a porta.
Dirigi sempre olhando para Dante, mas como todas as vezes, ele já havia
dormido minutos depois de entrar no carro. Estacionei e o tirei de dentro,
carregando sua mochila.
— Por que você o deixou dormir? — Raina rosnou assim que abriu a
porta.
— Ele não tem um botão, Raina. Ele dormiu. — Dei de ombros e ela
revirou os olhos.
Sorri quando Travis apareceu segurando o pequeno Enzo. Raina havia
dado à luz duas semanas atrás ao primeiro filho deles. O bebê era lindo.
Adiei muito a visita, mas Raina me ligou dias atrás e me convocou junto
a Travis. Não éramos tão próximas, mas tínhamos uma intimidade que poucas
amigas possuíam. Depois que Giulio foi embora, eu me afastei de tudo, mas
encontrei Raina e Travis no Village tempos depois. Desde então, ela e Travis se
fizeram presentes.
— Giulio está de volta — Travis murmurou depois de colocar Enzo no
berço portátil e Dante em um ninho que eu levava para todo lugar.
— Eu sei. — Engoli em seco, sem o encarar.
— Ele foi reinserido ontem. Muita gente não gostou, mas ninguém vai
contra o que Rocco ordena. — Travis suspirou e eu acenei, sem fala. — Matteo
disse que ele voltou por você.
Bem, acho que ele já mudou de ideia.
— Nos falamos ontem, mas... eu não sei.
— Foram dois anos, Kiara. Você teve um bebê sozinha, pelo amor de
Deus — Raina grunhiu, sentada ao meu lado. — Sei que o ama, mas deixe-o
implorar um pouco, pelo menos.
— A questão não é essa, Ray — murmurei, engolindo em seco. — Ele
foi embora por sentir saudade do pai, a Itália é o lar dele...
— Você e Dante são o lar dele — Travis me interrompeu. — E ele sabe
disso.
Sabe, humrum.
— Só quero ficar bem.
Só quero que meu filho seja feliz.

Quando voltei para a minha casa, Dante já estava esperto e bagunceiro.


Arrumei a casa, lavei a louça e dobrei algumas roupas enquanto ele brincava na
sala. Deixei tudo organizado e me sentei no chão ao seu lado.
— Você quer que eu conte uma história, Dante? — questionei, sorrindo,
enquanto ele me empurrava um dos seus livros.
Contei a história e ele sorriu, batendo palmas no final. A campainha
tocou no mesmo segundo. Eu me ergui e fui abrir, ainda rindo da alegria dele.
Porém, parei quando vi quem estava ali.
— Mama — Dante gritou e eu me virei, indo buscá-lo.
Isso o fez entrar. Giulio fechou a porta e se virou para me encarar.

— Resolveu voltar? Eu pensei que a essa hora você estaria chegando à
Itália — grunhi para Giulio assim que ele me encarou.
— Não seja sarcástica.
Giulio se aproximou devagar e eu percebi sua relutância em olhar para
Dante.
— Se você o olhar por um segundo, vai ver que ele é seu filho — rosnei,
completamente irritada.
Seus olhos foram para nosso filho e eu vi o exato momento em que ele
viu a verdade. Seus ombros cederam e seu olhar ficou lívido. Giulio continuou
parado, abrindo e fechando os punhos.
— Mama — Dante gritou, encarando meu rosto e depois indo para o pai.
— Mama. — Seus olhos se encheram de lágrimas, então eu o embalei em meus
braços, descansando sua cabeça em meu ombro.
— Está tudo bem — murmurei, acariciando seu cabelo.
Andei pela sala enquanto Giulio continuava parado, sem reação.
Queria saber o que se passava em sua cabeça, queria entender se ele
estava feliz ou triste. Se eu pudesse apostar em alguma coisa, seria os dois.
— Eu quero que você saia — falei de costas, parada no corredor.
— Kiara...
— Não! — Me obriguei a não gritar para não assustar Dante. Eu me virei
e o encarei. — Você me deixou ontem novamente, nem mesmo uma conversa.
Depois de desmaiar no meu sofá, com ferimentos a bala abertos. Você não tem o
mínimo de consideração por mim.
— Eu pensei que tivesse engravidado de outro homem.
— E se eu tivesse? — perguntei, furiosa. — Isso tira tudo que você
sentiu ao chegar aqui e me perguntar se eu ainda te amava?
— Se você permitiu que outro homem tocasse em seu corpo, você não
me ama.
— Então você não me ama. Certo? Quantas tocaram em você nesses dois
anos?
— Nenhuma. — Sua voz ecoou, me acertando no peito. — Nenhuma,
porque não eram você. Eu não estava brincando quando falei que me arrependi
de deixá-la. Eu passei a porra do tempo pensando em uma maneira de voltar para
você, Kiara!
Eu fiquei em silêncio, absorvendo suas palavras.
— Rocco me mataria se eu chegasse a Chicago. Mas se eu tivesse algo
que ele quer...
— Prince.
— Isso.
Lembrei-me de Lake e seu pedido.
— Eu deveria te parabenizar, mas não posso, porque você voltou em vão.
Não quero mais você. — As palavras rasgaram meu coração em dois. Porque era
mentira. Eu o queria.
— Você tem certeza, Kiara? — Ele se aproximou e ergueu a mão, tirando
meu cabelo do rosto.
— Sim.
— É o que vamos ver.
Ele desviou os olhos dos meus e encarou Dante. Nosso filho se virou e o
olhou.
— Vem aqui, bambino. — Giulio abriu os braços, chamando-o.
Dante o encarou e depois a mim. Eu esperei por sua decisão com o
coração trovejando. Meu filho piscou os olhos azuis com a atenção no pai e se
inclinou com os braços estendidos.
Nunca vi tanto alívio no rosto de alguém como no de Giulio naquele
momento.
— Jesus, como você se parece com ela. — Sua voz ficou grossa e seus
olhos brilharam enquanto olhava para Dante.
— Quem? — perguntei, cruzando meus braços e o encarando.
— Mia madre. Mamma. — Ele suspirou.
Meus dedos coçaram para tocar nele. Eu não queria pensar em nada
relacionado a ele, mas meu peito doeu quando vi sua dor refletida.
— O que houve com ela? — questionei, enquanto ele andava com Dante
nos braços. Nosso filho brincou com seu rosto e tocou os brincos que havia nas
orelhas de Giulio.
— Ela morreu.
Meu coração se torceu por ele. Lembrei da minha própria mãe e suspirei,
tentando afastar as lágrimas. Perder mamãe foi como se um buraco tivesse sido
aberto dentro de mim. Porém, Dante me preencheu. Meu filho foi minha
salvação.

— Sinto muito.
— Qual o nome dele? — Giulio tocou o rosto de Dante e sorriu quando
nosso bebê riu para ele, ainda pegando nos brincos.
— Dante.
— É um nome bonito. Você escolheu bem, Donne.
Não queria sua aprovação, mas me senti bem ao ouvi-la.
— Dante vem de duradouro. Você cuidou da nossa Donne, hum? — Ele
cheirou nosso filho. Desviei o olhar, me sentindo sufocada. — Preciso definir
algumas coisas com Rocco.
— Que coisas?
— O motivo para você estar trabalhando no Village, primeiro.
Eu arregalei os olhos e ele não me encarou.
— Não faça isso.
— O quê? — Giulio riu, mas eu vi a fúria em seus olhos.
— Eu o traí, ele está me punindo por isso — expliquei, mesmo sabendo
que ele tinha noção disso. — Ele me fez perguntas e eu menti. Eu traí Rocco por
você.
Giulio se virou e caminhou em minha direção.
— Eu sei e eu deveria agradecer, mas não posso. Não quando isso custou
coisas de você. Como fez enquanto estava grávida?
— Ele não sabe de Dante.
— O quê? — Seus olhos estavam arregalados.
— Eu viajei no primeiro ano. E quando retornei ele cumpriu sua
promessa de me arruinar. Dante já havia nascido, estava com quase cinco meses.
— Onde você foi? — Giulio semicerrou os olhos e eu engoli em seco.
— Não importa. O que estou falando é que estou pagando por minha
traição e isso é pouco. Ele poderia ter me matado e estaria no direito dele.
— Eu não dou a mínima para o que é de direito de Rocco Trevisan! Mas
ele não vai transformar minha esposa em prostituta e não me falar nada!
Minha barriga doeu de vergonha. Desviei os olhos dos dele e funguei
quando lágrimas encheram meus olhos.
— Donne.
— É verdade. Ele me transformou nisso. — Dei de ombros e limpei meu
rosto.
— Não mais. Nunca mais. — Suas palavras vieram seguidas do seu
toque.
Giulio me encarou e deslizou os dedos pela minha bochecha molhada.
— Eu vou proteger você com minha vida, Kiara. Você vai ser uma
rainha. Eu vou te dar tudo.
— Eu não preciso de tudo. Nunca quis ser rainha de nada — falei,
piscando as lágrimas e engolindo em seco enquanto me afastava. — Você está
bem? — Mudei de assunto, segurando sua camisa e a levantando.
Se isso podia ser possível, ele estava ainda maior e mais forte. Sua
barriga era trincada e os pelos desciam até o cós da sua calça jeans. Ele era
perfeito.
Terminei de subir o tecido e cheguei aos seus ferimentos.
— Eu estou bem.
— Não está — afirmei, rígida. — Sente-se — pedi e ele o fez.
Dante ainda estava em seus braços e nem mesmo me olhava.
— O que está fazendo? — ele perguntou quando me viu ligar para Aysha.
— Ligando para uma amiga médica. Fique quieto.
Minutos depois Aysha apareceu. Ela limpou o ferimento de Giulio
enquanto ele ficou a encarando com desconfiança. Depois, a babá do meu filho
entregou um pote com comprimidos a ele e se despediu.
— Ela cuida do Dante. Eu confio nela — falei quando voltei da cozinha
com um copo de água.
— Ela fica com ele para você ir ao Village.
Não era uma pergunta, então não respondi. Ele pegou o copo e engoliu
dois comprimidos.
— Onde está ficando? — questionei no mesmo instante que Dante
ergueu os braços para mim. Eu o peguei e me sentei na poltrona. Ele puxou
minha blusa e eu tirei o peito para o amamentar.
O silêncio de Giulio me fez o encarar, então o vi observando a cena com
o rosto pacífico.
— Em um apartamento a alguns minutos daqui.
— O.k.
O silêncio foi estendido.
— Eu preciso encontrar Rocco. — Ele tentou se erguer, mas eu empurrei
meu pé em seu colo, então ele voltou a se sentar.
— Amanhã você vai para onde quiser, hoje você vai descansar —
afirmei, encarando-o inflexivelmente.
— Para alguém que não me ama mais, você está muito preocupada,
Donne.
— Quando falei que não o amava mais? — questionei. Vi seu pomo de
adão subir e descer e seus olhos pegando fogo. — Não o querer de volta não tem
nada a ver com não amar.
— Então você me ama.
Novamente, não era uma pergunta, então não respondi.
Dante adormeceu nos meus braços e eu me ergui. Levei-o para o quarto e
o deitei na sua cama, cobrindo-o e ligando a babá eletrônica.
— Você quer comer alguma coisa? — perguntei enquanto ia para a
cozinha. Peguei os folders de restaurantes e voltei para a sala.
— Você.
Minhas bochechas se encheram de cor e meus mamilos ficaram rígidos.
Jesus Cristo.
— Giulio. — Engoli em seco, tentando falar com firmeza.
— Eu respondi sua pergunta.
— Estou falando de comida — grunhi, irritada.
— Sua boceta é um banquete, Donne.
Deus, ele era um porco.
— Eu vou pedir massa. — Decidi mudar logo o rumo da conversa,
porque eu e ele sabíamos no que isso ia acabar.
— Isso serve.
Depois de pedir nosso jantar, eu me sentei no sofá, longe dele, liguei a e TV
coloquei uma série que eu havia começado com Lucian. Giulio ficou encarando
meu rosto, e não a tela.
— Você pode fingir que quer assistir.
— Eu prefiro assistir a você se contorcer e fingir que não quer suas
pernas em meus ombros.
Que filho da puta!
Mas ele estava certo. Minha calcinha estava úmida e eu estava tentando
me aliviar ao apertar minhas coxas juntas a todo segundo. A imagem de Giulio
sentado à mesa enquanto eu estava aberta a sua frente me fez quase gemer.
— Pare.
Ele se ergueu e estendeu a mão para mim. Era tentador demais. Eu sabia
o que ele faria. Porém, eu não podia. Não mais.
— Não. Sente-se e espere nosso jantar.
— Você é o meu jantar.
Fechei meus olhos, gemendo. Droga.
Ele me pegou nos braços e andou até a mesa de jantar. Meu colo
esquentou e minhas bochecham ardiam. Eu estava morrendo de vergonha.
Ele desceu meu short e a minha calcinha e me fez deitar no tampo frio de
vidro. Seus ombros empurraram minhas coxas abertas e eu senti seus dedos
abrindo minhas dobras.
— É como se você fosse a merda de uma flor rosa e perfeita.
Eu gemi e ninguém poderia me culpar. Senti um assopro e estremeci. Ele
deixou um beijo sobre as dobras escorregadias e usou os dedos para me manter
aberta. Minha bunda saltou quando ele lambeu de cima a baixo.
— Jesus, continua doce ou mais.
Giulio enfiou a língua em meu canal e girou. Enquanto tocava meu
clitóris, ele girava o dedo. Eu gritei quando ele mordeu um dos lábios e bebeu
meu suco que encharcava a mesa.
— Giulio — implorei, depois de gozar.
Ele continuou suas lambidas e chupou meu clítoris entre os lábios, me
fazendo gritar, gozando mais uma vez. Minha boceta latejava dolorida e eu
sentia a blusa molhada. Sempre que eu gozava, meu leite vazava. Não sabia que
isso acontecia.
— Pare — pedi quando ele deu beijos nas minhas coxas, mas foi em
direção à minha entrada mais uma vez.
— Eu apenas comecei, Donne.
Porra. Eu levei a mão à minha boceta e a cobri enquanto o encarava.
— Não.
— Então venha. — Ele puxou minha cintura e eu caí sentada em seu
colo.
Giulio empurrou as alças da minha blusa para baixo e deixou meus seios
à mostra. Ele me ergueu enquanto abria o zíper da calça. Suspirei quando ele me
fez deslizar pelo seu pau duro e grosso.
— Oh Deus.
Suas mãos seguraram meus quadris e ele me fez subir e descer, já que
meus pés não alcançavam o chão. Seus lábios sugaram meu mamilo e eu gritei,
envolvida em prazer.




Kiara não saiu do banheiro depois de quase vinte minutos. Eu recebi o
jantar, mas nada de ela aparecer. Usei o banheiro do quarto de hóspedes e fui
procurá-la.
— Donne — chamei da porta, mas vi que estava aberta. Entrei lá e a vi
dentro da banheira, agarrando suas coxas com a cabeça nos joelhos.
Me aproximei e meu peito foi destruído ao ver as lágrimas em seus olhos.
— Kiara — falei seu nome.
Seu corpo ficou rígido e lágrimas desciam por suas bochechas antes de
ela virar o rosto. Toquei seu ombro nu e ela estava gelada. Puxei sua toalha e a
peguei nos braços. Eu a fiz vestir seu roupão e enxuguei seu cabelo enquanto o
silêncio ainda era a única coisa presente.
Levei-a para o quarto e nos deitei sobre os travesseiros. Puxei seu corpo
para perto de mim e beijei seu ombro, dividido entre questionar seu choro ou só
a manter perto de mim.
— Se você não está pronta, eu vou entender, Kiara. Eu prometo.
Ela fungou audivelmente e eu fechei meus olhos, ficando em silêncio. Eu
não sabia quanto tempo levou para que ela adormecesse, mas assim que o fez,
Dante começou a chorar.
Me ergui e fui até o quarto dele. Assim que entrei, vi seus olhos azuis
brilhantes. Me aproximei e parei para o encarar. Ele choramingou, então eu o
peguei em meus braços.
— Olá, bambino. O que foi? — questionei, indo à cozinha com ele.
Peguei a mamadeira pronta que Kiara havia deixado e voltei para o quarto.
Sentei-me na poltrona e dei sua mamadeira, enquanto meus olhos não
desgrudavam dele nem por um segundo.
Dante tinha o rosto da minha mãe, como eu, mas seus olhos eram de
Kiara. Ele era a perfeição em forma de pessoa, e eu o amava. Eu o amei assim
que o vi nos braços dela e soube que era meu.
— Tua madre è forte, ma devi prenderti cura di lei. Promettere? —
murmurei em italiano.
Dante piscou, engolindo o seu alimento. Quando ele adormeceu
novamente, eu o coloquei de volta na cama. Voltei para o quarto e deixei Kiara
dormindo enquanto andei até nosso closet. Entrar nele foi como relembrar tudo
que vivi aqui e saber que eu havia feito a escolha certa.
Todas as minhas roupas estavam ali, do mesmo jeito que deixei, porém
limpas. Kiara havia mantido tudo. Abri a gaveta dos meus relógios e estavam
todos intactos. Cada pedaço do closet que eu abria dava para ver que minha
Donne me amou nesses dois anos. Ela me amou quando eu não pude amá-la.
Jurei fazê-la nunca se arrepender de me amar.
Voltei para o quarto e vi a aliança brilhando em seu dedo. Olhei para a
minha e suspirei. Nunca tirei o anel bonito do dedo desde o dia em que ela o
colocou ali e eu nunca iria tirar.
Não nessa vida.

Quando o dia amanheceu, eu ouvi passos e me sentei na cama. Procurei


Kiara, mas me lembrei que eu a havia deixado em nosso quarto e vim dormir no
de hóspedes. Tirei minha arma da mesa e esperei os passos chegarem mais perto.
Abri a porta e andei devagar. Assim que cheguei à sala com a arma em
punho, vi Lucian parado enquanto Kiara, estava de pé à sua frente, de roupão. O
que eu havia enfiado nela ontem.
— O que você está fazendo aqui? — Minha voz saiu furiosa.
Estava cansado de ver Lucian ao redor de Kiara. Primeiro, na bosta do
Village, e agora dentro da minha casa.
— Você está se saindo uma ótima mentirosa, Kiara — Lucian grunhiu
para ela, então eu me aproximei.
— Você quer morrer, porra? — gritei, empurrando o cano da arma em
seu peito.
— Eu não menti. Falei que não era da sua conta, isso é diferente! —
Kiara afirmou, irritada. Ela tocou minha coluna. — Abaixe a arma, Giulio. Nós
vamos conversar sobre elas perto do Dante.
Os olhos de Lucian estavam pegando fogo, ele ardia de ódio, e eu não
estava entendendo o motivo desse ódio todo.
— O que houve com você? Eu pedi que cuidasse dela. Você encontrou
minha mensagem, não?
— Encontrei — meu amigo rosnou e deu um passo em minha direção, se
aproximando do cano da arma. — E eu segui a porra do seu pedido como uma
cadela.
— E ela se transformou em uma prostituta. Onde esteve quando Rocco
fez isso? — gritei, preso ao ódio de saber disso da pior maneira.
— Eu estive pagando alguém para fingir foder ela todas as noites. Eu
cuidei dela quando você fugiu! — ele berrou, incontrolável. — Eu cuidei dela,
quando deveria cuidar de outra.
— Lucian, por favor.
— Deixe-o falar — pedi a Kiara. Meu amigo engoliu em seco, seus olhos
brilhando. Então eu percebi algo. — Onde está a Maddie?
Lucian pareceu levar um soco.
— Eu preciso ir embora. — Ele deu um passo para trás e andou para a
porta. — Eu protegi Kiara com a minha vida e vou protegê-la para sempre. E
você me deve por isso.
— Pela eternidade. Eu prometo. — Baixei a arma, tremendo.
Lucian acenou, satisfeito. Quando ele saiu da casa, eu me virei para
Kiara e a vi abraçando o próprio corpo.
— Onde está Maddie? — questionei, sem conseguir respirar.
— Não sei. — Ela balançou a cabeça e soluçou.
Eu não empurrei a questão, apenas a abracei e ficamos assim até ela se
acalmar.
— Você dormiu no quarto de hóspedes. — Ela fungou, parando de
chorar.
— Não queria pressionar você.
Ela acenou e mordeu o lábio, encarando a parede.
— Eu vou voltar para onde eu estava. Venho ver Dante amanhã — avisei,
enquanto me levantava.
Kiara continuou olhando para a tinta branca.
Voltei para o quarto e ouvi meu filho chorar depois de me vestir e pegar
minhas coisas. Eu o tirei da cama e fui para a sala. Kiara se ergueu e pegou o
filho de mim e o amamentou.
— Se precisar de alguma coisa, me ligue.
— Como? — ela perguntou.
Eu me virei, segurando a maçaneta.
— Me ligue.
— Eu não tenho seu número faz dois anos.
Eu voltei, escrevi meu número em um papel e me aproximei.
— Está aqui, Donne. — Beijei a testa do meu filho e encarei os olhos
azuis da sua mãe. — Venho no mesmo segundo, eu juro.
Ela acenou e eu beijei sua testa também.
Saí de casa e entrei no elevador, sufocado.

— Você a deixou vir para este lugar sabendo que ela tinha um filho meu?
— questionei a Rocco assim que ele entrou no Village. O lugar estava vazio,
apenas eu, ele e sua esposa ao lado.
— O quê? — Rocco semicerrou os olhos.
— Kiara teve um filho meu. — Apertei meus punhos. — Você vai me
dizer que não sabia?
— Eu não sabia mesmo.
Kiara estava certa, pelo que parece, mas eu ainda duvidava disso. Rocco
não saber da existência de Dante era uma estupidez.
— O que Kiara... — Sienna arregalou os olhos ao perceber o que eu tinha
acabado de falar. — Ela está trabalhando aqui?
— Forçada por seu marido, sim, Sienna.
Ela negou rapidamente ao me ouvir.
— Rocco não força nenhuma das meninas. Blue não ficou aqui
exatamente por isso...
— Sienna — Rocco a interrompeu e a irmã de Salvatore o encarou. —
Kiara me traiu, e quando eu a procurei para puni-la, ela havia fugido. Depois
disso, ela merecia a morte. Eu fui piedoso e você sabe disso — ele falou,
olhando para mim enquanto eu o via rígido.
— Ela é da Outfit. Uma mulher...
— Pior ainda. Ela encobriu você, fugiu de Chicago. Kiara foi castigada
porque mereceu — Rocco me respondeu, rápido.
— Com uma criança? — A voz de Sienna soou enojada. — Você sabia da
criança? — Ela se virou para o marido.
— Já falei que não. Eu não sabia — ele gritou, me encarando. Eu
semicerrei os olhos. — Tenho os meus filhos, Giulio. Eu não a mandaria para cá
se soubesse que ela mantinha um filho.
— Eu sinto muito, Giulio. — As palavras de Sienna me fizeram lembrar
o motivo de Salvatore amar tanto a irmã. Ela era bondosa, sempre foi.
— Obrigado.
Eu me afastei e fui para o estacionamento. Dirigi por algum tempo e
estacionei diante da casa grande. Eu a havia comprado há dois anos para Kiara.
Pensei em ajustá-la aqui antes de partir, mas não tive tempo.
Entrei no local e suspirei ao ver a casa limpa. Pedi ontem que uma
empresa viesse limpar tudo. Eu planejava colocar Kiara e Dante aqui. Logo.
Instalei o balanço perto do jardim e suspirei enquanto encarava a casa.
Meu celular tocou e eu o atendi, ouvindo a voz de Kiara.
— Onde está?
— Aconteceu alguma coisa? — perguntei, suspirando ao ver uma nova
ligação. Ignorei.
— Onde está?
— Estou a alguns minutos do apartamento. Em um lugar que você vai
amar, eu espero.
— Como assim? — Ela suspirou, curiosa.
— Venha ver.
Enviei a localização pelo aplicativo de mensagens e fiquei esperando por
ela. Em vinte minutos, ouvi seu carro estacionar. Kiara me viu no jardim assim
que desceu do veículo. Ela tirou Dante da cadeirinha e se aproximou.
— O.k., o que é isso? — ela questionou.
Peguei Dante dos seus braços e o coloquei no balanço, me ajoelhando e
empurrando-o levemente, segurando-o o tempo todo.
— Sua casa. Sua e do Dante — falei, deixando a parte que ela também
era minha de fora. Isso levaria mais tempo.
— Minha? Já tenho uma casa. — Kiara cruzou os braços.
Eu me levantei, segurando Dante.
— Dante precisa de espaço, lugar para brincar, correr se assim ele
desejar. Quero dar isso a ele — falei com firmeza e me aproximei dela. — E aos
próximos, é claro.
— Próximos? — Ela ergueu a sobrancelha com um lampejo de felicidade
em seu olhar. Eu vi ou imaginei, mas jamais deixaria que fosse imaginação. —
Próximos o quê?
— Filhos. Nossos filhos. Eu quero mais três.
— Uau. — Ela prendeu o lábio entre os dentes e desviou seus olhos de
mim, quase rindo.
— Você não quer mais, Donne? — questionei, parando atrás dela e
envolvendo sua cintura pequena. Sua cabeça alcançava meu peito.
— Só uma menina.
— Só?
— O.k., mais um menino e uma menina. — Ouvi o sorriso em sua voz e
meu peito inchou de prazer. Deus, como eu a amava. — Quando vamos nos
mudar?
Eu quase gritei. Eu havia vencido a batalha.
Nos próximos dias eu me mantive longe de Kiara. Ela organizou a
mudança e uma semana depois já estava dentro da casa. Dante amava o jardim e
se balançar lá enquanto Kiara o assistia.
No sábado, eu cheguei à noite depois de passar o dia fazendo cobranças.
— Oi! — Aysha ou Ashya, não lembrava, me saudou assim que passei
pela porta.
— Olá. Onde está Kiara e Dante?
— Ela está no quarto se arrumando. E Dante acabou de adormecer.
Se arrumando? Franzi as sobrancelhas, mas andei para a escada. Quando
cheguei ao quarto, a mãe do meu filho estava de pé em frente ao espelho, usando
sutiã e uma calcinha minúscula, enquanto passava creme pelo corpo.
— Para onde você vai? — questionei, me encostando na entrada.
— Trabalhar. — Sua resposta saiu rápida.
Entrei no quarto e fechei a porta.
— Você nunca mais vai colocar os pés lá — pronunciei devagar,
atravessando o cômodo até ela.
— Giulio, Rocco...
— Já acertei com ele. Você nunca mais vai dançar para outro homem
além de mim — rosnei, parando diante dela.
Kiara engoliu em seco e eu deslizei a mão pelo seu decote. Eu daria tudo
para enterrar meu rosto ali, cada grama de mim, mas eu não podia. Enfiei meu
dedo entre o seu sutiã e o mamilo e o capturei, rodando-o devagar.
— Giulio.
— Não posso tocar em você de novo sem antes saber que está bem
comigo. É uma tortura do caralho... — grunhi, com o sangue descendo para o
meu pau, deixando-o irritado. — Mas eu prefiro essa dor a que experimentei no
dia em que você soluçou em meus braços depois de transarmos.
— Eu... — Ela abriu a boca, mas eu soltei seu mamilo e o escondi sob o
sutiã.
— Vou mandar Ashya para casa. — Andei para longe dela.
— Giulio — ela chamou. Eu me virei, segurando a maçaneta da porta. —
É Aysha. — Kiara sorriu ao dizer.
Dei de ombros, saindo do seu quarto.





.

Quando desci, Aysha já havia ido embora e Giulio estava na nossa
cozinha. A casa tinha algumas paredes de vidro que a deixavam clara e espaçosa.
Os móveis eram bonitos, mas eu havia decidido que mudaria algumas coisas.
Apenas uma coisa nunca seria mudada. O jardim. Dante havia amado tudo,
principalmente aquele balanço.
— O que está fazendo? — perguntei assim que me sentei à ilha da
cozinha, diante dele. Encarei seu peito nu e suspirei. Ele precisava cozinhar sem
camisa?
— Massa.
É claro. Eu fiquei em silêncio apenas absorvendo seus movimentos.
Meus olhos ainda estavam presos ao seu peito. Seus ferimentos estavam
melhores, graças a Deus. Deslizei minha atenção para seus braços e suspirei.
Eles estavam maiores e mais fortes. Giulio parecia um deus que foi expulso dos
templos.
— É melhor você parar com isso — ele resmungou com firmeza.
Eu ergui as sobrancelhas para encará-lo.
— Com o quê? — questionei, inocentemente.
Ele apenas balançou a cabeça. Ouvi meu celular tocar e o peguei,
atendendo Patrícia.
— Oi.
— Onde diabos você está? — sua voz irritada me fez engolir em seco.
— Eu não vou mais...
— O que você quer dizer com isso? — ela gritou.
Giulio ergueu a cabeça ao ouvir o grito dela. Ele se aproximou e pegou o
celular.
— Por que você não pergunta ao seu chefe? — ele rosnou e, em seguida,
desligou a chamada.
Nós ficamos em silêncio e logo Giulio voltou para a sua comida. Segurei
o celular entre os dedos e comecei a rolar as fotos do Dante. Coloquei em uma
minha grávida e senti Giulio atrás de mim. Nem o vi se afastar da panela com
molho.
— Se possível, você ficou mais linda. — Suas palavras me fizeram sorrir,
porém, logo me lembrei do medo, das noites mal dormidas e dos pedidos para
que Giulio estivesse ao meu lado no parto. Todas as noites eu pedia isso. —
Onde esteve nesse ano, Kiara? Você nunca me disse.
Respirei fundo e o encarei.
— Eu estava na América do Sul.
— O quê? Com quem? — Ele franziu as sobrancelhas escuras.
Voltei a olhar as imagens.
— Minha babá morava lá. Assim que descobri a gravidez, eu fugi de
carro e depois peguei um avião.
— Por quê?
— Eu não me sentia bem. Na verdade, eu estava me sentindo
completamente sozinha. Maddie tinha Lucian, mamãe... bem, mamãe nunca foi o
ápice de sentimentalismo. — Olhei para ele e funguei. — No dia, eu recebi uma
ligação e me disseram que ela estava morrendo de câncer e queria se despedir de
mim. Então eu resolvi ir cuidar dela.
— Onde está a sua mãe, Donne? — Ele franziu as sobrancelhas escuras
como se somente agora se desse conta da ausência dela.
Eu respirei fundo e o encarei.
— Ela morreu. — Minha voz quebrou e Giulio respirou fundo.
— Como?
— Quando Maddie sumiu, ela estava com a minha mãe. Os homens que
pegaram minha prima a mataram. — Funguei e limpei minhas lágrimas. —
Rocco teve um pouco de prazer ao anunciar sua morte.
Giulio tocou meu rosto e limpou minhas lágrimas.
— Eu sinto muito, Donne.
— Eu sei.
Limpei meu rosto mais uma vez e continuei passando as fotos até chegar
a uma de Dante bebê.
— Então nosso Dante é sul-americano? — Giulio mudou de assunto
depois de alguns minutos e eu agradeci silenciosamente.
— Brasileiro — falei enquanto o encarava e sorria. — Você amaria o
Brasil.
— Eu tenho certeza que sim.
Olhei-o por um longo tempo e depois me recuperei.
— Olhe — murmurei, engolindo o choro e mostrando a primeira foto do
nosso filho.
Dante estava na maternidade e olhava para a câmera. Tão calmo, sempre
foi assim.
— Ele era pequeno — Giulio murmurou ainda próximo, mas sem me
tocar.
— Ele foi o maior daquele dia. Não há nada de pequeno ali, pode apostar.
— Eu fiz uma careta ao me lembrar da dor de colocar aquele garotão no mundo.
— Puxou ao pai. — O orgulho em sua voz me transformou em uma poça.
Droga.
— Só os olhos são meus — falei com firmeza, querendo algo.
— E são perfeitos.
Deus, eu o amava tanto que chegava a sufocar. Quis me virar e o beijar.
Quis reviver aquela noite, mas tanto Giulio quanto eu sabíamos que eu não
estava pronta. Meu choro deixou isso claro.
— Sua massa vai estragar. — Pigarreei.
Ele amaldiçoou e foi até as panelas.
Nós jantamos conversando sobre a casa, e agora era a vez de Giulio se
sentar e me observar. Depois de lavar os pratos, eu me virei enquanto enxugava
as mãos. Sua camisa estava cobrindo seu peito e ele segurava as chaves.
— Estou indo. Me ligue se precisar de mim. — Sua voz estava rouca e
perigosa.
Estremeci, desejando que eu pudesse pedir para ele ficar.
— Tudo bem. — Mordi meu lábio.
Ele se aproximou devagar. Seu peito colidiu com o meu e ele me fez
olhar para seu rosto.
— Vamos deixar algo acordado?
— Hum? — Cantarolei sem ar.
— Quando você morder seu lábio, você está me pedindo para beijá-la. —
Suas palavras saíram enquanto ele puxava a carne macia dos meus dentes.
Eu fiz de novo.
E ele cumpriu sua parte do acordo.
Sua boca era impiedosa, mas as mãos ficaram paradas em meu pescoço.
Eu queria que elas tocassem cada parte do meu corpo, mas eu sabia que era
melhor que ele não o fizesse. Nós dois sabíamos.
— Boa noite, Donne.
Então ele se afastou e eu me recriminei por não pedir que ele ficasse
comigo.

Durante a semana percebi que Giulio vinha aqui à tarde enquanto eu


estudava — havia voltado para a faculdade — e ia embora depois de banhar e
dar comida a Dante. Eu estava chateada por isso, mas não podia culpá-lo. Ele
disse que me daria espaço, certo?
— Como você está? — Blue sorriu para mim assim que abri a porta.
Sienna e Lunna estavam atrás dela. Apertei os olhos procurando Raina, mas ela
não estava ali.
— Hum... — Meu batimento cardíaco acelerou e eu me virei, esperando
ver Dante ali, mas me lembrei que ele estava dormindo. Voltei a encarar o clã de
esposas Trevisan e sorri. — Ei.
— É um momento ruim? — Sienna questionou.
Então percebi que estava com seus filhos.
— Que nada! Entrem. — Abri a porta e sorri ao ver as três entrarem com
seus filhos agarrados. Meia dúzia de soldados ficaram do lado de fora. — Vocês
querem beber alguma coisa?
As três negaram, então eu me sentei em frente a elas, me sentindo
completamente desajustada. Eu estava vestindo uma calça de linho e um
moletom folgado. Elas pareciam a realeza. Lunna estava com o cabelo preso e
um casaco preto envolvendo seu corpo pequeno. Sienna estava com botas altas e
um casaco creme, enquanto os fios dourados como os meus estavam soltos. Blue
estava com uma calça grossa e casaco marrom. O cabelo cor de fogo estava em
um rabo de cavalo.
— A Sienna disse que viria te ver, então nós aproveitamos a viagem e
viemos também. — Blue sorriu enquanto sua Nina estava em seu colo com as
bochechas vermelhas do frio.
— Fico feliz que vieram — murmurei, sorrindo.
— Eu queria ver você de novo, já que no casamento foi tudo rápido e nas
festas eu sempre estava focada demais no meu marido. — Lunna se desculpou
com um sorriso e eu ri. Remy, seu filho, estava sentado ao seu lado, parecendo
completamente alheio a tudo. Ele era sério.
— Eu vim para me desculpar em nome do Rocco. — A voz de Sienna me
levou a encará-la. Ela sorriu com um lampejo de pesar em seus olhos.
— Você não precisa se desculpar — falei rapidamente, mas ela balançou
a cabeça.
— Preciso sim. Eu não sabia de nada, se eu soubesse... eu poderia ter te
ajudado. — Ela engoliu em seco e desviou os olhos. Era tocante ver como ela
parecia realmente culpada. — Amo, por favor. — Sienna pediu quando o loiro se
ergueu e andou até Remy, sentando-se ao seu lado. Rhett ficou em seu lugar,
quieto. Eles eram incrivelmente loiros, uma junção perfeita de Sienna e Rocco.
— Alguém tem alguma sacola? — Lunna gemeu do seu lugar.
Eu me ergui, pegando uma das várias que eu deixava em pontos
estratégicos da casa.
A esposa de Romeo se ergueu e correu, porém ela não sabia para onde ir
e acabou vomitando na sacola, diante de nós.
— Humm... é... — Ela fez uma careta e nos encarou por cima do saco. —
Estou grávida?
— Meu Jesus Cristo, isso é sério? — Sienna pulou do sofá e abraçou a
cunhada, enquanto ela fechava a sacola.
Blue fez o mesmo e eu segui todas, mas ficando mais distante.
— Jesus. Dessa vez será uma menina para fazer companhia para a Nina.
Vocês sabem como ela se sente sozinha com tantos bonecos e carrinhos? Fora
que Rhett odeia as bonecas dela e arranca as cabeças — Blue começou a
tagarelar.
Assim que todas parabenizaram a Lunna, eu me aproximei mais.
— Parabéns, Lunna — murmurei um pouco distante, mas ela puxou
minha mão e me abraçou.
— Nem acredito que terei outro bebê. — Ela fungou enquanto nos
afastávamos.
— Romeo está exultante, certo? — Sienna sorriu, completamente feliz.
— Estamos muito felizes — Lunna confirmou, alegremente.
Dante deu um grito e ela ecoou pela babá eletrônica. Pedi licença e fui
para o quarto. Quando desci com ele, as meninas ficaram paradas.
— Jesus! Ele é a cara de Giulio. — Sienna ofegou.
Senti orgulho ao ouvi-la. Não sabia o motivo, mas esse sentimento
encheu meu coração.
— Não é? — murmurei, feliz.
Dante se remexeu e eu o coloquei no tapete. Logo Nina também pediu
para ir. Seus primos a seguiram, ficando ao lado dela, como verdadeiros
soldados.
— Eu tenho pena da Nina — Lunna murmurou enquanto assistíamos à
cena.
— Eu também — Sienna concordou e Blue encarou a filha.
— Namoro será algo muito difícil de acontecer — ela concordou e riu.
Isso fez todas rirem.
Dante amou brincar com Nina e depois com Amo. Rhett e Remy eram
mais calados e ficavam apenas observando. Para se despedir foi difícil, mas logo
estávamos só nós dois mais uma vez.
Meu celular tocou e eu deixei Dante brincando com seus bonecos e
peguei meu celular.
— Alô? — Atendi confusa por ter visto “número confidencial”.
O silêncio me deixou nervosa. Olhei para Dante e fui para perto dele.
— Quem é?
Novamente silêncio. Meu coração começou a bater mais rápido, então
peguei Dante no colo.
— Quem quer que seja, fale — pedi, com a voz trêmula.
A pessoa desligou.
Suspirei, engolindo em seco. Assustada, pulei quando o celular tocou de
novo. Dessa vez era Giulio.
— O que Sienna e as outras estavam fazendo aí? — Sua voz soou
irritada.
Levei um segundo para me lembrar do que ele estava falando.
— Elas... — Me calei ao ver o celular tocar de novo.
— O que foi?
— Tem alguém me ligando.
— Como assim? Quem?
— Eu não sei. Não fala nada.
Giulio praguejou e eu fechei os olhos.
— Elas vieram me ver apenas. Sienna se desculpou pelo que Rocco fez.
Nada de mais.
— Quem está ligando para você? — A desconfiança em sua voz me fez
semicerrar os olhos.
— Já falei, eu não sei.
Assim que murmurei, a porta foi aberta e Giulio passou por ela. Dante
bateu palmas e engatinhou até o pai alcançá-lo.
Ele não falou nada enquanto estava com o filho. Ele fez o mesmo que faz
todos os dias. Quando Dante adormeceu, eu estava no sofá olhando para o
celular, ainda pensando na ligação.
— Ele dormiu.
— E agora é a hora que você corre — falei, antes que pudesse pensar.
Giulio semicerrou os olhos, andando e se inclinando sobre mim. Seus
braços esticados ao lado da minha cabeça.
— Eu só vou sair daqui quando souber quem ligou para você.
— Eu...
— Quem é, Kiara? — Seus olhos pegavam fogo.
Eu fiquei nervosa com essa informação.
— Eu não sei, droga!
— Pense. Pode ser alguém do Brasil — ele rosnou, ainda perto.
Eu respirei fundo, negando.
— Eu já disse que não sei. Eu perguntei e a pessoa desligou. O quê? —
gritei, levantando-me. Fiquei em cima do sofá, passando alguns centímetros
dele. — Estamos dando um tempo. Você não tem nada a ver com isso!
Seus dedos envolveram meu punho e ele ergueu minha mão. Nossas
alianças brilharam na luz.
— Eu tenho tudo a ver com isso. Eu te dei espaço, não a merda de um
tempo. Você é minha esposa. Minha, Kiara. E você sabe disso. Não é à toa que
não tirou a sua aliança do dedo.
Estúpido!
— Não sei quem está ligando. Quando ele resolver falar, eu te aviso.
Giulio segurou minhas pernas e eu gritei quando ele me baixou no sofá.
— De um aviso a ele. — Giulio se inclinou e sua voz firme fez cócegas
em meu ouvido. — Eu vou matá-lo, mas antes o torturarei. Eu sou bom com
facas.
Meu coração pulou furioso quando Giulio se afastou, me deixando no
frio.
Seu olhar desceu sobre meu corpo e ele tocou o cós da minha calça.
— Quando eu tocar em você de novo, vai ser para não sair mais desta
casa.
Eu estremeci com sua sentença. Giulio pegou as suas chaves, celular e
carteira que estavam em cima da mesa e andou para a porta, levando parte de
mim com ele.
Porque era assim que eu me sentia quando estava longe de Giulio Conti,
uma metade.


Saí da casa da Kiara e dirigi apertando o volante pelos próximos minutos
até estacionar no apartamento onde eu estava ficando. Antes de sair do carro,
algo me chamou atenção. Um veículo escuro estava parado na rua. Peguei minha
arma e a segurei próximo ao meu peito. Toquei na porta e a abri lentamente.
Fiquei de pé olhando para o carro e suspirei quando o vidro desceu.
Porra. Não podia ser.
Ela desceu do veículo e caminhou em minha direção enquanto eu sentia
minha mão tremer. Seu cabelo escuro estava curto e seus olhos eram os mesmos.
Escuros e límpidos.
— Bambino.
— Não se aproxime — rosnei, furioso, ao dar um passo para trás.
— Giulio, querido...
— Você está morta — afirmei, completamente certo disso. Mas eu não
estava alucinando. Ela estava ali.
— Não estou — minha mãe respondeu com firmeza. — Eu fugi.
Ela parecia ter me acertado bem no peito. Fugiu?
— Fugiu de quê? De mim? Do meu pai?
Adriana Conti abriu a boca, mas voltou a fechá-la. Era ela mesmo. Meu
Deus.
— Da máfia. Eu nunca quis nada disso...
— Jesus Cristo.
— Eu quis levar você comigo, mas como eu poderia? Seu pai... seu pai
me mataria.
— O... Ele sabe disso? — gritei, confuso, fazendo minha mãe desviar os
olhos.
— Ele me encontraria e me mataria, eu sabia disso. — Sua voz saiu
lenta, lágrimas brilhavam em seus olhos.
— Ele sabe que está viva? — perguntei novamente, com raiva.
— Ele descobriu.
Fechei meus olhos e suspirei.
— Como eu já cortei laços com ele e com você, não sei por que está aqui.
— Abri meus olhos, encarando-a.
— Preciso que o mande me esquecer.
— Como é? — Eu quase sorri quando a ouvi.
— Eu tenho uma família que não faz ideia de nada disso. Por favor,
Giulio...
— Eu quero que você e sua família morram. — Me aproximei
lentamente e parei diante do seu rosto. — Você já estava morta para mim, mas
agora, descobrindo que é uma egoísta do caralho, não tenho por que sentir por
sua morte.
— Giulio. — Ela ofegou, chocada.
— Se acha que meu pai é um monstro, você ficaria surpresa com o que
me tornei.
Me virei e andei para o meu apartamento. Mas me voltei para ela.
— Se eu fosse você, fugiria. Francesco não é conhecido por ter piedade.
Deixei-a com lágrimas nos olhos, mas não senti um pingo de remorso.

Dois dias depois deslizei no banco do bar do Village e pedi uísque duplo.
Senti um toque em meu ombro e olhei para o lado para ver Cass. Eu não sabia
que ela continuava ali.
— Soube que voltou. — Ela sorriu ao se sentar no banco alto. Ergui meu
copo, sem responder nada a ela. — Já retirou sua linda esposa daqui, pelo visto.
— Aqui não é lugar para ela — respondi, rapidamente.
— Como é, me diz? Como é saber que ela dormiu com tantos homens
além de você?
— Cassandra.
— A pura e casta Kiara fodeu metade desse bar como eu, mas você ainda
a coloca no pedestal. — A irritação em sua voz era palpável. Eu não queria falar
com Cass, na verdade, eu não queria falar com ninguém.
— Dois anos e você ainda não achou outro pau, Cass? Isso é deprimente.
— A voz de uma mulher ecoou, então vi uma loira deslizar do meu outro lado.
— Cala a boca, Sidney. — Cassandra a fuzilou com os olhos. — Só
porque vocês viraram colegas de pau não quer dizer nada.
— É aí que você se engana. Kiara apenas dançava aqui. Ela nunca
dormiu com ninguém, sua doente nojenta. — Sidney sorriu e pediu um drinque.
— Ela ainda é pura e casta.
Cassandra grunhiu, arregalando os olhos, mas antes que pudesse falar
algo alguém a chamou.
— Como você sabe disso? — perguntei a Sidney, enquanto o barman
colocava mais uísque.
— Eu escuto e vejo coisas. — Ela deu de ombros e me encarou. — Diga
a Kiara que sinto falta dela. — A mulher se levantou e sumiu rapidamente.
Bebi mais dois duplos, e quando finalizei pensei estar imaginando coisas,
já que Kiara estava diante de mim com o rosto furioso. Ela se virou e saiu, me
fazendo praguejar. Joguei notas no balcão e corri atrás dela.
— Kiara! — gritei, confuso, antes de a alcançar no estacionamento.
— Você estava com a Cassandra? — Sua pergunta me fez parar bem ao
lado dos carros.
— Não! É óbvio que não — afirmei, encarando-a completamente
confuso. — Por que está aqui?
Kiara apertou o casaco e desviou os olhos dos meus. Seu silêncio me
deixou preocupado.
— Onde está o Dante? — perguntei, engolindo em seco.
— Eu não sei! — ela gritou, desesperada.
Senti um soco em meu estômago.
— Como assim, Kiara? — Me aproximei e segurei seus ombros. —
Como você não sabe?
— Eu estava na cozinha com ele... — Ela encarou as mãos e seus olhos
brilharam. Jesus, era como se suas lágrimas fossem fogo crepitando em minha
pele.
— Donne, respire — pedi, puxando-a até um carro e a prendendo contra
ele.
— Alguém me bateu, eu caí e desmaiei. — Ela tocou a nuca e eu deslizei
meus dedos, sentindo a parte inchada. — Quando acordei ele tinha sumido.
Quem pegou meu filho? — Kiara puxou meu casaco entre os dedos,
desesperada.
— Eu não sei, mas vou descobrir. — Puxei sua cabeça para mim e tirei
meu celular do bolso.
Chamou algumas vezes até ele atender. Eu respirei fundo, ainda
segurando Kiara.
— Roubaram meu filho. Se tiver sido você, eu juro por Deus que
ordenarei a morte de Prince hoje.
— Não peguei seu filho, caralho — Rocco gritou na linha e suspirou. —
O que aconteceu?
Expliquei a ele enquanto levava Kiara para o carro.
— Vou mandar Liam ver as movimentações na rua. Isso vai custar a
você.
— Diga o que quer e será seu — afirmei, tenso.
— Você vai para a Dinamarca resgatar Prince.
— Eu entro no avião assim que você colocar meu filho nos braços da
Kiara.
— Bom. Eu já sei quem pegou. Venha para o complexo.
Rocco desligou a chamada e eu pisei no acelerador.
— O que Rocco quer? — Tensa, Kiara segurou meu braço. — Por que
você vai entrar em um avião?
— Ele quer que eu busque Prince e Lake.
— Como assim? — Kiara franziu as sobrancelhas e eu respirei fundo. —
Você não vai para a morte. Por que Rocco não vai? — ela gritou, insana.
Segurei seu rosto e a encarei.
— Eu atiraria em minha própria cabeça se ele quisesse em troca de
Dante. Ir até a Dinamarca e pegar os dois Trevisan será pouco.
Kiara soluçou e eu continuei dirigindo. Envolvi sua mão na minha, seu
choro foi a única coisa que ouvi pelo caminho inteiro até a mansão Trevisan.
Eu puxei Kiara para perto e entrei no complexo, me dirigindo à sala do
Rocco. Assim que entrei, ele estava de pé olhando algumas fotos enquanto
fumava.
— Comprei suas passagens. Ela pegou seu filho. — Ele jogou as fotos na
mesa e eu me aproximei.
Mãe.
Fechei meus olhos e respirei fundo. Kiara tocou na foto que Adriana
estava segurando Dante e entrando em um carro. Havia um homem com ela,
mais novo. Talvez, seu filho.
— Ela é sua mãe? — Kiara questionou, encarando o rosto que era tão
parecido com o do nosso filho.
— Sim — respondi, odiando a palavra. — E eu vou matá-la.
Kiara arregalou os olhos e começou a balançar a cabeça.
— Não.
— Sim. Eu irei. — Peguei as fotos e encarei Rocco. — Onde ela está?
O endereço de um hotel vagabundo foi o que ele passou.
— Fique de olho nela — pedi, andando para a saída, mas Kiara me
alcançou rapidamente.
— Eu não vou ficar aqui. Eu vou pegar meu filho!
— Kiara.
— Não ouse. — Ela ergueu o dedo em riste, furiosa. — Dante é tudo que
eu tenho. Todo o resto me virou as costas ou foi embora, então você não vai me
dizer o que fazer. Passei dois anos implorando por sua volta, mas não foi, nem de
longe, para me comandar.
— Donne, eu quero proteger você.
— Eu sei, mas eu sei me proteger.
Ela se virou e andou para fora, me deixando rígido e contrariado.
— Acho que ela pegou você pelas bolas. — Rocco riu atrás de mim.
Deixei o local, sem responder. Assim que saí do complexo, vi Lucian
abraçando Kiara.
— Se você quiser, pode ir com ele. Mando o local por mensagem —
grunhi, entrando em meu carro e batendo a porta. Kiara se afastou e entrou no
carro, me encarando completamente furiosa.
— Você é tão idiota.
— Sério? Por que diabos você parece sempre correr para os braços desse
fodido?
— Porque ele estava aqui! — Seu grito me fez parar o carro e encará-la.
— Nesses dois anos, ele estava aqui. Você não.
— Sua prima sabe que você fode com ele? — perguntei, porém me
arrependi em seguida. Inferno.
Kiara abriu a boca e a fechou enquanto seus olhos se enchiam de
lágrimas.
Eu voltei a dirigir e só parei quando cheguei ao hotel. Havia mais dois
soldados comigo e, claro, Lucian chegou em seguida. Um dos homens já estava
com a chave nas mãos e me disse o quarto.
Enfiei a chave e abri, mirando a arma dentro do quarto. Suspirei ao ouvir
a risada de Dante. Minha mãe estava com ele em seus braços, o balançando e
cantando exatamente como fazia comigo.
— Entregue ele a Kiara — ordenei, mirando em seu rosto enquanto o
cara da foto erguia as mãos acima da cabeça. Agora eu via claramente que ele
era filho dela.
— Eu pensei que você pudesse me ajudar. — Adriana fungou e abraçou
Dante. — Mas você é como seu pai. Um monstro impiedoso. Eu sinto pena de
Dante e dela. — Ela encarou Kiara e deu um suspiro de pesar.
— Devolva meu filho. — Kiara andou até ela e pegou Dante. — Não
sinta pena de nós. Você perdeu seu filho e eu ganhei um marido maravilhoso.
Dante ganhou um pai incrível.
Minha mãe ergueu o queixo friamente, vi quando ela pegou a arma do
chão. Puxei Kiara e ouvi minha mãe suspirar. Ela ergueu a arma e a pousou
contra a própria cabeça.
— Eu prefiro morrer a ter as mãos do seu pai em mim.
Seu filho gritou ao mesmo tempo em que o tiro soou.
Kiara envolveu Dante e saiu do quarto, enquanto eu ficava parado
absorvendo a cena. Chorando, meu irmão agarrou o corpo sem vida ao mesmo
tempo em que eu dava um passo para trás, respirando fundo.
Que merda havia acontecido?
Saí do quarto tentando respirar. Ouvi o choro da Kiara enquanto envolvia
Dante nos braços. Me aproximei e abri a porta do carro. Donne se sentou e eu
me ajoelhei, olhando para Dante.
— Ei, bambino. — Passei os dedos por seu cabelo escuro e ele sorriu.
Ouvi passos atrás de mim, então Dante gritou e estendeu as mãos. Não
precisei me virar para saber quem era. Me ergui e coloquei as chaves do carro na
mão de Kiara.
— Vejo vocês depois. — Me afastei e peguei meu celular segundos antes
de ele começar a tocar.
— Quem é?
— Sua mãe está em Chicago.
Pai.
Apertei meu punho e engoli em seco.
— Ela está morta. Acabou de se matar — falei de uma vez e recebi de
volta o mais puro silêncio. — Ela traiu a Famiglia. Anos atrás, ao fugir.
— Eu descobri recentemente.
— Eu sei. Ela disse que você queria matar a nova família dela e ela.
— É óbvio. Ela merecia a morte por sua traição.
— Eu também?
— Eu nunca o abandonei, Giulio. Sou leal a Enrico, mas nunca deixaria
você morrer.
Fechei meus olhos e me lembrei de Nova Iorque.
— Você me levou para o hospital.
— E eu estava lá quando você saiu. — Meu pai respirou fundo. — Eu
nunca te abandonei. Nunca.
— Ela tinha raptado o meu filho. Eu tenho um filho — falei, me
inclinando sobre o carro.
Meu pai ofegou do outro lado da linha.
— Eu sou avô? — A alegria em sua voz me tocou fortemente.
— Sim, pai. E Dante é perfeito.
— Um dia.
— Um dia.
Ele desligou e eu encarei a tela do celular, enquanto me acalmava.
Respirei fundo e liguei para Rocco.
— Estou pronto.
Desliguei a chamada e ouvi passos mais uma vez. Me virei e vi Kiara
parada com nosso filho nos braços. Lucian estava caminhando para o seu carro.
— Lucian cuidou de mim. Quando fugi depois que você sumiu, ele foi
atrás de mim e deixou Maddie aqui. — Kiara piscou enquanto encarava a rua,
antes de virar seu rosto para mim. — Não a vemos desde então.
— Eu...
— Ele se culpa pelo sumiço dela. Ele culpa você por me deixar aos
cuidados dele. Ele culpa vocês dois, porque ele estava me procurando quando
deveria estar com ela.
— Kiara, eu não sabia.
— Nem eu. Descobri um ano depois, quando retornei sozinha e ele
estava afundando, bebendo como um porco. Lucian é o único amigo que já tive,
nunca o toquei porque eu e ele alimentávamos a esperança de que as pessoas que
amávamos voltariam. — Kiara limpou as bochechas e ficou diante de mim. —
Eu e Dante o amamos, mas ele nunca será você. Ele nunca será o homem que
mais amei em toda minha vida. Ele nunca será o pai do Dante. Nós sabemos
disso, mas você parece que não.
— Eu sinto muito.
— Se você morrer nessa viagem, eu nunca vou te perdoar.
— Eu não vou morrer, Donne.
— Eu espero que não, porque não vou criar nosso filho sozinha.










Giulio levou Dante e eu para casa. Assim que cheguei, deitei nosso filho
na cama e suspirei ao passar a mão por seu cabelo. Quando acordei da pancada e
não o vi, foi como se o chão se abrisse sob meus pés. Tudo sumiu e uma dor
insuportável se alojou em meu peito. Dante era tudo que eu tinha. Ele era minha
vida.
Se eu o perdesse, eu me perderia.
Quando voltei para a sala e encontrei Giulio sentado no sofá, apoiando
seus cotovelos nos joelhos, senti meu coração latejar. Desde que ele disse que
iria pegar Prince e Lake eu estava nervosa. Algo dentro de mim me dizia que
isso era errado.
— Eu acreditei fielmente que minha mãe estava morta por longos anos,
mas agora ela realmente está e eu não sei como me sinto. — Sua voz ecoou.
Eu respirei fundo, aproximando minha mão do meu peito.
— Eu sinto muito. — Era mentira, claro. Ela pegou nosso filho, Deus
sabe onde ele estaria se não tivéssemos chegado a tempo. Eu não me importava
com ela, mas com esse homem diante de mim, sim.
— Ela pegou Dante para me chantagear. — Ele respirou fundo.
Franzi as sobrancelhas ao me aproximar.
— Como assim?
— Meu pai a encontrou depois de anos da sua fuga. Ele descobriu que
ela havia formado outra família. Ele ia matá-la e todos que a rodeavam.
Provavelmente, ele ainda fará. — Giulio respirou fundo e me olhou. O calor dos
olhos verdes havia sumido e ele estava triste.
— Ela estava com medo — murmurei, tentando organizar minha cabeça.
— Ela não machucaria Dante, certo?
— Eu não sei e eu odeio isso. — Giulio passou a mão pelo cabelo
castanho e olhou para as paredes de vidro.
— Dante está bem e isso é o que importa. No final, o bem-estar dele
sempre vai ser o que nos fará relaxar — falei, me sentando ao seu lado e
pegando sua mão.
— Sim. — Ele tocou meu joelho e envolveu os dedos em minha perna.
Seu celular vibrou e eu vi o nome do Rocco. O mau pressentimento voltou e eu
engoli em seco.
— Diga a Rocco que não pode ir. — Tentei, mesmo sabendo que isso
nunca aconteceria. Além de ser nosso Don, Rocco havia nos ajudado a resgatar
Dante.
— Você sabe que não posso fazer isso, Donne. — Giulio me encarou e
trouxe sua mão para o meu rosto. — Prince está em um lugar perigoso, vou levar
tempo para trazê-lo para casa, mas eu voltarei bem. Prometo.
Desviei os olhos dos dele ao sentir meu peito dolorido.
— Nos leve com você. — Minhas palavras me surpreenderam e a Giulio
também. — Podemos ficar longe, em uma casa protegida.
— Kiara. — Sua voz era ruidosa, insultada. — Eu não posso fazer isso.
Não posso colocar você e Dante em um país novo enquanto estou indo fazer algo
perigoso. O que você vai fazer se alguma coisa acontecer comigo?
— Você disse que não vai acontecer nada! — gritei e me afastei do seu
toque.
Giulio não me deixou ir longe. Ele me puxou de volta e ficou sobre mim.
Nossas respirações entrecortadas e peito arfando. Ele segurou minha nuca e me
encarou.
— Não vai acontecer nada.
— Então eu vou.
— Não.
Giulio grunhiu rígido e eu toquei seu peito. Arrastei minhas unhas sobre
seu peito e senti meus mamilos doerem. Molhei meus lábios com a ponta da
língua e decidi fazer isso do meu jeito.
Me movi até ele estar sentado no sofá e me ajoelhei entre suas pernas.
Giulio me encarou rigidamente quando raspei minhas unhas em suas coxas e
subi até seu zíper. Minha boca salivou quando abri sua calça. Puxei sua cueca
enquanto meu marido respirava com dificuldade.
— Eu nunca fiz isso — murmurei, de repente tímida. E se ele não gostar?
— Cass já fez isso em você? — perguntei, mesmo odiando trazer aquela cobra
para a nossa intimidade.
— Baby, você pode apenas pegar e vai ser como se eu estivesse gozando
nas nuvens. Apenas não morda.
Ele ignorou a pergunta sobre Cass, e mesmo querendo matar aquela
vadia, eu a afastei do meu pensamento.
Segurei seu pau entre meus dedos e suspirei ao me aproximar. Giulio
segurou minha bochecha e enfiou seu dedo em meus lábios. Ele me fez chupar
devagar e logo substituiu pelo seu pênis grosso.
Eu o levei para a minha boca e assisti a Giulio perder a cabeça a cada
segundo. Sua mão puxou meu cabelo e seus quadris subiram, tentando entrar
mais em meus lábios. Eu me afastei e lambi devagar antes de seus olhos se
abrirem ferozes.
— Você vai me levar? — perguntei, lambendo meus lábios e deslizando a
língua em sua fenda onde havia uma gota perolada.
— Jesus Cristo, Kiara.
Ele grunhiu, puxando meu cabelo. Gemi quando meus seios roçaram suas
coxas.
— Você vai terminar o que começou e nada de jogos.
Sua ordem foi tão clara e eu a senti percorrer meu corpo. Me assustei ao
perceber que gostei.
— Agora abra seus lábios e tome meu pau.
Eu fiz isso e o deixei foder minha boca até cada gota do seu esperma
encher minha garganta. Giulio me ergueu e me colocou de joelhos no sofá. Me
apoiei no estofado macio e empurrei minha bunda na direção do meu marido.
Giulio ergueu meu vestido e desceu minha calcinha até minhas coxas. A renda
ficou esticada enquanto ele abria mais ainda minhas pernas.
— Você precisa ficar em silêncio. — Ele segurou minha cintura e eu
gemi quando o senti deslizar para dentro de mim.
Meus seios cheios doíam ao balançar a cada estocada firme. Eu queria
gritar, mas não o fiz com medo de Dante acordar. Giulio apertou meu mamilo,
me puxando até minha coluna ficar grudada em seu peito. Ele me fodeu
lentamente enquanto uma das suas mãos desciam para brincar com minha
boceta.
— Vire-se, preciso colocar a boca em você.
Eu gemi enquanto me movia. Ele se sentou e me colocou sobre seu colo.
Enquanto eu deslizei em seu pau, Giulio lambeu meus mamilos molhados com
leite e sugou cada um.
Quando o prazer me rasgou ao meio, mordi seu ombro para não gritar. E
assim que Giulio gozou, caí em seu peito completamente cansada.
— Você vai manter sua bunda doce aqui até eu voltar.
Eu fiquei em silêncio e o deixei ditar suas regras.
Eu amava quebrá-las uma a uma.

Na tarde do dia seguinte, Giulio levou dois segundos para perceber Dante
no meu colo e mais dois para encarar Romeo Trevisan com ódio.
— O que ela está fazendo aqui? — Ele realmente parecia furioso.
O jatinho da Outfit era grande o bastante para ir algumas pessoas dentro.
Isso se resumia a mim, Dante, o pai contrariado dele, Romeo e mais dois
soldados.
— Ela é sua esposa e pediu a Rocco.
— Nós estamos indo para um lugar desconhecido e perigoso, Romeo! —
Giulio gritou, insano.
Ninei Dante em meu colo, encarando a pista onde ainda estávamos
parados.
— Como ele odeia você, receio que não se importe com a sua segurança
ou a dela.
— Isso não fazia parte do acordo...
— Dante será protegido com minha vida, isso eu posso prometer. —
Romeo se sentou em sua cadeira.
Giulio se virou e marchou diretamente para mim. Seus braços tremiam
levemente e seus punhos estavam fechados.
— Eu juro que você vai ser punida por sua ousadia, Kiara. — Ele se
inclinou para me encarar, mas eu ergui meu queixo.
— Eu vou amar cada maldito segundo.
Giulio fechou os olhos e apertou a parte superior do banco macio. Depois
disso, ele se sentou ao meu lado. Dante ergueu os braços e Giulio suspirou,
vencido. Ele pegou nosso filho e mostrou algumas coisas do avião.
Ir até Rocco foi fácil. Eu precisei da ajuda da Sienna, obviamente, porque
se precisa de tempo para convencer alguém a lhe dar aval para uma viagem
internacional. Sienna estava preocupada, mas depois que falei que não podia
ficar longe de Giulio ela compreendeu.
Agora, os contatos do Rocco no país estavam organizando um lugar
seguro para que eu e Giulio ficássemos.
Eu tinha tempo para domar minha fera.

A Dinamarca não era nada do que eu imaginei. Não estava tão frio essa
época do ano e onde estávamos era quase deserto. Giulio me guiou até o galpão
enorme e nós entramos com Romeo.
— Por que Rocco não veio? — perguntei, abruptamente. Quase pedi
desculpas pelo atrevimento, mas Romeo logo respondeu.
— Ele tem pendências em Chicago. Não saímos juntos da cidade.
Merdas acontecem quando fazemos isso.
O sequestro de Lunna.
Eu não me lembrava de muita coisa, porque isso nunca era compartilhado
com as mulheres, mas recordo-me do meu pai resmungando que deveriam deixá-
la lá mesmo. Que era uma perda de tempo e recursos irem a Rússia buscar uma
mulher.
Achei que Romeo não gostaria de ouvir isso.
Um dos soldados subiu uma escada longa e nós o seguimos, deixando
para trás o espaço aberto. Um corredor iluminado apareceu e logo Romeo sumiu
em uma porta, enquanto os soldados fizeram o mesmo. Havia homens ali e a
sensação estranha de estar em perigo me fez pensar se não foi um erro vir.
— Vem aqui, querido. — Peguei Dante dos braços de Giulio assim que
entramos em uma porta.
O lugar era espaçoso, não tanto quanto imaginei, mas ainda assim
satisfatório.
— Amanhã vamos encontrar uma casa. Na verdade, ainda estou
pensando se esse lugar não é o mais seguro com todos os homens disponíveis
aqui. — Giulio abriu a geladeira depois de ultrapassar a ilha que dividia a sala e
cozinha.
— Você está cansado? — questionei, enquanto descia a blusa e dava de
mamar para Dante.
Giulio encarou meus seios e semicerrou os olhos.
— Não, mas vou ficar.
Ele preparou comida com algumas coisas que tinham disponíveis. Dei
comida a Dante, em seguida, o banhei e coloquei para dormir. Encontrei Giulio
no sofá, de olhos fechados e braços atrás da cabeça.
Suas tatuagens estavam ainda mais visíveis. Seus braços eram
contornados por rabiscos bonitos, contrastando com sua pele clara. Seu cabelo
castanho estava bagunçado e seus olhos, tão escuros quanto o céu da noite,
estavam fechados.
Subi em seu colo e descansei minhas pernas ao lado das suas coxas.
Ele ficou imóvel. Não abriu os olhos. Nada.
— Giulio... — chamei, nervosa, mas ele me ignorou.
Eu sabia que ele estava acordado, eu via suas pálpebras se movendo.
Toquei seu peito devagar e vi uma reação. Não a que eu esperava.
Seus dedos enrolaram em meu punho e ele apertou. Machucou, eu gemi
de dor, mas Giulio não recuou em segundo nenhum. Ele abriu os olhos e eu me
encolhi com a frieza em suas íris.
— Eu vivo para manter você e nosso filho protegidos. — Suas palavras
me acertaram. — Então você planeja nas minhas costas, fala com um homem
que eu odeio e tira minha autoridade dentro da minha casa.
— Amor...
— Você não acha que estou cansado de receber ordens, Kiara? — Giulio
soltou meu pulso, me tirou do seu colo e se ergueu. — Você não confia em mim
quando digo que o mais seguro é você ficar em casa?
— Eu só quero ficar com você.
— Eu também! — ele gritou, mas recuou quando olhou para o corredor,
sabendo que nosso filho estava ali. — Mas eu fiz um acordo com o diabo e vou
pagar por isso. — Giulio passou a mão no cabelo. Pisquei para afugentar as
lágrimas. — Tudo isso é uma merda, mas você falar com Rocco é pior. É uma
traição.
— Não! Não seja exagerado — grunhi, me erguendo.
— Não? — Ele se aproximou e eu fui para trás. — Você sabe o que sinto
por ele. Está na minha pele. — Giulio apontou para o peito onde eu sabia que
havia dezenas de marcas de tortura. — Então você trabalha com ele para me
diminuir. De novo.
— Eu posso ter errado e peço desculpas por ter feito você se sentir assim.
Mas eu passei pelo inferno nos últimos anos. — As lágrimas encheram meus
olhos e eu senti meu coração doer. — Noites sozinha, com medo. Eu não quero
ficar longe de você. Nunca mais. Nem um dia. Então me desculpe por ir até
Rocco. Eu amo você e não vou perder você novamente. Nem hoje e nem nunca.
“E você pode me odiar, Giulio, eu não me importo, mas não quero sentir
que nunca mais colocarei meus olhos em você. Nunca mais quero dormir dopada
de medicamentos para a dor ir embora. Nunca mais quero ficar um segundo sem
você, porque você e nosso filho são a minha vida.”
Respirei fundo e funguei, limpando minhas lágrimas.
— E se eu não confiasse em você, eu não teria trazido o nosso filho. Eu
sei, com a minha alma, que você nos protegerá de qualquer coisa. Não importa o
quê.



Eu era uma maldita marionete e as lágrimas dela controlavam minhas
cordas. Jesus Cristo, como eu a amava. Nada, nunca, teve meu amor como essa
garota. Essa princesa da máfia de temperamento dos infernos e cabelo tão loiro
quanto um anjo. Lábios vermelhos que eram o próprio pecado e os olhos tão
azuis que poderiam me matar.
Eu amava Kiara Conti mais que o ar que enchia meus pulmões.
— E eu vou.
Seu queixo tremeu e ela correu para os meus braços, tremendo. Minha
Donne envolveu suas coxas ao meu redor e eu a apertei junto a mim.
— Eu amo você, Kiara. Mesmo você sendo um problema do caralho
sempre.
Ela riu em meio ao choro e eu peguei seu pulso e beijei demoradamente
cada pedaço de pele que machuquei.
— Eu te amo. Sempre. Com tudo de mim.
Eu sabia que sim.
Segurei seu queixo e a puxei para mim. Beijei a ponta do seu lábio e
lambi a carne úmida desejando ter mais tempo, muito mais. Porém, eu não tinha,
então eu a beijei com cuidado e depois me afastei, vendo seu rosto retorcido e
irritado.
— Donne, eu tenho que sair agora — falei, lentamente, enquanto ela
envolvia meu pescoço com as mãos e começava a se esfregar contra meu pau. —
Kiara.
Ela não ligou. Na verdade, ela nunca ligava.
Ela abriu meu zíper, desceu sua roupa e deslizou até sua boceta ser a
única coisa que eu pensava.
— Eu preciso de você.
Quatro palavras malditas e eu esqueci meu dever e apenas a fodi do jeito
que ela queria.

Romeo estava sentado na extremidade da mesa e não falou nada sobre


meu atraso quando entrei na sala organizada. Me sentei na cadeira mais perto da
saída e olhei ao redor. Reconheci dois homens que não tinham vindo conosco,
mas sim com Lake.
— Ela enganou vocês? — Romeo se inclinou na cadeira, relaxado.
— Ela nos despistou. Estávamos aqui planejando maneiras de entrar no
dia da luta. Ela disse que ia dormir. Ninguém foi ao seu quarto, obviamente. —
O homem de cabelo vermelho suspirou. — Quando acordamos no dia seguinte
ela havia sumido.
— Ela entrou lá como uma traficada — o outro murmurou logo em
seguida.
— O.k., Rocco lida com vocês. — Romeo se virou e me encarou. —
Seus contatos estão aqui ou o quê?
— Já deveriam ter chegado — murmurei e suspirei assim que a porta se
abriu novamente. Sarah deslizou, olhando ao redor e me encarou. Ash apareceu
atrás dela, rígido.
— Olá, gatinho. — Sarah deslizou para dentro e se sentou ao meu lado.
Ela olhou para Romeo e sorriu. — Eu sou a Sarah.
— Olá, Sarah. Eu sou casado, não perca seu tempo — ele grunhiu,
irritado.
Sarah riu e olhou dele para mim.
— Esse é meu marido Ash — ela apresentou o homem que continuava
em silêncio.
— Sente-se — pedi a Ash, mas ele me ignorou e ficou de pé atrás de
Sarah.
— Eu tenho duas notícias. Uma boa e a outra péssima. Qual querem
primeiro? — ela questionou ao pegar seu notebook.
— Boa primeiro — falei, antes de Romeo.
— Eu consegui duas entradas para o círculo.
— A péssima?
— Elas são para um homem e uma mulher. Casal.
Eu nem olhei para Romeo, porque eu já sabia que sua cabeça estúpida
estava planejando algo.
— Você vai comigo — falei, rigidamente.
Ash deu um passo em minha direção.
— Eles já me conhecem da outra vez — Sarah afirmou e tocou a mão de
Ash. — E Ash não permitiria, você sabe. Ir com ele é uma coisa, ir sem ele?
Nem fodendo.
Eu sabia. O homem era protetor demais. Não que eu o julgasse, Sarah era
como Kiara, impulsiva.
— Então contrate alguém — murmurei, com firmeza, mas Sarah me
encarou.
— Sei que trouxe sua esposa. Eu quero conhecê-la — ela falou, séria.
Conheci Ash e Sarah na escola. Eles eram bons amigos, mas os dois não
faziam parte da Cosa Nostra, então depois que me formei nunca mais os vi. Até
ano passado, em Nova Iorque. Descobri que os dois trabalhavam em uma
organização que encontra pessoas. Ambos estavam na Dinamarca trabalhando no
resgate de uma mulher que foi trazida de Nova Iorque.
Eles seguiram pistas e descobriram que as pessoas que traficavam
traziam as garotas para cá e para mais dois lugares. Descobri de Prince ao ver
ambos assistindo a lutas que aconteciam nesse círculo. Prince estava nele.
— Irei apresentá-la depois de arrumarmos uma mulher.
— Kiara vai com você. — Romeo se ergueu na cadeira e abriu um mapa.
— Romeo — grunhi, irritado.
— Você só precisa vê-lo e deixar que ele o veja. — Romeo me encarou.
Debaixo da rigidez e indulgência, eu vi o desespero. — Meu irmão precisa de
esperança. Eu vou colocar aquele lugar abaixo, mas preciso de tempo. Prince
ficou anos sozinho, esperando por sua família, e agora que eu o encontrei preciso
dar a ele esperança.
Eu o entendi imediatamente. Não queria pôr Kiara em perigo, mas não
estaríamos em perigo. Iríamos assistir a uma luta. Apenas isso.
— Tudo bem.
— Vamos estudar a planta do local. — Romeo mostrou cada corredor,
sala e subsolo do local.
Eu memorizei cada lugar, porque eu precisava disso para sair de lá com
vida.
E eu sairia de lá vivo.
Por Dante e Kiara.

— Querido, Dante está... — Kiara parou de falar assim que Sarah


apareceu ao meu lado. Donne semicerrou os olhos e eu a assisti ficar rígida. —
Quem é essa?
— Calma, mulher. — Sarah riu, erguendo os braços. — Sou amiga do
Giulio.
— Ele não tem amiga. — Kiara me olhou irritada, então me aproximei e
toquei sua cintura.
— Esse é meu marido Ash. Nós somos amigos do Giulio há muitos anos.
Nossa, como ela é ciumenta — Sarah murmurou para o marido, que a encarou
erguendo as sobrancelhas. — Eu sou ciumenta porque você não consegue manter
mulheres longe. Ai eu sou silencioso e mortal, você amaria trepar comigo. Eu
juro que ainda vou matar você, Ash. — ela grunhiu, furiosa de repente.
— Não.
Essa única palavra foi a resposta dele.
Sarah revirou os olhos e voltou sua atenção para a gente.
— Olá, Kiara. — Seu sorriso foi gentil.
— Olá, Sarah. — Kiara relaxou ao meu lado e estendeu a mão para a
minha amiga, mas Sarah a puxou para um abraço.
— Giulio parece amar você.
Suas palavras me fizeram a encarar.
— É porque ele ama. — Kiara sorriu com orgulho.
Um choro fino começou e eu me movi para pegar Dante. Quando voltei,
Sarah estava encarando nós dois com um sorriso imenso.
— Você teve um filho — ela murmurou devagar.
Ash envolveu sua cintura protetoramente.
— Sim. Seu nome é Dante — murmurei ao me aproximar. Dante pegou
no cabelo cacheado de Sarah e ela tocou a bochecha dele, encantada.
— Dante. Ele é perfeito. — Ela suspirou e encarou Ash. — Não é, amor?
— Sim.
Ash a beijou na cabeça e eu fiquei confuso com tudo isso, mas deixei
passar.
Depois de conversamos por um tempo, Ash acenou para a porta e eu
sabia que era pedindo para irem embora.
— Os convites chegarão amanhã cedo. Vou enviar roupas também, caso
não tenham.
— Sarah, foi um prazer conhecer você e Ash. — Kiara se despediu deles.
Sarah a olhou por um tempo.
— Obrigada por amar Giulio. Ele merece ser feliz. — Ela engoliu em
seco e olhou para mim. — Como Sal também merecia. Ele foi embora cedo
demais.
Meu coração apertou e minha garganta fechou. Sarah conhecia Salvatore.
Eles eram amigos antes de eu conhecer os dois.
E ela estava certa. Sal foi embora cedo demais.
Ele merecia ter amado alguém que o amasse de volta. Ele merecia ter um
filho perfeito como Dante.
Assim que saíram, Kiara se aproximou de mim e tocou minha blusa. O
incômodo dentro do meu peito continuava constante, doendo e se alastrando
como uma praga.
— Você está bem? Quem é Salvatore?
Sua pergunta me pegou desprevenido. Ela não sabia?
— Ele foi meu melhor amigo — falei e engoli em seco, enquanto me
afastava dela e me sentava no sofá macio.
O lugar que estávamos era bom, quente e limpo. Muito mais do que
esperei.
— E eu o matei.
Kiara arregalou os olhos e levou a mão à boca. Fiquei surpreso por ela
ainda não saber disso, mas não deveria. Tudo referente a mim e Sal foi feito por
baixo dos panos da Outfit. Sempre fomos o projeto fraco de Rocco Trevisan. Por
causa de Sienna. Sempre por ela.
— Eu o conheci aqui em Chicago. — Comecei devagar e suspirei. — Eu
era mantido preso em uma das salas de tortura da Outfit. A única vez que vi
alguém fora os Trevisan, foi quando Lake entrou lá, escondida. Ela estava
apavorada, mas logo saiu.
“Tempos depois, Salvatore chegou a Chicago. Rocco o ordenou a ficar,
fez nós dois sermos iniciados bem no meio do Navy Pier. Tivemos que
desfigurar o rosto de dois homens. Salvatore não queria, eu via sua relutância,
mas eu aceitei por nós dois. Não queria morrer. — Olhei para Kiara e a vi com
os olhos azuis presos em mim. — Ele gostaria de você.
— Tenho certeza de que eu também gostaria dele.
— Salvatore se apaixonou por Lunna.
— A Lunna do Romeo? — Kiara voltou a arregalar os olhos. Eu acenei.
— Eu tentei dissuadi-lo. Falei que Romeo o mataria, mas ele parecia
realmente apaixonado. — Parei de falar e pensei por um segundo se Kiara fosse
Lunna, o que eu faria? Agiria como Sal? — Ele fugiu, planejou tudo sem mim,
porque ele sabia que eu não queria morrer. Eu não me arriscaria tanto.
Kiara piscou e eu agarrei sua mão.
— Sal matou dois homens do Rocco. Homens que eram nossos colegas.
Pessoas que comiam conosco, bebíamos juntos. — Lembrar-me de Brad e Carlos
trouxe um amargo na boca. — Rocco o pegou. Todos sabiam o que ele havia
feito. Não tinha como esconder isso. Rocco não poderia perdoar, nem mesmo
por Sienna.
— Sienna?
— Ela era irmã do Sal.
Kiara abriu a boca e voltou a fechá-la.
— Lake estava comigo no dia. Estávamos conversando e ela pediu que
eu a levasse até uma sorveteria ali perto. Eu a levei. Na hora que ela comprou o
sorvete, me ligaram. — Engoli em seco e passei a mão pelo meu cabelo. — Me
deixaram vê-lo. Lake estava ao meu lado e eu nem mesmo percebi que ela havia
me seguido. Salvatore pegou minha arma e levou à cabeça. Ele tentou por pelo
menos cinco segundos, mas não conseguiu.
— Giulio...
— Então ele me implorou para fazê-lo. Lembro-me de pedir que deixasse
que Rocco terminasse o serviço, mas ele me olhou nos olhos e chorou. Implorou.
Eu pensei que fosse por orgulho, mas não foi.
Fechei meus olhos e pude reviver a cena diante de mim.
— Você não entendeu... — Salvatore segurou minha cabeça e juntou
nossas testas. — Isso vai matá-la. Não posso...
— Ele não queria que Rocco o matasse, porque ele sabia que Sienna
nunca o perdoaria. Ele sabia que isso ia destruir o casamento da irmã. Sal podia
ter muitos defeitos, mas ele nunca faria isso com Sienna. Ele a amava mais que
tudo. Ele queria que ela fosse feliz, e eu lhe dei seu último pedido.
— Eu sinto muito. — Kiara subiu em meu colo e segurou meu rosto, seu
próprio rosto banhado em lágrimas. — Você foi corajoso. Você o honrou. Não é
sua culpa.
Fechei meus olhos, tentando apreciar as palavras que tanto esperei para
ouvir. Em todos esses anos, eu ansiei por alguém me falando isso. Que eu o
ajudei e não apenas tirei sua vida.
Porque isso nunca foi o que desejei. No momento, tudo que vi era que eu
estaria o ajudando. Honrado ele e seu amor por Sienna.
— Eu tenho certeza de que ele é grato por você. E eu sou grata a ele por
você.
Kiara beijou meu rosto e eu segurei sua cintura, então a puxei. Abracei
seu corpo pequeno por um longo tempo e mesmo assim eu quis mais. Mais
segundos, minutos, horas e dias. Eu queria anos com ela em meus braços.
Eu a amava.







Giulio me manteve ao seu lado enquanto Romeo andava de um lado para
o outro, mostrando um mapa do lugar onde Prince estava. Eu ainda estava com o
mau pressentimento sobre estar aqui, mas afastei o medo.
— Vocês vão assistir à luta. Sarah e Ash disseram que não há revista. A
confiança deles está nisso aqui. — Ele jogou os dois envelopes pretos e eu os
peguei na mesa que nos separava. — Então colocamos algumas câmeras em
vocês. Uma no broche da Kiara e outra na caneta no bolso do paletó.
Olhei para o peito de Giulio que estava coberto pelo terno feito sob
medida. O tecido era negro e seus olhos brilhavam em contraste. Olhei para o
broche no meu vestido também preto e engoli em seco.
— Em hipótese alguma vocês podem retirar as câmeras dos lugares.
Entrem e saiam sem falar com ninguém. Nenhuma palavra.
Acenei para Romeo e ele passou a mão pelo cabelo.
— Não me foda, Giulio. — Suas palavras saíram firmes.
Giulio o olhou demoradamente.
— Se não fosse por mim, vocês ainda não saberiam onde Prince está,
então, por que você não relaxa? — meu marido grunhiu, tenso.
Toquei seu peito para o acalmar.
— Em duas horas, aqui.
Não o respondemos, apenas saímos do local. Dante estava com Sarah e
Ash. Eu não queria deixar meu filho com estranhos, mas Giulio confiava no
casal.
— Você não sai do meu lado, ouviu? — Ele pegou na minha coxa assim
que entramos no carro e a apertou.
— Eu sei.
— Por nada, Kiara. Eu juro por Deus. Se você sair, eu vou morrer lá,
porque vou matar todos para chegar a você. Entendeu?
O infinito sabe que eu não deveria, mas suas palavras me aqueceram por
dentro.
— Eu entendi e eu não vou sair do seu lado. Eu juro.
Giulio respirou fundo e se inclinou, tocando sua boca na minha.
— Você é minha vida, Donne. Eu juro que vamos voltar para o nosso
garoto.
Eu sabia que sim. Giulio não quebraria essa promessa.
Depois de quase vinte minutos, nós saímos do carro em frente a uma
boate classe alta. As pessoas do lado de fora eram mulheres e homens ricos e tão
bonitos que eram assustadores. Como eles dormiam tranquilos enquanto
pagavam para ver pessoas que eram obrigadas a estarem ali?
— Boa noite, sr. e sra. Muller — o homem saudou assim que Giulio
entregou os convites. Nós acenamos e eu sorri devagar. — Esperamos que a
noite de vocês seja memorável.
Giulio o encarou ainda parado e acenou, por fim.
Nós fomos guiados para dentro e eu suspirei enquanto olhava
casualmente para cada pedaço do local. Era aberto e tão grande que eu fiquei
sem ar. O teto era alto e havia uma escada larga bem diante de nós. Alguns
casais estavam descendo por ela e nós os seguimos.
— Você está linda, Donne.
Eu sorri ao me virar para o olhar ao meu lado. Mas seus olhos treinados
estavam em qualquer pessoa aqui, menos em mim. Eu apertei seu braço e
agradeci.
Em alguns minutos nós fomos para a mesa reservada enquanto eu olhava
para o círculo que ficava abaixo de nós. Meu batimento acelerou enquanto eu via
no teto algo coberto. Eu não sabia o que era, mas aquilo estava me deixando
inquieta.
— Sorria e beba. — Giulio empurrou uma taça com champanhe e eu
levei aos lábios, bebericando.
— O que é aquilo? — Apontei com o queixo suavemente para o negócio
coberto.
— Não sei, querida, mas vamos descobrir.
Eu engoli mais champanhe e suspirei. Depois de dez ou mais minutos,
conforme as luzes baixaram, eu senti meu coração bater mais forte. Olhei ao
redor, as pessoas riam ansiosas olhando para baixo. Olhei para lá também e meu
coração torceu.
Prince.
Oh meu Deus.
O Trevisan estava de pé com um short preto de lutador que caía em seus
quadris estreitos. Seu peito era sólido. Jesus, ele estava enorme. Seus braços
estavam cobertos de tatuagens e seu olhar estava letárgico. Ele parecia calmo.
— Puta que pariu — Giulio resmungou ao meu lado e eu o encarei,
tremendo. — Ele...
Nada. Não havia o que ser dito.
Prince Trevisan parecia outra pessoa. Alguém completamente diferente.
— Precisam de mais alguma coisa? — Uma voz rouca ecoou e eu me
forcei a não pular com o susto.
Um homem branco e de cabelo grisalho estava de pé próximo a nossa
mesa.
— Desculpem, sou Victor Hansen. — Ele sorriu.
Giulio se ergueu, estendendo a mão para ele.
— É um prazer. O círculo é incrível. Certamente viremos mais vezes —
meu marido balbuciou, olhando ao redor.
O homem sorriu largamente, parecendo verdadeiramente feliz.
— A luta irá começar. Você vai amar esse garoto. Ele é o melhor que já
pus as mãos. — Victor sorriu e acenou para mim. — Se divirtam, ele o fará.
Suas palavras me fizeram desejar estar em casa para chorar por Prince.
No que esse homem havia transformado aquele menino?
— Relaxe e sorria — Giulio me lembrou.
Sorri e peguei a taça mais uma vez. Bebi vários goles e voltei a encarar
Prince, que estava quieto. Logo vi o outro homem que lutaria com ele. Esse era
grande, maior que Prince, ele andava de um lado para o outro pulando. Eles
eram o completo oposto.
— Vire-se para lá. Deixe que ele a veja. Deixe que Romeo o veja.
Eu acenei e engoli em seco, fazendo o que Giulio ordenou.
Um barulho de correntes soou e eu olhei para cima. Oh, Jesus. O pano
escuro ficou preso enquanto um objeto redondo desceu. Eu vi um círculo
simples, porém, quando chegou ao solo, mantendo Prince e o outro lutador
dentro, eu vi a magia acontecer. O fogo crepitou em todo o círculo, prendendo os
dois dentro dele.
— Meu Jesus. — Toquei meu peito, mas logo afastei a mão para a
barriga.
— Olhe ao redor. Faça as caras e bocas das mulheres aqui. — A voz do
meu marido soou.
Eu fiz o que pediu. Elas sorriam, batiam palmas e algumas até estavam
de olhos arregalados, em êxtase.
Doentes do caralho.
— Eu não consigo sorrir. Não posso — falei, encarando Giulio. — Eu
conheço aquele menino. Ele... o que aconteceu, Giulio?
— Controle-se. — Suas palavras me fizeram ficar rígida e acenar.
Um sinal de round ecoou e eu voltei a olhar para o círculo. Prince estava
de pé, estalando o pescoço e olhando para as pessoas ao redor. Seus olhos
pararam em Giulio, e por um segundo eu pensei ver reconhecimento, mas foi
fugaz.
Prince ficou parado e esperou o homem atacá-lo. Assim que ele o fez,
Prince desviou. Ele fez isso mais duas vezes, e na terceira ele golpeou o homem
nas costelas. Um soco. Firme, ruidoso. Engoli em seco e o vi se afastar do
homem, deixando-o se recuperar. Novamente, seu oponente se aproximou para
acertá-lo, mas Prince o socou antes. Bem no meio do rosto. O nariz dele
quebrou, mas ele não fez nenhuma careta.
Quando o seu oponente se aproximou foi rápido e Prince não se mexeu.
O homem o acertou com força rudemente nas costelas e depois no rosto. Mas o
Trevisan apenas cuspiu e limpou a boca.
Nada.
Em dois segundos a luta terminou.
Eu pisquei e perdi o que diabos ele havia feito. O homem estava no chão
e Prince agachado, seu peito subindo e descendo, enquanto ele respirava.
Novamente seus olhos subiram até mim e Giulio, mas eu percebi, quando me
virei, que Victor estava aqui.
Prince olhava para ele. Não para nós.
Prince não reagiu a Giulio ou a mim.
Ele buscava aprovação do homem que o mantinha preso. Porém,
cruelmente, me perguntei se ele realmente estava preso.
Ele pode estar melhor.
As palavras de Lucian forçaram pelo meu cérebro e eu suspirei enquanto
me lembrava de sorrir e bater palmas. Gritei também, pois Victor estava perto.
Quando as cortinas foram fechadas ao redor dele e do fogo não pudemos mais
vê-lo.
— Preciso de uma bebida. Forte. — Giulio chamou uma garçonete que
estava perto. A única coisa que eu lembro de ouvi-lo falar foi Donne.
Seus olhos verdes estavam arregalados e seu cabelo escuro estava curto.
Ela abriu a boca e eu também, mas não saiu nada.
— Uísque. — Giulio ecoou ao meu lado e eu senti sua mão enrolar na
minha coxa. — Respire. Agora.
Eu inspirei e ar explodiu em meus pulmões. Ela acenou para Giulio e
voltou pelo espaço. Giulio puxou meu queixo e se inclinou, me beijando
enquanto eu ainda queria continuar olhando para ela. E se ela sumisse?
— Donne, você precisa se acalmar. Agora. Junte a sua merda. Não
importa quem viu, eu preciso que você pare agora. Seja a minha Angelina e atue.
Agora.
— Você será meu Brad Pitt? — questionei, forçando um sorriso.
Giulio sorriu e deu de ombros.
— Eu sou mais bonito.
— Não tenha dúvidas. — Sorri novamente e ele tocou meu rosto. Seu
olhar caiu no colar e eu o toquei. — Sempre comigo. Eu nunca me desfiz dele.
— Que bom, Donne. Ele fica lindo em você.
Maddie retornou nesse momento e eu ergui a cabeça.
— Obrigada — murmurei e ela sorriu. — Eu vou tirá-la daqui. Eu juro
— sussurrei.
— Não tente. Muitos morreram fazendo isso. Estou bem — murmurou
enquanto recolhia as taças.
— Não me importo — grunhi junto.
Giulio engoliu o uísque de uma vez.
— Traga outro.
Maddie saiu e ele afastou as mechas onduladas do meu rosto.
— Pare agora. Nós vamos embora assim que ela retornar e você só vai
dizer uma palavra: obrigada. Nada mais.
Meu coração foi torcido, mas eu sabia que ele estava tentando me
proteger.
Assim que Maddie retornou, eu encarei os olhos de Giulio.
— Eu te amo, Maddie. Muito.
Ela se afastou depois que Giulio agradeceu a ela pelo uísque e levou com
ela um pedaço de mim.

— Como ela veio parar aqui? — Solucei assim que entramos no carro.
Giulio me puxou para o seu colo. — Como?
— Calma, Donne. Vamos tirar sua prima daqui, eu juro.
Giulio me fazia promessas demais.
— Romeo quer o irmão dele, não ela.
— Lembre-se que ele está nos ouvindo neste momento.
Droga. Eu funguei e me lembrei do rosto apavorado de Maddie. Jesus, o
que estava acontecendo?
— E Prince? Você viu aquilo? Ele não reconheceu a gente, ele parecia
querer agradar ao Victor.
Giulio balançou a cabeça e eu entendi que era para eu parar.
O resto do caminho foi longo e o dobro do que fizemos ao vir. Romeo
ordenou que o motorista fizesse três caminhos antes do verdadeiro para despistar
uma possível perseguição.
— Quem é a mulher? — Romeo vociferou assim que entramos na sala.
— Estou avisando que o meu único foco são meus dois irmãos. Ninguém
mais. — Rocco ecoou e eu o vi na tela de um notebook. — Vi todas as entradas e
Ash me mandou a quantidade de homens nos portões do sul.
— Maddie é prima da Kiara. Irei tirá-la de lá.
— Depois que tirar Prince e Lake você pode ficar no meio daquele
círculo que eu não dou a mínima. Mas só depois.
Eu odiei Rocco Trevisan naquele momento como em nenhum outro. Nem
mesmo quando ele me fez trabalhar no Village.
— Perfeito! A reunião de Chicago aí na Dinamarca. Será um desastre —
Matteo resmungou atrás de Rocco e se aproximou. — Chegaremos pela manhã.
Iremos entrar no máximo no dia seguinte.
— Traga Lucian — pedi e todos me encararam. — Vou falar com ele
primeiro. Mas deixe um lugar para ele.
Me arrepiei imaginando-o ao saber de Maddie.
— Isso é um pedido ou uma ordem, sra. Conti? — Rocco perguntou,
suavemente.
Engoli em seco, morrendo de medo.
— É um pedido de uma pessoa que passou o diabo por sua culpa.
Rocco riu e Matteo fez uma cara de espanto misturada com diversão.
— Você me lembra Sienna, Kiara. — Rocco inclinou a cabeça. — Espero
que Giulio tenha paciência para lidar com você.
— O.k., voltando para o que importa — Romeo falou, rapidamente.
— Vamos lá, fale — Matteo grunhiu, entediado.
— Vamos trazer mais vinte soldados de Chicago. Duas viagens. Vamos
nos dividir.
Eles começaram a planejar o grande momento e eu me afastei deles,
querendo ir para o meu filho, ver como ele estava. Sentir que ele estava perto,
porque eu estava me deteriorando por dentro. O medo era quase palpável.
— Kiara, você pode ir. — Romeo apontou para a porta.
Engoli em seco, procurando meu marido.
Giulio acenou e eu andei para o pequeno apartamento onde estávamos.
Sarah e Ash estavam na sala. Ela olhava algo no celular, enquanto ele estava
sentado no chão, com os olhos presos no notebook na mesinha.
— Dante dormiu. Ele é um príncipe. — Sarah se ergueu e me encarou
sorrindo.
— Muito obrigada.
Agradeci a eles pela ajuda e nos despedimos. Procurei meu filho e
quando o vi adormecido e bem, peguei meu celular tremendo levemente. Minha
cabeça doía e as lágrimas encheram meus olhos. Disquei o número de Lucian e
respirei profundamente.
— Eu a encontrei — falei assim que ele atendeu, enquanto meu corpo se
arrepiava.
— Estou indo.
Estou indo. Nem mesmo quis entender o que estava acontecendo. Ele só
vinha. Porque Lucian amava Maddie e não havia nada mais forte do que o amor
de um mafioso.




Romeo olhou para Rocco assim que Kiara saiu da sala e se sentou. Eu fiz
o mesmo, cansado. Aquele dia foi exaustivo. Nunca mais iria colocar Kiara em
perigo desse modo. Donne era impulsiva, emotiva ao extremo. Pedir que ela
permanecesse calma enquanto via Madeleine ali foi horrível.
Era sua prima, sua melhor amiga, porra.
— Eu nunca vi Prince daquele jeito. — As palavras saíram sussurradas
na sala. — Ele... mudou.
— Ele ainda é o meu irmão. Meu melhor amigo. Não importa se ele está
com músculos — Matteo grunhiu atrás do Rocco, enquanto eu permanecia em
silêncio.
— Eu não me importo se ele mudou. — Rocco relaxou na cadeira e
respirou fundo. — Eu vou trazê-lo de volta.
Romeo e Matteo concordaram rapidamente.
— Ele parecia bem ali — murmurei, lentamente, vendo a reação deles.
Todos me olharam e ficaram rígidos. — Eu pensei que ele me reconheceria, mas
cada vez que ele me olhou foi como se eu nunca tivesse existido.
— Cara...
— Ele buscou aceitação de Victor. Ele queria agradá-lo.
— O que isso quer dizer? — Romeo perguntou.
— Eu não sei, mas se vamos entrar ali, precisamos pensar nessa
possibilidade.
— Que meu irmão quer ser um escravo? — Matteo rosnou.
— Sim, Matteo, é isso. — Eu o encarei. — Se passaram quase quatro
anos. Muita coisa pode ter acontecido.
O silêncio de todos se manteve por alguns segundos.
— Vamos viajar em algumas horas. Vejo vocês amanhã.
Rocco desligou e ficamos apenas eu e Romeo.
— Vá descansar e ficar com sua família.
Eu acenei e me ergui. Quando cheguei à porta, a voz dele me alcançou.
— Amanhã vai ser perigoso. Se você vai se arriscar pegando Maddie,
pense bem. Isso não está no plano. E o que não está no plano é letal.
— Letal seria eu deixar a mulher que meu amigo ama e prima da minha
esposa presa. Eu vou pegar Prince e Lake. Voltarei e pegarei Maddie. Não
importa se vou morrer lá, eu pelo menos tentei.
Eu devia isso a Lucian.
Assim que entrei no espaço onde eu e minha família estávamos, eu vi
Kiara no sofá abraçando as pernas. Eu me sentei ao seu lado e a puxei para mim.
— Ela está presa lá. Há meses, Giulio. — Ela fungou e me olhou, suas
lágrimas brilharam. — E por culpa minha. Porque fui impulsiva e tentei fugir...
— A culpa não é sua — falei com firmeza e segurei sua bochecha. —
Maddie nunca culparia você. Jamais. Ninguém o faz.
— Mas Lucian estava me caçando... e ela foi pega por pessoas más.
Me soltei dela e juntei nossas testas. Donne fungou e eu segurei seu
rosto.
— Eu vou tirá-la de lá. Eu farei isso, prometo.
— Eu sei. — Ela segurou meu terno. — E isso me apavora.
— Donne...
— Porque eu vou morrer se algo acontecer a você. — Suas palavras me
cortaram. — Eu preciso escolher e eu sei que é egoísta, mas quero os dois.
Lucian vai ajudar, ele está vindo.
— Você o avisou?
— Sim. — Kiara engoliu em seco. — Ele vai resgatá-la. Eu sei disso.
— Estarei ao lado dele em todos os momentos. Eu devo isso a ele, Kiara.
— Não... — Kiara subiu em meu colo, negando. — Ele...
— Sim. Ele cuidou de você por mim. — Puxei seus ombros e seu queixo
tremeu. — Eu amo você, Donne, com tudo de mim. E ele sabia disso.
— Sabia? — Ela piscou e mais lágrimas caíram por suas bochechas.
— Sim. Só eu que não.
Ela descansou a cabeça em meu peito e choramingou até dormir. Eu a
levei para o quarto e a coloquei ao lado do nosso filho, então me sentei e fiquei
observando os dois. Fechei os olhos e pensei em como resgatar Maddie e ao
mesmo tempo permanecer vivo.

Na manhã seguinte, eu me sentei em frente a Kiara enquanto ela


colocava nossa comida na mesa. Ela parou e sorriu para mim, mas eu conseguia
ver seu olhar cansado.
— Vamos, Papi. — Empurrei a colher na boca de Dante e ele sorriu ao
abri-la.
Enquanto ele mastigava a banana, Kiara me encarou.
— É hoje?
— Amanhã.
Ela engoliu em seco e acenou ao se sentar. Ela se serviu e eu fiz o
mesmo.
— Os Trevisan chegam hoje. Vamos nos reunir mais tarde. Lucian vem
no primeiro voo, com Matteo.
Kiara acenou e seu foco se direcionou para a comida. Nós ficamos em
silêncio enquanto Dante comeu e logo Kiara o pegou de mim.
— Vou dar banho e brincar com ele.
Acenei e terminei de comer. Passei a manhã com os dois, no meio da
tarde Romeo avisou que pousaram.
— Diga a Lucian que sinto muito. — Kiara me parou enquanto eu
pegava minhas armas.
— Ele virá ver você, sabe disso.
Ela desviou os olhos e negou.
— Ele não vem.
Sua afirmação tão convicta me fez apertar os olhos.
— Por quê?
Seu silêncio foi longo. Quando eu respirei fundo sem paciência, Kiara
me olhou.
— Na última vez que o vimos, ele pediu que eu fosse embora com ele.
Que deixasse você. — Kiara me olhou trêmula. — Ele ama Dante e não quer que
a gente sofra novamente.
— Como é?
— Lucian culpa você pelo sumiço da Madeleine. Ele me culpou naquele
dia. Ele falou muitas coisas, mas quando ele disse que eu não a amava por estar
ao seu lado, foi o fim.
— Kiara.
— Eu o mandei se afastar. Eu fiz isso. Eu disse que nunca deixaria você.
Passei a mão em suas bochechas e capturei suas lágrimas.
— Eu vou enfiar juízo na cabeça dele pela bunda, se for preciso. Mas,
Donne, eu espero que saiba que você não tem culpa de absolutamente nada.
— Giulio...
— Sim, eu sou culpado, porque deixei você para que ele cuidasse. Ele
tinha Maddie para proteger, Kiara. Você era minha responsabilidade. Eu assumo
a culpa.
— Nada disso deveria ser culpa de ninguém. Eu só quero voltar para a
casa com você, Dante, Lucian e Maddie. Eu quero respirar fundo e me deitar em
seu peito. Ficar em paz.
— Nós vamos. Depois de amanhã, iremos voar para casa. Juro que vou
dar o feliz para sempre que você merece, princesa.
Ela sorriu em meio a lágrimas e eu a beijei, forte e longamente.

Lucian entrou no galpão com Matteo e vários soldados. Muitos


carregavam armas em caixas e muita munição. Meu amigo ou ex, pelo que me
lembro, parou diante de mim.
— Kiara. Agora.
— Um por favor seria bom — grunhi, irritado.
— Eu não precisaria de um por favor se você não tivesse deixado Kiara
para trás. Sabe, eu estaria com Maddie em casa, dois filhos e não sei, a porra de
um cachorro?
— Você terminou? — questionei, dando um passo em sua direção.
— Eu acho que sim.
— Então escute bem as minhas palavras, seu filho da puta idiota. —
Fiquei rente ao seu rosto, completamente rígido. — Se você disser que Kiara é
culpada por essa merda, ou pelo menos a fizer derramar uma lágrima, eu juro,
Lucian, que você vai desejar ser realmente o diabo.
Me virei e andei para a escada. Eu não conferi se ele estava me seguindo,
apenas me dirigi ao lugar onde ela e Dante estavam.
— Lucian. — Kiara suspirou, sorriu e depois piscou os cílios enquanto
lágrimas inundavam seus olhos. — Ela está bem.
— Bonita como sempre? — ele perguntou, se aproximando.
— Linda. — Kiara fungou.
— Você não tem culpa de nada, Kiara. Você amar esse desgraçado não
diminui seu amor por Madeleine.
— Obrigada — Kiara gaguejou e limpou o nariz. — Giulio vai ajudar
você a buscá-la. O foco da Outfit é os Trevisan, mas ele vai trazer Maddie de
volta para nós.
— Giulio vai pegar Lake e Prince. — Lucian me encarou por alguns
segundos e voltou a falar focado em Kiara. — Eu vou buscar minha esposa. Eu.
Eu o ignorei.
Dante engatinhou no tapete e ergueu os braços. Eu o peguei e me
aproximei de Kiara.
— Se eu tenho Dante e Kiara comigo é por você. Então, seu padrinho de
merda, é melhor você cobrir minhas costas, porque eu só voltarei para casa com
Maddie.
— Idiota teimoso.
— Vocês são iguais. — Kiara sorriu e me abraçou.

No dia seguinte, todos sabiam o que fazer e onde estar no momento da


invasão. Kiara estava andando de um lado para o outro na sala, enquanto Dante
brincava no chão. Eu prendi meu colete mais apertado e conferi minhas armas
duas vezes. Assim que Kiara me entregou meu coldre, enfiei quatro facas —
duas de cada lado.
— Você precisa se acalmar. Que tal colocar aquela série do Barney? —
ofereci ao me aproximar. Ela me olhou questionadora. — Eu vejo você
assistindo quando pensa que estou dormindo. Ele é engraçado.
— Ele é machista, estúpido e convencido — ela murmurou enquanto eu
puxava sua cintura.
Suas mãos pousaram em meus ombros antes de eu beijar seu pescoço.
— E você ri com ele.
— O.k., sim, mas ele é horrível. Preciso ficar me lembrando disso. —
Kiara sorriu quando me afastei. — Você vai voltar para mim, certo?
— Nem se eu quisesse poderia não voltar. Minha esposa não consegue
ficar longe de mim nem um dia sequer. Nadinha — brinquei e me inclinei,
mordiscando seu lábio.
Kiara revirou os olhos com diversão, mas foi por pouco tempo. Ela logo
voltou a ficar séria.
— Você vai voltar para mim, certo?
Segurei seu queixo com firmeza e a fiz olhar para os meus olhos. O azul
dos seus olhos quase me afogou como o oceano. Mas eles eram tão mais
perigosos.
— Eu voltei da última vez, certo?
Kiara acenou e eu a puxei para mim.
— Oh meu Deus! — ela gritou, me fazendo afastar rapidamente. Quando
a encarei, eu vi que seu olhar estava em nosso filho.
Dante bateu palmas e deu um passo e depois outro, até que se
desequilibrou.
— Ele andou! — Donne gritou e caiu de joelhos diante do bebê, que
continuava rindo.
— Ele andou — falei, sorrindo. Peguei Dante e beijei sua bochecha. —
Muitos passos em breve, bambino.
— Eu amo vocês. — Kiara nos olhou ainda de joelhos. Estendi minha
mão para ela. — Estarei aqui, esperando por você. Nós dois vamos. — Ela
abraçou nós dois.
— Somos sortudos, bambino. Sua mamma é incrível.
— Papai também.
Eu queria ser. Precisava ser.
Por eles.


— Você realmente está aqui? — questionei assim que minha porta foi
aberta e Blue apareceu carregando Nina.
— Quem não está aqui? — Lunna surgiu atrás dela, trazendo Remy e sua
barriga ainda pequena da segunda gravidez.
— Jesus Cristo! E Sienna? — perguntei enquanto elas se sentavam e
soltavam seus garotos.
— Ela está com os gêmeos tentando domar Rhett. — Blue suspirou
audivelmente e olhou para Lunna. — Foi um inferno fazer com que eles
deixassem a gente vir. Matteo me prendeu dentro do quarto, você acredita?
— Romeo mandou o irmão fazer isso, mas Rocco estava ocupado com
Sienna. — Lunna franziu a testa e praguejou. — Eu nem o vi ainda, aquele
rabugento.
— O que fez todos mudarem de ideia? — perguntei enquanto Dante
pedia para ir ao chão.
— Segurança. Nenhum Trevisan estaria em Chicago. Ficaríamos
sozinhas. — Blue suspirou enquanto prendia o cabelo vermelho. — Matteo está
irritado, mas sabe que é o correto.
— Aliás, eu preciso ver Lake. Brigamos na última vez que nos vimos. —
Lunna mordeu o lábio, parecendo preocupada.
— Em algumas horas faremos isso. O que vamos fazer? — perguntei
enquanto olhava para os nossos filhos brincando juntos.
— Não sei. Vamos esperar Sienna.
E nós esperamos. Quando ela chegou estava com os olhos vermelhos e
nervosa.
— Ei, o que houve? — perguntei ao me aproximar.
— Rocco sendo o ogro de sempre. — Si engoliu em seco e respirou
fundo. — Eles já foram. Qual apartamento maior daqui? Os meninos precisam
dormir daqui a algumas horas.
Sim.
— Acho que o meu tem dois quartos. Podemos nos dividir.
— Eu posso ficar no meu. Não tem problema — murmurei, franzindo as
sobrancelhas.
— Vamos ficar juntas. É para isso que somos amigas. — Sienna falou
séria e se sentou no sofá. — O.k. Vamos lá. — Então se ergueu de novo.
Uma hora depois nos sentamos na sala do apartamento da Lunna,
enquanto nossos filhos dormiam. Eu virei minha taça com vinho e observei as
três fazerem o mesmo.
— Nós queríamos saber como você está. — Blue se virou para mim.
Franzi as sobrancelhas, sem entender. — Tipo, com tudo, sabe? A volta do
Giulio.
— Estou bem. Eu o amo — falei e dei de ombros antes de pegar um
pedaço de queijo da tábua. — Como vocês estão? — questionei, olhando entre
elas.
— Eu estou bem. Amo e Rhett são perfeitos, eu sou louca pelo meu
marido. Minha vida é boa — Sienna falou enquanto sorria e inclinava a cabeça
com o olhar perdido. — Mas eu não me oporia a ter Sal vivendo tudo isso
comigo. Tipo, Amo e Rhett. Eles o amariam.
Meu coração doeu por ela.
— Giulio contou um pouco da história. Você foi a última pessoa a vê-lo
antes de tudo, certo? — Olhei para Lunna e ela se remexeu desconfortavelmente.
— Sim. Era Natal, acho. Não lembro. Ele apareceu do nada. — Lunna
suspirou e olhou para Sienna. — Ele perguntou se eu o amaria se não houvesse o
Romeo.
— Oh. — Blue arregalou os olhos, parecendo chocada. — Ele era
apaixonado por você?
— Sim, era. — Sienna murmurou sem encarar nenhuma de nós. — Mas
Lunna é do Romeo. Ela é a sua Julieta. Não havia o que pudesse ser feito.
— Você sabe por que Giulio o matou? — Blue questionou com
curiosidade.
Eu pisquei, engolindo em seco.
— Para que ele não morresse pelas mãos do Rocco. De qualquer um da
Outfit. Salvatore era orgulhoso...
— Não foi por isso — interrompi Sienna. Ela ergueu os olhos para mim,
inclinando a cabeça. — Ele pediu a Giulio porque ele não queria que você
vivesse com a ideia de seu marido, seu coração, ter tirado a vida do seu irmão.
Giulio disse que ele implorou, porque ele não queria que você fosse infeliz.
Sienna piscou várias vezes e abriu a boca, mas apenas seu queixo tremeu.
Um ofego ecoou e ela continuou me encarando enquanto chorava sem se mexer.
— Ele...
Ela não conseguia falar. Eu me aproximei e fiquei na sua frente, tocando
seu rosto manchado de lágrimas. Sienna tremeu e soluçou.
— Salvatore amava você e ele fez o possível para permitir que você fosse
feliz. Com Rocco.
Sienna levou as mãos ao rosto e chorou enquanto eu a abraçava com
Blue e Lunna. Um choro longo. Quando ela parou, todas estávamos com os
olhos vermelhos.
— Rocco nem faz ideia. E acho que não daria a mínima se soubesse. —
Sienna respirou fundo e olhou para a gente. — Estou bem, meninas.
Era uma mentira, mas nós não a contradizemos.
— Eu estou enjoada. — Lunna fungou e pegou o lixo que trouxe da
cozinha.
— Jesus, Lunna, por que você tem tanto enjoo? — Blue franziu as
sobrancelhas enquanto a outra colocava as entranhas dela para fora.
— É outro menino. Eu sei. Com Remy foi do mesmo jeito. Um inferno
de idas para o hospital. — Lunna gemeu cuspindo antes de se levantar. — Eu
vou lavar a boca.
Ela sumiu no corredor, então voltei minha atenção para Sienna.
— Você está bem?
— Sim. Vamos dormir? Eu estou exausta da viagem.
Blue concordou rapidamente e todas nós nos separamos. Blue me seguiu
para o quarto e Sienna foi encontrar Lunna.
Dante estava dormindo ao lado de Nina serenamente. Blue se deitou ao
lado da filha e eu ao lado do meu menino.
— Eles vão voltar bem, não é? — O medo na voz da Blue refletia o
sentimento que corroía meu estômago.
— Eu espero que sim, porque, convenhamos, nós quatro morreríamos
sem eles.
— Não se vive sem sua alma, certo?
— Certo.
Fechei meus olhos e abracei meu filho, pedindo a Deus para que tudo
ocorresse bem. Que todos chegassem bem aqui. Maddie, Lucian, os Trevisan,
meu Giulio.
Volte para mim. Pedi em silêncio e suspirei antes de cair em um sono
profundo.


Rocco estalou o pescoço e carregou sua arma. O fuzil era longo e tão
letal quanto o homem que o segurava. Matteo brincou com suas armas antes se
erguer na van. Romeo estava sério, apenas olhando para fora da janela.
Estávamos parados perto do mar na parte de baixo do grande paredão de
pedras. Era alto e enorme. Ali ficava a parte de trás do Clube. E era ali que nós
subiríamos em dois minutos. Já havia homens disfarçados dentro do local.
Romeo deu um jeito de falsificar vários convites do lugar, eu não consegui
distinguir o falso do verdadeiro quando me mostraram.
O salão estava tomado por soldados da Outfit. Lucian era um deles. Ele
queria estar lá, perto de Maddie.
— O corredor que leva Prince até o círculo é ali. — Romeo apontou para
cima. Eu vi uma luz amarela brilhando pelas frestas das grades na parte superior.
— Vamos cortar o ferro, entrar segundos antes de ele passar e sair.
— Como assim? — Tenso, Matteo o encarou. — E Lake?
— Lake não está ali — Rocco falou, lentamente.
— E onde ela está? — Semicerrei os olhos.
— Estou dizendo no corredor. Ela fica nas celas. Romeo vai descer com
Prince e Matteo, enquanto Giulio e eu vamos pegá-la. — Rocco olhou para o
relógio e respirou fundo. — Vamos lá.
Assim que saímos do veículo, eu me aproximei do paredão. Peguei a
corda que já estava amarrada à parede no topo — obra dos soldados — e
comecei a escalar. Em alguns minutos alcançamos o ferro.
— Serrem.
As serras fizeram o trabalho rapidamente, quando a grade se soltou
Rocco a jogou lá embaixo. A queda foi longa. Me encolhi ao imaginar um de
nós.
— Entrem.
Matteo entrou primeiro e se posicionou com arma em punho. Fiz o
mesmo e logo estávamos os quatro de pé no corredor. Rocco olhou para o
relógio e praguejou.
— Ele já deveria estar aqui.
— Onde ele está? — Matteo perguntou, nervoso.
Respirei fundo e no mesmo instante ouvi passos soarem.
Os homens estavam rindo e não nos perceberam até que fosse tarde
demais. Romeo atirou com sua pistola com silenciador nas pernas dos dois,
então se aproximou e ficou agachado.
— Onde está o lutador? — Sua pergunta ecoou.
Os homens arregalaram os olhos e não disseram nada.
— Hvor er fighteren? — perguntou novamente no idioma deles.
[i]

— Jeg ved ikke.


— O que ele disse? — Rocco grunhiu, irritado.
— Que não sabe.
Rocco se aproximou e tirou uma de suas facas. Tudo aconteceu tão
rápido, que só o vi enfiando a lâmina no pescoço do outro.
— Agora.
— Tal op, eller næste gang er det dig. [ii]

— Han tjente sin belønning. Celle otte.


— Dá pra explicar essa merda? — Matteo questionou ao meu lado.
— Cela oito. — Romeo respondeu enquanto Rocco enfiava a faca no
pescoço do que falou.
Nós puxamos os corpos e os enfiamos em uma porta. Parecia um
armário, quem sabe.
— As celas ficam para lá. — Rocco andou na direção enquanto Romeo
continuava parado. — O que foi? — Ele franziu as sobrancelhas, irritado ou
confuso, eu não soube distinguir.
— Ele disse que Prince recebeu sua recompensa. — Romeo piscou e nos
encarou. — Como assim? O que isso pode significar?
— No dia que o vi lutar — murmurei ao me recordar — ele queria
agradar ao Victor.
— Se ele queria agradar o maldito...
— Ele tem algo que Prince quer. — Rocco finalizou a frase do Matteo.
O que era?
— Lake? — Romeo engoliu em seco.
— Ou alguém que ele conheceu antes.
O silêncio se prolongou enquanto eu segurava a minha arma com mais
força.
— Vamos.
Nós andamos pelo corredor mal iluminado por alguns minutos e logo
demos de cara com mais homens. Rocco e Romeo os mataram rapidamente e
sem esforço.
— É aqui — murmurei enquanto nos escondíamos atrás da parede.
O portão dizia dormitórios.
— Os homens estão posicionados — falei para Romeo. Ele piscou,
aturdido. — Você entendeu?
— Sim. — Ele levou a mão ao comunicador e deu o sinal.
Nós entramos no dormitório no mesmo segundo. Engoli em seco ao ver
as grades. Eram realmente celas como a de um presídio. Eu me aproximei de
uma delas e olhei para cima. Cela cinco.
— Essas celas... — Rocco murmurou devagar, me fazendo seguir seus
olhos.
— Me ajude — uma mulher implorou, deitada em uma pedra fria.
Puta que pariu.
— São as traficadas. Esse é o dormitório das mulheres.
E eram mesmo. Segui para a cela oito e parei em frente quando vi Prince.
Agachado. Alerta.
Pronto para matar ou morrer.
— Prince. — Matteo deu um passo em sua direção.
Prince semicerrou os olhos.
— Quem são vocês?
O tempo pareceu parar. Romeo parecia ter levado um soco enquanto
Rocco inclinava a cabeça e Matteo quase chorava ali, de pé.
— Quem são vocês?
A pergunta ecoou pelo lugar, fazendo um buraco se abrir no meu
estômago.
— Ele não sabe quem vocês são? — questionei, engolindo em seco.
— Ele sabe — Matteo afirmou, rapidamente. — Prince, sou eu, Matteo.
— Vocês vão nos tirar daqui? — A pergunta soou desconfiada.
— É claro que sim — Romeo respondeu e deu um passo em sua direção.
— Onde está a Lake? — tenso, Rocco perguntou.
Nós o encaramos enquanto aguardávamos a sua resposta.
— Quem é Lake?

FIM!



Meu coração parecia tão vazio quanto o quarto diante de mim. Um dia
ele foi meu. Um dia eu o enchi de coisas. Pompons de líder de torcida, troféus
pelas danças, livros, s. Nossa, tantas coisas. Agora tudo estava em caixas.
CD

— Vamos, Maddie. — A voz gritada da minha tia me fez pular.


O.k.
Perder meus pais foi um inferno. Eles não faziam parte da Outfit, mas a
violência dentro da organização criminosa respingou neles do mesmo jeito.
— Estou indo.
Desci a escada e fui embora, deixando a casa onde cresci e eu tive todas
as minhas boas lembranças.
Quando cheguei à casa da minha tia Isa, havia um carro estacionado.
Minha prima, Kiara, estava vindo me buscar para ficar em sua casa. Minha tia
não estava gostando disso, mas eu realmente não ficaria na casa dela. Não depois
de tudo.
— Boa tarde — murmurei assim que um homem saiu do veículo.
— Madeleine? Giulio me mandou levá-la para a casa dele.
O.k., ele tinha sido enviado por Kiara.
Eu tinha bastante medo do Giulio. Ele parecia o diabo com aquele olhar
frio e o jeito que nos flagrou outra noite.
— Vou só buscar minha mala.
O homem loiro acenou, mas não se moveu e nem eu. Ele tinha olhos
escuros e estava usando uma jaqueta sobre a blusa preta. Estava frio, mas ele
parecia não sentir.
— Estarei aguardando, princesa.
Meu estômago se agitou com o apelido, fazendo com que eu respirasse
profundamente.
— Não sou uma princesa — respondi, depois que voltei com a mala.
— Você parece uma. — Ele deu de ombros e pisou no acelerador.
— Qual é o seu nome? — perguntei, impulsivamente.
— Diabo.
— Quê? — Franzi as sobrancelhas e me virei, vendo-o focado na estrada.
— Diabo, princesa.
— Óbvio que seu nome não é diabo — falei, semicerrando os olhos. —
Você está brincando.
— Eu? Não. — Sua boca ficou em uma linha reta.
Desci meus olhos por seu braço até sua mão tatuada.
— Todos os mafiosos têm tatuagens? — questionei, com curiosidade.
Ele riu e me olhou por alguns segundos.
— Você quer ver minhas tatuagens, princesa? Eu tenho algumas bem
escondidas. — Ele arqueou a sobrancelha e o gesto fez meu rosto pegar fogo. —
Nós chegamos.
O quê? Droga.
— Não quero, nem morta.
— Que pena.
Ele desceu do carro e tirou minha mala enquanto eu batia a porta.
— Vamos lá.
Nós ficamos em silêncio no elevador, mas ele parecia decidido a olhar
para os meus peitos. Nojento.
— Pare com isso — grunhi, tensa.
Ele riu e deu dois passos até chegar diante de mim.
— Princesa, por que você não me liga? — Ele deslizou um papel na
frente do meu rosto.
— Eu não sou uma prostituta. — Engoli com força. — Elas podem
dormir com você e somente pelo dinheiro — falei, rigidamente. Bati no papel,
que deslizou e caiu no chão.
O elevador se abriu e eu toquei a campainha de Kiara.
— A encomenda está aqui — Diabo falou, bocejando, e deu um passo
para trás.
— Eu não sou uma encomenda — falei, entredentes, segundos antes de
ele se inclinar em minha direção. — Saia de perto de mim, demônio.
— Ah, querida, uma noite e você vai amar dançar no meu inferno.
— Porco!
— Patricinha.
Ele riu enquanto se afastava, me deixando tremendo de vontade de socar
a cara dele.

Na manhã seguinte, eu estava em um carro com Kiara, Giulio e o


demônio. Passei todo o momento olhando pela janela, tentando me lembrar o
que mamãe disse pela última vez na chamada de vídeo.
Eu não me lembrava e precisava lembrar.
As pessoas sempre precisavam disso. De algo que a pessoa que você
mais amava no mundo te desse pela última vez.
Eu não me lembrava.
Eu era tão idiota.
O carro deslizou em frente à igreja. Senti meu coração bater mais forte,
medo enchendo meu corpo.
— Chegamos, Maddie — Kiara falou, mas eu permaneci imóvel.
— Tudo bem. Vão lá, eu a levo quando ela estiver pronta. — A voz do
Diabo soou ao meu lado.
Eu queria dizer que não precisava, mas não quis mentir.
— Vou te esperar lá, Maddie.
Acenei para Kiara e engoli em seco quando fiquei sozinha com ele.
— Lucian.
— O quê? — Virei-me para encarar seu rosto e seu olhar intenso se fixou
no meu.
— Meu nome.
Oh.
— É diabo mesmo, então — falei, lentamente.
Ele sorriu. E foi como se nascesse borboletas em meu estômago.
— Alguns me chamam disso. — Lucian inclinou a cabeça. — Você tem o
direito de ficar triste. De chorar, espernear. Madeleine, você pode tudo. Ninguém
vai te julgar. Não hoje, pelo menos.
— Obrigada. — Respirei fundo e toquei sua mão. — Eu amo Kiara, mas
não quero sobrecarregá-la com os meus fardos.
— Eu sou forte.
E era mesmo.
Passei a cerimônia longe de Lucian, de uma maneira estranha eu desejei
que ele estivesse ao meu lado. Enquanto falava sobre os meus pais, eu o vi de pé
no fundo da igreja. Seus olhos fixos em mim me passando confiança. Eu não
sabia por que me sentia tão... bem com ele. Mas era o que eu sentia.
— Você está bem? — Sua voz ecoou assim que me sentei perto do lago.
Estava frio a ponto do meu nariz estar rígido.
— Sim. — Funguei e respirei fundo.
— Acho que vir aqui não foi uma boa ideia. — Ele sentou também e eu
dei de ombros. — Darei cinco minutos. Então vamos comprar um café e ficar
quentes.
Eu não discuti com ele.
— Eu perdi os dois no mesmo dia — falei e pisquei as lágrimas. — Deus
não foi bondoso ou piedoso comigo.
— Ele não é bondoso ou piedoso com ninguém.
Me virei para Lucian e suspirei de frio. Ele ergueu o braço, me
convidando para seu peito. Mesmo que o frio não fosse tanto, eu ainda faria o
que fiz. Me aconcheguei em seu peito e respirei seu perfume. Era bom.
— Parece que vou morrer — falei, soluçando.
— Eu tomei banho hoje, Princesa.
Eu ri e chorei na mesma hora.
— Só chore, Madeleine. Vai ficar tudo bem.
Ia mesmo? Eu não sabia, mas continuei em seus braços e o deixei me
consolar em frente ao lago congelado.

Dias depois eu estava jantando com meus tios e prima quando Lucian
chegou me chamando. Eu não dei tempo para meus tios questionarem, apenas
me ergui e o segui para fora.
— O que houve? — perguntei assim que entrei no seu carro. Nós nos
vimos poucas vezes nesses dias e falamos menos ainda.
— Vou levar você a um lugar.
— Lucian, eu estou jantando com minha família. — respondi, confusa,
mas ele acelerou rapidamente. — Lucian!
— Será rápido.
Eu respirei fundo e acenei.
Assim que Lucian estacionou em frente a uma casa, olhei para ela por
algum tempo.
— Quem mora aqui? — questionei.
— Minha mãe.
Porra.
— Você não vai fazer isso — gritei dentro do carro enquanto ele abria a
minha porta. — Eu não vou conhecer a sua mãe.
— Você vai.
— Mas eu...
— Eu falei para ela que vou me casar com você.
Jesus Cristo. Arregalei meus olhos e ele piscou lentamente.
— Você o quê? Nós nem nos beijamos ainda — falei, totalmente confusa
e surpresa.
Meu celular tocou dentro da bolsa, mas Lucian fechou a porta depois de
me puxar para fora.
— Eu mudo isso agora, princesa. — Suas palavras me fizeram esquecer o
celular.
Lucian segurou minhas bochechas e se inclinou. Quando seus lábios
tocaram os meus, eu estremeci. Quando sua língua tocou a minha, minhas mãos
criaram vida própria e tocaram seu peito. Quando suas mãos agarraram meus
quadris, eu gemi.
Lucian me enfeitiçou dias atrás, mas agora parecia que eu realmente
estava completamente enfeitiçada.
Rendida por ele.
— Agora, Madeleine, você quer conhecer sua futura sogra?
Sim, por favor.
A mãe de Lucian, Bethany, era uma senhora baixinha e fofa que me
abraçou durante vários segundos até ele dizer que já estava bom. Eu estava
apaixonada não apenas pelo filho dela, mas por ela também.
— Eles vão superar. Kiara está bem. — Lucian segurou meus braços
enquanto eu continuava tremendo. Seu rosto estava inchado onde Giulio o havia
socado.
— Você deveria ter se protegido.
— Ele está certo, Madeleine. Eu faria o mesmo se eu designasse alguém
para proteger você e ele protegesse a sua prima. Entende?
— Você errou...
— Eu não errei, eu faria de novo.
Droga. Eu nunca conseguia falar com ele.
— Eu preciso voltar para a casa.
— Você contou para ela?
Meu coração parou e eu o encarei.
— Tia Isa não quer, ela enlouqueceu quando falei.
Lucian se afastou com as costas rígidas, então eu me aproximei para
tocá-lo.
— Eu já atingi a maioridade. Ninguém vai me dizer quem amar.
Droga. Falei demais.
Lucian se virou e segurou meu rosto. Assim que nossas testas ficaram
rentes, toquei sua barba por fazer.
— Paciência.
— Paciência.
Isso era o que tínhamos.
Mas dias depois Lucian começou a se afastar e eu estava muito
apaixonada para deixar que ele fizesse isso. Não depois de tudo.
— Você tem noção da merda que fez? — Sua voz era furiosa. Eu nunca o
havia visto tão raivoso.
— O quê? Você se importa? — gritei, chateada.
— Você está brincando comigo, Madeleine? Eu me importo? Que porra
fodida é essa? — Quando ele pisou no acelerador, eu agarrei o meu cinto de
segurança. — Ir a um bar da Bratva. Eu poderia estapear sua bunda, você nem
conseguiria se sentar amanhã.
— Então faça. Sua raiva vai diminuir, então faça.
Jesus, eu não sabia o que eu tinha de errado.
Assim que Lucian estacionou em frente à sua casa, eu saí do carro sem a
sua ajuda. Ele me puxou para dentro e eu joguei minha bolsa na poltrona. Lucian
já havia me levado ali, mas ele se manteve longe de mim.
— Sente-se — ele ordenou, friamente, enquanto apontava para o colo.
Eu me aproximei, mas em vez de me sentar normalmente, ele me fez
colocar a barriga em suas coxas antes de subir o meu vestido e retirar a minha
calcinha. Meu Deus, ele era meu Christian. Suspirei quando me lembrei do
filme.
— Você nunca mais vai fazer isso, Madeleine. Ouviu?
Eu não respondi, mas quando sua palma colidiu com a minha bunda, eu
gritei.
— Sim!
Mas ele não parou. Lucian deu mais três tapas. Um em cada lado da
minha bunda, marcando-a. Quando ele parou, eu estava com lágrimas nos olhos
e a pele ardendo.
— Fique aqui — ele murmurou depois de me colocar no sofá com uma
almofada embaixo da minha barriga.
Quando Lucian voltou, ele passou algo pastoso no local ferido. Olhei
sobre meu ombro e vi que ele espalhava uma pomada delicadamente.
— Quando você vai tirar a minha virgindade? — perguntei, enquanto
meu ventre se apertava com desejo.
— Quando eu me casar com você.
— Isso vai levar tempo.
— Você está com pressa?
— É claro! — grunhi, me remexendo.
— Se apoie em seus joelhos e abra suas coxas.
Meu coração bateu com força quando fiz o que ele disse. Meu peito
continuava colado no sofá enquanto eu estava aberta para ele.
— Jesus, sua boceta é realmente de uma princesa.
— Como você sabe como é a boceta de uma princesa?
— Eu não sei.
Gritei quando senti seus lábios se fecharem em torno do meu clitóris.
Lucian chupou meus lábios e enfiou a língua em meu canal virgem.
Jesus, eu o queria. Seu corpo, tudo que seria meu em breve.
— Seu sabor... meu Deus. — Ele gemeu quando rebolei em seu rosto,
querendo a minha libertação.
— Eu quero você dentro de mim.
— Princesa, não fale assim.
— Lucian, por favor.
Notei que ele estava por um fio, então resolvi quebrar sua pequena linha
de autocontrole.
— Me foda, faça amor comigo.
Lucian grunhiu antes de eu ouvir o seu zíper sendo aberto e suas mãos
segurarem os meus quadris. Gemi em antecipação e logo o senti deslizar para
dentro de mim. Lenta e dolorosamente. Toquei meu clitóris e empurrei meus
quadris em sua direção.
— Sua boceta... porra.
Ele perdeu o raciocínio enquanto eu apertava seu pau. Era bom. Tão
bom.
Quando Lucian apertou minha bunda machucada, senti novas lágrimas.
De dor, de desejo, de desespero. Tudo.
— Você precisa engravidar hoje, princesa. Preciso ver você cheia com
meu filho.
Suas palavras me fizeram gozar na mesma hora.
— Eu te amo. Eu nunca vou deixar você ir.
Eu não queria ir. Nunca quis.
— Eu te amo, Lucian.


O sangue corria insanamente pelas minhas veias. Ela estava aqui. Os
soldados que estavam comigo olhavam ao redor, desinteressados, mas eu tinha
um alvo. Minha princesa.
— Vocês precisam... — Sua voz era como música para os meus malditos
ouvidos. Eu ergui o olhar e Maddie deixou o bloco cair. — Não faça nada.
— Você sabe para quem está dizendo isso — murmurei, entredentes.
— Me encontre no banheiro em dez minutos. — Ela engoliu em seco
Respirei fundo e ela se virou e partiu. Os dez minutos passaram como
uma lesma, nunca antes, seiscentos segundos se passaram tão lentamente.
— Eu vou ao banheiro — avisei a um dos homens que veio com Lake.
— O.k.
Eu saí andando casualmente e entrei no banheiro feminino. Maddie
estava de pé, tremendo. Se ela poderia estar mais bonita, ela estava. Jesus, ela
era perfeita. Seu cabelo castanho, seus olhos... tudo.
— Você vai me tirar daqui? — Sua voz soou frágil.
— É claro que vou. Você vai dormir em casa hoje.
Ela se curvou e soluçou. Eu me aproximei e toquei em seu rosto. Maddie
envolveu seus braços em meus ombros e eu a tirei do chão.
— Eu te amo tanto. — Ela choramingou, beijando meu rosto, pescoço e
boca. — Estou feliz que tenha me encontrado.
— Me perdoe. Eu nunca deveria ter deixado você em casa. Sozinha.
— Você estava procurando Kiara.
— Não importa. Ninguém importa para mim além de você, Maddie.
— Eu sei. — Ela me abraçou com força e beijou meu peito.
— Eu vou tirar você daqui, Princesa.
— Eu sei que vai. Eu sempre soube.
Coloquei Madeleine no chão e a ajudei a limpar o rosto. Quando ela
estava apresentável, palavras dela, nós saímos do banheiro. Rocco estava no
salão e olhou para mim. Puxei Maddie e ela arfou.
— Vocês todos têm dois minutos para evacuarem o local. Por mim, eu
matava todos, mas hoje acordei bonzinho.
Merda nenhuma.
As pessoas correram enquanto Rocco descia da mesa e andava
diretamente para Victor, o dono do local. Os seguranças dele o rodearam, mas
Rocco sacou a arma e logo derrubou os três.
— Você, seu desgraçado. — Rocco tirou uma faca da jaqueta e enfiou na
garganta do homem. — Eu vou rever você no inferno e lá terei prazer em te
torturar.
— Seu desgraçado — Victor grunhiu, segurando a faca, mas uma mão
surgiu e empurrou o metal mais fundo.
Prince.
— Você nunca deveria ter tocado nela.
Prince socou a garganta do homem e ele caiu de joelhos. O irmão
Trevisan continuou chutando e socando o corpo enquanto todas as pessoas
corriam para fora.
— Você mexeu com a família errada — Rocco disse.
Rocco pisou no rosto do homem, quebrando seu nariz. Maddie arquejou
ao meu lado e eu a puxei.
— Eu faria isso e mais. No momento, os Trevisan estão me vingando.
Madeleine me encarou e suas feições relaxaram.
— Eu estou bem.
— Não, você não está.
Ela piscou e engoliu em seco.
Eu a puxei para fora, mas ela balançou a cabeça.
— Várias meninas estão presas nas celas.
— Já soltaram todas.
— Você tem certeza?
— Sim, ele tem. — Uma voz suave ecoou antes de Lake aparecer. — Eu
soltei todas.
Elas se abraçaram e logo pude levar Maddie para o complexo. Todos já
estavam prontos para voar, logo eu e Maddie também estaríamos.
Levei-a para o meu quarto e a ajudei a entrar no chuveiro. Seu corpo
estava mais magro do que a última vez que a vi.
— Eles não nos alimentavam muito — ela explicou quando notou o meu
olhar.
— Acabou.
Ela acenou e eu a limpei devagar. Lavei seu cabelo, sua pele e cada
centímetro do seu rosto. Maddie se enrolou em um roupão e eu a levei para a
cama.
— O que aconteceu, princesa? — perguntei depois de entregar uma
bandeja com comida para ela.
— Eu estava na tia Isa. Dois homens chegaram e atiraram nela. Depois
senti um pano em meu rosto. Tudo foi tão rápido. — Madeleine respirou fundo e
soltou a colher. — Quando acordei estava em um avião com outras três garotas.
Assim que apertei a colcha da cama, Maddie afastou a comida e veio
para o meu colo.
— Eu estou aqui desde então. Eles prostituem as mais bonitas, as mais ou
menos ficam atendendo.
— Mais ou menos? — Semicerrei os olhos. — Você é perfeita. Mas
ainda bem que não a obrigaram a isso.
— Sim, agradeci muito também. — Maddie sorriu e tocou meu rosto. —
Eu só queria chegar a este momento. Todos os dias acordei e dormi almejando
este momento, porque eu sabia que você me salvaria.
— Eu senti tanto a sua falta — falei, afastando seu cabelo molhado.
— Eu também.
Ela me recebeu quando me inclinei e juntei nossos lábios. Maddie
suspirou e eu gemi quando sua língua deslizou pela minha. Mordi seu lábio e
beijei seu pescoço e colo. Maddie afastou o roupão e eu capturei seu mamilo em
meus lábios.
Deitei-a e afastei suas pernas com meu quadril. Ela segurou meu pau e
guiou para dentro dela. Eu queria dar tempo a ela, dar tudo que ela quisesse, mas
meu pau era egoísta. Ele queria a sua boceta.
— Ah — ela gritou quando investi contra seu corpo, receptiva.
Momentos depois, quando ela gozou, eu fiz o mesmo e a puxei para mim.
Mantendo-a.
— Eu quero a calmaria agora. Eu quero nossos filhos e felicidade,
Lucian. — Sua voz soou cansada e arfante.
— Eu vou sangrar todos os dias para dar isso a você. Sempre.
Era uma promessa.

#NÃOTERÁLIVRODELES
PRÍNCIPE DISTORCIDO

Anos antes...
Uma explosão queimou em meu cérebro, o barulho era ensurdecedor, tão
atormentador quanto uma britadeira perfurando a pedra mais espessa do
universo. Levei minha mão aos olhos e me virei quando os abri.
O chão estava sujo e era escuro. Foi o que percebi primeiro. Muita
sujeira. Muita escuridão.
Inspecionei o lugar enquanto me virava e apertava meus punhos contra
minha cabeça, que doía absurdamente. Meu peito martelava com o
desconhecido. Barras de ferro iam do chão ao teto rodeando a frente e laterais do
espaço em que eu estava. Me ergui rapidamente, mas minha vista escureceu e
minhas costelas reclamaram.
— Ora, ora, ele acordou. — A voz tinha sotaque. Com certeza, o homem
diante de mim não era americano.
Ele tinha uma barba longa, era alto e magro. Seus olhos eram escuros
enquanto seu cabelo tinha alguns fios brancos.
— Onde estou?
— Você se lembra de algo? — Ele semicerrou os olhos.
Procurei em minha mente como eu poderia ter vindo parar ali.
Nada.
O mais longo e vazio escuro.
— Seu nome?
Eu pensei, tentei me lembrar, mas, novamente, nada.
Quem eu era?
— Sua idade?
Nada.
Com minhas respostas as suas perguntas, o homem ia ficando cada vez
mais alegre. Na última, seu sorriso tomava seu rosto inteiro.
— Qual é o meu nome? O que estou fazendo aqui? — perguntei,
enrolando meus punhos.
— Você tem muitas perguntas. — O homem andou ao redor da cela.
Eu me aproximei, querendo puxar sua blusa e rasgar sua garganta.
— Eu não sei quem sou e onde estou. É claro que tenho perguntas,
imbecil.
Seus olhos se semicerraram alguns meros centímetros e eu o observei
apertar a mandíbula.
— Quem é você? — questionei, enquanto meus punhos se fechavam.
A fúria era latente e fumegante. Se eu estivesse solto, o homem diante de
mim estaria no chão, morto.
— Não importa quem eu sou, mas sim no que você será.
O homem se recuperou e sorriu.
— Onde eu estou? — gritei, ao vê-lo dar um passo para trás e se virar.
— Seja bem-vindo, Villain. — Ele continuou se afastando.
— Onde?
— Ao inferno.



Eu sempre faço dos agradecimentos um despejo de coisas que passei
durante a escrita e acabo não agradecendo a ninguém além de vocês e a minha
família. Então, neste livro, vou agradecer e na próxima página deixo um recado,
pode ser? rsrs
Eu quero muito agradecer a minha assessora Vanessa por aguentar
minhas loucuras, lançamentos próximos e me auxiliar em tudo.
Também quero agradecer as minhas amigas. Jéssica D. Santos e
Veridiana Silva. A Jéssica é meu poço das lamúrias, ela me aguenta e surta com
tudo relacionado a mim e eu faço o mesmo por ela. A Veri é minha melhor
amiga literária de todos os tempos. Ela é minha beta também, e foi por ela que
eu reuni muita segurança para lançar este livro.
Minha família e a mim mesma por acreditar em meu trabalho e dar
sempre o meu melhor para vocês.
E principalmente, sempre, a vocês. Obrigada por sempre estarem comigo
em cada lançamento. Sempre serei grata por isso. Vocês são incríveis!
Beijos!
Evilane Oliveira
Todo mundo deve se perguntar por que o Giulio teve um livro. O que a
Evilane estava pensando? E eu te digo; eu também não faço a mínima ideia.
Esse italiano apareceu no prólogo de Honra Distorcida, e desde então eu
vinha pensando no livro dele, como eu faria e etc. Tão certo como o nascer do
sol, sempre foi afirmado dentro de mim que teria um livro dele e eu não me
arrependo de nada.
Eu sou apaixonada por esse homem e pela maneira desesperada com que
ele amou a Kiara. Esse tipo de amor... é o que me encanta.
Giulio e Kiara foram um casal que eu amei dar vida, porque aqui você
ver que são duas pessoas que se amam, mas que amam outras coisas, que
precisam de outras coisas.
Mas às vezes essas outras coisas não são o que sempre achamos que
eram.
E voltar para o seu lar, seu amor é a sua única opção. Mesmo que seja
difícil de admitir.
Eu espero que tenham gostado deste livro. Não esqueçam de avaliar, por
favor! Estão prontas para Prince Trevisan?
Amo vocês!
Obrigada por tudo!
Evilane Oliveira


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[i]
Onde está o lutador?
[ii]
Fale ou o próximo será você.
Table of Contents
Sinopse
Prólogo
01
02
03
04
05
06
07
08
09
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
Próximo livro
Agradecimentos
Recado e surtos
Contato
Outras obras

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