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Atividade avaliativa da disciplina AS077 A Biologia e Produção de

Sementes Florestais.

Profa Dagma Kratz

Estudante: Tiago de Oliveira Gonzaga Teixeira


GRR20180962

Instalação de um Pomar de Sementes da espécie


Parapiptadenia rígida para fins produtivos.

Introdução

A Parapiptadenia rigida é uma espécie nativa do Brasil, porém não


endêmica, ocorrendo no Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Paraná,
Santa Catarina e Rio Grande do Sul, passando pelas Florestas Estacionais
Semideciduais (FES), Florestas Ombrófilas Mistas (FOM) e formações
florestais do bioma Pampa. Seu fruto, tipo vagem, apresenta a margem reta a
sinuosa e forma sementes aladas transverso elípticas (REFLORA, 2021). Seu
sistema sexual é hermafrodito, apresentando floração de Setembro a
Dezembro e frutificação de Fevereiro a Agosto (Lopes, 2021), sendo a
maturação dos frutos durante o período junho-julho (Lorenzi, 2016).
Segundo o Ministério do Meio Ambiente (2011), o angico-vermelho
apresenta uma madeira pesada (0,85g cm-3), bastante dura, resistente, de
grande durabilidade e resistente ao cupim. Com tais características, ela pode
ser empregada na construção civil, em vigamentos, caibros, ripas, tacos e
tábuas para assoalhos e caixilharia, carpintaria em geral, vigamentos de
pontes, dormentes, mourões, estacas, esteios, postes e peças torneadas. Além
disso, é considerada de muito boa qualidade para lenha e carvão, tendo um
poder calorífico de 5.324kcal/kg (Silva et al., 1983).
Mesmo tendo uma madeira densa, o angico-vermelho é uma espécie
heliófita pioneira (Lorenzi, 2016), que se destaca no estrato emergente das
Florestas Estacionais Semideciduais (Ministério do Meio Ambiente, 2011).
Lorenzi (2017) afirma que a espécie P. rigida pode chegar a aproximadamente
15 metros, sendo bastante indiferente quanto às condições físicas do solo e
produzindo anualmente uma grande quantidade de sementes viáveis.
Considerando tais características, a espécie P. rigida apresenta um bom
potencial econômico para o uso madeireiro. Contudo, para isso é necessária o
desenvolvimento da sua genética para fins produtivos, além do acesso a
grandes quantidades de sementes para realizar plantios, o que pode ser feito
por meio de um pomar desSementes.
Segundo o inciso XV do artigo 82 do Decreto N° 10.586, de 18 de
Dezembro de 2020, que regulamenta a Lei n°10.711/20 sobre o Sistema
Nacional de Sementes e Mudas, pomar de sementes é uma plantação
planejada, isolada de pólen externo, com delineamento de plantio e de manejo,
estabelecida com matrizes selecionadas e destinada à produção de sementes
ou de outro material de propagação. Há diferentes tipos de pomares de
sementes: Pomar de Sementes por Mudas – PSM, Pomar de sementes clonal
– PSC, Pomar de Sementes Testado (PSMt ou PCSt) e Pomar de sementes
com cruzamento controlado, cada um com suas características. Sendo assim,
o presente trabalho irá propor um planejamento de um pomar de sementes por
mudas (PSM), o qual, de forma geral, pode ser implantado seguindo os
seguintes passos, segundo Kratz (2021): 1. Colheita de sementes das matrizes
selecionadas; 2. Produção de mudas em separado de cada matriz; 3.
Implantação do teste de progênie/plantio das mudas produzidas; 4. Avaliação
da produtividade e seleção das melhores plantas (entre e dentro de famílias); 5.
Desbaste das plantas não selecionadas.

Colheita de sementes das matrizes selecionadas.

As sementes coletadas devem ser feitas com base na atividade 1 (Área


de coleta de Sementes - ACS), visando uma grande diversidade genética a fim
de aumentar as chances de adquirir alelos de interesse e a segurança na
sobrevivência dos indivíduos advindos do Pomar de Sementes nos cenário
possível de mudanças climáticas no longo prazo. As matrizes selecionadas
devem seguir os parâmetros propostos na atividade 2 (Área de Produção de
Sementes), visando indivíduos com ponto de inversão morfológica acima da
média.

Figura 1 – ACSs, em vermelho, de onde devem advir as sementes do pomar.

Fonte: Autor, Google Earth (2021).


Área do PSM

O presente trabalho propõe o uso da Fazenda Experimental Canguiri,


pertencente à Universidade Federal do Paraná (UFPR), para ser implantado o
pomar de sementes. Avalia-se que o melhor lugar encontra-se no extremo
sudeste da fazenda, o qual apresenta uma área em desuso.

Figura 2 – Área de Trabalho

Fonte: Autor (2021).

Visto que a espécie Parapiptadenia rigida apresenta uma ampla


distribuição na Bacia do Paraná, e um fácil crescimento em diferentes tipos de
solo, a área de trabalho escolhida apresenta boas condições para a
implantação do pomar. Segundo dados do Instituto Água e Terra, o solo local
consiste em um Latossolo Bruno, ao lado de uma área de Cambissolo Húmico,
e clima cfb, segundo a classificação climática de Köppen-Geiger.
Figura 3 – Detalhamento do solo na área de trabalho (Solos_Tipo), nas parte
“avermelhadas”, via QGIS.

Fonte: Autor (2021).

A área de trabalho proposta encontra-se na figura 3. O retângulo abaixo


possui uma área de 75.706,57 m², ou aproximadamente 7,57 ha, com
dimensões aproximadas de 230 m por 340 m. Contudo, o teste de progênie
será planejado para uma área de 75.264 m², com dimensões de 336 m por 224
m.
Figura 3 – Área do Pomar de Sementes, com valores aproximados de altitude e
declividade.

Fonte: Autor (2021).

Visto que algumas áreas apresentam uma declividade de


aproximadamente 40°, o local se torna apropriado para uma cultura estável, em
que não terá o uso de grandes máquinas. Além disso, como a área não
apresenta declividades acima de 45°, e os corpos d’água presentes na área
consistem em rios intermitentes (figura 4), não há Área de Preservação
Permanente (APP) no local do pomar. Contudo, é importante respeitar tais
corpos d’água e deslocar os blocos com mudas plantadas para que não
sobreponham o percurso da água em épocas de chuva.
Figura 4 – Corpos dágua que intersectam o pomar.

Fonte: Autor, 2021.

Implantação do teste de progênie

O teste de progênie será realizado em um delineamento de blocos


casualizados (BDC), onde cada tratamento constituirá em uma família advinda
de uma matriz. Cada bloco terá as dimensões de 8 x 8 m, contendo 12
indivíduos da mesma família em um espaçamento de 2 x 2 m, com base no
trabalho apresentando por Brito et al. (2017). No total, serão 1176 blocos,
onde, em um cenário onde serão coletadas sementes de 98 matrizes, cada
família terá 12 repetições, totalizando 144 mudas por matriz. Isso é viável, pois
o angico-vermelho produz uma grande quantidade de sementes por ano, e com
poder germinativo das sementes alto, em média 70%, podendo chegar a 100%
(Ministério do Meio Ambiente, 2011).
Sendo assim, a distribuição dos tratamentos deve ser realizada de forma
aleatória seguindo o delineamento apresentado abaixo, o qual apresenta o
número correto de bloco para as dimensões de 336 m por 224 m. Com isso,
considerando que cada bloco possui as dimensões 8 x 8 m, ficamos com 42
linhas e 28 colunas. Vale lembrar que, em campo, será necessário deslocar
algumas partes do pomar, deixando “gaps” por onde passará os rios
intermitentes.
Figura 5 – Matriz a ser realizada a distribuição aleatória dos tratamentos.

Fonte: Autor, 2021.


Ao redor do pomar, é importante ser plantato outros indivíduos de
angico-vermelho a fim de se evitar o efeito de borda no teste de progênie. Além
disso, vale lembrar que o delineamento terá que ser separado em 4 partes,
seguindo um gradiente de altitude e de umidade do solo a partir do rios
intermitentes (figura 6), sendo necessário realizar 4 experimentos separados,
porém com resultados que podem ser analisados em conjunto. É importante
que em cada uma das quatro áreas esteja presente todos os tratamentos
(famílias) com repetições iguais.

Figura 6 – Ideia geral da separação do experimento a fim de consideração um


gradiente altitudinal e de umidade do solo.

Fonte: Autor, 2021.

Avaliação da produtividade e seleção das melhores plantas (entre e


dentro de famílias).

Após a implementação do experimento com o plantio das mudas, será


realizado o teste de progênie ao longo dos anos, conforme as árvores crescem.
Isso, pois a análise dos dados é essencial para permitir a estimativa dos
componentes de variação (variâncias) e consequentemente de parâmetros
genéticos como a herdabilidade, a qual é fundamental para praticar a seleção
dos melhores indivíduos e obter ganhos genéticos (Kratz, 2021).
Para isso, será coletado os valores das seguintes variáveis a serem
analisadas: altura do fuste (base até o ponto de inversão morfológica) e DAP.
Por mais que o Ministério do Meio ambiente (2011) afirme que em plantios
comerciais de angico-vermelho recomenda-se, na fase inicial do plantio,
colocar um tutor, geralmente uma taquara de 2m de altura, para a muda ficar
ereta, e realizar podas para condução do ramo principal e dos galhos, no
presente experimento será descartado os indivíduos que apresentarem troncos
muito tortuosos ou ponto de inversão morfológico muito baixo. Sendo assim,
antes mesmo de sair os resultados do teste de progênie esse indivíduos já
serão selecionados para o desbaste futuro.
Com isso, fazendo duas análises estatísticas diferentes, uma para a
altura do fuste e outra para o DAP, será realizado uma análise de variância
(ANOVA). Além disso, pode-se realizar uma análise de variância multivariada
(MANOVA), com as duas variáveis ao mesmo tempo, e comparar com os
resultados da ANOVA. Tais análises estatísticas devem ser feitas tanto entre
famílias, quanto dentro de uma mesma família.
Assim, será possível estimar os componentes de variação e as
herdabilidades para praticar a seleção dos melhores indivíduos, das melhores
famílias e dos melhores indivíduos dentro das melhores famílias. Com isso,
vamos estimar componentes de variação, calcular a herdabilidade das
variáveis de interesse e, então, estimar ganho de seleção (Kratz, 2021).

Desbaste das plantas não selecionadas e estabelecimento do PSM

Após a avaliação da produtividade de cada planta, e a identificação das


mais produtivas, será realizado o desbaste com a eliminação das piores
plantas. Com isso, teremos um pomar de sementes selecionadas para a
produção de indivíduos otimizados para a produção de madeira.
Com isso, será realizada a colheita anual das sementes das árvores
remanescentes, e posterior produção de mudas a partir das sementes colhidas.
Vale lembrar que, para a comercialização das sementes, é preciso inscrever a
área no órgão de fiscalização da unidade federativa na qual esteja localizada.

Referências

BRITO, Nicolas Manarim de et al. COMPARAÇÃO ENTRE PLANTIOS DE


ANGICO VERMELHO EM DIFERENTES ESPAÇAMENTOS UTILIZANDO
GEOPROCESSAMENTO. Florianópolis. 2017.

CARVALHO, Paulo Ernani Ramalho. Angico-Gurucaia. Colombo: Embrapa,


2002. Disponível em:
https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/bitstream/doc/304480/1/CT0058.pdf.
Acesso em: 19 jun. 2021.
COPPETEC-UFRJ. REFLORA: Plantas do Brasil: Resgate Histórico e Herbário
Virtual para o Conhecimento e Conservação da Flora Brasileira. [S. l.], 20--.
Administrado pelo Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro.
Disponível em: eflora.jbrj.gov.br.

DISTRITO FEDERAL. Lidio Coradin. Coordenação Nacional da Iniciativa


Plantas Para O Futuro. Espécies Nativas da Flora Brasileira de Valor
Econômico Atual ou Potencial: plantas para o futuro - região sul. Brasília:
Ministério do Meio Ambiente - MMA, 2011. 936 p. Disponível em:
https://www.gov.br/mma/pt-br/assuntos/biodiversidade/fauna-e-
flora/Regiao_Sul.pdf. Acesso em: 30 jun. 2021.

KRATZ, Professora Dra. Dagma. Pomares de sementes. Curitiba:


Universidade Federal do Paraná, 2021. 15 slides, color.

KRATZ, Professora Dra. Dagma. Testes genéticos: progênies. Curitiba:


Universidade Federal do Paraná, 2021. 18 slides, color.

LOPES, Gerson Luiz. Compêndio Online Gerson Luiz Lopes: Laboratório de


Manejo Florestal. [S. l.], 2012. Disponível em:
https://sites.unicentro.br/wp/manejoflorestal/.

LORENZI, Harri. Árvores Brasileiras: manual de identificação e cultivo de


plantas arbóreas nativas do brasil vol.01. 7. ed. Nova Odessa: Instituto
Plantarum de Estudos da Flora Ltda, 2016. 384 p

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