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1. Noções
De acordo com o sentido jurídico (formal) proposto por Hans Kelsen, a Constituição é a
norma jurídica do mais alto grau hierárquico na estrutura interna de um país. Como
corolário de sua supremacia está o respeito que as normas infraconstitucionais devem
guardar sobre o texto Maior. O controle de constitucionalidade busca verificar a
compatibilidade entre leis a atos normativos, desde que dotados de características
próprias da lei (abstração, generalidade etc.), e a Constituição, com a finalidade de
elucidar e sanar pechas eventualmente existentes.
2. Tipos de inconstitucionalidades
Silva Neto (2004, p. 236) explica que a inconstitucionalidade imediata "decorre do exame
da compatibilidade entre a constituição e uma determinada norma, sem que haja
intermediação de qualquer outro veículo normativo". A forma derivada (mediata)
"pressupõe a existência de lei ou ato normativo entre a espécie considerada
inconstitucional e a constituição".
É material a referente ao conteúdo da norma que, por não estar em consonância com o
texto constitucional, é considerado inconstitucional. Diz-se formal quando há desrespeito
às normas referentes ao processo legislativo (formal objetiva) e à iniciativa (formal
subjetiva). Inconstitucionalidade orgânica, para a doutrina contemporânea, refere-se ao
vício de competência (de iniciativa – i.e., trata-se da inconstitucionalidade formal subjetiva).
Quanto ao controle repressivo, são três os sistemas (SILVA NETO, 2005, p. 239/240):
Os efeitos no controle difuso são 'inter partes' e 'ex tunc'. Todavia, o STF chegou a
concretizar a modulação do efeito temporal em certas situações, ante o excepcional
interesse social ou questão de segurança jurídica (vide RE 197.917)[2].
Sobre a teoria da transcendência dos motivos determinantes, Pedro Lenza (2006, p. 129)
menciona que, como exemplo de seu reconhecimento, "no julgamento da ADI 3345/DF
que declarou constitucional a Resolução do TSE que reduziu o número de vereadores de
todo o país, o STF entendeu que a Suprema Corte conferiu '... efeito transcendente aos
próprios motivos determinantes que deram suporte ao julgamento plenário do RE
197.917'".
Feito por ação própria, nesta modalidade de controle objetiva-se o confronto direto da
norma abstratamente considerada perante a Constituição Federal. No âmbito dos estados-
membros também é possível a realização de controle concentrado de constitucionalidade
das leis e atos normativos estaduais e municipais em face das respectivas Constituições
Estaduais.
É aplicável a normas de eficácia limitada que, por não terem sido objeto de
regulamentação, não produzem os efeitos necessários para o exercício do direito previsto
constitucionalmente.
Consoante as preleções de Pedro Lenza (2006, p. 161), a ADIn por omissão "trata-se de
inovação da CF/88, inspirada no art. 283 da Constituição Portuguesa" e o seu objetivo "é
combater uma 'doença', chamada pela doutrina de 'síndrome de inefetividade das
normas constitucionais'".
Pela via difusa, admite-se o mandado de injunção (art. 5º, inc. LXXI, da CF):
8. Considerações finais
A evolução jurisprudencial, solidificada pelo Supremo Tribunal Federal no trato da matéria
do controle de constitucionalidade, demonstra a preocupação dos mais graduados
aplicadores do direito em possibilitar uma melhora no processo de resguardo do domínio
da Constituição Federal perante as leis e atos normativos, mediante novas posturas de
cunho prático-teórico conforme se evidencia na "atual interpretação" dada ao art. 52, inciso
X, da Constituição Federal, e na adoção da orientação concretista em sede de mandado
de injunção.
Não obstante todo esse desenvolvimento há de se reconhecer certos limites impostos pelo
Texto Maior, os quais, apesar de não agrilhoarem inarredavelmente as atuações dos
intérpretes, demonstram o seu sentido diretivo, como, com a devida vênia, percebe-se da
redação do mencionado inciso X, do art. 52, que claramente atribui ao Senado Federal a
suspensão da "execução, no todo ou em parte, de lei declarada inconstitucional por
decisão definitiva do Supremo Tribunal Federal" no âmbito do controle difuso.
Notas:
[1] Súmula vinculante nº 10: "Viola a cláusula de reserva de plenário (CF, art. 97) a
decisão de órgão fracionário de Tribunal que, embora não declare expressamente a
inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do poder público, afasta sua incidência, no
todo ou em parte".
[3] Vide HC 82.959/SP (Informativo 417) e voto do Rel. Min. Gilmar Mendes na
Reclamação nº 4.335/AC. O mote vertente em tais julgamentos refere-se à
inconstitucionalidade da norma outrora em vigor que proibia a progressão de regime para
condenados por crimes hediondos. A decisão da Suprema Corte permitiu a projeção das
consequências do julgado (HC 82.959) para os demais casos semelhantes, desde que não
extintas as penas, ao se fazer registrar a possibilidade "apreciação, caso a caso, pelo
magistrado competente, dos demais requisitos pertinentes ao reconhecimento da
possibilidade de progressão".
[5] Ressalta-se a excepcionalidade admitida na ADPF n° 54, pois motivada por uma
situação concreta (interrupção da gravidez ante a constatação de feto anencéfalo). É de
seguinte teor a ementa: "ADPF - ADEQUAÇÃO - INTERRUPÇÃO DA GRAVIDEZ - FETO
ANENCÉFALO - POLÍTICA JUDICIÁRIA - MACROPROCESSO. Tanto quanto possível, há
de ser dada seqüência a processo objetivo, chegando-se, de imediato, a pronunciamento
do Supremo Tribunal Federal. Em jogo valores consagrados na Lei Fundamental - como o
são os da dignidade da pessoa humana, da saúde, da liberdade e autonomia da
manifestação da vontade e da legalidade -, considerados a interrupção da gravidez de feto
anencéfalo e os enfoques diversificados sobre a configuração do crime de aborto,
adequada surge a argüição de descumprimento de preceito fundamental. ADPF - LIMINAR
- ANENCEFALIA - INTERRUPÇÃO DA GRAVIDEZ - GLOSA PENAL - PROCESSOS EM
CURSO - SUSPENSÃO. Pendente de julgamento a argüição de descumprimento de
preceito fundamental, processos criminais em curso, em face da interrupção da gravidez
no caso de anencefalia, devem ficar suspensos até o crivo final do Supremo Tribunal
Federal. ADPF - LIMINAR - ANENCEFALIA - INTERRUPÇÃO DA GRAVIDEZ - GLOSA
PENAL - AFASTAMENTO - MITIGAÇÃO. Na dicção da ilustrada maioria, entendimento em
relação ao qual guardo reserva, não prevalece, em argüição de descumprimento de
preceito fundamental, liminar no sentido de afastar a glosa penal relativamente àqueles
que venham a participar da interrupção da gravidez no caso de anencefalia."
Referências bibliográficas
LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 10 ed. São Paulo: Método, 2006.
SILVA NETO, Manoel Jorge e. Curso básico de direito constitucional. Tomo II, Rio de
Janeiro: Lumen Juris, 2005.