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SOCIOLOGIA DE MARX
Sobre as chamadas ‘determinações-da-reflexão’. Categorias do sistema de Hegel
(A partir do dia 28/09/2020)
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desenvolvimento interno das coisas e, para fazer isso, caminha no sentido de construir
a identidade a partir da predicação do ser, pois dizer que algo é ainda é demasiado
pouco em função da qualidade e singularidade daquilo que está sendo afirmado. Mas
neste estágio do ‘ser puro’ não se pode trabalhar ainda com estas características
assinaladas: ‘singularidade’ e ‘qualidade’. Por tudo isso, é importante dizer que,
quando usarmos, num eventual curso sobre a “Sociologia de Marx”, a expressão ‘ser’
para fazer referência ao sistema de Hegel, estamos pensando, na verdade, no
desdobramento das qualidades do ser em algo que Hegel chamaria, dependendo da
situação, de essência, de conceito ou mesmo de idéia, uma vez que entendemos que
o desenvolvimento de toda e qualquer qualidade é, no limite, um desdobramento que
dependeu, sim, da consciência, mas enquanto produto tardio da existência, existência
esta que é moldada pelo ser (social) segundo suas características materiais. Então,
com maior ou menor grau de sofisticação e desenvolvimento, o ser é, nessa nossa
interpretação, o todo em processo – em outras palavras, a concepção materialista de
ser.
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essência como a aparência ou fenômeno (Schein) ou o aparecer das características
agora mediadas pela atividade da essência – por isso, o passado é parte do vir-a-ser
que leva à formação do ser-outro. A essência é o ser que-passou e refletiu em algo
outro; mas não que passou e deixou para trás o que lá ficou, mas trouxe consigo o que
dele foi supra-sumido. A essência é, portanto, o aparecer do ser para-si mesmo (pois
aparece, ‘brilha’, tanto para o exterior quanto para o interior de si mesma) e saber o
que algo é, para alguém de fora, depende de enxergar-se o brilho dele, uma vez que
este brilho é a porta de entrada para o interior do objeto (Idem, ibidem, p. 223). Enfim,
o desenvolvimento da essência progride da mais simples indeterminação do ser para
aquilo que ela representa como estrutura lógica na sua relação de reciprocidade e
alteridade enquanto aparição da especificidade de distintos fenômenos; deste ponto, a
progressão é sinônimo de apresentação daquilo que é a efetividade, segundo sua
ordem e articulação.
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Wissenschaften (1830), cit., p. 182, parágrafo 213). Enquanto este último, o referido
conceito, trata da incorporação subjetiva do conteúdo do existente na sua efetividade,
a idéia representa a unidade entre esta percepção e a objetividade propriamente dita.
Em outras palavras, a idéia assenta como a plena realização de um conceito, o que a
aponta como sendo o verdadeiro ou a verdade, já que ela não se confunde com
qualquer ente subjetivo ou mesmo mental – a idéia é o universal cuja manifestação
está presente na particularidade do conceito. Ao mesmo tempo, idéia não é sinônimo
de transcendência e também pode estar associada a entidades particulares, uma vez
que sua realização pode e deve ser sintética. Tal qual o conceito de conceito, a idéia
não é simples aparência ou reprodução de objetos sensíveis, sensoriais, mas, ao
contrário, todo objeto correspondente à idéia pura é determinado por sua própria idéia
ou conceito, “uma vez que nenhum material sensorial extra é requerido para a sua
existência ou para o nosso conhecimento de sua existência” (Cf. INWOOD, M. Op. cit.,
p. 169). Estes objetos são, em princípio, incondicionados, pois dependem
exclusivamente de sua natureza, ou de seu conceito, para existir e para serem
conhecidos – existência e conhecimento que dependem daquilo que lhes é
originalmente constitutivo e não daquilo que lhes é estranho. Igualmente, a idéia
abarca movimento, pois toda constituição depende de um processo interno para se
efetivar e prover – o condicionamento do mundo (que não acontece de uma só vez) é
parte constituinte da idéia, uma vez que a contingência deve ser supra-sumida; neste
sentido, o mundo é um processo em que cada fase supera e condiciona a seguinte
que é, por sua, vez condicionada e supra-sumida pela superior. Assim, a idéia lógica
condiciona a natureza, que condiciona o espírito que, por sua vez, volta a condicionar
a idéia lógica, já que o processo de desenvolvimento da idéia só pode ser reconhecido
e cientificamente conhecido na fase da consciência constituinte do mundo do espírito,
que é a mesma fase de constituição do mundo humano, ativo. Na fase mais elevada
da idéia, a idéia absoluta, a definição do sujeito-objeto idêntico é o auge da
potencialidade da investigação filosófica, pois é o próprio objeto de estudo da lógica;
neste patamar, “como a lógica é simplesmente pensar sobre pensar ou pensamentos
sobre pensamentos, o conceito está em plena concordância com o seu objeto, e a
verdade é alcançada” (Idem, ibidem, p. 170). E isto acontece porque a esfera da idéia
absoluta é aquela em que não há dicotomia alguma entre objetividade e subjetividade,
uma vez que foram supra-sumidas todas as inadequações do desenvolvimento do
conhecer, do eu, da moralidade e do bem, que são momentos do percurso em que a
vida deixa de ser adaptação ao ambiente e passa a ter no regramento normativo a
base de sua conduta e condição de perenidade num mundo de cultura. No absoluto, a
autodeterminação do todo tem o privilégio de se isolar de suas condições históricas e
empíricas e render-se somente ao universo do pensamento, que também, é claro, não
é um simples universo mental, mas o princípio autodiferenciador. Na vida ética do
Estado a idéia reaparece como a unidade entre indivíduo e vida política, ou seja, o
Estado plasma os indivíduos que lhe são constituintes, ao mesmo tempo em que, por
corresponder àquilo que devia ser, recebe os indivíduos como componentes livres
dentro dele, mas sem que estes indivíduos percam sua dependência com relação à
referida vida política, sob pena da dissolução estatal. Enfim, a idéia é o que tudo
abarca e ela corresponde às fases infinitas (pensamento, gnosiologia e ontologia) de
preparação do conhecimento.