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Cabe, antes de adentrar ao mérito da

presente ação, fazer breve digressão histórica quanto à

discussão jurídica da matéria.

Foi declarada a inconstitucionalidade do


critério de atualização da TR, conforme a decisão proferida
pelo Colendo TST, na Reclamação nº 22.012,
inconstitucionalidade esta que foi confirmada pelo Excelso
STF no RE 870.947/SE.

Se a hipótese é de inconstitucionalidade, com


efeito erga omnes, é evidente que esse critério não se
aplicaria aos processos em curso e aí não se poderia falar
em modulação. Além disso, a MP 905/2019 alterou a
redação do §7º do artigo 879 da CLT para adotar o IPCA-E,
ainda que a partir da data em que tal MP entrou em vigor.

Nesse passo, observo que, dependendo da


hipótese (crédito anterior a 26 de março de 2015 e com
continuidade depois dessa data), a melhor solução jurídica
era a aplicação da modulação decidida pelo Pleno do TST,
ou seja, mediante a incidência da TR até 26 de março de
2015 e o IPCA-E daí em diante, mas somente quanto aos
processos ajuizados antes da data que entrou em vigor a
chamada "Reforma Trabalhista".

No que tange à aplicação do IPCA-E como


índice de correção monetária, destaca-se a decisão do
Exmo. MINISTRO RELATOR DIAS TOFFOLI proferida nos
autos da MEDIDA CAUTELAR NA RECLAMAÇÃO 22.012 RIO

1
GRANDE DO SUL, que deferiu o pedido liminar para
suspender os efeitos da decisão reclamada e a "tabela
única" editada pelo CSJT em atenção à ordem nela contida,
sem prejuízo do regular trâmite da Ação Trabalhista nº
0000479-60.2011.5.04.0231, inclusive prazos recursais.

Transcrevo, por pertinente, o trecho da r.


Decisão:
"As ADI nºs 4.357/DF e 4.425/DF tiveram
como objeto a sistemática de pagamento
de precatórios introduzida pela EC nº
62/09, a qual foi parcialmente declarada
inconstitucional por esta Suprema Corte,
tendo o próprio Relator, Ministro Luiz Fux,
reforçado o limite objetivo da declaração
de inconstitucionalidade "por
arrastamento" do art. 1º-F da Lei nº
9.494/97, com a redação dada pela Lei nº
11.960/09, ao "ao intervalo de tempo
compreendido entre a inscrição do crédito
em precatório e o efetivo pagamento" (RE
nº 870.947/SE, DJe de 27/4/15), não
alcançando o objeto da decisão do TST
impugnada nesta reclamação - expressão
"equivalentes à TRD" contida no caput do
art. 39 da Lei 8.177/91, assim redigido:

"Art. 39. Os débitos trabalhistas de


qualquer natureza, quando não satisfeitos
pelo empregador nas épocas próprias
assim definidas em lei, acordo ou
2
convenção coletiva, sentença normativa ou
cláusula contratual sofrerão juros de mora
equivalentes à TRD acumulada no período
compreendido entre a data de vencimento
da obrigação e o seu efetivo pagamento."

Destaco que o dispositivo declarado


inconstitucional pelo TST não está adstrito
à regulamentação de débitos imputados à
Fazenda Pública, diferentemente do art. 1º-
F da Lei nº 9.494/97 - cuja discussão acerca
de sua constitucionalidade foi submetida à
sistemática da repercussão geral (Tema nº
810) e ainda está pendente de decisão de
mérito do STF quanto ao índice de
atualização incidente no período anterior à
inscrição do crédito em precatório, incluída
a fase de conhecimento.

Por não terem sido a constitucionalidade


nem a inconstitucionalidade do caput do
art. 39 da Lei nº 8.177/91 submetidas à
sistemática da repercussão geral ou
apreciadas em sede de ação do controle
concentrado, diferentemente da conclusão
exarada no ato reclamado, nem mesmo a
eficácia prospectiva decorrente da nova
sistemática de processamento de recursos
com idêntica controvérsia poderia ser
conferida de forma válida pelo TST à sua
decisão, sob pena de, conforme
3
anteriormente consignado, usurpar aquele
Tribunal a competência do STF para
decidir, como última instância,
controvérsia com fundamento na
Constituição Federal.

Ocorre que, ao ordenar a "expedição de


ofício ao Exmo. Ministro Presidente do
Conselho Superior da Justiça do Trabalho a
fim de que determine a retificação da
tabela de atualização monetária da Justiça
do Trabalho (tabela única)", o TST foi além
do efeito prospectivo possível, em tese, de
ser conferido a sua decisão em sede de
recurso de revista representativo da
controvérsia.

Essa "tabela única" consiste em


providência do Conselho Superior da
Justiça do Trabalho (CSJT), por meio da
Resolução nº 8/2005 (doc. eletrônico 40),
no sentido de conferir uniformidade aos
cálculos trabalhistas, tendo em vista a
adoção de critérios diferenciados pelo
órgãos regionais da Justiça do Trabalho
para fins de apuração do índice de
atualização.

Assim, a decisão objeto da presente


reclamação alcança execuções na Justiça
do Trabalho independentemente de a
4
constitucionalidade do art. 39 da Lei nº
8.177/91 estar sendo questionada nos
autos principais.
Em juízo preliminar, concluo que a "tabela
única" editada pelo CSJT por ordem contida
na decisão Ação Trabalhista nº 0000479-
60.2011.5.04.0231 não se limita a orientar
os cálculos no caso concreto; antes, possui
caráter normativo geral, ou seja, tem o
condão de esvaziar a força normativa da
expressão "equivalentes à TRD" contida no
caput do art. 39 da Lei nº 8.177/91,
orientando todas as execuções na Justiça
do Trabalho, razão pela qual assento a
presença do requisito do periculum in
mora para o deferimento do pedido
cautelar formulado.

Ademais, essa tabela implementa o IPCA-E


como índice de atualização monetária de
débitos em hipóteses diversas da que foi
submetida à análise desta Suprema Corte
nas ADI nºs 4.357/DF e 4.425/DF - dívida da
Fazenda Pública no período entre a
inscrição do débito em precatório e seu
efetivo pagamento.

Ante o exposto, defiro o pedido liminar


para suspender os efeitos da decisão
reclamada e da "tabela única" editada pelo
CSJT em atenção a ordem nela contida,
5
sem prejuízo do regular trâmite da Ação
Trabalhista nº 0000479-60.2011.5.04.0231,
inclusive prazos recursais."

Contudo, a Segunda Turma do Supremo


Tribunal Federal (STF) julgou improcedente, recentemente,
a Reclamação (RCL) 22012, ajuizada pela Federação
Nacional dos Bancos (Fenaban) contra decisão do Tribunal
Superior do Trabalho (TST), que determinou a adoção do
Índice de Preços ao Consumidor Amplo Especial (IPCA-E)
no lugar da Taxa Referencial Diária (TRD) para a
atualização de débitos trabalhistas, mantendo a aplicação
do IPCA-E, revogando a liminar outrora deferida.

Sendo assim, prevaleceu o entendimento de


que a decisão não configura desrespeito ao julgamento do
STF nas Ações Diretas de Inconstitucionalidade (ADI) 4357
e 4425, que analisaram a emenda constitucional sobre
precatórios.

A decisão do TST e a tabela única editada


pelo Conselho Superior da Justiça do Trabalho (CSJT)
estavam suspensas desde outubro de 2015 por liminar do
ministro Dias Toffoli, relator da RCL 22012. O mérito
começou a ser julgado em setembro, e o relator, em seu
voto, rejeitou a conclusão do TST de que a declaração de
inconstitucionalidade da expressão "equivalentes à TRD",
no caput do artigo 39 da Lei 8.177/1991, ocorreu por
arrastamento (ou por atração) da decisão do STF nas ADIs
4357 e 4425.

6
Na referida sessão de julgamento, o Ministro
Gilmar Mendes apresentou voto-vista acompanhando o
relator, por considerar que a decisão do TST extrapolou os
limites de sua competência, ao aplicar entendimento
firmado pelo Supremo em controle abstrato de
inconstitucionalidade com efeito vinculante à hipótese não
abrangida.

Na conclusão do julgamento, porém,


prevaleceu a divergência aberta pelo ministro Ricardo
Lewandowski em setembro, no sentido da improcedência
da reclamação. Ele citou diversos precedentes das duas
Turmas no sentido de que o conteúdo das decisões que
determinam a utilização de índice diverso da TR para
atualização monetária dos débitos trabalhistas não possui
aderência com o decidido pelo STF nas duas ADIs.
Seguiram a divergência os ministros Celso de Mello e
Edson Fachin, tornando-se assim a corrente majoritária no
julgamento (site do TST).

Sendo assim, deveria ser aplicada a decisão


do C.TST, nos seguintes termos:

"ACORDAM os Ministros do Tribunal


Superior do Trabalho, em sua composição
plenária, I) por unanimidade: a) acolher o
incidente de inconstitucionalidade
suscitado pela eg. 7ª Turma e, em
consequência, declarar a
inconstitucionalidade por arrastamento da
expressão "equivalentes à TRD", contida no
7
caput do artigo 39 da Lei n 8.177/91; b)
adotar a técnica de interpretação
conforme a Constituição para o texto
remanescente do dispositivo impugnado, a
preservar o direito à atualização monetária
dos créditos trabalhistas; c) definir a
variação do Índice de Preços ao
Consumidor Amplo Especial (IPCA-E) como
fator de atualização a ser utilizado na
tabela de atualização monetária dos
débitos trabalhistas na Justiça do Trabalho;
II) por maioria, atribuir efeitos
modulatórios à decisão, que deverão
prevalecer a partir de 30 de junho de 2009,
observada, porém, a preservação das
situações jurídicas consolidadas
resultantes dos pagamentos efetuados nos
processos judiciais, em andamento ou
extintos, em virtude dos quais foi
adimplida e extinta a obrigação, ainda que
parcialmente, sobretudo em decorrência
da proteção ao ato jurídico perfeito
(artigos 5º, XXXVI, da Constituição e 6º da
Lei de Introdução ao Direito Brasileiro -
LIDB), vencida a Excelentíssima Senhora
Ministra Dora Maria da Costa, que aplicava
a modulação dos efeitos da decisão a
contar de 26 de março de 2015; III) por
unanimidade, determinar: a) o retorno dos
autos à 7ª Turma desta Corte para
prosseguir no julgamento do recurso de
8
revista, observado o quanto ora decidido;
b) a expedição de ofício ao Exmo. Ministro
Presidente do Conselho Superior da Justiça
do Trabalho a fim de que determine a
retificação da tabela de atualização
monetária da Justiça do Trabalho (tabela
única); c) o encaminhamento do acórdão à
Comissão de Jurisprudência e de
Precedentes Normativos para emissão de
parecer acerca da Orientação
Jurisprudencial nº 300 da SbDI-1.
Ressalvaram o entendimento os Exmos.
Ministros Guilherme Augusto Caputo
Bastos, Alexandre de Souza Agra Belmonte
e Maria Helena Mallmann. (Brasília, 04 de
agosto de 2015)".

Não menos importante é o fato de a


Presidência deste E. Tribunal Regional do Trabalho da
Primeira Região, por meio do ato nº 104/2015 (Publicado
em 13/11/2015, no DOERJ, Parte III, Seção II), ter
restabelecido o índice de correção monetária dos débitos
trabalhistas empregado anteriormente no Sistema de
Cálculo Unificado da Justiça do Trabalho, conforme
disposto no artigo 1º, in verbis:

"Art. 1º DETERMINAR o restabelecimento do


índice de correção monetária dos débitos
trabalhistas empregado anteriormente no
Sistema de Cálculo Unificado da Justiça do
Trabalho, devendo ser observada a Tabela
9
Única para Atualização e Conversão de
Débitos Trabalhistas de que tratam os
artigos 1º e 2º da Resolução Nº 8, de 27 de
outubro de 2005, do Conselho Superior da
Justiça do Trabalho."

Corrobora a assertiva acima o teor do


recente Ofício Circular CSJT. .SG nº 15/2018, expedido em
11 de junho de 2018, no qual o Exmo. Sr. Ministro
Presidente do C. Tribunal Superior do Trabalho, Dr. João
Batista Brito Pereira, informou que permanece válida a
aplicação da TR como índice de correção monetária.

Transcrevo, por oportuno, o inteiro teor do


Ofício Circular CSJT.GP.SG nº 15/2018:

"Considerando que a decisão do Supremo


Tribunal Federal na Reclamação
Constitucional nº 22.012, de relatoria do
Ministro Dias Toffoli, ajuizada pela
Federação Nacional de Bancos em face de
decisão do Tribunal Superior do Trabalho
na Ação Trabalhista nº 0000479-
60.2011.5.04.0231, ainda pende da
definitividade própria do trânsito em
julgado, bem como que na edição de atos
administrativos de cunho geral e abstrato
deve primar pela segurança jurídica,
informo a V. Ex. que permanece válida a
aplicação da TR como índice de correção
monetária.
10
Destarte, a alteração da tabela mensal de
índices de atualização monetária com a
utilização do Índice Nacional de Preços do
Consumidor Amplo Especial - IPCA-E será
efetuada após o trânsito em julgado da
decisão proferida na aludida Reclamação."

O que se extraía das informações acima


transcritas é que não havia sido modificado o sistema de
cálculos na tabela mensal de índices de atualização
monetária, coma utilização do Índice Nacional de Preços
do Consumidor Amplo Especial-IPCA-E, cuja eventual
alteração deveria ser realizada após o trânsito em julgado
da citada Reclamação.

Ressalte-se a vigência, em 11.11.2017, da


Reforma Trabalhista (Lei nº 13.467, de 13 de julho de
2017), que alterou a Consolidação das Leis do Trabalho,
com a finalidade de “adequar” a legislação às novas
relações de trabalho, dentre as quais apresenta a
inserção do §7º, ao artigo 879, sem qualquer
correspondência com redação da antiga norma celetista,
transcrito abaixo:

“§ 7º. A atualização dos créditos


decorrentes de condenação judicial será
feita pela Taxa Referencial (TR), divulgada
pelo Banco Central do Brasil, conforme a
Lei 8.177, de 1º e março de 1991.”

11
A previsão contida no citado § 7º, do artigo
879, da CLT (Reforma Trabalhista - Lei nº 13.467, de 13 de
julho de 2017), visou afastar a aplicação do índice de
atualização denominado como IPCAE (Índice Nacional de
Preços do Consumidor Amplo Especial).

Embora eu compreenda que a utilização do


índice da TR (Taxa Referencial), como indexador da
correção monetária, não se presta para recompor a
perda do poder aquisitivo do crédito trabalhista,
caracterizando-se, assim, como injusto, este foi o critério
estabelecido pela Lei 8.177/91, em seu artigo 39
(declarada a inconstitucionalidade por arrastamento da
expressão "equivalentes à TRD", contida no caput do artigo
39 da Lei nº 8.177/91), cuja previsão foi validada pela
edição da Lei 13.467/2017 (reforma trabalhista), no § 7º
do artigo 879.

Assim sendo, em atenção à orientação


contida no Ofício Circular CSJT. GP.SG nº 15/2018,
expedido em 11 de junho de 2018, não obstante o meu
entendimento relativamente à matéria em exame,
primando pela segurança jurídica, até que emanasse uma
decisão definitiva dos E. Tribunais Superiores, vinha este
Relator adotando a orientação emanada do Conselho
Superior da Justiça do Trabalho – CSJT.

Demais disso, em 27.6.2020, o Ministro


Gilmar Mendes deferira medida liminar na Ação
Declaratória de Constitucionalidade nº 58, suspendendo o
julgamento de todos os processos em curso no âmbito da
12
Justiça do Trabalho que envolvessem a aplicação dos
artigos arts. 879, §7º, e 899, § 4º da CLT, com a redação
dada pela Lei nº 13.467/2017, e o art. 39, caput e § 1º da
Lei nº 8.177/91. Interposto Agravo Regimental pela
Procuradoria Geral da República contra a referida decisão
monocrática, o Excelentíssimo Ministro manteve a
medida cautelar anteriormente deferida, prestando,
contudo, esclarecimentos a respeito do tema.

O Pleno do TRT-1 acolheu a arguição de


inconstitucionalidade do § 7º do art. 879 da CLT em face
da inconstitucionalidade do art. 39 da Lei nº 8.177/91,
dispositivo este que previa a TR como índice de
atualização monetária de crédito trabalhista, sendo a
ementa a seguinte:

"ARGUIÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE.
CORREÇÃO MONETÁRIA DOS DÉBITOS
TRABALHISTAS. ÍNDICE DE PREÇOS AO
CONSUMIDOR AMPLO E ESPECIAL. IPCA-E.
A C O L H I M E N T O . 1) Tendo sido
revogada pela 2ª Turma do E. STF a liminar
deferida pelo Exmo. Ministro Dias Toffoli
nos autos da Reclamação nº 22012 MC/RS,
não mais remanesce a aplicação do artigo
39 da Lei nº 8.177/91, sendo aplicável o
Índice de Preços ao Consumidor Amplo e
Especial IPCA-E, para atualização dos
débitos trabalhistas, acolhendo-se a
arguição de inconstitucionalidade do § 7º
do art. 879 da Consolidação das Leis do
13
Trabalho (CLT). 2) Arguição de
inconstitucionalidade acolhida."

No entanto, essa decisão tornou-se


inaplicável, nada obstante o sentido da eficácia persuasiva
a que se refere o inciso V do art. 927 do CPC, tendo em
vista o venerando decisório do STF. Além disso, o
dispositivo legal acima havia sido revogado pela Medida
Provisória nº 955, de 20.04.2020, afastando do mundo
jurídico o IPCAE. Ocorre que a MP em questão perdeu sua
vigência em 29.9.20.

Feita a breve digressão histórica, caminho


para a conclusão do meu voto quanto à matéria.

Como é sabido, em 18.12.2020, o STF


proferiu decisão com repercussão geral e efeito
vinculante, estabelecendo a aplicação obrigatória dos
índices de atualização IPCA-E e da taxa SELIC, por
aplicação analógica do art. 406 do Código Civil, conforme
o dispositivo abaixo transcrito:

“Decisão: O Tribunal, por maioria, julgou


parcialmente procedente a ação, para
conferir interpretação conforme à
Constituição ao art. 879, § 7º, e ao art. 899,
§ 4º, da CLT, na redação dada pela Lei
13.467 de 2017, no sentido de considerar
que à atualização dos créditos decorrentes
de condenação judicial e à correção dos
depósitos recursais em contas judiciais na
14
Justiça do Trabalho deverão ser aplicados,
até que sobrevenha solução legislativa, os
mesmos índices de correção monetária e
de juros que vigentes para as condenações
cíveis em geral, quais sejam a incidência do
IPCA-E na fase pré-judicial e, a partir da
citação, a incidência da taxa SELIC (art. 406
do Código Civil), nos termos do voto do
Relator, vencidos os Ministros Edson
Fachin, Rosa Weber, Ricardo Lewandowski
e Marco Aurélio. Por fim, por maioria,
modulou os efeitos da decisão, ao
entendimento de que (i) são reputados
válidos e não ensejarão qualquer
rediscussão (na ação em curso ou em nova
demanda, incluindo ação rescisória) todos
os pagamentos realizados utilizando a TR
(IPCA-E ou qualquer outro índice), no
tempo e modo oportunos (de forma
extrajudicial ou judicial, inclusive depósitos
judiciais) e os juros de mora de 1% ao mês,
assim como devem ser mantidas e
executadas as sentenças transitadas em
julgado que expressamente adotaram, na
sua fundamentação ou no dispositivo, a TR
(ou o IPCA-E) e os juros de mora de 1% ao
mês; (ii) os processos em curso que estejam
sobrestados na fase de conhecimento
(independentemente de estarem com ou
sem sentença, inclusive na fase recursal)
devem ter aplicação, de forma retroativa,
15
da taxa SELIC (juros e correção monetária),
sob pena de alegação futura de
inexigibilidade de título judicial fundado
em interpretação contrária ao
posicionamento do STF (art. 525, §§ 12 e
14, ou art. 535, §§ 5º e 7º, do CPC) e (iii)
igualmente, ao acórdão formalizado pelo
Supremo sobre a questão dever-se-á
aplicar eficácia erga omnes e efeito
vinculante, no sentido de atingir aqueles
feitos já transitados em julgado desde que
sem qualquer manifestação expressa
quanto aos índices de correção monetária
e taxa de juros (omissão expressa ou
simples consideração de seguir os critérios
legais), vencidos os Ministros Alexandre de
Moraes e Marco Aurélio, que não
modulavam os efeitos da decisão.
Impedido o Ministro Luiz Fux (Presidente).
Presidiu o julgamento a Ministra Rosa
Weber (Vice-Presidente). Plenário,
18.12.2020 (Sessão realizada por
videoconferência - Resolução
672/2020/STF)”.

A decisão modulou os efeitos da seguinte


forma na tentativa de evitar discussões:

Segundo a melhor doutrina, não haverá


alteração nos seguintes casos: pagamentos judiciais na
realizados no tempo e modo oportunos, e decisões

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transitadas em julgado que expressamente definiram a
forma de atualização monetária.

Será aplicada a nova regra e de forma


retroativa: processos em curso, sem trânsito em julgado, e
decisões já transitadas em julgado que não definiram a
forma de atualização monetária.

A taxa SELIC deverá ser aplicada, de forma


retroativa, aos processos que estavam sobrestados na
fase de conhecimento (independentemente de estarem
com o sem sentença, inclusive na fase recursal).

Entendo que ocorrerão discussões porque:

1-A taxa SELIC substituiria a TR e os juros,


sendo a aludida taxa prejudicial ao trabalhador em
comparação com o IPCA-E;

2-A decisão colide com a Lei na medida em


que estabelece que não haveria discussão sobre
pagamentos efetuados em qualquer ação, sabendo-se
que, em caso de simulação a parte tem a prerrogativa do
ajuizamento de ação rescisória (inciso III do art.966 do
CPC);
3-Impossível seria a contagem de atualização
a partir da citação, pois esta não constitui em mora o
devedor em ação trabalhista, sendo claros o art. 833 da
CLT e § 1º do art. 39 da Lei nº 8.177/91 quando dispõem
que a mora começa a fluir a partir da data da distribuição
da ação trabalhista;
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4-Havendo normas especiais e gerais
aplicam-se as normas especiais, sendo este o caso em
questão, pois a CLT e a Lei nº 8.177/91, contendo normas
especiais relacionadas com o Direito do Trabalho devem
ser aplicadas pelo Juiz do Trabalho em ações trabalhistas e
não aquelas previstas no direito comum;

5-O crédito trabalhista é privilegiado, mas


não será atualizado com base no IPCA-E, salvo em
tratando de crédito de período anterior à judicialização ou
em caso de decisório transitado em julgado prevendo dito
índice. Todavia, o pagamento por meio de precatório terá
tratamento privilegiado, cabendo, nesta hipótese, a
incidência do IPCA-E pelo fato de inconstitucionalidade de
norma infraconstitucional reconhecida como tal
recentemente pelo STF;

6-É injustificável o tratamento desigual. O


credor vencedor em processo contra a Fazenda Pública
terá crédito atualizado pelo IPCA-E, enquanto o crédito
trabalhista terá acréscimos legais menores com base na
taxa SELIC; e

7-A redação do acórdão não é muito clara no


item (ii), pois ali está escrito que a taxa SELIC será aplicada
retroativamente aos processos que estavam sobrestados
na fase de conhecimento (independentemente de estarem
com ou sem sentença, inclusive na fase recursal). O texto
permite a conclusão de que somente a taxa SELIC será
aplicada e não em modulação o índice do IPCA-E até a
18
data da citação.

Por aí se vê que a decisão proferida pelo


Supremo Tribunal Federal não veio para pacificar. Todavia,
aplico-a em face do ordenamento jurídico (§ 2º do art. 102
da CF/88, parágrafo único art. 28 da Lei nº 9.868/1999 e
art. 406 do Código Civil), considerando a eficácia erga
omnes e efeito vinculativo (repercussão geral) em sede
ação direta de controle concentrado de
constitucionalidade (ADC 58).

Dito isto agora decido com fundamento na


decisão já referida proferida pelo STF, embora
reconhecendo que a mesma ainda não foi publicada.

No presente caso, o MM. Juízo de origem

determinou, em sentença, a aplicação da TR como índice

de correção monetária dos débitos trabalhistas.

Deste modo, assim procedendo com fulcro

no § 2º do art. 102 da CF/88 e parágrafo único art. 28 da

Lei nº 9.868/1999, conforme a decisão proferida pelo

Supremo Tribunal Federal com eficácia erga omnes e efeito

vinculativo (repercussão geral) em sede ação direta de

controle concentrado de constitucionalidade (ADC 58),

determino a atualização dos créditos da seguinte forma: a

incidência do IPCA-E na fase pré-judicial e a incidência da

taxa SELIC (art. 406 do Código Civil) a partir da data da

citação, assegurado às partes eventuais ajustes de


19
cálculos na hipótese da oposição de novos embargos

declaratórios.

Dou provimento parcial.

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