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Atibaia, 22 de janeiro de 2022

O coreto da Matriz
Marcio Zago*

Numa breve pesquisa pela


internet descobrimos que o core-
to nasceu na China e foi trazido
para a Europa na época das Cru-

Parceria de 30 anos uniu


zadas. Outros sites informam que
surgiu dos movimentos liberais
europeus, no século XIX, como
forma de democratização de es-
paços para oradores e apresen-
comunicação e experiência
empresarial em academia
tações musicais. A verdade é que
os coretos caíram no gosto po-
pular dos brasileiros figurando
com destaque na maioria das pra- A Academia da Paz é resultado de 30 anos de parceria entre
ças das cidades do interior. duas pessoas muito importantes na minha trajetória - Cynthia Ferrari
Em Atibaia não foi diferen- e Guto Frank, cuja experiência está detalhada em https://
te. Em artigo anterior vimos que www.academiadapaz.com.br/. Conheci o casal há mais de 10 anos
havia um coreto na praça da ma- em trabalhos e vivências de autodesenvolvimento. A proposta é
triz, já em 1865! No inicio do sé- transformar relacionamentos. Para isso, eles utilizam atendimentos
culo XX ele não existia mais. Em individuais, em grupos, empresas e círculos de paz. Existe também
1904 a cidade ganha novamente um perfil no Instagram - o academiadapaz.oficial.
um coreto, desta vez no Largo do Cynthia e Guto trabalham com ferramentas socioemocionais
Santo Cruzeiro e pouco depois o voltadas para casais, empresas, famílias, sócios, líderes e indivídu-
Largo da Matriz volta a abrigar os. Ela, desde 1990, frequenta grupos com diferentes abordagens
os concorridos concertos musi- terapêuticas focadas. "Em 2011, assumi a gestão de uma ONG e criei,
cais com a construção de um novo janeiro de 1911, quando passou interior do Estado. Cabe pois ao protagonismo em função dos junto com minha equipe, um método de desenvolvimento de habili-
coreto. É dele que iremos tratar. por uma reforma. digno Prefeito, ao qual também novos hábitos e costumes soci- dades socioemocionais para educadores. Aplicamos em escolas
Localizado entre a Rua Em março de 1912 “O é confiado a direção dos traba- ais. Hoje, o largo da matriz ainda públicas e privadas em diversos estados do país. Foi a semente do
José Lucas e a porta da igreja, o Atibaiense” informou: “Hoje, às lhos, todos os elogios, não só mantém um coreto como orna- método Acordos de Paz, que nasceu em 2017, com base nas forma-
coreto da matriz foi erguido gra- 7 horas da tarde dar-se-á a inau- pela elegância que deu ao velho mento estético. Além da polêmi- ções em Linguagens Colaborativas, Mediação de conflitos, cons-
ças a Câmara Municipal e inau- guração do belíssimo coreto, sito coretinho como também pela boa ca em tornode sua permanência trução de consenso e facilitação de diálogo, Comunicação não-vio-
gurado dia 7 de novembro de ao largo da matriz desta cidade o direção que fez aos trabalhos (ou não), este coretodesperta lenta, Círculos de Construção de Paz da Justiça Restaurativa e pós-
1909, com a recém-criada banda qual na sua completa reforma foi executando-os pelos modos o paixões pelovalor simbólico que graduação em Psicologia Transpessoal da Associação Luso-Brasi-
musical União da Mocidade, aumentado em mais do dobro. mais econômicos. Sob a sábia carrega. Para muitos ele represen- leira de Transpessoal".
regida pelo maestro Tapajara Pin- Atualmente o elegante coreto batuta do maestro Pedro Hilário, ta a cidade bucólica e Já Guto tornou-se mediador de conflitos pela Escola Superi-
to. No dia da inauguração a chu- comporta comodamente uma a corporação Lyra Atibaiense romantizadado passado. Uma or do Ministério Público de São Paulo, multiplicador em Linguagens
va intensa atrapalhou bastante as corporação de 30 figuras sem que fará hoje, as 7 horas da tarde, o Atibaia soterrada pelo inexorável Colaborativas e facilitador em Justiça Restaurativa e em CNV (Co-
festividades: “(...) Infelizmente o haja o menor aperto. concerto de estreia (...)”. O arti- avanço do progresso, mas que municação Não-Violenta). Após experiência empresarial na área
programa que era variado e esco- Com a suspensão tempo- go se referia à morte do jovem permanece no imaginário coleti- metalúrgica, "comecei minha trajetória como mediador na Promoto-
lhido, não pode ser totalmente rária dos concertos quinzenais, maestro Arnaldo de Moura, re- vo através dos livros, das histó- ria Criminal de Santana/São Paulo e, desde então, venho trabalhan-
executado devido a chuva que, devido a falta de maestro na cém-contratado para reger a rias, das velhas fotografias do e ministrando grupos para pessoas em situações de conflitos e
exatamente quando mais intenso corporação, a Câmara Municipal, Banda União da Mocidade. e,principalmente, na memória dos desafios em seus relacionamentos, e/ou que desejam aprofundar o
ia o entusiasmo, caiu copiosa- por proposta do digno prefeito Este coreto durou até antigos moradores. estudo de si, recebendo ferramentas práticas de transformação cons-
mente interrompendo por com- Dr. Miguel Vairo, concedeu a ver- 1936, quando foi demolido na ciente e sistêmica".
pleto e esplendida diversão (...)”. ba que rezava para essa despe- grande reforma que ocorreu na * Márcio Zago é artista plástico, A Academia da Paz pergunta: "Você é aquela pessoa que já
De ferro e madeira, o “ele- sa, para o aumento e praça. Outros vieram, mas sem o artista gráfico de formação tentou mudar várias vezes mas vira e mexe cai matando em cima do
autodidata, fundador do Instituto
gante” coreto serviu de palco embelezamento do coreto que histórico e a funcionalidades que Garatuja e autor do livro outro quando se sente ameaçado emocionalmente ou então fica
para inúmeras apresentações hora se inaugura, depois de ser tinham até então. A partir dos anos “Expressão Gráfica da Criança totalmente calado, não se posiciona e engole sapos que ficam remo-
nas Oficinas do Garatuja”. endo na sua cabeça ? O que eu posso te dizer, por experiência pró-
musicais e leilões, além dos aca- otimamente reformado rivalizan- sessenta os coretos e as bandas Criador e curador da Semana
lorados discursos políticos até do-se hoje com os melhores do musicais perderam seu André Carneiro. pria é: tem saída! Porque você passou a vida inteira agindo de uma
determinada maneira e isso determinou um padrão. Um padrão de
comportamento e também um padrão neural! Seu cérebro aprendeu

“De que vale consolar um pobre, se tu fazes outros cem?” a fazer um determinado caminho neural quando recebia aquele estí-
mulo. Por exemplo: quando alguém grita comigo, imediatamente gri-
to mais alto ainda. Ou: quando alguém grita comigo, fico paralisada,
Anna Luiza Calixto Ainda de maneira mais acentuada nagogas e nas ruas, para serem não consigo pensar e acabo ficando muda, não respondo nada.
neste período de férias, meninos glorificados pelos homens. A ca- Cada um de nós aprendeu a lidar de maneira única com as situações
Para discutir o e meninas oferecem picolés nas ridade executada somente sob ho- que envolvem conflitos. Isso porque temos histórias de vida tam-
assistencialismo teatral, trago à praias e trabalham como vigias de lofotes revela a verdadeira fome – bém únicas".
baila as aspas publicadas ainda no veículos nas zonas urbanas e tu- a de aplausos. No perfil do Instagram, o casal diz: aqui você aprende a se
primeiro capítulo de uma das obras rísticas. A proposta desta Coluna escutar e reeduca suas palavras. Num dos posts, eles citam o juiz e
mais conceituadas na literatura de A compra de produtos ou não é pedir para que se faça mais, desembargador Leoberto Brancher, em encontro de facilitadores dos
Paulo Freire, Pedagogia do Opri- serviços prestados por crianças e mas para que se faça diferente. De- Círculos da Justiça Restaurativa. "É para isso que trabalhamos –
mido. Freire publica trecho bastan- adolescentes traduz, em termos re- volve a teu semelhante aquilo que para trazer consciência às nossas emoções, saber onde nascem, o
te emblemático do Sermão contra ais, auto complacência. Compre- reclamaste e eu te serei muito gra- que contam sobre nossa história de vida, como agem à nossa reve-
o usuário de São Gregório de endendo a lógica de que a esmola to. A dívida histórica que o Brasil lia e a partir daí aprender a gerenciá-las. São elas que determinam as
Nissa, padre capadócio e teólogo é paliativa e sempre será insufici- carrega para com as populações nossas conversas - mas a maioria de nós não aprendeu sobre isso.
renomado. O fascículo, escrito no ente, perpetu- mais vulnerá- Não conhecemos o lugar onde nascem as nossas palavras mas é
ano de 330 d.C, poderia ser con- ando o ciclo da O Sermão de São Gregório veis é indiscu- através delas que construímos relações saudáveis ou não. Muitas
temporâneo ao passo que reflete miséria e fo- de Nissa na prática da falsa tível. Mas o ca- vezes acabamos reféns das palavras emocionais pra logo depois
sobre a dinâmica social de A escritora e palestrante Anna mentando a solidariedade através da minho que de- cair no arrependimento, na culpa, no isolamento. E sem perceber,
assistencialismo e pretensiosa Luiza Calixto. prática do tra- esmola e do vemos percor- nos desconectamos dos valores que são importantes para a maioria
generosidade dos exploradores, balho infantil, a assistencialismo rer para saciar de nós, como respeito, amizade, honestidade, amor".
através da ilustração da esmola do presentes para populações mar- persistência nossa fome de
opressor, oferecida em ato de con- ginalizadas e até mesmo ceias co- desta prática materializa o que São transformação... Ah, sobre este há * Luiz Gonzaga Neto é jornalista, analista em comunicação da Câmara de
templação e gratificação pessoal, letivas, tudo retorna a seu status Gregório condena: se por trezen- muito o que se discutir. De que Atibaia e blogueiro, autor de brincantedeletras.wordpress.com. Esta coluna
quo e as violências institucionais pode ser lida também no site do jornal O Atibaiense – www.oatibaiense.com.br.
muito mais do que de auxílio fide- tos e sessenta dias exploramos e vale consolar um pobre se tu fa-
digno ao outro, o oprimido. voltam a soar naturais em um es- oprimimos parcela tão expressiva zes outros cem? De que vale apre-
“Talvez dês esmolas. Mas, tado apocalíptico de direitos. de nossa população, minhas es- sentar esmolas àqueles de que
de onde as tiras, senão de tuas O cenário se repete, eviden- molas não são, portanto, ferramen- roubamos tudo? De que vale um
rapinas cruéis, do sofrimento, das temente que com menor intensi- ta para que eu me perdoe e enxer- único pão no país que passa
lágrimas, dos suspiros? Se o po- dade, durante o calendário usual gue em minha postura qualquer fome? De que valem os holofotes
bre soubesse de onde vem o teu e pode ser observado, por exem- humanidade? quando somos escuridão? A
óbulo, ele o recusaria porque teria plo, na compra de produtos A espetacularização da so- pretensa solidariedade mente e, o
a impressão de morder a carne de comercializados por crianças e lidariedade torna-se frequente nos que é ainda mais severo, não re-
seus irmãos e de sugar o sangue adolescentes nas ruas de nossas atos da chamada caridade, em que vela a parte da história que apon-
de seu próximo. Ele te diria estas cidades. Doces, buquês de flores; vastas doações são entregues – ta nossa culpa. Talvez dês esmo-
palavras corajosas: não sacies a serviço de limpeza de veículos (os contanto que o benevolente seja las. Mas elas serão o bastante para
minha sede com as lágrimas de flanelinhas); óculos plásticos e até assistido por câmeras. Ainda no pagar por nossos pecados?
meus irmãos. Não dês ao pobre o mesmo serpentinas no Carnaval. rastro clérigo, aqui cito Jesus Cris-
pão endurecido com os soluços to quando propala que diante de
de meus companheiros de misé- esmolas, doações ou quaisquer
ria. Devolve a teu semelhante aqui- ações de suposta solidariedade,
lo que reclamaste e eu te serei não toque trombetas diante de si,
muito grato. De que vale consolar como fazem os hipócritas nas si-
um pobre, se tu fazes outros
cem?”
O propósito da escolha
desta temática para um mês como
janeiro se dá em razão do panora-
ma que encontramos após as fes-
tividades de encerramento do ano
e o derradeiro espírito natalino. Em
síntese, subsequentemente à en-
trega de cestas básicas;
apadrinhamento de crianças em
situação de vulnerabilidade soci-
al durante o feriado; compra de

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