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MATERIAL DO CURSO
METODOLOGIA E FILOSOFIA DO ENSINO RELIGIOSO

APOSTILA
DIVERSIDADE RELIGIOSA BRASILEIRA
A ÉTICA E O ENSINO RELIGIOSO: REFLEXÕES SOBRE O TRABALHO DO
PROFESSOR

A ÉTICA

A palavra Ética pode ser definida como:

Ética s.f. (gr. ethike) 1. Parte da Filosofia que estuda os valores morais e os
princípios ideais da conduta humana. É a ciência normativa que serve de
base à filosofia prática. 2. Conjunto de princípios morais que se devem
observar no exercício de uma profissão. (BARSA, 2001, p. 760).

Juridicamente, Bernardino descreve:

(...) para os operadores do Direito, a ética é um conjunto de regras de


conduta que regulam a atividade jurisdicional, visando a boa prática da
função, bem como a preservação da imagem do próprio profissional e de sua
categoria. A ética jurídica é, portanto, formulada a partir da prática
profissional do Direito. (s/d, s/p).

Em Filosofia “A ética ou moral (...) é o estudo da atividade humana com relação a seu
fim último, que é a realização plena da humanidade”. (MONDIN, 1980, p. 91).

E ainda: “Em primeiro lugar, a concepção que a filosofia dá à Ética é a única


verdadeira, porque a ética é parte da filosofia, tanto na sua origem, como na sua prática
racional”. (BERNARDINO, s/d, s/p)

Para Savater:

Ética não é imitação de condutas – nem pode ser confundida com moral.
Moral é um conjunto de comportamentos e normas que você, eu e outras
pessoas costumamos a aceitar como válidos. Ética, ao contrário, é a reflexão
sobre porque consideramos válidos alguns comportamentos e outros não, é a
comparação com outras morais, de outras pessoas e culturas. (2002, p.47).

E, para Gaarder:
As palavras ética e moral costumam ser usadas indiferentemente. Mas em
geral têm um sentido bastante distinto. A moral se relaciona às ações, isto é,
à conduta real. A ética são os princípios ou juízos que originam essas ações.
Podemos dizer que a ética e a moral são como a teoria e a prática. A ética é
a teoria moral, ou filosofia moral. (2006, p. 283).

Estes conceitos ou considerações podem servir como base e referência a este trabalho.
De um modo geral, a Ética caracteriza um conjunto de normas, regras a serem
seguidas por qualquer profissional, de qualquer área, quando do exercício de suas
funções.
Em se tratando do professor de Ensino Religioso, a Ética deve, além de evidenciar um
conjunto de princípios que norteiam seu trabalho, ser um ponto de partida na busca do
sucesso dos alunos, aqui considerados cidadãos de direitos e deveres comuns.
Para Aguiar, “a ética enxerga o trabalho como sendo algo que deve ser realizado com
amor e consciência (...) Em nível individual, devemos enxergar no trabalho a maior
fonte de autoridade moral” (2002, s/d, s/p).
Para Savater “o professor deve ser esse fomentador, mostrando ao grupo como
participar de controvérsias e como buscar posições que não tenham dono. Ele pode ser
um exemplo, tendo firmeza em suas posições, mas disposto a debatê-las” (2002, p.
46).
Ora, como contrabalançar prática pedagógica com vivência religiosa? Como inserir e
reafirmar valores morais?
Meksenas, afirma:

Entre professores, o que é certo ou errado; bem ou mal; justo ou injusto,


acaba determinado pela grande moral ou ideologia. Porém e
contraditoriamente, a moralidade do professor pode adquirir formas de maior
independência frente à ideologia, pois aquela pequena moral profissional, ao
originar-se da prática cotidiana do experimentar a profissão, permite
concordar ou discordar com os prepostos da grande moral ou ideologia
(2004, s/d, s/p).

Ideologias à parte, o Ensino Religioso, nas escolas, assumindo-se como laico e não
proselítico, isto é, respeitando o direito que cada indivíduo possui de praticar a sua
religiosidade, deve primar pelo não privilégio de umas religiões em detrimento de outras
e pelo despertar de consciências, reflexões e reconstruções que se mostram urgentes
na atualidade.
Estas são algumas das reflexões com as quais convidamos o leitor a compartilhar no
decorrer deste trabalho.

A ÉTICA PROFISSIONAL E A PRÁTICA PEDAGÓGICA

Assim como o Estatuto da Criança e do Adolescente visa defendê-los,


também os professores, como todas as profissões, deveriam ter um código
de ética, não para ser usado como escudo moral, mas para ser parâmetro
ético de conduta na relação com alunos, escola, comunidade, pais. (LIMA,
2006, p.3).

Na ausência de um código que delimite a metodologia de trabalho do professor de


Ensino Religioso, dentro de sala de aula, na escola, no convívio com seus colegas de
profissão, é impossível compreender a complicada relação entre os valores a serem
discutidos, transformados ou inseridos, entre a moral e as diversidades existentes
nestes contextos e entre as possibilidades ou impedimentos que ocorrem durante o
processo de ensino e aprendizagem.
E, aqui, quando falamos em código, pensamos tão somente na necessidade premente
da instituição de leis que possam reger a complexa rede que cerca as determinações
do ato de ensinar, formar pessoas, instruir, conduzir.
Estas leis devem considerar que o educador primeiro perceba-se como tal, aceite sua
condição de formador de opiniões, novas concepções e releituras de mundo, permita-
se apresentar suas visões, questionando, provocando e alertando os indivíduos quanto
aos seus papéis na construção diária de um mundo melhor e intervenha, a todo
instante, no intuito de cumprir com os objetivos centrais desta disciplina, quais sejam
redimensioná-la, estruturá-la sob o ponto de vista dos anseios e necessidades do
educando enquanto participante e transformador da sociedade na qual está inserido,
propor que se comunguem os mesmos pensamentos em prol do bem da coletividade.
Enquanto esta legislação não existe, e por causa disso, cabe ponderar que a prática
pedagógica utilizada nas aulas de Ensino Religioso deve contemplar suas diretrizes, se
pautando na consciência, capacidade e profissionalismo do professor. Sobre isso, os
Conteúdos Básicos do Ensino Religioso, fases Introdutória até a 4ª série (1995),
destacam:

A seriedade no trabalho, a reflexão conjunta, o interesse em participar do


processo, a criatividade e o esforço de cada professor e de todos os
componentes da comunidade educativa, muito poderão contribuir para a
etapa de trabalho futura. O regente de classe é sem dúvida um dos
principais protagonistas do projeto. Não é possível compreender o papel do
Ensino Religioso, hoje, sem levar em conta uma metodologia fundamentada
em princípios que visam a renovação da prática pedagógica, considerando o
processo global da educação. (Estado de Minas Gerais, 1995, p. 94).

As fases subsequentes enfatizam a necessidade da introdução de conceitos essenciais


para a compreensão da vida como um todo, da complexidade do pensamento do pré-
adolescente e do adolescente, seus anseios, sua curiosidade, capacidade cognitiva e
habilidade para criar situações que expliquem o fenômeno da religiosidade pessoal e
coletiva. As aulas de Ensino Religioso devem abranger as experiências de cada aluno,
a pluralidade existente dentro de sala de aula.
Esta prática deve ser baseada em uma Ética própria da profissão. Fundamentados em
pressupostos que deveriam compor um código, professores de Ensino Religioso devem
procurar se qualificar, se capacitar. A própria inserção desta disciplina na Constituição
Federal já implicou na movimentação destes profissionais ou daqueles que pretendiam
sê-lo. O professor, neste caso, deve ser um mediador, mais do que um interventor.
Os conteúdos a serem trabalhados devem ir além das dimensões básicas.
Segundo Arroyo:
Sabendo que na escola convivem sujeitos totais e não apenas mentes sem
história, sem corpo, sem identidade, também são equacionadas como
conteúdos de docência formar a curiosidade, a paixão de aprender, a
emoção e vontade de conhecer, de indagar a realidade que vivem, sua
condição de classe, raça, gênero, sua idade, corporeidade, memória
coletiva, sua diversidade cultural e social [...] (2002, p.120).

E o mesmo autor complementa:

Nesses tempos não aprendemos apenas a dominar conteúdos,


metodologias, didáticas, aprendemos a ser um determinado modo de ser
professor(a). Aprendemos valores, pensamentos, rituais, símbolos,
aprendemos uma determinada cultura escolar e profissional. (ARROYO,
2002, p. 120)

As referências bibliográficas e virtuais acerca desta área do conhecimento ainda são


escassas, impotentes diante das novas tendências que surgem diuturnamente no
ensino regular e especial.
A ocasião convoca os profissionais interessados a pesquisarem mais, a perceberem no
Ensino Religioso um caminho precioso de recuperação de valores culturais e religiosos
que se perderam ao longo dos tempos, pela relevância e emergência de sua
ressignificação.
A Ética do profissional da educação, mais que uma legislação dentro de um código a
ser criado, deve ser contextualizada sob um conjunto de normas que norteiem os seus
trabalhos, com especificidades próprias da função.
O resgate do prazer de ensinar supõe algo que vá além da construção de parâmetros e
programas. Estes contêm os princípios básicos para o exercício do magistério.
Professores de Ensino Religioso, à exceção de alguns corajosos que se arriscam em
inovações pedagógico-didáticas, ainda estão impregnados de posicionamentos
tradicionais, que se destacam pelo teor carregado de indiferença e desrespeito à
pluralidade religiosa brasileira.
Ainda predomina a ideia de que somente as religiões que fazem parte do Ecumenismo
podem sustentar o que deve ser ensinado na escola, desconsiderando a atual
diversidade observada entre os alunos.
Em sala de aula estudam católicos, protestantes, espíritas, budistas, muçulmanos,
ateus e outros seguimentos, incluindo as ramificações existentes em cada religião.
Como usar a ética no ato de ensinar? O que deve então ser ensinado e aprendido na
aula de Ensino Religioso? É correta a denominação “Ensino Religioso”?

FENOMENOLOGIA RELIGIOSA E ENSINO RELIGIOSO

A compreensão do conceito de Fenomenologia será útil aqui, enquanto fator a ser


considerado na prática do Ensino Religioso, ou outra designação, conforme o
posicionamento tomado na escola em que está inserido, naquilo que deve ser
aprendido e apreendido em sala de aula.

Antes, porém, é necessário conhecer o que é fenômeno.

Fenômeno, s. m. 1. Qualquer manifestação ou aparição material ou


espiritual. 2. Tudo o que pode ser percebido pelos sentidos ou pela
consciência. 3. Fato de natureza moral ou social regido por leis especiais. 4.
Tudo o que é raro e surpreendente.(BARSA, 2001, p. 795).

E na mesma página, encontramos o conceito de Fenomenologia, que é:


O ramo da ciência, o qual trata da descrição e classificação de seus
fenômenos; em Hegel, espécie de autobiografia do espírito, que transita do
conhecimento sensível ao verdadeiro saber; em Husserl, método filosófico
que visa a apreender as essências absolutas das coisas. (BARSA, 2001, p.
795).

Aprofundando um pouco mais, achamos o seguinte conceito:

A fenomenologia, nascida na segunda metade do século XIX, a partir das


análises de Franz Brentano sobre a intencionalidade da consciência
humana, trata de descrever, compreender e interpretar os fenômenos que se
apresentam à percepção.

Coelho complementa:

Ao discutir a questão do sentido do ser, Heidegger demonstra que a


Fenomenologia compreende a verdade com um caráter de provisoriedade,
mutabilidade e relatividade, radicalmente diferente do entendimento da
metafísica que pressupõe a verdade uma, estável e absoluta. Essa é uma
das razões por que dizemos que a Fenomenologia é uma postura ou atitude
(um modo de compreender o mundo) e não uma teoria (modo de explicar).
Na verdade, estamos “treinados” a conhecer o mundo de uma única forma
(modo metafísico), por esta razão, compreender o mundo
fenomenologicamente torna-se uma tarefa complexa).

O que pretendemos com estes conceitos e considerações são conduzir o leitor à


percepção da dimensão religiosa do ser humano.
Todos os indivíduos, homens e mulheres, professores e alunos, recebem ao nascer
uma sucessão de informações acerca de preceitos morais ou valores que vão carregar
em suas vidas pessoais e em sociedade. São ensinamentos que indicarão a que
grupos eles pertencem, qual a cultura que seguem, de que modo vivem e em que
acreditam.
Dentre estas indicações estará a percepção do lhe é sagrado, daquilo que comanda
seus atos, que rege suas intenções, que transcende, que não se pode explicar, em que
se crê indiscriminadamente.
É a ética que deverá orientar o trabalho do professor. Ao aceitar que existem
fenômenos que transcendem as práticas coletivas, ele estará admitindo que, embora
seja necessário e fundamental considerar os valores importantes para o todo, existem
aqueles nos quais não se deve interferir, os individuais, os familiares, culturais e
religiosos.
Para Gaarder:
O respeito pela vida religiosa dos outros, por suas opiniões e seus pontos de
vista, e um pré-requisito para a coexistência humana. Isso não significa que
devemos aceitar tudo como igualmente correto, mas que cada um tem o
direito de ser respeitado em seus pontos de vista, desde que estes não
violem os direitos humanos básicos (2006, p. 17).

OS NOVOS PARADIGMAS EDUCACIONAIS PARA O ENSINO RELIGIOSO.

Se paradigmas são modelos a serem resinificados em busca das inovações


pretendidas pela educação brasileira, nada mais justo que inserir a emergente e
essencial renovação do Ensino Religioso.
A começar pela sua denominação.
Não se ensina religião. Ela é ensinada na família. É esta a responsável pela base
religiosa que acompanhará o indivíduo no decorrer de sua vida. À escola cabe o papel
de construir Projetos Político-Pedagógicos que contenham as diretrizes específicas
desta disciplina, que determinem e apresentem caminhos éticos aos educadores, que
redefinam a prática pedagógica já utilizada.
A ideia de que se deve ensinar religião, aqui como algo que implique em repassar uma
doutrina específica, produziu ao longo dos tempos Programas e Parâmetros
desproporcionais, que não condizem com a realidade que se apresenta no limiar do
terceiro milênio, em pleno século XXI.
Esta nos alerta sobre o que pode e deve ser feito pelo bem comum que não prejudique
o que foi aprendido e construído na vida de cada um, no universo familiar de cada
homem e mulher.
Para Carvalho:
O tesouro está na apropriação e na construção do conhecimento, no
desenvolvimento dos valores espirituais e do raciocínio autônomo, na
internalização e criação de novos significados e concepções de mundo, com
senso crítico, com responsabilidade e solidariedade. Está, também, na
presença de professores mais motivados, porque mais valorizados e,
igualmente, mais competentes para desempenharem seus papéis como
mediadores, criando oportunidades e experiências para a cultura de paz
(2002, p. 48).

Também deve ser tratada diferentemente a questão da tão almejada inclusão. Na


inserção de valores ou na introdução do entendimento sobre o transcendente ou
sagrado, a ética nos impele a pensar que, enquanto educadores, o grande desafio é
apresentar às crianças e adolescentes o que é passivo de ser levado à prática coletiva
que não fira seus princípios e crenças individuais, que impulsione a construção de sua
identidade.
Incontri e Bigheto foram felizes ao afirmarem:

Conhecer o universo religioso, delimitando as próprias crenças, em relação


às crenças diferentes, admitindo que todas elas têm valor intrínseco, e
procurar um diálogo saudável entre as diversas tradições pode fazer o
homem situar-se no mundo de forma muito mais segura e fraterna.

Professores e alunos podem partilhar desta possibilidade. O processo de ensino e


aprendizagem ocorrerá, inegavelmente, na troca constante de saberes. Sobre este
assunto podemos ler Paulo Freire, Emília Ferreiro e outros estudiosos da Educação,
que já dissertaram sobre ele e provaram sua eficácia.
A efetivação do referido processo ocorrerá, assim, naturalmente.
A convivência entre várias religiões, e até mesmo com a falta delas, deve impulsioná-
los a se desfazerem de preconceitos e a analisarem, “guardadas as devidas
proporções”, as diversas manifestações de fé que surgirem ao longo da trajetória que
perpassa currículo e tempo de ensinar e aprender.
É útil salientar a relevância de se formarem professores pesquisadores, aqueles que
procurarão estar sempre em contato com as novidades no campo da disciplina,
interagindo e dialogando com seus pares, nas diversas áreas do conhecimento humano
e facilitando, consequentemente, a aquisição de novos aprendizados e saberes.
O universo proporcionado pela prática da pesquisa condiciona o profissional à revisão
de seus posicionamentos sobre quaisquer que sejam os temas, inclusive o Ensino
Religioso e a ética inserida neste contexto.
Binello e Wachs consideram que:

Um dos caminhos para o educador desenvolver uma prática consciente e


inovadora, que venha de encontro com os desafios enfrentados pelo aluno é
resgatar a cultura e a identidade do grupo de educandos. Para essa prática
se efetivar, uma necessidade do educador é conhecer a realidade do grupo
onde trabalha para então propor atividades de interação, que venham
contribuir para o crescimento dos sujeitos envolvidos no processo (2005, p.
200).

E ainda:
A análise faz refletir sobre a necessidade do educador ter um preparo
adequado para assumir uma função docente nesta área do saber,
considerando que os aspectos a serem explorados no Ensino Religioso
requerem o convívio com a diversidade cultural, a busca pelo transcendente,
o sentido da vida, o diálogo inter religioso e o mistério presente na vida.

Enfim, Ética e profissionalismo devem, fundamentalmente, caminharem juntos, quando


o objeto em questão estiver intimamente ligado ao aprendizado, à aquisição e
reafirmação de valores morais e religiosos e à transformação interna e externa do
homem, enquanto indivíduo social.
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