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Atlântico
REVISTA DE REFLEXÃO CRISTÃ
DIANA KRALL
EDITORIAL
Nas suas mãos, tela, écran de smartphone, etc o
número zero da revista Atlântico. Vivemos num
universo tecnológico e num mundo polarizado. Em
tempos como estes difícil é refectir sem pre conceitos
e livre de amarras ideológicas. Todavia, é essa a
sublime pretensão da "Atlântico". José Cutileiro,
embaixador de letras e ideias Português, relata uma
situação curiosa no seu livro "Inventário". Ora vejam:
"Muitos anos antes de eu pôr os pés na Bélgica,
tive colega belga, embaixador como eu no
Conselho da Europa em Estrasburgo, quase na
idade da reforma, jovial e rubicundo, que um dia, a
propósito de coisa nenhuma me perguntou: Tu sais
ce que c’est que la pollution? E respondeu ele
próprio: Un Wallon dans la Meuse ! Et tu sais ce
que c’est que la solution? Tornou a responder: Tout
les Wallons dans la Meuse!! O homem não era só
belga: era embaixador da Bélgica, e deveria ter por
obrigação defender os interesses de todos os
belgas, mas tal não lhe passava pela cabeça." Só
uma nota explicativa: A Bélgica, embora una
politicamente, está dividida étnicamente em Valões
ao sul e Flamengos ao norte. Detestam-se. E o Meuse é
o rio que nascendo em França corre pela Bélgica
inteira e vai desaguar no Mar do Norte. serve esta
amostra de amenidades para exemplificar o que
actualmente se chama de "mundo polarizado". E
muita gente fica surpresa com este estado de coisas.
No entanto, nada há de novo aqui. Nos tempos
Bíblicos já havia uma velha rivalidade entre Judeus e
os tais de Samaritanos. No nosso torrão Luso à beira-
mar plantado o choque Norte/Sul transfere-se para o
quadrilátero dos futebóis. Há tempos ouvi um insulto
ao árbitro que tinha favorecido o Benfica, por parte
dum Portista: "Ah mouro, se num fôssemos nóis inda
andabeis de lençol à cabeça". Que solução? Que fazer
diante de tanta ferida aberta que por vezes larga pus
e sangue? Como conciliar ideias e atitudes de polos
opostos? A resposta é reflectir. Pensar e ponderar. Ler,
comparar, examinar tudo e reter o bem (1 Tessa 5.21).
Ser Bereano: Ser nobre e receber as Escrituras
examinando tudo para ver se corresponde à verdade
(Actos 17.11). A "Atlântico" é um projecto pessoal. Não
entramos em capelinhas. Seremos frontais e claros nas
nossas análises. Afinal de contas já Shakespeare dizia
que "um homem é um homem e um rato é um rato".
Haja coragem para navegar contra as inverdades
instaladas. Haja peito para dar às balas! E já agora,
imprima esta revista. Desfrute do prazer de ler algo
impresso em papel. Garanto-lhe que o planeta irá
sobreviver. Boas leituras!
NOTAMOTOHP
GRAÇA
Sou do bairro. Nascida e criada na Penha de França, o meu coração, na verdade, sempre
vibrou com a Graça. É ela que guarda as minhas histórias de adolescente, as minhas
A Graça viu-me crescer, fez-me crescer. E hoje, regressei às suas ruas cheias de gente, às
Afinal, tinha saudades dos turistas, dos tuc-tuc, das malas arrastadas pela estreita calçada.
Que falta me fazia o aroma misturado a pão e bolos dos incontáveis cafés!
Tinha saudades de encontrar em cada esquina uma cara conhecida, de demorar 20 minutos a
dar 2 passos.
ANA COELHO
MUITO
ROMÂNTICO
MEU PONTO
PACÍFICO FICA
NO ATLÂNTICO
P A U L O L E M I N S K I
5 FORMAS DOS CRISTÃOS SE APAIXONAREM
PELO SECULARISMO MODERNO
NATASHA CRAIN - IN HTTPS://NATASHACRAIN.COM/BLOG/
LARUTLUC ARREUG
Tem-se falado e fala-se tanto da trágica morte de são agora uma minoria. Isto significa que se todos
George Floyd que quase parece excessivo à sua volta estiverem a saltar para uma espécie de
acrescentar algo à conversa. Não abordar o vagão de banda alegre, há uma boa hipótese de
assunto também me parece bizarro. Muitas não ser um vagão de banda enraizado em valores
pessoas já escreveram sobre como foi trágica e consistentes com uma visão de mundo bíblica.
injusta a morte de Floyd. Este artigo não é para Talvez não seja esse o caso numa dada situação,
desenvolver isso. Se está a ler, presumo que já mas não saberá a menos que dedique algum
esteja de acordo. Muitas pessoas estão também a tempo a avaliar ponderadamente o que se passa e
abordar o quão pouco bíblico é o racismo, e que a determinar se se trata de um comboio em que
os cristãos deveriam trabalhar activamente para o um cristão deve viajar. Se não o fizer, pode
combater. Também não é esse o meu objectivo. involuntariamente estar a abraçar os valores de
Digo isto frontalmente, porque sei que alguns lerão uma visão do mundo em conflicto significativo com
a seguinte reflexão e dirão que não me importo a sua própria visão Cristã.
com a morte de Floyd ou com o problema da Como fazer um melhor trabalho de estar atento a
caso; eles simplesmente não são o foco deste - Leia atentamente as declarações de crença nos
O que eu quero focar são os problemas que vi exemplo, antes de defender a organização Black
com a resposta de muitos cristãos a este momento Lives Matter, não se esqueça de ler a declaração
cultural. Em particular, parece que os cristãos de crenças no seu site (estas vão muito além de
estão a ser arrastados para uma visão secular do uma desejo de igualdade - o seu apoio ao aborto,
mundo à medida que respondem à morte de a intenção "perturbar" a estrutura familiar nuclear,
Floyd...sem sequer se aperceberem. Aqui estão e o apelo a apagar todas as linhas de género são
cinco formas disso acontecer. apenas algumas das muitas preocupações aqui).
1 Estamos a saltar demasiado depressa para endossadores e leia tanto as críticas de 5 estrelas
facto muito importante: a investigação mostra que livro. Assim ficará plenamente informado, sobre a
aqueles empenhados numa cosmovisão bíblica cosmovisão a partir da qual o livro foi escrito.
Há uma enorme ênfase neste momento na é como ele: "Ama o teu próximo como a ti mesmo".
necessidade de ouvir as experiências das pessoas Toda a Lei e os Profetas dependem destes dois
de comunidades marginalizadas, e isso é muito mandamentos. O que Jesus está a dizer é que todos
bom. Por vezes é demasiado fácil viver na os mandamentos devem ser obedecidos dentro
ignorância e não sentir o sentido de urgência da deste contexto. Neste caso, ele está a dizer-nos que
LARUTLUC ARREUG
mudança. Reconheço que a extensão dos as implicações do amor dependen do que significa
protestos (pacíficos) aumentou a minha própria amar primeiro a Deus. É por isso que os cristãos
consciência de quanta tristeza, raiva, e injustiça entram tantas vezes em conflito com a cultura sobre
fervilham sob a nossa superfície cultural. Se não o que é o amor - nós temos objectivos diferentes. Os
tomarmos tempo para ouvir, a nossa ignorância Cristãos (devem) esforçar-se por amar os outros,
preocupante, contudo, quando está implícito que esforça-se por amar de acordo com padrões
ouvir com empatia e compaixão significa 1) que o humanos. Se alguém o acusa de não ser "amoroso",
ouvinte não tem mais lugar na conversa, e 2) a lembre-se que o amor divino é querer para os outros
verdade é ditada pela experiência da pessoa que o que Deus quer para eles - mesmo quando não é
está a ser escutada. Quando a chamada para isso que eles querem para si mesmos.
"Fique quieto (permanentemente) porque não tem 4 Estamos a ser sugados pela Teoria Crítica
o direito de falar sobre um assunto se não se A Teoria Crítica é a ideologia que subjaz a muitas
enquadrar num perfil específico", há um problema das respostas populares à injustiça racial a que
importante de uma visão cristã do mundo. O assistimos hoje, e é uma visão secular que,
aborto, por exemplo, não se torna de repente infelizmente, se está a espalhar para dentro da
moralmente aceitável só porque uma pessoa igreja em proporções chocantes. Esta ideologia vê a
negra partilha a sua experiência de discriminação realidade através duma óptica de poder, dividindo
e injustiça, e depois declara que é opressivo para as pessoas em grupos oprimidos e grupos
a comunidade negra ser pró-vida (algo que ouço opressores, segundo critérios como raça, classe,
acção.
sobre injustiça racial no seu site, onde eles expõe como muitas
"O meu argumento contra Deus foi que o universo parecia tão
cruel e injusto. Mas como é que eu tinha tido esta ideia de justo
que tenha alguma ideia de que é uma linha recta. Com o que
Diana Krall (na capa) deu um concerto escura que habitamos. Deixem-me destacar 3
com as suas lágrimas supriu o ritual de que transita para se reconciliar com Deus.
lavagem negada pelo inóspito anfitrião. As Porque tem saudades de Deus. Roland Barthes
lágrimas são por tudo isso uma expressão da dizia: “Pelas minhas lágimas, conto uma
nossa aventura de vida a desbravar a selva história”. Verdade absoluta!
UMA PINTURA... lisboeta “puto” – no Brasil é ofensivo. Mas “puto” tem uma vasta
Certas pinturas são marcantes. Uma delas é a “Madonna del tradição no folclore Português. Altino do Tojal dedicou-lhes um
Pellegrini” do incomparável Caravaggio. Encontra-se na Basílica livro de contos sublime: “Os Putos”, e Carlos do Carmo tornou
de Santo Agostinho em Roma. É um quadro do mais moderno que famosas as palavras de Ary dos Santos no fado “Os Putos” - Uma
pudermos imaginar. E por várias razões. (1) Pelo escândalo – o fisga que atira, a esperança/E a força de ser, criança/Parecem
perfume escandaloso aparece no que não aparece. Ou seja, o bandos de pardais à solta. Os putos, os putos/Mas quando a
divino que era obrigatório retratar naquela época (1604) fulgura tarde cai/Vai-se a revolta/Sentam-se ao colo do pai/As caricas
na figura da Madonna em ostensiva humanidade. Em admirável brilhando na mão/Um pião na algibeira sem cor. Na verdade, a
equilíbrio de pés descalços, ela parece ensaiar uma dança palavra “puto” vem do latim – putto no singular, e putti no
silenciosa. Nela palpita uma humanidade residual, pura e despida plural – e refere-se aos anjos rubicundos e anafados que
de qualquer traço divino. Se Deus não morreu (à la Nietzsche) habitavam as telas renascentistas e sempre representavam
está pelo menos ausente. Escândalo, portanto! (2) Pelo vândalo – pureza e aproximação a Deus. Voltemos ao “pé de moleque”
Caravaggio pinta uns peregrinos desdentados (veja-se o detalhe (nougat, do outro lado do grande lago). Uma das versões sobre a
da velha), de pés nus e calejados que não são matéria de pintura sua origem diz que o doce existia já nos tempos do Império e
religiosa. O sentido de decorumpós-Trento exigia outra pose e era vendido em tabuleiros pelas Baianas. Era habitual, as
daí os poderes religiosos Romanos terem interditado a obra. Mas Baianas serem alvo de furtos dos moleques que vagueavam
aqueles pés! Sujos, rudes e feios são “obscenos” porque convidam pelas ruas. Conta-se que as Baianas diante da ousadia girtavam:
a uma comunhão com o divino (na figura da Madonna). São pés Pede, moleque! Pede! Na boca do povo virou “pé de moleque”.
“trop humaine”, de uma humanidade despojada. Todo o quadro é Há uma versão mais histórica que faz referência ao calçamento
pintado na técnica “chiaroscuro” do mestre da Vinci e eternizado das ruas de Tiradentes, Ouro Preto e Paraty. Esta dá conta das
por Rembrandt. É notória como a imensa graça da luz e da pedras que os escravos assentavam com os pés. Este tipo de rua
sombra realça os rostos dos peregrinos, mantendo na escuridão é conhecida como pé de moleque e o doce de amendoim por ter
partes inteiras da tela. Como se dois mundo habitassem ali entre aparência semelhante ficou com o mesmo nome.
as trevas e a luz. E a virgem está mais do lado de cá – a dos Nas brumas da minha memória o “pé de moleque” ficará sempre
peregrinos, onde habita a luz. Peregrinos com pés insólitos, ligado às boas recordações que tenho da minha avó Guida. As
doridos e banhados por essa luz. Pés formosos! “Quão formosos viagens com ela para Lisboa eram sempre uma aventura.
são os pés do que anuncia as boas novas, que faz ouvir a paz, do Apanhávamos o autocarro – a carreira como se dizia – até
que anuncia o bem, que faz ouvir a salvação”(Isa. 52.7). Cacilhas e depois de cacilheiro (balsa, na Brasil) até ao Terreiro
do Paço, em Lisboa. Dos dois lados do rio, junto aos barcos,
E DOCES. havia bandos de vendedores ambulantes. Bolas de Berlim,
Os Brasileiros têm nomes pitorescos e coloridos para os seus pastilhas Gorila, torrones, e... nougat – o “pé de moleque”!
doces tradicionais. Existe o “pé de moleque” (nougat para os A avó Guida contava os preciosos tostões. Delícia! Prazer
Portugueses, e não confundir com “torrone”); o “pé de moça”; a imenso! Sempre que aqui no Brasil como “pé de moleque” é o
“teta de nega”; o “olho da sogra”; o “bicho de pé”; a “unha de rosto gentil da minha avó que recordo... e o rio! O Tejo. Rio que
gato”; a “cueca virada”; a “maria-mole”; etc. Nomes alaga uma enseada amena onde Lisboa se refugia. E lembro as
espantosamente criativos! Fiz uma pesquisa relâmpago e palavras singulares de Fernando Namora, no seu livro “Rio
descobri que a maior parte dos nomes surgiu nos tempos Triste”: “Hoje, entardeceu de repente! No barco atravessam o rio.
coloniais. O “pé de moleque” é o meu favorito. Desde logo pelo O Tejo a derramar cintilações afogueadas. A cidade extasiada,
nome. Em Portugal há 1001 nomes para os moleques. Há o muito numa poalha fumarenta sobre o casario. Lisboa a banhar-se no
Alentejano “cachopo”; “catraio”; “gaiato”; “garoto”; “petiz”; antecipado crespúsculo”.
“pirralho”; “fedelho”; “moçoilo”; “gabiru”; “pimpolho”; e o muito E tudo isto “no dia 14 de Novembro de 1964”.
CÂNTICOS Em Espírito e em Verdade I J.P. Thackway
Muito do louvor e adoração que circula pelas Igrejas de hoje, é espúrio. A insistência em entoar "canções"
que veêm do show business Evangélico é entorpecente e chega a ser bizarra. Letras fracas e alheias a
conceitos Bíblicos; ritmos difíceis de acampanhar (a não ser pela banda que se exibe lá na frente); melodia
ausente ou de péssimo gosto musical; etc. O momento de louvor passou a ser um pavor.
ARCAS ACISÚM
1. As leis cerimoniais relacionadas com o culto no Velho Testamento eram típificadoras. Elas expõem
Cristo, as bênçãos do Evangelho, e a adoração espiritual (1 Cor 3:16; Efé 5:19 "fazendo melodia no vosso
coração ao Senhor"; Heb 13:15; 1 Pedro 2:5,9). Com a Sua vinda, o nosso Senhor cumpriu tudo isso. Sendo
tipificadoras e agora cumpridos, não podem ser padrões para o nosso culto. Estas coisas eram judaicas e
"rudimentos fracos e pobress" (Gálatas 4:9). Se as pessoas os exigem, também deveriam ter o
tabernáculo/tempos, sacrifícios de animais, sacerdotes humanos, etc. Mas Deus rasgou o véu do templo de
2. O culto cristão é modelado, não sobre o templo/tabernáculo e a sua parafernália, mas sobre a
sinagoga que acabou por substituir o templo (Sal 74:8). Os princípios do culto da sinagoga já estavam lá,
em Neemias 8,1-12, por exemplo, antecipando a sua contraparte evangélica. Esdras estava num púlpito de
madeira acima de todo o povo, a lei foi lida distintamente, e o povo lamentou e regozijou-se. Temos aí a
oração e o louvor, a leitura da Palavra, o ensino da Palavra, e os seus efeitos sobre a assembleia.
3. Em Lucas 4, o Senhor Jesus entra na sinagoga de Nazaré, recebe o pergaminho de Isaías, do qual
ele lê e ensina. Este é outro vislumbre da adoração da sinagoga. Os principais elementos eram o canto dos
Salmos, a oração, a leitura e o ensino da Palavra. Este é o padrão para o culto do Novo Testamento. Tiago 2:2
é uma confirmação interessante. "Pois se vier à vossa assembleia um homem com um anel de ouro...". A
tradução marginal de "assembleia" é sunagog ē - a palavra grega para sinagoga. A igreja cristã é modelada
na sinagoga judaica e é assim chamada.
Isto ajuda-nos a compreender porque é que o Novo Testamento é virtualmente silencioso acerca da
"mecânica" do culto. É porque os seus princípios, no culto da sinagoga, já estão presentes no Antigo
Testamento e, portanto, não precisam de ser repetidos. Sob o Evangelho da Graça há muito mais ênfase na
interioridade e simplicidade do culto, como previsto pelo nosso Senhor (João 4:24) e perante Ele (Isa 66:2).
Deus meu,
Deus meu;
porque me
desamparaste!?
Texto de Joel Beeke
É meio-dia, e Jesus está na cruz há três horas
repletas de dor. De repente, a escuridão cai sobre o
Calvário e "sobre toda a terra" (v. 45). Por um acto
milagroso de Deus Todo-Poderoso, o meio-dia torna-
se meia-noite. Esta escuridão sobrenatural é um
símbolo do julgamento de Deus sobre o pecado. A
escuridão física assinala uma escuridão mais
profunda e terrível. O Sumo Sacerdote entra no
Santo dos Santos do Gólgota sem amigos ou
inimigos. O Filho de Deus está sozinho na cruz
durante três horas cruciais. Experimentando o peso
total da ira do Seu Pai, Jesus não consegue
permanecer em silêncio. Ele grita: "Meu Deus, meu
Deus, por que me abandonaste?"
Esta frase representa o nadir, o ponto mais baixo, do
sofrimento de Jesus. Aqui Jesus desce à essência do
inferno, o sofrimento mais extremo jamais
experimentado. É uma época tão compacta, tão
infinita, tão horrenda a ponto de ser incompreensível
e quase insustentável. O grito de Jesus não diminui
de forma alguma a Sua divindade. Jesus não deixa de
ser Deus antes, durante, ou depois. O grito de Jesus
não divide a Sua natureza humana da Sua pessoa
divina nem destrói a Trindade. Nem O desliga do
Espírito Santo. Ao Filho falta o conforto do Espírito,
mas Ele não perde a santidade do Espírito. E,
finalmente, não O leva a negar a Sua missão. Tanto o
Pai como o Filho sabiam desde toda a eternidade que
Jesus se tornaria o Cordeiro de Deus que tiraria o
pecado do mundo (Actos 15,18). É impensável que o
Filho de Deus possa questionar o que está a
acontecer ou ficar perplexo quando a presença
amorosa do Seu Pai se vai embora. Jesus está a
expressar a agonia da súplica sem resposta (Sl 22,1-
2). Sem resposta, Jesus sente-se esquecido de Deus.
Ele está também a expressar a agonia de um stress
insuportável. É o tipo de "rugido" mencionado no
Salmo 22: o rugido de uma agonia desesperada sem
rebelião. É o grito infernal proferido quando a fúria
não diluída de Deus invade a alma. com os
É o que perfura o coração, o que perfura o
céu, e o que perfura o inferno. Além disso,
Jesus está a expressar a agonia do pecado
não mitigado. Todos os pecados dos eleitos, e
o inferno que eles merecem para toda a
AIGOLOET
encorajamento, nenhuma voz clama do céu:
"Este é o meu Filho amado". Nenhum anjo é
enviado para O fortalecer; nenhum "bem
desamparaste!?
feito, servo bom e fiel" ressoa nos Seus
ouvidos. As mulheres que O apoiaram estão
em silêncio. Os discípulos, cobardes e
aterrorizados, fugiram. Sentindo-se
deserdado por todos, Jesus suporta o
caminho do sofrimento sozinho e
abandonado na escuridão total. Cada
detalhe deste horrível abandono declara o
(cont)
carácter hediondo do nosso pecado! Mas
porque haveria Deus de ferir o Seu próprio
Filho (Isa. 53,10)? O Pai não é caprichoso,
malicioso, ou meramente didáctico. O
verdadeiro objectivo é penal; é o castigo justo
para o pecado do povo de Cristo. "Porque Ele
O fez pecado por nós, que não conhecíamos
o pecado; para que n’Ele fôssemos feitos
justiça de Deus" (2 Cor. 5:21). Cristo foi feito
pecado por nós, meus queridos. Entre todos
os mistérios da salvação, esta pequena
palavra "para" excede tudo. Esta pequena
palavra ilumina as nossas trevas e une Jesus
Cristo pecadores. Cristo estava a agir em
nome do Seu povo como seu representante
e em seu benefício. Com Jesus como nosso
substituto, a ira de Deus é satisfeita e Deus
pode justificar aqueles que acreditam em
Jesus (Rom. 3,26). O sofrimento penal de
Cristo, portanto, é vicário - Ele sofreu em
nosso nome. Ele não partilhou simplesmente
o nosso desamparo, mas salvou-nos dele. Ele
suportou-o por nós, não connosco. Sois
imunes à condenação (Rm 8,1) e ao anátema
de Deus (Gl 3,13), porque Cristo o suportou
por vós naquela escuridão exterior. O Gólgota
garantiu a nossa imunidade, e não uma mera
simpatia divina. Isto explica as horas de
escuridão e o rugido do escárnio. O povo de
Deus confessa em alta voz: "Porque Emanuel
desceu ao inferno mais baixo para nós, Deus
está connosco na escuridão, sob as trevas,
através das trevas - e nós não somos
consumidos! Como é estupendo o amor de
Deus! De facto, os nossos corações
transbordam de amor de tal forma que
respondemos: "Nós amamo-Lo, porque Ele
nos amou primeiro" (1 João 4:19). Glória ao
Cordeiro, o Autor da nossa Fé!
SADAMLAP E SAMLAP
Nos últimos 2 ou 3 anos desapareceram pessoas de referência. Freitas do Amaral (1941-
2019), político Português de exemplar ética; Sean Connery (1930-2020, actor de
reconhecido mérito. "A Casa da Rússia", parcialmente rodado em Lisboa fica na retina da
memória; Roger Scruton (1944-2020), conservador e amante da beleza; Ravi Zacharias
(1940-2020), apologeta cristão caído em desgraça depois da sua morte...
PALMAS...
para J.I. Packer (1926-2020). Homenagem justa um homem de Deus que escreveu "Knowing God", um
best-seller que vendeu mais de 2 milhões de cópias. Era amante de Jazz e tocou clarinete numa banda
chamada "Bandits"... para 4 escritores basilares na minha experiência: Um Inglês – le Carré; um Chileno
tivessem entrado no paraíso escrevendo. As suas palavras atenuam as arestas da minha vida e nelas
me miro e vejo e revejo. Sem eles este mundo seria um espaço condenado à morte, onde beleza e
graça nunca retornariam. Sem eles haveria mais sobressalto, hesitação e fragilidade. No caso de
Sepúlveda fiquei com a sensação de vida cortada a meio. Todavia, os seus livros ficam cá por inteiro.
PALMADAS...
para Greta Thunberg que agora além de absentista da escola diz palavrões por dá cá aquela palha. É
"ar--" para cá é "f---" para lá, numa cacofonia verde. Bizarro!... para a tibieza com que a Igreja
Católica trata a questão dos padres pedófilos. São milhares. E estão impunes. Entretanto o Papa vai
dizendo que "lamenta o ocorrido". Lamentável... para partidos em democracia que celebram a
revolução Bolchevique de 1917. Há gente que prefere mesmo o Gulag... para a cultura do cancelamento
que virou moda. Se as suas ideias não encaixam no politicamente correcto do modismo actual, então
toda a sua vida é cancelada. Obliterada!... para as centenas de excisões femininas que persistem tanto
em Portugal como em certos países de expressão Portuguesa. Para escapar à justiça o "fanado" é
practicado em crianças cada vez mais novas (por vezes com apenas 3 anos). Não é cultura, é tortura. E
o silêncio das feministas progressistas, neste caso, é violência. Triste, muito triste!