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de Saúde Pública
PROCESSO DE TRABALHO NA ÁREA DA SAÚDE E
O ATO TERAPÊUTICO OCUPACIONAL
Marília Canigliaa
Resumo
Este artigo aborda a questão do Ato Terapêutico Ocupacional que é o fazer do
terapeuta ocupacional no contexto do processo de trabalho na área da saúde. Define-se este
processo de trabalho como o ato ou o fazer para a produção do objeto. Defende-se que o
processo de trabalho na área da saúde deve ser realizado para a produção de um objeto geral — a
saúde humana — e um objeto específico — o objeto das diversas especificidades profissionais.
Argumenta-se que, para fundamentar o Ato Terapêutico Ocupacional, o profissional deve se
empenhar em elucidar melhor seu objeto de trabalho profissional, contudo, com o cuidado para
não defini-lo de forma reducionista, mas integrado e contextualizado.
Abstract
This article involves the question about the Occupational Therapeutic Act, which is
the role of the occupational therapeutist in the context of work process in the health area. It
defines this work process like the act or the role in the way of production of the object. It
advocates that the process of work in the health area must be performed in the way to produce
a general work object: the human health; and a specific object: the object of the many professional
specificities. It contests that to validate the Occupational Therapeutic Act, the professional must
to impel to elucidate better its object of professional work, however, he must take care to doesn’t
define it at reducionist way, but integrate and contextualized one.
Key words: Occupational Therapeutic Act. Health equip. Work process. Work object.
Professional specificity.
a
Terapeuta Ocupacional. Coordenadora do Núcleo de Estudos de Terapia Ocupacional do Centro-Oeste Mineiro (NETOCOM).
Endereço para correspondência: Rua São Paulo, n. 1345, apto. 502, Centro, Divinópolis, MG. CEP: 35500-006.
caniglia@uol.com.br
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Revista Baiana percam as identidades profissionais em favor de um todo diluído e disforme, e nem que o
de Saúde Pública
profissional trabalhe de forma isolada, impedindo a integralidade em saúde.
De acordo com Almeida Filho,9 o objeto Saúde Humana é complexo, ou seja, é
aquele que pode ser apreendido em múltiplos níveis e opera em distintos níveis de realidade. São
múltiplas as variáveis a serem consideradas em cada situação-problema a ser tratada em saúde.
Para Chaves,10 o objeto da saúde só pode ser operado pela inter e transdisciplinaridade devido a
seu caráter multidimensional.
Na área da saúde, então, tem-se um objeto mais geral — a saúde humana — e
os objetos das várias especificidades profissionais. Nesse sentido, Campos11 propõe o conceito
de Campo e de Núcleo, no qual Campo é a região geral e comum dos vários profissionais da
área da saúde e outras (âmbito inter e transdisciplinar), e Núcleo é a região da especificidade,
domínio e competência de cada categoria profissional (âmbito disciplinar). No Campo todos os
profissionais da saúde comungam e promovem, num esforço conjunto, a saúde humana e a
defesa da vida. No Núcleo, cada categoria profissional promove um aspecto dessa saúde geral,
pois nenhum profissional, sozinho, dá conta de tratar o complexo ser biopsicossocial. No
Núcleo, cada profissão é responsável por promover e produzir o objeto de trabalho de sua
especificidade profissional. Assim, na Terapia Ocupacional, o processo de trabalho, a lógica do
raciocínio clínico e o ato terapêutico ocupacional se fazem para a produção do objeto de
trabalho da profissão.
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Revista Baiana encontram num mundo cada vez menor. Será que nomes diferentes têm sido atribuídos ao
de Saúde Pública
mesmo objeto ou fenômeno alvo?
Nesse sentido, percebe-se cada vez mais, uma tentativa dos terapeutas ocupacionais
de aprofundamento e direcionamento rumo ao objeto da Terapia Ocupacional, não de uma forma
reducionista e isolada, mas, ao contrário, de uma forma globalizadora, integralizada e contextualizada,
não se limitando ao enfoque disciplinar, mas oscilando num movimento dinâmico, indo e vindo do
disciplinar para o inter e o transdisciplinar. Anterior às correlações inter e transdisciplinares, porém,
deve-se ter uma compreensão mais profunda da disciplinaridade da Terapia Ocupacional. O Ato
Terapêutico Ocupacional deve ser pensando inicialmente na sua dimensão disciplinar.
De acordo com a Epistemologia Sistêmica e da Complexidade, deve-se aprender a
administrar a parte no todo, o individual no coletivo, o específico no geral, o particular no
contextual, o uno no múltiplo, a identidade na diversidade, o disciplinar no inter e transdisciplinar.
Mas como anda a disciplinaridade da Terapia Ocupacional? Como tem sido definida
essa profissão? Que denominações têm-se dado a seu objeto de trabalho atualmente?
afazeres diários dos indivíduos no âmbito do trabalho, do lazer e das atividades domésticas. A
profissão deve integrar a sua contribuição disciplinar de saúde às propostas do Sistema Único de
Saúde (SUS) com a visão ampliada de saúde coletiva.
No contexto disciplinar há uma tendência em definir a Terapia Ocupacional como a
profissão da área da saúde que promove o fazer qualificado das atividades do indivíduo em seu
cotidiano. Na busca da elucidação do objeto da Terapia Ocupacional observa-se que nas diversas
denominações há uma tendência à fusão das definições das atividades humanas pelo tipo (do
trabalho, do lazer, domésticas) com a caracterização (criativa, produtiva, lúdica, prazerosa).
Produções recentes (Hagedorn17; Pádua e Magalhães18; Lancman19; Caniglia20;
Cavalcante e Galvão21) convergem às seguintes concepções de Terapia Ocupacional: independente
de área de atuação, instituição ou faixa etária atendida, a profissão tem sido colocada tendo como
premissa filosófica a concepção humanizadora, adaptativa e qualitativa do desempenho do
indivíduo em seus afazeres diários, possibilitando o “exercício” do fazer humano saudável. O
Terapeuta Ocupacional presta consultoria, gerencia e administra a vida práxica do indivíduo, ou
seja, aquelas atividades desempenhadas por ele em sua rotina de vida, visando qualificá-las.
REFERÊNCIAS
1. Marx K. Manuscritos econômicos-filosóficos. Lisboa: Edições 70; 1989.
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Revista Baiana 6. Merhy EE. Em busca do tempo perdido: a micropolítica do trabalho vivo em
de Saúde Pública saúde. In: Merhy EE, Onoko R, organizadores. Agir em saúde – um desafio
para o público. São Paulo: Hucitec, 2002. p. 77-112.
15. Morin E. Ciência com consciência. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil; 2000.
19. Lancman S. Saúde, trabalho e Terapia Ocupacional. São Paulo: Roca; 2004.
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