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Instituto Politécnico de Santarém

ESCOLA SUPERIOR DE GESTÃO E TECNOLOGIA DE


SANTARÉM

Licenciatura em Contabilidade e Fiscalidade


2020-2021

Fiscalidade Internacional

A Dupla Tributação Internacional e as


Desigualdades Mundiais

Ana Margarida Gomes de Oliveira


Nº190100268

Santarém
12.06.2021
I
II
Índice

I. Enquadramento Teórico ....................................................................................... 1

¨ Definições ........................................................................................................................ 1

II. Enquadramento Histórico ..................................................................................... 2

III. Análise das Convenções Modelo OCDE e ONU ............................................ 3

¨ Modelo OCDE .................................................................................................................. 3

¨ Modelo ONU ..................................................................................................................... 4

IV. Conclusões.......................................................................................................... 5

V. Referências Bibliográficas.................................................................................... 6

III
I. Enquadramento Teórico

¨ Definições

Sujeito Ativo – entidade de direito público titular do direito de exigir o cumprimento das obrigações
tributárias, quer diretamente quer através de representante. (LGT, Artigo 18º, ponto1)

Sujeito Passivo – pessoa singular ou coletiva, o património ou a organização de facto ou de direito


que, nos termos da lei, está vinculado ao cumprimento da prestação tributária, seja como
contribuinte direto, substituto ou responsável. (LGT, Artigo 18º, ponto 3)

Domicílio Fiscal
Pessoas Singulares – local de residência habitual
Pessoas Coletivas – Local de sede ou direção efetiva ou na falta destas, o seu estabelecimento
estável em Portugal (LGT, Artigo 19º, ponto 1)

Estabelecimento Estável - qualquer instalação fixa através da qual seja exercida uma actividade
de natureza comercial, industrial ou agrícola. Incluem-se na noção de estabelecimento estável,
desde que satisfeitas as condições estipuladas no número anterior: um local de direção, uma
sucursal, um escritório, uma fábrica, uma oficina, minas, estaleiros, plataformas ou navios de
prospeção por mais de 90 dias, locais de fiscalização, com duração superior a seis meses,
atividades de prestações de serviços, desde que tais atividades sejam exercidas por períodos
superiores a 183 dias num período total de 12 meses, com início ou termo no período de tributação
em causa, entre outras, contantes no Artigo 5º do CIRC.

Dupla Tributação – ocorre quando o mesmo facto gerador é tributado duas vezes, baseado em
argumentos distintos, o domicílio fiscal ou a nacionalidade do sujeito passivo por um lado e a sede
da fonte pagadora, por outro, pode ocorrer no mesmo país ou entre países distintos. É
internacional quando ocorre entre países distintos, sendo jurídica quando a mesma pessoa,
singular ou coletiva é tributada pelos mesmos rendimentos, ou económica quando um sócio é
tributado sobre lucros que a respetiva pessoa coletiva já pagou.

Convenções Sobre Dupla Tributação – São acordos bilaterais entre estados para evitar a dupla
tributação. São um importante instrumento de direito tributário internacional.

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II. Enquadramento Histórico

“A Globalização financeira e a desregulamentação

As últimas décadas do séc. XX e as primeiras do séc. XXI foram marcadas por uma profunda
transformação das relações financeiras internacionais. Vários elementos traduzem este fenómeno,
destacando-se uma intensificação de fluxos financeiros, a abertura dos mercados e a criação de
novos e cada vez mais sofisticados instrumentos financeiros.
A mobilidade de capitais à escala internacional deu origem à expressão “globalização financeira”,
traduzindo a ideia de um mercado financeiro mundial e globalizado.
É usual opor a economia real aos fluxos financeiros especulativos, associados a uma ideia de
economia fictícia ou imaterial. Contudo, importa reconhecer que a criação de diversos meios
financeiros, incluindo a moeda sob todas as suas formas, perde-se na noite dos tempos, e esteve
durante séculos ao serviço da economia real, funcionando como meio facilitador de trocas
comerciais e do investimento. O sistema financeiro desenvolve-se em vários períodos da nossa
história, primeiro, em Itália, nos séculos XIV a XVI, depois, nos Países Baixos, no século XVIII e,
mais tarde, com a revolução industrial.
Mas o que caracteriza a atual globalização financeira não é tanto a sofisticação dos instrumentos
financeiros e a sua circulação à escala global.
O que caracteriza a globalização financeira e marca uma fase qualitativamente nova e
relativamente ao capitalismo do século XIX e princípios do século XX é o progressivo desligamento
dos fluxos financeiros da esfera produtiva. O crescimento do crédito, a possibilidade de transformar
a dívida em títulos comercializáveis no mercado de obrigações e o desenvolvimento das
sociedades por ações marcam o início de uma era nova, a era da abstração do setor financeiro
relativamente ao setor produtivo, ...”
(Viegas, Miguel – 2018, A Fraude e a Evasão Fiscal Na União Europeia: Do “LuxLeaks” aos
“Panamá Papers”, 1ª edição, Vida Económica, p.17)

A abertura de mercados e fronteiras e a crescente globalização, criaram uma interdependência


económica entre estados ricos em matérias primas e/ou força de trabalho e estados ricos em
recursos financeiros e com capacidade de investimento.
Sendo que as relações comerciais envolvem ordenamentos jurídicos diversos, que, dependendo do
critério escolhido, seja o princípio da universalidade ou o princípio da territorialidade, disputam
entre si os tributos decorrentes das relações comerciais subjacentes.
Não obstante os instrumentos unilaterais existentes na legislação tributária de cada estado para
ultrapassar eventuais situações de dupla tributação, os acordos, tratados ou convenções bilaterais
têm demonstrado ser instrumentos bastante consensuais no combate a este problema, que
compromete a competitividade e a atratividade dos estados para fixar investimento nos seus
territórios, dando confiança fiscal aos investidores.
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III. Análise das Convenções Modelo OCDE e ONU

¨ Modelo OCDE

A Organização para a Cooperação e desenvolvimento Económico, adiante designada por OCDE,


foi fundada em 1961 como um instrumento de cooperação internacional para fomentar e estimular
o progresso económico e o progresso mundiais e tem a sua sede em Paris, França.
É composta por 38 membros, Áustria, Bélgica, Canadá, Dinamarca, França, Alemanha, Grécia,
Islândia, Irlanda, Itália, Luxemburgo, Países Baixos, Noruega, Portugal, Espanha, Suécia, Suíça,
Turquia, Reino Unido, Japão, Finlândia, Austrália, Nova Zelândia, Chile, Colômbia, Coreia do Sul,
Costa Rica, Eslováquia, Eslovénia, Estónia, Hungria, Israel, Letónia, Lituânia, México, Polónia,
República Checa e Estados Unidos da América.

No seu conjunto, é composto maioritariamente por países de alto índice de desenvolvimento


humano, estando 21 deles acima da média do seu conjunto e 17 abaixo, com um coeficiente de
variação da média de apenas 4,8%, significando que a média deste índice é bastante
representativa do seu conjunto.

A Convenção Modelo OCDE de 1963 é uma das mais utilizadas e padronizadas, comumente
utilizada entre os membros da sua comunidade e eventualmente com terceiros, podendo algumas
das suas normas ser modificadas, desde que de comum acordo entre as partes.

De uma forma geral, esta Convenção estabelece como princípio o da universalidade, tendo como
elementos de conexão a residência e a nacionalidade, sendo por isso muito mais vantajosa para os
países exportadores de capital, ou seja, os grandes grupos económicos com sede estabelecida nos
países desenvolvidos usam o tecido produtivo dos países em vias de desenvolvimento, com custos
gerais de produção e de mão de obra muito mais baixos, aproveitando, por um lado as vantagens
de deslocalização da produção para estados com custos muito mais baixos de produção, mas sem
alocar a esses estados os benefícios que deveriam advir desse investimento, capital esse que
retorna aos países de origem, mantendo e agravando o fosso nos índices de desenvolvimento
humano (IDH) entre estados contratantes, fundamental para a manutenção das suas margens de
lucro.

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¨ Modelo ONU

A criação da ONU, em 1946, no pós - II Guerra Mundial, como sucessora da Sociedade das
Nações, com 51 membros, e com a firme intenção de impedir novos conflitos à escala mundial
como o anterior, tem hoje 193 membros, sede em Nova Iorque, EUA, e prossegue os objetivos de
manter a paz e a segurança mundiais, promover os direitos humanos e auxiliar no desenvolvimento
e progressos económicos, proteger o meio ambiente e prover ajuda humanitária em casos de fome,
desastres naturais e conflitos armados.
Só em 1979 surge um modelo de acordo, saído de um grupo de trabalho criado por decisão do
Comité Económico e Social da ONU, composto por peritos em dupla tributação internacional, que
viria a servir de base para a Convenção Modelo da ONU.
Apesar das semelhanças entre os modelos das convenções da ONU e da OCDE, quer na
estrutura, quer no conteúdo, elas divergem fundamentalmente no critério assumido como
preponderante, o princípio que define a tributação, que no caso da Convenção Modelo da ONU é
do princípio da territorialidade, ou seja, o da fonte pagadora.
Esta diferença basilar procura regular a relação entre os países em situações económicas mais
desfavorecidas, importadores de capital e fornecedores de matéria prima e/ou de mão de obra a
custos muitas vezes significativamente mais baixos, e os países mais desenvolvidos, ricos em
recursos financeiros e capacidade de investimento.
Esta diferença é conseguida através de uma ampliação do conceito de estabelecimento estável,
que obriga a que a tributação seja feita no estado fonte pagadora, evidente na elaboração do seu
Artigo 5º - Estabelecimento Estável.

Junto com a Convenção Modelo, a ONU disponibiliza um manual de negociação de convenções


bilaterais, que divide o processo em 7 etapas bem detalhadas que pretende facilitar o processo dos
negociadores das nações membros da ONU, a partir de um roteiro prévio, de forma a que as
discussões se limitem aos interesses de cada estado no processo em curso.

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IV. Conclusões

Apesar das semelhanças, e de aparentemente o Modelo convenção da ONU ser mais benéfico no
sentido de ser um bom instrumento para equilibrar as relações entre países economicamente
desiguais, o modelo que prevalece é o da OCDE.
Não é benéfico ao grande capital este equilíbrio mundial, que obviamente reduziria margens de
lucro, aumentando custos de produção e outros gastos, e em relações de desigualdade são os que
detém maior poder, económico e financeiro, que ditam as regras do jogo.
A dupla tributação não interessa aos grupos económicos, aos estados e à economia em geral, mas
aliar o seu combate a uma maior e mais justa distribuição da riqueza mundial e ao equilíbrio entre
países desenvolvidos e países em desenvolvimento também não é um interesse comum dos
estados à escala global, uma vez que as economias em desenvolvimento sustentam uma grande
parte dos lucros das economias desenvolvidas, não havendo, por isso, vontade política,
económica, nem financeira, para mudar o estado da arte.

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V. Referências Bibliográficas

Silva, Getúlio Borges – Dupla Tributação internacional – Instituto Brasiliense de Direito Público,
https://repositorio.idp.edu.br/bitstream/123456789/354/1/Monografia_Getulio%20Borges%20da%20
Silva.pdf, consultado a 10.6.21;

Viegas, Miguel – 2018, A Fraude e a Evasão Fiscal Na União Europeia: Do “LuxLeaks” aos
“Panamá Papers”, 1ª edição, Vida Económica, p.17;

https://www.oecd.org/ctp/exchange-of-tax-information/POR-Amended-Convention.pdf
Consultado em junho 2021;

https://info.portaldasfinancas.gov.pt/pt/informacao_fiscal/convencoes_evitar_dupla_tributacao/conv
encoes_tabelas_doclib/Documents/CDT_Modelo_OCDE.pdf, consultado em junho 2021;

https://www.un.org/esa/ffd/wp-content/uploads/2018/05/MDT_2017.pdf, consultado em junho de


2021;

https://pt.wikipedia.org/wiki/Organiza%C3%A7%C3%A3o_para_a_Coopera%C3%A7%C3%A3o_e_
Desenvolvimento_Econ%C3%B4mico, consultado em junho 2021;

https://pt.wikipedia.org/wiki/Organiza%C3%A7%C3%A3o_das_Na%C3%A7%C3%B5es_Unidas,
consultado em junho 2021.

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