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Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” UNESP

Instituto de Geociências e Ciências Exatas - Câmpus Rio Claro

RELATÓRIO DE CAMPO - SOROCABA E SÃO PAULO

EM CONJUNTO: GEOGRAFIA URBANA E GEOGRAFIA ECONÔMICA

Ana Beatriz de Lima Watanabe


Marina Zumpano Camargo
Renata Felício Boitar P. Dias
Thayná Bielça Henrique

Rio Claro/2015
OBJETIVOS

O seguinte relatório tem por objetivo apresentar as regiões de Sorocaba e São


Paulo observadas em excursões didáticas realizadas pelas disciplinas de Geografia
Econômica e Geografia Urbana. Em relação à Sorocaba, apresentaremos além de uma
introdução geral, a história da cidade, as questões sociais enfrentadas por ela, os
problemas econômicos, relacionando-os com os locais vistos. Levando sempre em
consideração alguns dos termos utilizados em sala de aula, como o meio técnico
científico informacional.

Em São Paulo, a visita foi feita em alguns pontos específicos como a


Comunidade do Jardim Maria Sampaio, onde nos foi apresentado um exemplo concreto
da economia solidária e de que maneira ela se dá dentro da própria comunidade. Outro
ponto importante da visita foi o SESC Belenzinho, localizado na Zona Leste da cidade,
dando-nos a oportunidade de conhecer tanto a história local, como do prédio em si. Por
fim, observamos alguns brownfields refuncionalizados, ligando-os a um panorama geral
da área em que estávamos.
Excursão didática – Sorocaba (12/03/2015)

Sorocaba, cidade média de 615 mil habitantes que dá nome a uma região
metropolitana composta por 26 municípios que foi instaurada devido ao maior
recebimento de incentivos e ao planejamento em conjunto com outras cidades. A cidade
apresenta a maior quilometragem de ciclovia do estado de São Paulo e possui oito
shoppings.

A primeira área, da qual tivemos conhecimento, foi a Zona Leste da cidade,


onde o Felipe apresentou nosso itinerário e os principais pontos a serem observados
neles. Lá a ocupação é mais recente em meio a um grande crescimento urbano na
cidade, foram instalados novos condomínios e há a atividade de revende de automóveis.
Devido ao processo vigente de crescimento horizontal da cidade, para este lado dela não
há mais para onde crescer. Cada bairro exibe características diferentes no seu interior.
A Zona Sul é elitizada e detém os melhores indicadores econômicos enquanto a Zona
Norte, na periferia de Sorocaba, contém 1/3 da população.

Ponto 1 - Bairro Campolim (Zona Sul)

Nossa primeira visita foi a esse bairro nobre da cidade, especificamente, o


parque do bairro que tem o mesmo nome, datado da década de 90. É o bairro que mais
se aproxima da capital paulista. O parklet se localiza em uma via (ocupação espaço
público). Hoje é proibido estacionar das 0h às 5h no entorno depois de reclamações dos
moradores alegando violência e barulho porque vinham muitas pessoas trazendo
comida. Isso é privatização do espaço público. O parque é muito bem cuidado, mas
percebeu-se a presença mínima de pessoas usufruindo do mesmo. Algumas poucas
praticando corrida, com bicicletas e passeando com cães. Todas aparentando ser
moradores do bairro.

Nesse bairro existe uma verticalidade maior do que a do próprio centro de


Sorocaba. Há um policiamento bem forte. Os bares só podem ficar abertos até 0h.

Existe o repasse de dinheiro à região metropolitana, onde as cidades apresentam


interrelações e a migração pendular é comum. Sorocaba é muito beneficiada, pois há 20
anos está com o PSDB, subentende-se então, um favorecimento propiciado pelo
governo de São Paulo.

Ponto 2 – Avenida Antônio Carlos Comitre

De frente a essa avenida, uma da vias de acesso ao parque, tivemos ciência das
relações sociais desiguais e sua materialização no espaço. Há grande quantidade de
serviços; à nossa vista, o colégio Anglo. A área é mais verticalizada por conta do preço
da terra. Antes, o bairro era formado por chácaras. A cidade exige mais centralidades
para atender a demanda populacional, portanto, não comporta apenas um centro.

Sorocaba apresenta localização estratégica (proximidade com a capital – 90 km)


e muitas rodovias. Há uma falta de rugosidade espacial que permite perceber a
temporalidade. Sua história é marcada pelo tropeirismo que deu lugar à indústria têxtil
com a desconcentração industrial na década de 70 que atingiu o interior, especialmente
Sorocaba. Ela então recebeu muitas indústrias, inclusive sendo uma das primeiras
cidades da região a recebê-las.

Ponto 3 – Shopping Iguatemi/Esplanada

O shopping está na divisa de Sorocoba e Votorantim. O lado Esplanada possui


lojas mais locais. A arrecadação era dividida entre os dois municípios. Devido à extensa
urbanização, houve o processo de conurbação, típico de metropolização. Se a indústria
de Votorantim fosse retirada, a cidade “morreria”, uma vez que ela gira em torno disso.

Ponto percorrido e explanado dentro do ônibus:

- Parque industrial do Éden: Sua criação data de 1966, anteriormente ele compreendia
uma área rural. É próximo a rodovias e os setores secundários e terciários ganham
destaque, a indústria de base é a metalúrgica. Passou por um processo de emancipação
para se tornar município e captar recursos, pois a população precisava se deslocar para
conseguir ter acesso a serviços na década de 1980-1990. Tendo o poder público
abandonado essa área, houve mesmo lutas com o intuito de separá-la de Sorocaba.

Ponto 4: Conjunto habitacional Habiteto (Zona Norte)

Em 1997, ele foi construído pela prefeitura da cidade em parceria com o CDHU
com destino às pessoas que moravam em favelas. O poder público compra a terra o
CDHU constrói, contudo, este não concordou devido às más condições. Ocorreu pois,
uma segregação de pessoas, transferindo os barracos, quando estas moravam mais
próximas da cidade. A prefeitura só disponibilizou água e energia e só em 2004 houve o
asfaltamento. Há associações dentro do bairro que reivindicam melhores condições. As
saídas dão para uma mesma avenida com o objetivo de controle social. O bairro é muito
violento, possuindo pontos de tráfico de drogas. Em 2014, o local passou por uma
ocupação de mais de um mês pela polícia militar devido a bocas de fumo, roubo, etc.

Terrenos na área estão sofrendo especulação atual e casas já estão sendo


alugadas.

Pontos explanados dentro do ônibus:

- Parque tecnológico: espaço luminoso em meio a um espaço opaco, representando um


circuito superior. Conhecimento, pesquisa, informação, presença de universidades em
um isolamento espacial. É a expressão do meio técnico-científico-informacional.

- Toyota: A fábrica possui 1600 trabalhadores e data de 2008, os engenheiros são os


japoneses, ela conta com outras indústrias fornecedoras de matéria e responde por 60%
da fabricação de Etios do país. Um trabalhador detém oito trabalhadores indiretos. Lá os
fixos se instalam primeiro. A cidade de Sorocaba foi escolhida pelos incentivos
fornecidos pelo governo.
Excursão didática - São Paulo (18/03/2015)

Ponto 1 – Agência Solano Trindade

Visitamos a comunidade do Jardim Maria Sampaio localizada na Zona Sul de


São Paulo, onde se encontra a Agência Comunitária Solano Trindade em que possuem
um sistema de economia solidária. Fomos acompanhados por pessoas que gerenciamas
finanças que nos mostraram o espaço da agência física, onde os moradores da
comunidade tem acesso livre para além de fazer empréstimos e acordos, também
constitui um espaço de vivência com várias atividades culturais e sociais, diferente das
estruturas dos bancos financeiros convencionais. No mesmo espaço há vários
ambientes, logo na entrada nos deparamos com uma sala de aula onde ocorre o processo
de alfabetização de jovens e adultos, outros espaços são destinados para vendas de
material artístico de artistas da comunidade, além de um espaço onde ocorre atividades
variadas.

A Agência Solano Trindade possui dois tipos de moedas: Solano e Sampaio. A


moeda Solano é um sistema de troca por serviços, enquanto a moeda Sampaio é um
investimento feito com dinheiro que se aparenta com o sistema bancário convencional;
com títulos de capitalização e carteira de fidelidade, porém com preços para
investimentos iniciais mais acessíveis a comunidade.
O projeto do Banco Comunitário Sampaio iniciou-se em 2009, com o propósito
de criar uma consciência política e reforçar a ideia da importância do desenvolvimento
local estimulando o consumo na comunidade pelos próprios moradores. Com isso, seus
organizadores começaram a se inspirar em outros bancos de econômica solidária
empregados no Brasil, contando inicialmente a troca de experiência do Banco
Comunitário Palmas (Fortaleza – CE). O banco iniciou seu projeto com apenas R$
2.000,00 e hoje possui uma circulação de R$ 200.000,00 e R$ 30.000,00 fixos
atendendo cerca de 285 pessoas. O sistema de aprovação de crédito é baseado em uma
relação de confiança, em que o banco deve primeiramente contatar a própria
comunidade para conhecer seus futuros clientes, depois fazem uma visita na moradia
para analisar as verdadeiras necessidades dos empréstimos conforme os serviços
oferecidos, em que podemos citar: Crédito para consumo, Crédito produtivo, Crédito
“puxadinho”, Crédito Cultural, etc. Outro aspecto interessante que diferencias dos
bancos convencionais é que o Banco Comunitário Sampaio não possui horário
comercial, já que a inteiração entre a comunidade é constante, livre de possuir
formalidades sociais e com juros baixos de 2% na dívida total.

Ao longo da conversa e visitação, foi exposto também a importância da União


Popular de Mulheres de Campo Limpo e Adjacências, tendo uma roda de conversa com
Dona Neide, uma das percursoras da ONG, em que foi exposto um breve histórico de
resistência e atividades que hoje estão sendo realizadas. Fundada em 1987, a União
Popular de Mulheres foi se constituindo em meio a movimentos de luta contra carestia
no período de ditadura militar, em que se uniram primeiramente devido a insatisfação de
péssimas condições das escolas públicas instaladas na comunidade e começaram a se
organizar construindo o MOVA (Movimentação de Alfabetização de Jovens e Adultos)
com apoio de Paulo Freire no período em que este foi Secretário Cultural. Além disso,
havia uma preocupação com as condições em que as mulheres da comunidade se
encontravam, e assim, houve uma união entre as mesmas com intuito de expor suas
vivências, tornando assim um mecanismo de luta contra as opressões de gênero ali
presentes. Posteriormente foi formado o Núcleo de Defesa e Convivência da Mulher,
em que atende mais de 200 mulheres vítimas de violência doméstica, violência policial
e etc, com acompanhamento de profissional de várias áreas se atentando a saúde física e
psicológica das mulheres atendidas. Além disso, há uma preocupação com a condição
econômica das mesmas, oferecendo várias oficinas para geração de renda, onde as
mulheres aprendem a fazer pães, artesanatos e atividades variadas, possibilitando assim
o empoderamento feminino e a saída do estado de dependência.

Além disso, há uma grande valorização cultural tendo vínculos com vários
coletivos e grupos de arte em que há um incentivo do próprio banco para a divulgação
dos mesmos, contando com mecanismos e atividades que fomentam e resignificam as
culturas populares ali presentes: como georreferenciamento cultural, rede de proteção à
defesa da diversidade e o Festival Percurso.

Ponto 2 – Sesc Belenzinho

Localizado no antigo bairro fabril Belenzinho, Zona Leste de São Paulo, o SESC
foi instalado no prédio da antiga tecelagem Moinho Santista S.A. Visitamos juntos com
os professores a parte externa e interna do Sesc com acompanhamento de um dos
funcionários e da Dr. Amanda Ramalho Vasques Lourenço. Inicialmente assistimos um
filme que relata a história desde a formação do bairro fabril do Belenzinho até a
construção do atual Sesc, e depois, ao longo da visitação conhecemos boa parte das
atividades e serviços oferecidos.

Em 1998, foi inaugurada a unidade provisória do Sesc Belenzinho ainda


utilizando a estrutura do prédio antigo para realização principalmente de várias peças de
teatro contemporâneo, que muitas vezes quebravam partes das estruturas que não seriam
utilizadas na reforma do prédio, promovendo assim, grandes espetáculos diferenciados.
Com o passar dos anos o Sesc Belenzinho acabou se tornando o principal ponto de
entretenimento para os moradores locais e também para o resto da população da cidade
e Grande São Paulo. No ano de 2006, o Sesc foi fechado para reformas da estrutura
física, havendo certa desaprovação de algumas pessoas que vivem no bairro, pois
tinham o receio da perda da significação histórica e sentimental enraizada
principalmente nos moradores mais antigos que presenciaram todo processo de
construção do bairro até os dias atuais, porém em 4 de dezembro de 2010, quando o
prédio foi reinaugurado, com a estrutura reformada e inteiramente refuncionalizada
houve grande sentimento de satisfação pelos moradores, em que hoje, fazem grande
proveito do espaço.

O Sesc Belenzinho (Serviço Social de Comércio) tem como público alvo os


trabalhadores que exercem cargos nas áreas comerciais ou prestação de serviços,
algumas atividades são abertas para população geral, porém a utilização de alguns
espaços, como piscinas, são apenas uso dos sócios aliados ao Sesc, com o chamado
título de benefício. O custo de acesso à esses espaços varia de acordo com a categoria
do cargo do trabalhador, em que o mais baixo custo está para o setor do comércio.

Hoje o Sesc, é considerado um patrimônio arquitetônico industrial de São Paulo,


em que se pode observar ainda resquícios do passado na paisagem, como as linhas
férreas que conduziam a organização das fábricas, em contraste com processo de
verticalização que se faz presente no bairro. Com a instalação do Sesc no bairro do
Belenzinho, houve uma mudança estrutural na articulação, em que se pode observar um
grande crescimento de áreas de serviços e residenciais, influenciado talvez pelo grande
número de pessoas que visitam o bairro por conta do Sesc (8000 à 9000 pessoas, em
média, aos finais de semana), o que se mostra positivo; porém é importante ressaltar que
essa mudança estrutural da urbanização no bairro provocou ao longo dos anos o
processo de gentrificação; construindo assim espaços elitizados e gerando certa
segregação socioespacial, já que nem toda população tem acesso à esses serviços e
atividades oferecidas pelo bairro e pelo Sesc Belenzinho.

Ponto 3 - Visualização das Refuncionalizações de Brownfields através do ônibus

Fizemos um trajeto por partes do bairro Mooca e Brás, Zona Leste de São Paulo,
utilizando como meio de transporte o próprio ônibus. Na tentativa de observarmos
alguns brownfields que foram refuncionalizados contamos com o auxilio da Dr.Amanda
Ramalho Vasques Lourenço que nos expôs um panorama geral da área. Ao longo do
percurso foram observados: Oficinas da Sociedade Anônima Casa Vanorden onde
apesar do processo de refuncionalização ainda possui galpões tombados sem uso e
alguns demolidos, Cotonifício Crespi onde houve uma reconversão do topo em no
hipermercado Extra, Companhia Antártica Paulista e Grandes Moinhos Gamba,
tombado em 2007, e um pouco do conjunto histórico do grupo industrial de tecelagem
“Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo” no Brás.
CONCLUSÃO

Ao fim dos trabalhos de campo, os quais foram essenciais para perceber na


prática o conteúdo visto em sala de aula, tais como: o processo de formação das cidades,
a segregação sócio-espacial presente e marcante na aglomeração urbana, o processo de
verticalização, a construção de shopping centers, centros de tecnologia, a economia
solidária e os brownfields.

Junto aos professores pudemos analisar e perceber como esses fatores ocorrem e
entender todos os processos, as formas e funções presentes no espaço. Isso é de grande
importância para o geógrafo, uma vez que consiste no trabalho de interpretação da
paisagem urbana, para compreender o passado e enxergar as possibilidades de
transformações no futuro.

Aprender a formação dos temas vistos acima é também ver a materialização das
relações sociais no espaço, e conhecer como o capital se apropria das localizações para
se reproduzir, sempre visando o lucro e meios os quais consideram vantajosos.

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