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Práticas Contábeis I

Régis Garcia
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


Garcia, Régis
G216p Práticas contábeis I / Régis Garcia.
Londrina : Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2020.
208 p.

ISBN 978-85-522-1657-5

1. Constituição de PJ. 2. Registro Contábeis. 3. Fatos


Operacionais das PJs. 4. Sistemas de Informação Contábeis.
I. Título.
CDD 657.4
Jorge Eduardo de Almeida CRB-8/8753

2020
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza
CEP: 86041-100 — Londrina — PR
e-mail: editora.educacional@kroton.com.br
Homepage: http://www.kroton.com.br/
Sumário

Unidade 1
Processo de constituição das Pessoas Jurídicas (PJ)��������������������������������� 7
Seção 1
Conceitos e características das Pessoas Jurídicas��������������������������� 9
Seção 2
Instrumentos de constituição e registro das Pessoas Jurídicas���27
Seção 3
Órgãos e processo de registro das Pessoas Jurídicas��������������������41

Unidade 2
Registros contábeis dos fatos iniciais das PJs�������������������������������������������60
Seção 1
Livros contábeis e acessórios�����������������������������������������������������������62
Seção 2
Implicação patrimonial dos fatos contábeis����������������������������������77
Seção 3
Estrutura patrimonial e de resultado no plano de contas�����������93

Unidade 3
Registro e evidenciação dos fatos operacionais das PJs���������������������� 113
Seção 1
Compras e vendas no comércio, serviço
e indústria��������������������������������������������������������������������������������������� 114
Seção 2
Principais custos e despesas��������������������������������������������������������� 130
Seção 3
Operações com ativos e passivos não circulantes��������������������� 146

Unidade 4
Sistemas de informações contábeis e gerenciais����������������������������������� 164
Seção 1
Qualidade da informação contábil���������������������������������������������� 166
Seção 2
Sistemas de informações contábeis – SIC���������������������������������� 179
Seção 3
Sistemas de Informações Gerenciais – SIG�������������������������������� 194
Palavras do autor

C
aro aluno, temos a satisfação de apresentar a você a disciplina Práticas
Contábeis I, que trata de conteúdos fundamentais para o exercício
da contabilidade.
Você terá a oportunidade de conhecer importantes aspectos relacio-
nados à constituição, registro e operação das pessoas jurídicas, aprendendo
e praticando técnicas contábeis de acordo com as Normas Brasileiras de
Contabilidade vigentes.
Verá que para orientar os futuros empreendedores é necessário conhecer
e entender, sob a perspectiva contábil, os processos de constituição das
pessoas jurídicas de diferentes tipos de entidades, afinal, nós devemos estar
preparados para atender a todas elas.
Perceberá que depois de constituída, a entidade inicia as suas ativi-
dades, portanto, você precisa conhecer e desenvolver todo processo de
registro contábil dos fatos iniciais das PJ, reconhecendo os seus impactos
sobre a situação econômica e financeira da entidade. É a partir desses regis-
tros iniciais que acompanhamos a evolução patrimonial das organizações,
independentemente de seu tipo jurídico, desde seus primeiros passos.
Verá também que, já em operação, as organizações executam atividades
rotineiras que precisam ser registradas e acompanhadas pela contabili-
dade. É nesse sentido que você precisa conhecer e desenvolver os registros e
evidenciação das operações, conhecendo quais os principais fatos contábeis
ocorridos após o início da atividade das entidades.
Dentro desse contexto, saiba que o exercício da contabilidade pressupõe
o conhecimento profundo das normas e regulamentos que impactam a
profissão, e é por isso que você deve conhecer e aplicar as normas técnicas
contábeis de aplicação geral – NBC – TG. Essas normas tratam de assuntos
específicos que são a base para o exercício da contabilidade.
É para atender a esses objetivos que nosso livro está dividido em
quatro unidades.
Na primeira unidade trataremos do processo de constituição das pessoas
jurídicas (PJ), na qual veremos documentos e processos fundamentais para a
constituição das entidades.
Na unidade dois, faremos os registros contábeis dos fatos iniciais das
pessoas jurídicas, ou seja, registraremos os fatos que ocorrem logo após a sua
constituição de forma que, por meio das demonstrações contábeis, acompa-
nhemos a situação econômico-financeira das entidades.
Na terceira unidade registraremos e evidenciaremos os fatos operacio-
nais, ou seja, acompanharemos a situação patrimonial das entidades já em
plena atividade.
Na quarta e última unidade, teremos a oportunidade de conhecer algumas
das principais normas que regulam a atividade contábil. Conheceremos as
Normas Técnicas de Aplicação Geral – NBC – TG e exemplificaremos a
sua aplicação.
Bem, nosso livro proporcionará a você muitos conteúdos de suma
importância para a sua formação, portanto, é fundamental que aproveite
esse material por meio da sua leitura e da prática dos exercícios e atividades
propostas. Não deixe de conferir as sugestões de aprofundamento apontadas
no decorrer dos textos do livro.
O autoestudo é uma das formas mais eficazes para o aprendizado de
qualquer conteúdo, portanto, organize-se e aproveite bem o conteúdo que
está à sua disposição.
Bons estudos!
Unidade 1
Regis Garcia

Processo de constituição das Pessoas Jurídicas (PJ)

Convite ao estudo
O Brasil é considerado um dos países mais empreendedores do mundo.

Embora o Brasil esteja em terceiro lugar no ranking mundial


de empreendedorismo, com mais de 16 milhões de empre-
endimentos ativos, representando mais de 90% dos negócios
existentes no país […] (VALENTINA; CORREA, 2019, p. 2).

O empreendedorismo se intensifica com o aumento do desemprego em


momentos de crise econômica e, noutro sentido, também em momentos de
pujança econômica. Conforme Aidar (2007), muitos negócios abertos no
Brasil apresentam características de autoemprego.
Tanto durante as crises como em momentos de crescimento econômico,
surgem demandas para a abertura e o acompanhamento de novos empreen-
dimentos. Por isso, nessa unidade estaremos tratando do processo de consti-
tuição das pessoas jurídicas.
O conteúdo da unidade permitirá a você conhecer e entender, sob a
perspectiva contábil, os processos de constituição das pessoas jurídicas dos
diferentes tipos de entidades e finalidades. Conhecerá as características
de cada tipo específico de pessoa jurídica, os documentos constitutivos
adequados e os processos de registro nos respectivos órgãos de fiscalização.
Esse aprendizado é a base para exercer a atividade contábil de constituição
de PJ e, dessa forma, contribuir para a eficácia dos futuros empreendimentos.
Nesta unidade teremos como contexto de aprendizagem situações
envolvem: orientação aos empresários, a constituição e o acompanhamento
da nova empresa.
Nesse sentido, considere que você está diante da abertura de um novo
negócio e enfrentará alguns desafios, como os de orientar, acompanhar e
executar o processo de abertura da empresa, no sentido de garantir que ela
esteja apta para atuar no mercado.
Assim como ocorre na maioria das pessoas jurídicas em fase de abertura,
no caso da empresa do ramo de ferramentaria que você acompanhará estão
surgindo muitas dúvidas. Os sócios do novo negócio, o Sr. D. e a Srª. V. estão
um pouco perdidos em relação ao processo necessário para que o novo
negócio se inicie. São tantos processos, órgãos e etapas envolvidas, que os
sócios pediram ajuda a um profissional contador, especializado na área de
acompanhamento e execução dos processos de constituição de PJ.
A nova empresa pretende atuar na compra e venda de parafusos e equipa-
mentos de trabalho em geral. Ela está localizada em uma cidade próxima a
uma região industrial de grande porte.
O sócio Sr. D. está ingressando na sociedade com o valor de R$ 80.000,00,
enquanto a sócia, Srª. V., está ingressando com o valor de R$ 120.000,00.
Então, onde você entra nessa história?
É justamente você quem fará o papel do contador, combinado?
Como ajudar aos sócios a esclarecem as suas dúvidas? Como executar os
processos de constituição e acompanhamento da nova pessoa jurídica?
Os conteúdos desta unidade ajudarão você a adquirir as competências
necessárias para enfrentar adequadamente esses desafios.
Você terá contato com informações que lhe permitirão identificar e
elaborar os documentos constitutivos, de alteração e de extinção, compre-
endendo os diferentes tipos de pessoas jurídicas e os diferentes órgãos de
registro e fiscalização.
Agora é com você. Bons estudos!
Seção 1

Conceitos e características das Pessoas Jurídicas

Diálogo aberto
Você já teve a oportunidade de ser consultado por um amigo sobre o
processo de abertura de uma empresa? Se ainda não teve, prepare-se, pois
como um futuro profissional de contabilidade você certamente passará por
várias experiências como essa.
Muitas pessoas a sua volta já pensaram, pensam, ou pensarão em abrir
um novo negócio, só está faltando a oportunidade ou os recursos necessários
para isso. Portanto, em um país no qual o empreendedorismo faz parte da
cultura, como é o caso do Brasil, os profissionais da contabilidade precisamos
estar sempre à disposição para esclarecer dúvidas e executar trabalhos envol-
vendo essa importante temática.
Para isso, você precisa conhecer as características de cada tipo específico
de pessoa jurídica existente no Brasil, o que será possível a partir do estudo
dessa seção.
As informações iniciais sobre os tipos de empresas e suas principais
características são fundamentais para dar segurança aos empresários de que
estão fazendo a coisa certa.
Para orientar seus estudos, você conhecerá agora a primeira situação-
-problema. Ela traz as questões norteadoras do aprendizado bem como a
oportunidade de colocar em prática seus conhecimentos sobre as principais
características de uma empresa em processo de abertura no Brasil.
Você se lembra dos sócios Sr. D. e Srª. V., que estão abrindo uma nova
empresa? Eles estão com muitas dúvidas, portanto, vamos ajudá-los.
Você, na condição de contador, os recebeu no seu escritório, e, após ofere-
cer-lhes um café, pediu mais informações sobre a empresa e as condições
relacionadas à sociedade. Isso é fundamental para embasar o seu trabalho.
Durante a reunião os sócios lhe fizeram algumas perguntas:
- Nós poderíamos atuar como pessoas físicas, sem abrir uma empresa?
- Caso nós atuássemos apenas com consertos de equipamentos, sem
vender, isso mudaria alguma coisa no tipo de empresa e no processo
de abertura?

9
- Podemos deixar parte do capital para integralizar depois? Como
isso funciona?
- Poderíamos abrir uma associação ou fundação em vez de empresa?
- Quais as nossas responsabilidades como sócios em relação às obrigações
da empresa? Temos que honrar com dívidas da empresa caso ela não pague?
As questões feitas pelos sócios evidenciam o quanto eles desconhecem as
questões legais envolvendo a abertura de uma empresa, você concorda?
Bem, na condição de contador você deverá responder a essas dúvidas dos
sócios. Esse é seu desafio, afinal orientar os sócios é um dos papéis do profis-
sional contábil quando contratado para abrir uma empresa.
Você deverá elaborar um relatório contendo a síntese das respostas dadas
aos sócios. Esse relatório poderá ser útil em consultas futuras.
Para isso, você precisa saber, sob a perspectiva contábil das entidades,
quais os tipos e as finalidades das empresas. Reconhecer as diferenças entre:
associações, fundações, organizações religiosas e partidos políticos. Conhecer
as características das empresas individuais de responsabilidade limitada e os
outros tipos de empresas apresentados na seção.
A partir desses conteúdos você está apto para ajudar os futuros empresá-
rios no desafio de empreender no Brasil; portanto, vá em frente.
Cabe a você elaborar o relatório contendo a síntese das respostas dadas
aos sócios.
Capriche no seu relatório. Não se esqueça dos detalhes importantes que
possam ajudar ao Sr. D. e à Srª. V. a conhecer e a compreender o processo de
abertura de empresas.

Não pode faltar

Para a orientação adequada de um empreendedor, seja ele um empre-


sário ou o fundador de uma entidade sem fins lucrativos, é preciso conhecer,
principalmente sob a perspectiva contábil, os tipos e finalidades das
pessoas jurídicas.

Conceito e tipos de pessoas jurídicas


É na forma de pessoa jurídica que se torna possível o exercício legal
do empreendedorismo em suas várias perspectivas. Por exemplo, Simão e
Beltrão (2015, p. 39) destacam que o Código Civil brasileiro de 2002 “[…]

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segue o impacto obrigacional nas relações privadas, sendo certo que o brasi-
leiro médio procura a sua formalização, por meio de constituição de pessoas
jurídicas”. Trata-se da legislação impactando a prática empresarial.
Para instrumentalizar nossa classificação das pessoas jurídicas, de acordo
com a norma legal brasileira, precisamos antes compreender sua definição,
uma vez que ela corresponde à forma legal de constituição de uma entidade.
Aliás, ao utilizarmos aqui o termo entidade, estamos generalizando a
expressão “pessoa jurídica”, ou seja, estamos falando tanto de empresas como
de qualquer outro tipo jurídico previsto no Código Civil brasileiro. Segundo
Michaelis (2019, [s.p.]) entidade representa uma “[…] associação ou socie-
dade de pessoas ou de bens constituída para determinado fim […].”.
Existem diferentes linhas do pensamento jurídico quando o assunto é
definir pessoa jurídica, todavia, para a finalidade que propomos, vamos nos
ater ao conceito mais amplamente utilizado na literatura e que contribui para
a compreensão do termo.
Vamos nos ater ao conceito aplicável no contexto das entidades que
propõem exercer uma determinada atividade com uma finalidade específica
no Brasil.
Nesse sentido, a pessoa jurídica pode ser entendida como um conjunto
de pessoas que objetivam um fim comum. Esse conjunto de pessoas adquire
personalidade jurídica própria e separada das personalidades individuais.

Assimile
Uma proposta mais ampla de definição de pessoa jurídica, ou seja, que
contemple as empresas individuais, por exemplo, é apresentada por
Paiva e Álvares (2017, p.38-39), para os quais elas seriam uma plurali-
dade, tanto de pessoas físicas como de pessoas jurídicas, bem como
uma pluralidade patrimonial e que, em condições muito especiais,
podem derivar de uma só pessoa natural.

Segundo Simão e Beltrão (2015) a pessoa jurídica possui bens patrimo-


niais. Esses bens são classificados em corpóreos (físicos ou tangíveis) e incor-
póreos (intangíveis), além de, segundo os autores, possuírem bens extrapa-
trimoniais e de serem possuidoras de direitos e obrigações.
Nesse sentido, por conseguinte, uma empresa pode ser considerada como
uma entidade que possui personalidade distinta da personalidade jurídica
individual de seus sócios ou acionistas, tendo direitos e obrigações próprias.

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Ao falar sobre o registro civil, Paiva e Álvares (2017) destacam que essa
disciplina legal constitui um conjunto de normas que permite a criação de
diversas espécies jurídicas. Esses tipos jurídicos, segundo os autores, são
passíveis de personificação.
Para que uma entidade possa receber a atribuição de personalidade
jurídica, é necessário que sejam executados os trâmites previstos em lei, e
que, segundo Paiva e Álvares (2017) se instrumentaliza por meio do registro.
Resumidamente, podemos, portanto, considerar que a pessoa jurídica
recebe uma personalidade própria por meio de seu registro. É esse instru-
mento legal que permite, a partir de então, que essa “pessoa” adquira direitos
e obrigações próprias.
Em linhas gerais, para que uma entidade possa exercer uma determi-
nada atividade, ela necessita cumprir o requisito legal de registro perante os
órgãos competentes.
Esse requisito se torna necessário para que a entidade, agora oficialmente
uma pessoa jurídica de direito (público ou privado), exista e opere legalmente.
Embora o conceito de pessoa jurídica até aqui seja instrumentalmente
eficaz para nossos objetivos, é necessário que ampliemos um pouco nossa
visão sobre o tema.
Ocorre, que a partir dos avanços doutrinários do direito, bem como da
própria legislação, torna-se salutar a revisão de muitos conceitos que em
outros momentos se mostravam suficientes para representar determinados
institutos legais. Nesse sentido Paiva e Álvares (2017) defendem um conceito
mais abrangente para pessoa jurídica. Eles se baseiam no fato de que nossa
legislação instituiu a figura do Empresário Individual de Responsabilidade
Limitada (EIRELI), ou seja, um indivíduo e não uma associação de pessoas
constituída em prol de determinado objetivo.
A partir dessa consideração que fazemos a ressalva de que, em casos
especiais, como o das EIRELI, a pluralidade dá lugar à singularidade da
vontade humana, no caso, de uma só pessoa, e, nesse caso, não estamos
falando de sociedade, mas de uma empresa individual.
Em resumo, podemos ter uma pessoa jurídica a partir da vontade de um
único indivíduo em exercer determinada atividade, bastando que ele proceda
ao devido registro desse ente jurídico.
As pessoas jurídicas, segundo o Código Civil (BRASIL, 2002), podem ser
públicas ou privadas.

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São consideradas pessoas jurídicas de direito público, entre outras, a
União, os Estados, o Distrito Federal e os Territórios, além dos Municípios.
Embora não seja nosso objeto de estudo, vale ressaltar que as pessoas
jurídicas de direito público possuem formas de constituição e funciona-
mento específicos.
Já as pessoas jurídicas de direito privado, são divididas em:
• Associações.
• Sociedades.
• Fundações.
• Organizações Religiosas.
• Partidos Políticos.
• Empresas Individuais de Responsabilidade Limitada (EIRELI).
Como podemos observar, a Lei prevê tipos diferentes de pessoas jurídicas
para cada atividade específica a ser desempenhada pela entidade.
O tipo Sociedade, por exemplo, contempla a maioria das entidades
constituídas com a finalidade de obtenção de lucro, geralmente na forma
de empresas.
Já uma fundação, conforme veremos nos parágrafos seguintes, representa
uma forma jurídica para a exploração de atividades sem fins lucrativos.

Entidades sem fins lucrativos


Alguns tipos de pessoas jurídicas possuem maior aderência a atividades
que não visam ao lucro. É o caso das associações, fundações, organizações
religiosas e dos partidos políticos.
É importante que saibamos o conceito e algumas características peculiares
desses entes jurídicos para compreendermos sua aplicação no contexto das
entidades. Vamos ver:

As associações
Segundo o Código Civil (BRASIL, 2002), as associações constituem-se
da reunião de pessoas que de forma organizada visam a um objetivo
não econômico.

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Como é possível se observar, o caráter de uma associação é o de pessoa
jurídica, uma vez que configura a reunião de pessoas e de patrimônios em
prol de um objetivo comum, desde que, nesse caso, seu objetivo não seja o de
obtenção de lucro.
Como uma pessoa jurídica, no entanto, mesmo não tendo a finalidade
lucrativa, a associação possui direitos e obrigações próprios.
Vale também ressaltar que a associação não vincula os associados entre
si. O Código Civil diz que não há entre eles direitos e obrigações recíprocas,
ou seja, os associados possuem vínculo com a associação e não com os
demais associados.

Exemplificando
São comuns associações entre pessoas, por exemplo, relativas à gestão
de condomínios residenciais. Essas associações podem operar perante
o mercado como qualquer outro tipo de entidade, todavia, seu patri-
mônio está a serviço do bem estar dos associados e não em prol da
obtenção de resultados econômicos.

Fundações
As fundações representam uma forma jurídica pela qual uma pessoa,
o instituidor, destaca uma parte de seu patrimônio para atender a um
fim específico.
Segundo o Código Civil, a fundação pode ser constituída por escritura
pública ou testamento que represente a vontade do instituidor em efetuar a
dotação de parte de seus bens livres para determinado fim, podendo especi-
ficar no ato de sua constituição a forma pela qual ele deseja que esses bens
sejam administrados.
Existe certa limitação quanto às finalidades das fundações, podendo
elas, segundo o Código Civil, serem constituídas para as finalidades de:
assistência social; cultura, defesa e conservação do patrimônio histórico e
artístico; educação; saúde; segurança alimentar e nutricional; defesa, preser-
vação e conservação do meio ambiente e promoção do desenvolvimento
sustentável; pesquisa científica, desenvolvimento de tecnologias alternativas,
modernização de sistemas de gestão, produção e divulgação de informações
e conhecimentos técnicos e científicos; promoção da ética, da cidadania, da
democracia e dos direitos humanos; e atividades religiosas.

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Organizações religiosas
O Código Civil estabelece que a criação de organizações religiosas seja
livre, não podendo o poder público negar seu reconhecimento ou registro.
A Organização Religiosa constitui-se de uma pessoa jurídica, sem fins
lucrativos, que congrega pessoas físicas ou jurídicas na vivência de uma ativi-
dade religiosa.
Elas representam uma pluralidade de pessoas para a prática do culto e da
fé. Envolvem um carisma eclesial e vivencial.
Embora possuam imunidade tributária, as organizações religiosas estão
obrigadas a cumprirem as obrigações legais e acessórias.

Partidos políticos
O Brasil é um país de múltiplos partidos. A pluralidade de siglas que
atuam em nossa democracia é bastante ampla e, muitas vezes, se amplia
ainda mais, em função de acordos políticos visando a eleições e/ou ajustes de
representatividade nas instâncias dos poderes.
Mas o que são os partidos políticos em termos jurídicos?
A resposta a essa pergunta é dada pela Lei 9.096/95, na qual é possível se
encontrar a seguinte definição: “[…] o partido político, pessoa jurídica de
direito privado, destina-se a assegurar, no interesse do regime democrático,
a autenticidade do sistema representativo e a defender os direitos fundamen-
tais definidos na Constituição Federal.” (BRASIL, 1995).
Apesar de pertencerem ao direito privado, os partidos políticos são
regidos por leis específicas, portanto, possuem sua forma de constituição e
funcionamento definidos especificamente para tratar de suas peculiaridades.
Isso se deve, em grande parte, ao aspecto da representatividade e garantia da
manutenção do regime democrático que rege nosso país.
Conforme Lei nº 9.096/1995, na defesa da democracia, por exemplo, a Lei
assegura aos partidos, muito similarmente ao que ocorre no caso das insti-
tuições religiosas, liberdade para a criação, incorporação e fusão, desde que
se assegure a soberania nacional, o regime democrático, o pluripartidarismo
e os direitos humanos.
Além disso, os partidos políticos possuem autonomia para definirem sua
estrutura interna, a sua organização e o seu funcionamento.

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Sociedades e empresas individuais de responsabilidade
limitada
As pessoas jurídicas tratadas nos parágrafos anteriores podem ser classifi-
cadas como pertencentes ao grupo das entidades sem fins lucrativos.
Em termos contábeis, geralmente utilizamos a denominação de entidades
do terceiro setor, ou seja, o conjunto de associações, fundações e demais
entidades sem fins econômicos de geração de lucro que prestam determi-
nados serviços ou congregam pessoas em torno de determinados ritos, cultos
ou movimentos.
Agora, vamos tratar de formas jurídicas utilizadas para a realização de
atividades com objetivo econômico, ou seja, que possuem como finalidade
a geração de lucro aos seus proprietários, sócios ou acionistas. Aliás, essas
entidades envolvem muitos relacionamentos que extrapolam os interesses
dos proprietários. Dependendo do porte e da sua amplitude de atuação, elas
geram interesses para grupos, denominados de stakeholders, como: investi-
dores, fornecedores, instituições financeiras, poderes públicos nacionais e
internacionais, entre outros.
Essas entidades possuem regulamentações específicas na área do Direito
Privado por meio, por exemplo, do Código Civil, Comercial, Tributário
Nacional, de Defesa do Consumidor, entre outras legislações que afetam
direta ou indiretamente a atividade empresarial.
No processo de registro, por exemplo, podemos ter diferenças entre
as formalidades exigidas para o tipo de empresa comercial. Podemos ter
processos que cabem a esse tipo de empresa, mas que não são aplicáveis no
caso de empresas prestadoras de serviços.
Segundo o Código Civil, as atividades empresariais são exercidas pela
pessoa do empresário, que é considerado como aquele que exerce profissio-
nalmente uma atividade com fins econômicos. Essas atividades podem ser
relacionadas à produção ou à circulação de bens e de serviços. Em resumo,
podemos considerar, na perspectiva contábil, que empresário é aquele que
profissionalmente produz, comercializa ou presta serviços com fins lucrativos.

Sociedades
O Código Civil define uma sociedade como sendo o resultado da
celebração de um contrato entre pessoas. Por meio desse contrato, elas
assumem o compromisso recíproco de contribuir com bens e serviços para a
sociedade em prol de uma atividade.

16
Segundo a mesma lei Código Civil (BRASIL, 2002), a atividade empresa-
rial pode se restringir a um ou mais negócios determinados.
Na sociedade, também, é prevista a partilha, a divisão dos resultados
obtidos pela atividade entre aqueles que as formam. Em termos contábeis
isso se traduz pela distribuição de lucros.
A partir dessa definição podemos conhecer os tipos de sociedades que
resultam em tipos jurídicos diferentes de empresas.
A tipificação da sociedade, por sua vez, implica em direitos e obriga-
ções específicas, por isso, no processo de constituição, deve se considerar a
definição adequada do tipo de sociedade que regerá a atividade empresarial
em desenvolvimento.
Existem implicações contábeis e jurídicas a partir dessa definição,
portanto, fica evidente a necessidade do acompanhamento do processo de
constituição de uma empresa por profissionais contadores e advogados.

Reflita
São vários os tipos de pessoas jurídicas previstas pela legislação brasi-
leira. Para quase todas as iniciativas empreendedoras, temos formas
jurídicas apropriadas.
Sendo assim, diante desta afirmação, é justificável nos mantermos
na informalidade enquanto empreendedores? Pense sobre os pontos
positivos e negativos dessa prática.

Tipos de sociedades
A primeira divisão envolvendo as sociedades no contexto do Código
Civil se dá pela classificação em dois tipos distintos:
• Sociedade empresária.
• Sociedade simples.
Essa classificação se dá considerando a natureza do objeto social. Embora
o próprio Código Civil preveja a possibilidade de haver outras condições
expressas, é considerada sociedade empresária aquela constituída e regis-
trada para exercer atividade própria de empresário.
Vale aqui relembrarmos que empresário é aquele que exerce profissio-
nalmente uma atividade com fins econômicos, relacionada à produção ou à
circulação de bens e de serviços, portanto, se uma sociedade for constituída

17
para exercer essas atividades nas condições previstas em Lei, ela necessaria-
mente é considerada como empresária.
O Código Civil considera ainda que, independentemente do objeto,
toda sociedade anônima é considerada como empresária. Isso significa que
a constituição de uma S/A implica em direitos e obrigações atribuíveis às
sociedades empresárias independentemente de seu objeto social. No mesmo
sentido as cooperativas são consideradas como sociedades simples.
Além das cooperativas classificadas expressamente no Código Civil, são
consideradas como simples todas as outras sociedades que não atendam aos
critérios de classificação como empresárias.

Tipos de sociedades empresárias/empresas


O tipo mais comum de sociedade praticada no Brasil é a Sociedade de
Responsabilidade Limitada. Nesse tipo de sociedade, também conhecida
por sua sigla LTDA, existe a limitação da responsabilidade dos sócios em
relação às possíveis obrigações geradas por insolvência da pessoa jurídica.
Eles respondem até o limite de sua participação ou quotas na sociedade.
Nesse tipo de sociedade o capital social é divido em quotas, devendo os
sócios definir em contrato sua participação em termos de quotas e percen-
tuais, além do prazo e da forma de integralização do capital social. A integra-
lização poderá ser feita no ato da constituição ou em parcelas com prazo
definido em cláusula específica no contrato social.
O outro tipo de sociedade, muito conhecido por conta da possibilidade
de negociações em bolsa de valores, é a Sociedade Anônima. Esse tipo de
sociedade (S/A) se caracteriza pela divisão de seu capital em ações, e os
portadores dessas ações são denominados de acionistas.
Diferentemente do que ocorre no caso da LTDA, a S/A não possuiu a
atribuição dos nomes dos seus proprietários nos seus documentos de consti-
tuição. Isso é justamente o que caracteriza o anonimato dos acionistas.
Existe ainda no ordenamento jurídico brasileiro, mais especificamente no
Código Civil, a previsão da Sociedade em Nome Coletivo.
Nesse tipo de sociedade existe a igualdade de responsabilidade entre os
sócios, embora seja possível se especificar no contrato social a responsabili-
dade deles.
Não existe, nesse tipo de sociedade, uma denominação social, mas
tão somente os nomes dos sócios ou as iniciais desses nomes seguidos da
expressão “& CIA”.

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Outra característica dessa sociedade é a de que somente os sócios podem
administrá-la, diferentemente da sociedade LTDA, na qual se nomeia um
administrador no contrato social.
A Sociedade por Comandita Simples se caracteriza por envolver dois
tipos de sócios. Um grupo é o responsável pelas obrigações fiscais e finan-
ceiras. Esse grupo se denomina comanditados. Noutro grupo, denominado
de comanditários, a responsabilidade é limitada.
Nesse sentido, esse tipo de sociedade se caracteriza pelo fato de que parte
dos sócios é responsável pela integralização das quotas e tem responsabili-
dade limitada, não se envolvendo com a administração da sociedade. Já a
outra parte é responsável pelo capital e também pelo trabalho, cabendo a eles
a administração da sociedade.
Esse tipo de sociedade contempla, geralmente, empresas pequenas e
que exploram atividades menos complexas, como prestação de serviços
e comércio.
Empresas que desejam especificar, em contrato, os sócios com ou sem
responsabilidade limitada, optam por esse tipo de sociedade, pois fica estabe-
lecido no contrato quem responde e quem não responde pelas dívidas da
empresa em caso de insolvência.
Esse tipo de sociedade opera na forma de firma ou razão social, não
sendo permitida a denominação social.
A Sociedade em Comandita por Ações é similar à sociedade anônima
em termos de estrutura de capital, pois também envolve a divisão em ações.
Todavia, no caso da sociedade em comandita por ações, o exercício da ativi-
dade empresarial se dá na forma de denominação ou firma. Ela é gerida por
um ou mais diretores nomeados.
Nesse tipo de sociedade não pode haver um estranho à sociedade na
condição de administrador, ou seja, apenas o acionista pode ser administrador.
Como exemplo desse tipo de sociedade, estão as empresas que pretendem
separar seus sócios em dois grupos: parte deles fica responsável pela gestão
do negócio e respondem pelas dívidas da empresa de forma ilimitada. No
outro grupo estão os sócios que adquirem ações; esses respondem, porém,
até o limite de seus investimentos.
Os gestores, diferentemente das S/A, são nomeados no próprio estatuto
da empresa, portanto, esse tipo de sociedade atende àquelas empresas que
não desejam contar com conselhos de administração, mas, tão somente, com
gestores definidos no estatuto.

19
Esse tipo de sociedade contempla médias e grandes empresas que
exploram atividades mais complexas, como exportações, importações de
produtos controlados, por exemplo.
Sociedades desse tipo podem operar tanto com razão como com denomi-
nação social.

Empresa Individual de Responsabilidade Limitada


Esse tipo de empresa surgiu como uma solução para a antiga prática no
Brasil de se abrir empresas a partir da inclusão de um sócio “fictício”.
Ocorre que antes de 2002, com o advento do Código Civil reformu-
lado, para se constituir uma sociedade com responsabilidade limitada, era
necessário que houvesse pelo menos dois sócios, não sendo permitida a
limitação de responsabilidade quando a forma jurídica da empresa fosse a de
empresa individual.
A EIRELI, como é conhecida a Empresa Individual de Responsabilidade
Limitada, constitui-se a partir de uma única pessoa, possuindo as mesmas
condições em termos de responsabilidade observadas na empresa
LTDA convencional.
Na oportunidade das discussões sobre o processo de constituição,
aprofundaremos as exigências para que seja aberta uma empresa sob esse
tipo jurídico.
Como se pode observar, a legislação proporciona várias opções para a
formalização das entidades, sejam elas empresárias ou não.

Microempresa Individual (MEI)


No Brasil, a informalidade atinge números exorbitantes e isso se deve, em
grande parte, à burocracia e custos para se abrir um negócio.
Com vista à redução da informalidade, criou-se a condição para que
determinadas atividades, com determinados limites de faturamento e com
limites de funcionários, pudessem se formalizar sem os custos e obrigações
acessórias comuns aos demais tipos de empresas.
A figura do MEI atende principalmente a atividades com baixo fatura-
mento, mas que são representativos na nossa economia pela quantidade de
profissionais atuantes.
Para que um profissional possa se enquadrar como MEI, por exemplo,
ele não pode ser sócio de outra empresa e deve faturar um valor máximo por

20
ano, determinado pelo governo, e ter no máximo um funcionário, ou seja,
corresponde a uma grande parte da realidade de pequenos negócios.

Exemplificando
Se, por exemplo, um marceneiro que trabalhou durante anos na infor-
malidade deseja formalizar o seu negócio, ele pode constituir uma
Microempresa Individual (MEI). Basta que o marceneiro tenha seu
faturamento dentro do limite legal e conte com no máximo um funcio-
nário. Pronto: dessa forma ele poderá usufruir dos benefícios de ter sua
empresa legalmente correta, como, por exemplo, prestar serviços a um
órgão público.

Tivemos a oportunidade de conhecer o conceito e as características


das pessoas jurídicas no Brasil. Nossa base de consulta, nesse sentido, é o
Código Civil, porém ficou evidente que outras legislações afetam direta ou
indiretamente as atividades empresariais e as demais atividades sem finali-
dade lucrativa.
Destacamos que existem dois grupos principais de sociedades: as empresá-
rias com finalidade de obtenção de lucro e as simples, com outras finalidades.
O que diferencia os tipos jurídicos de sociedades, além da questão da
finalidade, é a estrutura de sociedade envolvendo as relações entre os sócios,
o tipo de divisão do capital e, principalmente, as responsabilidades dos sócios.
Nesta seção você teve a oportunidade de conhecer, sob a perspectiva
contábil, os tipos e finalidades das entidades. As associações, fundações,
organizações religiosas, e partidos políticos. As sociedades e empresas indivi-
duais de responsabilidade limitada, além dos tipos de empresas no Brasil,
discutindo os aspectos contábeis, patrimoniais e de responsabilidade.
Agora é com você. Bom trabalho!

Sem medo de errar

Você foi contratado como contador e está orientando dois sócios Sr. D. e
Srª. V. no processo de abertura de uma ferramentaria.
Seu desafio é responder, na forma de um relatório, às questões feitas
pelos sócios.
Essas respostas devem se basear nas características de cada tipo de
empresa conforme apresentado no item Não pode faltar.

21
Como sugestão para a solução dessa situação problema, são propostas
algumas respostas conforme segue:
Em relação à pergunta “Nós poderíamos atuar como pessoas físicas
mesmo? Sem abrir uma empresa?”, você deverá explicar que a atuação empre-
sarial envolve uma atividade com finalidade lucrativa, no caso da ferramen-
taria, os sócios estão investindo na nova empresa com a intenção de obterem
resultados positivos a partir da atividade empresarial.
Sendo assim, eles necessitam abrir uma pessoa jurídica e não podem
operar legalmente na condição de pessoas físicas, até porque o patrimônio
que estará em jogo é o da empresa da qual ambos fazem parte. Isso precisa
estar documentado e legalizado.
Sobre a pergunta “Caso nós atuássemos apenas com consertos de equipa-
mentos, sem vender, isso mudaria alguma coisa no tipo de empresa e no
processo de abertura?”, explique que a atividade empresarial, conforme define
o Código Civil brasileiro, envolve as atividades de produção e circulação de
bens e serviços, portanto, na condição de prestadores de serviços a atividade
da empresa permaneceria sendo considerada como empresarial, sendo assim
os tipos jurídicos seriam os mesmos das sociedades empresariais utilizadas
para a comercialização.
Quanto ao aspecto de abertura, seriam respeitados os trâmites específicos
para cada tipo de sociedade, portanto, haveria sim diferenças em relação aos
registros e procedimentos de uma empresa comercial, pois, como vimos
nesta seção, existem legislações específicas para determinadas atividades,
como é o caso do Código Comercial brasileiro.
Sobre a pergunta “Podemos deixar parte do capital para integralizar
depois? Como isso funciona?”, cabe explicar que sim. A integralização
poderá ser feita no ato da constituição ou em parcelas com prazo definido
em cláusula específica no contrato social.
Sobre poder abrir uma associação ou fundação em vez de empresa,
explique que não, pois associação e fundação se referem a sociedades simples,
ou seja, sociedades não empresariais, e, portanto, não podem ter finalidade
lucrativa como é o caso da ferramentaria em processo de abertura.
E com relação às responsabilidades como sócios e às obrigações da
empresa, e se terão que honrar com dívidas da empresa caso ela não pague?
Bem, isso dependerá do tipo de sociedade que será utilizada para a
constituição e registro da empresa. No caso sugere-se que seja constituída
uma sociedade do tipo LTDA, ou seja, a responsabilidade dos sócios está

22
limitada à sua participação percentual e ao valor de suas quotas, conforme
está descrito no contrato social da empresa.
Claro que esse é o pontapé inicial da atividade contábil e, ao orientar os
sócios e tirar todas as suas dúvidas sobre a empresa que pretendem constituir,
você revisou vários conteúdos vistos na seção e possibilitou compreender os
diferentes tipos de pessoas jurídicas previstas na legislação brasileira. Pois
são muitos detalhes, regras e legislação a serem seguidas.
Parabéns pelo trabalho, e vamos em frente!

Avançando na prática

E se fosse uma fundação?

Chegou à sua empresa uma pessoa chamada Dona B., que é costureira e
está querendo formalizar sua microempresa. Ela não possui experiência com
abertura de empresa, afinal ela atua há muitos anos na informalidade.
Dona B. ouviu falar em fundações e deseja saber se para atuar no ramo de
costura legalmente ela pode abrir uma fundação.
Seu desafio é explicar a ela as diferenças entre entidades com e sem finali-
dade de lucro, e exemplificar cada uma das formas jurídicas das entidades
sem fins lucrativos.
Depois explique a ela sobre o tipo de empresa que ela está desejando
abrir, se ela tem ou não finalidade lucrativa.
Para responder à dúvida de sua provável nova cliente, você deverá explicar
que existem diferenças entre entidades que visam lucro e aquelas que não
visam lucro. Detalhe essas diferenças e dê exemplo de entidades sem fins
lucrativos de cada um dos tipos jurídicos sem finalidade de lucro. Para isso,
você precisa saber do conceito de lucro, conhecer as atividades das associa-
ções, fundações, organizações religiosas e partidos políticos, além de saber as
principais características envolvendo essas pessoas jurídicas.
Perceba que sua atenção inicial à Dona B. é importante. Procure manter o
foco e a atenção nela, esclarecendo pedagogicamente suas dúvidas, pois isso
gerará mais confiança em relação ao seu trabalho e aumentará as chances de
ela contratar você para acompanhar sua empresa mesmo depois de aberta.

23
Resolução da situação-problema
Para a correta orientação à Dona B., primeiramente é necessário que seja
explicado a ela que uma fundação pode ser constituída tanto por uma pessoa
física como por uma pessoa jurídica.
Deve haver o destaque de bens e patrimônio que estará a serviço da
fundação. Esse destaque estará descrito no estatuto ou testamento que deu
origem à fundação.
O Código Civil estabelece que as fundações podem operar nas seguintes
finalidades: assistência social; cultura, defesa e conservação do patrimônio
histórico e artístico; educação; saúde; segurança alimentar e nutricional;
defesa, preservação e conservação do meio ambiente e promoção do desen-
volvimento sustentável; pesquisa científica, desenvolvimento de tecnologias
alternativas, modernização de sistemas de gestão, produção e divulgação de
informações e conhecimentos técnicos e científicos; promoção da ética, da
cidadania, da democracia e dos direitos humanos; e atividades religiosas.
Nesse caso, nenhuma dessas atividades se enquadra na que ela deseja atuar.
E também importante salientar que se a fundação envolver atividades
específicas, ela é uma entidade sem fins lucrativos, portanto, igualmente não
se enquadra no caso dela. Afinal o serviço de costura que ela presta é sua
fonte de renda, portanto, possui finalidade lucrativa.
A principal diferença entre empresas com finalidade lucrativa está no
fato de gerarem lucro e distribuírem esse lucro entre os investidores. Isso
não ocorre no caso das entidades sem fins lucrativos, que obrigatoriamente
deverão reinvestir seus superávits na própria atividade, sendo vedada a
distribuição de resultados entre os associados.

Faça valer a pena

1. Uma das características brasileiras é a de envolver muitas pessoas produ-


zindo, comercializando ou prestando serviços na informalidade.
Essa é uma questão tão relevante que envolve a necessidade de políticas
públicas que permitam a formalização do trabalho e, consequentemente,
maior acesso dos empreendedores aos benefícios que uma empresa formali-
zada proporciona.
Dentre as ações que podemos citar como incentivo à formalização, está a
criação de leis específicas.

24
Nesse sentido, sabe-se que no Brasil existe uma ação de incentivo à formali-
zação das empresas.
Assinale a alternativa que apresenta essa ação:
a. Criação da Lei de Responsabilidade Fiscal.
b. Criação da Sociedade de Responsabilidade Limitada.
c. Criação da Microempresa Individual.
d. Extinção da Empresa Individual.
e. Extinção da Sociedade em Comandita Simples.

2. Um dos processos mais importantes inerentes à constituição e registro


das entidades é a escolha do tipo jurídico sob o qual ela será constituída.
O tipo de sociedade, bem como sua forma jurídica, interfere em alguns
aspectos importantes das relações entre sócios, e entre esses está a pessoa
jurídica em operação.
Diante da intenção de um grupo de sócios em separar as responsabilidades,
bem como a administração da sociedade, qual seria a opção jurídica de
constituição dessa entidade?
Nesse sentido, analise as afirmativas a seguir.
I. O tipo ideal para o objetivo dos sócios, nesse caso, seria constituir
uma Sociedade de Responsabilidade Limitada, pois dessa forma
parte dos sócios poderia ficar responsável pela integralização
das quotas e ter responsabilidade limitada, envolvendo-se com a
administração da sociedade. Já a outra parte ficaria responsável pelo
capital e também pelo trabalho, não se envolvendo, então, com a
administração da sociedade.
II. O tipo ideal para o objetivo dos sócios seria constituir uma Socie-
dade em Comandita Simples, pois dessa forma parte dos sócios
poderia ficar responsável pela integralização das quotas e ter respon-
sabilidade limitada, não se envolvendo com a administração da
sociedade. Já a outra parte ficaria responsável pelo capital e também
pelo trabalho, cabendo a eles a administração da sociedade.
III. No tipo de sociedade que deveriam constituir, os sócios teriam as
mesmas condições e estariam ambos os sócios sujeitos à mesma
responsabilidade, todavia um dos grupos precisaria abrir mão de

25
suas quotas no caso de insolvência da sociedade para não responder
pelos problemas financeiros por ela gerados.
É correto o que se afirma em:
a. I, II e III.
b. I, apenas.
c. II e III, apenas.
d. I e II, apenas.
e. II, apenas.

3. A Constituição Federal garante que determinadas pessoas jurídicas não


tenham a intervenção proibitiva do Estado na sua estruturação e funciona-
mento.
Essa prerrogativa visa garantir a democracia e a condição de liberdade da
população em relação às suas escolhas pessoais.
Nesse sentido, podemos fazer duas afirmações:
I. A organização religiosa é um exemplo de entidade que não pode ter
seu registro e autorização de funcionamento negado pelo Estado,
PORQUE
II. Ela não está sujeita às obrigações acessórias que outros tipos de
entidades possuem.
Assinale a alternativa correta:
a. A asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não justifica a I.
b. As asserções I e II são proposições verdadeiras e a II justifica a I.
c. A asserção I é uma proposição verdadeira e a II, falsa.
d. A asserção I é uma proposição falsa e a II, verdadeira.
e. As asserções I e II são proposições falsas.

26
Seção 2

Instrumentos de constituição e registro das


Pessoas Jurídicas

Diálogo aberto
Caro aluno, é importante conhecermos alguns conceitos e compre-
endermos alguns detalhes técnicos relacionados tanto aos documentos
de constituição como aos tipos específicos de empresas, como é o caso da
Microempresa Individual.
É comum que os empreendedores, principalmente os de primeira viagem,
tenham muitas dúvidas quanto à forma de constituir bem como de gerir
suas empresas.
Essas dúvidas também ocorrem nas situações de constituição e desenvol-
vimento de micro e de pequenos negócios. É o que acontece, por exemplo,
quando um determinado empresário resolve abrir sozinho uma microem-
presa para prestar serviços gerais em residências. Os chamados “Maridos de
Aluguel”.
Nesse sentido, os conteúdos a serem trabalhados aqui vão trazer a
base para que você possa conhecer as principais características de uma
Microempresa Individual (MEI), além de conhecer os instrumentos utili-
zados para a constituição, alteração e extinção das pessoas jurídicas.
Esses conteúdos são fundamentais para garantir que as formalidades
constitutivas estejam corretamente cumpridas.
Agora, você deve avançar no processo de abertura da empresa.
No decorrer da reunião com os sócios, o Sr. D. fez mais uma pergunta:
“Eu e a Srª. V. poderíamos abrir, em vez de uma sociedade, uma MEI para
cada um, a fim de atuar com a nossa empresa?”
Ao executar essa etapa da situação-problema, você deverá ser capaz
de conhecer e explicar as principais características de uma Microempresa
Individual, além de destacar o tipo de pessoa jurídica a ser utilizado para a
constituição de uma empresa com fins lucrativos.
Para responder a essa dúvida, você deverá elaborar um relatório, e nele
descrever, como forma de argumentação, as principais características envol-
vendo o tipo de empresa MEI apresentadas aqui. No texto, você precisa

27
explicar ao sócio que lhe fez a pergunta se é ou não possível, em vez de
abrirem uma sociedade, abrirem duas MEI.
Adicionalmente ao seu relatório, depois de responder à dúvida do Sr.
D., você precisa descrever qual o instrumento de constituição e qual o tipo
jurídico que será utilizado para a ferramentaria que está sendo constituída.
No seu contexto profissional, você concorda que terá muitas oportuni-
dades para ajudar os empresários que desejam formalizar suas empresas?
Certamente serão questionados por eles, portanto, é importante ter
o domínio em relação aos documentos necessários para a constituição e
registro das pessoas jurídicas, além de conhecer os principais tipos jurídicos
que envolvem a formalização de empresas. Nesse caso, em especial, a
Microempresa Individual – MEI.

Não pode faltar

Instrumentos de constituição de pessoas jurídicas


A formalização de uma pessoa jurídica constitui uma série de ritos
jurídicos e administrativos que precisam ser devidamente respeitados, para
garantir a segurança jurídica necessária a todos que de alguma forma se
relacionam com a entidade que está sendo criada.
Os acordos entre sócios, em um primeiro momento, impactam a própria
sociedade entre eles, porém, a partir do momento que a nova entidade está
constituída e inicia as suas operações, ela impacta muitas outras pessoas.
A esse conjunto de pessoas impactadas pela operação de uma organização
denomina-se de stakeholders.
Sociedades empresárias, por exemplo, “[…] configuram modelos de
empresas que visam à exploração do objeto principal da empresa não apenas
pelos seus proprietários, mas sim pela utilização da mão de obra de terceiros.”
(VALENTINA; CORRÊA, 2019, p. 22).
Como garantia da segurança jurídica, portanto, para que uma entidade
pessoa jurídica adquira direitos e obrigações e possa operar legalmente, ela
necessita cumprir os ritos legais de constituição. O mesmo se aplica a altera-
ções e à extinção da sociedade.
Segundo o Código Civil (BRASIL, 2002), as pessoas jurídicas podem ser
de direito público ou privado. Elas devem ser submetidas ao registro, no ato
de sua constituição, nos órgãos competentes.

28
Ata de constituição
As entidades sem fins lucrativos, como é o caso das associações, funda-
ções, organizações religiosas, entre outras, envolvem a vontade de uma ou
mais pessoas que estão imbuídas de um objetivo, geralmente social e sem a
finalidade de obtenção de lucro.
As Sociedades Anônimas e cooperativas, que geralmente desenvolvem
atividades empresariais, também são formadas a partir da reunião de pessoas
com objetivos comuns.
Tanto no primeiro caso como no segundo, o envolvimento de pessoas
representa o elemento principal de formação dessas entidades, portanto,
a formalização das relações entre essas pessoas é necessária para que haja
segurança jurídica para todos os envolvidos, bem como para aqueles que de
alguma forma se relacionarão com ela.
Desde o primeiro contato formal até a conclusão do processo de consti-
tuição e registro dessas entidades existem documentos e formalidades que
precisam ser cumpridas.
É nesse sentido que a reunião de fundação de uma associação, de uma
fundação, de uma organização religiosa ou de um partido político, assim
como de uma S/A ou de uma cooperativa, deve ser devidamente registrada
em um documento denominado ata.
A ata representa um documento no qual são registradas as deliberações
dos conselhos ou assembleias reunidas para determinada finalidade.
A primeira reunião de qualquer uma dessas entidades geralmente tem
o objetivo de fundação da própria entidade, ou seja, nela é deliberada pelos
membros presentes a criação formal da entidade.
A ata derivada da reunião ou da assembleia inicial dos membros da
entidade é denominada de Ata de Fundação ou Ata de Constituição.

Formalidades intrínsecas da ata


A ata dever ser redigida e assinada por um dos membros do conselho que
está reunido ou por um terceiro especificamente designado para isso.
O redator da ata também assina o documento declarando que as informa-
ções ali registradas refletem fielmente as discussões e deliberações da reunião.
Outra pessoa importante que constará dos registros da ata é a figura do
presidente da reunião ou da assembleia. Cabe a ele conduzir as discussões
e votações.

29
É importante salientar que a reunião ou assembleia de fundação da
entidade deve ser antecedida por um edital no qual deverá ser divulgado com
antecedência de pelo menos sete dias, além de ser amplamente divulgada,
inclusive em meio de comunicação de grande circulação ou abrangência.
O secretário da reunião (quem está responsável pelo registro da mesma
na respectiva ata) fará a leitura do edital para que todos os presentes tomem
ciência de que o rito de convite ou convocação para a reunião ou assembleia
foi cumprido.
A ata de fundação deverá indicar por extenso o dia, mês, ano, horário e
local da reunião.
Deverá indicar quem secretariou e quem presidiu a reunião.
Deverá trazer a expressão de que os presentes na reunião, na condição
de fundadores, resolvem fundar a associação (entidade) tal. Deve indicar o
nome da entidade.
Deverá ser indicada a sede da entidade.
Deve informar que o projeto de estatuto (que será discutido e aprovado
na reunião) foi lido por quem secretariou a reunião.
Deve informar que, após as discussões, o projeto de estatuto, agora
estatuto da entidade, foi aprovado por um número “x” de votos ou de forma
unânime pelos participantes.
Uma vez aprovado o estatuto, a ata também indicará os membros que
assumirão as diretorias da associação bem como o conselho fiscal. Todos eles
eleitos na forma previamente determinada pelo estatuto da entidade.
A ata, finalmente, trará a fala do presidente da reunião declaran-
do-a encerrada.
A ata é datada e devidamente assinada (e suas vias rubricadas) por todos
os presentes.

Estatutos
Depois de apresentadas os diferentes tipos de pessoas jurídicas de
direito privado: associações, sociedades, fundações, organizações religiosas
e partidos políticos, além das Empresas Individuais de Responsabilidade
Limitada – EIRELI, de acordo com o Código Civil, é possível a identificação
de dois grupos distintos: um que compreende as entidades sem fins lucra-
tivos, representadas pelas associações, fundações, organizações religiosas e

30
partidos políticos, e outro pelas empresas com fins lucrativos, como é o caso
das sociedades empresárias.
O primeiro grupo de entidades possui característica diferente no tocante
aos interesses dos seus fundadores quando comparado com as sociedades
empresárias. Importa menos a relação contratual entre os sócios, e mais a
instituição em si.
Para essas entidades, assim como para algumas sociedades empresárias
específicas, o instrumento de constituição é o estatuto social. Esse instru-
mento é utilizado para a constituição de: sociedades anônimas, conhecidas
como S/A, sociedades cooperativas, sociedade em comandita por ações e
para as entidades sem fins lucrativos.

Exemplificando
Um novo condomínio está sendo aberto em uma cidade do interior de
um estado brasileiro. Trata-se de uma importante marca de empreendi-
mento imobiliário, conhecida em grandes capitais brasileiras.
O contador Sr. M. está providenciando a constituição da pessoa jurídica
que representará o grupo de moradores.
Na primeira assembleia o assunto principal da pauta foi justamente a
forma pela qual o condomínio seria regulamentado.
Na oportunidade, o contador explicou que será constituída uma
associação, uma pessoa jurídica caracterizada por reunir pessoas físicas
que possuem um objetivo comum que, no caso, é gerir as atividades
condominiais.
Ela será constituída a partir de um estatuto social, que determinará
todas as normas sob as quais os associados estarão submetidos ao fazer
parte da associação.
O estatuto determinará também as regras de representação da
associação, ou seja, quem responderá juridicamente por ela.
A representação da associação envolve, geralmente, a formação das
seguintes diretorias: diretoria financeira, diretoria administrativa,
diretoria social e diretoria técnica.
O estatuto também determinará a formação do conselho fiscal bem
como as normas de eleição, mandato e condições para o exercício da
presidência e a vice-presidência da associação, entre outras informações.

No caso desses tipos jurídicos de organizações não há tanta significância


referente à questão do ajuste contratual entre os sócios, ao contrário, o que
importa nesse caso é garantir condições para que haja o engajamento de
pessoas que compartilham do mesmo objetivo da entidade que foi constituída.

31
Nesse sentido elas “[…] são criadas como instituições, ofertando a terceiros a
possibilidade de adesão […]” (MAMEDE; MAMEDE, 2017, p. 49).
Os sócios de uma instituição como essas não são contratantes entre si,
mas sim, aderem a condições preestabelecidas em estatuto.
Dessa forma, ao aderir a uma associação, um sócio (no caso específico,
o associado), deverá dar ciência de que conhece e compreende as normas e
regulamentos, bem como o estatuto que orienta as atividades da entidade.

Formalidades intrínsecas do estatuto social


O estatuto social, conforme previsto na legislação, em especial na Lei nº
6.404/1976 (BRASIL, 1976) e no Código Civil (BRASIL, 2002) e descrito em
Mamede e Mamede (2017) deve conter:
• A denominação social, ou seja, sob qual denominação a insti-
tuição operará.
• Localização da sede, ou seja, a cidade e UF onde está situada a sede
da instituição.
• Período de duração do estatuto, se determinado ou indeterminado.
• Capital social expresso em reais.
• O objeto social, ou seja, o tipo de operação a que se destina a insti-
tuição. Geralmente estão contempladas no objeto social as atividades
previstas e codificadas por meio do Código Nacional de Atividades
Econômicas – CNAE.
• Número e qualificação das ações que compõem o capital da companhia.
• Forma de constituição e funcionamento do conselho fiscal.
• Data final do exercício social, ou seja, determinação do período no
qual serão elaboradas as demonstrações financeiras.

Contrato social
Assim como qualquer documento, o contrato social é o instrumento que
será utilizado para dirimir qualquer dúvida relacionada à sociedade, bem
como envolvendo as atribuições, responsabilidades e representatividade
dos sócios.
O contrato social requer muita atenção daqueles que o assinarão, no caso
os sócios, pois a partir do momento que ele esteja devidamente registrado,

32
passa a constituir-se como peça jurídica. Por isso exigem-se determinadas
formalidades em relação ao contrato social.

Assimile
O aspecto formal e de validade do contrato social pressupõe que ele
não pode conter entrelinhas, nem emendas ou rasuras. Qualquer um
desses elementos pode invalidar o instrumento. Em casos de necessi-
dade específica, pode-se fazer uma ressalva no próprio instrumento.

Nesse sentido, se a entidade for constituída sob a forma de sociedade


empresária, ou seja, conforme o Código Civil, aquelas que exercem atividade
econômica organizada envolvendo a circulação de bens e serviços, o instru-
mento de constituição é o contrato social.
“Uma vez definido o tipo de sociedade aplicável (no caso, a sociedade
empresária limitada), é necessário que seja efetuada a opção por uma das
formas de constituição a seguir: sociedade, individual.” (VALENTINA;
CORRÊA, 2019, p. 22). Uma vez optado por uma dessas duas formas de
sociedade deve-se elaborar o contrato social.
O mesmo ocorre no caso de sociedades simples, ou seja, também é por
contrato social que se efetua a constituição de uma sociedade simples. Segundo
Paiva e Álvares (2017, p. 98) “O registro ou inscrição do ato constitutivo
(contrato) junto ao Registro Civil de Pessoas Jurídicas confere personalidade
jurídica à sociedade simples, dando início a sua existência legal […]”.
O contrato social é, portanto, o instrumento utilizado para a constituição,
e será objeto também de alteração e extinção das pessoas jurídicas.

Formalidades intrínsecas do contrato social


Ele deve conter a assinatura de todos os sócios e, em determinados estados
brasileiros, de testemunhas, além da assinatura de um advogado que tem por
objetivo dar ciência sobre a correção em relação aos aspectos formais e legais
do instrumento.

Assimile
De acordo com o estatuto da advocacia, Lei nº 8.906/1994 (BRASIL,
1994), todo ato ou contrato constitutivo de pessoa jurídica, ou seja, todo
contrato social, para ser registrado precisa ser visado por advogado.

33
Segundo o que determina o Código Civil (BRASIL, 2002), o contrato
social deverá conter:
• Nome e qualificação dos sócios, sejam pessoas físicas ou jurídicas. Essa
qualificação deverá conter a nacionalidade, o estado civil (solteiro ou
casado), a profissão exercida e a residência dos sócios, pessoas físicas.
No caso de pessoas jurídicas, deve trazer a firma ou a denominação, a
nacionalidade, bem como o endereço da sede.
• O contrato deve determinar, ainda, a denominação sob a qual a socie-
dade operará, o seu objeto social e a sede da organização.
• Deverá trazer o prazo determinado ou indeterminado da sociedade.
• O capital social expresso em valores monetários.
• As quotas de capital de cada sócio, bem como a forma de integrali-
zação do capital, podendo ser em espécie, bens, direitos ou serviços.
• No caso de integralização na forma de serviços, o contrato trará
também a forma como esses serviços serão executados.
• A indicação do responsável ou dos responsáveis pela administração
da sociedade, bem como seus poderes e atribuições nessa condição.
• A responsabilidade e participação dos sócios nos lucros e perdas.
• A definição sobre a responsabilidade ou não subsidiária dos sócios
sobre as obrigações assumidas pela sociedade.

Exemplificando
A divisão do capital social de uma pessoa jurídica de responsabilidade
limitada (LTDA) é expressa no contrato social. Dessa forma, cada sócio
possui um número de quotas que lhe garante uma participação percen-
tual sobre o patrimônio da sociedade.
Para exemplificar, veja o caso da sociedade “Z” a seguir:
SÓCIO QUOTAS
“A” 25.000
“B” 35.000
“C” 40.000
TOTAL 100.000
De acordo com a distribuição das quotas de capital dessa sociedade, é
possível se chegar aos percentuais de cada sócio sobre o patrimônio da

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sociedade dividindo-se a quantidade de quotas de cada um pelo total
de quotas (100.000).
No caso em questão ter-se-ia:
SÓCIO QUOTAS
“A” 25.000 / 100.000 x 100 = 25%
“B” 35.000 / 100.000 x 100 = 35%
“C” 40.000 / 100.000 x 100 = 40%
TOTAL 100.000

O instrumento contrato social, portanto, é o responsável pela constituição


jurídica da sociedade, pela determinação de como ela operará e o tempo de
sua existência.
Quando ocorre uma alteração em qualquer um dos elementos contra-
tuais descritos anteriormente, é necessário que seja feito o que se denomina
de alteração contratual, ou seja, é elaborado um termo no qual se especi-
ficam as alterações envolvendo cláusulas do contrato original, devendo esse
instrumento ser submetido aos mesmos ritos de registro do contrato social.
Geralmente a alteração contratual traz a expressão: “as demais cláusulas não
atingidas por esse instrumento permanecem inalteradas”.
Assim como ocorre no caso do contrato social, as alterações devem ser
aprovadas pelos sócios que assinarão o instrumento de alteração e providen-
ciarão seu registro em órgão competente.

É importante observar que as modificações do contrato


social que tenham por objeto quaisquer matérias indicadas
no art. 997 do Código Civil dependem do consentimento de
todos os sócios. (PAIVA; ÁLVARES, 2017, p. 164)

Já no caso de encerramento das atividades ou dissolução da sociedade,


é elaborado o distrato social. Em resumo, ele constitui a forma jurídica pela
qual se dissolve a sociedade, descrevendo como os bens, direitos e obrigações
da sociedade serão realizados e pagos, bem como a divisão do patrimônio
remanescente, caso haja.
O distrato também especifica as responsabilidades individuais dos antigos
sócios sobre possíveis obrigações da dissolvida sociedade.
Assim como ocorre no caso das alterações contratuais, o distrato também
será submetido ao rito de registro nos órgãos competentes.

35
Segundo Paiva e Álvares (2017) para que seja efetuado o cancelamento
do registro de uma sociedade simples, por exemplo, é necessário que haja
um requerimento, a elaboração do distrato social e sua publicação no Diário
Oficial da União – DOU.

Reflita
Geralmente o início de um negócio é marcado pela esperança e pelo
bom relacionamento entre os sócios. Todos eles, no início, estão em
busca de um objetivo comum. Porém, diante de uma grande dificul-
dade, como por exemplo, se a empresa não vai bem, podem ocorrer
situações de desacordos e conflitos entre eles. Como ficaria, nesse caso,
a situação de uma contenda judicial entre sócios se não houvesse um
contrato estabelecendo as condições da sociedade?

Microempresa Individual - MEI


A criação da Microempresa Individual – MEI tem como pano de fundo
a política governamental de incentivo à formalização das microempresas no
país, sendo que para isso visa diminuir a burocracia e incentivar a legalização
das microempresas.
Segundo o Portal do Empreendedor MEI, do Governo Federal, por
exemplo, a iniciativa de aprimoramento do portal faz parte de um projeto
que visa diminuir a burocracia e melhorar a vida das microempresas do
país: “O projeto tem foco na melhoria do ambiente de negócios, na redução
da burocracia e na agilidade dos processos de gestão das micro e pequenas
empresas.” (BRASIL, 2019, [s.p.]).
O processo de registro do MEI é bastante facilitado a partir dessa plata-
forma, que conta com várias opções para o esclarecimento de dúvidas e
execução de cadastramento e registro.
São condições para que seja feita essa opção de legalização de empresa,
segundo o Portal, dados ajustados em 2018:
1. Faturar até no máximo R$ 81.000,00 por ano, ou R$ 6.750,00 por mês.
2. Não ser sócio, administrador ou titular de outra empresa.
3. Ter no máximo um funcionário.
4. Exercer uma atividade econômica que esteja prevista no Anexo XI,
da Resolução CGSN nº 140, de 22 de maio de 2018 (BRASIL, 2018).

36
Reflita
A Microempresa Individual (MEI) representa uma ação governamental
que tem por objetivo incentivar a formalização das microempresas. Visa
tirar microempresários da informalidade. Considerando esse objetivo e
seus reflexos, esse tipo de política possui algum efeito na economia de
um país? Seria esse efeito positivo ou negativo? Que tal refletir sobre isso?

A partir dos conteúdos tratados nesta seção, pode-se perceber que o


processo de constituição das pessoas jurídicas possui uma série de forma-
lidades, sendo a principal delas a elaboração e registro do instrumento que
regula as relações sociais durante a existência da entidade, nesse caso, o
contrato social, o estatuto social e a ata de constituição.
Também é possível identificar o esforço por parte do Governo Federal em
criar mecanismos que simplifiquem a formalização de microempresas, como,
por exemplo, viu-se a partir do estudo das Microempresas Individuais – MEI.
A prática contábil, portanto, possui uma vasta área de atuação no que se
refere aos processos de formalizações das pessoas jurídicas, requerendo de
seus profissionais um profundo conhecimento da legislação, mas, principal-
mente, das normas e regulamentos que impactam direta ou indiretamente
esse importante processo.

Sem medo de errar

A solução da situação problema que foi proposta aqui envolve identificar


as características da Microempresa Individual (MEI). Afinal o sócio Sr. D.
questionou se poderia abrir uma para ele e outra para a sua sócia Srª V.
No caso deve-se levar em conta:
• Esse tipo de empresa não permite sócio, envolve um indivíduo.
• Existe um limite de R$ 81.000,00 por ano de faturamento, ou seja,
R$ 6.750,00 por mês.
• Existem atividades específicas que permitem esse tipo de constituição
de empresa; deve ser consultado o anexo XI da Resolução CGSN
140/18. Trata-se de uma resolução do Comitê Gestor do Simples
Nacional da Receita Federal do Brasil.
Dessa forma fica evidente que não é possível a abertura de uma MEI
para cada sócio, portanto, você deverá indicar uma Sociedade Por Cotas de
Responsabilidade Limitada para os sócios.

37
Quanto ao documento a serem utilizados para constituir esse tipo de
sociedade, informe que se trata do Contrato Social. Nele será possível estabe-
lecer as quotas de participação bem como todas as demais regras que regerão
a sociedade que atuará no ramo de ferramentaria.

Avançando na prática

Constituição de uma igreja

Uma das características da atividade religiosa é a de envolver a reunião


de pessoas, algumas integrantes da gestão administrativa e geralmente
todas, reúnem-se a partir de um mesmo culto e da fé. Elas participam como
membros a partir de uma relação de fé e de compartilhamento de crenças e
costumes comuns.
Em um bairro periférico de uma grande cidade, o Pastor F. deseja consti-
tuir uma organização religiosa para que sua igreja possa operar legalmente,
podendo assumir direitos e obrigações perante outras pessoas. Nesse sentido,
ele contratou você para efetuar o processo de abertura da pessoa jurídica que
representará a igreja.
Seu objetivo é explicar ao pastor o tipo de pessoa jurídica que será consti-
tuída e as principais características desse tipo de entidade.
Cabe a você elaborar um relatório com essas informações e entregar
formalmente ao pastor.

Resolução da situação-problema
O primeiro passo para a solução da situação-problema é definir, no
relatório, o tipo de pessoa jurídica que será constituída no processo de legali-
zação da igreja, conforme determina o inciso IV do art. 44 do Código Civil
(BRASIL, 2002).
Nesse caso será constituída uma organização religiosa que, segundo
o Código Civil brasileiro, constitui-se de uma entidade onde reúnem-se
membros em torno de um culto e da fé, além de exercer algumas atividades
de assistência a seus membros e à sociedade de acordo com sua missão.
Ela é constituída por meio de um estatuto organizacional que definirá as
normas de funcionamento e gestão.

38
Complementarmente, o relatório deverá indicar que se trata de uma
entidade sem finalidade lucrativa e que, dessa forma, não envolverá distri-
buição de resultados.
Todas as informações importantes relativas à organização religiosa
deverão estar previstas no estatuto organizacional, portanto, esse será o
instrumento que direcionará o trabalho dos gestores da entidade. Incluindo
aspectos fiscais, tributários, contábeis e jurídicos entre outros.

Faça valer a pena

1. Existem políticas governamentais voltadas para o incentivo da formali-


zação das atividades empresariais. Dentre essas políticas está a que criou a
MEI – Microempresa Individual.
Nesse sentido, qual das alternativas traz uma afirmação correta em relação a
esse tipo de empresa?
Assinale a alternativa correta:
a. A MEI pode ter apenas um sócio.
b. A MEI não pode faturar mais do que R$ 5.000,00 por mês.
c. Existe uma limitação de que a MEI pode ter no máximo um funcionário.
d. Somente ramos de prestação de serviços podem constituir MEI.
e. Os ramos passíveis de constituição de MEI são regulados por Lei Municipal.

2. Um dos documentos utilizados no processo de constituição de uma


sociedade empresária é o contrato social. Ele expressa as normas sob as quais
a sociedade será regida.
Dentre os aspectos legais do contrato social está a obrigatoriedade de ele ser
visado por um advogado. Outra característica do contrato social é que:
Assinale a alternativa correta.
a. Ele determina expressamente a participação dos sócios no patrimônio
da entidade.
b. Ele indica expressamente os tipos de tributos sobre os quais entidade
estará sujeita.
c. Ele tem validade de cinco anos, precisando ser reformulado após esse
período.

39
d. O contrato social se aplica exclusivamente nos casos de entidades sem
fins lucrativos.
e. Ele deve ser assinado pelo contador que assume as mesmas responsa-
bilidades dos sócios.

3. Um dos instrumentos para o registro e legalização de entidades sem fins lucra-


tivos é o estatuto. Ele é utilizado para o caso, por exemplo, de uma associação.
Existem aspectos normativos envolvendo o registro dessas entidades. Dentre
as normas está a obrigatoriedade de ser elaborado um Estatuto Social e a Ata
de Constituição, como é o caso da constituição da Associação Beneficente “Y”.
Sobre o estatuto e a ata da associação “Y” podem ser feitas algumas afirmações:
I. No estatuto estão expressas as normas que regerão a entidade.
II. É no estatuto que se registra o que foi discutido na reunião de consti-
tuição da entidade.
III. A Ata de Constituição é um instrumento jurídico.
Analisando as afirmações, podemos dizer que estão corretas:
a. I, apenas.
b. II, apenas.
c. III, apenas.
d. I, II e III.
e. I e III, apenas.

40
Seção 3

Órgãos e processo de registro das Pessoas


Jurídicas

Diálogo aberto
Você avançou bastante em termos de conhecimento, concorda?
Agora chegou o momento de, finalmente, descrever em termos documen-
tais necessários ao processo de registro da ferramentaria que está sendo
constituída pelos sócios Sr. D. e Srª. V.
Ao executar essa etapa da situação-problema, você deverá ser capaz de
reconhecer os documentos, os órgãos e os passos necessários para o registro
da nova pessoa jurídica.
Os conteúdos trabalhados nesta seção envolvem a identificação dos
tipos de documentos para cadastro, bem como as inscrições nos órgãos
públicos competentes.
É estudada, ainda, a necessidade de licenças especiais de funcionamento
das pessoas jurídicas cuja atividade exige esse tipo de procedimento.
Você conhecerá o processo de constituição e registro das pessoas jurídicas,
bem como a periodicidade dos cadastros e renovações necessárias.
A situação-problema envolve a execução, por meio da descrição de
documentos e processos, da abertura da ferramentaria com a qual você
vem trabalhando.
Você deve se colocar na posição do contador responsável por executar
todos os processos de constituição e registro da ferramentaria para que o Sr.
D. e a Srª. V. possam iniciar sua atividade empresarial comercial.
Para solucionar a situação-problema, você deverá, em uma primeira
etapa (etapa 1), identificar e descrever os documentos necessários para o
registro da empresa.
O produto dessa etapa será um checklist, uma lista de itens que não
podem faltar no processo de constituição da empresa.
Na segunda etapa (etapa 2), descreva a ordem pela qual os registros e
inscrições devem ser executados, indicando onde será feito o primeiro
processo de registro ou arquivamento dos documentos. Na sequência,
indique qual o próximo órgão ao qual você deverá se dirigir para registrar a

41
empresa e assim sucessivamente, até que todo o processo esteja concluído e a
ferramentaria esteja habilitada para iniciar as duas atividades.
Nesta seção, vamos adentrar nos conteúdos necessários para responder às
questões tratadas aqui, portanto, estudá-los em profundidade é fundamental
para sua consultoria no caso da ferramentaria. Não se esqueça das sugestões
de leitura, reflexão, sugestões de pesquisa e exemplos que estão disponibili-
zados ao longo da seção, pois todo esse conteúdo lhe servirá como base para
a sua atuação profissional, principalmente na orientação de empreendedores
e de futuros empresários durante o processo de abertura de suas empresas.

Não pode faltar

Tipos de cadastros e inscrições nos órgãos públicos


Caro aluno, antes de se executar a constituição e registro de uma empresa,
é importante que você conheça quais os órgãos relacionados a esse processo.
Entenda que cada esfera da administração pública, seja município, estado
ou governo federal, possui um órgão responsável pela gestão das receitas
derivadas dos tributos de sua competência de arrecadação.
Segundo Endeavor (2019), os processos envolvendo as esferas de
governo nos quais são executados os registros das pessoas jurídicas, sejam
de abertura, alteração ou encerramento das atividades, estão organizados em
etapa municipal, estadual e federal.
Em cada uma dessas esferas são executadas consultas, inscrições, regis-
tros e cancelamentos de inscrições. Esses procedimentos são executados
junto ao órgão responsável em cada esfera de governo, a saber:
• Municípios: nas Secretarias das Fazendas Municipais, responsá-
veis pela gestão das receitas derivadas dos tributos municipais,
dentre os quais se destacam: o Imposto sobre Serviços de Qualquer
Natureza – ISSQN, o Imposto sobre Transmissão de Bens Imóveis
– ITBI, o Imposto sobre Propriedade Territorial Urbana – IPTU, as
Contribuições de Melhoria, as Taxas de Alvará/Licenciamento, e a
Taxa de Coleta de Lixo.
• Estados: nas Secretarias das Fazendas Estaduais, que são as responsá-
veis pela gestão das receitas derivadas dos tributos estaduais, dentre
os quais se destacam: o Imposto sobre Circulação de Mercadorias
e Serviços – ICMS, o Imposto sobre Propriedade de Veículos

42
Automotores – IPVA, e o Imposto sobre a Transmissão Causa Mortis
e Doação – ITCMD.
• Governo Federal: na Secretaria da Fazenda Federal, que é a respon-
sável pela gestão das receitas derivadas dos tributos federais, dentre
os quais se destacam: o Imposto sobre Importação – II, o Imposto
sobre Exportação – IE, o Imposto de Renda – IR, o Imposto sobre
Produtos Industrializados – IPI, o Programa de Integração Social
– PIS, a Contribuição para Financiamento da Seguridade Social –
COFINS, o Imposto sobre Operações Financeiras – IOF, o Imposto
sobre Propriedade Territorial Rural – ITR, o Imposto sobre Grandes
Fortunas – IGF, a Contribuição Social Sobre o Lucro Líquido – CSLL,
e os encargos trabalhistas (INSS, FGTS).

Assimile
O Estado também pode ser denominado de ente federativo, entidade
federativa, ou unidade federativa. Ele representa uma unidade
autônoma, ou seja, exerce seu próprio governo, cria suas próprias Leis e
executa sua própria arrecadação. Dentro dos estados estão os municí-
pios, que possuem as mesmas características de governo, legislação e
arrecadação próprias.

Cada secretaria dispõe de departamentos específicos que direta ou


indiretamente participam do ciclo de formalização das empresas, princi-
palmente no que se refere às autorizações para funcionamento e emissão de
documentos fiscais (notas fiscais).
No âmbito dos municípios, deverá ser feita a solicitação prévia e a solici-
tação do alvará de licença de funcionamento. Também é na esfera municipal
que serão emitidos as licenças sanitárias e o alvará do corpo de bombeiros.
Geralmente, para que seja liberado o alvará de funcionamento, deverão
ser providenciadas concomitantemente as demais licenças, ou seja, a sanitária
e a do corpo de bombeiros.
O alvará de licença tem a finalidade de autorizar o funcionamento da
empresa no local para o qual o mesmo foi emitido, bem como para a ativi-
dade, ou atividades, para as quais ele foi solicitado. Qualquer incoerência, seja
em relação aos aspectos físicos e de localização, seja em relação às atividades
desenvolvidas, poderá resultar na cassação do documento pela prefeitura.
A licença sanitária serve como comprovação de que as condições relacio-
nadas à saúde e à segurança das pessoas estejam satisfatoriamente dentro
das normas estabelecidas pela legislação pertinente. A verificação nesse

43
sentido não se restringe à saúde e segurança daquelas pessoas que convivem
e trabalham no ambiente da empresa, mas igualmente daquelas que direta ou
indiretamente possam ser afetas pela atividade da entidade.

Exemplificando
Tanto o alvará de funcionamento como as licenças sanitárias e do
corpo de bombeiros são fundamentais para que se garanta a saúde e a
segurança de todos os envolvidos direta ou indiretamente com a ativi-
dade da entidade.
Por exemplo: considere que uma serralheria esteja sendo constituída
em uma rua comercial, porém com casas residenciais localizadas
próximo ao seu provável local de funcionamento.
Quais seriam os riscos à saúde e à segurança que essa empresa poderia
causar para as pessoas? Essa avaliação é necessária e será objeto de
vistoria e fiscalização dos órgãos competentes.
Os riscos envolvidos com essa atividade podem ser resumidamente
elencados em: poluição sonora (derivada dos ruídos gerados pelas
serras, lixadeiras, marretas, parafusadeiras), poluição atmosférica
(derivada dos gases utilizados nos processos de soldagens, fuligem
liberada no processo de abastamento e serragem de materiais ferrosos,
névoa de produtos químicos gerados a partir do processo de pintura),
enfim, aspectos que podem afetar a saúde e a segurança das pessoas.
Além desses aspectos, é importante a verificação do ambiente de
trabalho no tocante a condições de alimentação, ergonomia, condições
de acesso e de manutenção dos sanitários, etc.
A questão do risco de incêndio e acidentes envolvendo a manipulação
de materiais e equipamentos pela serralheria será objeto da vistoria e
fiscalização do corpo de bombeiros.
Somente depois de garantidas a minimização dos riscos destacados
nesse exemplo é que serão emitidos os documentos que autorizam
o funcionamento da empresa: o alvará, a licença sanitária e o alvará
específico do corpo de bombeiros.

Fica evidente que no âmbito municipal a principal preocupação, além do


aspecto arrecadatório, é a do correto funcionamento da entidade, de forma
que não se infrinja a legislação relacionada ao zoneamento e às autoriza-
ções de atividades empresariais de indústria, comércio ou de prestação de
serviços, com ou sem finalidade lucrativa.

44
Licenças especiais: questões de zoneamento, ambientais, e
de segurança
Determinadas atividades são passíveis de licenças especiais devido ao
impacto ambiental que elas podem causar. Sejam aparentes ou não, reali-
zados ou previsíveis.
Segundo Fiorillo, Morita e Ferreira (2015), o licenciamento ambiental é
um dos instrumentos que compõem a Política Nacional do Meio Ambiente
praticada no Brasil desde 1981.
As licenças especiais podem ser solicitadas, além do motivo ambiental,
quando o município reserva uma área específica para o desenvolvimento de
determinadas atividades, como, por exemplo, uma área destinada especifica-
mente para as operações industriais.
Quando existe a restrição para o funcionamento de outras atividades que
não sejam aquelas estabelecidas na Lei de Zoneamento, cabe ao município
exigir a consulta prévia bem como a emissão de laudos, quando necessário,
que comprovem a adequação da entidade às condições preestabelecidas para
o seu funcionamento.
Outro motivo que pode gerar a necessidade de emissão de licenças
especiais é a questão da segurança quanto aos riscos à saúde, ou seja, cabe
ao município não autorizar o funcionamento de bares, boates, casas de show
(que possam gerar ruídos e/ou comportamentos prejudiciais à saúde física e
mental das pessoas), ou ainda centros de treinamento de tiros, manipulação
de produtos altamente tóxicos e explosivos (que possam gerar risco à integri-
dade física e à vida das pessoas).
Essas atividades requerem licenciamento especial e são restritas a áreas
que reduzam as chances de causarem danos ao ambiente e às pessoas, por
isso não são autorizadas a funcionarem em áreas residenciais ou muito
próximas dessas áreas.

Exemplificando
Cuidar da segurança das pessoas, quer seja no sentido da integridade
física, quer seja em relação aos riscos à sua sobrevivência, é função do
Estado, ou seja, é obrigação dos municípios enquanto esfera adminis-
trativa do poder público garantir a segurança oriunda das atividades
desenvolvidas pelas entidades no município.
Se, por exemplo, uma empresa de fabricação de fogos de artifício deseja
se estabelecer em um determinado município, ela deverá primeira-

45
mente solicitar a avaliação sobre a sua atividade bem como sobre o
local onde pretende se estabelecer.
No processo de consulta prévia se obterá a autorização prévia, que
serve como um aval do órgão público para que a indústria de fogos de
artifício possa dar andamento aos trâmites relacionados à sua consti-
tuição, registro e autorização de funcionamento.

As licenças especiais garantem que sejam minimizados os riscos às


pessoas e ao meio ambiente, derivados das atividades empresariais e demais
atividades envolvendo pessoas físicas e jurídicas que se propõem e realizar
alguma operação comercial, industrial ou de prestação de serviços, com ou
sem fins lucrativos.
A licença ambiental, conforme já destacado, faz parte de um conjunto
maior de ações voltadas para a proteção ambiental e que se constitui na
forma de política pública no âmbito federal, portanto, com impacto jurídico
nas demais esferas da administração pública.
Segundo Fiorillo, Morita e Ferreira (2015), fazem parte da Politica
Nacional do Meio Ambiente os seguintes instrumentos:
• Criação de padrões de qualidade ambiental.
• Determinação de zonas ambientais.
• Avaliação do impacto ambiental causado pelas atividades humanas.
• O licenciamento e constante revisão de atividades potencial-
mente poluidoras.
• Incentivo à criação e uso de tecnologias de proteção ambiental.
• Criação de espaços ambientais protegidos pelo poder público.
• Sistema Nacional de Informações sobre o Meio Ambiente.
• Cadastro Técnico Federal de Atividades e instrumentos de
defesa ambiental.
• Estabelecimento de penalidades disciplinares ou compensatórias.
• Relatório de Qualidade do Meio Ambiente elaborado pelo IBAMA.
• Garantia da informação sobre o meio ambiente.
• Cadastro Técnico Federal de Atividades potencialmente poluidoras.

46
Assimile
O IBAMA é o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis e é vinculado ao Ministério do Meio Ambiente. Suas
principais atribuições envolvem exercer o poder de polícia ambiental,
executar as ações derivadas das políticas públicas ambientais nacionais,
e executar, a título supletivo, ações de competência da União relacio-
nadas com a legislação ambiental.

Constituição e registro das pessoas jurídicas: etapas, docu-


mentos e processos
O processo de constituição de uma pessoa jurídica demanda o cumpri-
mento de algumas etapas importantes, todas elas relacionadas com as forma-
lidades legais.
As formalidades envolvidas com a constituição de uma pessoa jurídica
se iniciam desde o processo de concepção da nova personalidade jurídica.
A partir do momento no qual se define que tipo de entidade se consti-
tuirá, iniciam-se os trâmites processuais que darão forma jurídica à nova
organização, seja ela uma associação, fundação, organização religiosa,
partido político, cooperativa, Microempresa Individual – MEI ou uma socie-
dade empresária.
A partir de uma rápida pesquisa na internet, pode ser encontrada uma
série de textos que descrevem o processo de constituição e registro das
pessoas jurídicas.
Geralmente esses textos recebem o título de Processo de Abertura de
Empresas. Todavia, precisamos considerar que além da abertura, que incor-
pora o processo de constituição e registro, também há alterações e extin-
ções de pessoas jurídicas que igualmente transitam pelas etapas que serão
aqui estudadas.
Independentemente do trâmite que se está executando, o primeiro passo
constitui-se sempre da formalização contratual das relações sociais em
questão. Nesse caso, para cada tipo de instituição teremos uma forma. Veja:
Quadro 1.1 | Documentos elaborados inicialmente para cada tipo de instituição
Instituição
Instituição
(com finalidade lucrativa)
(sem finalidade lucrativa)
Sociedade empresária
Cooperativa ou Sociedade Empresa Individual de Re- Microempresa Individual
Anônima ponsabilidade Limitada – MEI

47
Elaborar Elaborar Elaborar
Ata de Constituição ou Ata de
Fundação
Projeto de Estatuto Social (dis- Não existe um documento
cutido na reunião/ assembleia de constituição. Cadastro
Contrato Social
de fundação) diretamente no Portal do
Estatuto Social (aprovado Empreendedor.
na reunião/ assembleia de
fundação)

Fonte: elaborado pelo autor.

Se a entidade é uma instituição (sem finalidade lucrativa), uma coopera-


tiva ou uma sociedade anônima, ela deverá necessariamente elaborar a Ata
de Constituição ou Ata de Fundação; um projeto de estatuto social que é
discutido na reunião/assembleia de fundação; e o Estatuto Social devida-
mente aprovado na reunião/assembleia de fundação.
Se a entidade for uma sociedade empresária, mesmo no caso da Empresa
Individual de Responsabilidade Limitada – EIRELI, haverá a elaboração do
Contrato Social.
No caso de constituição de uma Microempresa Individual – MEI, não
existe um documento de constituição, conforme é possível se verificar no
Portal do Empreendedor-MEI (BRASIL, 2019), mas tão somente uma
inscrição feita diretamente nesse portal.
Uma vez elaborados e devidamente assinados os documentos constitu-
tivos das sociedades, das cooperativas ou das instituições, inicia-se o processo
de registro nos órgãos competentes.
O primeiro registro, depois do processo de elaboração do instrumento de
constituição da pessoa jurídica, é o que se denomina de arquivamento dos
atos constitutivos.
Esse processo de arquivamento envolve basicamente dois tipos de
entidades: as Juntas Comerciais de cada estado e os Cartórios de Registro
de Pessoas Jurídicas.
Nas Juntas Comerciais são registrados os contratos sociais das sociedades
empresárias (incluindo as Sociedades Anônimas S/A) e das cooperativas.
Embora essas últimas sejam sociedades simples, dispõem de tratamento
jurídico diferenciado.
Já nos Cartórios de Registro de Pessoas Jurídicas serão registrados os atos
constitutivos das sociedades simples e das instituições sem fins lucrativos.

48
Reflita
Qual seria a finalidade do arquivamento dos atos constitutivos das
pessoas jurídicas independentemente a qual tipo de entidade se refira?
Seria esse um processo visando ao aumento da segurança jurídica?

Para o registro dos atos constitutivos são solicitados vários documentos,


sendo que a lista de documentos bem como sua forma e tipo de preenchi-
mento (manual ou digital) depende das normas de cada órgão de registro
presente em cada unidade federativa.
De forma geral, são necessários para arquivamento nas juntas comerciais:
• Requerimento Padrão, o que se denomina de Capa da Junta Comercial
do estado.
• O Contrato Social/Estatuto Social.
• Cópia autenticada do documento de identidade dos sócios
e administradores.
• Ficha de Cadastro Nacional, conhecida por FCN.
• Um elemento importante, além de todos os demais dados solici-
tados para o cadastramento da entidade, é a informação relativa à
Classificação Nacional de Atividades Econômicas – CNAE.
Também são exigidos os comprovantes do pagamento das taxas de
arquivamento dos atos, o que é feito por meio das guias de recolhimento de
cada órgão.
Conforme Valentina e Corrêa (2019), a partir da conclusão do arquiva-
mento do ato constitutivo é que se dá o nascimento da pessoa jurídica. Ela
passa a contar com um código de registro que, no caso da Junta Comercial,
denomina-se Número de Inscrição de Registro no Estado – NIRE, ou o
número de Registro no Cartório de Registro de Pessoas Jurídicas.
Conforme Endeavor (2019), mesmo antes da elaboração do contrato
social ou do estatuto, é necessário que se cumpram alguns atos:
• Consulta prévia envolvendo o local onde se pretende operar com a
entidade. Objetiva verificar a viabilidade e possibilidade de utilização
do local escolhido. Esse processo é feito na prefeitura do município
sede da entidade, sendo que o tempo de resposta bem como o processo
da consulta varia de município para município.
• Consulta prévia envolvendo o nome da entidade. Objetiva verificar
a adequação do nome em relação à atividade, forma jurídica e

49
também da não coincidência com outros nomes já registrados na
Junta Comercial. Esse processo é feito na Junta Comercial do estado e
possui formas e prazos que dependem de cada estado.
Uma vez de posse dessas confirmações é que se viabiliza a elaboração do
ato constitutivo, conforme apresentado nos parágrafos anteriores.
Uma vez vencida essa etapa, os próximos passos compreendem os regis-
tros nos órgãos arrecadadores municipais, estaduais e federal.
• Solicitação de registro no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas –
CNPJ. Objetiva o cadastramento da empresa junto à Receita Federal.
O CNPJ é como se fosse o CPF da pessoa jurídica. O pedido é feito de
forma online no sistema Coleta-Web. O documento adquirido junto
à Receita Federal é o cartão de CNPJ.
• Solicitação do alvará de funcionamento junto à prefeitura do
município, concomitantemente com o alvará do corpo de bombeiros
e a solicitação de vistoria da licença sanitária. Os formulários e
processos dependem de cada município. No município, a entidade
passa a contar com o número de inscrição municipal. Os documentos
adquiridos junto à Secretaria da Fazenda do Município são o alvará de
funcionamento, o alvará do corpo de bombeiros e a licença sanitária.
• Solicitação da inscrição estadual (exceto no caso de prestadoras de
serviços). É feito junto à Delegacia da Receita do Estado de cada
unidade federativa. Geralmente envolve uma operação online,
mas depende de cada estado. No estado, a empresa adquire a
Inscrição Estadual.
Sugere-se que os documentos derivados desses processos junto às esferas
municipal, estadual e federal sejam devidamente arquivados, devendo o
alvará de funcionamento, do corpo de bombeiros e da licença sanitária,
além do cartão do CNPJ, ficarem à disposição para efeitos de fiscalização dos
agentes públicos.

Periodicidade dos cadastros e renovações


A periodicidade dos registros descritos anteriormente depende de
algumas variáveis. A primeira diz respeito à Legislação Municipal, Estadual
e Federal que podem, dependendo da política relacionada ao processo de
formalização das empresas, flexibilizarem ou endurecerem os prazos e
processos em qualquer uma das esferas administrativas.

50
Exemplificando
Pode-se utilizar como exemplo o projeto de governo, em discussão no
ano de 2019, que trata de um pacote para fomento da atividade econô-
mica, e que, dentre outras medidas, prevê o fim da necessidade de
alvará para empresas que não ofereçam risco para a sociedade.
Conforme Uribe, Resende e Pupo (2019), a ideia do governo é diminuir a
burocracia e, como consequência, incentivar a economia.

De forma geral os prazos relacionados ao arquivamento do contrato social


dependem de haver novos atos que resultem em alterações ou na extinção da
sociedade. Isso significa que o arquivamento efetuado na Junta Comercial e
no Cartório de Registro de Pessoas Jurídicas não possui prazo de validade.
Quando da necessidade de alteração ou da extinção da sociedade,
deverá ser arquivado novo ato que receberá a designação de instrumento de
alteração ou de extinção.
O CNPJ da entidade não sofrerá alteração, portanto não tem prazo de
validade. O que ocorre são alterações derivadas de mudança ou inclusão de
atividades econômicas, localização, quadro societário e distribuição de cotas,
entre outras.
Independentemente dessas alterações, o CNPJ permanecerá o mesmo,
deixando de existir apenas em função da extinção da entidade.
Quando da constituição de filiais, serão alterados os atos constitutivos,
sendo esses arquivados, dando origem a uma nova entidade (nesse caso filial)
com números de inscrições próprios.
No caso da inscrição estadual, ocorre o mesmo que no caso do CNPJ.
Pode, no entanto, ser cancelada ou criada uma inscrição por ocasião do
encerramento ou da inclusão de atividades comerciais pela entidade.
O alvará de licença, na maioria dos municípios, possui prazo indetermi-
nado, todavia existe geralmente prazo para renovação do alvará do corpo de
bombeiros e da licença sanitária.
O objetivo dessas renovações é o de verificação da manutenção das condi-
ções exigidas para funcionamento desde a última vistoria.
As licenças ambientais, por força de lei, apresentam validades diferentes
em cada estado, mas em média, conforme se pode verificar em Fiorillo,
Morita e Ferreira (2015), elas precisam ser renovadas a cada dois anos.
Os conteúdos tratados nesta seção sintetizam os principais aspectos
relacionados ao processo de constituição das pessoas jurídicas. Eles

51
representam um conjunto fundamental de conhecimentos que lhe ajudarão
a atender às demandas dos empreendedores que estejam abrindo novos
negócios ou, de outra forma, ampliando suas empresas preexistentes.
Você deve, no entanto, estar atento às constantes alterações na legislação
e na normatização relativas aos processos societários, principalmente porque
o Brasil conta com um volume significante de processos e burocracias que,
cedo ou tarde, tendem à simplificação em prol de uma economia mais ágil e
adaptativa sob a perspectiva empresarial.
Nesse sentido, continue firme nos seus estudos.

Sem medo de errar

Caro aluno, a situação-problema proposta solicitou de você a elabo-


ração de um checklist contemplando o processo de constituição e registro da
empresa do ramo de ferramentaria.
A solução da situação-problema, portanto, passa por listar os principais
processos relacionados à abertura da empresa, bem como a obtenção das
inscrições que permitam à empresa operar.
Nesse sentido, você deverá elaborar a lista de processos e documentos,
que conterá:
1. Consulta prévia sobre a localização.
Nesse caso, por exemplo, é indicado o endereço no qual se pretende
abrir a empresa: Rua tal, número 0, do Bairro X, da cidade Y, com CEP
12345-789.
2. Consulta prévia sobre o nome da entidade.
São sugeridos três nomes para que seja verificada a viabilidade
segundo as normas do registro comercial, por exemplo:
– Opção 1: Obra Prima Comércio de Ferramentas LTDA.
– Opção 2: Prima Obra Comercial Ferramentaria LTDA.
– Opção 3: Santos & Santos Comércio de Ferramentas LTDA.
3. Elaboração do instrumento constitutivo (contrato ou estatuto social).
4. Arquivamento do ato constitutivo, devendo ser apresentados
os seguintes documentos: Capa do processo, Ato constitutivo,
documentos autenticados dos sócios, Ficha de Cadastro Nacional –
FCN e comprovante de recolhimento das taxas.

52
5. Inscrição no CNPJ junto à Receita Federal.
6. Inscrição na prefeitura (alvará de licença, licença sanitária e alvará do
corpo de bombeiros).
7. Inscrição do estado (exceto para prestadoras de serviços).
8. Verificação da necessidade de licenças especiais, como a ambiental.
Por exemplo, para uma empresa de curtume, haveria a necessidade de
uma licença ambiental. No caso da ferramentaria, não há essa neces-
sidade devido ao fato de envolver uma atividade comercial comum e
que não oferece risco ao meio ambiente.

Avançando na prática

Licença ambiental na prática

Uma das demandas para que uma empresa possa operar legalmente é a da
licença ambiental em casos específicos.
As licenças ambientais são exigidas de empresas que sejam potencial-
mente poluidoras, e serve como uma forma de controle da atividade e do
impacto ambiental causado pela empresa.
É nesse sentido que aos sócios J. e K. resolveram consultar o contador
sobre os trâmites para a constituição de uma empresa de fabricação de
veneno contra insetos.
O desafio proposto pelos sócios ao contador é o de providenciar os
documentos e registros necessários para que eles possam atuar formalmente
com essa atividade.
Você deverá se colocar na posição do contador que está executando esse
processo para os sócios, ou seja, elabore para eles uma orientação em relação
à licença especial que deverá ser solicitada em função da atividade que eles
pretendem desenvolver.
Utilize como base o órgão de controle ambiental responsável pela licença
no seu estado, descrevendo o processo bem como demais informações que
possam ser relevantes para a solução do problema apresentado.
Você pode partir do pressuposto de que todos os demais processos
relacionados à constituição, registro e inscrições da empresa estão devida-
mente realizados, restando apenas o processo de licenciamento ambiental.

53
O conteúdo para você responder a essa situação problema pode ser
encontrado nesta seção, mas é interessante que você expanda a sua pesquisa,
principalmente no tocante ao acesso ao portal do órgão de licenciamento da
sua região. Portanto, mãos à obra.

Resolução da situação-problema
Para a solução desta situação, será utilizado o portal do Instituto de Meio
Ambiente do Mato Grosso Do Sul - IMASUL (MATO GROSSO DO SUL,
2019), responsável pela gestão das políticas relacionadas ao meio ambiente
no estado do Mato Grosso do Sul. Para o licenciamento ambiental, como
exemplo, será utilizado o processo disponível no portal do Licenciamento
Ambiental Municipal (SILAM) da cidade de Campo Grande/MS
(SEMADUR, 2019).
A solução desse caso passa, portanto, pela indicação de que a empresa que
pretende ser aberta necessita de uma licença ambiental em virtude do seu
ramo de atividade. A produção de veneno é considerada, segundo os órgãos
reguladores, como uma atividade potencial para gerar impacto negativo
ambiental, portanto, deve ter esse tipo de licença para operar.
Para a solicitação da licença ambiental no SILAM, pode-se recorrer a
um checklist disponível em sua página na internet, na aba Procedimentos
(SEMADUR, 2019).
Basta o preenchimento do requerimento online, impressão e assinatura
do representante legal para que o processo de licenciamento se inicie.
De posse do requerimento, deve ser procurada a Central de Atendimento
ao Cidadão (CAC) na sede da Prefeitura de Campo Grande, local no qual
será feita a orientação sobre documentação complementar e processos de
vistoria e comprovações necessários.

Faça valer a pena

1. O primeiro documento elaborado para o processo de constituição de


uma pessoa jurídica é denominado de ato constitutivo.
Existem pelo menos dois principais instrumentos: o contrato social e o
estatuto social.
O estatuto social é aplicável para determinados tipos de pessoas jurídicas.

54
Analise as alternativas a seguir e escolha aquela que contém corretamente
um exemplo de pessoa jurídica que utiliza esse tipo de instrumento de
constituição.
Assinale a alternativa correta:
a. Sociedade Empresária de Responsabilidade Limitada.
b. Empresa Individual de Responsabilidade Limitada.
c. Sociedade Anônima – S/A.
d. Microempresa Individual – MEI.
e. Sociedade empresária em comandita simples.

2. Se uma empresa está sendo constituída em um município no qual exista


legislação de zoneamento determinando que o tipo de atividade que ela
executa deve ser desempenhada em uma região específica do município, essa
empresa deverá respeitar a lei.
Nesse sentido, alguns procedimentos devem ser seguidos para que não haja
prejuízo no uso de recursos em adequação de espaço no qual não será autori-
zado o funcionamento da empresa.
Sobre o processo que permite saber a viabilidade de local, além da viabili-
dade de nome, antes de tomadas as providências de constituição da empresa
pode-se afirmar:
I. Deve ser feita a consulta prévia sobre a localização junto à Receita
Federal.
II. A consulta prévia de nome é feita perante a Junta Comercial do
estado.
III. Depois de aprovado o local, imediatamente será emitido o alvará de
licença de funcionamento da empresa.
Assinale a alternativa correta:
a. I, apenas.
b. II, apenas.
c. III, apenas.
d. II e III, apenas.
e. I e II, apenas.

55
3. O processo de constituição de uma pessoa jurídica, bem como seu registro
nos órgãos competentes envolve uma série de etapas e processos.
Um desses processos se denomina de arquivamento do instrumento de
constituição.
Sobre esse processo são feitas duas afirmações, como segue:
I. Após o registro na Junta Comercial, a pessoa jurídica passa a contar
com um Número de Inscrição de Registro no Estado – NIRE, ou
II. Se o registro for feito em cartório, o número de registro recebe a
denominação de Inscrição Estadual.
Sobre essas afirmações, é correto dizer que:
a. As afirmações I e II são verdadeiras, sendo que a I complementa a II.
b. As afirmações I e II são falsas.
c. As afirmações I e II são verdadeiras, sendo que a II complementa a I.
d. As afirmações I e II são verdadeiras, porém não se relacionam entre si.
e. A afirmação I é verdadeira, porém a afirmação II é falsa.

56
Referências

AIDAR, M. M. Empreendedorismo. São Paulo: Censage Learning, 2007.

BRASIL. Lei 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Manuais de Legislação Atlas, 12. ed. São
Paulo: Editora Atlas, 2015. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/
books/9788522494736/pageid/4. Acesso em: 2 set. 2019.

BRASIL. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Código civil. 4. ed. Editoria Jurídica da Editora
Manole (Org.). Barueri, SP: Manole, 2018.

BRASIL. Lei n. 9.096, de 19 de setembro de 1995. Dispõe sobre partidos políticos, regulamenta
os arts. 17 e 14, § 3º, inciso V, da Constituição Federal. Disponível em: http://www.planalto.gov.
br/ccivil_03/leis/L9096compilado.htm. Acesso em: 26 jul. 2019.

BRASIL. Lei nº 8.906, de 4 de julho de 1994. Dispõe sobre o Estatuto da Advocacia e a Ordem
dos Advogados do Brasil (OAB).Brasília, DF: Presidência da República, 1994. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8906.htm. Acesso em: 18 out. 2019.

BRASIL. Portal do Empreendedor – MEI. Governo Federal, c2019. Disponível em: http://www.
portaldoempreendedor.gov.br/. Acesso em: 11 ago. 2019.

BRASIL. Resolução CGSN nº 140, 22 de maio de 2018. Dispõe sobre o Regime Especial de
Arrecadação de Tributos e Contribuições devidos pelas Microempresas e Empresas de Pequeno
Porte (Simples Nacional). Publicado no DOU de 24/05/2018, Seção 1, página 20. Disponível em:
https://bit.ly/350b3iN. Acesso em: 2 ago. 2019.

ENDEAVOR. Checklist de abertura e fechamento de empresas. Endeavor Brasil, c2019.


Disponível em: https://endeavor.org.br/leis-e-impostos/checklist-abertura-e-fechamento-de-
-empresas/. Acesso em: 19 ago. 2019.

FIORILLO, C. A. P.; MORITA, D. M.; FERREIRA, P. Licenciamento ambiental. 2. ed. São


Paulo: Saraiva, 2015.

JUNIOR, A. E. MPE: avanços importantes para as micro e pequenas empresas 2017-2018.


Confederação Nacional de Comércio de Bens, Serviços e Turismo. Rio de Janeiro, 2017.
Disponível em: https://bit.ly/34SsYrn. Acesso em: 17 set. 2019.

MAMEDE, G.; MAMEDE, C. E. Manual de redação de contratos sociais – estatutos e acordos


de sócios. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2017. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.
br/#/books/9788597011579/epubcfi/6/2[;vnd.vst.idref=body001]!/4/2/2@0:0.0920. Acesso em:
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MICHAELIS. Dicionário português online. São Paulo: Editora Melhoramentos, 2019.


Disponível em: https://michaelis.uol.com.br/. Acesso em: 26 jul. 2019.

PAIVA, J. P. L.; ÁLVARES, P. B. Registro civil de pessoas jurídicas. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2017.
SIMÃO, J. F.; BELTRÃO, S. R. Direito civil: estudos em homenagem a José de Oliveira Ascensão.
São Paulo: Atlas, 2015.

URIBE, G.; RESENDE, T.; PUPO, F. Em evento de 200 dias, Bolsonaro lançará pacote de
estímulo à economia. Folha de S. Paulo, 17 jul. 2019. Disponível em: https://bit.ly/2X6PiuN.
Acesso em: 11 ago. 2019.

VALENTINA, D. J., CORRÊA, S., R. D. Guia para abertura de empresas – aspectos tributários
e contábeis. São Paulo: Atlas, 2019. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/
books/9788597018738. Acesso em: 21 ago. 2019.

VALENTINA, D., J., CORRÊA, S. R. D. Guia para abertura de empresas – aspectos, tributários
e contábeis. São Paulo: Atlas, 2019. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/
books/9788597018738/epubcfi/6/10[;vnd.vst.idref=html5]!/4/2@0:0. Acesso em: 2 set. 2019.
Unidade 2
Régis Garcia

Registros contábeis dos fatos iniciais das PJs

Convite ao estudo
Caro aluno, neste momento você passará a ter contato com conteúdos
fundamentais para o exercício da profissão contábil nos primeiros momentos
de vida de uma empresa.
Toda empresa, após ser constituída, começa a realizar algumas atividades
que resultarão nas primeiras movimentações em seu patrimônio. São ativi-
dades comuns a qualquer tipo de empresa. Seja uma sociedade empresária
por cotas de responsabilidade limitada, seja uma sociedade anônima, todas
elas iniciam suas operações a partir da subscrição e da integralização dos
capitais sociais.
Cabe ao contador, na condição de responsável pelo estudo, registro e
evidenciação patrimonial, identificar e registrar os fatos contábeis ocorridos
nessa fase da empresa, bem como elaborar o balanço para evidenciar a
situação financeira atualizada.
Espera-se que o profissional contábil possua as competências
necessárias para conhecer e desenvolver todo processo de registro
contábil dos fatos iniciais, das empresas e demais organizações,
reconhecendo os impactos dos fatos contábeis sobre seu patrimônio.
Nesse sentido, com base no estudo dos conteúdos desta unidade, você estará
habilitado para identificar e elaborar os principais livros contábeis e acessó-
rios, reconhecer os impactos dos fatos contábeis na situação líquida patrimo-
nial, elaborar o plano de contas e, principalmente, lançar os fatos iniciais das
pessoas jurídicas após a constituição destas.
Para desenvolver as competências e habilidades necessárias para o
exercício eficaz da atividade contábil nessa importante fase das empresas, com
base no estudo desta unidade, você terá contato com conteúdos relevantes e
fundamentais sobre o tema.
Na primeira seção, você conhecerá o conceito e as principais caracterís-
ticas do livro-diário e do livro-razão, ambos os quais são obrigatórios para a
escrituração contábil.
Na segunda seção, você conhecerá os livros fiscais obrigatórios, ou seja,
aqueles destinados ao registro das operações empresariais com impacto na
geração e no recolhimento de tributos.
Além dos livros contábeis e fiscais, você terá a oportunidade de, na
terceira seção, conhecer os livros e demais instrumentos de registros comer-
ciais e acessórios.
O conjunto dos conhecimentos apresentados nas respectivas seções
permitirá a compreensão da forma pela qual se dão os registros dos fatos
contábeis, bem como do controle dos tributos e das atividades comerciais
das empresas.
Vamos, então, começar nosso estudo!
Seção 1

Livros contábeis e acessórios

Diálogo aberto
Os primeiros momentos de vida das empresas, logo após elas serem
constituídas, contemplam alguns fatos que afetam diretamente sua
situação patrimonial.
Com o objetivo de compreender o contexto no qual a contabilidade atua
durante esses primeiros momentos de vida da empresa, é que você, nesse
momento, deve se colocar na posição de um contador que está em meio aos
primeiros fatos contábeis, ocorridos depois da constituição de uma determi-
nada organização empresarial.
Você deverá realizar operações contábeis bem como elaborar sínteses
explicativas, visando atender aos interesses informacionais dos sócios da
empresa.
Como a contabilidade das entidades é fortemente regulamentada, alguns
detalhes importantes deverão ser explicados aos sócios. Sua explicação os
ajudará a compreender os livros e relatórios que você apresentará a eles na
reunião de prestação de contas envolvendo os primeiros registros contábeis
da empresa. Seu desafio será elaborar um relatório sintetizado com informa-
ções relevantes sobre os principais documentos utilizados pela contabilidade
para o registro e evidenciação das informações patrimoniais da empresa.
Você precisa realizar os registros dos fatos iniciais e demonstrar aos
sócios a situação patrimonial da empresa, após cada fato por você registrado.
O objetivo dessas etapas é desenvolver as competências necessárias para
você ser capaz de identificar e elaborar os principais livros contábeis e acessó-
rios, reconhecer os impactos dos fatos contábeis na situação líquida patrimo-
nial, elaborar o plano de contas, lançar os fatos iniciais da empresa e levantar
demonstrações a cada fato registrado pela contabilidade.
Considerando todas essas atividades, é possível se afirmar que a função
do contador, na assessoria das empresas desde seus primeiros momentos de
vida, é fundamental?
Certamente ela evita muitos problemas para empresários e empresas.
É nesse sentido que você está diante da primeira situação-problema
desta unidade. Ela envolve uma empresa recentemente constituída, cujos
sócios lhe contrataram para atuar como contador, e desse modo sua função

61
é assessorá-los no sentido de terem acesso a informações sempre atualizadas
sobre a situação patrimonial da empresa.
Ocorre que a contabilidade é fortemente regulamentada, portanto,
para que os sócios consigam interpretar adequadamente os relatórios que
você produzirá na sua atuação como contador, tornam-se primordiais
algumas explicações.
Seu desafio é elaborar uma síntese envolvendo os livros contábeis diário
e razão.
Na sua síntese, você deverá explicar aos sócios o que cada um desses livros
registra e dar algumas informações sobre as formalidades envolvendo esses
dois instrumentos contábeis. Elabore um exemplo de lançamento efetuado
em cada um desses livros, mantendo a correlação entre o que é registrado no
livro-diário e no livro-razão a partir da utilização do mesmo exemplo para
ambos os livros.
O conteúdo necessário para resolver a situação-problema apresentada
está disponível nesta mesma seção, e envolve o conceito e formalidades dos
livros contábeis, além de exemplos de lançamentos que neles são efetuados.
Depois de estudar os referidos conteúdos disponibilizados na seção, o
trabalho será com você. Muito sucesso na solução da situação-problema.

Não pode faltar

Caro aluno, apesar de o assunto principal desta seção envolver os livros


empresariais e os livros do empresário, conforme são exigidos principalmente
pelo Código Comercial Brasileiro, pela legislação societária e pela legislação
fiscal, é preciso reconhecer as mudanças advindas do processo informatizado
de escrituração.
Durante muitos anos, as legislações contábeis, societária, comercial e
fiscal, entre outras, estabeleceram normas relacionadas ao registro e escri-
turação das informações empresariais em livros específicos, obrigatórios
ou facultativos.
Com o avanço tecnológico observado ao longo dos últimos vinte
anos, ações voltadas para a informatização da escrituração e do processa-
mento de dados foram sendo tomadas, tanto por empresas como pelos
órgãos reguladores.
A escrituração fiscal, por exemplo, é feita a partir de programas que
compreendem um sistema público informatizado denominado Sistema
Público de Escrituração Digital (SPED).

62
Esse sistema constitui-se de programas, ou módulos, que estão disponí-
veis para download no portal da Receita Federal do Brasil (RFB, 2019).
Esse é o caso da Escrituração Contábil Fiscal (ECF), que visa à coleta de
informações fiscais das empresas e é gerenciado e controlado pela Receita
Federal do Brasil.
Dentro do mesmo sistema SPED há ainda a Escrituração Contábil Digital
(ECD), que visa à coleta de informações contábeis das empresas pela Receita
Federal do Brasil. Trata-se de um processo relacionado com a valorização dos
sistemas informatizados de contabilidade em detrimento de sistemas ultra-
passados de registro e controle.
Para Padoveze (2010), os sistemas de informações são os responsáveis pela
coleta, processamento e geração de informações no contexto das empresas.

Reflita
É justificável a exigência de que os registros contábeis devem estar
fundamentados em documentos comprobatórios fidedignos?

O sistema de informação contábil, por sua vez, é o responsável por coletar


as informações advindas dos fatos contábeis ocorridos, representados por
documentos comprobatórios, pelo processamento dessas informações e pela
geração dos relatórios e demonstrativos financeiros que serão utilizados
pelos usuários como apoio ao processo de decisão.
O portal da Receita, conforme RFB (2019), traz a lista completa dos
módulos do SPED, sendo que no mesmo portal é possível acessar o conceito
e as principais características de cada um dos módulos disponibilizados.

Exemplificando
Você pode consultar quais os sistemas que atualmente estão disponí-
veis para download e utilização a partir da consulta no portal da Receita
Federal do Brasil (RFB, 2019), no qual estão disponíveis os módulos:

• CT-e – relacionado ao reconhecimento de transporte.


• ECD – refere-se à escrituração contábil.
• ECF – refere-se à escrituração fiscal.
• EFD Contribuições – refere-se à escrituração das contribuições.
• EFD ICMS IPI – diz respeito às informações de ICMS e IPI.
• EFD-Reinf – diz respeito às retenções.
• e-Financeira – diz respeito a informações financeiras.
• eSocial – relaciona-se com as informações de cunho social.

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• MDF-e – relaciona-se com documentos fiscais especiais.
• NFC-e – diz respeito às notas ficais ao consumidor.
• NF-e – trata-se da nota fiscal eletrônica.
• NFS-e – trata-se da nota fiscal eletrônica de serviços.
• Simplificação – projeto de desburocratização.

A tendência é de que toda a escrituração contábil, fiscal e comercial das


empresas esteja digitalizada e integrada com os órgãos fiscalizadores muito
em breve. Isso já é uma realidade em países mais desenvolvidos.

Conceito e características do livro-diário


O livro-diário faz parte dos livros que juridicamente são classificados
como obrigatórios e comuns. São obrigatórios porque são exigidos por lei, e
são comuns porque todas as empresas, independentemente de sua forma ou
atuação, são obrigadas a tê-lo.
Conforme Almeida (2016), os livros de escrituração contábil são
documentos exigidos por norma legal e devem refletir as movimentações
ocorridas durante as operações das entidades.
Ele deve conter todos os registros contábeis, de forma cronológica, que
modifiquem no presente, ou possam vir a modificar no futuro, a situação
patrimonial da empresa. Trata-se do objetivo principal da contabilidade.
Segundo Salim (2017), é na contabilidade que se é capaz de executar o
registro de um número sem fim de fatos empresariais e que por meio da
escrituração é possível obter como resultado relatórios e demonstrativos
financeiros ricos em detalhes.
Esses relatórios são utilizados para fundamentais decisões importantes
do contexto empresarial, afetando, inclusive, decisões de investimento.
Por se tratar de um livro obrigatório, não existe hipótese de dispensa
de escrituração. No caso especial das microempresas (ME) e empresas de
pequeno porte (EPP), há a dispensa de escrituração contábil apenas para fins
de comprovação junto ao Fisco Federal, sendo que as exigências para fins
societários permanecem inalteradas.
Os livros-diários das empresas devem ser autenticados no Registro Público
de Empresas Mercantis que é feito nas Juntas Comerciais de cada estado.
O livro-diário possui formalidades, que geralmente são denominadas
extrínsecas e/ou intrínsecas a depender de se referirem à forma do livro ou
de seu conteúdo.

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São consideradas formalidades extrínsecas:
• Possuir termos de abertura e encerramento.
• Ser encadernado com costura e ter com páginas
numeradas tipograficamente.
• Ser registrado em órgão competente.
• Conter as demonstrações contábeis obrigatórias.
São formalidades intrínsecas:
• Escrituração em idioma e moeda nacional.
• Páginas numeradas.
• Ordem cronológica.
• Não permitir rasuras ou entrelinhas.
A escrituração no diário, por sua vez, também está sujeita a formalidades.
Elas dizem respeito aos lançamentos que conforme Almeida (2016) repre-
sentam a primeira etapa a ser executada pela contabilidade a fim de possibi-
litar a geração de informações patrimoniais.
Vicenconti (2017) considera que o lançamento é uma técnica contábil
que deve ser realizada obedecendo algumas normas quanto ao seu conteúdo.
O lançamento deve conter:
• Local e data.
• Conta a ser debitada.
• Conta a ser creditada.
• Histórico.
• Valor.
Existem outras formalidades envolvendo o próprio livro-diário:
• A encadernação.
• Numeração das páginas.
• Termos de abertura e encerramento.
• Ordem de acordo com a estrutura do plano de contas.

65
Assimile
O histórico de um lançamento contábil deve ser capaz de representar
fidedignamente o fato contábil que está sendo contabilizado. A partir
da leitura do histórico no lançamento, o usuário da informação contábil
precisa identificar e compreender a movimentação patrimonial ou de
resultado da entidade, bem como ser capaz de checar a correção de
seu registro.

É no diário que são realizados os primeiros lançamentos envolvendo uma


empresa recém-criada.
Como exemplo, considere que a empresa XYZ acaba de ser criada.
Seu capital social é de R$ 120.000,00 e foi integralizado 50% em dinheiro
até o momento.
Como ficariam os lançamentos no diário? Veja o Quadro 2.1 e o Quadro 2.2.
Quadro 2.1 | Lançamento da subscrição do capital

Cidade “X”, UF “ZZ” Data xx/xx/xxxx.

Conta debitada: Capital a integralizar

Conta creditada: Capital Social

Pela subscrição do capital conforme contrato social


registrado na Junta Comercial sob nº 000.000/00 nesta R$ 120.000,00.
data.

Fonte: elaborado pelo autor.

Quadro 2.2 | Lançamento da integralização do capital

Cidade “X”, UF “ZZ” Data xx/xx/xxxx.

Conta debitada: Caixa

Conta creditada: Capital a Integralizar

Pela integralização do capital conforme contrato social


registrado na Junta Comercial sob nº 000.000/00 nesta R$ 60.000,00.
data.

Fonte: elaborado pelo autor.

66
Assimile
O valor do capital a integralizar corresponde à parcela do capital social
que não foi integralizado pelos sócios. Vale destacar que a integralização
do capital deve estar prevista no instrumento de constituição da empresa.
É no instrumento de constituição que está definido, por exemplo, o prazo
que os sócios têm para integralizarem suas cotas de capital.

Conceito e características do livro-razão


O livro-razão é considerado também como um livro contábil obrigatório,
porém não há a exigência de registro como ocorre no caso do diário.
O razão, no processo de escrituração digital, é processado a partir dos
dados lançados no sistema que alimentaram o livro-diário.
O livro-razão possui ordenação baseado no código das contas e, dentro
de cada conta, a ordem é cronológica, assim como ocorre no diário.
Também o livro-razão permite a análise das movimentações contábeis
organizada por conta contábil. São apresentados os saldos anteriores, as
movimentações de débito e crédito e o saldo atual.
Todos os livros contábeis (diário e razão) precisam estar em boa guarda e
disponíveis para a fiscalização sempre que forem solicitados.
Retomando o exemplo apresentado no item livro-diário, como ficariam
os lançamentos iniciais da empresa XYB no livro-razão? Veja o Quadro 2.3.
Quadro 2.3 | Razão após integralização do capital envolvendo caixa

Capital a integralizar Capital social Caixa

Débito Crédito Débito Crédito Débito Crédito

120.000,00 60.000,00 120.000,00 60.000,00

Fonte: elaborado pelo autor.

Agora que os primeiros fatos da empresa foram registrados no diário e


no razão, a partir do processamento dessas informações já se torna possível
a elaboração do balanço patrimonial atualizado da empresa recém-criada.
O balanço da empresa ficaria conforme apresentado no Quadro 2.4.

67
Quadro 2.4 | Balanço resumido após a integralização do capital
ATIVO PASSIVO
CIRCULANTE PATRIMÔNIO LÍQUIDO
Disponível Capital Social
Caixa R$ 60.000,00 Capital social R$ 120.000,00
(–)Capital a integralizar (R$ 60.000,00)
TOTAL DO ATIVO R$ 60.000,00 TOTAL DO PASSIVO R$ 60.000,00
Fonte: elaborado pelo autor.

Reflita
Em qual aspecto o balanço patrimonial, levantado após os lançamentos
contábeis, contribui para o processo de decisão nas empresas?

Livros fiscais obrigatórios


Os livros fiscais são aqueles exigidos pela legislação fiscal, seja no âmbito
dos municípios, dos estados ou da União.
Os principais livros fiscais são:
• Livro de registro de serviços prestados – no qual são lançadas as
emissões de notas ficais de serviços, bem como apurado o Imposto
sobre Circulação de Mercadorias e Serviços de Qualquer Natureza
– ISSQN.
• Livro de entrada de mercadorias – no qual são registradas as
notas fiscais de compras de mercadorias e apurado os créditos de
tributos, em especial, o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e
Serviços – ICMS e também o imposto federal IPI – Imposto sobre
Produtos Industrializados.
• Livro de saídas de mercadorias – no qual são registradas as notas
fiscais de venda de mercadorias e apurados os débitos de tributos. Os
mesmos apurados no Livro de Entrada de Mercadorias.
• Livro de registro e apuração do ICMS – no qual se apura o saldo do
imposto a recolher ou a recuperar baseado nos valores de entradas e
saídas de mercadorias.
• Livro de registro e apuração do IPI – para as empresas industriais,
refere-se à apuração do IPI a recolher ou a recuperar baseado nas
entradas e saídas de matérias-primas e de produtos acabados.

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• Livro de registro e emissão de documentos fiscais – no qual se
registra e se controla as notas fiscais emitidas pela empresa. Hoje é
feito eletronicamente.
• Livro de registro de Inventário – no qual se registra a apuração
dos saldos atualizados (inventariados) de estoques ao final de cada
exercício social.
• Livro de apuração do lucro real (LALUR) – no qual são registradas
as adições e exclusões no lucro contábil e apurado o Lucro Real
do período.
• Livro de movimentação de combustíveis – específico para empresas
do setor.
Todos os livros fiscais precisam estar em boa guarda e disponíveis para a
fiscalização sempre que forem solicitados.

Livros e registros comerciais e acessórios


Os livros denominados comerciais dizem respeito a livros que no âmbito
jurídico recebem a denominação de livros empresariais obrigatórios especiais.
São livros que contribuem para o controle patrimonial efetuado pela
contabilidade.
Vale destacar que todos os livros de escrituração têm como função
principal a geração de informações. Para Greco e Arend (2016), a função
da contabilidade é a de controlar o patrimônio das entidades, sendo que
ela, enquanto ciência, também está voltada para o estudo patrimonial e pela
geração de informações úteis de apoio ao processo de decisão.
Um exemplo de um livro com essa finalidade é o livro de registro de
duplicatas.
Nesse livro são escrituradas todas as duplicatas emitidas pela empresa
oriundas das vendas a prazo efetuadas no seu processo venda. Daí a expressão
livro comercial.
Ocorre que com o advento da informatização a legislação passou a
permitir que, em vez de livros, as empresas passassem a manter em arquivos
digitais ou físicos as informações relativas às duplicatas por elas emitidas.
Desde que mantidas as informações exigidas anteriormente para o livro,
não existe problema para a empresa em manter suas duplicatas registradas
em sistema informatizado.

69
As principais informações relacionadas ao registro de duplicatas são:
data da emissão, número da nota fiscal de origem do documento, número do
documento, informações do sacado e do sacador, valor, vencimento e data
do recebimento.
Já as empresas de armazéns gerais precisam manter, além do livro de
registro de duplicatas e demais livros obrigatórios, o livro de registro de
entradas e saídas de mercadorias.
Nesse livro são escrituradas as movimentações de mercadorias da
empresa. Esse processo também está informatizado atualmente.
No caso de empresas sociedades anônimas também são exigidos livros
específicos relacionados com as suas atividades deliberativas envolvendo a
assembleia dos acionistas.
São livros específicos das sociedades anônimas:
• Registro de ações nominais.
• Transferência de ações nominais.
• Registro de partes beneficiárias nominais.
• Atas das assembleias.
• Registro de presença dos acionistas nas assembleias.
• Atas relativas às reuniões de diretorias.
• Atas relativas às reuniões do conselho fiscal.
Existem livros utilizados pelas empresas que são considerados como
assessórios em relação ao processo contábil e fiscal de registro das operações.
Esses livros são conhecidos como auxiliares, pois representam infor-
mações que possibilitam o controle de movimentos específicos financeiros
da entidade.
São exemplos desses livros:
• Livro-caixa.
• Livro de contas correntes.

Exemplificando
Exemplo: o contador de uma determinada empresa atuante no ramo de
prestação de serviços está escriturando uma operação de recebimento
de uma duplicata de cliente. No livro-diário será feito o lançamento de

70
débito de caixa e crédito de duplicatas a receber, registrando a entrada
do dinheiro em caixa e dando baixa na duplicata.

Ocorre que ao mesmo tempo estará sendo gerada essa movimentação


no livro-caixa da empresa, ou seja, será registrada a entrada do dinheiro
no livro-caixa e atualizado seu respectivo saldo. Depois de efetuados os
registros, executa-se a conciliação entre o razão da conta caixa e o livro
de caixa. Nesse caso os saldos deverão ser iguais.

Bem, aqui você teve a oportunidade de conhecer os livros contábeis,


fiscais, comerciais e assessórios utilizados pela contabilidade. Aprendeu
como se dá a escrituração nesses livros, em especial por meio do lança-
mento contábil.
Todos esses conhecimentos são fundamentais para o exercício eficaz da
contabilidade, mas sempre é importante destacar a necessidade de constante
pesquisa e aprofundamento sobre outros assuntos correlatos para tornar-se
um profissional diferenciado e de muito sucesso.

Sem medo de errar

A situação-problema anteriormente proposta nesta seção envolvia, em


um primeiro momento, a construção de uma síntese sobre o conceito e
principais formalidades dos livro-diário e livro-razão.
A síntese tem como objetivo explicar aos sócios da empresa a forma pela
qual os registros contábeis que resultaram nas demonstrações a eles apresen-
tadas na reunião de prestação de contas são efetuados e em quais instrumentos.
Sua síntese certamente conterá as seguintes informações:
O livro-diário é o instrumento pelo qual a contabilidade efetua os lança-
mentos dos fatos contábeis ocorridos durante a operação da empresa.
Ele possui como principais formalidades ser encadernado, ter suas
páginas devidamente numeradas e conter termo de abertura e encerramento.
Ele deve ser escriturado em ordem cronológica dos fatos e conter todas as
informações relevantes sobre eles.
O livro-razão é o instrumento pelo qual se escritura e controla as opera-
ções organizadas por contas contábeis, ou seja, esse livro individualiza as
movimentações de cada conta.
O livro-diário deve ser registrado em órgão competente.

71
As principais formalidades do livro são a encadernação, numeração das
páginas, termos de abertura e encerramento e ordem de acordo com a estru-
tura do plano de contas.
O livro-razão não necessita de registro em órgão competente.
Como exemplo de escrituração envolvendo os dois livros, você pode utilizar
o lançamento de subscrição do capital social da empresa. Para isso você descreve
o fato e estipula um valor para o capital, por exemplo, de R$ 100.000,00.
Como ficaria o lançamento no diário? Veja o Quadro 2.5.
Quadro 2.5 | Lançamento da subscrição do capital
Cidade “X”, UF “ZZ” Data xx/xx/xxxx.
Conta debitada: Capital a integralizar
Conta creditada: Capital Social

Pela subscrição do capital conforme contrato


social registrado na Junta Comercial sob nº R$ 100.000,00.
000.000/00 nesta data.

Fonte: elaborado pelo autor.

Como ficaria o mesmo lançamento no razão? Veja o Quadro 2.6.


Quadro 2.6 | Livro-razão resumido após subscrição
Capital a integralizar Capital social
Débito Crédito Débito Crédito
100.000,00 100.000,00

Fonte: elaborado pelo autor.

A partir da elaboração dessa atividade, você conheceu o conceito e as


principais formalidades dos livros contábeis diário e razão, e dessa forma
estará habilitado a identificar e elaborar os livros contábeis de forma correta,
assim como fez na exemplificação do lançamento da subscrição do capital da
empresa em ambos os livros.

72
Avançando na prática

Identificação de fatos contábeis

Você está providenciando os registros contábeis dos fatos iniciais da


empresa K.
A partir dos registros contábeis, você apresentou alguns relatórios para os
sócios se inteirarem sobre a situação patrimonial da empresa.
O capital social já foi devidamente subscrito e registrado pela contabili-
dade, portanto, as contas a seguir já apresentam seus respectivos saldos na
contabilidade conforme de observa no Quadro 2.7.
Quadro 2.7 | Livro-razão das contas capital a integralizar e capital social
CONTAS SALDO DEVEDOR SALDO CREDOR
Capital a integralizar 250.000,00
Capital social 250.000,00

Fonte: elaborado pelo autor.

Em um determinado momento, após um novo registro pela contabili-


dade, os sócios da empresa K, senhor B e senhora J, perguntaram a você o que
significavam as movimentações resultantes desse registro que eles encon-
traram nos relatórios contábeis que possuíam em mãos.
Um dos relatórios que eles possuíam é o apresentado no Quadro 2.8:
Quadro 2.8 | Livro-razão após a integralização do capital social
Capital a integralizar Capital social Bancos conta movimento
Débito Crédito Débito Crédito Débito Crédito
250.000,00 150.000,00 250.000,00 150.000,00

Fonte: elaborado pelo autor.

Cabe a você identificar o lançamento a partir dos dados apresentados


pelos sócios e explicar a eles o que esse lançamento está registrando.

73
Resolução da situação-problema
O primeiro passo para a solução da situação-problema apresentada é
reconhecer que o relatório apresentado pelos sócios diz respeito ao livro-
-razão, ou seja, a individualização da movimentação por conta contábil.
Em um segundo momento é importante salientar que os saldos de R$
250.000,00 devedor na conta Capital a Integralizar e credor na conta Capital
Social dizem respeito ao lançamento anterior de subscrição de capital, assim
como apresentado no enunciado da situação-problema.
Resta, portanto, explicar porque há um débito na conta de Bancos conta
Movimento de R$ 150.000,00 com um crédito correspondente e do mesmo
valor na conta Capital a Integralizar.
A partir da análise desse lançamento em ambas as contas é possível
verificar que se trata da integralização de R$ 150.000,00 (por isso o crédito na
conta Capital a Integralizar) em dinheiro (por isso o débito na conta Bancos
conta Movimento).

Faça valer a pena

1. Um estagiário inicia sua atividade em um escritório contábil e o seu


responsável retoma algumas informações. Ele relembra que o registro repre-
senta o processo pelo qual se inserem no sistema contábil os fatos contábeis
ocorridos na operação organizacional e que a técnica contábil utilizada para
isso é o lançamento.
Com base nas informações dadas, o estagiário é questionado: “qual seria
o livro contábil em que são feitos os lançamentos dos fatos que afetam ou
afetarão no futuro a situação patrimonial da entidade?”.
Assinale a seguir a alternativa que responde corretamente ao questionamento
feito ao estagiário.
a. Livro-razão.
b. Livro de entrada de mercadorias.
c. Livro de saída de mercadorias.
d. Livro-diário.
e. Livro conta-correntes.

74
2. Além dos livros contábeis e livros fiscais, as organizações precisam
manter escriturados e em boa guarda outros livros que são conhecidos como
auxiliares ou assessórios.
A seguir são apresentados alguns desses livros:
I. Registro de ações nominais.
II. Transferência de ações nominais.
III. Registro de partes beneficiárias nominais.
IV. Livro-caixa.
Considerando as características das organizações, é correto dizer que, para as
Sociedades Anônimas (SAs), deverão ser escriturados os livros que constam
nos itens:
a. I e IV, apenas.
b. I, II e IV, apenas.
c. I, II e III, apenas.
d. II, III e IV, apenas.
e. I, II, III e IV.

3. O livro razão é considerado um livro contábil utilizado para a escritu-


ração dos fatos contábeis, apresentando algumas características específicas.
Dentre as características específicas do livro-razão, podemos dizer:
I. Que o livro razão é um livro obrigatório.
II. Ele deve ser registrado em órgão competente, assim como é feito
com o livro-diário.
Analisando ambas as afirmações, assinale a alternativa correta.
a. As afirmações I e II são verdadeiras, porém não têm relação entre si.
b. As afirmações I e II são falsas.
c. A afirmação I é falsa e a afirmação II é verdadeira.
d. A afirmação I é verdadeira e a afirmação II é falsa.
e. Ambas as afirmações são verdadeiras, sendo que a II complementa a I.

75
Seção 2

Implicação patrimonial dos fatos contábeis

Diálogo aberto
Caro aluno, você certamente tem contato com várias empresas em seu
cotidiano.
As empresas, independentemente do ramo em que atuam, possuem lança-
mentos contábeis em comum, ou seja, alguns eventos se repetem, mesmo em
empresas de diferentes atividades.
Conhecer os principais fatos contábeis é importante, porém igualmente
importante é saber os impactos que os fatos contábeis causam sobre o patri-
mônio das entidades.
Visando o aprendizado desses conteúdos, considere que você está diante
de mais um desafio. Ela envolve o registro dos fatos contábeis ocorridos nos
primeiros momentos de existência da empresa, logo após a sua constituição.
Na condição de contador, sua função é registrar os fatos contá-
beis envolvendo:
1. Subscrição do capital social da empresa, cujo valor é de R$ 500.000,00.
2. Integralização parcial do capital social da empresa sendo: R$
200.000,00 em dinheiro, depositados na conta bancária da empresa.
Outros R$ 50.000,00 pela entrega de móveis e utensílios por um dos
sócios, e outros R$ 100.000,00 pela entrega de máquinas e equipa-
mentos por outro sócio.
Seu desafio envolve a execução desses lançamentos contábeis por meio do
registro no livro-diário e no livro-razão, e a elaboração do balanço patrimo-
nial evidenciando a situação patrimonial após o registro desses fatos. Com
isso será possível observar o impacto desses lançamentos sobre a situação
patrimonial da empresa.
Ambas as atividades deverão resultar em relatórios contábeis, seguindo o
padrão determinado pela legislação vigente, em especial as normas contábeis.
Para tanto, você poderá recorrer aos conteúdos apresentados nesta seção,
os quais envolvem os lançamentos dos primeiros fatos contábeis das empresas
bem como a elaboração do balanço patrimonial após esses registros.
É importante que você estude os conteúdos da unidade e, a partir do
aprendizado adquirido, resolva a situação problema. Bom trabalho.

76
Não pode faltar

Caro aluno, compreender a implicação patrimonial dos fatos contábeis,


principalmente no início das atividades empresariais, significa conhecer as
características de cada fato, bem como sua forma de registro e seu reflexo
sobre a situação líquida patrimonial.
Um fato contábil, conforme Viceconti (2017), pode representar basica-
mente duas modificações no patrimônio e na situação patrimonial líquida
da entidade.
Modificações qualitativas.
Modificações quantitativas.
Em termos qualitativos o patrimônio pode se alterar por aumento ou
redução em contas dentro de um mesmo grupo, ou de grupos diferentes,
afetando sua estrutura financeira.
No caso das modificações qualitativas, é afetada a distribuição dos valores
financeiros de contas e grupos, alterando seus saldos e, consequentemente
sua representação dentro da estrutura patrimonial. O que se modifica,
em última análise, é a distribuição dos valores nas contas, subgrupos e
grupos patrimoniais.
Já as modificações quantitativas, por outro lado, são aquelas que afetam
o patrimônio líquido da entidade, ou seja, melhoram ou pioram a sua
situação líquida.
As modificações quantitativas ocorrem a partir dos lançamentos que
contemplam as contas de resultado, ou seja: receitas, custos e despesas.
De modo geral você precisa, ao tomar conhecimento de um fato contábil,
estar habilitado para identificar seu conteúdo, checar sua fundamentação
documental, saber a forma de registrá-lo e, principalmente, conhecer seu
efeito sobre a situação líquida patrimonial da entidade. A Figura 2.1 ilustra
esse processo.

77
Figura 2.1 | Elementos fundamentais para o registro dos fatos contábeis

Fonte: elaborada pelo autor.

Fatos permutativos
A classificação dos fatos como permutativos, segundo Padoveze (2010),
se dá em função do impacto causado pelo evento contábil registrado pela
contabilidade sobre a situação líquida da entidade.
Em parágrafos anteriores foram mencionadas as modificações quantita-
tivas e qualitativas no patrimônio das entidades, portanto alguns esclareci-
mentos são importantes.
Os aspectos qualitativos e quantitativos do patrimônio não estão relacio-
nados exclusivamente à situação líquida, ou seja, envolvem todo o patrimônio.
Quando uma conta, isoladamente, sofre alteração em seu saldo, houve ali
uma modificação quantitativa. Ao mesmo tempo, houve uma modificação
qualitativa na estrutura patrimonial.
Ocorre, porém, que a classificação dos fatos como permutativos e modifi-
cativos está relacionada à afetação da situação líquida da entidade. Dessa
forma, os fatos permutativos são aqueles que podem alterar qualitativamente
a estrutura patrimonial, e até mesmo quantitativamente algumas contas,
subgrupos e grupos. Porém, esses fatos não modificam a situação líquida
da entidade.
Conforme Padoveze (2018), os fatos são permutativos quando não
alteram a situação financeira do patrimônio líquido da entidade.

78
Reflita
Sendo o fato permutativo algo que não altera financeiramente o patri-
mônio líquido da entidade, por não envolver contas de resultado,
deveriam esses fatos serem registrados pela contabilidade?

O registro dos fatos permutativos é justificável à medida que afetam a


estrutura patrimonial, se não sob o aspecto quantitativo relacionado à
situação líquida, esses fatos modificam qualitativa e quantitativamente o
restante do patrimônio da entidade.

Exemplificando
Para a exemplificação dos fatos permutativos, pode-se recorrer aos
lançamentos relativos às primeiras operações que uma empresa
executa em termos contábeis: a subscrição do capital social.

Por exemplo, se o contador da empresa H está efetuando o registro


da subscrição do capital social, ele está executando um lançamento
permutativo, afinal o patrimônio líquido da entidade, após esse primeiro
lançamento, continuará somando o valor 0,00 e, além disso, não haverá
movimentação de nenhuma conta de resultado, portanto não haverá
modificação em termos de patrimônio líquido.

Para ilustrar esta situação, considere que o valor do capital social


subscrito pelos sócios da empresa é de R$ 360.000,00.

Veja como seria lançada a subscrição do capital no livro-diário.

LIVRO-DIÁRIO
[...]
Cidade “X”, UF “ZZ” Data xx/xx/xxxx.
Conta debitada: Capital a integralizar
Conta creditada: Capital Social

Pela subscrição do capital conforme


contrato social registrado na Junta Co- R$ 360.000,00.
mercial sob nº 000.000/00 nesta data.

[...]

Veja como seria lançado esse fato no livro-razão.

79
LIVRO-RAZÃO
[...]
Capital a integralizar Capital social
Débito Crédito Débito Crédito
360.000,00 360.000,00
[...]

Porque esse é um fato permutativo? Veja o balanço da empresa H levan-


tado logo após o registro contábil.

BALANÇO PATRIMONIAL Empresa H levantado em xx/xx/xxxx


ATIVO PASSIVO
PATRIMÔNIO LÍQUIDO
CAPITAL SOCIAL 0,00
Capital subscrito 360.000,00
(-) Cap. a Integralizar (360.000,00)
ATIVO TOTAL 0,00 PASSIVO TOTAL 0,00

Como é possível observar no exemplo anterior, embora tenha havido o


registro do fato subscrição do capital social, o patrimônio líquido da entidade
continua com saldo 0,00.

Fatos modificativos
Considera-se que as modificações envolvendo a situação líquida, aumen-
tando ou diminuindo o valor do patrimônio líquido, envolvem os fatos
contábeis denominados modificativos.
Esses fatos são assim denominados porque envolvem eventos que alteram
(modificam) a situação líquida patrimonial. Conforme Padoveze (2018),
os fatos são modificativos quando alteram a situação financeira do patri-
mônio líquido.
Sob essa perspectiva, um evento contábil que envolva uma receita, por
exemplo, é classificado como um fato modificativo, uma vez que a receita
gera uma modificação positiva na situação líquida da entidade após o seu
registro pela contabilidade.

80
No sentido contrário, se um determinado evento envolve o lançamento
do custo de uma venda, ou seja, ao se fazer a baixa do estoque da mercadoria
vendida, novamente está ocorrendo um fato modificativo, porém, nesse caso,
com efeito negativo sobre a situação líquida da entidade.
O mesmo ocorre quando se registra uma despesa, como é o caso do
pagamento de energia elétrica, por exemplo. Haverá, nesse caso, a redução
da situação líquida patrimonial.

Fatos mistos
Assim como se destacou nos parágrafos anteriores, a análise patrimo-
nial envolve tanto os aspectos qualitativos como os aspectos quantitativos.
Às vezes, um determinado fato contábil afeta tanto a situação líquida como,
simultaneamente, representa a permuta de valores entre contas patrimoniais.
Esses casos recebem a classificação de fatos mistos.
É nesse sentido que, segundo Greco e Arend (2013), os fatos mistos
causam ao mesmo tempo modificações patrimoniais (fatos modificativos) e
permutas sem efeito sobre a situação líquida da entidade (fatos permutativos).
De forma resumida, a classificação dos fatos contábeis leva em conside-
ração os aspectos qualitativos e quantitativos patrimoniais, porém a diferen-
ciação para a classificação se dá pela modificação quantitativa na situação
líquida da entidade.
A Figura 2.2 ilustra as três classificações

Fonte: elaborada pelo autor.

81
Com base no fluxograma de classificação dos fatos contábeis apresentado
na Figura 2.2, é possível observar que, quando um fato contábil é híbrido –
ou seja, quando ao mesmo tempo implica permuta e modificação da Situação
Líquida –, ele é classificado como fato contábil misto.

Informações obrigatórias em notas explicativas


A função informacional da contabilidade exige que todos os esforços
para a melhoria da qualidade da informação, bem como das demonstrações
financeiras, sejam dispensados pelos envolvidos com essa importante área do
conhecimento humano.
As demonstrações financeiras evidenciam a situação patrimonial e de
resultado das entidades, porém alguns aspectos por elas evidenciados não
estão explícitos aos olhos do usuário. Nesses casos existe a necessidade de
complementação, suplementação ou explicação que tornem as informações
mais claras e compreensíveis.
O instrumento utilizado para esse fim é a Nota Explicativa.
Para Greco e Arend (2013), as notas explicativas têm como objetivo escla-
recer pontos relacionados à situação patrimonial e de resultados apurados.
Mas, que informações precisam ser esclarecidas por meio das
notas explicativas?
É possível encontrar, no §5 do artigo 176 na Lei 11.941/09 (2019), as
informações que devem ser objeto de notas explicativas.
Essas informações podem ser resumidas em:
• Informações a respeito das bases de preparação das demonstrações
financeiras levantadas pela contabilidade e que derivem de negócios
e eventos significativos.

Assimile
São considerados significativos os negócios e eventos que influen-
ciaram ou poderão influenciar de forma significante os resultados ou a
situação financeira patrimonial da entidade. Assemelha-se ao conceito
de relevância, ou seja, envolvem fenômenos e elementos que influen-
ciaram ou podem influenciar nas decisões organizacionais.

• Informações exigidas pelas práticas contábeis brasileiras e que não


estejam apresentadas nas demonstrações financeiras.

82
• Informações adicionais não presentes nas demonstrações financeiras.
• Indicar os principais critérios de avaliação dos elementos patrimoniais.

Reflita
É justificável a exigência legal - conforme Lei n. 6.404/1976 - de
informar ao usuário da informação contábil os critérios de mensuração
e avaliação dos elementos patrimoniais por meio de notas explicativas?

• Investimentos societários relevantes.


• Resultado positivo das avaliações patrimoniais.
• Ônus e garantias sobre ativos da companhia.
• Taxa de juros e informações relevantes de operações de longo prazo.
• A quantidade, espécie e classes das ações.
• Opções de compra de ações – outorgadas e exercidas no exercício social.
• Ajustes de exercícios anteriores.
• Eventos posteriores ao encerramento do exercício que possam afetar
a situação patrimonial no futuro.

Assimile
A Lei n. 6.404/1976 é considerada a principal Lei de regulamentação
das empresas constituídas sob a forma de Sociedades Anônimas, porém
sua aplicação é mais ampla, podendo regular, principalmente sob a
perspectiva contábil, empresas com outras formas societárias. Geral-
mente quando não existem leis específicas para um determinado tipo
de sociedade, como é o caso das Sociedades Empresárias de Responsa-
bilidade Limitada – LTDA, as regras legais constantes da Lei das SAs são
aplicáveis a essas empresas. Exceto em assuntos específicos das socie-
dades anônimas.

As notas explicativas servem, portanto, como um instrumento de


melhoria da qualidade das informações evidenciadas aos usuários por meio
das demonstrações financeiras.
Elas permitem que informações que necessitem de esclarecimentos,
complementações e suplementações estejam disponíveis aos usuários.

83
Exemplificando
Para exemplificar o conteúdo da nota explicativa, pode-se recorrer às
informações relacionadas com a base para a preparação e apresentação
das demonstrações financeiras.

Nesse caso, considere que a empresa H publicou suas demonstrações


financeiras conforme determina a legislação societária.

Em especial, considere a Lei das SAs, conforme Lei n. 6.404/1976


(BRASIL, 1976).

Sua nota explicativa traz, no quesito acima especificado, a seguinte


informação:

NOTAS EXPLICATIVAS – Empresa H SA


Referentes às demonstrações financeiras encerradas em xx/xx/xxxx.
[...]
Nota x – Base para preparação e divulgação das demonstrações financeiras.

• A preparação e elaboração das demonstrações financeiras tomam como


base as normas técnicas e legais constantes dos seguintes instrumentos:
• Lei 6.404/76, alterada pela Lei 11.638/07.
• Regulamento do Imposto de Renda RIR 000/00, ano xxxx.
• Normas Brasileiras de Contabilidade.
• Documentos dos Comitês de Pronunciamentos Técnicos – CPCs.
• Normas emitidas pela Comissão de Valores Mobiliários – CVM.

Conhecer a classificação dos fatos contábeis contribui para a ampla


compreensão dos efeitos causados sobre o patrimônio e sobre o patrimônio
líquido das entidades.
Como é função da contabilidade a geração de informações úteis de apoio
ao processo de decisão, as notas explicativas oferecem maior clareza em
relação às informações constantes das demonstrações financeiras divulgadas
pela contabilidade.
Nesta Seção, você teve a oportunidade de conhecer ambos os assuntos,
agora é o momento de colocá-los em prática. Bom trabalho.

Sem medo de errar

Na situação problema proposta nesta seção, você foi convidado a efetuar o


registro dos fatos contábeis ocorridos nos primeiros momentos de existência
de uma determinada empresa. Esses registros se referem a fatos ocorridos
logo após a sua constituição.

84
A solução aqui envolverá três etapas, conforme descrito a seguir:
Na etapa 1 você deverá demonstrar como ficam os lançamentos solici-
tados no livro-diário.
Para isso, utilize o modelo de lançamento padrão, conforme o método
das partidas dobradas, e respeitando os elementos obrigatórios para um
lançamento contábil.
Esses lançamentos ficarão conforme segue:

LIVRO-DIÁRIO
[...]
Cidade “X”, UF “ZZ”. Data xx/xx/xxxx.
Conta debitada: Capital a integralizar
Conta creditada: Capital Social

Pela subscrição do capital conforme contrato


social registrado na Junta Comercial sob nº R$ 500.000,00
000.000/00 nesta data.

[...]

[...]
Cidade “X”, UF “ZZ”. Data xx/xx/xxxx.
Conta debitada: Caixa
Conta creditada: Capital a Integralizar

Pela integralização do capital social, conforme


contrato social registrado na Junta Comercial sob
nº 000.000/00 nesta data, mediante entrega de va- R$ 200.000,00
lor em espécie pelos sócios X,Y,Z, nos respectivos
montantes de 0,1,2...

[...]

85
[...]
Cidade “X”, UF “ZZ” Data xx/xx/xxxx.
Conta debitada: Móveis e Utensílios
Conta creditada: Capital a Integralizar

Pela integralização do capital social, conforme


contrato social registrado na Junta Comercial sob
nº 000.000/00 nesta data, mediante entrega de
R$ 50.000,00
móveis e utensílios pelos sócios X,Y,Z, respectiva-
mente envolvendo 1 mesa, 4 cadeiras, 1 escriva-
ninha...

[...]

[...]
Cidade “X”, UF “ZZ” Data xx/xx/xxxx.
Conta debitada: Máquinas e Equipamentos
Conta creditada: Capital a Integralizar

Pela integralização do capital social, conforme


contrato social registrado na Junta Comercial sob
nº 000.000/00 nesta data, mediante entrega de
máquinas e equipamentos pelos sócios X,Y,Z,W R$ 100.000,00
respectivamente envolvendo 1 serra circular de
bancada, 2 plainas elétricas, 2 lixadeiras/politrizes
de 1.250 W, um câmara/estufa de pintura...

[...]

Na etapa 2 você deverá apresentar o livro-razão de forma resumida,


evidenciando os saldos das contas envolvidas nos lançamentos apresentados
no livro-diário.

86
Essas razões resumidas ficarão conforme segue:
LIVRO-RAZÃO
[...]
Capital a integralizar Capital social
Débito Crédito Débito Crédito
500.000,00¹ 200.000,00² 500.000,00¹
50.000,00³
100.000.004
500.000.00 350.000,00
150.000,00
[...]
[...]
Caixa Móveis e Utensílios
Débito Crédito Débito Crédito
200.000,00² 50.000,00³
[...]
[...]
Máquinas e Equipamentos
Débito Crédito
100.000,004
[...]

Na etapa 3 você deverá apresentar o balanço patrimonial da empresa,


levantado após o registro dos fatos contábeis no livro-diário e no livro-razão.

BALANÇO PATRIMONIAL Empresa TAL levantado em xx/xx/xxxx.


ATIVO PASSIVO
CIRCULANTE 200.000,00 PATRIMÔNIO LÍQUIDO 350.000,00
Disponível 200.000,00 Capital Social 350.000,00
Caixa 200.000,00 Capital subscrito 500.000,00
NÃO CIRCULANTE 150.000,00 (-) Cap. a Integralizar (150.000,00)
Imobilizações 150.000,00
Móveis e Utensílios 50.000,00
Máquinas e Equipa-
100.000,00
mentos
ATIVO TOTAL 350.000,00 PASSIVO TOTAL + PL 350.000,00

87
A partir da solução da situação problema apresentada é possível
compreender que a contabilidade é realizada em ciclos: coleta de dados,
registro dos fatos contábeis, processamento dos lançamentos e elaboração
das demonstrações.
Na sua realidade profissional você terá contato com inúmeros fatos contá-
beis que demandarão a execução atenta de todos esses processos.

Avançando na prática

Operações de compra e venda

O registro contábil, seja ele relacionado a fatos permutativos ou


modificativos, demanda lançamento, fechamento de saldos e elaboração
das demonstrações.
Considere que você trabalha em uma empresa no departamento de
contabilidade. Chegou até você uma nota fiscal de compra de mercadorias
para revenda.
Na nota fiscal consta a aquisição de R$ 20.000,00 em mercadorias (isenta
de impostos) que foram adquiridas a prazo de um fornecedor da empresa.
Logo depois, um funcionário do setor de faturamento lhe enviou a nota
de venda dessas mesmas mercadorias. O valor de venda foi de R$ 32.000,00,
também feita a prazo.
Considerando que a empresa está iniciando suas atividades e que somente
o capital social de R$ 100.000,00 havia sido subscrito e integralizado em
dinheiro, cabe a você efetuar apenas o lançamento da compra e da venda
acima descritos.
Seu desafio é lançar esses dois fatos no livro-diário e apresentar o balanço
atualizado da empresa, contemplando os lançamentos anteriores e os atuais
executados por você.
Elabore o livro-diário demonstrando os lançamentos que você registrou
e apresente o balanço patrimonial atualizado, conforme os modelos apresen-
tados nesta seção.
Ao executar essa atividade você realizará o processo de registro dos fatos
contábeis e elaboração do balanço patrimonial, duas técnicas contábeis
que você utilizará constantemente em sua vida profissional como contador.
Portanto, mãos à obra.

88
Resolução da situação-problema
Na situação problema você foi desafiado a efetuar o registro de dois fatos
contábeis: um de compra e outro de venda de mercadorias.
Você foi convidado a apresentar o livro-diário contemplando o registro
desses dois fatos bem como o balanço patrimonial atualizado, após os respec-
tivos lançamentos.
Para solucionar a SP, você deve utilizar os modelos de diário e de balanço
apresentados na seção, portanto realize os passos descritos a seguir:
1. Elabore o livro-diário contemplando os dois lançamentos.

LIVRO-DIÁRIO
[...]
Cidade “X”, UF “ZZ” Data xx/xx/xxxx.
Conta debitada: Estoque de mercadorias
Conta creditada: Fornecedores

Pela aquisição de mercadorias para revenda a prazo,


conforme NF nº 00, com duplicata de mesmo
R$ 20.000,00
número, do fornecedor XPTI emitidas nesta data e
com vencimento em xx/xx/xxxx.

[...]
[...]
Cidade “X”, UF “ZZ” Data xx/xx/xxxx.
Conta debitada: Clientes
Conta creditada: Venda de mercadorias

Pela venda de mercadorias realizada nesta data,


conforme NF nº 11, cliente ZYZ, com duplicata de R$ 32.000,00
mesmo número vencimento em xx/xx/xxx.

[...]
[...]
Cidade “X”, UF “ZZ” Data xx/xx/xxxx.
Conta debitada: Custo das mercadorias vendidas
Conta creditada: Estoque de mercadorias

Pela baixa dos estoques, referente venda de mer-


cadorias, realizada nesta data, conforme NF nº 11, R$ 20.000,00
cliente ZYZ.

[...]

89
2. Logo após efetuar os lançamentos referentes à compra, à venda e à
baixa dos estoques vendidos, você deve atualizar o balanço patrimo-
nial e apresentá-lo como segue:
BALANÇO PATRIMONIAL Empresa 4A levantado em xx/xx/xxxx.
ATIVO PASSIVO
CIRCULANTE 132.000,00 CIRCULANTE 20.000,00
Disponível 100.000,00 Fornecedores 20.000,00
Caixa 100.000,00 PATRIMÔNIO LÍQUIDO 112.000,00
Créditos a receber 32.000,00 Capital Social 100.000,00
Clientes 32.000,00 Capital subscrito 100.000,00
Resultados correntes 12.000,00
Resultado corrente 12.000,00
ATIVO TOTAL 132.000,00 PASSIVO TOTAL + PL 132.000,00

Vale destacar que a conta Resultado corrente representa o lucro apurado


até o momento:
Receita de vendas R$ 32.000,00
(-) Custo das vendas R$ 20.000,00
(=) Resultado corrente R$ 12.000,00

Faça valer a pena

1. Para cada tipo diferente de fatos ocorridos durante as operações de uma


organização, existem impactos específicos sobre a sua situação patrimonial.
Sobre isso, podem ser feitas algumas afirmações:
I. Existem fatos que afetam a situação líquida, pois envolvem contas
de resultado.
II. Existem fatos que não afetam a situação líquida, pois envolvem
somente contas patrimoniais.
III. Fatos que afetam a situação líquida são denominados permutativos.
Com base na análise do que foi exposto, podemos dizer que está correto o
que se afirma em:
a. I, apenas.
b. I e III, apenas.

90
c. II e III, apenas.
d. I, II e III.
e. I e II, apenas.

2. Considerando que as notas explicativas possuem como finalidade explicar


aspectos significantes não contemplados ou não evidentes nas demonstra-
ções financeiras, é preciso que o profissional contábil tenha clareza sobre o
que deverá ser apresentado nesse relatório.
Nesse sentido, qual das alternativas a seguir traz uma informação que neces-
sariamente deverá constar nas notas explicativas?
a. O valor do capital social da entidade.
b. Os critérios utilizados para mensuração dos elementos patrimoniais.
c. Os nomes dos acionistas com direito a voto.
d. A data da última assembleia promovida pela entidade.
e. Os valores individualizados de todas as imobilizações.

3. Segundo a legislação societária, em especial a Lei n. 6.404/1976 alterada


pela Lei n. 11.941/2009, as empresas de capital aberto devem publicar suas
demonstrações financeiras ao fim de cada exercício social.
Sobre essa obrigatoriedade, podem ser feitas as afirmações a seguir:
I. As informações publicadas devem ser complementadas ou suple-
mentadas por notas explicativas; sendo que
II. As notas explicativas são demonstrações financeiras que devem
conter informações relevantes ao usuário da informação contábil.
Com base no exposto, analise as alternativas a seguir e assinale a que
está correta:
a. As afirmativas I e II estão incorretas.
b. As afirmativas I e II estão corretas, sendo que a II complementa a I.
c. A afirmativa I está incorreta, e a afirmativa II está correta.
d. A afirmativa I está correta, e a afirmativa II está incorreta.
e. As afirmativas I e II estão corretas, embora não tenham relação entre si.

91
Seção 3

Estrutura patrimonial e de resultado no plano


de contas

Diálogo aberto
Caro aluno, se você observar ao seu redor, certamente perceberá que
existe uma infinidade de bens de uso com os quais lidamos cotidianamente,
você concorda?
São veículos, móveis, a própria roupa etc. que representam parte do
patrimônio de pessoas e organizações e que estão à disposição para satisfazer
alguma necessidade humana.
Como a contabilidade é responsável pelo controle patrimonial das
organizações, esses e outros elementos patrimoniais são registrados e contro-
lados por meio de uma estrutura denominada patrimonial. É com base nessa
estrutura que o responsável pela contabilidade elabora o plano de contas, as
demonstrações financeiras e escritura os fatos contábeis. Você reconhece a
importância destes registros para os usuários da informação contábil?
Agora, você será responsável pelo registro do plano de contas, elabo-
ração dos relatórios e demonstração financeiras. Diante disso, sua atividade
envolve a elaboração de um exemplo do plano de contas, de forma que os
sócios possam entender os principais grupos, subgrupos e contas utilizados
para estruturar o patrimônio e evidenciar a situação econômica e financeira
da empresa.
O objetivo aqui é destacar os principais grupos e subgrupos, apresentados
nesse exemplo, obrigatórios, segundo a legislação, e indicar uma única conta
dentro de cada um deles.
Para se orientar você contará com os conteúdos envolvendo os conceitos
e a estrutura do plano de contas, conhecimento da estrutura patrimo-
nial (ativo, passivo e patrimônio líquido) e de resultado (receitas, custos e
despesas), além da aplicação dessa estrutura no processo de elaboração do
plano de contas a ser utilizado pela contabilidade para o registro dos fatos
contábeis, além dos exemplos trazidos no decorrer desta seção.

92
Não pode faltar

Estrutura do ativo: grupos, subgrupos e contas


Caro aluno, para você se preparar para a elaboração de um plano de
contas contábeis é fundamental conhecer a estrutura patrimonial das contas.
O primeiro grupo relativo a esta estrutura é o do ativo. Nele, conforme
Padoveze (2010), encontram-se os bens e direitos, tangíveis e intangíveis, que
estão à disposição da entidade para o exercício de sua atividade.
O ativo contempla grupos e subgrupos que servem para alocação das
contas sintéticas e analíticas no plano de contas.
A estrutura do ativo permite a visualização sobre a capacidade de liquidez
da entidade, por isso é nessa ordem que os grupos e contas são alocados.
Na Figura 2.3 é possível conhecer a estruturação do ativo. É essa a estru-
tura que estará refletida no plano de contas para que a contabilidade possa
registrar os fatos contábeis envolvendo os bens e direitos de curto e de
longo prazo.

93
Figura 2.3 | Estrutura patrimonial do ativo

Fonte: elaborada pelo autor.

Assimile
A padronização da estrutura patrimonial visa permitir a comparabilidade
das demonstrações contábeis, tanto entre empresas diferentes como
entre as demonstrações de períodos anteriores de uma mesma empresa.

Se o balanço patrimonial contempla sempre a mesma estrutura é possível


haver comparações entre demonstrações de empresas diferentes e da mesma
empresa ao longo do tempo.
Vale destacar que no ativo, assim como no passivo, estão alocadas as
contas patrimoniais, portanto operações entre estas contas envolvem, na

94
maioria das vezes, fatos permutativos que não afetam o valor da situação
líquida patrimonial.
Mesmo assim, todos os fatos envolvendo essas contas devem ser regis-
trados pela contabilidade e todas as contas terão seus saldos atualizados a
cada nova operação.
A técnica de balanços sucessivos contribui para compreender
esta movimentação.

Exemplificando
Quando uma organização executa um fato permutativo envolvendo
contas do ativo e passivo, o valor patrimonial não se altera, porém isso
não impede que seja feito o registro e tampouco a demonstração da
alteração na estrutura patrimonial da entidade.

Por exemplo, se uma determinada empresa apresenta os seguintes


fatos contábeis, listados a seguir:

1. Subscrição e integralização do capital social em dinheiro: R$


100.000,00.
2. Compra a vista de mercadorias para revenda: R$ 20.000,00.

Se for considerada apenas a estrutura de grupos principais, os balanços


que refletiriam esses fatos seriam apresentados como segue:

(*) as contas em negrito são as que receberem alterações

BALANÇO 1

ATIVO PASSIVO
CAIXA R$ 100.000,00
PATRIMÔNIO
LÍQUIDO
CAPITAL SOCIAL R$ 100.000,00

TOTAL DO
R$ 100.000,00 TOTAL DO PASSIVO R$ 100.000,00
ATIVO

95
BALANÇO 2

ATIVO PASSIVO
CAIXA R$ 80.000,00
PATRIMÔNIO
ESTOQUES R$ 20.000,00
LÍQUIDO
CAPITAL SOCIAL R$ 100.000,00

TOTAL DO
R$ 100.000,00 TOTAL DO PASSIVO R$ 100.000,00
ATIVO

Mesmo considerando apenas a divisão em ativo, passivo e patrimônio


líquido, sem os grupos e subgrupos, já é possível se perceber as varia-
ções patrimoniais ocorridas depois dos respectivos registros. Observe
que o valor do patrimônio líquido depois de constituído, não se alterou,
pois o fato ocorrido gerou apenas permuta entre os grupos.

Estrutura do passivo: grupos, subgrupos e contas


O passivo, conforme Padoveze (2010), contempla as obrigações de curto
e de longo prazo da entidade.
Essas obrigações, quando pagas, reduzem o ativo da entidade, por isso
o passivo integra a equação patrimonial que determina o valor da situação
líquida patrimonial.

Assimile
Passivo em termos didáticos também é conhecido como a parte negativa
do patrimônio. Essa concepção está relacionada à equação patrimonial
pela qual o Patrimônio Líquido = ATIVO (-) PASSIVO.

Também é no passivo que se encontra o patrimônio líquido, ou seja, o


grupo que representa a situação líquida patrimonial e que pertence, ao final e
ao cabo, aos investidores da entidade: sejam eles sócios ou acionistas.
Para a visualização do passivo, veja a Figura 2.4.

96
Figura 2.4| Estrutura patrimonial do passivo

Fonte: elaborada pelo autor.

Observe que o patrimônio líquido contempla o resultado de prejuízos


anteriores e do exercício atual, mas não contempla lucros acumulados.
Os lucros são destinados na forma de reservas de lucro no patri-
mônio líquido.
Fatos que envolvem o grupo patrimônio líquido, seja em contas específicas
ou por meio do reflexo do resultado corrente, envolvem fatos modificativos.

97
Exemplificando
Quando há um fato que envolve qualquer uma das contas classificadas
como de resultado: receitas, custos e despesas, haverá alteração no
valor do patrimônio líquido. Isso explica a necessidade de que também
as contas de resultado estejam devidamente estruturadas. Elas possuem
relação com as contas patrimoniais.

Por exemplo, se uma determinada empresa apresenta o seguinte


balanço patrimonial atualizado até o presente momento:

BALANÇO 2

ATIVO PASSIVO
CAIXA R$ 80.000,00
PATRIMÔNIO
ESTOQUES R$ 20.000,00
LÍQUIDO
CAPITAL SOCIAL R$ 100.000,00

TOTAL DO
R$ 100.000,00 TOTAL DO PASSIVO R$ 100.000,00
ATIVO

Considere que na sequência ocorreu o seguinte fato contábil:

• 3. Compra a prazo de um veículo: R$ 15.000,00


• 4. Venda à vista de metade dos estoques: R$ 15.000,00
Se for considerada apenas a estrutura de grupos principais, os balanços
que refletiriam esses fatos seriam apresentados como segue:

(*) as contas em negrito são as que receberem alterações.

BALANÇO 3

ATIVO PASSIVO
CAIXA R$ 80.000,00 FINANCIAMENTOS R$ 15.000,00
PATRIMÔNIO
ESTOQUES R$ 20.000,00
LÍQUIDO
VEÍCULOS R$ 15.000,00 CAPITAL SOCIAL R$ 100.000,00

TOTAL DO
R$ 115.000,00 TOTAL DO PASSIVO R$ 115.000,00
ATIVO

98
BALANÇO 4

ATIVO PASSIVO
CAIXA R$ 95.000,00 FINANCIAMENTOS R$ 15.000,00
PATRIMÔNIO
ESTOQUES R$ 10.000,00
LÍQUIDO
VEÍCULOS R$ 15.000,00 CAPITAL SOCIAL R$ 100.000,00

RESULTADO
CORRENTE R$ 5.000,00
(VENDA)

TOTAL DO
R$ 120.000,00 TOTAL DO PASSIVO R$ 120.000,00
ATIVO

Mesmo considerando apenas a divisão em ATIVO, PASSIVO e PATRI-


MÔNIO LÍQUIDO, sem os grupos e subgrupos, já é possível perceber
as variações patrimoniais ocorridas depois dos respectivos registros.
Observe que o valor do patrimônio líquido não se alterou depois do
registro do fato de número 3, pois o fato ocorrido gerou apenas permuta
entre os grupos. Todavia se alterou após o registro do fato de número 4,
pois esse fato gerou um ganho a partir da venda dos estoques.

Nesse caso, o fato de número 4 envolveu contas de resultado e contas


patrimoniais simultaneamente.

A modificação do patrimônio líquido, por meio das receitas, custos, e


despesas, envolve aumento ou redução da situação líquida patrimonial.
Como as contas do patrimônio líquido pertencem aos sócios e acionistas,
este é um dos principais, se não o principal grupo da estrutura patrimonial.

Reflita
O patrimônio líquido pode ser considerado como um dos principais, se
não o principal, grupo de contas patrimoniais? Por que ele interessa
tanto aos sócios e acionistas das organizações?

99
Estrutura de resultado: grupos, subgrupos e contas.
O resultado gerado pela entidade, conforme Padoveze (2010), é eviden-
ciado por meio da Demonstração do Resultado do Exercício - DRE, sendo
que sua estrutura visa explicar ao usuário da informação contábil como a
entidade chegou ao lucro ou ao prejuízo obtido no período.
Como a função da contabilidade é o controle patrimonial, cabe a ela
evidenciar a eficácia operacional da entidade por meio da evidenciação dos
resultados por ela gerados.

Reflita
Você concorda que a contabilidade possui uma função social impor-
tante? Como seria possível saber, por exemplo, se a economia de um
país cresceu, manteve-se inalterada ou decresceu, se a contabilidade
não controlasse a geração de riquezas pelas organizações?

A estrutura de resultado envolve basicamente os grupos e subgrupos


apresentados na Figura 2.5.
Figura 2.5| Estrutura de resultado

Fonte: elaborada pelo autor.

100
Elaboração e manutenção do plano de contas
Depois de conhecidas as estruturas do ativo, passivo, patrimônio líquido
e de resultado, torna-se possível a elaboração do plano de contas.
O plano de contas é uma relação ordenada e estruturada, conforme
destacam Padoveze (2010) e Viceconti (2017), cujos objetivos podem ser
resumidos em:
• Manter o rol de contas contábeis atualizado e disponível para o
registro adequado dos fatos contábeis ocorridos a partir da operação
da entidade.
• Permitir o estabelecimento de padrões aplicáveis a empresas que
possuam a necessidade de consolidação de informações, como é o
caso daquelas que pertencem ao mesmo grupo econômico.
O lançamento contábil, por exemplo, é feito a partir dos códigos de cada
conta conforme determinado pelo plano de contas da entidade.

Assimile
A codificação existente no plano de contas serve para indicar o grupo,
o subgrupo, a conta sintética e a conta analítica de forma estruturada.
Por meio do código das contas são feitos os lançamentos nos sistemas
informatizados de contabilidade.

A estrutura do plano de contas é um reflexo da estrutura patrimonial e


de resultado.
Conforme Greco (2016), o plano de contas está estruturado em ativo,
passivo e patrimônio líquido em termos patrimoniais, e em receita bruta,
deduções da receita, custo das vendas, lucro bruto, despesas operacionais,
resultado operacional, provisões de tributos sobre o lucro e lucro líquido, no
caso das contas de resultado.
A estrutura do plano de contas, como é possível observar, segue exata-
mente a sequência dos grupos de contas que constam no balanço patrimonial
e na demonstração do resultado do exercício. Sua estruturação se dá a partir
da seguinte divisão estrutural:
• Grupos principais.
• Grupos secundários.
• Subgrupos.

101
• Contas sintéticas.
• Contas analíticas.
Os grupos principais, grupos secundários e os subgrupos, conforme
explica Greco e Arend (2016), são: estrutura do ativo; estrutura do passivo; e
estrutura de resultado.
As contas sintéticas são aquelas que congregam as contas analíticas, ou
seja, as contas que especificam cada unidade de registro dentro da estrutura
do plano de contas.
Nas contas analíticas são efetuados os registros dos fatos contábeis.

Exemplificando
Como não existe um plano de contas que sirva para todos os tipos de
empresa, ou seja, cada empresa analisa as contas que melhor repre-
sentem sua situação patrimonial e de resultado, é importante que se
conheça mais de um tipo de plano de contas.

No exemplo a seguir são apresentadas contas que geralmente fazem parte


das estruturas patrimoniais e de resultado de uma empresa industrial.

Plano de contas – empresa industrial – P

1. Ativo
1.1 Ativo Circulante
1.1.01 Disponível
1.1.01.010 Caixa
1.1.01.010.0001 Caixa
1.1.02 Direitos
1.1.02.010 Direitos clientes
1.1.02.010.0001 Duplicatas a Receber – varejistas nacionais
1.1.03 Estoque
1.1.03.010 Matéria prima
1.1.03.010.0001 Matéria prima – S
1.1.03.011 Produtos em elaboração
1.1.03.011.0001 Produto - G
1.1.03.012 Produtos acabados
1.1.03.012.0001 Produto - G
1.2 Ativo Não Circulante
1.2.01 Realizável a Longo Prazo
1.2.01.010 Empréstimos a Receber
1.2.01.010.0001 Títulos a Receber
1.3.02 Imobilizado

102
1.3.02.010 Imobilizado
1.3.02.010.0001 Máquinas e equipamentos industriais
1.3.02.010.0008 Ferramentas e assessórios industriais
1.3.02.030 (-) Depreciações Acumuladas
1.3.02.030.0007 (-) Deprec. Acum. Máq. equip. industriais.
1.3.02.030.0008 (-) Deprec. Acum. Ferram. Assess. industriais.

2. Passivo
2.1 Passivo Circulante
2.1.01 Fornecedores de matéria prima
2.1.01.010 Fornecedores de matéria prima
2.1.01.010.0001 Fornecedor “M”
2.2 Passivo Não Circulante
2.2.01 Obrigações a Pagar
2.2.01.010 Empréstimos e Financiamentos
2.2.01.010.0001 Financiamentos “BNDES”
2.4 Patrimônio Líquido
2.4.01 Capital Social
2.4.01.010 Capital Subscrito
2.4.01.020 Capital a Integralizar
2.4.02 Reservas
2.4.02.010 Reservas de Capital
2.4.02.020 Reservas de Lucros
2.4.03 Prejuízos Acumulados
2.4.03.010 Prejuízos Acumulados

3. Receitas
3.1 Receitas
3.1.01 Receitas c/ vendas
3.1.01.010 Venda de produtos
3.1.01.010.0001 Vendas do produto G

4. Custo das vendas


4.1 Custo das vendas
4.1.01 Custo dos produtos vendidos
4.1.01.010 Custo do produto G vendidos

5. Despesas
5.1 Despesas Operacionais
5.1.01 Despesas com vendas
5.1.01.010 Despesas com pessoal de vendas
5.1.01.010.0001 Comissões e encargos

103
6. Resultado do Exercício
6.1 Resultado do Exercício
6.1.01 Resultado do Exercício
6.1.01.010 Resultado do Exercício
6.1.01.010.0001 Prejuízo
6.1.01.010.0002 Lucro

É possível perceber que o plano de contas deriva da própria estrutura


patrimonial e de resultado da empresa, seja ela comercial, industrial ou
prestadora de serviços.
Conhecer estas estruturas é fundamental, pois, mesmo havendo adequa-
ções às especificidades de cada empresa, a estrutura base continua inalterada.
É fundamental o conhecimento da estrutura patrimonial e de resul-
tado para a elaboração do plano de contas, afinal a estrutura contábil das
demonstrações é determinada pela legislação societária, conforme a Lei n.
6.404/1976.
A estrutura de base é fundamentada pela legislação societária, conjunta-
mente com as normas, regulamentos e demais instrumentos normativos da
área contábil.
É importante que o profissional contábil fique sempre atento a toda
e qualquer alteração nas normas, pois, dessa forma, manterá seu trabalho
aderente às determinações legais, que visam manter corretas e seguras as
informações oferecidas aos usuários da contabilidade.

Sem medo de errar

Você se lembra do seu desafio proposto na situação-problema?


Ele envolve a elaboração de um exemplo de plano de contas, contendo os
grupos, subgrupos e contas exigidas pela legislação.
Neste exemplo devem ser consideradas as principais contas contábeis de
uma empresa qualquer, podendo ser uma empresa comercial, uma empresa
industrial ou uma prestadora de serviços.
O primeiro passo para você solucionar a situação problema é, portanto, a
escolha do tipo de empresa que será objetivo de exemplificação.
Isso se torna necessário tendo em vista que cada tipo de empresa possui
suas próprias características em termos de contas a serem utilizadas.

104
Para ficar mais claro esta demanda, será elaborado um exemplo de plano
de contas utilizando uma empresa comercial como base.
A seguir estão apresentadas a estrutura e alguns exemplos de contas que
devem fazer parte de cada grupo ou subgrupo patrimonial ou de resultado.
Você deve pesquisar modelos de plano de contas. Há uma infinidade de
exemplos disponíveis na internet que podem lhe servir de base.
Plano de contas – empresa industrial – P
1. Ativo
1.1 Ativo Circulante
1.1.01 Disponível
1.1.01.010 Caixa
1.1.01.010.0001 Caixa
1.1.02 Direitos
1.1.02.010 Direitos clientes
1.1.02.010.0001 Duplicatas a Receber – varejistas nacionais
1.1.03 Estoque
1.1.03.010 Matéria prima
1.1.03.010.0001 Matéria prima – S
1.1.03.011 Produtos em elaboração
1.1.03.011.0001 Produto - G
1.1.03.012 Produtos acabados
1.1.03.012.0001 Produto - G
1.2 Ativo Não Circulante
1.2.01 Realizável a Longo Prazo
1.2.01.010 Empréstimos a Receber
1.2.01.010.0001 Títulos a Receber
1.3.02 Imobilizado
1.3.02.010 Imobilizado
1.3.02.010.0001 Máquinas e equipamentos industriais
1.3.02.010.0008 Ferramentas e assessórios industriais
1.3.02.030 (-) Depreciações Acumuladas
1.3.02.030.0007 (-) Deprec. Acum. Máq. equip. industriais.
1.3.02.030.0008 (-) Deprec. Acum. Ferram. Assess. industriais.

2. Passivo
2.1 Passivo Circulante
2.1.01 Fornecedores de matéria prima
2.1.01.010 Fornecedores de matéria prima
2.1.01.010.0001 Fornecedor “M”
2.2 Passivo Não Circulante

105
2.2.01 Obrigações a Pagar
2.2.01.010 Empréstimos e Financiamentos
2.2.01.010.0001 Financiamentos “BNDES”
2.4 Patrimônio Líquido
2.4.01 Capital Social
2.4.01.010 Capital Subscrito
2.4.01.020 Capital a Integralizar
2.4.02 Reservas
2.4.02.010 Reservas de Capital
2.4.02.020 Reservas de Lucros
2.4.03 Prejuízos Acumulados
2.4.03.010 Prejuízos Acumulados

3. Receitas
3.1 Receitas
3.1.01 Receitas c/ vendas
3.1.01.010 Venda de produtos
3.1.01.010.0001 Vendas do produto G

4 Custo das vendas


4.1 Custo das vendas
4.1.01 Custo dos produtos vendidos
4.1.01.010 Custo do produto G vendidos

5. Despesas
5.1 Despesas Operacionais
5.1.01 Despesas com vendas
5.1.01.010 Despesas com pessoal de vendas
5.1.01.010.0001 Comissões e encargos

6. Resultado do Exercício
6.1 Resultado do Exercício
6.1.01 Resultado do Exercício
6.1.01.010 Resultado do Exercício
6.1.01.010.0001 Prejuízo
6.1.01.010.0002 Lucro

106
Avançando na prática

O caso de uma empresa de prestação de serviços


hospitalares

Considere que agora você está diante do desafio de demonstrar o grupo


de contas de resultado de uma empresa de serviços hospitalares, ou seja, uma
empresa prestadora de serviço. Um hospital, por exemplo.
Seu desafio é construir um exemplo de plano de contas desse tipo de
empresa, considerando apenas as contas de resultado: receitas, custos
e despesas.
Você deve apresentar os códigos das contas, os grupos, subgrupos e
alguns exemplos de contas que fazem parte da apuração do resultado desse
tipo de empresa.
Você já é capaz de resolver esse tipo de desafio, portanto, bom trabalho.

Resolução da situação-problema
Seu desafio aqui é o de apresentar um exemplo de plano de contas, relativo
às contas de resultado, de uma empresa de serviços hospitalares. Vamos lá!
Sugerimos que seja exemplificado um plano de contas de um hospital.
Aqui a primeira coisa a fazer é listar os grupos, subgrupos e contas
relativas à apuração de resultados de um hospital.
Para isso você precisa desenvolver uma pesquisa junto a um hospital de
sua cidade, falando com o contador para saber quais as contas principais que
devem constar como contas de resultado nesse plano de contas. Anote as
principais receitas, custos e despesas e elabore um plano de contas resumido.
Você não deve se esquecer de indicar os códigos dessas contas, pois são
eles que definem a qual grupo, e a qual nível a conta se refere dentro da estru-
tura de resultado.

107
Faça valer a pena

1. A estrutura patrimonial está organizada em ativo, passivo e patrimônio


líquido.
No ativo estão classificados os bens e direitos que compõem o patrimônio.
Por sua vez, no passivo estão as obrigações, ou seja, a parcela do patrimônio
que a entidade deve para terceiros.
Com base nessa afirmação é correto se dizer que a equação patrimonial que
resulta na situação líquida (SL) é corretamente descrita como:
a. Ativo + Passivo = SL.
b. Passivo + Ativo = SL.
c. SL + Ativo = Passivo.
d. Ativo – Passivo = SL.
e. SL – Ativo = Passivo.

2. Com base na estrutura de resultado, é possível apurar o lucro ou o prejuízo


de um determinado período. Nesse sentido, considere que a empresa C tenha
efetuado vendas no valor total de R$ 80.000,00, com custo de vendas de R$
55.000,00. Além desses custos, a empresa apresentou despesas no montante
de R$ 15.000,00.
Considerando os dados apresentados e a correta estrutura de resultado
apresentada na Demonstração do Resultado do Exercício (DRE), qual seria
o lucro bruto da empresa?
a. R$ 80.000,00.
b. R$ 50.000,00.
c. R$ 25.000,00.
d. R$ 10.000,00.
e. R$ 15.000,00.

3. Considerando a atual legislação societária, existem limitações para a não


distribuição dos lucros apurados pelas companhias.
Nesse sentido, quando a entidade apura seu resultado, existe a necessidade de
que seja feita a sua destinação.

108
Sobre esse assunto, podem ser feitas duas afirmações:
I. Não pode haver no balanço patrimonial a acumulação de lucros por
meio do uso da conta lucros acumulados;
PORQUE
II. A legislação que trata do assunto está protegendo a entidade em
detrimento dos acionistas minoritários.
Analisando ambas as afirmações, pode-se dizer que:
a. Apenas a afirmativa I está correta.
b. Apenas a afirmativa II está correta.
c. As afirmativas I e a II estão corretas, e a II justifica a I.
d. As afirmativas I e a II estão incorretas.
e. As afirmativas I e II estão corretas, mas a II não justifica a I.

109
Referências

ALMEIDA, H. M. de. Livros contábeis a escrituração contábil no atual cenário tributário.


São Paulo: Trevisan, 2016.

BRASIL. Lei 6.404/1976. Lei n. 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Brasília: Casa Civil [1976].
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6404compilada.htm. Acesso em: 8
set. 2019.

BRASIL. Lei n. 11.638, de 28 de dezembro de 2007. Diário Oficial da União - Seção 1 - Edição
Extra - 28/12/2007, Página 2. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-
2010/2007/Lei/L11638.htm. Acesso em: 2 out. 2019. 02/10/2019.

BRASIL. Lei n. 11.941, de 27 de maio de 2009. Brasília: Casa Civil [2009]. Disponível em: http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Lei/L11941.htm. Acesso em: 10 set. 2019.

BRASIL. Lei n. 13.808, de 15 de janeiro de 2019. Brasília: Casa Civil [2019]. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/lei/L13808.htm. Acesso em: 2
out. 2019.

CPC – Comissão de Pronunciamentos Contábeis. 2019. Disponível em: http://www.cpc.org.br/


CPC. Acesso em: 14 nov. 2019.

CPC – Comissão de Pronunciamentos Contábeis. Pronunciamento Técnico CPC 26 (R1), de


15 de dezembro de 2011. Apresentação das demonstrações contáveis. CPC, 2011. Disponível
em: http://static.cpc.aatb.com.br/Documentos/312_CPC_26_R1_rev%2006.pdf. Acesso em: 14
nov. 2019.

GRECO, A. L.; AREND, L. R. Contabilidade: teoria e prática básicas. 5. ed. São Paulo:
Saraiva, 2016.

HERRMANN JÚNIOR, F. Contabilidade superior: teoria econômica da contabilidade.


11. ed. São Paulo: Atlas, 1996. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/
books/9788522463770/pageid/0. Acesso em: 1 out. 2019.

PADOVEZE, C. L. Contabilidade gerencial: um enfoque em sistema de informação contábil.


7. ed. São Paulo: Atlas, 2010.

RFB – Receita Federal do Brasil. Sistema de Escrituração Digital – SPED. Disponível em:
http://sped.rfb.gov.br/. Acesso em: 1 set. 2019.

SALIM, J. J. Contabilidade & finanças de A a Z: guia prático de termos técnicos inglês-portu-


guês-inglês. São Paulo, SP: Cengage, 2017.
VICECONTI, P. E. V. Contabilidade básica. 17. ed. São Paulo: Saraiva, 2017.
Unidade 3
Regis Garcia

Registro e evidenciação dos fatos operacionais


das PJs

Convite ao estudo
Olá, caro aluno, seja bem-vindo. Nesta unidade você terá contato com os
principais fatos ocorridos após o início da atividade empresarial.
Você provavelmente já realizou ou teve contato com as questões que
serão abordadas na unidade, seja na condição de consumidor ou, até mesmo,
no exercício de sua atividade profissional. Elas envolvem fatos comuns a
todo tipo de empresa, tais como compras e vendas de produtos, mercado-
rias e serviços, realização de custos e despesas, além das aquisições de ativos
imobilizados e de investimento, por exemplo, veículos e terrenos.
O profissional contábil precisa saber reconhecer e registrar esses fatos.
Além disso, a partir dos respectivos registros, o contador deve ser capaz de
elaborar as principais demonstrações financeiras da entidade. Ele também
deve conhecer e saber elaborar o instrumento auxiliar denominado balancete
de verificação.
Você estudará, portanto, os conteúdos necessários para que esteja prepa-
rado para executar os processos contábeis de registro e evidenciação dos princi-
pais fatos ocorridos a partir do desenvolvimento operacional de uma empresa.
Na primeira seção, você conhecerá os fatos relacionados aos processos
de compras e vendas envolvendo operações industriais, comerciais e de
prestação de serviços.
Na segunda seção, você conhecerá os fatos relativos aos custos e despesas.
Já na última seção, você conhecerá as operações de aquisição de ativos
não circulantes, como investimentos e imobilizações.
Aproveite bem a oportunidade de praticar os processos contábeis, pois
eles são fundamentais para que o profissional contábil execute de forma
eficaz a sua função de controle e evidenciação da situação econômica e finan-
ceira patrimonial e de resultado das entidades.
Seção 1

Compras e vendas no comércio, serviço


e indústria

Diálogo aberto
Nesta seção você terá contato com a prática contábil de registro dos fatos
e elaboração das demonstrações financeiras.
Com o objetivo de praticar os conteúdos teóricos abordados nesta
unidade, você foi convidado a exercer a atividade de contador assistente,
registrando e evidenciando os fatos operacionais de uma pessoa jurídica
(uma empresa).
Considere que você foi contratado pela empresa SJ do ramo varejista
que atua no ramo de indústria, comércio e serviços relacionados a produtos
de semijoias.
Essa empresa é tributada pelo lucro real, portanto, a tributação de PIS e
COFINS utilizará o método não cumulativo desses tributos.
A empresa iniciou suas atividades recentemente e já possui os fatos
iniciais registrados pela contabilidade. No momento estão acontecendo
outros fatos relacionados às suas três atividades: indústria, comércio e
prestação de serviços.
A partir da listagem de alguns fatos operacionais envolvendo compras e
vendas, custos e despesas, além de operações com ativos e passivos não circu-
lantes, você terá a oportunidade de executar o processo contábil de forma
que sejam geradas informações úteis para os usuários.
Como você pôde observar, seu desafio contempla uma atividade primor-
dial relacionada ao exercício da contabilidade, ou seja, a escrituração dos
fatos contábeis.
Considere nesse primeiro momento, portanto, que você – contratado
da empresa SJ que está em plena operação – está diante dos primeiros fatos
contábeis a serem registrados.
O registro desses fatos permitirá a elaboração do balancete de verificação
que evidenciará a situação das contas contábeis da entidade por meio dos
seus saldos atualizados.
Agora é o momento de você conhecer os fatos relativos a compras e vendas
que ocorreram no mês de março/X1. Eles estão listados no Quadro 3.1.

112
Quadro 3.1 | Fatos contábeis de compras e vendas
Nº DATA HISTÓRICO VALOR
Compra de 100 unidades de matéria-prima Z, NF
1 01/03/x1 00010, a prazo, fornecedor Comercial C LTDA. IPI 5.500,00
500,00; ICMS 12%; PIS 1,65%; COFINS 7,6%.
Compra de 50 unidades de mercadoria K, NF 00020, a
2 02/03/x1 prazo, fornecedor Comercial H LTDA. ICMS 12%; PIS 4.600,00
1,65%; COFINS 7,6%.
Compra de 200 unidades de insumos T, NF 00040, a
3 03/03/x1 3.600,00
prazo, fornecedor Comercial S LTDA.
Venda de 100 unidades de produtos L, NF 000100, a
4 04/03/x1 prazo, cliente G Varejista Ltda. IPI 1.800,00; ICMS 12%; 18.000,00
PIS 1,65%; COFINS 7,6%.
Baixa do custo dos produtos vendidos nesta data, con-
4.5 04/03/x1 12.000,00
forme NF 000100.
Venda de 100 unidades de mercadoria K, NF 000101,
5 05/03/x1 a prazo, cliente Prestadora de Serviços A Ltda. ICMS 12.316,50
12%; PIS 1,65%; COFINS 7,6%.
Baixa do custo das mercadorias vendidas nesta data,
5.4 05/03/x1 4.600,00
conforme NF 000101.

Prestação de serviços F, NF 000102, à vista por transfe-


6 06/03x1 12.000,00
rência bancária, cliente G Varejista Ltda. ISSQN 5%.

Baixa do custo relativo aos insumos consumidos nos


6.2 06/03/x1 3.600,00
serviços prestados nesta data, conforme NF 000102.

Fonte: elaborado pelo autor.

Seu desafio é efetuar os lançamentos contábeis desses fatos no livro-


-diário e atualizar os saldos das contas envolvidas no livro-razão, além de
levantar um novo balancete de verificação da empresa. O balancete anterior
está apresentado no Quadro 3.2.
Quadro 3.2 | Balancete anterior em 29/02/x1
BALANCETE DE VERIFICAÇÃO EM 29/02/x1
CONTAS DÉBITO CRÉDITO
Caixa 12.000,00  
Bancos conta movimento 48.000,00  
Duplicatas a receber 85.000,00  
IPI a recuperar 1.500,00  
ICMS a recuperar 3.100,73  
PIS a recuperar 426,35  
COFINS a recuperar 1.963,79  
Estoque de matéria-prima - Z 19.687,50  
Estoque de produtos em elaboração - L 74.000,00  
Estoque de produtos acabados - L 60.000,00  
Estoque de mercadorias - K 18.112,50  

113
Estoque de insumos - T 18.000,00  
Máquinas e equipamentos 120.000,00  
Móveis e utensílios 62.000,00  
(-) Depreciação acumulada   18.200,00
Fornecedores   127.260,00
IPI a recolher   5.400,00
ICMS a recolher   9.792,00
PIS a recolher   1.346,40
COFINS a recolher   6.201,60
ISSQN a recolher   1.800,00
Empréstimos e financiamentos   116.800,00
Capital social   224.000,00
Venda de produtos   54.000,00
Venda de mercadorias   27.600,00
Prestação de serviços   36.000,00
ICMS sobre vendas 9.792,00  
PIS sobre vendas 1.346,40  
COFINS sobre vendas 6.201,60  
ISSQN sobre vendas 1.800,00  
Custo dos produtos vendidos 36.000,00  
Custo das mercadorias vendidas 16.235,29  
Custo dos serviços prestados 18.000,00  
Despesas operacionais 15.233,84  
TOTAIS 628.400,00 628.400,00

Fonte: elaborado pelo autor.

Os conteúdos teóricos e os exemplos de aplicação encontram-se nesta


seção e é fundamental que você os estude para resolver cada situação-pro-
blema apresentada. Capriche nas resoluções, pois esse item contempla a
aplicação dos conteúdos necessários para a sua formação profissional.

Não pode faltar

Fatos contábeis de compras e vendas


Você muito provavelmente já efetuou uma compra junto a uma empresa.
No ato dessa compra lhe foi emitia uma nota fiscal, não é verdade?
Na contabilidade da empresa na qual você efetuou a compra, certa-
mente houve o registro por meio dos lançamentos contábeis, pois,
conforme Padoveze (2010), é por meio deles que a contabilidade exerce seu
papel informacional.

114
Depois de terem sido efetuados os lançamentos contábeis no livro-diário,
contemplando o local e a data, a conta devedora e a conta credora, além do
histórico e do valor, são atualizados, então, os saldos das contas no livro-
-razão da empresa.
É no livro-razão que são individualizados os lançamentos em cada conta,
apresentando seus saldos anteriores, os débitos e os créditos, além do saldo
atual de cada uma delas.

Assimile
A escrituração é a base para o levantamento das demonstrações finan-
ceiras, portanto, ela está relacionada à finalidade da ciência contábil,
uma vez que ela está voltada para o controle e evidenciação da situação
patrimonial e de resultado.

Depois do livro-razão, é possível a emissão de um balancete de verifi-


cação, que, segundo Viceconti (2017), é um instrumento auxiliar da conta-
bilidade que evidencia os saldos das contas patrimoniais e de resultado em
um dado momento.
O balancete de verificação envolve a lista de contas e seus respectivos saldos
anteriores, seus movimentos a débito e a crédito e seus saldos atualizados.
É dessa forma, portanto, que a contabilidade é capaz de controlar o patri-
mônio das entidades.
Cada tipo de atividade empresarial corresponde a ciclos operacionais
diferentes. De forma geral, conforme Greco e Arend (2016) destacam, os
ramos empresariais se dividem em indústria, comércio e prestação de serviços
e é para essas empresas que a contabilidade trabalha, a fim de fornecer infor-
mações úteis para o processo de decisão.
As empresas industriais possuem um ciclo operacional que envolve:
• Compra e estocagem de matéria-prima.
• Requisição e processamento da matéria-prima durante a elaboração
dos produtos em processo de fabricação.
• Transferência dos produtos em elaboração para o estoque de
produtos acabados.
• Venda dos produtos.
• Baixa dos estoques pela venda dos produtos.

115
Já as empresas comerciais possuem um ciclo mais enxuto:
• Compra e estocagem de mercadorias.
• Venda das mercadorias.
• Baixa dos estoques pela venda de mercadorias.
No caso das prestadoras de serviços, o ciclo operacional envolve:
• Compra de insumos.
• Requisição e uso dos insumos no processo de prestação de serviços.
• Baixa dos estoques pelo consumo dos insumos na prestação
de serviços.

Reflita
Você considera ser importante e justificável que os fatos contábeis
relacionados às compras e às vendas sejam registrados individual-
mente, detalhadamente e à medida que vão ocorrendo?

Viceconti (2017) destaca que as organizações executam processos os


quais resultam em fatos contábeis e que passam a ser objeto de trabalho
da contabilidade.
Os fatos, como os relacionados nos parágrafos anteriores, exigem da
contabilidade a execução dos lançamentos contábeis e a elaboração das
demonstrações financeiras.
Para Greco e Arend (2016) e Padoveze (2010), a contabilidade deve
executar o seu papel respeitando as normas legais e os padrões estabelecidos
pelas normas contábeis a fim de cumprir seu objetivo de gerar informações
de interesse de seus usuários.

Exemplificando
Por exemplo, o lançamento referente à venda de produtos no caso do ramo
industrial envolve as contas de vendas de produtos, as contrapartidas de
caixa ou bancos, no caso de venda à vista, ou de duplicatas a receber, no
caso de venda a prazo. O exemplo dos fatos e do processo contábil envol-
vendo venda na área industrial é apresentado no Quadro 3.3.

116
Quadro 3.3 | Fatos vendas na indústria – Venda
DATA HISTÓRICO VALOR
Venda de 200 unidades do produto X, com IPI
de R$ 300,00, ICMS de 12%, PIS de 1,65% e
01/06/x1 COFINS de 7,6%, à vista por TED bancária, R$ 3.000,00
para o cliente H Comércio de Produtos LTDA,
conforme NF 3213.

Fonte: elaborado pelo autor.

O fato apresentado no Quadro 3.3 envolve a venda no valor de R$


3.000,00, esse será o fato registrado num primeiro momento.

Veja no Quadro 3.4 como é registrado esse fato.

Quadro 3.4 | Lançamentos contábeis indústria - Venda


Cidade - UF, 01 de junho de x1.
Conta devedora: Bancos conta movimento
Conta credora: Venda de produtos
Venda de 200 unidades do produto X, com IPI
de R$ 300,00, ICMS de 12%, PIS de 1,65% e
COFINS de 7,6%, à vista por TED bancária, R$ 3.000,00
para o cliente H Comércio de Produtos LTDA,
conforme NF 3213.
Fonte: elaborado pelo autor.

Operações com tributos sobre compras e vendas


Os fatos contábeis ocorridos no âmbito das empresas industriais, comer-
ciais e prestadoras de serviços requerem lançamento contábil. Isso pode ser
visto no exemplo que foi apresentado nos Quadros 3.3 e 3.4.
Além dos fatos em si, ou seja, da compra, consumo e venda, existem
lançamentos que visam reconhecer o efeito dos tributos sobre essas opera-
ções, além dos custos dos produtos, mercadorias e serviços prestados.

Assimile
Embora para cada ramo de atividade existam movimentações especí-
ficas, todas as empresas executam compras e vendas, pois essas ativi-
dades são necessárias para que a empresa se movimente e realize as
suas operações. Por isso é fundamental compreender como a contabili-
dade realiza o registro e controle desses fatos.

117
Segundo Viceconti (2017), os tributos mais comuns a serem conside-
rados em um processo de registro de compras e vendas são:
• IPI, que é o Imposto sobre Produtos Industrializados, de
competência Federal, cujo fato gerador é a comercialização de
produtos industrializados.
• PIS, que é o Programa de Integração Social, de competência Federal,
cujo fato gerador é a venda de produtos, mercadorias e serviços.
• COFINS, que é a Contribuição para o Financiamento da Seguridade
Social, de competência Federal, cujo fato gerador é a comercialização
de produtos industrializados.
• ICMS, que é o Imposto sobre Mercadorias e Serviços, de competência
estadual, cujo fato gerador é a circulação de mercadorias e a prestação
de serviços de transporte, energia elétrica e telecomunicações.
• ISSQN, que é o Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza, de
competência municipal, cujo fato gerador é a prestação de serviços.

Reflita
A partir do conhecimento sobre os tributos envolvidos nas compras e
vendas, é possível perceber que eles influenciam significativamente os
resultados econômicos e financeiros das entidades?

Os tributos afetam diretamente o lucro das entidades, uma vez que,


conforme Padoveze (2010), eles são calculados a partir das vendas geradas
pela entidade e representam na estrutura de resultado, as deduções da
receita bruta.

Exemplificando
Por exemplo, o lançamento referente à venda de produtos no caso do
ramo industrial, demonstrado no exemplo anterior, envolve o lança-
mento do IPI.

Para ficar mais clara a sua compreensão, no Quadro 3.5 é recordado o


fato contábil a ser registrado, bem como os lançamentos que devem ser
efetuados e os já realizados até aqui.

118
Quadro 3.5 | Fatos vendas na indústria - IPI
DATA HISTÓRICO VALOR
Venda de 200 unidades do produto X, com IPI
de R$ 300,00, ICMS de 12%, PIS de 1,65% e
01/06/x1 COFINS de 7,6%, à vista por TED bancária, R$ 3.000,00
para o cliente H Comércio de Produtos LTDA,
conforme NF 3213.

Fonte: elaborado pelo autor.

O fato apresentado no Quadro 3.5 envolve a venda no valor de R$


3.000,00, registrada no exemplo anterior, mais o IPI de R$ 300,00.

O IPI é faturado juntamente com o produto, portanto quem efetiva-


mente paga o IPI é o comprador, porém, cabe à empresa vendedora o
seu recolhimento.

Além do IPI, também incidem sobre a venda dos produtos os impostos


ICMS de 12%, o PIS de 1,65% e a COFINS de 7,6%.

Vale destacar que o ICMS possui alíquota definida para cada estado,
uma vez que é de sua competência a cobrança desse imposto.

Veja no Quadro 3.6 como são registrados esses fatos.

Quadro 3.6 | Lançamentos contábeis tributos


Cidade - UF, 01 de junho de x1.
Conta devedora: Bancos conta movimento
Conta credora: Venda de produtos
Venda de 200 unidades do produto X, com IPI
de R$ 300,00, ICMS de 12%, PIS de 1,65% e
COFINS de 7,6%, à vista por TED bancária, R$ 3.000,00
para o cliente H Comércio de Produtos LTDA,
conforme NF 3213.
Cidade - UF, 01 de junho de x1.
Conta devedora: Bancos conta movimento
Conta credora: IPI a recolher
IPI sobre a venda conforme NF 3213. R$ 300,00
Cidade - UF, 01 de junho de x1.
Conta devedora: ICMS sobre vendas
Conta credora: ICMS a recolher
ICMS sobre a venda conforme NF 3213. R$ 360,00
Cidade - UF, 01 de junho de x1.
Conta devedora: PIS sobre vendas
Conta credora: PIS a recolher
PIS sobre a venda conforme NF 3213. R$ 49,50
Cidade - UF, 01 de junho de x1.
Conta devedora: COFINS sobre vendas

119
Conta credora: COFINS a recolher
COFINS sobre a venda conforme NF 3213. R$ 228,00
Fonte: elaborado pelo autor.

Vale destacar, também, que os regimes de tributação podem afetar a


forma pela qual são calculados e recolhidos os tributos. O ICMS, o PIS e
a COFINS, por exemplo, são calculados de forma não cumulativa com as
alíquotas de 1,65% e 7,6% respectivamente. Por essa forma de cálculo a
empresa pode recuperar esses tributos sobre as compras, fazendo o recolhi-
mento da diferença entre os impostos gerados na venda e os impostos
recuperados anteriormente.
Um exemplo de fatos e do processo contábil envolvendo o cálculo do PIS
e COFINS pelo regime não cumulativo é apresentado no Quadro 3.7.
Quadro 3.7 | Fatos vendas de mercadorias
DATA HISTÓRICO VALOR
Compra de 200 unidades da mercadoria Y, com ICMS
de 12%, PIS de 1,65% e COFINS de 7,6%, a prazo, do
01/06/x1 R$ 2.500,00
fornecedor Atacado de Produtos LTDA, conforme
NF 8797.
Venda de 200 unidades da mercadoria Y, com ICMS
de 12%, PIS de 1,65% e COFINS de 7,6%, à vista por
01/06/x1 R$ 4.000,00
TED bancária, para o cliente H Comércio de Produ-
tos LTDA, conforme NF 3214.

Fonte: elaborado pelo autor.

Os fatos apresentados no Quadro 3.7 envolvem a comercialização de


mercadorias no valor de R$ 4.000,00 com recuperação do ICMS, PIS e
COFINS sobre essas compras.
No Quadro 3.8 é apresentada a forma não cumulativa do ICMS, do PIS
e da COFINS.

120
Quadro 3.8 | Lançamentos contábeis regime não cumulativo
Cidade - UF, 01 de junho de x1.
Conta devedora: Estoque de mercadorias
Conta credora: Fornecedores
Compra de 200 unidades da mercadoria Y, com
ICMS de 12%, PIS de 1,65% e COFINS de 7,6%, a
R$ 2.500,00
prazo, do fornecedor Atacado de Produtos LTDA,
conforme NF 8797.
Cidade - UF, 01 de junho de x1.
Conta devedora: ICMS a recuperar
Conta credora: Estoque de mercadorias
Recuperação do ICMS sobre a compra conforme
R$ 300,00
NF 8797.
Cidade - UF, 01 de junho de x1.
Conta devedora: PIS a recuperar
Conta credora: Estoque de mercadorias
Recuperação do PIS sobre a compra conforme
R$ 41,25
NF 8797.
Cidade - UF, 01 de junho de x1.
Conta devedora: COFINS a recuperar
Conta credora: Estoque de mercadorias
Recuperação do COFINS sobre a compra conforme
R$ 190,00
NF 8797.
Cidade - UF, 01 de junho de x1.
Conta devedora: Bancos conta movimento
Conta credora: Venda de mercadorias
Venda de 200 unidades da mercadoria Y, com ICMS
de 12%, PIS de 1,65% e COFINS de 7,6%, à vista por
R$ 4.000,00
TED bancária, para o cliente H Comércio de Produ-
tos LTDA, conforme NF 3214.
Cidade - UF, 01 de junho de x1.
Conta devedora: ICMS sobre vendas
Conta credora: ICMS a recolher
ICMS sobre a venda conforme NF 3214. R$ 480,00
Cidade - UF, 01 de junho de x1.
Conta devedora: PIS sobre vendas
Conta credora: PIS a recolher
PIS sobre a venda conforme NF 3214. R$ 66,00
Cidade - UF, 01 de junho de x1.
Conta devedora: COFINS sobre vendas
Conta credora: COFINS a recolher
COFINS sobre a venda conforme NF 3213. R$ 304,00
Cidade - UF, 01 de junho de x1.
Conta devedora: Custo das mercadorias vendidas
Conta credora: Estoque de mercadorias

121
Pela baixa do custo da venda conforme NF 3214. R$ 1.968,45.
Fonte: elaborado pelo autor.

Baixa dos custos das vendas


Nos parágrafos anteriores você teve contato com os lançamentos contá-
beis das vendas de produtos, bem como os tributos envolvidos.
Depois de registradas as vendas e lançados o IPI, ICMS, PIS e COFINS, é
o momento de se efetuar a baixa dos estoques relativa aos produtos vendidos.
Segundo Greco e Arend (2016), os estoques de mercadorias e de produtos
representam os valores de custo que deverão ser alocados quando das suas
respectivas vendas.
Nos dois exemplos apresentados anteriormente, foram efetuados os
lançamentos de venda e dos tributos relativos a ela. Então, qual seria a forma
de se efetuar a baixa dos estoques?
Para ficar mais clara esta explicação, veja o fato contábil apresentado no
Quadro 3.9.
Quadro 3.9 | Fato contábil relativo à baixa dos custos
Cidade - UF, 01 de junho de x1.
Conta devedora: Custo dos produtos vendidos
Conta credora: Estoque de produtos
Pela baixa do custo da venda conforme NF 3213. R$ 2.000,00

Fonte: elaborado pelo autor.

Veja no Quadro 3.9 que é utilizada a conta de custo dos produtos vendidos
para o reconhecimento dos custos das vendas, sendo que seu montante
corresponde ao valor gasto para a elaboração do produto. Valor este alocado
no estoque de produtos acabados.
Esta seção evidenciou os processos contábeis de registro e evidenciação
dos fatos contábeis e da situação patrimonial e de resultado da entidade.
Você teve contato com diferentes situações envolvendo compras e vendas, o
que o aproximou da atividade contábil realizada nas empresas.
É por meio dos processos aqui tratados que a contabilidade realiza o seu
papel, o de estudar, registrar e controlar o patrimônio das entidades, eviden-
ciando a situação patrimonial e de resultado como forma de subsídio ao
processo de tomada de decisões.

122
Sem medo de errar

Caro aluno, você foi convidado a executar os lançamentos contábeis no


livro-diário e no livro-razão e depois elaborar o balancete de verificação da
empresa SJ.
A partir dos dados apresentados na situação-problema, você deverá
efetuar os lançamentos contábeis de acordo com as normas e conforme
apresentado no conteúdo desta seção.
Depois dos lançamentos efetuados, você deverá realizar a atualização
dos saldos das contas no livro-razão, para depois elaborar as demonstra-
ções solicitadas.

Para consultar os lançamentos e razões, acesse o QR Code ou o link a


seguir: https://go.aws/2QYxHDN .

Depois de atualizados os saldos no livro-razão, você deverá elaborar o


balancete de verificação, sendo que o Quadro 3.10 demonstra como ele ficará
depois de resolvida a situação-problema.
Quadro 3.10 | Balancete de verificação
BALANCETE DE VERIFICAÇÃO EM 06/03/x1
MOVIMENTA-
SALDO ANTERIOR SALDO ATUAL
ÇÕES
CONTAS
CRÉDI-
DÉBITO CRÉDITO DÉBITO DÉBITO CRÉDITO
TO
Caixa 12.000,00 - - - 12.000,00 -
Bancos
conta movi- 48.000,00 - 12.000,00 - 60.000,00 -
mento
Duplicatas a
85.000,00 - - 115.316,50 -
receber 30.316,50
IPI a recu-
1.500,00 - -
perar 500,00 - 2.000,00
ICMS a
3.100,73 - -
recuperar 1.152,00 - 4.252,73
PIS a recu-
426,35 - -
perar 158,40 - 584,75

123
COFINS a
1.963,79 - - -
recuperar 729,60 2.693,39
Estoque de
matéria-pri- 19.687,50 - 23.625,00 -
5.500,00 1.562,50
ma - Z
Estoque de
produtos em
74.000,00 - - - 74.000,00 -
elaboração
-L
Estoque de
produtos 60.000,00 - - 48.000,00 -
12.000,00
acabados - L

Estoque de
mercadorias 18.112,50 - 17.135,00 -
4.600,00 5.577,50
-K
Estoque de
18.000,00 - 18.000,00 -
insumos - T 3.600,00 3.600,00
Máquinas e
equipamen- 120.000,00 - - - 120.000,00 -
tos
Móveis e
62.000,00 - - - 62.000,00 -
utensílios
(-) De-
preciação - 18.200,00 - - - 18.200,00
acumulada
Fornece-
- 127.260,00 - 140.960,00
dores - 13.700,00
IPI a reco-
- - 7.036,36
lher 5.400,00 - 1.636,36
ICMS a
- - 13.037,25
recolher 9.792,00 - 3.245,25
PIS a reco-
- - 1.792,62
lher 1.346,40 - 446,22
COFINS a
- - 8.256,93
recolher 6.201,60 - 2.055,33
ISSQN a
- - 2.400,00
recolher 1.800,00 - 600,00
Emprésti-
mos e finan- - 116.800,00 - - - 116.800,00
ciamentos
Capital
- 224.000,00 - - - 224.000,00
social
Venda de
- 54.000,00 - - 70.363,64
produtos 16.363,64

124
Venda de
- 27.600,00 - - 39.916,50
mercadorias 12.316,50
Prestação de
- 36.000,00 - - 48.000,00
serviços 12.000,00
ICMS sobre
9.792,00 - - 13.037,25 -
vendas 3.245,25
PIS sobre
1.346,40 - - -
vendas 446,22 1.792,62
COFINS so-
6.201,60 - - -
bre vendas 2.055,33 8.256,93
ISSQN so-
1.800,00 - - -
bre vendas 600,00 2.400,00
Custo dos
produtos 36.000,00 - - 48.000,00 -
12.000,00
vendidos

Custo das
mercadorias 16.235,29 - - 20.835,29 -
4.600,00
vendidas

Custo dos
serviços 18.000,00 - - 21.600,00 -
3.600,00
prestados
Despesas
15.233,84 - - - 15.233,84 -
operacionais

TOTAIS 628.400,00 628.400,00 85.103,30 690.763,30


85.103,30 690.763,31

Fonte: elaborado pelo autor.

Os conhecimentos adquiridos a partir da resolução desta situação-pro-


blema lhe ajudarão bastante na atuação profissional. O processo contábil de
registro e elaboração de demonstrações consiste na base para que a contabi-
lidade atinja seu objetivo.

Faça valer a pena

1. No processo de registro dos fatos operacionais das empresas, existem


dois processos que se repetem cotidianamente. Os processos de compra e
de venda são exemplos de fatos que ocorrem a todo o momento durante as
atividades empresariais.
Nesse sentido, uma compra de insumos em uma empresa prestadora de
serviços é registrada a partir de qual lançamento contábil?

125
Assinale a alternativa correta:
a. Débito de Clientes, crédito de Estoque de insumos.
b. Débito de fornecedores, crédito de estoque de insumos.
c. Débito de custo dos serviços prestados, crédito de estoque de insumos.
d. Débito de estoque de insumos, crédito de fornecedores.
e. Débito de estoque de insumos, crédito de custo dos serviços prestados.

2. Uma determinada empresa apresentou o seguinte lançamento contábil:


Cidade-UF, 01 de novembro de x1.
Débito de PIS a recuperar.
Crédito de Estoque de mercadorias.
Histórico:???, valor R$ 250,00
Analisando esse lançamento contábil, que tipo de fato ele está registrando?
Assinale a alternativa correta:
a. Recuperação do PIS sobre compras de mercadorias.
b. Provisão do PIS sobre vendas de mercadorias.
c. Recuperação do PIS sobre aquisição insumos.
d. Baixa do custo das mercadorias vendidas.
e. Recolhimento do PIS sobre as vendas.

3. Uma determinada empresa fez um lançamento de baixa dos estoques de


mercadorias para revenda por ocasião da venda. O lançamento envolveu a
conta de custo das mercadorias vendidas e os estoques de mercadorias para
revenda. O valor dessa baixa foi de R$ 787,50.
Sobre esse lançamento são feitas as seguintes asserções:
I. Poderia se referir a uma compra de mercadorias no valor de R$
1.000,00, com recuperação de ICMS de 12%, de PIS de 1,65% e de
COFINS de 7,6%.
PORQUE
II. Se a empresa opta pelo lucro real, o sistema de tributação envolvendo
o PIS e COFINS será o não cumulativo

126
Analisando as asserções apresentadas, assinale a alternativa correta:
a. As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justifica-
tiva da I.
b. As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma
justificativa da I.
c. A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa.
d. A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira.
e. As asserções I e II são proposições falsas.

127
Seção 2

Principais custos e despesas

Diálogo aberto
Nesta seção serão apresentadas as principais contas de custos e
despesas, sua forma de registro e de evidenciação de acordo com a norma
contábil brasileira.
Você, então contratado pela empresa SJ, será responsável pelo registro
dos fatos contábeis gerados com base na operação da organização. A empresa
está gerando os primeiros fatos contábeis, todos os quais precisam ser regis-
trados e processados pela contabilidade.
Nesse contexto, considere que você recebeu nova lista de fatos ocorridos
no mês de março/x1 que envolvem custos e despesas. Esses fatos estão
listados no Quadro 3.11.
Quadro 3.11 | Fatos contábeis de custos e despesas
Nº DATA HISTÓRICO VALOR
Pagamento em dinheiro referente à aquisição de ma-
teriais de limpeza conforme NF 00508 do fornecedor
7 07/03/x1 Comercial Varejista H LTDA. Dessa quantidade, 30% é 2.400,00
consumida no mês da aquisição, e 35%, nos dois meses
subsequentes.
Compra a prazo de material de expediente conforme
NF 666 do fornecedor Atacarejo P LTDA. Dessa quanti-
8 08/03/x1 1.700,00
dade, 50% é consumida no mês da aquisição, e 50%, no
mês seguinte.
Recebimento da conta de internet e telefone, fatura nº
9 09/03x1 1234, da empresa Telecon F S/A, com vencimento para 1.140,00
30/03/x1.
Provisionamento das comissões sobre vendas referentes
10 10/03/x1 ao mês de fevereiro-março, cujo pagamento será feito 2.670,00
em 31/03/x1
Despesas com tarifas bancárias debitadas em conta
11 11/03/x1 670,00
nesta data.
Fonte: elaborado pelo autor.

Com base na lista apresentada no Quadro 3.11, efetue os lançamentos


no livro-diário e no livro-razão. Na sequência, levante novo balancete
de verificação.
O balancete anterior está apresentado no Quadro 3.12.

128
Quadro 3.12 | Balancete de verificação em 06/03/x1
BALANCETE DE VERIFICAÇÃO EM 06/03/x1
SALDO ATUAL
CONTAS
DÉBITO CRÉDITO
Caixa 12.000,00 -
Bancos conta movimento 60.000,00 -
Duplicatas a receber 115.316,50 -
IPI a recuperar 2.000,00 -
ICMS a recuperar 4.252,73 -
PIS a recuperar 584,75 -
Cofins a recuperar 2.693,39 -
Estoque de matéria-prima – Z 23.625,00 -
Estoque de produtos em elaboração – L 74.000,00 -
Estoque de produtos acabados – L 48.000,00 -
Estoque de mercadorias – K 17.135,00 -
Estoque de insumos – T 18.000,00 -
Máquinas e equipamentos 120.000,00 -
Móveis e utensílios 62.000,00 -
(-) Depreciação acumulada - 18.200,00
Fornecedores - 140.960,00
IPI a recolher - 7.036,36
ICMS a recolher - 13.037,25
PIS a recolher - 1.792,62
COFINS a recolher - 8.256,93
ISSQN a recolher - 2.400,00
Empréstimos e financiamentos - 116.800,00
Capital social - 224.000,00
Venda de produtos - 70.363,64
Venda de mercadorias - 39.916,50
Prestação de serviços - 48.000,00
ICMS sobre vendas 13.037,25 -
PIS sobre vendas 1.792,62 -
Cofins sobre vendas 8.256,93 -
ISSQN sobre vendas 2.400,00 -
Custo dos produtos vendidos 48.000,00 -
Custo das mercadorias vendidas 20.835,29 -
Custo dos serviços prestados 21.600,00 -
Despesas operacionais 15.233,84 -
TOTAIS 690.763,31 690.763,30
Fonte: elaborado pelo autor.

Os conteúdos e exemplos para a realização dessa situação-problema


estão disponíveis nesta seção, no decorrer da qual você terá acesso à lista de
despesas que compõe cada grupo da DRE.

129
Com base nas contas apresentadas nessa lista, será possível compreender
a classificação no grupo de despesas operacionais.
Você também conhecerá a forma de registro dessas despesas.
Portanto, não deixe de estudar esses conteúdos antes da resolução da
situação-problema proposta e atente para os históricos dos lançamentos,
uma vez que são eles que permitem que o usuário da informação contábil
saiba o que está sendo registrado e como o fato contábil afetou o patrimônio
da entidade.
Essa atividade o colocará bem mais próximo da realidade profissional
do contador!

Não pode faltar

Caro aluno, nesta seção você terá a oportunidade de conhecer não só as


contas de custos e despesas mais comuns de uma empresa, mas também, e
principalmente, a classificação delas.

Custos das vendas


Para compreender como o resultado da organização é apresentado e,
dessa forma, como os custos são classificados e evidenciados, é importante
destacar o ciclo deles nos diferentes ramos de atividades empresariais.
No caso das empresas industriais, os custos são formados basicamente
por matéria-prima e mão de obra, os quais são alocados diretamente
aos produtos.
Além desses custos que são diretamente atribuídos aos produtos, outros
custos de fabricação podem ser alocados pela utilização de critérios de
distribuição. Dessa forma, todos os custos, tanto os diretos (por exemplo:
matérias-primas, e mão de obra direta) quanto os indiretos (por exemplo:
aluguel da fábrica, salário do supervisor da fábrica e manutenção de equipa-
mentos), acabam fazendo parte dos estoques de produtos em elaboração.
Segundo Viceconti (2017), os estoques representam bens destinados à
venda e ao consumo no processo produtivo ou nas operações administrativas
relacionadas à operação empresarial.
Nesse sentido, no caso da indústria, a matéria-prima é adquirida, é
estocada e, depois, é requisitada e consumida pelo processo produtivo.

130
Adicionam-se a essa matéria-prima os custos com mão de obra e a
alocação dos custos indiretos, e tem-se o valor dos produtos em elaboração
que, depois de finalizados, são transferidos para produtos acabados, ficando
disponíveis para a venda.
Por sua vez, no caso das empresas comerciais, segundo Padoveze (2010),
estocam-se as mercadorias bem como os demais gastos executados no
momento da compra.
Essas mercadorias que estão alocadas na conta de estoque de mercado-
rias para revenda, quando comercializadas, formarão o custo das mercadorias
vendidas (CMV).

Assimile
O custo das mercadorias vendidas deriva da transferência dos estoques
vendidos para a conta de resultado. Nos estoques, ficam armazenados
todos os gastos necessários para que a mercadoria esteja em condições
de venda – por exemplo: fretes e seguros.

No caso das empresas de serviços, o custo dos serviços prestados (CSP)


é formado pela alocação da mão de obra e dos insumos necessários para se
prestar o serviço.
Para exemplificar a formação dos custos das vendas, são apresentados
os dados de uma empresa prestadora de serviços conforme evidencia o
Quadro 3.13.
Quadro 3.13 | Parte do Balancete de Verificação em 01/05/x1
SALDOS
DESCRIÇÃO
DEVEDORES CREDORES
Estoque de matérias-primas R$ 10.000,00
Estoque de mercadorias R$ 50.000,00
Estoque de insumos R$ 5.000,00

Fonte: elaborado pelo autor.

Uma mesma empresa pode exercer três ramos diferentes em sua


operação. Ou seja, uma mesma empresa pode: industrializar, comercializar
e prestar serviços.
Mesmo nessa condição de atividades concomitantes, a classificação
dos custos e das despesas deve permitir a análise dos resultados de forma

131
separada – isto é, deve haver separação por ramos de atividade das receitas,
dos custos e das despesas.
Essa separação tem por finalidade conhecer a eficácia de cada uma das
operações empresariais, bem como tratar separadamente as questões fiscais,
uma vez que, para todos os ramos de atividade, existem tributos específicos.
Dando continuidade ao exemplo apresentado no Quadro 3.13, considere
que 50% de cada um dos estoques da empresa foi requisitado ou vendido.
Para fins didáticos, não serão considerados os tributos ou outras informa-
ções além das apresentadas no Balancete de Verificação da empresa.
Qual seria a nova situação das contas se considerado o conceito de custo
das vendas para cada ramo de atividade: indústria, comércio e prestação de
serviços da empresa?
A resposta a essa pergunta está apresentada no Quadro 3.14.
Quadro 3.14 | Parte do Balancete de Verificação em 01/05/x1
SALDOS
DESCRIÇÃO
DEVEDORES CREDORES
Estoque de matérias-primas R$ 5.000,00
Estoque de mercadorias R$ 25.000,00
Estoque de insumos R$ 2.500,00
Estoque dos produtos em elaboração R$ 5.000,00
Custo das mercadorias vendidas R$ 25.000,00
Custo dos serviços prestados R$ 2.500,00
Fonte: elaborado pelo autor.

Como é possível observar no Quadro 3.14, 50% do saldo dos estoques


de matérias-primas foi transferido por requisição para os produtos
em elaboração.
Depois de finalizados, esse estoque se transforma em produtos acabados
e, quando estes forem vendidos, em custo dos produtos vendidos (CPV).
As mercadorias que estavam em estoque e que, posteriormente, foram
vendidas são transformadas em custo das mercadorias vendidas (CMV).
Os insumos, quando requisitados – e, portanto, quando consumidos na
prestação de serviços, compõem o custo dos serviços prestados (CSP).
Embora existam etapas diferentes, o ciclo dessas atividades compreende
basicamente o processo de compra, estocagem e venda. Exceção ocorre no
caso da indústria que contempla a produção e dos serviços que contemplam
a execução.

132
Reflita
A classificação das contas de custos e despesas em grupos e subgrupos
organizados, conforme determina a legislação e as normas contábeis,
contribui para que o leigo em contabilidade compreenda o resultado
obtido pela organização?

Ao estabelecer um padrão para evidenciação dos custos e despesas,


torna-se possível comparar as demonstrações de uma mesma empresa em
diferentes períodos.
No mesmo sentido, podem-se comparar para fins gerenciais infor-
mações de empresas diferentes, geralmente de um mesmo mercado e de
ramos similares.
A Figura 3.1 demonstra graficamente o ciclo dos custos nos diferentes
ramos empresariais.
Figura 3.1 | Ciclos de geração dos custos das vendas
INDÚSTRIA

COMPRA DE
ESTOCAGEM PRODUÇÃO VENDA CPV
MATÉRIA-PRIMA

COMÉRCIO

COMPRA DE
ESTOCAGEM VENDA CMV
MERCADORIAS

SERVIÇOS

COMPRA DE PRESTAÇÃO
VENDA ESTOCAGEM DE CSP
INSUMOS
SERVIÇOS

Fonte: elaborada pelo autor.

133
Conforme de observa na Figura 3.x, o ciclo relativo à indústria contempla
a aquisição de matéria-prima, que depois é estocada.
O setor produtivo, de acordo com a demanda, faz a requisição dessa
matéria-prima, que é baixada do estoque e transferida para os estoques de
produtos em elaboração.
Quando o produto é finalizado, ele é baixado dos estoques de produtos
em elaboração e transferido para os estoques de produtos acabados.
Uma vez vendidos, esses produtos são transferidos dos estoques de
produtos acabados para a conta de custo dos produtos vendidos.
O ciclo relativo ao comércio envolve a aquisição das mercadorias, que
ficam registradas nos estoques de mercadorias para revenda; essas, quando
vendidas, são baixadas desses estoques e, então, transferidas para a conta de
custo das mercadorias vendidas.
O ciclo da prestação de serviços envolve a aquisição de insumos
que são lançados em estoques. Quando da prestação de serviços, esses
insumos são baixados dos estoques e transferidos para a conta de custo dos
serviços prestados.

Despesas operacionais
Segundo Greco e Arend (2016), a Demonstração do Resultado do
Exercício (DRE) deve evidenciar os seguintes subgrupos:
• Despesas com vendas.
• Despesas gerais e administrativas.
• Despesas financeiras, deduzidas das receitas financeiras.
Essa classificação atende ao CPC 26 (R1), que trata das demonstrações finan-
ceiras que deverão ser elaboradas ao final de cada exercício social (CPC, 2011).
Conforme Viceconti (2016), as despesas com vendas contemplam os gastos
que tenham como origem as atividades de comercialização de produtos,
mercadorias e serviços.
Podemos citar como exemplos: comissões de vendas, propaganda e
publicidade, despesas com marketing digital, fretes e seguros sobre vendas
de responsabilidade da empresa vendedora, entre outros.

134
Reflita
Você concorda que as contas relativas a despesas com vendas merecem
ser agrupadas em um subgrupo específico na DRE? Seriam elas despesas
relevantes da operação empresarial?

As despesas gerais e administrativas representam, conforme Padoveze


(2010), os gastos que são executados para manter a empresa em operação.
Os gastos administrativos são os responsáveis pela manutenção da ativi-
dade empresarial, sendo necessários para que a empresa gere receitas.
São exemplos de gastos gerais e administrativos: aluguel, despesas com
internet, água, luz e telefones, honorários, manutenção de computadores,
material de limpeza e de expediente, taxas e emolumentos, pró-labore,
ordenados e salários da administração, entre outros.
O subgrupo despesas financeiras, conforme Padoveze (2010), contempla os
gastos financeiros executados na gestão do capital de giro e outras operações.
Geralmente, as despesas financeiras derivam de operações que demandam
tarifas de administração financeira e remuneração de capital.
São exemplos de despesas financeiras: a tarifa de manutenção de contas,
IOF, juros passivos – pagos quando a empresa está pagando os juros –,
descontos concedidos, entre outros.
As receitas financeiras são também classificadas em despesas financeiras.
Elas são contas redutoras dentro deste subgrupo, uma vez que o CPC 26 (R1)
destaca que as despesas financeiras deverão ser apresentadas deduzidas das
receitas financeiras (CPC, 2011).
As principais receitas financeiras são: os juros ativos, derivados de recebi-
mento de juros e descontos recebidos, além dos rendimentos sobre aplica-
ções financeiras.

Assimile
As receitas financeiras possuem, assim como as demais receitas,
natureza credora. Em razão dessa característica, quando alocadas no
grupo despesas financeiras, como determina a legislação societária e a
norma contábil, elas se classificam como contas retificadoras.

Para determinar o valor do subgrupo despesas financeiras, portanto, deve


haver o lançamento tanto das despesas como das receitas, sendo estas classi-
ficadas no mesmo subgrupo para fins de apuração do resultado.

135
Exemplificando
Se uma determinada empresa possui, ao mesmo tempo, um emprés-
timo feito junto em um banco com o qual trabalha e um empréstimo
concedido a um de seus sócios, ela estará sujeita e pagar e a receber
juros sobre essas operações respectivamente.

Considere que essas operações, devidamente registradas pela contabi-


lidade, apresentem os valores demonstrados no Quadro 3.15.

Quadro 3.15 | Valores e condições dos empréstimos

DESCRIÇÃO VALOR % JUROS a.m.


Empréstimos obtidos R$ 100.000,00 2%
Empréstimos concedidos R$ 50.000,00 1%
Fonte: elaborado pelo autor.

Considerando as informações descritas no Quadro 3.15, depois de um


mês, qual seria o total do grupo despesas financeiras na DRE?

A resposta a esta pergunta é evidenciada no Quadro 3.16.

Quadro 3.16 | DRE

GRUPOS E CONTAS VALORES


DESPESAS OPERACIONAIS R$ 1.500,00
DESPESAS FINANCEIRAS R$ 1.500,00
Juros passivos R$ 2.000,00
(-) Juros ativos R$ 500,00

Fonte: elaborado pelo autor.

O registro contábil das despesas envolverá sempre um débito relativo à


despesa que está sendo registrada e um crédito na contrapartida, que pode
ser caixa ou bancos no caso de valores à vista ou de contas a pagar no caso
de provisionamento.
Nesta seção você conheceu as principais contas de custos e despesas, além
da classificação delas na DRE. Também compreendeu que a estruturação da
DRE, de acordo com a legislação e normas contábeis, tem duas finalidades
principais: a informação aos usuários da contabilidade e o apoio ao processo
de gestão dos gastos da organização.

136
A gestão eficaz dos recursos financeiros possibilita a redução de desperdí-
cios e perdas e, dessa forma, melhora a capacidade de geração de resultados
positivos pela organização.
No mesmo sentido, as ações de controle permitem a melhoria da geração
de receitas, sejam elas da operação principal da organização, sejam elas
oriundas de atividades financeiras.
Esses conhecimentos adquiridos o ajudarão na execução dos processos
contábeis relativos ao controle dos custos e despesas e, principalmente, na
evidenciação da situação econômica e financeira patrimonial e de resultado
da entidade. Afinal, esta é a finalidade da contabilidade.

Sem medo de errar

Você, após ter sido contratado por uma empresa para trabalhar na área
contábil, está diante do desafio de efetuar os lançamentos contábeis das
despesas conforme fatos apresentados e, na sequência, elaborar o balancete
de verificação atualizado.
Depois de efetuados os lançamentos, devem ser escriturados os razões
das contas envolvidas.

Para consultar os lançamentos contábeis, bem com os razões escritura-


dos, acesse o QR Code ou o link: https://go.aws/2svVvFP

Depois desses passos, deve ser elaborado o novo balancete, que deverá
apresentar as contas, as movimentações e os saldos conforme demonstrado
no Quadro 3.17.
Quadro 3.17 | Balancete de Verificação em 11/03/x1
BALANCETE DE VERIFICAÇÃO EM 11/03/x1

SALDO ANTERIOR MOVIMENTAÇÕES SALDO ATUAL


CONTAS
CRÉDI-
DÉBITO CRÉDITO DÉBITO DÉBITO CRÉDITO
TO

Caixa 12.000,00 - - 2.400,00 9.600,00 -

Bancos conta movi-


60.000,00 - - 670,00 59.330,00 -
mento

137
Duplicatas a receber 115.316,50 - - - 115.316,50 -

IPI a recuperar 2.000,00 - - - 2.000,00 -

ICMS a recuperar 4.252,73 - - - 4.252,73 -

PIS a recuperar 584,75 - - - 584,75 -

Cofins a recuperar 2.693,39 - - - 2.693,39 -

Estoque de matéria-
23.625,00 - - - 23.625,00 -
-prima – Z

Estoque de produtos
74.000,00 - - - 74.000,00 -
em elaboração – L

Estoque de produtos
48.000,00 - - - 48.000,00 -
acabados – L
Estoque de mercado-
17.135,00 - - - 17.135,00 -
rias – K
Estoque de insumos
18.000,00 - - - 18.000,00 -
–T
Estoque de materiais
- - 2.400,00 - 2.400,00 -
de limpeza
Estoque de materiais
- - 1.700,00 850,00 850,00 -
de expediente
Máquinas e equipa-
120.000,00 - - - 120.000,00 -
mentos

Móveis e utensílios 62.000,00 - - - 62.000,00 -

(-) Depreciação acu-


- 18.200,00 - - - 18.200,00
mulada
Fornecedores - 140.960,00 - - - 140.960,00

Contas a pagar - - - 2.840,00 - 2.840,00

Comissões a pagar - - - 1.290,00 - 1.290,00

IPI a recolher - 7.036,36 - - - 7.036,36

ICMS a recolher - 13.037,25 - - - 13.037,25

PIS a recolher - 1.792,62 - - - 1.792,62

Cofins a recolher - 8.256,93 - - - 8.256,93

ISSQN a recolher - 2.400,00 - - - 2.400,00


Empréstimos e finan-
- 116.800,00 - - - 116.800,00
ciamentos

Capital social - 224.000,00 - - - 224.000,00

Venda de produtos - 70.363,64 - - - 70.363,64

138
Venda de mercadorias - 39.916,50 - - - 39.916,50

Prestação de serviços - 48.000,00 - - - 48.000,00

ICMS sobre vendas 13.037,25 - - - 13.037,25 -

PIS sobre vendas 1.792,62 - - - 1.792,62 -

Cofins sobre vendas 8.256,93 - - - 8.256,93 -

ISSQN sobre vendas 2.400,00 - - - 2.400,00 -

Custo dos produtos


48.000,00 - - - 48.000,00 -
vendidos
Custo das mercadorias
20.835,29 - - - 20.835,29 -
vendidas
Custo dos serviços
21.600,00 - - - 21.600,00 -
prestados
Comissões sobre
- - 1.290,00 - 1.290,00 -
vendas

Despesas operacionais 15.233,84 - - - 15.233,84 -

Materiais de expe-
- - 850,00 - 850,00 -
diente

Telefones e internet - - 1.140,00 - 1.140,00 -

Tarifas bancárias - - 670,00 - 670,00 -

TOTAIS 690.763,31 690.763,30 8.050,00 8.050,00 694.893,31 694.893,30

Fonte: elaborado pelo autor.

Com base na resolução desta situação-problema, você está capacitado a


reconhecer e registrar os principais fatos ocorridos após o início das ativi-
dades das PJs envolvendo os custos e as despesas operacionais que se classi-
ficam como: “com vendas”, “gerais e administrativas” e “financeiras” no grupo
de despesas operacionais na DRE.

139
Avançando na prática

Importância da classificação correta


das despesas

A estrutura da Demonstração do Resultado do Exercício (DRE) permite


que seja compreendido como a organização chegou ao resultado em deter-
minado período.
Além dessa característica, a gestão dos custos e despesas depende da
correta classificação destas no momento do seu lançamento contábil.
Considere que você está na condição de assistente contábil em uma deter-
minada empresa e lhe foi designada a atividade de preparar os documentos
para o registro contábil.
Uma lista de custos e despesas lhe foi apresentada. Seu desafio é classi-
ficar de forma correta o grupo ou subgrupo ao qual cada um desses custos e
despesas pertence.
No Quadro 3.18 a seguir são apresentadas as devidas contas
para classificação.
Quadro 3.18 | Lista de contas para classificação
DESCRIÇÃO CLASSIFICAÇÃO
Taxa de manutenção da conta corrente
Materiais de limpeza
Custo dos serviços prestados
Aluguéis
Comissões sobre vendas
ISSQN
Propaganda e campanha
Fonte: elaborado pelo autor.

Na coluna CLASSIFICAÇÃO do Quadro 3.18, indique, portanto, o grupo


ou subgrupo das contas listadas, a fim de que os lançamentos contábeis da
empresa sejam executados de forma correta

140
Resolução da situação-problema
Para solucionar a situação-problema proposta, você deve conhecer a
estrutura correta da Demonstração do Resultado do Exercício, tal como
apresentada na seção e de acordo com a norma contábil CPC 26 (R1).
Com base nessa estrutura, a classificação das contas ficaria desta forma:
Quadro 3.19 | Classificação das contas contábeis
DESCRIÇÃO CLASSIFICAÇÃO
Taxa de manutenção da conta corrente Despesas financeiras
Materiais de limpeza Despesas gerais e administrativas
Custo dos serviços prestados Custo das vendas
Aluguéis Despesas gerais e administrativas
Comissões sobre vendas Despesas com vendas
ISSQN Deduções da receita bruta
Propaganda e campanha Despesas com vendas

Fonte: elaborado pelo autor.

Faça valer a pena

1. No subgrupo despesas financeiras, na Demonstração do Resultado do


Exercício (DRE), também são classificadas as receitas financeiras. O CPC 26
(R1) determina que a apresentação dessas contas seja feita dessa forma.
Com base nessa afirmação, assinale a alternativa que traz uma informação
correta sobre a classificação das contas na DRE.
a. O total do subgrupo despesas financeiras equivale à soma das despesas
e receitas nele classificadas, dentro do qual as despesas e receitas têm
característica devedora.
b. O total do subgrupo despesas financeiras equivale à soma das despesas
e receitas nele classificadas, dentro do qual as despesas são devedoras
e as receitas são credoras.
c. O total do subgrupo despesas financeiras equivale à subtração das
despesas e receitas nele classificadas, dentro do qual as despesas são
credoras e as receitas são devedoras.
d. O total do subgrupo despesas financeiras equivale à soma das despesas
e receitas nele classificadas, dentro do qual as despesas e receitas têm
característica credora.

141
e. O total do subgrupo despesas financeiras equivale à soma das despesas
e receitas nele classificadas, dentro do qual as despesas são credoras e
as receitas são devedoras

2. Em termos conceituais, podemos dizer que os custos das vendas repre-


sentam o valor equivalente aos gastos necessários para a aquisição das
mercadorias, incluindo fretes e demais custos incorridos para que ela esteja
disponível para a venda.
Sobre esse conceito, são feitas algumas proposições:
I. No caso das indústrias, o custo das vendas é representado pelo CPV,
ou seja, custo dos produtos vendidos.
II. O custo das mercadorias vendidas (CMV) é lançado diretamente em
conta de resultado no momento da aquisição das mercadorias, não
transitando, portanto, pela conta de estoques.
III. Insumos consumidos são exemplos de custos dos serviços
prestados (CSP).
Com base no exposto, pode-se afirmar que:
a. Apenas a proposição I está correta.
b. Apenas a proposição II está correta.
c. Apenas a proposição III está correta.
d. Apenas as proposições I e III estão corretas.
e. Apenas as proposições I e II estão corretas.

3. A classificação dos custos de vendas permite que a informação sobre o


resultado apurado pela organização seja detalhada em níveis diferentes. Essa
informação permite saber quais são os custos e também quais são as despesas
que estão impactando, mais ou menos, no resultado alcançado.
Sobre essa afirmação são feitas as seguintes asserções:
I. Após a Receita Operacional Líquida, é apresentado o custo das vendas.
PORQUE
II. A estrutura da DRE evidenciará, na sequência, o resultado opera-
cional líquido.

142
Analisando as asserções apresentadas, assinale a alternativa correta.
a. As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justifica-
tiva da I.
b. As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma
justificativa da I.
c. A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa.
d. A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira.
e. As asserções I e II são proposições falsas.

143
Seção 3

Operações com ativos e passivos não circulantes

Diálogo aberto
Caro aluno, nesta seção você terá contato com os conteúdos relacionados
ao Ativo e Passivo Não Circulante, ou seja, com os grupos de contas que
contemplam as origens e aplicações de recursos de longo prazo. São grupos e
contas muito importantes no contexto patrimonial.
Você compreenderá o conceito, a classificação e as formas de registros
envolvendo o realizável e o exigível de longo prazo, os investimentos, as
imobilizações e o Ativo Intangível.
Considere que você foi recém-contratado pela empresa SJ, que atua na
industrialização, comércio e prestação de serviços de semijoias, portanto,
controlar o patrimônio e o resultado da empresa é uma de suas funções. A
SJ está em operação, gerando fatos contábeis que precisam ser registrados
pela contabilidade.
Os fatos a serem registrados neste momento são apresentados no
Quadro 3.20.
Quadro 3.20 | Fatos contábeis envolvendo Ativos e Passivos Não Circulantes
Nº DATA HISTÓRICO VALOR
Aquisição a prazo via financia-
mento em 36 meses, de um veí-
12 12/03/x1 36.000,00
culo marca W, modelo M, ano xx,
cor B, chassis A88B12X6UK62V1
Empréstimo para a empresa
Industrial H LTDA, via TED,
13 13/03/x1 conforme contrato 654, assinado 4.800,00
nesta data, com prazo de paga-
mento em 24 vezes.
Aquisição de um terreno para in-
vestimento, sob matrícula 66.555,
parcelado em 10 vezes, conforme
14 14/03/x1 80.000,00
escritura pública registrada no
2º Ofício da Comarca de L, sob
número 5557889 em 14/03/x1.

Fonte: elaborado pelo autor.

A partir dos fatos descritos no Quadro 3.20, você deve realizar os lança-
mentos contábeis no livro diário e lançá-los também no livro razão.

144
Não se esqueça de considerar os prazos das operações de aquisição de
imobilizado e de empréstimos, afinal eles implicarão em lançamentos nos
grupos Circulantes e Não Circulantes do ativo e do passivo.
Depois de efetuados os lançamentos no diário e razão, você deverá fazer o
levantamento da demonstração do resultado do exercício e do balanço patri-
monial, com base no balancete de verificação apresentado no Quadro 3.21.
Quadro 3.21 | Balancete de verificação em 14/03/x1
BALANCETE DE VERIFICAÇÃO EM 13/03/x1
SALDO ATUAL
CONTAS
DÉBITO CRÉDITO
Caixa 9.600,00 -
Bancos conta movimento 54.530,00 -
Duplicatas a receber 115.316,50 -
IPI a recuperar 2.000,00 -
ICMS a recuperar 4.252,73 -
PIS a recuperar 584,75 -
COFINS a recuperar 2.693,39 -
Empréstimos concedidos 4.200,00 -
Estoque de matéria-prima - Z 23.625,00 -
Estoque de produtos em elaboração - L 74.000,00 -
Estoque de produtos acabados - L 48.000,00 -
Estoque de mercadorias - K 17.135,00 -
Estoque de insumos - T 18.000,00 -
Estoque de materiais de limpeza 2.400,00 -
Estoque de materiais de expediente 850,00 -
Empréstimos concedidos - LP 600,00 -
Terrenos 80.000,00
Máquinas e equipamentos 120.000,00 -
Móveis e utensílios 62.000,00 -
Veículos 36.000,00
(-) Depreciação acumulada - 18.200,00
Fornecedores - 140.960,00
Contas a pagar - 2.840,00
Comissões a pagar - 1.290,00
IPI a recolher - 7.036,36
ICMS a recolher - 13.037,25
PIS a recolher - 1.792,62
COFINS a recolher - 8.256,93
ISSQN a recolher - 2.400,00
Empréstimos e financiamentos - 217.800,00
Empréstimos e financiamentos - LP - 15.000,00
Capital social - 224.000,00

145
Venda de produtos - 70.363,64
Venda de mercadorias - 39.916,50
Prestação de serviços - 48.000,00
ICMS sobre vendas 13.037,25 -
PIS sobre vendas 1.792,62 -
COFINS sobre vendas 8.256,93 -
ISSQN sobre vendas 2.400,00 -
Custo dos produtos vendidos 48.000,00 -
Custo das mercadorias vendidas 20.835,29 -
Custo dos serviços prestados 21.600,00 -
Comissões sobre vendas 1.290,00 -
Despesas operacionais 15.233,84 -
Materiais de expediente 850,00 -
Telefones e internet 1.140,00 -
Tarifas bancárias 670,00 -
TOTAIS 810.893,31 810.893,30

Fonte: elaborado pelo autor.

Os conteúdos e os exemplos para a solução da situação-problema estão


apresentados nesta seção, portanto, estudá-los é fundamental.
Bom trabalho!

Não pode faltar

Caro aluno, esta seção trata de um grupo de contas muito importante do


balanço patrimonial.
Você certamente já teve contato com notícias e propagandas envolvendo
vários dos fatos cujas contas de registro integram o Ativo Não Circulante ou
o passivo não circulante.
Esses grupos envolvem, entre outros, fatos relacionados a investimentos e
financiamentos, além de depreciações, amortizações e exaustões.
É nesse sentido que você conhecerá as contas, bem como alguns dos
fatos mais importantes desses grupos, com o objetivo de compreender sua
forma de registro e seus impactos sobre a situação econômica e financeira
das entidades.

146
Direitos e obrigações de longo prazo
No Ativo Não Circulante está o grupo realizável a longo prazo, ou seja,
os direitos que a entidade possui junto a terceiros cujo prazo de realização é
superior ao final do exercício seguinte.
Para Padoveze (2010), a parcela de direitos que vencem até o final do
exercício seguinte é classificada no Ativo Circulante. Desta forma, as parcelas
restantes devem ser lançadas como realizável a longo prazo, grupo integrante
do Ativo Não Circulante.

Assimile
A classificação do balanço patrimonial visa demonstrar as contas do
ativo em ordem de liquidez, ou seja, primeiramente são apresentadas
as contas cujo prazo de realização se dá de forma mais rápida. Por isso
o Ativo Circulante antecede o Ativo Não Circulante nesta demonstração.

No mesmo sentido que os direitos, as obrigações também são classificadas


em circulantes e não circulantes no lado do passivo no balanço patrimonial.
O critério de classificação é o mesmo, ou seja, as obrigações, conforme
Greco e Arend (2016), são classificadas no passivo circulante quando seus
vencimentos estão programados para períodos antecedentes ao final do
exercício seguinte.
As parcelas, cujo prazo superar o final do exercício seguinte, são classifi-
cadas no passivo exigível a longo prazo, que pertence ao passivo não circulante.
Também são classificadas no longo prazo, seja no ativo ou no passivo,
operações sem datas definidas para a realização ou exigibilidade.
Viceconti (2017) destaca que operações com coligadas, controladas,
diretores ou acionistas são classificadas no longo prazo. Isso se dá pela
natureza destas operações, ou seja, são empréstimos concedidos ou adqui-
ridos sem prazo para liquidação.

Reflita
A divisão dos direitos e obrigações em curto e longo prazo contribui para
uma melhor compreensão sobre a situação financeira das entidades?

Para melhor entendimento sobre a divisão de uma operação em curto e


longo prazo, considere que uma determinada empresa adquiriu um equipa-
mento no valor de R$ 24.000,00 na data de 31/12/x1, parcelado em 24 meses

147
de R$ 1.000,00. Como ficaria o registro desse fato pela contabilidade consi-
derando o prazo da operação?
O lançamento deste fato ficaria da seguinte forma:
DÉBITO: Máquinas e equipamentos (ANC-I) – R$ 24.000,00.
CRÉDITO: Empréstimos e financiamentos (PC) – R$ 12.000,00 (12 parcelas).
CRÉDITO: Empréstimos e financiamentos (PNC-ELP) – R$ 12.000,00
(12 parcelas).

Onde:
ANC-I corresponde a Ativo Não Circulante-Imobilizações.
PC corresponde ao Passivo Circulante.
PNC-ELP corresponde a Passivo Não Circulante-Exigível a Longo Prazo.

Como a aquisição foi realizada em 31/12/x1, são exigíveis as próximas 12


parcelas até o final do exercício seguinte (31/12/x2), enquanto as parcelas que
superam este prazo são as restantes, ou seja, do total de 24 parcelas, deduzidas
as 12 parcelas consideradas de curto prazo, sobram outras 12 parcelas que
devem ser classificadas no longo prazo.
No balanço patrimonial a classificação destss contas seria:
BALANÇO PATRIMONIAL LEVANTADO EM 31/12/X1
ATIVO
NÃO CIRCULANTE
IMOBILIZAÇÕES
Máquinas e equipamentos R$ 24.000,00
TOTAL DO ATIVO ............................................................ R$ 24.000,00

PASSIVO
CIRCULANTE
Empréstimos e financiamentos R$ 12.000,00
NÃO CIRCULANTE
Empréstimos e financiamentos R$ 12.000,00

148
TOTAL DO PASSIVO ........................................................ R$ 24.000,00

Operações com investimentos


São classificadas em investimentos, conforme Greco e Arend (2016), os
investimentos permanentes em outras sociedades.
Padoveze (2010) esclarece que são considerados permanentes os investi-
mentos com interesse de obtenção de renda de forma permanente.
Para se caracterizar como permanente, a companhia faz a opção pela
classificação como investimentos do Ativo Não Circulante no ato da aquisição
da participação.

Assimile
Além da obtenção de renda de forma permanente, seja pela valori-
zação da participação, seja pelo recebimento de dividendos, o
interesse no controle da empresa investida também dá ao investi-
mento o caráter permanente.

Outros investimentos, além das participações societárias, devem ser


classificados no Ativo Não Circulante – Investimentos, bastando que haja
a intenção de mantê-los como forma de obtenção de renda ou valorização.
Esse é o caso, por exemplo, dos seguintes itens:
• Obras de arte.
• Pedras preciosas (ouro, diamante).
• Propriedades sem destinação ou especificamente para investimento.
Viceconti (2017) apresenta a estrutura do balanço patrimonial, dentre a
qual está o subgrupo investimentos que pertence ao Ativo Não Circulante.
Considerando as contas apresentadas no parágrafo anterior, o balanço
ficaria como segue:
BALANÇO PATRIMONIAL LEVANTADO EM ___/___/___.
ATIVO
NÃO CIRCULANTE
INVESTIMENTOS
Participações em outras sociedades.

149
Propriedades para renda
Obras de arte.
Pedras preciosas (ouro, diamante).
As propriedades especificamente adquiridas para a obtenção de renda são
classificadas em investimento em contas separadas daquelas adquiridas sem
destinação imediata.

Exemplificando
Considere que uma empresa adquiriu um terreno no centro de uma
grande cidade, longe de onde ela está instalada, porém com a finalidade
de transferir futuramente (sem prazo definido) parte de sua operação
para este local.

Por se tratar de uma propriedade que não está sendo adquirida para uso
imediato, ela será classificada como investimento, tendo em vista que até
a sua efetiva utilização este bem contará com valorização imobiliária.

Operações com imobilizado


Conforme Viceconti (2017), o imobilizado congrega os bens tangí-
veis (corpóreos) que são destinados ao uso nas operações da entidade.
Representam bens de capital necessários para que a organização execute a
sua atividade, seja na área produtiva, seja na área administrativa.
O registro da aquisição de um imobilizado envolve uma conta do Ativo
Não Circulante – Imobilizações, como edificações, máquinas e equipa-
mentos, veículos, por exemplo, em contrapartida a uma conta de disponibi-
lidade (se a aquisição for à vista) ou uma conta de obrigação (se a aquisição
for a prazo).
As Imobilizações estão sujeitas à depreciação e exaustão.
Padoveze (2010) explica que depreciação corresponde à perda de valor de
um bem por ocasião do uso, dos efeitos naturais ou da obsolescência.
A depreciação envolve uma conta de resultado e uma conta patrimonial.
A conta de resultado é uma despesa que reduzirá o lucro em termos econô-
micos, mas não financeiramente.
Portanto, o registro da exaustão envolve uma conta de resultado (Despesa
com Depreciação) contra uma conta patrimonial (redutora do ativo,
Depreciação Acumulada).

150
Greco e Arend (2016) consideram que a depreciação corresponde a
uma espécie de armazenamento de valores relativos à redução do valor do
bem imobilizado.

Reflita
Você concorda que se entidade depositar em uma conta de investi-
mento qualquer o valor da depreciação todos os meses, ao final da vida
útil do bem ela poderia adquirir um novo com os recursos aplicados?

Esta concepção de reserva de valor se fundamenta no fato de que os


valores reduzidos no resultado relativo à depreciação não impactam o caixa
da entidade. Ele tem efeito apenas econômico, portanto, significa que a
despesa reduziu o lucro, mas não o caixa.
O método mais utilizado de depreciação é o método linear, ou seja,
os valores de depreciação são calculados a partir da vida útil do bem e
lançados mensalmente.
Para a melhor compreensão do método linear, considere que uma deter-
minada empresa possui um veículo no valor R$ 50.000,00, adquirido em
01/07/x1. A vida útil deste veículo é de 5 anos, portanto ele será depreciado
em 20% ao ano (100% / 5).
Como ao final de 5 anos o veículo ainda possui valor de mercado, esse
valor é estimado e recebe o nome de valor residual.
No caso do veículo em questão, considera-se que ele poderá ser comer-
cializado pelo valor de R$ 30.000,00 ao final de 5 anos, ou seja, a parte depre-
ciável deste veículo, denominada de base de cálculo da depreciação, será de
R$ 20.000,00 (R$ 50.000,00 – R$ 30.000,00).
O cálculo da depreciação será feito aplicando o percentual de depreciação
(20%) sobre a base de cálculo da depreciação (R$ 20.000,00).
Assim sendo, o valor da depreciação anual será de R$ 4.000,00. Para
encontrar o quanto será depreciado por mês, basta dividir esse valor anual
por 12 meses.
O lançamento da depreciação ficaria da seguinte forma:
DÉBITO: Despesas com Depreciação (CR-D)
CRÉDITO: Depreciação Acumulada (ANC-I) R$ 333,33

151
Onde:
CR-D significa Conta de Resultado, Despesa.
ANC-I significa conta do Ativo Não Circulante, Imobilizações.

Existem outros métodos de depreciação, bem como implicações fiscais


a partir da utilização destes métodos, e você pode pesquisar sobre esses
assuntos no livro Contabilidade: teoria e prática básicas, de Greco e Arend,
nas páginas 361 e 388. O livro está disponível na Biblioteca Digital.
Quando o imobilizado corresponder a recursos naturais, minerais e
florestais, em vez da depreciação ocorrerá a exaustão. O princípio é o mesmo,
ou seja, a exaustão corresponde ao reconhecimento da perda de valor do
ativo pelo uso, efeitos naturais ou obsolescência.
No caso dos ativos biológicos, a redução do valor geralmente se dá pela
capacidade limitada de exploração do recurso, por exemplo, de uma área
de reflorestamento.
A forma de cálculo da exaustão se dá pela quantidade relativa explorada
em relação à capacidade total de produção dos recursos disponíveis.
Dessa forma, se uma determinada área cujo valor é de R$ 500.000,00
oferece uma capacidade de exploração total de 300.000 unidades de um
determinado recurso natural, e durante o período houve a exploração de
30.000 unidades, a exaustão corresponderá a 10% (30.000 / 300.000 = 0,10).
Assim, sobre o valor da área será aplicado o percentual de 10% de exaustão.
O registro da exaustão envolve uma conta de resultado (despesa com Exaustão)
contra uma conta patrimonial (redutora do ativo, Exaustão Acumulada).

O lançamento da exaustão ficaria da seguinte forma:


DÉBITO: Despesas com Exaustão (CR-D)
CRÉDITO: Exaustão Acumulada (ANC-I) R$ 50.000,00.
Onde:
CR-D significa Conta de Resultado, Despesa.
ANC-I significa conta do Ativo Não Circulante, Imobilizações.

152
Operações com Ativos Intangíveis
Para Greco e Arend (2016), os Ativos Intangíveis consistem em bens e
direitos incorpóreos, geralmente amparados por contratos, destinados à
manutenção da atividade organizacional.
São exemplos de ativos intangíveis as marcas e patentes, direitos de explo-
ração de marcas, softwares e fundo de comércio adquirido, entre outros.
Os ativos intangíveis estão sujeitos à amortização que, segundo Padoveze
(2010), consiste no reconhecimento da perda de valor do direito contratual
por decorrência de prazo.
O registro da amortização envolve uma conta de resultado (Despesa
com Amortização) contra uma conta patrimonial (redutora do ativo,
Amortização Acumulada).
O cálculo da amortização leva em conta o tempo de vigência do direito
de uso; no caso de uma marca, por exemplo, deve-se levar em conside-
ração o tempo pelo qual a entidade tem o direito de utilização da marca em
seus produtos.
Considere, por exemplo, que uma determinada empresa adquiriu o
direito de utilização de uma marca pelo prazo de 5 anos pelo valor de R$
120.000,00. Em cada ano, portanto, o valor pago pelo uso da marca será
amortizado em 20%.
O lançamento da depreciação ficaria da seguinte forma:
DÉBITO: Despesas com Amortização (CR-D)
CRÉDITO: Amortização Acumulada (ANC-In) R$ 24.000,00.
Onde:
CR-D significa Conta de Resultado, Despesa.
ANC-In significa conta do Ativo Não Circulante, Intangível.

Nesta seção você teve contato com os subgrupos do grupo Ativo Não
Circulante. Estes subgrupos concentram importantes contas representativas
do patrimônio da entidade.
No seu cotidiano de trabalho na área contábil você terá contato com
muitos fatos que envolvem essas contas, principalmente por representarem
bens e direitos de realização de longo prazo, os bens de uso nas operações
organizacionais, além dos direitos intangíveis.

153
É importante que você aprofunde seus estudos sobre esse grupo,
reconheça-os em termos conceituais e, acima de tudo, seja capaz de registrá-
-los adequadamente.

Sem medo de errar

Você foi convidado a efetuar os registros dos fatos contábeis da empresa


SJ. Para isso, foi apresentada a você uma lista de fatos contábeis, os quais
deveriam ser lançados no livro diário, no livro razão e posteriormente levan-
tadas as demonstrações de resultado e balanço patrimonial.
A resolução da situação problema proposta passa, portanto, pelo registro
contábil dos fatos apresentados, que pode ser visto no link:

Para consultar o registro contábio dos fatos apresentados, acesse o QR


Code ou o link: https://go.aws/30tVOxy .

Depois dos registros efetuados no livro diário e no livro razão, o próximo


passo para a solução da situação problema é a elaboração da demonstração
do resultado do exercício e do balanço patrimonial, com base no balancete
de verificação apresentado na situação-problema.
A demonstração do resultado levantada a partir dos dados do balan-
cete de verificação levantado em 14/03/x1 ficará conforme apresentado no
Quadro 3.22.
Quadro 3.22 | Demonstração do Resultado em 14/03/x1
DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO DO EXERCÍCIO EM 13/03/x1
FATURAMENTO BRUTO 165.316,50
IPI faturado 7.036,36
RECEITA OPERACIONAL BRUTA 158.280,14
Vendas de produtos 70.363,64
Vendas de mercadorias 39.916,50
Prestação de serviços 48.000,00
(-) DEDUÇÕES DA RECEITA OPERACIONAL BRUTA 25.486,80
Impostos 25.486,80
ICMS sobre vendas 13.037,25
PIS sobre vendas 1.792,62
COFINS sobre vendas 8.256,93
ISSQN sobre vendas 2.400,00
RECEITA OPERACIONAL LÍQUIDA 132.793,33

154
(-) CUSTO DAS VENDAS 90.435,29
Custo dos produtos vendidos 48.000,00
Custo das mercadorias vendidas 20.835,29
Custo dos serviços prestados 21.600,00
LUCRO BRUTO 42.358,04
(-) DESPESAS OPERACIONAIS 19.183,84
Despesas com vendas 1.290,00
Comissões sobre vendas 1.290,00
Despesas gerais e administrativas 17.223,84
Despesas operacionais 15.233,84
Telefones e internet 850,00
Materiais de expediente 1.140,00
Despesas financeiras 670,00
Tarifas bancárias 670,00
LUCRO LÍQUIDO DO EXERCÍCIO 23.174,20

Fonte: elaborado pelo autor.

O balanço patrimonial levantado a partir dos dados apresentados no


balancete de verificação em 14/03/x1 ficará conforme apresentado no
Quadro 3.23.
Quadro 3.23 | Balanço Patrimonial em 14/03/x1
SALDO ATUAL
CONTAS
DÉBITO CRÉDITO
Caixa 9.600,00 -
Bancos conta movimento 54.530,00 -
Duplicatas a receber 115.316,50 -
IPI a recuperar 2.000,00 -
ICMS a recuperar 4.252,73 -
PIS a recuperar 584,75 -
COFINS a recuperar 2.693,39 -
Empréstimos concedidos 4.200,00 -
Estoque de matéria-prima - Z 23.625,00 -
Estoque de produtos em elaboração - L 74.000,00 -
Estoque de produtos acabados - L 48.000,00 -
Estoque de mercadorias - K 17.135,00 -
Estoque de insumos - T 18.000,00 -
Estoque de materiais de limpeza 2.400,00 -
Estoque de materiais de expediente 850,00 -
Empréstimos concedidos - LP 600,00 -
Terrenos 80.000,00
Máquinas e equipamentos 120.000,00 -
Móveis e utensílios 62.000,00 -

155
Veículos 36.000,00  
(-) Depreciação acumulada - 18.200,00
Fornecedores - 140.960,00
Contas a pagar - 2.840,00
Comissões a pagar - 1.290,00
IPI a recolher - 7.036,36
ICMS a recolher - 13.037,25
PIS a recolher - 1.792,62
COFINS a recolher - 8.256,93
ISSQN a recolher - 2.400,00
Empréstimos e financiamentos - 217.800,00
Empréstimos e financiamentos - LP - 15.000,00
Capital social - 224.000,00
Venda de produtos - 70.363,64
Venda de mercadorias - 39.916,50
Prestação de serviços - 48.000,00
ICMS sobre vendas 13.037,25 -
PIS sobre vendas 1.792,62 -
COFINS sobre vendas 8.256,93 -
ISSQN sobre vendas 2.400,00 -
Custo dos produtos vendidos 48.000,00 -
Custo das mercadorias vendidas 20.835,29 -
Custo dos serviços prestados 21.600,00 -
Comissões sobre vendas 1.290,00 -
Despesas operacionais 15.233,84 -
Materiais de expediente 850,00 -
Telefones e internet 1.140,00 -
Tarifas bancárias 670,00 -
TOTAIS 810.893,31 810.893,30

Fonte: elaborado pelo autor.

As movimentações observadas no patrimônio da entidade evidenciam


o impacto das operações envolvendo contas do Ativo Não Circulante e
do Passivo Não Circulante. Ambos os conteúdos trabalhados nesta seção,
portanto, são uma oportunidade para que você visualize as alterações
ocorridas nestes grupos quando da ocorrência de fatos envolvendo opera-
ções de longo prazo.

156
Avançando na prática

Como tratar o valor residual de um bem no caso


da depreciação linear?

Caro aluno, é importante que se compreenda a função da depreciação


sobre bens do Ativo Imobilizações, ou seja, a de reconhecer a perda de valor
deste bem em função do uso, dos efeitos naturais e da obsolescência.
No sentido de melhor compreender o reconhecimento e registro da depre-
ciação, considere que você foi solicitado por uma empresa para apresentar
uma planilha de depreciação do bem apresentado no Quadro 3.24.
Quadro 3.24 | Dados do bem
Valor de aquisição do bem R$ 20.000,00
Vida útil do bem 10 anos
Valor residual do bem R$ 5.000,00
Taxa de depreciação 10% aa.

Fonte: elaborado pelo autor.

Baseados nos dados do bem a ser depreciado, você deve elaborar uma
planilha demonstrando o comportamento do saldo contábil durante a vida
útil do bem, ou seja, os 10 anos.
O conteúdo para a solução do problema está apresentado nesta seção,
portanto, bom trabalho.

Resolução da situação-problema
A partir dos dados apresentados, o bem passa a ser depreciado em 10% ao
ano, sendo que a base de cálculo da depreciação será apurada a partir do valor de
aquisição 20.000,00 deduzido do valor residual de 5.000,00, ou seja, 15.000,00.
Calculando os 10% sobre esta base de cálculo chega-se ao valor da depre-
ciação de 1.500,00 ao ano. A distribuição destes valores está apresentada no
Quadro 3.25.

157
Quadro 3.25 | Demonstração da evolução do valor depreciado
ANO DESCRIÇÃO VALOR SALDO
  Valor de aquisição 20.000,00 20.000,00
1 Depreciação (20.000,00 - 5.000,00) × 10% 1.500,00 18.500,00
2 Depreciação (20.000,00 - 5.000,00) × 10% 1.500,00 17.000,00
3 Depreciação (20.000,00 - 5.000,00) × 10% 1.500,00 15.500,00
4 Depreciação (20.000,00 - 5.000,00) × 10% 1.500,00 14.000,00
5 Depreciação (20.000,00 - 5.000,00) × 10% 1.500,00 12.500,00
6 Depreciação (20.000,00 - 5.000,00) × 10% 1.500,00 11.000,00
7 Depreciação (20.000,00 - 5.000,00) × 10% 1.500,00 9.500,00
8 Depreciação (20.000,00 - 5.000,00) × 10% 1.500,00 8.000,00
9 Depreciação (20.000,00 - 5.000,00) × 10% 1.500,00 6.500,00
10 Depreciação (20.000,00 - 5.000,00) × 10% 1.500,00 5.000,00

Fonte: elaborado pelo autor.

Faça valer a pena

1. A classificação das contas do Ativo e Passivo Não Circulante segue


um critério objetivo. O ativo e o passivo estão divididos de acordo com o
interesse do usuário da informação contábil, devendo, estas informações,
serem compreensíveis para todos os usuários.
Nesse sentido, devem ser classificados no grupo Realizável a Longo Prazo e
no Exigível a Longo Prazo os direitos e obrigações:
Assinale a alternativa correta.
a. Com vencimento em até 12 meses da data da contratação.
b. Com vencimento após o final do exercício seguinte.
c. Com vencimento até o final do exercício seguinte.
d. Com vencimento após 12 meses da data da contratação.
e. Com vencimento após o final do exercício corrente.

2. Os investimentos representam aplicações de recursos em bens e direitos


com o objetivo de geração de ganho para a empresa. Estes são classificados
no Ativo Não Circulante no subgrupo investimentos.
Além de bens e direitos destinados à obtenção de ganhos, outros itens
podem ser classificados no grupo investimentos, devido à sua natureza e
intenção da entidade.

158
Sobre esta questão são apresentados os itens a seguir:
I. Veículos de uso.
II. Contas a pagar de longo prazo.
III. Terrenos sem destinação ou uso.
Assinale a alternativa correta.
a. I, apenas.
b. II, apenas.
c. III, apenas.
d. I e II, apenas.
e. I e III, apenas.

3. Para a correta classificação das contas é necessário se avaliar o fato


contábil ocorrido.
Por exemplo: uma determinada empresa efetuou um financiamento em 31/12/
x1 para a aquisição de veículos cujo valor total foi de R$ 36.000,00. O prazo do
financiamento é de 36 meses, sendo a primeira parcela vencível em 30/01/x2.
Analisando o fato apresentado, qual o valor que estará classificado no Passivo
circulante no balanço encerrado em 31/12x1?
Sobre a resposta a esta pergunta, são feitas as seguintes asserções:
I. Será classificado no Passivo de curto prazo o total de R$ 12.000,00.
PORQUE
II. Devem ser classificados no curto prazo os direitos e obrigações que
vencem até o final do exercício seguinte, portanto, 24 meses.
Analisando as asserções apresentadas, assinale a alternativa correta.
a. As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justifica-
tiva da I.
b. As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma
justificativa da I.
c. A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa.
d. A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira.
e. As asserções I e II são proposições falsas.

159
Referências

ATKINSON, A. A; KAPLAN, R. S.; MATSUMURA, E. M.; YOUNG, S. M. Contabilidade


gerencial: informação para tomada de decisão e execução da estratégia. 4. ed. Tradução Ailton
Bonfim Brandão. São Paulo: Atlas, 2015. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.
br/books/9788597009316. Acesso em: 14 out. 2019.

COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS - CPC 04(R1). Ativos Intangíveis. 2 dez.


2010. Disponível em: http://static.cpc.aatb.com.br/Documentos/187_CPC_04_R1_rev%2013.
pdf. Acesso em: 21 out. 2019.

CPC. Comitê de Pronunciamentos Contábeis. CPC 26 (R1). Apresentação das Demonstrações


Contábeis Correlação às Normas Internacionais de Contabilidade – IAS 1 (IASB – BV 2011).
Aprovação registrada na Ata da 66ª Reunião Ordinária do Comitê de Pronunciamentos
Contábeis, realizada no dia 2 de dezembro de 2011. Disponível em: http://static.cpc.aatb.com.
br/Documentos/312_CPC_26_R1_rev%2013.pdf. Acesso em 13 out. 2019.

GRECO, A. L.; AREND, L. R. Contabilidade: teoria e prática básicas. 5. ed. São Paulo:
Saraiva, 2016.

PADOVEZE, C. L. Contabilidade gerencial: um enfoque em sistema de informação contábil.


7. ed. São Paulo: Atlas, 2010.

VICECONTI, P. E. V. Contabilidade básica. 17. ed. São Paulo: Saraiva, 2017.


Unidade 4
Regis Garcia

Sistemas de informações contábeis e gerenciais

Convite ao estudo
Caro aluno, quando você vê uma demonstração financeira de uma organi-
zação saiba que ela é o produto de muito trabalho. A produção da demons-
tração financeira é fruto de um conjunto de processos e tarefas, alguns mais
complexos, outros menos, que garantem a solidez e a compreensibilidade das
informações evidenciadas pela demonstração.
Dentre os elementos que formam este conjunto estão os sistemas infor-
matizados e as normas que visam à qualidade da informação contábil.
Nesta unidade, você terá contato com conteúdos que permitirão sua
compreensão sobre os elementos qualificadores da informação contábil,
dos sistemas contábeis e dos sistemas gerenciais, que operando conjun-
tamente geram informação útil para o processo de decisão dos usuários
da contabilidade.
A partir do estudo desta unidade, você conhecerá a estrutura e as funções
dos sistemas informatizados voltados para registro e processamento de infor-
mações contábeis, fiscais e gerenciais, além de compreender as orientações
advindas do Comitê de Pronunciamentos Contábeis, que traz as caracterís-
ticas qualitativas fundamentais e de melhoria da informação contábil. Essa
é a base para o julgamento sobre a eficácia da informação evidenciada nas
demonstrações financeiras e nos demais relatórios contábeis.
O estudo destas características aliado ao conhecimento sobre o conceito
e aplicação dos sistemas contábeis e gerenciais lhe proporcionará as compe-
tências necessárias para atuar profissionalmente na área contábil e de
gestão organizacional.
Os conteúdos da unidade estão dispostos em três seções: a primeira
trata das orientações dadas pelo CPC 00 (R1) – Estrutura Conceitual para
Elaboração e Divulgação de Relatório Contábil-Financeiro. Nele são tratadas
as características qualitativas fundamentais e de melhoria da informação
contábil constantes das demonstrações financeiras.
Na segunda são tratados os assuntos relativos aos Sistemas de Informações
Contábeis (SICs), seus conceitos e finalidades no contexto da contabilidade.
Na terceira e última seção, são tratados os aspectos conceituais, objetivos
e interações dos Sistemas de Informações Gerenciais (SIGs).
Esperamos que você faça uma boa leitura e desenvolva um ótimo estudo
destes conteúdos, afinal eles representam a essência do trabalho relacionado
à principal finalidade da contabilidade, ou seja, o fornecimento de informa-
ções úteis de apoio ao processo de decisão.
Seção 1

Qualidade da informação contábil

Diálogo aberto
Caro aluno, nesta seção você terá contato com os aspectos qualificadores
das informações contábeis conforme orientação do CPC 00 (R1) – Estrutura
Conceitual para Elaboração e Divulgação de Relatório Contábil-Financeiro.
Nesse pronunciamento são demonstradas as características qualitativas da
informação contábil e elas serão tratadas sob os aspectos fundamentais e de
melhoria, o conceito e a finalidade da informação contábil. A relação custo-
-benefício também será abordada.
As informações patrimoniais e de resultado das entidades possuem forte
influência no processo de decisão dos stakeholders. Decisões de ordem opera-
cional e estratégica dependem da contabilidade como a área responsável pelo
estudo, registro e controle patrimonial.
Nesse sentido, considere que você faz parte do time que está promovendo
a reestruturação da área de TI voltada para os sistemas informacionais e está
na reunião de levantamento de requisitos para a validação do projeto que
reestruturará o sistema contábil da empresa. Nesta reunião lhe foi solicitada
uma explicação sobre o que são os requisitos qualitativos fundamentais e de
melhorias da informação contábil. Seu desafio é apresentar essas caracterís-
ticas em uma apresentação em slides.
Para tratar da geração de informações patrimoniais, o primeiro passo
para o profissional contábil é o domínio dessas características, conforme
orientação do Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC 00), que trata do
assunto. Os conteúdos para subsidiar o seu trabalho estão disponíveis aqui,
portanto não deixe de estudá-los antes de executar o seu desafio.
Não se esqueça de apontar as bases responsáveis pelas determinações
e orientações legais e normativas que envolvem o tema, afinal normas,
pronunciamentos e regulamentos devem sempre fazer parte do conjunto de
documentos que dão base para o trabalho do profissional contábil.
Para que os profissionais das outras áreas compreendam de forma clara
a sua exposição a partir dos slides produzidos, seja sucinto e objetivo na
escolha do conteúdo do material que você está elaborando, afinal ele é apenas
um instrumento norteador de sua apresentação.
Bom trabalho!

163
Não pode faltar

Conceito e finalidade da informação contábil (IC)


Caro aluno, dentre os aspectos importantes a serem considerados
pela contabilidade estão os usuários das demonstrações financeiras.
Independentemente de suas particularidades em relação às necessidades de
informação, eles são o objetivo final das informações geradas pela contabili-
dade evidenciadas nas demonstrações financeiras.
Se não houvesse a preocupação com a qualidade da informação, a conta-
bilidade teria a credibilidade necessária para fazer frente a tantos interesses
distintos dos stakeholders das companhias? Certamente não, por isso este
tema é tão importante.

Reflita
Você já se imaginou na condição de investidor de uma empresa? Como
seria seu nível de exigência em termos de informações sobre ela?

A finalidade das demonstrações contábeis é fornecer informações para


uso de todos os usuários em seus processos de tomada de decisões. Não cabe
à contabilidade promover alterações que possam afetar a consistência da
informação no que tange as normas da estrutura conceitual básica consoli-
dada no CPC 00 (R1).
Conforme orienta o CPC 00 (R1), o atendimento a estas demandas deve
ocorrer de forma ampla e irrestrita, nunca de forma específica para atender
cada grupo em particular. Nesse sentido, o CPC 00 (R1) diz que “as demons-
trações contábeis são elaboradas e apresentadas para usuários externos em
geral, tendo em vista suas finalidades distintas e necessidades diversas” (CPC,
2011, p. 3). Neste trecho do pronunciamento fica evidente que as demonstra-
ções contábeis possuem como foco os usuários externos em geral.
Na sequência, o pronunciamento complementa a finalidade e os objetivos
das demonstrações dizendo que: “[g]overnos, órgãos reguladores ou autori-
dades tributárias, por exemplo, podem determinar especificamente exigên-
cias para atender a seus próprios interesses” (CPC, 2011, p. 3).
Ocorre que, no mesmo parágrafo, o pronunciamento faz uma ressalva
sobre o fato de que as exigências destes usuários não devem afetar as demons-
trações que são elaboradas segundo a estrutura conceitual tratada no CPC 00
(R1).

164
Esses esclarecimentos são importantes porque a intenção da estrutura
conceitual é ser única para todas as entidades, ou seja, deve haver certo
nível de padronização e homogeneidade estrutural e informacional. Caso
houvesse a possibilidade de os usuários afetarem a forma pela qual são elabo-
radas e divulgadas as informações contábeis, certamente haveria prejuízo a
esta característica.
A estrutura conceitual trata de vários aspectos inerentes à elaboração das
demonstrações contábeis e seu objetivo informacional, portanto, de acordo
com o CPC 00 (R1) é fundamental que a informação contábil possua algumas
características que lhe garantam qualidade.

Assimile
Os CPCs, a exemplo do CPC 00, podem passar por revisões e ajustes
de acordo com a necessidade da prática contábil ou de alterações que
necessitem ser incorporadas. Faz parte do processo de elaboração,
aprovação e publicação do CPC as audiências públicas. É por isso que o
CPC 00 foi revogado em benefício da publicação do CPC 00 (R1).

O objetivo dos relatórios contábeis, segundo o CPC 00 (R1), é fornecer


informações sobre a situação econômica e financeira da entidade. Estas
informações precisam ser úteis aos mais variados usuários da contabilidade
que tenham interesses e necessidades informacionais sobre a entidade.
Os principais usuários da contabilidade são, entre outros:
• Os investidores.
• Credores de modo geral – existentes e potenciais.
• Funcionários.
• Entidades representativas.
• Entidades públicas.

Reflita
A informação contábil serve exclusivamente aos usuários com interesse
direto na organização? Vamos além, os cidadãos, mesmo de forma
indireta, também fazem uso das informações contábeis quando, por
exemplo, avaliam o PIB do país? Quem pode ter acesso a essas informa-
ções?

165
A quantidade de usuários da informação contábil sob a perspectiva de
necessidade de informações para a tomada de decisões é bastante ampla.
Somente considerando os usuários externos é possível se ter uma ideia
desta amplitude:
• Quantos são os clientes?
• Quantos são os fornecedores?
• Quantos são os acionistas?
• Quantos são os parceiros estratégicos?
Os usuários internos, no mesmo sentido, têm interesses individuais nas
informações fornecidas pela contabilidade, como o lucro que interessa aos
funcionários, pois este será a base para a sua participação nos resultados,
por exemplo.
As entidades representativas possuem interesses coletivos e por essa
razão os sindicatos utilizam as informações para subsidiar sua negociação
da data base da categoria, os bancos se interessam em saber se a entidade
tem capacidade de pagamento, os clientes precisam ter a garantia de que a
empresa é sólida e lhe garantirá os produtos no longo prazo, principalmente
quando se trata de matérias-primas, por exemplo.
Os interesses informacionais são variados, todavia as informações forne-
cidas precisam atender de forma geral a todos eles. Embora o uso da infor-
mação dependa das especificidades do usuário, a informação fornecida pela
contabilidade é mesma para todos.

Exemplificando
Quando uma instituição financeira está avaliando uma proposta de
crédito solicitada por uma empresa, certamente as informações
contidas nas demonstrações financeiras lhes serão úteis para tomar a
decisão sobre conceder ou não o crédito. A mesma demonstração, no
entanto – com as mesmas informações – irá subsidiar as decisões de
possíveis investidores.
Nesse caso, a informação contábil está servindo aos interesses de
diferentes usuários, mesmo que sejam disponibilizadas as mesmas infor-
mações. Esta é uma característica da demonstração de interesse geral na
forma como ela é tratada pelo CPC 00 (R1).

166
Características qualitativas fundamentais da informação
contábil
Além de especificar o conceito e o objetivo da informação contábil, o CPC
00 (R1) demonstra três características que a informação contábil deve ter:
relevância, materialidade e fidedignidade. Estas características são funda-
mentais para garantir a eficácia informacional para o usuário.

Assimile
Quando o CPC trata do usuário da informação contábil, mesmo sem a
especificar, ele está considerando os usuários de modo geral, ou seja, os
usuários internos e externos à empresa.

Relevância
Esta característica, segundo o CPC 00 (R1), é avaliada em relação ao nível de
capacidade de influência da informação no processo de decisão dos usuários da
informação. Nesse sentido, a informação deve ser capaz de interferir positivamente
na decisão e escolha das alternativas disponíveis ao usuário.

Exemplificando
Por exemplo, se uma determinada empresa gasta com canetas esferográ-
ficas a quantia de R$ 500,00 por mês, parece que o controle e a infor-
mação sobre o consumo e gasto com esta despesa são relevantes, não
é verdade? Porém, se esta mesma empresa tem um gasto com despesas
administrativas de R$ 5.000.000,00 ao mês, como ficaria o caráter da
relevância do controle e da informação sobre as canetas neste caso?

Materialidade
A característica da materialidade da informação está relacionada à
natureza e relevância dos elementos por ela representados.
A materialidade pode ser avaliada somente a partir do contexto específico da
organização, ou seja, no contexto no qual os relatórios financeiros são elaborados,
pois dessa forma é possível avaliar a materialidade da informação pela empresa
divulgada. Não há um padrão único possível que possa servir como elemento de
quantificação quanto à materialidade da informação. A determinação desta quali-
dade deve sempre estar relacionada às condições e especificidades da entidade.
O CPC00 (R1) afirma que: “[...] não se pode especificar um limite quantitativo
uniforme para materialidade ou predeterminar o que seria julgado material para
uma situação particular” (CPC, 2011, p. 15).

167
Fidedignidade
A característica fundamental da fidedignidade diz respeito à obrigatorie-
dade de que a informação não apenas represente o fenômeno a que se propõe
representar, mas deve fazê-lo forma fidedigna e confiável.
Para que a informação seja fidedigna, ela precisa cumprir três atributos:
ser completa, neutra e livre de erro.
• Informação completa: deve demonstrar toda a informação necessária
para a compreensão do fato, pelo usuário.
• Informação neutra: a informação não pode ser distorcida, apresen-
tada de forma favorável ou desfavorável.
• Informação livre de erro: os fatos retratados não podem apresentar
erros nos seus processos, ou seja, a natureza e as limitações do
processo devem ser divulgadas.

Características qualitativas de melhoria da informação con-


tábil
Além das características qualitativas fundamentais da informação contábil,
o CPC 00 (R1) traz as características desejáveis da informação, ou seja, as
características de melhorias que complementam e aprimoram a informação.
Trata-se de características qualitativas de melhoria, conforme o CPC 00 (R1):
comparabilidade, verificabilidade, tempestividade e compreensibilidade.
Comparabilidade
Sob a perspectiva da comparabilidade, a informação contábil deve
permitir que o usuário faça comparações de informações de entidades
diferentes ou, no mesmo sentido, entre informações da mesma entidade em
períodos diferentes.
Verificabilidade
Esta característica consiste na capacidade da informação de ser confir-
mada. Para que ela possa ser confirmada ou refutada, são aplicadas técnicas
como: observação, contagem e análise técnica ou laboratorial, por exemplo.
Tempestividade
Sob a perspectiva da tempestividade, a informação precisa atender aos
critérios de relevância e fidedignidade, no entanto, ela deve igualmente
estar disponível no tempo suficiente para influenciar/interferir no processo
de decisão.

168
Reflita
Você concorda que a questão da tempestividade da informação pode
interferir na eficácia da decisão? Decisões podem se tornar inócuas
quando tomadas com base em informações que perderam a sua consis-
tência em função do tempo transcorrido? Qual é a sua opinião a esse
respeito?

Compreensibilidade
A informação precisa possibilitar a compreensão do fenômeno que
ela está representando. Esta compreensão precisa se dar mesmo quando a
situação tiver certo nível de complexidade. Cabe à contabilidade encontrar os
meios para torná-la compreensível nestas situações. Isto explica a utilização
de instrumento extras de divulgação além das demonstrações financeiras,
como são os casos das:
• Notas explicativas.
• Relatório de sustentabilidade.
• Relatório da administração.
• Parecer de auditoria.
Segundo o CPC 00 (R1), os qualificadores fundamentais são obrigatórios,
porém os de melhoria são desejáveis.
A diferença entre os qualificadores denominados fundamentais da infor-
mação contábil em relação aos de melhoria está no fato de que os primeiros
são necessários a todas as informações como pré-requisito para que ela seja
considerada útil para os seus usuários, já as características tratadas pelos
qualificadores de melhoria representam aspectos adicionais de qualidade. É
como se elas melhorassem o que já está bom.
Um exemplo da diferença entre estas qualidades é o que acontece com
a questão da comparabilidade das informações contábeis. A comparabili-
dade é uma característica de melhoria, mas ela representa um fator funda-
mental para os usuários analisarem as informações contábeis de uma mesma
empresa em períodos diferentes, ou até mesmo de empresas diferentes.

Exemplificando
Considere que uma organização sediada no Brasil resolva abrir uma
filial em um país europeu. Considere que esta empresa possui capital
nacional e capital europeu em seu patrimônio, ou seja, parte dos inves-
tidores está localizada no Brasil e outra parte está na Europa.

169
Como seria possível fazer a análise das demonstrações consolidadas
desta empresa pelos investidores brasileiros e europeus?
A característica de comparabilidade representa um elemento funda-
mental para solucionar este problema. A estrutura das demonstrações
e as técnicas de representação destas em moedas fortes são exemplos de
ações no sentido de tornar as informações comparáveis.

Restrição de custo da geração e divulgação da informação


contábil
Além das questões de qualidade, outro aspecto importante relacionado
às informações contábeis tem a ver com o custo e o benefício por ela gerado.
Aliás, a questão do custo é tratada pelo Comitê de Pronunciamento
Contábil à medida que faz parte do próprio objetivo dos pronunciamentos,
a melhoria da qualidade e a redução dos custos na geração das informações.
É a partir do trabalho do Comitê de Pronunciamento Técnico, junto das
entidades de interesse da área contábil, que é possível a redução de custos no
processo de geração das informações contábeis.
Outro aspecto está relacionado com o benefício. O trabalho do CPC visa
aumentar a eficiência dos processos de elaboração e publicação das demons-
trações financeiras, melhorando assim a qualidade informacional.

Assimile
A questão do custo versus o benefício é um tanto relativa. Se para deter-
minadas organizações alguns controles não se mostram justificáveis,
para outras, eles podem ser.
É o que ocorre no caso do controle do gasto com água para uma empresa
que a utiliza exclusivamente na manutenção de suas atividades adminis-
trativas, agora no caso de empresas que utilizam a água em processos de
resfriamento de metais durante o processo de usinagem, certamente a
percepção sobre o benefício do controle será bem diferente.

Pode haver um pensamento equivocado de que, quanto maiores forem


as organizações, mais qualidade há na informação, uma vez que elas dispo-
riam de recursos financeiros e tecnológicos suficientes para o levantamento,
a organização e a disponibilização dos dados. Na verdade, a qualidade infor-
macional é medida muito mais pelo alcance e efetividade sobre o processo
decisório do que pela forma como foi gerada.

170
No caso de empresas que gastam valores significantes em controles que não
lhe trazem resultados significativos está havendo apenas a perda de recursos
financeiros? Ou será que outros custos são impactados nesta situação?
Nesta seção, você teve a oportunidade de conhecer os aspectos mais
importantes tratados pelo CPC 00 (R1) no que tange a qualidade da infor-
mação contábil, conheceu o conceito e a finalidade da informação, mas,
sobretudo, teve contato com as características qualitativas fundamentais e
de melhoria que tornam a informação mais eficaz para subsidiar o processo
decisório. No mesmo sentido, a relação custo-benefício é um fator determi-
nante no processo de se decidir sobre a produção ou não de determinada
informação.
Todos estes aspectos são fundamentais para que seu trabalho na área
contábil seja feito com o foco adequado, ou seja, com o foco na qualidade da
informação sobre a situação econômica e financeira da entidade que apoiarão
o processo de decisão dos seus usuários.

Sem medo de errar

Na situação problema apresentada no início desta seção, você foi


desafiado a elaborar alguns slides que serão utilizados para a apresentação
das características qualitativas fundamentais da informação contábil tratadas
no CPC 00 (R1).
Para solucionar a situação-problema, você deve recorrer aos conteúdos
tratados nesta seção e sintetizá-los na forma de tópicos que lhe ajudem
durante a apresentação na reunião do time responsável pela reestruturação
da área de TI da empresa.
Os slides propostos deverão conter os seguintes conteúdos:
Características fundamentais e de melhoria da informação contábil
Como conceito, são as características que a informação contábil deve ter
para ser considerada de qualidade e hábil para atender aos interesses dos
usuários.
Quais são as características fundamentais?
Relevância: nível de intervenção na decisão.
Materialidade: natureza e relevância do objeto representado
pela informação.

171
Fidedignidade: representação fiel e confiável do objeto (precisa ser
completa, neutra e livre de erro).
Para que o processo da aplicação das características qualitativas funda-
mentais seja eficiente e efetivo é necessário seguir os seguintes passos:
1. Identificar o fenômeno econômico que tenha o potencial de ser útil
para os usuários da informação contábil-financeira reportada pela
entidade.
2. Identificar o tipo de informação sobre o fenômeno que seria mais
relevante se estivesse disponível e que poderia ser representado com
fidedignidade.
3. Determinar se a informação está disponível e pode ser representada
com fidedignidade.
Quais são as características de melhoria?
Comparabilidade: escolhas entre alternativas e comparabilidade das
informações similares.
Verificabilidade: auxilia os usuários na segurança da informação, ou seja,
informação fidedigna (por meio de verificações diretas ou indiretas).
Tempestividade: informação disponível no devido tempo (atual).
Compreensibilidade: informação clara e compreensível.
A aplicação das características qualitativas de melhoria não segue uma
ordem preestabelecida. Algumas vezes, uma característica qualitativa de
melhoria pode ter de ser diminuída para maximização de outra caracterís-
tica qualitativa.

Avançando na prática

O que é uma informação relevante?

Considere que você está executando uma auditoria nas contas de uma
determinada empresa. Durante o processo de conferência dos estoques, você
encontrou 1 unidade de matéria-prima sem condições de uso. Porém, esta
unidade está registrada na conta de estoques da empresa como se estivesse
em perfeitas condições.

172
Como auditor você precisa tomar uma decisão: exigir que o balanço patri-
monial seja refeito a partir da execução de um lançamento de baixa deste
item deteriorado ou apenas citar a ocorrência nos seus relatórios mantendo
o balanço como está.
Para ajudar em sua decisão, considere que este estoque de matéria-prima
continha 500 mil itens no momento dessa verificação.
Seu desafio é tomar a decisão e justificar sua resposta, baseado na
orientação dada pelo CPC 00 (R1) que trata do aspecto da qualidade da
informação contábil. Qual será a sua decisão? Analise e resolva mais esta
situação-problema.

Resolução da situação-problema
Você foi desafiado a tomar uma decisão: pedir novo levantamento de
balanço após corrigir a baixa de um item deteriorado que estava constando
no estoque de matéria-prima, ou manter a demonstração como está, fazendo
apenas uma anotação nos relatórios de auditoria.
Como você deveria proceder como auditor neste caso?
O primeiro passo a ser dado por você, que está no papel de auditor, é
analisar o caráter de relevância da inconsistência levantada. No caso,
comparar uma unidade deteriorada com o total do estoque de matéria-prima
da empresa.
Em um segundo momento, é preciso avaliar se o custo da correção da
informação se justifica considerando o benefício por ela proporcionado.
A solução do problema passa, portanto, pela característica da relevância
da informação, ou seja, 1 unidade representa algo relevante considerando
que o total de unidades é de 500 mil?
Não, certamente não é relevante para o usuário da informação contábil
saber que o estoque correto não é de 500 mil, mas 499.999 unidades. Por isto,
a decisão mais adequada que você deve tomar é manter o balanço atual e
anotar a inconsistência no relatório de auditoria.
Esta decisão também se justifica a partir da segunda análise. O custo de
se abrir novamente a contabilidade para fazer o lançamento faltante, além do
envolvimento pessoal e tempo, não se justifica considerando o benefício que
todo este trabalho traria.

173
Faça valer a pena

1. A informação contábil serve como subsídio para o processo de tomada de


decisões por seus usuários. Nesse sentido, a informação contábil é destinada
a quem dela se utiliza para avaliar situações e tomar decisões.
Nesse sentido, é possível afirmar que as informações contábeis se destinam a:
a. subsidiar as decisões dos usuários internos da organização, ou seja,
somente aqueles que estão dentro do contexto organizacional.
b. subsidiar as decisões dos usuários externos da organização, ou seja,
somente aqueles que estão fora do contexto organizacional.
c. influenciar as decisões de quem dela depende no sentido de
sempre satisfazer os interesses da organização acima de tudo.
d. subsidiar as decisões dos usuários internos e externos da organi-
zação, ou seja, daqueles que estão dentro e fora do contexto
organizacional.
e. induzir os órgãos tributantes no sentido de não conseguirem identi-
ficar erros ou falhas contábeis que gerem benefícios tributários para
a organização.

2. As características qualitativas fundamentais da informação contábil


devem ser consideradas quando do processo e geração das demonstrações
financeiras. São estas demonstrações que materializam a informação sobre o
patrimônio e o resultado organizacional.
Sobre esta questão, analise as afirmações a seguir:
I. Pode haver informações relevantes, sem que todas as características
qualitativas sejam observadas. Se um critério de qualificação da
informação for comprovado, não há a necessidade de atendimento
dos demais.
II. Informações contábeis são especificamente geradas para os usuários
que possuem algum nível de conhecimento contábil.
III. As características qualitativas de melhoria podem ser consideradas
como suplementares em relação às características fundamentais.

174
Com base no exposto, é correto o que se afirma em:
a. I, apenas.
b. II, apenas.
c. III, apenas.
d. I e II, apenas.
e. II e III, apenas.

3. A questão do custo benefício da informação contábil deve ser conside-


rada quando de sua geração. Isto traz algumas consequências relacionadas ao
registro e controle das informações patrimoniais e de resultado da entidade.
Sobre esta questão, são feitas as seguintes asserções:

I. Quando o custo de uma informação for justificado pelo resultado


por ela gerado, ela deve ser produzida e considerada pela contabi-
lidade.
PORQUE
II. Quanto menor for o custo e maior o for benefício gerado por uma
decisão, melhor para o decisor.
Analisando o que foi exposto acima, é correto dizer que:
a. a. As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justifi-
cativa da I.
b. b. As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II não é uma
justificativa da I.
c. c. A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição
falsa.
d. d. A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verda-
deira.
e. e. As asserções I e II são proposições falsas.

175
Seção 2

Sistemas de informações contábeis – SIC

Diálogo aberto
Caro aluno, nesta seção, você terá acesso ao conteúdo envolvendo o
conceito e as características do Sistema de Informações Contábeis (SIC).
Isto é muito bom, afinal, que empresa atualmente não conta com um sistema
informatizado de processamento de dados, não é mesmo?
O SIC visa a coleta, o processamento e a geração de informações contá-
beis, sempre de forma harmonizada com os demais sistemas gerenciais da
organização e de acordo com o modelo de informação previamente deter-
minado. Nesse sentido, as informações patrimoniais e de resultado visam
atender uma ampla gama de usuários. Na sua maioria, esses usuários são
constituídos por não profissionais da área contábil, portanto cabe à conta-
bilidade garantir que o produto de seu trabalho esteja acessível e, principal-
mente, seja compreensível por todos: profissionais e leigos.
A partir desta consideração, a empresa que está se reestruturando
em termos de tecnologia relacionada aos sistemas informacionais lhe
apresenta um novo desafio, afinal você é o representante da contabilidade
no time responsável pela reestruturação que está em pleno desenvolvimento.
Considere que você, depois de apresentar as características qualitativas da
informação contábil, precisa elencar alguns pré-requisitos fundamentais do
sistema de contabilidade que será o responsável pela geração destas informa-
ções. Cabe ao profissional contábil esta função, afinal é ele quem irá validar o
projeto de análise do sistema e depois utilizá-lo quando concluído.
Seu desafio é a produção de um documento (relatório), sucinto e objetivo,
que evidencie as principais características do sistema contábil. Você deve
pontuar, sempre que necessário, os fundamentos normativos e legais respon-
sáveis pela característica que você está apontando no seu relatório.
Agora é com você: identifique as principais características do sistema
contábil apresentadas nesta seção, extraia uma síntese e elabore o seu
relatório. O time de reestruturação de TI está contando com você.
Bom trabalho.!

176
Não pode faltar

Conceito e finalidade do SIC


Caro aluno, praticamente todas as atividades organizacionais são perme-
adas pela tecnologia.
É comum que atividades antes desempenhadas de forma manual hoje
estejam automatizadas diminuindo a necessidade de intervenção humana.
Em casos mais específicos, inclusive, pode ocorrer de o nível de automação
ser tão grande que a intervenção humana se torna totalmente desnecessária.
É neste contexto que a contabilidade está inserida, ou seja, como todas as
áreas relacionadas com a gestão organizacional, ela também sofre os efeitos
da informatização e precisa estar alinhada em relação às exigências de um
mundo que está cada dia mais conectado, mais complexo e mais dinâmico
sob todas as perspectivas.
É nesse sentido que segundo Gil, Biancolino e Borges (2010), os sistemas
de informações possuem papel fundamental no processo de gestão das
organizações servindo como instrumentos que asseguram o fornecimento
de informações úteis de apoio ao processo de tomada de decisões por parte
dos usuários da informação contábil.
Os sistemas de informações contábeis (SIC) fazem parte de um conjunto
de sistemas voltados para a geração de informações sobre as opera-
ções organizacionais.
As organizações são consideradas sistemas, conforme Padoveze (2019), e
são formadas por partes que interagem entre si formando um todo que visa
um objetivo comum.

Assimile
Uma organização é considerada como um sistema aberto e dinâmico a
partir dos conceitos da teoria dos sistemas, uma vez que ela interage com
o meio e se altera a partir desta interação.

Como cabe à contabilidade o registro dos fatos a fim de gerar informa-


ções sobre a situação patrimonial e financeira das entidades, ela necessita
utilizar ferramentais que lhe assegurem precisão e agilidade na geração e
disseminação informacional.
Quando um fato contábil ocorre, como um pagamento de uma despesa
com material de expediente, este fato precisa ser registrado no sistema contábil

177
para que, a partir do lançamento, sejam atualizados os saldos das contas e
dos demonstrativos contábeis. Os registros dos fatos contábeis são efetuados
nos sistemas de contabilidade ou em módulos integrados que executam de
forma automática os lançamentos. Para Hurt (2014) cabe à contabilidade, a
partir das informações geradas pelos sistemas de informações, evidenciar a
situação patrimonial das entidades.

Reflita
O sistema de informação contábil representa um instrumento de
realização da finalidade informacional da contabilidade? Seria ele um
elemento fundamental para garantir a qualidade informacional?

Considerando que o sistema contábil faz parte do sistema empresa que,


por sua vez, está organizado a partir de um modelo de informação, conforme
esclarece Padoveze (2019), torna-se necessário que ele “converse” com os
demais módulos ou sistemas informacionais.
Quando um fato ocorre, há uma série de atividades que são desencade-
adas a fim de possibilitar o registro e o processamento dos dados e das infor-
mações contábeis e gerenciais.

Exemplificando
Considere que você está na condição de analista contábil em uma deter-
minada empresa e recebeu a incumbência de orientar o novo auxiliar
de almoxarifado e faturamento sobre o processo de registro das notas
fiscais relacionado às aquisições de mercadorias para revenda.
O fluxo de trabalho relacionado a esta atividade na empresa envolve
a compra, o recebimento e conferência da mercadoria, o envio da
nota fiscal para a provisão do pagamento e a estocagem. Como você
resumiria a função deste auxiliar em termos de acesso e operação do
sistema fiscal, contábil e financeiro?
No caso, certamente você explicaria que cabe ao auxiliar:
I- Receber a mercadoria e a nota fiscal;
II - Conferi-la em termos: físico (mercadorias condizentes com o
que foi comprado); e financeiro (valores e prazos de acordo com as
negociações).
III- Efetuar o registro no sistema fiscal para que sejam gerados os
respectivos lançamentos contábeis (SIC) e financeiros (SIG).

178
Veja no exemplo apresentado que um único lançamento efetuado no
módulo fiscal é capaz de desencadear os lançamentos a débito e a crédito
nas respectivas contas contábeis, bem como provisionar as contas a pagar
na área financeira. A este desencadeamento automático de registro dá-se o
nome de integração.

Princípios básicos
Para que um sistema se consolide e exerça seu papel, ele basicamente
precisa atender ao critério que o define como um sistema. Conforme Gil,
Biancolino e Borges (2010) um sistema é, como já dito, formado por variadas
partes que formam um todo e possuem um objetivo que é compartilhado.
O sistema informacional, de modo geral, é formado por vários módulos
que ao interagirem entre si (por integração) e têm por objetivo gerar infor-
mações. Ocorre que a estrutura do sistema de informação contábil compre-
ende tanto aspectos tecnológicos, físicos e intangíveis (humanos).
Segundo Gil, Biancolino e Borges (2010) interagem com os
sistemas contábeis:
• Usuários da informação.
• Desenvolvedores conceituais.
• Desenvolvedores das aplicações.
• Mantenedores dos sistemas.
Observa-se que o fator humano é aquele que possui maior interação com
as várias etapas dos sistemas, ou seja, desde a sua criação até a sua utilização
e manutenção.
Especificamente no que se refere aos desenvolvedores, a separação em
conceituais e desenvolvedores de aplicações se deve ao fato de que os sistemas
precisam passar por várias etapas de planejamento, desenho e validação
para somente depois serem efetivamente escritos e testados em termos de
funcionalidades. Estas etapas visam a garantia da qualidade para o usuário
do sistema e da informação.

Assimile
Em termos contábeis são os usuários da informação aqueles que orientam
a maior parte das decisões envolvendo o registro, o processamento e a
evidenciação da informação sobre o patrimônio das entidades.

179
Mas antes de se implementar um sistema contábil quais seriam os
pré-requisitos que este sistema deveria conter? Quais são seus princípios
de elaboração?
Na verdade, não existe uma lista específica de princípios ou pré-requisitos
que sirva para atender a todas as demandas organizacionais, todavia alguns
pontos merecem atenção, os quais detalhamos a seguir.
a. Capacidade de controle e avaliação de eficácia
O sistema de informação contábil deve ser capaz de proporcionar o
controle das atividades organizacionais, do patrimônio e do resultado, e
direta ou indiretamente permitir a avaliação de desempenho entre o que foi
planejado e a efetiva execução.
b. Segregação de responsabilidades
O sistema de informação contábil deve proporcionar a separação de
responsabilidades de forma que seja possível a atribuição de atividades
específicas para cada liderança e seus respectivos times de trabalho e, conse-
quentemente, permita a medição dos resultados alcançados por cada centro
de custo ou de responsabilidade da organização.
c. Delegação
O sistema de informação contábil deve ser capaz de proporcionar que
determinadas atividades sejam descentralizadas sem que se perca o controle.
A isso se denomina delegação de poder.
d. Relação custo-benefício
Os sistemas de informações contábeis devem ser capazes de atender
às demandas da área contábil sob todos os aspectos normativos e legais,
sem, todavia, implicar em custos que possam comprometer a continui-
dade da entidade. Alternativas devem ser buscadas quando esta situação se
mostrar provável.
e. Adequação normativa e legal
O sistema de informação contábil deve estar totalmente alinhado ao que
determina a legislação societária, a legislação fiscal e as normas brasileiras
de contabilidade. Além disso, sem prejuízo às normas legais acima mencio-
nadas, os regulamentos e demais instrumentos normativos derivados de
entidades reguladoras devem ser considerados e incorporados sempre que
forem referendados pelo órgão de classe contábil, o Conselho Federal de
Contabilidade (CFC), ou tornados obrigatórios por força da lei.

180
Como a maior parte das informações geradas pelas atividades organiza-
cionais – quando não todas elas – afetam qualitativa ou quantitativamente a
situação patrimonial das entidades, o sistema de informações contábeis pode
ser considerado como uma espécie de centralizador de informações das mais
diversas áreas organizacionais.
Um fato que envolve aumento de capital de grande monta, por exemplo,
passa pelo sistema contábil da mesma forma que a compra de uma caneta
esferográfica de baixíssimo valor.

Reflita
Por que, afinal, praticamente todas as informações econômicas e finan-
ceiras das organizações transitam pelo SIC?

Mais uma vez é importante resgatar o objetivo da contabilidade, Padoveze


(2019) afirma que o objetivo é gerar informações úteis de apoio ao processo
de decisão.
Considere que uma empresa efetuou a aquisição de uma matéria-prima
qualquer. Esse fato, por si só, já implica várias atividades de interesse da
contabilidade. Quer ver?
Sob a perspectiva do controle prévio
• Existia mesmo a necessidade da compra?
• Confirmada a necessidade, a quantidade está correta considerando os
parâmetros de consumo e de previsão de produção?
• Quem comprou tem autonomia para fazer a compra?
Sob a perspectiva do registro e controle contábil
A matéria-prima chegou em quantidade, qualidade, preço e condi-
ções combinadas?
O documento fiscal está de acordo com o que foi efetivamente recebido?
Quem recebeu declarou expressamente a conferência?
Observe que esses aspectos na verdade estão inseridos em controles que
podem ser oferecidos pelos sistemas informatizados, ou seja, por meio de
usuários e senhas, torna-se possível garantir que todos os processos foram
seguidos e que os responsáveis com outorga de poder para autorização ou
execução de gastos exerceram adequadamente sua autonomia.

181
Uma vez que estes processos sejam corretamente executados, a infor-
mação que chega ao SIC é mais confiável, consistente e, consequentemente,
mais útil.
Uma vez que a qualidade da informação é aferida desde sua inserção
inicial no sistema, independentemente do módulo no qual ocorra, maior é
a garantia de que o produto final gerado pelo SIC seja igualmente confiável.

Registro e controle da informação pelo SIC


Devido à tendência de maior integração dos sistemas de informação
possibilitada pela inovação tecnológica, a preocupação com o controle das
informações torna-se mais significante.
Segundo Hurt (2014), os sistemas de informações contábeis demandam
por estruturas que lhe garantam confiabilidade e segurança. É nesse sentido
que o registro dos fatos contábeis passa por checagens específicas, pela conci-
liação das contas contábeis, antes de estas serem integradas pelo sistema,
ou seja, antes de serem gerados os relatórios contábeis (demonstrações
financeiras).
O Quadro 4.1 a seguir demonstra, por exemplo, um modelo de tela
de registro de uma nota fiscal de compra na qual as informações fiscais
são inseridas.
Quadro 4.1| Modelo de tela de registro de informações fiscais
Modelo Pedagógico- X xx/xx/xxxx - xx:xx - usuário: “a”

Módulo – Controle Fiscal – Lançamento de NF de saídas

Tipo Data Cod. Cliente F. Pagto. UF Observações

Ordem Cod. Cont. CFOP Descrição Quant. Vr. Unit. Vr. Total % IPI ICMS Imobilizado?

BC ICMS BC IPI FRETE VR. PRODUTOS VR. TOTAL NF

Brasil © 2019

Fonte: elaborada pelo autor.

No Quadro 4.1 é possível verificar que o foco do registro no sistema em


questão é estritamente fiscal, ou seja, são solicitadas informações como:
• Código Fiscal de Operações – que é um padrão determinado pelo
fisco federal para cada tipo de operação comercial/industrial no Brasil.

182
• Percentuais dos tributos (IPI e ICMS).
• Se o produto em questão se destina ou não à imobilização, uma vez
que o tratamento do ICMS é diferenciado neste caso.
• Base de cálculo total dos tributos, fretes e total da nota fiscal, entre
outras informações.

Reflita
Mas afinal, se o sistema é integrado, onde aparecem as contas a serem
debitadas e creditadas pela contabilidade?

Justamente esse é o ponto principal da discussão sobre o controle propor-


cionado pelo sistema de informação contábil e demais sistemas informatizados.
Para que os sistemas atinjam seus objetivos em termos de controle e
eficácia informacional orienta-se que eles sejam parametrizados.
Espera-se que os sistemas de informações possuam um padrão de orien-
tações de forma que ao se processar uma informação, ele não dependa da
ação humana para saber qual conta debitar ou creditar. Estas contas já estão
antecipadamente cadastradas no sistema.
No exemplo apresentado no Quadro 4.1, ao informar o cliente para o
qual se está lançando a nota fiscal, o sistema saberá (a partir do cadastro do
cliente) qual a conta contábil que deverá ser debitada se a venda for a prazo
ou à vista, conforme será informado no campo “F.Pagto”.
No mesmo sentido, por se tratar de uma nota fiscal de saída, a partir
da CFOP o sistema automaticamente saberá que se trata de uma venda de
mercadorias. O mesmo ocorrerá com os tributos envolvidos. Ele saberá se
cabe ou não o pagamento do IPI, do ICMS, do PIS e COFINS a partir do
próprio cadastro da CFOP.

Assimile
O modelo apresentado no Quadro 4.1 pode variar de sistema para
sistema. Também o processo de integração entre os módulos pode
ocorrer de forma automática ou manualmente a partir de processa-
mentos acionados pelo usuário quando do fechamento do período.

De forma geral, a partir de um único lançamento da nota fiscal de saída


são disparados, por meio da integração, os lançamentos contábeis de venda e
de recolhimento dos tributos.

183
SIC na estrutura informacional da organização
O sistema fiscal e o contábil pertencem praticamente ao mesmo conjunto de
informações relacionadas aos controles contábeis, dizem respeito à contabilidade
financeira e à contabilidade tributária. E as informações gerenciais?
Na verdade, a organização possui um modelo informacional que deve
ser capaz de contemplar todas as áreas nas quais ocorrem atividades e são
geradas informações.

Reflita
O sistema de informações contábeis deve estar alinhado aos demais
sistemas organizacionais? Haveria consequências gerenciais no caso de
um desalinhamento nesse sentido?

De forma simplificada pode-se dizer que o sistema de informações de


uma organização contempla todas as suas áreas estratégicas, portanto, a
contabilidade deve estar devidamente integrada e harmonizada com os
demais módulos e subsistemas.
A partir de um único registro é possível alimentar o registro de vários
outros controles, desde que o sistema esteja devidamente parametrizado.
A Figura 4.1 demonstra graficamente o caso de registro de uma nota fiscal
de entrada de matéria-prima com consequente impacto no módulo contábil
e financeiro a partir da integração dos subsistemas informatizados.
Sob a perspectiva contábil, o registro da nota fiscal no módulo fiscal e
integração possibilita:
• A emissão do livro de registro de entrada de mercadorias.
• A emissão do livro de apuração e controle do ICMS.
• A emissão do livro de registro e apuração do IPI.
• A emissão do controle de registro e apuração do PIS.
• A emissão do controle de registro e apuração da Cofins.
• Os lançamentos contábeis e a emissão dos livro-diário e do livro-razão.
• A elaboração das demonstrações financeiras.
Sob a perspectiva financeira, o registro da nota fiscal no módulo fiscal e
integração possibilita:
• Controle de caixa e bancos (tesouraria).

184
• Controle de contas a receber.
Figura 4.1 | Integração do SIC

Caixa/ Clientes Tesouraria


Receita de vendas
Contas a receber
(-) CMV
Estoques
ICMS (vendas/recolher)
PIS (vendas/recolher)
COFINS (vendas/recolher)

Registro contábil Registro financeiro

Registro fiscal

Nota fiscal

Fonte: elaborada pelo autor.

Ao mesmo tempo em que os lançamentos podem derivar de processos


integrados, pode haver lançamentos diretamente via sistema contábil.
O conceito de sistema está sendo aqui utilizado para representar o
conjunto de funções informatizadas que executam determinadas atividades,
enquanto módulo representa uma parte específica deste sistema. A depender
das características de cada organização, pode haver um sistema contábil
separadamente, ou apenas um módulo contábil dentro de um sistema de
informação mais amplo.
No caso da utilização do SIC na forma tradicional, a rotina de lançamento
prevê que sejam informados os dados exigidos pela formalidade do livro-di-
ário, ou seja:
• Local.
• Data.
• Conta devedora.
• Conta credora.
• Histórico.

185
• Valor.
A partir do fato contábil e do documento comprobatório, o responsável
pelo lançamento faz a inserção destas informações no módulo contábil
do sistema.
Para exemplificar este processo, considere o fato a seguir: uma deter-
minada empresa fez um depósito bancário em uma determinada data, a
empresa não possui integração entre o departamento financeiro e a conta-
bilidade, ou seja, a baixa nos controles de caixa e bancos não gera automa-
ticamente os lançamentos contábeis. No mesmo sentido, os lançamentos
contábeis não baixam automaticamente os movimentos de caixa e bancos,
portanto são feitos dois processos separadamente:
• Depois do retorno do comprovante de depósito para o departa-
mento financeiro, o responsável faz a baixa no controle de caixa e
bancos no sistema gerencial ajustando desta forma o saldo do livro
caixa e da conta corrente bancária.
• O documento é então enviado para a contabilidade que efetua o
lançamento contábil que atualizará o livro-razão das contas caixa
e bancos.
Neste processo há evidentemente um retrabalho, pois, uma das etapas
poderia ser evitada, se houvesse a integração entre o SIC e o SIG, porém
é preciso reconhecer que ainda há muitos sistemas não integrados, princi-
palmente considerando a realidade brasileira, sendo assim, é importante
conhecermos ambos os processos (com e sem integração).
O processo descrito no parágrafo anterior demanda um controle
denominado de conciliação, ou seja, a partir das atualizações dos controles
gerenciais e contábeis (livros, contas correntes, extratos e razões) todos são
confrontados para se chegar ao mesmo saldo.
O lançamento contábil é realizado conforme evidencia o Quadro 4.2.

186
Quadro 4.2 | Tela de lançamento do módulo contábil
Modelo Pedagógico-X xx/xx/xxxx - xx:xx usuário”a”

Módulo – Contabilidade – Lançamento Contábil


Identificação do lançamento

Local Cidade UF DATA xx/xx/xxxx


Contas contábeis
Conta devedora 1.01.001.0003 – Bancos conta movimento
Conta credora 1.01.001.0001 – Caixa
Histórico
Depósito bancário conforme comprovante nº 123456789 realizado nesta data
Valor
R$ 0,00
Valor

xx-123 – Administração financeira


Rateio

100%
Observações

Brasil © 2019

Fonte: elaborada pelo autor.

Vale destacar que cada sistema contábil possui sua própria interface,
podendo variar de acordo com cada aplicação, porém os elementos básicos
são os mesmos.
É importante, no entanto, o reconhecimento da necessidade de que os
recursos tecnológicos sejam convergidos em favor do objetivo principal da
contabilidade, quer seja, o de fornecer informações úteis de apoio ao processo
de tomada de decisões.
Os ferramentais tecnológicos podem contribuir, mas não substituem a
ação dos profissionais capacitados a compreender e atender às demandas dos
usuários da informação contábil.

Sem medo de errar

Você foi desafiado e emitir um relatório resumido com alguns pontos


que deveriam ser considerados em relação ao desenvolvimento do sistema de
informações contábeis (SIC) na empresa na qual você trabalha. O departa-
mento de TI precisa de sua orientação, afinal embora eles tenham os conheci-
mentos técnicos tecnológicos, você é o profissional indicado para orientá-los
em termos contábeis.

187
No seu relatório você deverá apontar os princípios que foram listados
nesta seção, sendo eles:
• Capacidade de controle e avaliação de eficácia: o sistema de infor-
mação deve proporcionar o controle das atividades organizacionais,
do patrimônio e do resultado, também deve permitir a avaliação de
desempenho do que foi planejado e executado.
• Segregação de responsabilidades: o sistema de informação deve
proporcionar a separação das responsabilidades em relação as
atividades específicas de cada liderança e seus times, também deve
permitir medir os resultados alcançados por cada centro de custo ou
centros de responsabilidade.
• Delegação: o sistema de informação deve proporcionar descen-
tralização de algumas atividades, sem a perda do controle, ou seja,
delegação de poder.
• Relação custo-benefício: o sistema de informação deve atender às
demandas da área contábil, analisando as informações em relação ao
custo versus benefício.
• Adequação normativa e legal: o sistema de informação deve atender
as exigências normativas e legais.
Também lhe foi solicitado que fossem pontuados aspectos legais que
orientam o desenvolvimento dos SIC. Neste caso são quatro os destaques:
• A legislação societária (Lei nº 6.404/76 e atualizações).
• A legislação fiscal de todas as instâncias: federal, estadual e municipal.
• As normas e os regulamentos das entidades reguladoras.
• As normas brasileiras de contabilidade.
Não se esqueça que você é o profissional contábil que está orientando
o desenvolvimento do SIC na sua empresa, portanto manter-se atualizado
em relação às novas tecnologias bem como em relação à legislação da área é
fundamental. Tenha um bom trabalho.

Faça valer a pena

1. A empresa é considerada como um sistema, conforme os conceitos


da teoria geral dos sistemas. A teoria dos sistemas é uma das formas de se
compreender os fenômenos empíricos, ou seja, os fatos ocorridos em nossa
realidade.

188
Com base no exposto, qual das alternativas a seguir apresenta uma afirmação
correta sobre o sistema empresa?
a. A empresa é um sistema aberto e estável.
b. A empresa é um sistema fechado e dinâmico.
c. A empresa é um sistema fechado e estável.
d. A empresa é um sistema aberto e dinâmico.
e. A empresa é um sistema fechado e instável.

2. A estrutura informacional de uma organização deve contemplar alguns


aspectos fundamentais para que atinja o seu objetivo. Não se admite nos dias
atuais uma operação que não esteja suportada por tecnologia da informação
e do conhecimento.
A partir destas considerações, analise as afirmativas a seguir:
I. Dentro da organização, o modelo de informação seguido pelo SIC
é diferente, pois o SIG segue um modelo informacional específico.
II. Existem sistemas integrados e não integrados.
III. Os registros automatizados podem nascer a partir do SIC ou se
destinar a eles tendo como origem outros módulos.
É correto o que se afirma em:
a. I, apenas.
b. II, apenas.
c. III, apenas.
d. I e II, apenas.
e. II e III, apenas.

3. O processo de desenvolvimento dos sistemas de informações depende


de vários elementos. São recursos fundamentais como: financeiros, físicos e
humanos.
Dentre os recursos humanos se destacam aqueles relacionados aos responsá-
veis por tornar o sistema disponível para utilização.
Com base nos desenvolvedores dos sistemas de informação, avalie as
seguintes asserções e a relação proposta entre elas.

189
I. O desenvolvedor do sistema pode ser conceitual ou da aplicação.
PORQUE
II. O sistema precisa ser planejado e depois programado para estar
disponível para a utilização.
A respeito dessas asserções, assinale a alternativa correta.
a. As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justifica-
tiva da I.
b. As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma
justificativa da I.
c. A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição
falsa.
d. A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verda-
deira.
e. As asserções I e II são proposições falsas.

190
Seção 3

Sistemas de Informações Gerenciais – SIG

Diálogo aberto
Caro aluno, nesta seção você terá contato com o conceito e as principais
características envolvendo o Sistema de Informações Gerenciais (SIG).
O contexto no qual este tema está inserido é o das organizações, afinal a
partir das operações organizacionais são gerados os fatos dos quais derivam
informações que precisam ser registradas, armazenadas, processadas e disse-
minadas a fim de apoiar o processo de decisão.
A partir das informações fiscais e contábeis geradas pelos sistemas infor-
matizados de contabilidade, torna-se possível uma ampla gama de análises
envolvendo a situação patrimonial e de resultado da entidade, cujo objetivo
é o subsídio ao processo de tomada de decisões dos usuários da infor-
mação contábil.
Uma vez estruturado o Sistema de Informações Contábeis (SIC), é a vez
de se concentrar no Sistema de Informações Gerenciais (SIG).
Nesse sentido, você, enquanto parte do time de reestruturação da TI de
uma grande empresa é convidado a providenciar um relatório que fará parte
da documentação relativa a este processo. Trata-se da documentação dos
sistemas de informações gerenciais que serão gerados (módulos novos) ou
reestruturados (módulos já existentes) pelos profissionais de TI.
Seu desafio nesse momento é o de inserir neste documento (relatório) uma
justificativa para que o SIG seja desenvolvido em consonância (integrado) ao
SIC. Nesta justificativa você deve explicar a diferença entre o sistema SIG e o
de contabilidade SIC, afinal os profissionais de TI podem não conhecer bem
sobre a contabilidade e pensar que o sistema SIG e o de contabilidade SIC são
similares. Por isso, você fica encarregado de dar subsídios suficientes para
que compreendam que ambas ferramentas são importantes.
Depois de explicar a diferença entre estes dois sistemas, é fundamental que
você deixe claro em seu relatório o motivo pelo qual o profissional contábil se
relaciona com o SIG, dependendo substancialmente de suas funções.
Vale a pena você destacar no seu relato a função do profissional contábil
no contexto organizacional, pois isso ajudará no entendimento de todos os
demais integrantes do time sobre o motivo pelo qual a contabilidade neces-
sita dos SIGs.

191
Seu papel nessa etapa do projeto é o de convencimento, portanto, bom
trabalho!

Não pode faltar

Visão da empresa como um sistema


Caro aluno, você concorda que a organização pode ser comparada a um
organismo que se modifica adaptando-se constantemente ao meio no qual
está inserida?
Sim, ela nasce, desenvolve-se, estabiliza-se e continuamente se modifica
para se manter competitiva, portanto precisa estar atenta às demandas
decisórias que lhe são impostas pelo ambiente, principalmente em mercados
de alta competitividade.
Um dos aspectos que as organizações procuram manter em ordem ou,
pelo menos, em condições de operações mínimas é o de coleta, processa-
mento e geração de informações.
Seja pelo uso de softwares modestos, ou de sistemas altamente tecnoló-
gicos, o que se busca é o aprimoramento da geração de informações de apoio
ao processo de tomada de decisões.
Todavia, como a empresa ou qualquer outro tipo de entidade podem
também ser consideradas como um sistema, outros aspectos além do ferra-
mental precisam ser considerados.
Por exemplo, “De nada adiantará todo o investimento feito em Sistemas
de Informações Gerenciais se aqueles que terão a obrigatoriedade de opera-
cionalizá-lo não o fizerem da forma e no tempo previstos” (CRUZ, 2014, p.
394).
Por que, então, não basta o ferramental? Justamente porque a empresa
conta com as características de um sistema aberto e dinâmico, conforme
explica Padoveze (2019):
Dinâmico: compreende a característica de mutabilidade, ou seja, repre-
senta a capacidade do sistema em se adequar às condições ambientais,
por exemplo.
Aberto: compreende a característica de interação com o meio.

192
Assimile
A visão sistêmica empresarial tem bastante relação com o que se
denomina visão holística, ou seja, envolve uma espécie de distancia-
mento de quem está avaliando a organização de forma que possa vê-la
como um todo, mesmo reconhecendo que é formada por unidades
menores que interagem em prol de objetivos comuns.

A visão sistêmica da organização advém da teoria geral dos sistemas


desenvolvida por Bertalanffy, conforme esclarece Padoveze (2019).
Esta visão consiste em reconhecer duas condições básicas:
• Equifinalidade: significa que, mesmo de diferentes pontos de partida,
diferentes condições iniciais e utilizando maneiras diferentes, pode-se
chegar ao mesmo estado final.
• Entropia negativa dos sistemas: que compreende o empenho deles
em se organizarem buscando sobreviver, o que se dá por meio
da ordenação.
Embora possam parecer conceitos abstratos ou apenas teóricos, as consi-
derações envolvendo a visão sistêmica da organização são responsáveis
por muitos dos conceitos utilizados pela própria contabilidade, como, por
exemplo, o de departamentalização.
A separação da entidade em unidades menores que permite a avaliação
de desempenho tem sua origem na visão sistêmica da organização.
A própria estrutura de custos, de centros de custos, de atividades e outros
aspectos voltados para a rentabilidade por unidade advêm destes conceitos.

Reflita
Você concorda que a departamentalização contribui para o processo
de avaliação de desempenho em uma organização? No mesmo sentido,
você acredita que a avaliação de desempenho contribui para a correção
de erros de forma mais rápida, melhorando a eficácia da organização
como um todo?

Todo sistema possui pelo menos três elementos que devem interagir a
fim de que ele atinja seu objetivo. Conforme esclarece Padoveze (2019), um
sistema possui elementos que perpassam os processos de: entrada, processa-
mento e saída, sendo:

193
• Objetivos: todo sistema nasce e é desenvolvido a partir de objetivos
previamente definidos que podem se manter inalterados ou serem
ajustados ao longo do tempo.
• Recursos (processo de transformação): diz respeito ao ferramental
em si que consome recursos físicos, intangíveis, humanos, entre
outros, capazes de processar e transformar dados em informações.
• Controle: representado pela atividade resultante das saídas relativas
às informações processadas e que atendem aos objetivos do sistema.
Além do controle possibilitado pelas informações geradas, o próprio
comportamento do sistema é avaliado e aprimorado constantemente.
A Figura 4.2 demonstra a interação destes elementos
Figura 4.2 | Componentes (elementos) de um sistema

OBJETIVOS

Entradas PROCESSO DE Saídas CONTROLE E


TRANSFORMAÇÃO AVALIAÇÃO

Retroalimentação

Fonte: adaptado de Padoveze (2019, p.10).

A partir do momento que se reconhece a organização como um sistema


aberto e dinâmico, o processo de retroalimentação, que pode ser represen-
tado pelo feedback, passa a ser fundamental como forma de manter o aprimo-
ramento contínuo orgânico.
É como se a Contabilidade, por exemplo, mesmo estando subordinada
a normas e procedimentos legais, se submetesse a momentos de reflexão e
avaliação de forma que suas práticas voltadas para a gestão da organização
possam ser revistas e melhoradas.
Este é um dos desafios do profissional contábil no contexto contempo-
râneo, no qual o diferencial das organizações, muitas vezes, está fundamen-
tado em detalhes que extrapolam as questões de produtos e de processos,

194
podendo estar incutidos no comportamento das pessoas e dos profissionais
que lidam com as questões e tomam as decisões operacionais e estratégicas.

Conceito e finalidade do SIG


Você já se questionou sobre a diferença entre o Sistema de Informação Contábil
e o Sistema de Informação Gerencial? Pois bem, a diferença está no foco principal,
ou seja, o contábil está voltado para o controle enquanto o gerencial concentra-se
no processo de gestão.
Até aí, nenhuma novidade, não é verdade?
Mas quando consideramos que ambos sistemas têm como objetivo o usuário
da informação e suas demandas, ou seja, o apoio ao processo de decisão, como
ficaria esta diferenciação? Parece diminuir as diferenças, concorda?
O conceito de Sistema de Informações Gerenciais corresponde ao próprio
conceito de sistema de forma geral, como sugere Cruz (2014), artefatos que visam
satisfazer as necessidades informacionais dos usuários, não podendo incorrer, no
entanto, em mais custos do que benefícios sob a pena de inviabilizar a qualidade da
própria gestão organizacional.
Uma das variáveis envolvidas com o conceito e finalidade do SIG, por se tratar
de um ferramental voltado para a gestão, é exatamente o custo da informação.
Um Enterprise Resource Planning – ERP, conhecido também como Sistema
Completo de Gestão Empresarial é fantástico, mas nem sempre é adequado em
termos de dimensão às demandas informacionais e capacidade de investimento
da entidade.
A partir de uma gestão com parcimônia “A aquisição e o uso de Tecnologia da
Informação desnecessária, sem utilidade, caras etc. podem ser evitadas” (CRUZ,
2014, p. 30).
A relação de custo benefício em termos informacionais é bastante importante,
pois as possibilidades disponíveis em termos de sistemas são quase “infinitas”.

Exemplificando
Uma determinada empresa possui um sistema de informações simples
que lhe fornece alguns relatórios financeiros que até o momento têm
atendido à sua necessidade de decisão, todavia um de seus sócios
acaba de fazer um MBA em Gestão e conheceu um funcionário de uma
empresa de TI que comercializa um ERP bastante completo e sofisti-
cado.

195
A Contabilidade da empresa é terceirizada, sendo que apenas os
controles financeiros e gerenciais são feitos internamente.
O colega do sócio da empresa não tardou em oferecer uma proposta
para que implante o ERP e internalize a Contabilidade.
Quais as variáveis importantes presentes nesta decisão?
• Valor do investimento no ERP.
• Custo da internalização versus a terceirização da contabilidade.
• Estrutura fixa que deverá ficar à disposição de ambas as áreas: a de
gestão do ERP e da contabilidade internalizada.
• Benefícios informacionais comparados ao que se tem disponível
atualmente, ou seja, o que se obterá de ganho a partir das novas infor-
mações e dos novos processos.
De forma geral, o SIG é o responsável por garantir a eficácia dos processos de
planejamento, execução, controle e avaliação de desempenho da organização.
Em todos os sentidos o SIG se volta para a decisão e seus resultados.
O processo gerado pelo SIG “[...] é o processo de transformação de dados
em informações que são utilizadas na estrutura decisória da empresa, proporcio-
nando, ainda, a sustentação administrativa para otimizar os resultados esperados”
(OLIVEIRA, 2017, p. 26).
Por envolver decisão, o Sistema de Informações Gerenciais está inserido em
um contexto mais amplo, conforme demonstra a Figura 4.3.
Figura 4.3 | SIG como parte do Sistema Global de Informações

AMBIENTE EMPRESARIAL
SISTEMA GLOBAL DE INFORMAÇÕES

SISTEMA DE INFORMAÇÕES
EXTERNAS
[faz parte]
SIG

EMPRESA

SISTEMA DE INFORMAÇÕES
INTERNAS

Fonte: adaptado de Oliveira (2017, p.27).

196
A Figura 4.3 demonstra como o SIG está integrado ao modelo de infor-
mação estruturado na forma do sistema global de informações, que integra
tanto as informações ambientais externas como internas da própria empresa.

Implementação e avaliação
Como qualquer processo de implantação, o relacionado com o sistema
de informações está envolto por questões que precisam ser tratadas a fim de
evitar ruídos e comprometimento da eficácia desde, ou até mesmo antes, o
início de sua operação.
Existem alguns modelos que procuram sistematizar o processo de
implantação de um sistema de informações, porém é possível que alguns
passos sejam considerados como principais e necessários a fim de garantir
que os benefícios almejados sejam alcançados.
A Figura 4.4 demonstra um dos modelos de implantação.
Figura 4.4 | Processo de implantação do SIG

Avaliação
Organização Implantação Treinamento Operação
final

Fonte: adaptado de Padoveze (2019).

A Figura 4.4 traz os seguintes processos essenciais à implantação e


avaliação do SIG:
• Organização: compreende o processo prévio ao início da implantação
efetiva do sistema. Vale lembrar que aqui o sistema como um todo
já existe e está pronto para ser operacionalizado nas diversas áreas
da organização.
• Implantação: consiste em envolver os times de trabalho, bem como
o time responsável pela implantação e treinamento em um processo
contínuo de uso e feedback parcial para aprimoramento das ativi-
dades específicas.

197
• Treinamento: inicia-se na fase anterior e se estende durante todo
o processo acionando atividades de revisão de processos sempre
que necessário.
• A operação consiste na execução do sistema, ou seja, em mantê-lo em
atividade de forma que atenda às demandas para as quais foi desen-
volvido. Este processo deve ser contínuo, porém pode implicar em
pequenas interrupções para ajustes derivados dos processos avalia-
tivos desempenhados na etapa seguinte.
• A avaliação final consiste em verificar as funcionalidades que estão
em operação e lhes atribuir uma chancela. Esta etapa objetiva verificar
se o sistema está de acordo com as especificações gerando os resul-
tados esperados. Embora a palavra final denote ser a última etapa
do processo, ela também é contínua dentro do ciclo de desenvolvi-
mento dos sistemas e serve tanto como fase de validação como de
melhoria contínua.
Segundo Padoveze (2019), a análise dos processos envolvendo os Sistemas
de Informações Gerenciais envolve:
O desenho dos atuais processos, dos procedimentos e das tarefas, como
forma de diagnosticar o estado atual e pensar em necessidades.
• Desenho dos processos futuros que, a partir das necessidades identi-
ficadas no processo anterior, aperfeiçoarão o sistema de informação
e, consequentemente, todo o sistema-empresa. Isto, inclusive, é um
pressuposto do SIG.
• Indicação das mudanças, das atividades e de procedimentos, além das
estruturas que serão afetadas pela implantação dos novos processos.
• Ao final do processo de implantação do SIG inicia-se o ciclo de
aperfeiçoamento que deve ser um dos pressupostos básicos para que o
ciclo de melhoria da informação gerencial seja contínuo e duradouro,
atendendo às demandas decisórias dos gestores organizacionais.

Sistemas de Informações Estratégicas


Não apenas de informações operacionais são formados os processos de
avaliação das organizações. As atividades precisam ser avaliadas, porém
elas não representam a última instância no processo de avaliação de desem-
penho organizacional.
Como discutido na seção anterior, a empresa sob a visão sistêmica é
dividida em áreas. Estas contribuem ou se beneficiam dos SIGs?

198
Segundo Oliveira (2017), as áreas das organizações devem participar do
processo de implantação dos sistemas de informações.
Além das áreas internas, outros setores mesmo externos à organi-
zação, como fornecedores que possuem sistemas integrados, por exemplo,
são fundamentais quando o assunto é o uso da informação para fins de
decisões estratégicas.
A maioria dos usuários da informação, direta ou indiretamente, possui
interesse no SIG.
• Vendas: possuem interação com o mercado.
• Propaganda e publicidade: possuem informações dos concorrentes.
• Compras: os fornecedores vendem também aos seus concorrentes.
• Pesquisa e desenvolvimento: esses técnicos usam os dados de forma
mais adequada, gerando um ativo intelectual.
• Crédito e cobrança: têm informações de clientes e financeiras em geral.
• Atendimento ao cliente: deve estar alinhado com os clientes, podendo
informar-se sobre novos produtos, características, mudanças de
preços etc.
• Distribuição: por saber sobre os custos de transportes, capaci-
dade de depósitos, nível de estoque etc., tanto da empresa quanto
dos concorrentes.
• Relações com órgãos governamentais: têm contatos com institui-
ções em que são discutidos os setores, em geral, e os concorrentes,
em particular.
• Jurídico: tem conhecimento de concessão de patentes, de alterações
governamentais sobre o setor, e informações jurídicas de concor-
rentes e do mercado.
• Biblioteca: tem a centralização maior das fontes de informações por
meio de relatórios, periódicos, livros, manuais etc.
• Informática: pode estruturar um sistema de banco de dados automa-
tizado com maior facilidade e eficácia de processamento e análise.
• Recursos humanos: sabem sobre questões estratégicas
dos funcionários.
• Mercado imobiliário: pode contribuir para a análise dos planos de
expansão ou de retração de uma empresa concorrente.

199
A partir da variedade de áreas descritas, bem como de sua influência
informacional, é possível avaliar o quão amplo é o poder de captação e de
gestão informacional dos SIGs.
O ciclo envolvendo o planejamento estratégico ocorre geralmente em
um prazo menos recorrente do que as atividades operacionais, o que dá
a impressão de que as informações e a gestão estratégica da organização
ocorrem em outra perspectiva além dos Sistemas Gerenciais, o que não
é verdade.
Novamente é importante relembrar que os sistemas informacionais,
independente dos níveis, são integrados e devem ser capazes de responder
às demandas de informações em todos os níveis. Quem define se uma infor-
mação é ou não importante em termos estratégicos é a situação e não o
conceito relativo ao sistema no qual ela foi gerada.
Espera-se do profissional de gestão, neste caso também do profissional
contábil, a capacidade de focar mais o conteúdo da informação do que neces-
sariamente o ferramental pelo qual ela é gerada.
Todavia, e ao mesmo tempo, considerando as características da sociedade
contemporânea, não se pode ignorar o domínio das novas tecnologias.
O equilíbrio entre a tecnologia, o conhecimento e a capacidade de
gestão dos recursos, principalmente o humano, são os diferenciais na
eficácia das atividades dos líderes e gestores, e, por conseguinte, no sucesso
das organizações.

Sem medo de errar

Você recebeu o desafio de integrar o time de reestruturação dos sistemas


de informações de uma grande empresa. Nesse sentido você está trabalhando
conjuntamente com o pessoal do departamento de Tecnologia da Informação
(TI).
Ocorre que, embora os profissionais da área tenham experiência no
desenvolvimento de softwares, eles não possuem conhecimento na área de
gestão e de contabilidade.
Seu papel é de descrever em um breve relatório o motivo pelo qual a
empresa deve contar com um bom Sistema de Informações Gerenciais (SIG).
Nesta etapa do relatório você dirá que o SIG é o conjunto de processos
informatizados que compreendem um sistema organizado capaz de coletar,

200
armazenar, processar e disseminar informações de ordem gerencial relacio-
nadas à entidade.
Sua importância é estratégica, pois é a partir das informações geradas
pelos SIGs que as organizações executam o seu planejamento, controlam a
sua execução e avaliam os seus resultados, possibilitando a manutenção de
suas atividades.
Além de conceituar e explicar o motivo pelo qual o time trabalhará neste
tipo de sistema, você deve também explicar a diferença entre o SIG e o SIC.
Nesta oportunidade você deverá escrever no relatório que o SIC
está voltado para o controle patrimonial e a elaboração das demonstra-
ções financeiras, além do controle e cumprimento das obrigações fiscais,
enquanto do SIG possui seu foco nos aspectos de planejamento, execução e
controle organizacional.
Por último, você deve explicar no seu relatório o motivo pelo qual o profis-
sional contábil se relaciona com o SIG, como, por exemplo, descrever que o
profissional contábil tem como função gerar informações para os usuários da
informação contábil como subsídio para o processo de decisão, ou seja, tanto
o SIC como o SIG representam ferramentais que apoiam o trabalho destes
profissionais no sentido de cumprir seu objetivo informacional.

Avançando na prática

Função estratégica do SIG

Você, enquanto contador, faz parte do time responsável pela elaboração


da estratégia de uma grande empresa que atua no ramo de fabricação de
móveis em madeira natural.
Em uma das reuniões de discussão envolvendo os objetivos de ampliação
da participação no mercado da empresa, você foi questionado sobre as infor-
mações que a área de contabilidade poderia fornecer e que pudessem contri-
buir para as discussões sobre o tema. Na opinião do interlocutor que estava
com a palavra na reunião, as informações contábeis são específicas e não
possuem relação com as informações gerenciais geradas pelo SIG da empresa.
A palavra foi passada para você na reunião, portanto seu desafio consiste
em citar algumas informações relacionadas à área contábil que possam
contribuir para discutir a questão da participação no mercado da empresa,

201
mas, adicionalmente, você precisa convencer o interlocutor de que não há
separação das informações entre o SIC e o SIG, ou seja, eles estão relacionados.
Eis o seu desafio. A palavra está com você.
O que você diria?

Resolução da situação-problema
Na sua fala, você precisa selecionar informações que a contabilidade gera
por meio do SIC e que têm relação com o controle patrimonial e do resul-
tado, mas que podem ajudar no processo de avaliação sobre a participação
da empresa no mercado.
Você poderia citar algumas informações, como:
• Nível de faturamento ao longo dos últimos meses ou períodos.
• Volume de produção dos últimos meses ou períodos.
• Evolução dos custos dos produtos vendidos ao longo dos últimos
meses ou períodos.
• Ticket médio de faturamento por cliente.
Estas e outras são informações contábeis que podem contribuir para a
análise do posicionamento da empresa em relação ao mercado, bem como
sua capacidade de se adequar aos custos máximos admitidos a partir dos
preços praticados pela concorrência.
Em relação à opinião do interlocutor, é preciso dizer que, embora haja um
sistema especificamente criado para gerir as informações contábeis e fiscais,
as informações gerenciais permeiam toda a organização. Há uma integração
entre todos os sistemas, portanto mesmo informações sendo geradas inicial-
mente no SIC podem ser acessadas no SIG e também inversamente.
A integração e o relacionamento entre todos os sistemas se dão justa-
mente porque a organização é vista como um sistema aberto e dinâmico,
portanto um dos elementos que mantém suas partes unidas em prol dos
objetivos comuns são as informações.

Faça valer a pena

1. Os sistemas possuem basicamente três fases que compreendem as entradas


de dados, o processamento destes e as saídas de informações. Estas fases são
permeadas por elementos fundamentais que garantem que o sistema tenha a
estruturação e a fluidez necessária para atingir seus objetivos.

202
Nesse sentido, qual das alternativas a seguir traz os três elementos que
permeiam as fases de entrada, processamento e saída na sua respectiva
ordem?
a. Objetivos, controle e recursos.
b. Controle, avaliação e recursos.
c. Avaliação, objetivos e controle.
d. Objetivos, recursos e controle.
e. Recursos, controle e objetivos.

2. A análise dos processos relacionados ao desenvolvimento, implantação


e manutenção de sistemas contábeis é fundamental, pois evitam muitos
problemas que, se antecipados, podem ser tempestivamente corrigidos ainda
na fase de planejamento.
Em relação à análise dos processos, analise as afirmações a seguir:
I. Desenho dos atuais processos, procedimentos e tarefas.
II. Desenho dos processos futuros, que otimizarão o sistema de infor-
mação, nesta fase sem envolver preocupação com o sistema-empresa.
III. Indicação das mudanças de procedimentos e estruturas a serem
efetuadas para implantação dos novos processos.
Analisando as afirmações apresentadas, é correto o que se afirma em:
a. I, apenas.
b. II, apenas.
c. I e III, apenas.
d. II e III, apenas.
e. I, II e III.

3. Se os Sistemas de Informações Gerenciais (SIG) possuem integração


com todos os demais sistemas de informações, é devido a uma das princi-
pais características das organizações. As características podem ser vistas
como sistemas e, desta forma, precisam manter a sua unidade informacional,
mesmo em condições de dinamismo e complexidade.

203
Sobre estas características, avalie as seguintes asserções e relação proposta
entre elas:
I. Equifinalidade significa que, mesmo partindo de diferentes pontos,
de condições e maneiras diferentes iniciais, podemos chegar ao
mesmo estado final.
PORQUE
II. A equifinalidade compreende o empenho deles em se organizarem
buscando sobreviver, isto se dá por meio da ordenação.
Analisando estas asserções, é correto dizer que:
a. A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II, falsa.
b. A asserção I é uma proposição falsa, e a II, verdadeira.
c. As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II justifica a I.
d. As asserções I e II são proposições falsas.
e. As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não justifica
a I.

204
Referências

CPC. Comitê de Pronunciamentos Contábeis. Pronunciamento Conceitual Básico (R1). CPC


00 (R1) – Estrutura Conceitual para Elaboração e Divulgação de Relatório Contábil-Financeiro
de 15 de dezembro de 2011. Correlação às Normas Internacionais de Contabilidade – The
Conceptual Framework for Financial Reporting (IASB – BV 2011 Blue Book). CPC, [2011].
Disponível em: http://static.cpc.aatb.com.br/Documentos/147_CPC00_R1.pdf. Acesso em: 1
nov. 2019.

CRUZ, T. Sistemas de Informações Gerenciais: tecnologias da informação e as organizações do


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